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18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 1/53 Teoria da Narrativa Prof. Rodrigo Jorge Ribeiro Neves Descrição Estudo dos principais aspectos teóricos e conceituais da narrativa e de sua estrutura, considerando suas características, seus elementos e as diversas relações entre eles. Propósito A compreensão do funcionamento de uma narrativa é fundamental para a análise e interpretação de textos que relatam uma sequência de acontecimentos, encadeados ou não. Para isso, conheceremos seus componentes e os modos como eles se organizam para que a narrativa possa cumprir o seu principal papel: contar uma história. Preparação Antes de iniciar seu estudo, pesquise e acesse o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, disponível na Internet, para entender conceitos específicos da área. Objetivos Módulo 1 A universalidade da Narrativa 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 2/53 Reconhecer a universalidade da Narrativa. Módulo 2 Gênero Narrativo: características Identificar as principais características do Gênero Narrativo. Módulo 3 Elementos da narrativa Identificar os elementos da Narrativa. Módulo 4 Narratividade Reconhecer o conceito de Narratividade. Contar histórias é uma das atividades fundamentais da existência humana. Por meio delas, construímos e reconstruímos, simbolicamente, o mundo ao nosso redor. Compreender os mecanismos envolvidos na construção de histórias, ou narrativas, é fundamental não apenas para saber como chegamos até aqui, mas também para enxergar as possibilidades de caminhos que temos adiante. Por isso, a Teoria da Narrativa é de grande importância. Também conhecida como Narratologia, ela é a parte da Teoria Literária que estuda as narrativas, seus elementos e efeitos. Apesar de, desde sempre, as histórias estarem presentes em nossas vidas, o desenvolvimento desse ramo dos estudos literários é relativamente recente, mas já conta com diversos conceitos e tendências críticas que, cada vez mais, vêm sendo atualizados, como acontece em toda área de estudos diante de novas descobertas e demandas. Introdução 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 3/53 1 - A universalidade da Narrativa Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a universalidade da Narrativa. Feitos de Histórias Por que contamos histórias? Portanto, neste conteúdo, demonstraremos como se constitui a universalidade da Narrativa e analisaremos as principais características do Gênero Narrativo. Em seguida, identificaremos os principais elementos narrativos que compõem a sua estrutura e, por fim, examinaremos a função exercida pelas histórias por meio do conceito de Narratividade. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 4/53 Eduardo Galeano, escritor uruguaio. O escritor uruguaio Eduardo Galeano (2012) afirmou certa vez que, ao contrário do que dizem os cientistas, não somos feitos de átomos, mas de histórias. A metáfora utilizada por Galeano, como podemos perceber, não tem nenhuma pretensão de ser tomada como uma conclusão científica, mas de destacar a importância das histórias para a natureza humana. Somos feitos de átomos, sonhos, medos, paixões, crenças, ódio, culpa, esperança, ideologias, preconceito, violência, descobertas, governos, memória, intolerância e tantos outros produtos de nossa necessidade de contar e de ouvir histórias. No Paleolítico, as condições climáticas e os animais eram difíceis de encarar. As cavernas serviam como refúgio para a sobrevivência do ser humano. Nelas, os desenhos rupestres registram imagens e histórias daquele tempo. Pesquisas recentes, inclusive, apontam muitas delas como precursoras das narrativas cinematográficas. Dá para acreditar? Aquelas paredes não eram sua única proteção. As histórias também. Diante de uma realidade ainda desconhecida para o homem, as narrativas gravadas na pedra, de certa maneira, contribuíram para que ele a conhecesse melhor e a enfrentasse. Por isso, podemos pensar no ato de narrar como uma forma de produzir conhecimento e de se prevenir do que não é bom. Curiosidade Pesquisadores também acreditam que alguns desenhos pré-históricos são relatos de eventos passados, uma espécie de ritual de agradecimento ou de forma de recordação. Contar histórias, nesse sentido, é também lembrar. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 5/53 A memória tem papel fundamental na experiência humana. É preciso lembrar não apenas para que possamos aprender uma lição ou evitar erros, mas também para nos conhecermos melhor. As narrativas são poderosas ferramentas para a memória, pois elas reconstroem a experiência por meio da linguagem e nos oferecem outras maneiras de olhar. É como se criassem um tipo de espelho. Não esse que temos em nossas casas, no qual conferimos cada detalhe, verificando se está tudo em ordem e se tem algo a ser ajeitado. Não é disso que estamos tratando. As narrativas criam espelhos que nos colocam diante do que vemos, mas, principalmente, do que não vemos. A frase lida no Oráculo de Delfos é um belo exemplo dessa relação entre memória e narrativa em nossa vida: “Conhece-te a ti mesmo”. Sacerdotisa de Delfos, John Collier, 1891. Não é difícil perceber que as palavras “comunicar” e “comum” têm origens semelhantes. Elas vêm do latim communis, ou seja, o que é compartilhado por muitos, público. Já não é tão evidente o fato de elas derivarem de mei-, mesma raiz indo-europeia de palavras como “migrar” e “mútuo”, que significa “mudar, trocar”. Assim como migrar é trocar de lugar ou residência, comunicar é trocar entre pessoas e fazer com que o objeto da troca pertença a todos. É tornar aquilo que era apenas individual em algo coletivo, mas sem perder a unidade do que cada um passa a ter depois da troca. Por isso, também contamos histórias, para que, lembrando e conhecendo melhor sobre o mundo e sobre nós mesmos, estejamos juntos. Compreendendo a estrutura narrativa A concepção aristotélica Em nossa tentativa de responder à pergunta que dá título ao núcleo anterior, procuramos características gerais da arte de contar histórias que explicassem a sua ocorrência entre diversos povos e tempos diferentes. Ou seja, buscamos razões universais que nos ajudassem a entender o fenômeno em si. Sem 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 6/53 dúvida, cada história varia de uma cultura para outra, mas há alguns padrões que se repetem, independentemente do idioma e dos autores. É o que caracteriza a universalidade da narrativa. E um dos primeiros a formular os conceitos para a compreensão dessa estrutura foi Aristóteles. Busto de Aristóteles. As artes, de acordo com Aristóteles, possuíam um papel fundamental para a natureza humana e para o crescimento moral dos indivíduos. Dentre as obras dedicadas a essa atividade, destaca-se a sua Poética, considerada o primeiro tratado filosófico sobre as formas de criação literária e cênica, exercendo grande influência até os dias atuais. A Poética de Aristóteles trata basicamente da poesia, sua natureza, suas espécies e funções, assim como seus modos de composição. As espécies são: A tragédia De versos curtos, possuiria tempo e espaço delimitados, sendo realizada em um único cenário e em apenas um dia. A epopeia De versos mais longos, ocorreria durante dias, meses ou anos, e em diversos espaços. A comédia Se dedicaria à imitação (mimesis) de homens inferiores, enquanto as duas anteriores, dos elevados. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 7/53 Aristóteles discute um pouco mais sobre a tragédiae a epopeia nesse conjunto de notas sobre a arte poética que chegou até nós. O ponto em comum entre essas duas espécies da Poética que vai nos interessar é o esquema de três atos, ou seja, é a estrutura com começo, meio e fim. Familiar? Atenção! Para Aristóteles, a relação entre esses três atos é de causalidade, ou seja, cada um é modificado pelo princípio de causa e consequência, a partir de um conflito entre personagens, ideias ou situações. A chave de um bom enredo, segundo o filósofo, seria constituída da seguinte forma: Encontramos essa estrutura em muitas grandes obras do teatro e da literatura. Em Fausto I, de Goethe (1985), por exemplo, a seguinte divisão seria possível: O começo Essa é a situação estável até que algo a desequilibre. O meio É a tentativa de volta à estabilidade anterior e de eliminação do que provocou o desequilíbrio. O �m Que é a eliminação do objeto do desequilíbrio. 1º ato, ou começo Fausto realizou um pacto com Mefistófeles, o demônio, para se tornar mais jovem e atraente. Como ele se apaixona por uma moça, Margarida, pede a intervenção do diabo. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 8/53 Claro que a obra de Goethe é mais complexa e recheada de cenas e conflitos importantes, mas o enredo pode ser sintetizado dessa maneira. A ordem dos atos também pode variar e assumir outros sentidos na história. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, Machado de Assis começa pelo fim, o narrador conta sua história depois de morto (ASSIS, 1999). Gabriel García Márquez, em Crônica de uma morte anunciada, de certa maneira, realiza algo parecido, estimulando o nosso desejo de saber mais sobre como se deu a morte de Santiago Nasar (GARCÍA MARQUEZ, 2006). Como podemos ver, “falar grego” também pode significar uma boa forma de ser compreendido. Principalmente se esse grego for Aristóteles e sua Poética. A concepção formalista Outra contribuição importante para a Teoria da Narrativa no que diz respeito ao estudo da universalidade nas histórias foi dada pelo filólogo, crítico e linguista russo Vladimir Propp, um dos nomes do chamado Formalismo Russo. Os formalistas buscam se afastar das tendências críticas da época que se baseiam em fatores externos ao texto, como a biografia do autor e o contexto histórico. Atenção! Para eles, o texto e seus componentes seriam o objeto central das análises. Apenas o que diz e como diz o texto seriam de interesse. Por isso, sua metodologia é descritiva e morfológica, pois a obra é entendida como construção artística. Os formalistas perguntavam: quais são os elementos das obras? E como interagiriam entre si? 2º ato, ou meio Em sua tentativa de conquistar a mulher amada, uma sucessão de mortes acontece. Um infanticídio leva à prisão de Margarida. Fausto recorre a Mefistófeles mais uma vez. 3º ato, ou �m Margarida recusa a ajuda de Fausto para sair de sua cela, entrega sua alma a Deus e é levada pelos anjos aos céus. Fausto e Mefistófeles fogem da cela de Margarida. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 9/53 Vladimir Propp lançou mão dessas e de outras perguntas em sua análise de contos folclóricos russos para escrever sua Morfologia do conto maravilhoso (PROPP, 2001), um dos estudos mais importantes da Narratologia e da Teoria do Conto. Ele coletou cerca de cem contos maravilhosos, da tradição popular russa, como os contos de fadas e de magia, buscando encontrar elementos em comum entre eles. Como um formalista, Propp não estava interessado em uma investigação dos temas, mas de seus processos de construção, considerando as personagens e suas ações para o desenrolar da história. Vladimir Propp, crítico e linguista russo. Como sabemos, toda narrativa é movida por ações. Por isso, segundo Propp (2001, p. 16): “o que realmente importa é saber o que fazem os personagens”, isto é, quais são suas funções na história. Para definir essa função, o “procedimento de um personagem”, devemos considerar o substantivo que expresse a ação e o significado da função na ocorrência da ação (PROPP, 2001, p. 16). Um personagem, portanto, não é definido pelo que ele é, mas pelo que faz dentro de um momento da história. Ele exerce um papel específico sem o qual essa história não é possível. No conjunto de narrativas populares reunidas por Propp, ele encontrou diversas funções e as agrupou em “esferas de ação”, que são, nada mais, nada menos, que os personagens que executam as ações. As esferas, ou personagens básicos, seriam sete, de acordo com suas funções: 1. Antagonista Ou malfeitor. Simboliza a provocação de dano e luta contra o herói. 2. Doador Também conhecido como provedor, realiza a entrega do objeto mágico ao herói. 3. Auxiliar Realiza a prestação de assistência ao herói em sua trajetória. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 10/53 Como bem indicou João Luís Lafetá (2004, p. 79), o estudo de Propp gira em torno de um núcleo simples, que é o dano ou a carência do herói e as tentativas dele em se restabelecer. Cada uma dessas esferas de ação, ou personagens, contribuem para que o herói obtenha aquilo de que necessita por meio de suas funções. Propp identificou 31 funções em seu corpus de narrativas populares, que nem sempre estão presentes em sua totalidade, mas seguem sempre uma mesma sequência: Uma parte preparatória. O nó da intriga. A intervenção de doadores. O regresso do herói. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 11/53 Para que possamos visualizar como essas funções são distribuídas dentro dessa sequência, vejamos a síntese a seguir: Quadro: Sequência de funções. Elaborado por: Rodrigo Jorge Ribeiro Neves. Antes da sequência de funções, há uma situação inicial $$$\text { (〈) }$$$. Como podemos notar, Propp atribui um símbolo combinatório a cada função. Algumas delas se repetem, mas, é preciso lembrar, obedecem sempre a essa mesma série. A estrutura de Propp desenvolve o esquema aristotélico, embora esteja centrada nos contos populares maravilhosos. Há críticos, como Haroldo de Campos (1973), que veem em Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, a possibilidade de análise segundo o modelo funcional de Propp, ainda que tenha sido uma obra criada a partir de tradições populares e não feita delas. Independentemente do corpus e do alcance do trabalho de Propp, é certo que sua busca por unidades nas estruturas dos contos maravilhosos influenciou bastante outros teóricos da narrativa, como os estruturalistas. A concepção estruturalista Assim como os formalistas russos, os estruturalistas queriam encontrar padrões dentro de um sistema que os ajudassem a compreender um objeto. Comentário Uma das principais diferenças é que o estruturalismo teve uma repercussão mais ampla, não se limitando apenas ao campo da linguagem. O termo surgiu a partir do Curso de linguística geral (1975), de Ferdinand de Saussure, que estabelece um sistema de relações entre os elementos que formam uma língua. Por meio dessa relação, cada elemento é definido, formando, assim, um modelo que possa explicar como a língua funciona. Isso é o que chamamos de estrutura. Nas ciências humanas, o estruturalismo é uma metodologia aplicada a diversas áreas, como a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia e a Psicologia. Cada uma tenta, à sua maneira, compreender os seres humanos a 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 12/53 partir de relações estruturais, ou seja, de modelos que expliquem o que fazemos e o que pensamos. Claude Lévi-Strauss. O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss foi um dos primeiros a aplicar o estruturalismo fora da linguística. Ao observar povos indígenas de diferentes etnias e países, ele constatouque havia formas comuns entre eles que moldavam a maneira como agiam e pensavam. Em sua análise dos mitos, por exemplo, ele percebeu que tinham uma estrutura e funcionavam como uma linguagem. Na literatura, encontramos nomes como Roland Barthes, Tzvetan Todorov, Julien Greimas, Claude Bremond, entre outros que buscavam encontrar uma espécie de gramática da narrativa. Falaremos aqui um pouco sobre o primeiro e sua obra Introdução à análise estrutural das narrativas (1966), uma das mais influentes nos estudos sobre o tema. Nela, Barthes ressalta a natureza universal da narrativa, ao indicar sua presença em todos os setores da sociedade: “não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa” (BARTHES, 2001, p. 104). Roland Barthes. Uma pergunta, entretanto, perdura: em uma perspectiva estruturalista, como entenderia tais recorrências? Para realizar sua análise, Barthes recorre aos principais estruturalistas e formalistas, como Propp, Todorov e Benveniste, chegando até mesmo a Aristóteles. Ele propõe a utilização de um conceito da linguística: “nível de descrição”. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 13/53 E o que seria? No caso da linguística, a frase é o seu objeto de análise, podendo ser descrita em vários níveis, divididos de forma hierárquica, como o fonético, fonológico, gramatical e contextual. Embora cada unidade seja descrita em um nível, ela só tem sentido se estiver relacionada ao nível superior. Barthes dá o exemplo do fonema, que, apesar de poder ser descrito, só faz sentido se integrado na palavra, e esta, na frase. E as narrativas? Como Barthes aplica esse conceito a elas? Sua análise estrutural propõe três níveis de descrições (BARTHES, 2001, p. 112): Para aplicar sua análise estruturalista, Barthes recorre a uma variedade de narrativas clássicas e contemporâneas, buscando estabelecer os vínculos entre os níveis de descrição presentes em suas estruturas, como em A carta roubada, de Edgar Allan Poe, Um coração simples, de Gustave Flaubert, A O nível das funções Como em Propp e Bremond, é onde a história acontece e como estão caracterizados os papéis das personagens na história, é uma unidade de conteúdo, de “o que quer dizer”. O nível das ações Como em Greimas, no qual as personagens estão como “actantes”, ou seja, são descritas não pelo que são, mas pelo que fazem. O nível da narração No qual os dois níveis anteriores se integram, em que a narrativa possui um doador/narrador, quem dirige a história para alguém, e um destinatário/leitor, quem recebe a história. É onde leitor e narrador dão significado à narrativa. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 14/53 Odisseia, de Homero, ou até mesmo no filme Goldfinger (1964), dirigido por Guy Hamilton, em que o famoso agente James Bond, interpretado por Sean Connery, enfrenta o milionário criminoso que intitula a película. Embora Barthes e outros teóricos dessa corrente tenham se afastado da metodologia estruturalista pouco tempo depois, é importante conhecermos alguns de seus principais aspectos, que ainda podem ser utilizados como instrumentos, mesmo complementares, de análises das narrativas. Narrativa: distintas concepções Vamos rever de forma mais abrangente as três concepções mencionadas neste conteúdo? Acompanhe o especialista Rodrigo Jorge Ribeiro Neves no vídeo a seguir: Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! A concepção formalista Módulo 1 - Vem que eu te explico! A concepção estruturalista 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 15/53 Todos Módulo 1 - Video Narrativa: distintas concepções Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 Questão 1 Considere o texto a seguir: “Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos — e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance, mas teria eu o direito de utilizá- las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?” (RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 11) Esse é o primeiro parágrafo de um livro de Graciliano Ramos, um dos mestres da narrativa literária brasileira. Considerando a citação e a relação do ser humano com a arte de contar histórias, assinale a alternativa correta: A A reconstrução da memória pela narrativa é fundamental para entender não apenas a história de um indivíduo, mas de suas relações sociais. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 16/53 B A reconstrução da memória pela narrativa é fundamental para entender apenas a história do indivíduo que a escreve. C É impossível reconstruir o passado pela narrativa sem anotações e outros registros sobre os acontecimentos. D A experiência coletiva depende da concordância de todos os indivíduos para que possa ser narrada em uma história. E A reconstrução da memória pela narrativa é produto de uma decisão coletiva, desde que os nomes utilizados na história sejam verdadeiros. Parabéns! A alternativa A está correta. O trecho faz parte do livro Memórias do cárcere, em que Graciliano Ramos relata a sua experiência vivida na prisão. O processo de rememoração depende da estrutura narrativa para que possa ser comunicada aos outros membros da sociedade, seja como personagens e testemunhas da história ou como leitores que estejam interessados em conhecê-la. Questão 2 Em sua abordagem estruturalista das narrativas, Roland Barthes deu grande contribuição aos estudos acerca da universalidade das histórias. Para o crítico francês, compreender uma narrativa “não é apenas passar de uma palavra para outra, é também passar de um nível a outro.” (BARTHES, 2001, p. 112). Assinale a alternativa que explique o conceito de narrativa defendido por Barthes: A Relação entre narrador, ação e personagem em uma sequência fixa. B Encadeamento de personagens, espaço e ação, considerando um público leitor. C Encadeamento de personagens, seus papéis e suas ações, transmitidos por um narrador 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 17/53 C para um leitor. D Relação não delimitada de ações e personagens, que nem sempre assumem um papel na história. E Encadeamento de funções e personagens, sem considerar, em princípio, a possibilidade de um leitor. Parabéns! A alternativa C está correta. Na análise estruturalista de Roland Barthes, em esquema provisório, como ele mesmo atesta, uma narrativa é constituída de três níveis que, apesar de poderem ser descritos, só fazem sentido em uma relação entre eles. Os papéis de personagens e suas ações se integram em uma narração construída para um leitor. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 18/53 2 - Gênero Narrativo: características Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais características do Gênero Narrativo. Gênero LiterárioConceito As questões em torno das tentativas de classificação da literatura em gêneros literários são das mais importantes e decisivas na própria concepção da literatura e dos limites e condições da teoria literária, desde os seus precursores, Platão, com sua República, e Aristóteles, com a Poética, até os dias atuais. Para Anatol Rosenfeld (1985), a adoção do sistema de gêneros na literatura é fundamental não apenas pela necessidade científica de estabelecer normas que deem conta da multiplicidade de fenômenos, mas, por um motivo ainda mais profundo, a necessidade de uma atitude face ao mundo imaginário que se busca comunicar por meio da obra literária. Segundo Tzvetan Todorov, em seu clássico estudo Os gêneros do discurso, todo gênero literário surgiu de outro, pois “um novo gênero é sempre a transformação de um ou de vários gêneros antigos: por inversão, por deslocamento, por combinação” (TODOROV, 1981, p.48). Assim, para o crítico búlgaro, a pergunta a ser feita não é o que veio antes, mas as formas na linguagem que evidenciam o surgimento de um novo gênero ou que mostrem a passagem de um para outro. Exemplo Podemos trazer o caso de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Em sua tentativa de parodiar as histórias de cavalaria, ele se torna precursor de um dos principais gêneros da modernidade: o romance. Por outro lado, algumas chamadas “transgressões” de determinados gêneros literários, recorrentes na literatura, em especial no século XX, ocorrem justamente em situações em que todos os pressupostos tradicionais de determinados gêneros foram rigorosamente seguidos. Jorge Luís Borges (2007), por 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 19/53 exemplo, lembra-nos que Edgar Allan Poe, mesmo inventando o conto policial e escrevendo contos de horror fantástico ou de bizarrice, não misturou os dois gêneros. O objetivo não é esquecer ou mudar internamente os procedimentos do gênero literário, mas utilizá-los à risca, seguindo as regras convencionais e até mesmo prestigiadas do gênero, ainda que isso seja feito de modo transgressor. Exemplo Na literatura brasileira, o romance Vidas secas (1938) é um dos casos mais interessantes de obediência e transgressão de gêneros. Apesar da estrutura inovadora proposta por Graciliano Ramos, os elementos que compõem um conto e um romance estão ali, em diálogo inovador em nossa literatura. O livro não deixa de ser classificado, enquanto um conjunto de textos, como romance. É possível que você tenha um exemplar em sua estante ou em sua pasta na nuvem. Veja na ficha catalográfica. Viu? Agora, leia qualquer capítulo do livro. Pode ser o mais famoso, “Baleia”, e tente observar como ele também pode ser lido com um conto. Deu para notar? Um gênero literário é parecido com o ciclo de um ser vivo, ele nasce, cresce e se reproduz, só não morre, ele se transforma. Distinções básicas para Teoria da Narrativa Discurso, história e horizonte de expectativa. As relações entre discurso e história no Gênero Narrativo são uma de suas características mais importantes e nos ajudam a compreender os limites e condições da própria estrutura da narrativa a partir de seus principais elementos, que veremos no módulo seguinte. Antes de mais nada, temos três distinções que precisam ser feitas, para que possamos refletir sobre os significados dessas relações: Discurso O discurso nada mais é do que o texto apresentado, com sua forma e regras de estruturação. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 20/53 História É o acontecimento descrito pelo texto, ou seja, é o que deduzimos do discurso que acabamos de ler. Horizonte de expectativa A definição do tipo de narrativa vai depender também de como essas duas categorias se relacionam, além do horizonte de expectativa manifestado pelo leitor. Jonathan Culler (1999) destaca que essa relação é uma das distinções básicas da teoria da narrativa. A história é o dado, o discurso são as diferentes maneiras de apresentação dele. Para Culler, a história é o enredo, elemento da narrativa sobre o qual discutiremos adiante. Apesar de estarem relacionados, qual característica enxergamos primeiro: o discurso ou a história? Em geral, a história é a primeira que notamos. Depois, identificarmos o discurso, ou seja, qual é o gênero, os efeitos da narrativa, a estrutura etc. Como vimos, os gêneros literários são fenômenos culturais. São, portanto, formas específicas de ler a vida. Ora, se a escolha de um gênero está relacionada ao setor da vida sobre o qual você quer falar/escrever, então há um horizonte de expectativa de sua parte na definição desse gênero. Você tem um conhecimento prévio sobre os gêneros escolhidos, o que indica que a sua expectativa como leitor influencia na escolha do tipo de narrativa adequada para contar a sua história de vida. Por que não costumamos ouvir ou ler que uma vida daria um poema? Porque, em um primeiro momento, relacionamos o poema à expressão de sentimentos e de uma subjetividade, que são, na verdade, características do gênero lírico. Uma vida também poderia dar uma peça de teatro, como fez o ator e comediante Paulo Gustavo ao levar para os palcos a premiada representação de sua mãe. Nesse caso, costumamos associar a peça ao gênero cômico. Isso quer dizer que uma vida não poderia virar também uma peça trágica? 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 21/53 Claro que sim, mas o que estamos discutindo aqui é que existe um conjunto de informações que carregamos antes de decidirmos o discurso que queremos ler. E de onde elas vêm? Elas fazem parte de nossa visão histórica do mundo, moldada pelas instituições culturais e educacionais, como a escola, a família, as redes sociais etc. Por meio delas, temos acesso aos vários discursos e percebemos como eles conseguem se ajustar às questões do nosso tempo. É a partir dessa observação, por exemplo, que podemos avaliar como um poema pode também contar uma história de vida. Para que isso seja possível, qual característica seria imprescindível nele? Isso mesmo, a narração. Com isso, constatamos que o horizonte de expectativa não influencia apenas as escolhas do leitor, mas também do escritor, que, assim como quem recebe o discurso, também é formado pelas instituições, estando inserido em determinada cultura literária. A partir do seu conhecimento da tradição, ele vai realizar escolhas que atentam ao que está querendo compor, ou seja, qual discurso se ajusta melhor à história que pretende contar. O surgimento de novos gêneros, ou a mistura de gêneros distintos, mantendo as características de cada um, também surge dessa relação entre discurso e história, mas movidos por um horizonte de expectativa. Tipos de Narrativa: Gêneros mais antigos Como um gênero literário é uma maneira de tornar determinado setor da vida legível por meio de um texto, é natural que ele também acompanhe as condições históricas. Assim, os gêneros vão se transformando, renascendo e criando novos tipos, ou subgêneros. Claro que nem todos são bem delimitados, alguns se encontram na fronteira entre dois ou mais tipos. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 22/53 No gênero narrativo, cada vez mais essa fronteira vem sendo colocada em xeque, mas, ainda assim, podemos observar as estruturas ali presentes, com todos os principais elementos que respondem às exigências da realidade que se quer retratar. Comentário Na literatura, os principais tipos de narrativa que ainda podemos encontrar, ou subgêneros, são a epopeia, o conto, a novela e o romance. A epopeia A epopeia é um dos subgêneros narrativos mais antigos e o único que é definido pela sua composição em versos. Como vimos no primeiro módulo, Aristóteles, em sua Poética, descreveu a epopeia,ou poesia épica, como uma espécie dedicada aos homens elevados, assim como a tragédia, mas se distingue desta pela sua extensão e ritmo. A epopeia é um texto longo e se dedica aos grandes feitos de heróis históricos ou mitológicos, narrando, geralmente, os destinos de uma coletividade. É o que vemos, por exemplo, na Ilíada e na Odisseia, de Homero, na Divina comédia, de Dante Alighieri, e em Os lusíadas, de Luís de Camões. Apesar de sua decadência no século XVIII, com a ascensão do romance, encontramos algumas obras que retomam a forma da epopeia em diálogo com outras formas modernas e contemporâneas, como em Invenção de Orfeu (1952), de Jorge de Lima, e Uma viagem à Índia (2010), de Gonçalo M. Tavares. A Divina comédia, de Dante Alighieri. O conto O conto é uma narrativa curta, em prosa, que contém, normalmente, um só conflito, uma única ação, espaço e tempo limitados e poucos personagens. Claro que não são regras fixas, elas podem variar, mas essas são suas características mais comuns. É considerado um dos tipos de narrativas mais antigos, anterior até mesmo à escrita, quando povos pré-históricos se reuniam em torno da fogueira para contar e ouvir histórias. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 23/53 O Decamerão, de Giovanni Boccaccio Com o advento da escrita, passou a acolher histórias de diversas civilizações, crenças e costumes, desde os relatos bíblicos e o Livro das mil e uma noites até o Decamerão, de Giovanni Boccaccio, e as fábulas dos irmãos Grimm. Entre os maiores mestres do gênero, temos Machado de Assis, Anton Tchekhov, Virginia Woolf, Franz Kafka, Clarice Lispector, entre muitos outros. Aliás, o conto é um dos tipos de narrativa mais utilizados na expressão do fantástico e do maravilhoso, como podemos notar pelo estudo de Vladimir Propp já citado. Curiosidade Com o surgimento da imprensa escrita, o conto explodiu e se tornou um gênero moderno e ainda mais popular. Tipos de Narrativa: Gêneros mais recentes A novela Outra narrativa curta ainda atual é a novela, que, em termos de extensão, está entre o conto e o romance. Apesar do nome, não confunda com a telenovela, ainda que esta possa ser a adaptação de uma novela literária. A novela, enquanto tipo de narrativa, é um texto curto em prosa, mas com mais ações, conflitos e personagens que o conto, além de apresentar um espaço e um tempo mais extensos. Sua agilidade e objetividade na narração dos eventos é também uma de suas características mais comuns. À diferença do conto, a novela é um gênero mais “recente”, surgindo em um momento próximo ao do romance, no Renascimento, principalmente por meio do Decamerão, de Boccaccio, que também influenciou o desenvolvimento do conto. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 24/53 A metamorfose, de Franz Kafka. Na literatura brasileira, não é um gênero muito comum, mas há grandes novelas, como O alienista, de Machado de Assis, e Um copo de cólera, de Raduan Nassar. Outras novelas que merecem ser destacadas são A metamorfose, de Franz Kafka, A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói, e O velho e o mar, de Ernest Hemingway. O romance Dos tipos de narrativas mencionados até aqui, nenhum é tão múltiplo e híbrido quanto o romance. É, sem dúvida, um dos gêneros mais importantes da modernidade, pois reflete como poucos seu processo, seus conflitos e suas contradições. O romance tem sua ascensão, segundo Ian Watt (2010), no século XVIII, quando ocorre uma reorientação do individualismo no pensamento filosófico, influenciada por Descartes e, portanto, uma maior autonomia do indivíduo. Em sua estrutura, o romance se assemelha à novela, mas é um pouco mais complexo. Nele, as ações acontecem de forma paralela, podendo, inclusive, um personagem surgir no meio da história e desaparecer antes de seu fim. Machado de Assis merece, mais uma vez, ser citado como grande mestre no gênero, principalmente com seus romances da fase madura, Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba. Desse período, vale a pena citar a primeira romancista negra brasileira, Maria Firmina dos Reis, com Úrsula. Dom Casmurro, de Machado de Assis. No século XX, Virginia Woolf, com Ao farol, James Joyce, com Ulysses, Marcel Proust, com a série Em busca do tempo perdido, e Guimarães Rosa, com Grande sertão: veredas, elevaram o gênero narrativo à plenitude de sua forma e também de seu conteúdo. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 25/53 Tipos de narrativa: a novela e o romance Acompanhemos agora o professor Rodrigo Jorge apresentar os tipos de narrativa conhecidos como novela e romance, a partir de suas estruturas características. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! O que são gêneros literários? Módulo 2 - Vem que eu te explico! Tipos de narrativa: a epopeia e o conto Todos Módulo 1 - Video Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 26/53 Narrativa: distintas concepções Módulo 2 - Video Tipos de narrativa: a novela e o romance Módulo 3 - Video Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A narrativa, assim como todo gênero literário, transforma-se de acordo com as condições de cada tempo, mas também preserva determinados aspectos estruturais de seus tipos anteriores. Assinale a alternativa que exemplifique essa informação: A O conto surge na Antiguidade, especialmente depois das obras de Aristóteles e Platão sobre os gêneros literários. Por isso, o conto é o tipo de narrativa mais antigo. B O romance é um gênero com estrutura fixa e com poucas variações. Ele é antecedido pela novela, do qual herdou poucos elementos. C O conto e a novela são gêneros bem próximos em suas respectivas estruturas. A única diferença entre eles está no número de personagens. Enquanto o conto contém poucos personagens, a novela apresenta um número bem mais variado. D A epopeia, ou poesia épica, é um dos gêneros mais antigos dentre os tipos de narrativa. Mesmo assim, ela é bastante comum na contemporaneidade e pode ser lida com poucas variações em sua estrutura. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 27/53 E O romance surge em um momento em que a razão e o indivíduo se tornam centrais na sociedade. Ele é antecedido pela novela, que, apesar da menor extensão, também pode apresentar uma variedade de personagens, espaços e tempos. Parabéns! A alternativa E está correta. O gênero narrativo do romance é reflexo da modernidade e de suas transformações, a partir do século XVIII. Embora também tenha herdado elementos do conto, a novela se aproxima um pouco mais de sua estrutura. Além disso, ela emerge no Renascimento, pouco antes da ascensão da modernidade. Questão 2 No gênero narrativo, é fundamental não apenas identificar o acontecimento relatado, mas também como é construído o relato. Assinale a alternativa que contenha, respectivamente, duas características básicas do gênero narrativo presentes nessa afirmação. A Horizonte de expectativa e discurso. B Estrutura e narração. C História e discurso. D História e intenção. E Discurso e leitura. Parabéns! A alternativa C está correta. Segundo Jonathan Culler, em Teoria literária (1999), a oposição entre discurso e história é uma das distinções básicas do gênero narrativo. A história, que também pode ser lida como “enredo”, é o acontecimento em si, “sobre” o qual a narrativa fala. O discurso é o conjunto de elementos estruturais utilizados para contar a história, é o “como” a narrativa fala. 18/09/2022 23:24 Teoria daNarrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 28/53 3 - Elementos da narrativa Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os elementos da Narrativa. Quem ou de quem se fala? O narrador O Gênero Narrativo precisa de uma série de elementos fundamentais em sua construção. Um deles é o narrador. Atenção! É importante apenas não confundirmos o narrador com o autor do texto, que é a pessoa física que escreve a história. A perspectiva do narrador pode ou não corresponder à do autor. Um dos casos em que essa distinção é óbvia acontece em Memórias póstumas de Brás Cubas, já que o narrador pode estar morto, mas o romancista não. Por mais que Machado de Assis possa manifestar, eventualmente, em uma passagem ou outra algum ponto de vista semelhante ao do narrador, isso não o 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 29/53 coloca na mesma função. O narrador é não apenas uma voz, mas uma estratégia narrativa. Para que possamos identificá-lo, uma das principais perguntas a serem feitas é: “quem ou de quem fala?” O narrador é também considerado o foco narrativo ou ponto de vista da história, podendo, ou não, ser confundida com a do autor, como já ressaltamos. Mas nem sempre o narrador é o focalizador da história, pois eles podem assumir posições distintas ao longo do texto (CULLER, 1999, p. 90). Por isso, é sempre importante estar atento ao que nos é apresentado pelo narrador, observando suas estratégias. Há diversos tipos de narrador, que podem variar de acordo com os estudos específicos sobre o tema. Em síntese, eles são divididos em três tipos. Quem fala? Eu. Quando você conta uma história que aconteceu com você para os seus amigos, quem sabe mais sobre ela? É você, claro, que vai narrá-la a partir do foco narrativo em primeira pessoa, como faz um narrador-personagem, já que você também participa da história. Contudo, justamente por ser a perspectiva de quem