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Nutrição e Atenção Á Saúde - I UNIDADE Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Nutrição e Atenção à Saúde! Este material foi desenvolvido para você como uma ferramenta de apoio na construção do seu conhecimento. Ele foi criado com o intuito de formar profissionais com visão generalista, humanista e com senso de responsabilidade social. Espera-se que você, aluno(a), possa desenvolver habilidades para a análise crítica, reflexiva e investigativa do processo saúde-doença em sua dimensão coletiva, desenvolver competências, atitudes e valores éticos do atendimento do indivíduo, da família e da comunidade. Abordaremos aqui o contexto histórico da Reforma Sanitária brasileira, a instituição, princípios, organização e regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como discutiremos a Carta aos usuários do SUS e os desafios enfrentados pelo SUS hoje. Tudo isso com o cuidado de agregar informações que associam o conhecimento teórico com a futura prática profissional. Dominar estes conceitos lhe permitirá uma visão mais crítica e ampla da atuação profissional frente à elaboração de estratégias para os problemas enfrentados no cotidiano da prática do nutricionista no Sistema Único de Saúde. Esperamos que a partir das discussões, textos e materiais de apoio que compõem esse material você seja incentivado(a) a fazer uma reflexão crítica sobre o cenário atual do nosso sistema de saúde e prevenção de doenças. Este material foi desenvolvido com muita dedicação para você. Aproveite! Bons estudos! Introdução Neste material, iremos aprender conceitos básicos e fundamentais sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), seu funcionamento, princípios e diretrizes, e a legislação que o regulamenta. Esses conceitos nos fornecerão a base para compreendermos os princípios e a estrutura do SUS e das Políticas de Alimentação e Nutrição, indispensáveis para o nutricionista que almeja trabalhar na Atenção Nutricional às populações. Vamos juntos nessa jornada? OBJETIVOS DA UNIDADE: Compreender o contexto histórico da Reforma Sanitária do Brasil e do surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS).; Estudar o SUS, seus princípios, diretrizes, estrutura e funcionamento determinados por suas leis orgânicas (Leis nº 8.080/90 e 8.142/90) e regulamentações.; Discutir o decreto nº 7508/11, os campos de atuação e as bases do funcionamento do SUS.; Apresentar a Carta dos Direitos dos Usuários do SUS. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO SUS O histórico da construção do SUS no Brasil é relativamente recente, mas seu esboço começa a ser desenhado nas primeiras décadas do século XX. Nem sempre tivemos um sistema de saúde como o SUS de hoje, com acesso universal e igualitário a qualquer cidadão brasileiro, mas resgatar essa história marcada por lutas de diversos movimentos sociais nos leva a compreender a atual situação de Saúde Pública no nosso país. Até meados do século XIX, as atividades de saúde pública no Brasil, ainda colônia de Portugal, estavam limitadas à delegação das atribuições sanitárias às juntas de saúde municipais, controle de navios e saúde dos portos. Com isso, fica evidente que o interesse primordial estava limitado ao estabelecimento de um controle sanitário mínimo da capital do império, que permitisse a continuidade das atividades econômicas e comerciais entre a colônia e Portugal, tendência que se alongou por quase um século. Para fins didáticos, a evolução histórica das políticas de Saúde Pública no Brasil é subdividida em 5 grandes períodos, com características próprias do contexto sociopolítico da época (ACURCIO; CONOF/CD, 2011; POLIGNANO, 2022): República Velha (1889 – 1930); Era Vargas (1930 – 1964); Período do Autoritarismo (1964 – 1985); Nova República (1985 – 1988); Período pós-Constituinte (a partir de 1988). Abaixo, destacamos algumas características que marcaram cada um desses períodos. Vamos à leitura? República Velha Nesse período, a assistência à saúde pública era de baixa qualidade, resolutividade e se resumiam a campanhas de prevenção e combate a algumas doenças transmissíveis e endemias rurais. Os