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APG 09 – MYRELLA TURBANO DEFINIÇÃO A Febre Reumática é decorrente da Faringoamigdalite pelo S. pyogenes (Estreptocos beta-hemolítico do grupo A. para a FR é necessário ter predisposição genética. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que 37% das faringites são secundárias a Streptococcus do grupo A. Dentro desse grupo, de 0,3% a 3% dos pacientes podem desenvolver febre reumática se não forem adequadamente tratados. É doença de grande importância em países em desenvolvimento e caracteriza-se por manifestações musculoesqueléticas, cardíacas, neurológicas e cutâneas. A doença afeta a qualidade de vida de 15,6 a 19,6 milhões de pessoas no mundo com 470.000 novos casos por ano, quase todos em países em desenvolvimento. Mais de 2,4 milhões dos casos ocorrem em pacientes entre 5 e 15 anos de idade. - Aglomeração, condição sanitária ruim e falta de acesso a saúde são fatores que podem desencadear a doença. Atendimento médico e programas educacionais no ambiente escolar são capazes de identificar tanto pacientes com indicação de tratamento quanto grupos com indicação de prevenção. FISIOPATOLOGIA ESTRUTURA MOLECULAR: Tem algumas proteínas que ajudam o S. pyogenes a se fixar na garganta, chama da de Proteína M, essa proteína possui em sua estrutura o Epítopos reumatogênicos, que estes causam uma reação do sistema imunológico. Esses epítopos reumatogênicos eles são encontrados nas articulações do joelho, na pele, no coração e nos gânglios da base (putamen) SEQUÊNCIA DE EVENTOS: 1. INVASÃO E ADESÃO A pessoa que já é portadora do S. pyogenes e está com faringoamigdalite, fala perto de outras pessoas ou então compartilha talheres e o estreptococo passa para a garganta. Dai o estreptococo vai se aderir na célula epitelial e penetrar nela. 2. PROCESSAMENTO DE ANTIGENO E APRESENTAÇÃO (CEL. B E T) O sistema imune é ativado, pelas: Células B: produzem anticorpos; Células T: resposta células, ativadas por células apresentadoras de antígenos, macrófagos e que começam a atacar e ter efeito citotóxico nas bactérias que estão penetrando o S. pyogenes. 3. AUTOIMUNIDADE Por conta da proximidade do epitomo da proteína M com o epitomo do nosso organismo, tem células que são autoimunes, ou seja, o anticorpo que vai atacar a bactéria também vai atacar os nossos órgãos. 4. MANIFESTAÇÕES Após os anticorpos atacarem nos órgãos, tem o início das manifestações da doença, sendo elas: na pele, no cérebro, no coração. Sempre MYRELLA TURUBANO – T12 perguntar se teve infecção de garganta recentemente. • ARTRITE: Inflamação das articulações (mais comum) dor + flogismo + hiperemia + calor local. FRA quase sempre afeta as grandes articulações – mais comumente os joelhos, os tornozelos, os quadris e os cotovelos –, e tal comprometimento é assimétrico. A dor é intensa e em geral incapacitante, até que se comece medicação anti-inflamatória, além de que pode ser acompanhada de febre. As grandes articulações tornam dolorosas e inchadas durante alguns dias e depois regridem espontaneamente, sem deixar nenhuma incapacidade residual. - Migratoria - Poliarticulações; • COREIA DE SYDENHAM: Movimentos involuntários, pode ocorrer de forma isolada e geralmente é tardia. ocorre, comumente, na ausência de outras manifestações, segue-se a um período de latência prolongado depois da infecção por estreptococos do grupo A e é encontrada, principalmente, no sexo feminino. Os movimentos coreiformes afetam particularmente a cabeça (causando os característicos movimentos rápidos da língua) e os membros superiores. Podem ser generalizados ou restritos a um lado do corpo (hemicoreia). Em casos leves, a coreia pode ser evidente somente ao exame cuidadoso, ao passo que nos casos mais graves os indivíduos são incapazes de realizar as atividades da vida cotidiana. Na coreia de Sydenham, os neurônios nos gânglios basais são atacados por anticorpos contra