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Laura Costa Tutoria FPS MED20 2022.2 
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Febre Reumática 
Objetivos: 
1. Definir Febre reumática, destacando sua 
epidemiologia e fatores de risco; 
2. Compreender a fisiopatologia, associando 
com o quadro clínico; 
3. Destacar os métodos diagnósticos 
(critérios de Jones e complementares), 
conhecendo os possíveis diagnósticos 
diferenciais; 
4. Entender o tratamento da febre reumática 
e suas complicações; 
5. Estudar os métodos preventivos, 
identificando os possíveis prognósticos. 
 
Resumo: 
Resumo 
-DEFINIR: É uma doença inflamatória de 
manifestação tardia como consequência de uma 
faringotonsilite por estreptococo beta-
hemolítico do grupo A (EBHA/ Streptococcus 
pyogenes). 
No brasil tem prevalência muito alta. 
Com manifestação clínicas variadas, acomete 
principalmente articulações, coração e SNC. 
(Artrite, cardite pode levar lesões irreversíveis, 
cardiopatia reumática crônica) 
 -EPIDEMIOLOGIA: doença reumática mais 
comum em crianças brasileiras, acometendo 
ambos os sexos, pct geralmente escolar e 
adolescente (entre 5 e 15 anos). Mais comum 
em menor nível socioeconômico. 
-FISIOPATOLOGIA: EBHA é responsável por 
cerca de 20% das faringotonsilites 
diagnosticadas em crianças. 
O modelo etipatogênico sugere que além da 
infecção por cepa reumatogênica é necessário 
um pct geneticamente suscetível. 
O estreptococo pode ser considerado 
reumatogênico, por conta do mimetismo 
molecular, que se assemelham 
imunologicamente com determinantes 
antigênicos do hospedeiro (PCT), capaz de 
induzir uma resposta imunológica humoral ou 
celular. 
-DIAGNÓSTICO: é feito por manifestação 
clínicas e laboratoriais. 
Critérios diagnósticos (JONES)- feito 
atualmente por presença de sinais maiores, 
sinais menores e evidencia de infecção de 
estreptococcia prévia. Tem grande 
sensibilidade. 
* Mesmo com esses critérios preenchidos deve 
ser excluído os outros diagnósticos diferenciais. 
Sinais maiores: não é possível o diagnostico de 
FR sem ter ao menos um desses sinais 
Artrite- edema na articulação ou na falta 
pela associação de dor e limitação do 
movimento (70% dos casos); grandes 
articulações (joelhos, tornozelos, punhos, 
cotovelos e ombros), raramente as 
pequenas articulações das mãos e pés. 
Forma clássica: oligoartrite ou poliartrite 
migratória (em média 6 articulações), 
com evolução assimétrica, 
permanecendo 1-5 dias em cada 
articulação em um surto total que dura 
em média 1-3 semanas. 
Rápida resposta aos anti-inflamatórios 
não hormonais (AINH), que em 24 
horas fazem cessar a dor, e em 2-3 dias, 
as demais reações inflamatórias. A 
duração do surto de artrite raramente 
ultrapassa 4 semanas e regride sem 
deixar sequelas. 
Cardite- metade dos casos; grave 
complicação isolada ou associada a 
outros critérios maiores. Costuma ser 
diagnosticada nas 3 primeiras semanas 
da fase aguda, e a principal característica 
diagnóstica é o envolvimento 
endocárdico, caracterizado por sopro 
audível em 40-50% dos pacientes. As 
válvulas mais acometidas são mitral e 
aórtica. A regurgitação mitral 
caracteriza-se pelo sopro holosisstólico, 
mais audível no ápice, com irradiação 
para a axila e abafamento da primeira 
bulha. É de alta frequência e não muda 
com a respiração ou posição. Pode estar 
acompanhada do sopro de Carey-
Coombs, apical, mesodiastólico, de baixa 
frequência e resulta do fluxo sanguíneo 
aumentado através da válvula mitral, 
durante a fase de enchimento 
ventricular. 
A estenose mitral leva anos para se 
desenvolver. O sopro de regurgitação 
aórtica é protodiastólico, de alta 
frequência, decrescendo, e mais bem 
audível na borda esternal esquerda. 
A evolução da cardite dura em média 1-3 
meses. O sopro desaparece em 70% dos 
casos, mas 30% dos pacientes evoluirão 
com sequelas, a CRC. 
Os achados do exame físico incluem 
taquicardia, hepatomegalia, ritmo de 
galope, edema e estertores pulmonares. 
Coreia- A coreia de Sydenham ou “dança 
de São Vito” é um envolvimento do 
sistema nervoso central (5-36% dos 
pacientes). Manifestação tardia. 
*Síndrome hipotônica e hipercinética. 
Os movimentos são mais facilmente observados 
na face e nas extremidades dos membros. A 
escrita torna-se confusa, o acometimento da 
musculatura bucofaríngea pode dar origem a 
distúrbios da fala (disartria) e da deglutição 
(disfagia). Os movimentos são exacerbados por 
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estresse, esforço físico, cansaço e desaparecem 
com o sono. Às vezes o paciente consegue conter 
os movimentos durante alguns minutos, mas 
logo em seguida volta a fazer caretas, elevar as 
sobrancelhas, virar o rosto e não controlar os 
movimentos dos membros. 
A hipotonia muscular pode ser mais 
intensa que a hipercinesia e configurar o 
quadro de “coreia mole”. (apenas um 
lado do corpo, pode dar a falsa 
impressão de se tratar de hemiplegia) 
É uma condição autolimitada cuja 
evolução varia em média de algumas 
semanas a 6 meses, com média de 3 
meses. 
Pode recorrer, geralmente associada a 
infecções intercorrentes, mesmo se o 
paciente estiver em uso correto de 
profilaxia e não for infectado por 
estreptococo. Classicamente, não deixa 
sequelas. 
Nódulos subcutâneos- 
Manifestações raras (2-5%, em pacientes 
com cardite). 
Estruturas arredondadas, de 
consistência firme, indolores, de 
distribuição simétrica, em diferentes 
tamanhos (0,5-2 cm) e em número 
variável, podendo chegar a dezenas. 
Localizam-se em superfícies extensoras 
das articulações como cotovelos, joelhos, 
metacarpofalangianas, interfalangianas, 
em proeminências ósseas do couro 
cabeludo, escápula e coluna. 
*Muitas vezes só serão percebidos pelo 
pediatra que procurar especificamente 
por eles por meio da palpação das áreas 
onde costumam surgir. 
Aparecimento geralmente é tardio em 
relação às outras manifestações 
A evolução é fugaz, em geral duram de 1-
2 semanas, raramente mais de 1 mês, 
sobretudo quando se inicia a 
corticoterapia para a cardite. 
Eritema marginado- 
bastante raro (1-3%) e excepcionalmente 
uma manifestação isolada. 
 