serviços de saúde eram ofertados à população pelas Santas Casas de Misericórdia, basicamente para a população marginalizada, pobre. Sendo assim, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS), em 1923, a assistência médica passou a ter um caráter previdenciário e, portanto, restrita aos trabalhadores formais das empresas. Era Vargas (1930-1964) Nesse período, a saúde pública passou a ser de responsabilidade do Ministério da Saúde e Educação (MESP) e, posteriormente, apenas do Ministério da Saúde (MS), porém continuava caracterizada por serviços limitados, de baixa qualidade. A partir de 1933, as CAPs foram substituídas pelos IAPs, os chamados Institutos de Aposentadoria e Pensões, nos quais a assistência médica continuava sendo prestada aos trabalhadores de determinadas categorias profissionais que exerciam atividade remunerada. Período do Autoritarismo (1964-1985) A Saúde pública continuava a cargo do Ministério da Saúde, e se caracterizava por serviços limitados e de baixa qualidade. Os IAPs foram unificados, dando origem ao Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), em 1966, que foi posteriormente desmembrado com a criação do INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), em 1977. Desse modo, o INAMPS era o responsável pela execução das ações de assistência médica do INPS. As políticas de saúde privilegiavam o setor privado, e a assistência médica previdenciária (INPS e INAMPS) continuava restrita aos trabalhadores que exerciam atividade remunerada e respectivos dependentes, tendo sido estendida, somente, no final do período da Ditadura Militar aos trabalhadores rurais. A década de 70 marcou o início do movimento da Reforma Sanitária, já a década de 80 ficou marcada pela criação do plano CONASP (Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária), em 1981, e das Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983, as quais seriam um dos primeiros esboços do SUS (Sistema único de Saúde). Nova República (1985-1988) O movimento da Reforma Sanitária ganha força total nessa época, tendo como grande marco a realização, em 1986, da 8ª Conferência Nacional de Saúde (Figura 1), a qual contou com mais de 5.000 participantes e ficando conhecida na época como a maior reunião da história dos movimentos sociais. Vale ressaltar que a Reforma Sanitária teve sua origem relacionada à formação de um grupo que era composto por: profissionais da saúde, sindicalistas, estudantes, filósofos e representantes de organizações populares. Este grupo compartilhava do mesmo ideal: o direito universal à saúde. A 8ª Conferência Nacional de Saúde teve desdobramentos imediatos em um conjunto de trabalhos técnicos desenvolvidos pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária, que serviriam de base para aà elaboração da Seção dea Saúde da Constituição Federal de 1988 (CONASS, 2015). Nesse período, deu-se início ao processo de descentralização das ações de saúde para estados e municípios e foi criado o Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS, em 1987), posteriormente denominado SUS (1988). Período pós-Constituinte (a partir de 1988) Nesse período, após a promulgação da nova Constituição Federal, que trazia em seu artigo 196 o arcabouço do SUS, foram apresentados os princípios e diretrizes que fariam parte desse sistema, de modo a cumprir a universalização da Saúde. O processo constituinte conformou-se em um espaço democrático de negociação constante, desenvolvido ao longo das suas diversas etapas, em que um núcleo de congressistas progressistas desempenhou papel relevante, apoiado por intelectuais do movimento da Reforma Sanitária. O texto final que foi negociado incorporou as grandes demandas do movimento sanitário: O antigo INAMPS foi extinto e o Estado passou ao enfrentamento de muitos problemas para a Implantação do SUS, especialmente devido a resistência de grupos corporativistas e empresariaisque eram contrários ao SUS, por questões econômicas e financeiras que punham em risco a estabilidade dos negócios à época. Os entraves na consolidação do SUS, em decorrência da gestão ineficaz e fragmentada, da corrupção, do subfinanciamento e da hegemonia do modelo centrado na doença e no hospital (biomédico) são características marcantes deste período. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): DEFINIÇÃO, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES O primeiro passo para começar a desvendar o SUS é compreender que um sistema é o agrupamento de diversos componentes relacionados, os quais agem mutuamente para executar determinada tarefa. No SUS, o sistema tem como objetivo propiciar cuidados à saúde da sociedade por meio de ações curativas, preventivas, reabilitadoras, educativas e promotoras. A próxima etapa é assimilar porque o sistema é “único”: o SUS é assim chamado devido ao fato de seguir as mesmas diretrizes e princípios por todo o país. O SUS pode ser definido como um novo preceito organizacional e político voltado para a reorganização da saúde pública. Ademais, ele não é considerado um sucessor do INAMPS, mas sim um novo programa, completamente diferente, que marca na história a conquista do direito universal à saúde, já mencionado na Declaração dos Direitos Humanos. Os principais fundamentos do SUS foram decididos durante a VIII Conferência Nacional de Saúde e seu estabelecimento se deu por meio da Constituição Federal da República de 1988. A implementação do SUS é considerada a maior ação de inclusão social da história brasileira, sendo um símbolo da política positiva de engajamento do governo para com os direitos da população. Com o SUS, a saúde passou a ser um direito de todos e uma obrigação do Estado, algo até então inédito, visto que os programas anteriores possuíam um caráter centralizador, restrito e excludente. Basicamente, as únicas medidas de caráter universal antecessoras ao SUS, não condicionadas a outros fatores, foram as campanhas de vacinação promovidas pelo Ministério da Saúde. IMPORTANTE: No entanto, deve-se esclarecer que a ideologia do SUS é muito mais do que apenas oferecer atendimento médico e hospitalar para que a população o acesse quando necessário: seu propósito é também atuar antes disso, diminuindo os casos de infecções, doenças crônicas e sequelas ocasionadas. Assim, o SUS não é apenas um serviço ou uma mera instituição pública, mas um amplo sistema que engloba um conjunto de unidades e ações que se relacionam na busca de um mesmo intuito. Todos os usuários do SUS possuem o Cartão Nacional de Saúde (CNS), também chamado de cartão SUS. Esse cartão funciona como um documento de identificação e possui uma sequência de números únicos. Um dos principais objetivos do CNS é registrar o histórico do paciente na rede pública, como, por exemplo, a ocorrência de internações e as últimas medicações prescritas. O cartão não tem custo e pode ser solicitado até mesmo pela internet (AZEVEDO, 2020). Internacionalmente, o SUS é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde do mundo, no que tange à sua cobertura e população atendida. Entre os programas do SUS que são considerados modelos a serem seguidos, destacam-se as campanhas de vacinação, o programa de tratamento do HIV, o Sistema Nacional de Transplantes, o fornecimento de remédios para o manejo de doenças crônicas não transmissíveis, os hemocentros e o programa Saúde da Família (AZEVEDO, 2020). DEFINIÇÃO De acordo com a Lei nº 8.080/90 o SUS é “o conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas Federais, Estaduais e Municipais, da Administração direta ou indireta e das Fundações, mantidas pelo poder público” (BRASIL, 1990a), podendo ainda ter a contribuição da iniciativa privada desde que de caráter complementar. Todos os programas sociais precisam de normas para que se assegure o seu bom desempenho, e com o SUS não poderia ser diferente. O SUS possui princípios e diretrizes que o acompanham desde a sua criação, e sua essência é tudo o que o programa garante à sociedade, norteando o seu funcionamento e gestão. Os princípios do SUS podem ser organizados em doutrinários e organizativos. Agora, observe com atenção as informações sobre cada princípio. Princípios Doutrinários do SUS: Universalidade: estabelece o acesso à saúde por meio do SUS a todos os cidadãos, sem restrições ou condicionantes. Equidade: leva em consideração as diferenças individuais e regionais, oferecendo