os carboidratos do grupo A de Estreptococo spp. que reagem com a superfície do neurônio. Essa reação ativa a sinalização por meio da proteína quinase dependente de cálcio / calmodulina tipo II (CAMK2), que envolve um aumento nos neurônios indopaminérgicos da tirosina-hidroxilase. Receptores, como os receptores de dopamina D1 e D2 e lisogangliosídeo, podem ser alvos de autoanticorpos na célula neuronal. Este direcionamento pode levar a uma sinalização celular alterada e a níveis aumentados de dopamina, por sua vez, levando a movimentos e comportamentos anormais. • ERITEMA MARGINALIZADO: Começa como máculas róseas que clareiam no centro, deixando uma borda serpiginosa que se espalha. A erupção é evanescente, aparecendo e desaparecendo ante os olhos do médico. Costuma ocorrer no tronco, algumas vezes nos membros, mas quase nunca na face. • NÓDULOS SUBCUTÂNEOS: caroços móveis, pequenos (0,5-2 cm), indolores, abaixo da pele, sobrejacentes a proeminências ósseas, em particular nas mãos, nos pés, nos cotovelos, no occipício e, ocasionalmente, sobre as vértebras. Constituem manifestação retardada, aparecendo 2 a 3 semanas depois do início da doença, duram apenas poucos dias até três semanas e estão comumente associados à cardite. MYRELLA TURUBANO – T12 • CARDITE: Manifestação mais grave e crônica. Os aspectos clínicos relacionados à cardite aguda incluem atrito pericárdico, taquicardia e arritmias. A miocardite pode causar dilatação cardíaca, que pode culminar em insuficiência funcional da valva mitral ou mesmo insuficiência cardíaca. A inflamação miocárdica pode afetar as vias de condução elétrica, levando a um prolongamento do intervalo P-R (bloqueio AV de primeiro grau ou, raramente, bloqueio de nível mais alto) e ao abafamento da primeira bulha. Pessoas com CR com frequência são assintomáticas por muitos anos antes que sua doença valvular progrida para causar insuficiência cardíaca. MANIFESTAÇÕES MENORES: As manifestações menores da IRA incluem febre, artralgia, VHS e PCR elevados e intervalo PR prolongado no eletrocardiograma. • FEBRE – A febre associada à IRA é geralmente ≥38,5°C por via oral (101,3°F). No entanto, febre baixa (≥38°C [100,4°F]) é mais comum em grupos de alto risco e é aceita como critério menor em grupos de alto risco. • ARTRALGIA – geralmente envolve várias articulações (poliartralgia) quando ocorre em pacientes com IRA. No entanto, é uma manifestação comum em muitos outros distúrbios reumatológicos e, portanto, é altamente inespecífica. • REAGENTES DE FASE AGUDA ELEVADOS – Os reagentes de fase aguda estão quase sempre elevados em pacientes com IRA, exceto em alguns pacientes com coreia isolada ou naqueles tratados com drogas antirreumáticas [ 14 ]. Elevações típicas de reagentes de fase aguda observadas na IRA incluem VHS ≥60 mm/hora e PCR ≥3 mg/dL (≥30 mg/L). Assim como na febre, níveis mais baixos (isto é, VHS ≥30 mm/hora) podem ser observados em grupos de alto risco. • INTERVALO PR PROLONGADO NO ELETROCARDIOGRAMA – A interpretação do prolongamento PR depende da idade e da frequência cardíaca e é >0,2 segundos em adultos. É importante notar que até um terço das crianças com infecções estreptocócicas não complicadas têm um intervalo PR prolongado [ 15 ]. A condução atrioventricular anormal é comum na IRA, sendo o bloqueio de primeiro grau a anormalidade mais comum observada [ 16 ]. O bloqueio grave de primeiro grau pode ocasionalmente levar a um ritmo juncional, e o bloqueio cardíaco de segundo grau e completo pode ocorrer. CARACTERÍSTICAS ADICIONAIS: • HISTÓRIA FAMILIAR – Uma história familiar de IRA deve aumentar a suspeita de IRA no cenário de características sugestivas. • OUTROS ACHADOS – Outras características clínicas observadas em pacientes com IRA incluem dor abdominal, dor precordial, mal-estar, epistaxe, pulsação rápida do