Geralmente no início da doença, como 
máculas circulares, ovaladas, róseo-
pálidas, que se expandem 
centrifugamente, deixando uma área 
central clara, com margem externa 
serpiginosa bem delimitada e contornos 
internos mal definidos. 
Tem duração transitória (minutos ou 
horas), podendo aparecer em alguns dias 
e desaparecer em outros. 
Lesões isoladas tomam um aspecto 
anular enquanto a coalescência de 
diversas lesões resulta em formas 
bizarras, circinadas, irregulares. 
As lesões distribuem-se pelo tronco, 
abdome, porção proximal dos membros 
inferiores e superiores, geralmente não 
ultrapassam cotovelos e joelhos e não 
estão presentes na face. 
Dificilmente são percebidas em pacientes 
com pele escura. 
Pode persistir ou recorrer durante meses, 
mesmo quando outras manifestações 
clínicas e laboratoriais já cessaram. 
Sinais menores: 
Febre- geralmente está presente na 
artrite e acompanha-se de mal-estar, 
prostração e palidez. A resposta aos anti-
inflamatórios é muito rápida. Pacientes 
com cardite podem cursar com febre 
baixa, enquanto aqueles com coreia 
pura são afebris; 
Artralgia- grandes articulações. Dor 
geralmente de grande intensidade; 
Intervalo PR- aumento do espaço PR. O 
ECG deve ser solicitado em todos os pct 
com suspeita de FR e depois repetido 
para registrar o retorno à normalidade; 
Provas inflamatórias- fase aguda 
velocidade de hemossedimentação 
(primeiras semanas), proteína C-reativa 
( fase aguda e é a primeira a negativar) 
e alfa-1 glicoproteína (fase aguda e se 
mantêm elevadas durante o processo 
inflamatório), resposta inflamatória do 
organismo para qualquer condição 
infecciosa ou imunoinflamatória. Na FR, 
ajudam a monitorar a presença e a 
evolução do processo inflamatório. 
Evidência de estreptococcia prévia: A FR se 
inicia por uma infecção da orofaringe pelo 
EBHA, que pode ser assintomática. A 
comprovação laboratorialde Streptococcus 
pyogenes é feita por meio de teste rápido ou 
presença elevada de títulos de anticorpo 
antiestreptocócicos como antiestreptolisina O 
(ASO). Lembrando que os anticorpos caíram ao 
passar dos meses. 
-INTERPRETAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE 
JONES: A probabilidade de diagnostico no 
primeiro episodio é alta, na presença de dois 
sinais maiores ou um sinal maior e dois 
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menores, desde que com evidência de 
estreptocócica prévia. Na indolente, as 
manifestações clínicas são pouco expressivas, 
podem ser a única evidência de FR. 
A raridade de outras etiologias para coreia em 
crianças torna sua presença quase sinônimo de 
FR, mesmo com ausência de outros critérios. 
 
-DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: usa-se os 
critérios de Jones como roteiro, mas é 
importante ter cuidado para afastar outras 
enfermidades no diagnostico diferencial. 
 
-TRATAMENTO: erradicar o estreptococo que 
ainda pode ta presente e tratar as manifestações 
clínicas. 
Erradicação do estreptococo: todas as 
formas de FR devem ser tratadas com 
penicilina G benzatina. (outros antibióticos 
podem ser usados principalmente em pacientes 
alérgicos a penicilina) 
Tratamento das manifestações clínicas 
da FR: reduzir duração dos sinitomos; Artrite- 
AINH (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno ou 
naproxeno); Cardite- glicocorticoide (em 
associação com artrite dispensa o uso de 
AINH), a dose inicial de corticosteroide é 1-
2mg/Kg/dia de prednisona ou prednisolona VO 
ou equivalente endovenosa; Coreia- as drogas 
mais usadas são haloperidol e ác. Valproico. 
Repouso: depende do tipo e da apresentação 
clínica, geralmente dura menos de 2 semanas. 
Monitoração da resposta terapêutica: a 
atividade inflamatória (VHS e proteína C-
reativa) devem ser repetidas a cada 15 dias. Pct 
com cardite recomenda realização de 
ecocardiograma, radiografia do tórax e 
eletrocardiograma após 4 semanas de quadro. 
-PROFILAXIA: é feita para evitar a lesão 
cardíaca definitiva. Há dois meios de prevenção 
da FR: a profilaxia primária, representada pelo 
tratamento das tonsilites estreptocócicas de 
toda a população, por não saber quem é o 
indivíduo predisposto, e a profilaxia secundária, 
impedir uma nova estreptococcia no indivíduo 
que já teve um surto de FR, indivíduo suscetível 
já identificado. 
-Profilaxia primária: (50% das tonsilites são 
assintomáticas e não diagnosticadas, deixando 
o paciente em risco) o tratamento preconizado é 
a penicilina G benzatina (apenas uma dose) 
-Profilaxia secundária: todos os pacientes que 
receberam diagnóstico de FR, pois um novo 
surto pode se manifestar com lesão cardíaca ou 
agravar lesão preexistente. O esquema clássico 
adotado pelo Brasil inclui a penicilina B 
benzatina a cada 3 semanas. Se o paciente 
preferir a penicilina V oral, receberá 2 doses 
diárias, de 250.000 U (complicada adesão por 
anos seguidos). Outras opções de profilaxia 
existem para pacientes comprovadamente 
alérgicos a penicilina, ou alérgicos a penicilina e 
sulfa (estearato de eritromicina VO e 
azitromicina). A profilaxia é longa e depende da 
idade do pct, do intervalo de tempo depois do 
último surto, da presença de cardite no surto 
inicial, do número de recidivas, da condição 
social e da gravidade da cardiopatia reumática 
residual. É um DESAFIO CLÍNICO a adesão 
por isso a família deve ser ciente do risco.

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