mais para aqueles que mais precisam. Equidade não deve ser confundida com igualdade, uma vez que esta busca propiciar condições para que todos tenham as mesmas oportunidades, podendo, em virtude disto, canalizar mais atenção a determinado grupo de pessoas. Integralidade: considera o paciente como um todo indivisível e todas as suas necessidades devem ser atendidas por ações de saúde. Princípios Organizativos do SUS: Regionalização/Hierarquização: organiza em níveis os serviços que têm como objetivo atender as diferentes necessidades de saúde da população. Os serviços devem funcionar em níveis de complexidade crescente e o acesso inicial ao sistema deve ser através do nível primário de atenção, somente os casos mais complexos deverão ser encaminhados para níveis secundários e terciários. Descentralização: trata da distribuição das responsabilidades e poder sobre a saúde nas três esferas do governo, visando assim um trabalho mais efetivo e com maior controle e fiscalização por parte da população. Esse princípio parte da ideologia de que quanto mais próxima do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Com esse postulado, os municípios passaram a ser considerados gestores e administradores da oferta dos serviços de saúde do SUS, ou seja, responsáveis por determinar as políticas de saúde locais de acordo com sua realidade.; Participação popular/social: refere-se à democratização das decisões a respeito da saúde pública, principalmente através da participação da sociedade no SUS. É a garantia de que o povo estará envolvido na formulação das políticas de saúde. Essa participação acontece a partir dos conselhos de saúde, que são grupos deliberativos constituídos por representantes de toda a população, com uma estrutura estabelecida por um número igual de pessoas que representam tanto os usuários quanto o Estado e seus respectivos funcionários da saúde e parceiros do setor privado; e das conferências de saúde, que são encontros entre diversos representantes sociais, que se reúnem para avaliar o cenário da saúde e indicar suas diretrizes políticas. As conferências nacionais acontecem no intervalo de tempo de quatro anos, e têm como característica sua descentralização e seu fomento nas conferências estaduais e municipais. (FIGUEIREDO, 2012; NICOLICH; ROCHA, 2017): Os princípios do SUS garantem a maioria dos direitos à saúde contemplados pela Constituição de 1988. No entanto, esses princípios só começaram a ser realmente colocados em prática após a aprovação das Leis Orgânicas de Saúde. VOCÊ SABIA? É importante observar que a Constituição Federal estabeleceu o SUS em 1988, mas sua regulamentação se deu pelas Leis Orgânicas da Saúde nº 8.080/90 e nº 8.142/90. A legislação que rege o SUS, de modo geral, compreende os artigos 196 a 200 da Constituição, as Normas Operacionais Básicas (NOB), as Leis Orgânicas da Saúde nº 8.080/1990 e nº 8.142/90 e o Decreto regulamentador nº 7.508/2011. Os profissionais de saúde devem ter conhecimento dessas normativas para atuar de maneira a conseguir promover uma melhor qualidade de atendimento à população de acordo com os preceitos do SUS e as políticas públicas de saúde. LEIS ORGÂNICAS DE SAÚDE As leis nº 8.080/90 e nº 8.142/90 são leis do tipo orgânica, ou seja, foram instituídas para reger a saúde e regulamentar o nosso SUS. Ambas são válidas em todo território nacional, sendo conhecidas e denominadas como as “leis orgânicas da saúde”, as quais discorrem principalmente acerca da estrutura e execução de atividades no sistema público de saúde, da presença dasociedade civil na gestão do SUS e do repasse intergovernamental de verbas na saúde (ROCHA, 2013; MOREIRA, 2018). As leis orgânicas da saúde têm como propósito o esclarecimento da conjuntura adequada à realização da proteção, recuperação e promoção da saúde no país. Elas normatizam o modo de execução dos serviços de saúde, que podem ser realizados em caráter eventual ou definitivo, de modo individual ou coletivo, por pessoas jurídicas ou físicas, e no âmbito público ou privado. Um aspecto elementar e prevalecente dessas leis é a instauração da saúde como um direito da população e como um dever do Estado, o qual tem a