https://www.uptodate.com/contents/acute-rheumatic-fever-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/14https://www.uptodate.com/contents/acute-rheumatic-fever-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/15 https://www.uptodate.com/contents/acute-rheumatic-fever-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/16 MYRELLA TURUBANO – T12 sono e taquicardia desproporcional à febre. Os achados laboratoriais incluem leucocitose e anemia normocrômica e normocítica leve da inflamação crônica. Os níveis de complemento são geralmente normais na IRA. Em contraste, a hipocomplementemia é tipicamente observada no cenário de glomerulonefrite pós-estreptocócica. SEQUELAS TARDIAS: A CR é a sequela mais comum e grave da IRA. A artropatia de Jaccoud é uma complicação rara associada a episódios recorrentes de IRA com poliartrite. CARDIOPATIA REUMÁTICA: A CR geralmente ocorre 10 a 20 anos após a doença original, embora possa se apresentar mais cedo após um episódio grave ou recorrente de IRA. É a causa mais comum de doença valvar adquirida no mundo. A valva mitral é mais comumente acometida do que a valva aórtica, e a regurgitação mitral é o achado mais comum de CR. Isso pode evoluir para estenose mitral em casos graves devido à fibrose e calcificação da válvula mitral. Em geral, o dano valvar que se manifesta como um sopro mais tarde na vida ocorre em aproximadamente 50% dos pacientes que tiveram cardite durante o episódio inicial de IRA. O RHD é discutido em maiores detalhes separadamente. ARTROPATIA DE JACCOUD: A artropatia de Jaccoud é uma artropatia crônica benigna que envolve afrouxamento e alongamento de estruturas periarticulares e tendões nas mãos e/ou pés. As deformidades são indolores, "corrigíveis" com manipulação e não causam prejuízo funcional. A artropatia não está associada à inflamação articular ativa. TIPOS DE RESPOSTA IMUNE CELULAR - Cardite grave; - Nódulos subcutâneps. HUMORAL - Cardite leve; - Coreia; - Artrite; - Eritema marginatum. CARDITE A cardite associada à IRA é classicamente considerada uma pancardite que pode envolver pericárdio, epicárdio, miocárdio e endocárdio. Enquanto miocardite e pericardite podem ocorrer na IRA, a manifestação predominante da cardite é o envolvimento do endocárdio apresentando- se como uma valvulite, especialmente das valvas mitral e aórtica. Geralmente se apresenta dentro de três semanas após a infecção por GAS. A presença de valvulite é estabelecida por achados auscultatórios juntamente com evidência ecocardiográfica de regurgitação mitral ou aórtica. Se a valvulite for grave, pode ocorrer insuficiência cardíaca aguda. A regurgitação mitral é a forma mais típica de valvulite na IRA, caracterizada por um sopro pansistólico ouvido mais alto no ápice e irradiando para a axila esquerda. O sopro de Carey Coombs, um sopro mesodiastólico curto ouvido mais alto no ápice, é um indicador de insuficiência mitral moderada a grave como resultado do aumento do fluxo sanguíneo através da válvula mitral durante o enchimento ventricular esquerdo. A regurgitação aórtica é caracterizada por um sopro diastólico precoce ouvido na base do coração, tornado mais alto pelo paciente sentado para frente em expiração forçada. A pericardite ocorre em até 10% dos pacientes com IRA, mas raramente varia na ausência de valvulite. Dor torácica pode estar presente e um atrito pericárdico pode ser ouvido na ausculta. MYRELLA TURUBANO – T12 A cardite subclínica pode ser diagnosticada por ecocardiografia/estudos Doppler que revelam insuficiência mitral ou aórtica na ausência de achados auscultatórios (seja porque os achados do exame clínico estão ausentes ou não são reconhecidos). A lesão das válvulas cardíacas pode ser progressiva e crônica, resultando em descompensação cardíaca. DIAGNOSTICO CRITÉRIO DE JONES 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores + evidencia de infecção pelo estreptoco - A evidência pode ser confirmada por: • Cultura de orofaringe; • Teste rápido; • Teste sorológico - ASLO - Anti-DNASE; - Anti-hialurosidase. PROFILAXIA PRIMARIA O tratamento recomendado para amigdalites estreptocócicas é a Penicilina Benzatina por ser antibiótico bactericida e sempre sensível e por ainda não ter ainda sido superado em eficácia pelos inúmeros novos agentes bacterianos. Recomendamos dose única injetável, no seguinte esquema: - PENICILINA G BENZATINA 600.000 UI IM (peso < 25 Kg) – dose única 1.200.000 UI IM (peso > 25 Kg) – dose única Este esquema pode ser a primeira escolha, mas podem ser usadas também a Penicilina V, Amoxicilina e Ampicilina durante 10 dias, conforme esquema abaixo: - PENICILINA V 250 mg 4 xxdia VO (de 6/6hs) até 25 kg – 10 dias 500 mg 4x dia VO (de 6/6hs) > de 25kg – 10 dias. MYRELLA TURUBANO – T12 - AMOXICILINA 30 a 50 mg/kg/dia VO – 3 doses (8/8hs) - 10 dias - AMPICILINA 25 a 50 mg/kg/dia VO (6/6hs ou 8/8hs) - 10 dias. Nos pacientes alérgicos à Penicilina, a recomendação é a: - ERITROMICINA 20 a 40 mg/kg/dia VO (de 6/6hs ) - 10 dias Clindamicina 10 a 30 mg/kg/dia VO (8/8 ou 6/6hs) – 10 dias. PROFILAXIA SECUNDÁRIA Tem por objetivo o controle das recorrências da FR por meio de um esquema antibiótico a longo prazo. Este esquema deve ser instituído após um diagnóstico criterioso da doença, pois implica em muitos anos de tratamento. A medicação de escolha é a Penicilina Benzatina, administrada em doses suficientes para manter uma concentração sérica de penicilina de 0,03 unidades /ml. As doses recomendadas são: - PENICILINA G BENZATINA 600.000 UI IM de 21/21 dias (peso < 25 kg) 1.200.000 UI IM de 21/21 dias (peso > 25 kg) Pode ser usada ainda a Penicilina V 250 mg (400.000) VO 12/12 hs – uso contínuo, mas sempre como esquema de segunda opção. Nos alérgicos à Penicilina, recomenda-se a Sulfadiazina 500 mg VO para peso até 30 kg e 1 gr VO para pacientes acima de 30 Kg, todos os dias. Já nos raros casos de pacientes alégicos à Penicilina e a Sulfas, recomenda-se a Eritromicina VO 250 mg de 12/12 horas continuadamente. Quanto à duração da Profilaxia Secundária, recomendamos o seguinte: 1 – Pacientes sem acomentimento cardíaco, durante a fase aguda, manter esquema de 21/21 dias até 21 anos, mas por tempo mínimo de 5 anos, com preferência pelo período mais longo. 2 – Pacientes com acomentimento cardíaco durante a fase aguda, mas sem lesão residual, manter esquema de 21/21 dias até 25 anos, por tempo mínimo de 10 anos, com preferência pelo período mais longo. 3 – Pacientes com acomentimento cardíaco, na fase aguda e com lesão cardíaca residual, e aqueles operados e com implante de prótese, manter o esquema de 21/21 dias indefinidamente, ressaltando-se os riscos mais elevados com a interrupção do tratamento nos pacientes em contacto direto com o estreptococo, como é o caso de médicos, enfermeiros, professores e funcionários de creches etc. PROFILAXIA TERCIÁRIA A profilaxia terciária é a recuperação do indivíduo para a sociedade por meio da cirurgia, a qual deve ser baseada nas condições clínicas do paciente, levando-se em consideração a classificação da New York Heart Association – NYHA maior que II/IV. É lógico que a cirurgia deve ser feita antes que ocorra compromentimento funcional do ventrículo esquerdo e que se instalem arritmias, que, por sua vez, podem levar a fenômenos tromboembólicos. Avaliações da saúde oral são de extrema importância nos portadores de valvopatias e, em particular, nos portadores de prótese valvar, os quais apresentam risco maior de endocardite bacteriana. Mesmo com todos estes cuidados e recomendações, sabemos que os pacientes reumáticos constituem, nos dias de hoje, em nosso meio, um desafio para quem os acompanha. MYRELLA TURUBANO – T12 MYRELLA TURUBANO – T12 REFERÊNCIAS • PEREIRA, Breno Álvares de Faria; BELO, Alinne Rodrigues; SILVA, Nilzio Antônioda. Febre reumática: atualização dos critérios de Jones à luz da revisão da American Heart Association- 2015. 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