obrigação de assegurar a assistência por meio do desenvolvimento de políticas públicas de saúde e programas sociais. Por designarem a saúde como um direito fundamental à vida, a aprovação das leis 8.080/90 e 8.142/90 foram, e são, compreendidas como uma importante vitória da sociedade brasileira. As leis orgânicas da saúde enfatizam que o governo é responsável por garantir o acesso universal, integral e equitativo em todos os níveis de atenção à saúde. Ressalta-se, no entanto, que as leis orgânicas da saúde não se abstêm da responsabilidade individual de cada cidadão, família e empregador de proteger e promover a saúde dos seus dependentes. A lei nº 8.080/90 contempla a definição de saúde, a qual é relacionada a determinantes e condicionantes socioeconômicos, tais como: condições de moradia, alimentação, saneamento básico, trabalho, lazer e educação. Além disso, essa lei ainda aborda a vigilância em saúde, os princípios e diretrizes do SUS, apresenta políticas para populações especificas, discorre sobre as responsabilidades das três esferas de governo, trata sobre a estrutura de governança do SUS, apresenta a política de recursos humanos e dispõe sobre a participação complementar da iniciativa privada no SUS (BRASIL, 1990). Thiago Campos (2020), advogado sanitarista e diretor regional do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa), em entrevista à FioCruz, pontua que: a lei nº 8.080/90 tem o efeito, para além do simbólico, de detalhar diversas das diretrizes que a Constituição de 1988 assegurou. Tivemos o avanço, a partir do movimento da Reforma Sanitária, com a inclusão no texto constitucional da saúde como um direito. Para a geração que nasce após 1988 isso parece dado, mas precisa ser sempre reforçado como algo que foi uma batalha, uma luta do povo brasileiro encabeçada pelos atores da Reforma Sanitária. Já a lei nº 8.142/90 aborda, principalmente, como se dará a participação da comunidade na gestão do SUS, além de dispor sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Essa lei regulamenta as instâncias de participação da comunidade no SUS, formalizando e institucionalizando-as como dispositivos permanentes de formulação e acompanhamento das políticas no interior do sistema. O SUS possui instâncias colegiadas de participação popular em cada esfera de governo. São elas: os Conselhos de saúde; as Conferências de saúde. Os Conselhos de Saúde estão presentes nos três níveis de governo, representados pelo Conselho Nacional de Saúde, Conselho Estadual de Saúde e Conselho Municipal de Saúde. Essas instâncias representativas são organizadas de forma paritária, ou seja, composta por metade de representantes de usuários e o restante de representantes da gestão, trabalhadores da saúde e prestadores privados. Os conselhos de saúde devem se reunir em caráter permanente e deliberativo (com poder de decisão) com o objetivo de influir na formulação de políticas em suas áreas de atuação, bem como de exercer o controle social sobre a execução, acompanhamento e avaliação das ações e políticas de saúde, inclusive em suas dimensões financeiras e administrativas. Suas decisões devem ser homologadas pelo gestor do SUS em cada esfera de governo. Já as Conferências de saúde devem se reunir em cada nível de governo a cada quatro anos, com a representação dos diversos segmentos sociais, podendo ser convocadas pelo poder Executivo ou extraordinariamente pela própria conferência ou pelos conselhos. Constituem-se, portanto, as conferências municipais de saúde, as conferências estaduais de saúde e a Conferência Nacional de Saúde, com o objetivo de avaliar a situação da saúde em cada uma de suas áreas de competência e propor as diretrizes para formulação de políticas públicas. OBJETIVOS E CAMPOS DE ATUAÇÃO DO SUS Atualmente, o SUS é o maior sistema público de saúde do mundo. Ele garante acesso gratuito, universal e integral a todos, sejam brasileiros ou não, em território nacional. Seu complexo sistema constituído nos níveis federal, estadual e municipal permite um atendimento amplo, tanto em termos de alcance populacional quanto em termos de serviços de saúde, oferecendo desde atenção básica e saúde da família até cirurgias de alto risco, como cirurgias de transplante e de separação de gêmeos siameses. Além da prestação de serviços de baixa, média e alta complexidade, o SUS também atua na vigilância epidemiológica e sanitária, serviços de urgência e emergência, atenção hospitalar, assistência farmacêutica, distribuição gratuita de medicamentos e pesquisas na área da saúde. Ademais, pode-se dizer que os objetivos do SUS consistem em identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes da saúde, formular políticas de saúde e prestar assistência integral aos seus usuários a partir das ações assistenciais e preventivas de promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1988). No Art. 6º da Constituição Federal (BRASIL, 1988), é possível também identificarmos os campos de atuação do SUS, a saber: vigilância sanitária; vigilância epidemiológica; saúde do trabalhador; assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; vigilância nutricional e a orientação alimentar; colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico; formulação e execução da política de sangue e seus derivados. DECRETO 7.508/2011 Após 21 anos da publicação da Lei nº 8.080/1990, foi promulgado o Decreto nº 7.508/2011, que tem o importante papel de regular a estrutura organizativa do SUS. Além disso, este decreto dispõe sobre o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, tão relevantes à consolidação e ao melhoramento contínuo do SUS (CONASS, 2015). A regulamentação do SUS trazida pelo Decreto 7.508/11 tem como objetivo conceder maior transparência à sua estrutura, a fim de garantir também maior segurança jurídica na distribuição das responsabilidades das esferas de poder. Dessa forma, o usuário pode, de fato, conhecer e usufruir das ações e dos serviços de saúde ofertados nas regiões de saúde e organizados em Redes de Atenção à Saúde (BRASIL, 2011b). EXEMPLO: O seguinte caso hipotético é um exemplo de como o sistema de Redes de Atenção à Saúde funciona: um usuário do SUS procura a unidade básica de saúde com queixas de dor de cabeça. Como apresenta outros sinais e sintomas sugestivos de um acidente vascular cerebral é direcionado a um pronto socorro da região. Lá piora e desenvolve um trombo na corrente sanguínea, permanece dez dias na unidade de terapia intensiva e depois mais seis dias sobre observação na internação. Como obteve escaras é direcionado novamente a unidade básica para continuaro seu acompanhamento clínico. Dois meses após a sua alta, desenvolve insuficiência renal, sendo mais uma vez encaminhada a um hospital especializado, para realizar hemodiálise, no entanto, segue fazendo o acompanhamento das suas demais comorbidades na unidade básica de saúde. Um importante conceito em saúde introduzido pelo Decreto nº 7.508/2011 foi o de Região de Saúde, conforme o parágrafo primeiro do artigo 2: Região de Saúde – espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde (BRASIL, 2011b). Ainda segundo o decreto, as Regiões de Saúde serão instituídas pelo Estado, em articulação com os Municípios, podendo ser compostas por municípios limítrofes, inclusive de estados diferentes. Elas serão referência para as transferências de recursos entre os entes federativos (União, estados e municípios). Ainda de acordo com o decreto, no artigo 5º: Para ser instituída, a Região de Saúde deve conter, no mínimo, ações e serviços de: Atenção primária; Urgência e emergência; Atenção psicossocial; Atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e Vigilância em saúde. (BRASIL, 2011b) Esses serviços, por sua vez, constituem a Rede de Atenção à Saúde que estará compreendida no âmbito de uma Região de Saúde. Um outro conceito também muito importante para o entendimento da organização dos serviços e funcionamento do SUS é o conceito de Portas de Entrada. Segundo o Decreto 7508/2011, o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde se inicia pelas Portas de Entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a complexidade do serviço. Ou seja, para que os usuários acessem os serviços de atenção hospitalar, ambulatoriais especializados, ou outros de maior complexidade e densidade tecnológica, deverão ser referenciados (encaminhados) pelos serviços considerados Portas de Entrada. De acordo com o artigo 8º do mesmo decreto: São Portas de Entrada às ações e aos serviços de saúde nas Redes de Atenção à Saúde os serviços: de atenção primária; de atenção de urgência e emergência; de atenção psicossocial; Especiais de acesso aberto. (BRASIL, 2011b) Os municípios, estados e a União, dependendo da necessidade local e mediante justificativa técnica, ainda poderão criar novas Portas de Entrada às ações e serviços de saúde, considerando as características da Região de Saúde. ACESSE: Para aprofundar seus estudos e conhecer mais sobre a estrutura, organização dos serviços e aspectos da Gestão do SUS, acesse o Decreto nº 7508/2011 através do link a seguir. CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS SUS A “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” trata-se de um documento para o cidadão brasileiro conhecer seus direitos de acesso ao sistema de saúde, seja ele público ou privado. Esta Carta reúne os seis princípios básicos de cidadania que asseguram ao usuário de saúde uma assistência digna e humanizada no sistema de saúde (BRASIL, 2011). Confira abaixo quais são seus direitos ao recorrer a qualquer serviço de saúde no Brasil: Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. (BRASIL, 2011) A carta dos Direitos dos Usuários do SUS foi elaborada em 2006 pelas três esferas do governo e pelo Conselho Nacional de Saúde. Sua publicação foi um marco importante, uma vez que possibilitou um maior entendimento sobre o sistema de saúde público. O SUS HOJE Após mais de três décadas de constituição do SUS, embora tenhamos seus princípios e diretrizes operacionalizados formalmente em quase todo o país, ainda estamos muito distantes de atingir seus objetivos mais fundamentais: a constituição de um sistema de saúde universal, equânime e integral. Mas o reconhecimento de suas potencialidades, bem como os embates diários nos serviços de saúde, travados pelos usuários nas comunidades, nos conselhos de saúde, pelos gestores nas secretarias e pelos trabalhadores e profissionais e nas instituições de formação são uma motivação constante que faz valer a luta histórica pelo direito à saúde. O SUS permanece até hoje com uma série de desafios. Em um país com dimensões continentais, tão desigual e com alta concentração de renda como o Brasil, a oferta de políticas públicas de acesso gratuito a serviços essenciais na área de saúde, tornam-se instrumentos de redistribuição de renda. Apesar de todas as falhas que ainda demandam aperfeiçoamento, o SUS pode ser considerado como um grande patrimônio do povo brasileiro. Nesse sentido, a sociedade civil organizada precisa ocupar seus espaços de participação com vistas a exigir a garantia dos seus direitos, dentre os quais, um sistema de saúde que atenda integralmente suas demandas. SINTETIZANDO Nesta unidade vimos que a criação do SUS é tida como resultado da 8ª Conferência Nacional de Saúde. As leis números 8.080/90 e 8.142/90 são o marco legislatório do SUS. Estas leis são conhecidas como as leis orgânicas da saúde. O sistema de saúde pública brasileiro possui uma política nacional de organização dos serviços de saúde. Ela determina as atribuições dos diferentes serviços de saúde ofertados à população. A atenção básica é considerada a porta de entrada dos pacientes no SUS, tanto no sistema hierarquizado, que divide a saúde em níveis de complexidade, quanto no sistema de redes de atenção à saúde, o qual são organizados através de um complexo de unidades assistenciais à saúde, não considerado um serviço inferior ou superior ao outro. Embora o SUS seja alvo de muitas críticas e enfrente problemas estruturais no seu dia a dia, é também um programa admirado em muitos países, sendo considerado um modelo a ser seguido internacionalmente, graças a sua política de cobertura e extensão. Afinal, a criação do SUS mostra-nos a relevância da criação de um Sistema Único, unificado para todos, que ainda tem muito a se transformar e melhorar, sempre em busca de alternativas para permitir a qualidade de vida do brasileiro. Até a próxima! Espero você! O SUS HOJE
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