está na história, esse narrador é parcial, nem sempre devemos confiar em seu relato. Neil Hamilton como Nick Carraway em The Great Gatsby (1926). Um clássico exemplo é o narrador-protagonista de Dom Casmurro, Bentinho. A eterna questão em torno da traição de Capitu, na verdade, está mais ligada à suspeição do narrador, que tenta nos convencer de que sua perspectiva dos fatos é a verdadeira, pois não temos provas de que houve a infidelidade. Temos apenas uma versão dos fatos. Há também narradores em primeira pessoa que são personagens, mas não protagonistas, como Nick Carraway, em O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e Dr. Watson, nas histórias de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle. Narrador-personagem, em primeira pessoa Narrador-observador, ou narrador-testemunha, em terceira pessoa 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 30/53 De quem fala? Ela ou ele, elas ou eles. Você já deve ter escutado, ou até mesmo dito, algumas vezes que quem enxerga de fora, enxerga melhor. Isso porque aquele que está em uma perspectiva distante consegue ver a história de uma forma global e sem o envolvimento que, muitas vezes, pode distorcer a versão dos fatos. Um observador ou testemunha também pode distorcê-los? Sem dúvida, mas, na reconstituição dos acontecimentos, o narrador em terceira pessoa, por não ter relação direta com os personagens, pode apresentar uma visão mais imparcial. Margaret Thatcher: A Biografia Autorizada É o caso, por exemplo, das biografias em geral. Para reconstituir a história de uma vida, o biógrafo reúne uma série de documentos e relatos sobre ela, que vão dar sustentação ao narrador. Na literatura de ficção, as fábulas de Esopo e algumas narrativas infantis são um exemplo da utilização desse foco narrativo. De quem fala? Ela ou ele, elas ou eles. A diferença em relação ao narrador-observador é que, apesar de falar em terceira pessoa, o narrador sabe tudo sobre as personagens, podendo, inclusive, ter participação na história. Os sentimentos, o pensamento, as intenções e aspectos da vida dos personagens são conhecidos desse narrador. É o tipo mais comum na literatura. Narrador onisciente, em terceira pessoa 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 31/53 Garoto olhando pelo buraco da fechadura. Quem nunca se sentiu tentado a ser um narrador onisciente e saber exatamente o que uma pessoa está pensando ou sentindo? De certa maneira, esse foco narrativo é uma estratégia do escritor para envolver o leitor na história, mas mantendo algum distanciamento. Nelson Rodrigues dizia que sua ótica de ficcionista era de um garoto olhando pelo buraco da fechadura, ou seja, ao mesmo tempo em que o narrador conhece a história pelo lado de fora da porta, ele também a enxerga em sua intimidade. A literatura não se limita a esses tipos de narrador. Eles podem se combinar no mesmo texto. Há narrativas de diversas vozes, como em As ondas, de Virginia Woolf, ou nas quais o narrador é uma figura difícil de definir, como em Museu do romance da eterna, de Macedonio Fernández. E ainda nos dias atuais eles encontram um jeito novo de falar. Quem age? Personagem Outro elemento fundamental em uma narrativa é a personagem. Ela nem sempre corresponde ao narrador, como acabamos de ver, podendo assumir papéis ainda mais variados e complexos. Em alguns casos, ela até mesmo pode desaparecer. A palavra, em português, surgiu do francês personnage, que, por sua vez, veio do latim persona. Curiosidade A expressão remonta ainda ao etrusco e ao grego e era utilizada para se referir à máscara teatral. Não é interessante? Uma personagem é uma máscara, uma face, que um ator veste para representar algo em uma história. É por meio dela que somos apresentados ao universo ficcional ou não ficcional da narrativa, pois apenas quando aparece a personagem é que sabemos qual história estamos lendo. Afinal, um texto que inicie falando de uma paisagem ou descrevendo, por meio de um narrador qualquer, a movimentação em uma rua ou no transporte público, pode ser um artigo de jornal, uma carta, um ensaio sociológico ou uma folha solta de um caderno de anotações. Mas, ao entrar uma personagem, seja por meio de sua fala ou da descrição de uma atividade, entramos também no enredo, ou trama. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 32/53 Por isso, uma personagem é um dos principais elementos do gênero narrativo. É por meio dela que a natureza humana se reflete e se revela na construção dos eventos. E como se dá isso? Pela ação. A personagem é quem age e é também afetada pelas ações. Ela é o elemento essencial para que ocorra o conflito, um dos efeitos mais importantes de uma narrativa. Por ser uma “máscara”, ela assume diversos papéis, todos bem conhecidos: Dependendo da história, esses papéis podem mudar, mas cada um tem uma relevância para a sucessão dos acontecimentos e o desenrolar da intriga. Um exemplo de herói clássico é Ulisses, ou Odisseu, da epopeia de Homero, Odisseia, que relata o retorno do protagonista para casa após 10 anos na Guerra de Troia, enfrentando uma série de situações no caminho, ajudado ou atrapalhado pelos deuses. Dentro dessa mesma categoria, temos o anti-herói, que não corresponde às virtudes esperadas de um herói. O O protagonista, ou herói Figura central no desenvolvimento da ação. O antagonista Opositor, em geral, do herói, atua sempre contra algo ou alguém. Coadjuvante Participante da narrativa com importância para o desenvolvimento da ação, mas menos destacado que o protagonista. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 33/53 personagem Macunaíma, do livro de mesmo título, de Mário de Andrade, é um caso de anti-herói na literatura brasileira.Nas histórias em quadrinhos, Batman, personagem criado por Bob Kane e Bill Finger, também assume esse papel, embora nos pareça, por vezes, ambíguo. É importante lembrar que os anti-heróis não são antagonistas, ou opositores, embora muitas vezes se comportem quase como vilões, tornando-se difícil determinar a linha que separa um de outro. De qualquer forma, os anti-heróis são personagens fundamentais para a trama, como é o caso do Major Vidigal, do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, ou Iago, de Othelo, de William Shakespeare. Entre os coadjuvantes, há uma infinidade, pois, como vimos, são todos aqueles que não possuem a relevância do protagonista, mas têm uma participação imprescindível na história. Um exemplo é Escobar, do já citado Dom Casmurro, que é peça chave no discurso paranoico do narrador. Quanto à composição, as personagens podem ser, de um modo geral: Redondas, ou esféricas Complexas, dinâmicas e de profundidade psicológica, podendo mudar ao longo da história e nos surpreender. Planas ou desenhadas Mais simples e delimitadas em sua caracterização, sem exploração de uma interioridade, tornando-se, por isso, previsíveis no desenrolar da narrativa. Tipos Representações simbólicas de um grupo de indivíduos, como uma unidade, de acordo com o aspecto que se quer ressaltar. Na literatura, temos muitos exemplos, especialmente das duas primeiras formas. Raskólnikov, em Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski, Macabéa, em A hora da estrela, de Clarice Lispector, e Ponciá Vicêncio, no romance que leva seu nome no título, de Conceição Evaristo, são alguns bons exemplos de personagens de composição redonda ou esférica. As personagens planas ou desenhadas não significam que são necessariamente malfeitas, ao contrário. Quando bem desenvolvidas, cumprem muito bem o seu papel na narrativa. Como é o caso das personagens 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 34/53 da série Harry Potter, de J.K. Rowling, como Harry e Voldemort. As personagens-tipos podem não ser tão explícitas, como o cortiço que intitula a obra de Aluísio Azevedo, mas exercem uma importante função. Onde ocorre a ação? Espaço O espaço é onde ocorre a ação. Pode ser um, dois ou mais lugares, ou até mesmo ser indefinido. O sociólogo francês Michel de Certeau (1998, p. 201-202) define o espaço como resultante do deslocamento entre posições, ou lugares. Assim, o que define o espaço não é a circunscrição física e geográfica, mas as relações sociais que ali se estabelecem. Se aplicarmos para a teoria da narrativa, poderemos pensar no espaço não apenas como um cenário estático, mas como elemento que integra essas ações. Se fosse acessório, não precisaria ser descrito. Portanto, o espaço deve cumprir uma função, seja para contextualizar a história ou para ressaltar uma caraterística da personagem. Em uma narrativa, o espaço pode ser, geralmente, de dois tipos: físico e psicológico. O primeiro pode ser interno e externo. É possível que, na mesma história, as personagens se desloquem entre ambientes físicos distintos, de acordo com o enredo e o tipo de narrativa, como uma novela ou um romance. Há situações em que a definição do espaço atende também à caracterização do ambiente social do qual as personagens fazem parte, já que a posição de um indivíduo na sociedade também se reflete nos lugares que ele habita e frequenta. Podemos citar, mais uma vez, dois romances da literatura brasileira em que os espaços físicos ressaltam a caracterização de classe das personagens: O cortiço, de Aluísio Azevedo, e Dom Casmurro, de Machado de Assis. O primeiro traz, já no título, o próprio elemento da narrativa que estamos discutindo. Na época, interessado em escrever sobre as vidas das gentes das habitações pobres da cidade, chega a frequentar e até a morar em cortiços, próximo à região central do Rio de Janeiro. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 35/53 O cortiço Em O cortiço, exemplar do naturalismo no Brasil, o meio é determinante para o comportamento, o caráter e a personalidade do ser humano. Dom Casmurro A rua de Matacavalos, apesar de apresentar a decadência de uma elite, também traz a representação de uma estrutura social e econômica fundada na escravidão. Saiba mais Em Dom Casmurro, a rua de Matacavalos foi o local onde nasceu e cresceu Bentinho. O espaço psicológico é mais comum nas narrativas modernas, em especial entre os séculos XIX e o atual. Ele se refere ao interior da personagem, seus pensamentos, sentimentos e suas impressões. Sabe quando você se coloca a viajar mentalmente para situações e lugares que seriam impossíveis de alcançar? É como sonhar acordado, não? Às vezes, pode virar até mesmo um pesadelo, dependendo de onde vamos parar. Mas isso não deixa de ser uma espécie de narrativa que criamos. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 36/53 A traição de Capitu com Escobar, por exemplo, ocorreu em um espaço físico ou psicológico nos devaneios de Bentinho? Baleia, a cachorra de Vidas secas, antes de morrer, sonha com um mundo cheio de preás imensos, um dos episódios mais belos e sensíveis da literatura. É um dos raros momentos em que o espaço psicológico é de um animal. Clarice Lispector explorou como poucos esse ambiente em suas narrativas, como em uma de suas obras mais conhecidas, A paixão segundo G.H. Como podem ver, a escolha de uma rua, de uma construção, de uma sensação, de uma lembrança, ou até mesmo de uma calçada, em uma boa narrativa, não é casual. Podem ocorrer seleções aleatórias? Podem. E não significa, necessariamente, que sejam histórias ruins ou mal contadas, mas uma narrativa bem construída deve considerar cada um dos elementos e saber amarrá-los na trama. Os espaços podem ser diversos, misturar-se, dissolver-se e desaparecer, mas sempre relacionados ao que a história quer contar. Os diferentes tipos de tempo da narrativa Tempo “Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos... Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo... Tempo tempo tempo tempo... ”Diz um trecho de Oração ao tempo, de Caetano Veloso (1979). Você já deve ter escutado em algum momento essa canção. Se não escutou, coloque no seu streaming de música preferido ou veja no YouTube. Se já escutou, escute de novo. O tempo é um dos elementos fundamentais da vida, por isso, não é menos imprescindível em uma narrativa. Ele é o tecido do que somos, com nossos desvios, virtudes e hesitações. Assim, aquele que domina o tempo em uma história, domina 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 37/53 absolutamente todos os elementos, narrador, personagem e espaço, embora este, para alguns, esteja também vinculado ao tempo. Quanto aos tipos de tempo em uma narrativa, podemos encontrar, de uma forma geral, três: Cronológico, ou da história É a sequência de acontecimentos narrados na ordem semelhante à do relógio, ou do calendário. Histórico É a adequação da narrativa a uma época ou um momento histórico, portanto, ele ocorre sempre no passado. Psicológico É a duração subjetiva, da interioridade da personagem, de acordo com o ritmo de suas sensações e seus pensamentos. O tempo cronológico, como o nome já deixa claro, é o mais próximo do que estamos acostumados no nosso cotidiano. Nas narrativas, é um dos tipos mais comuns. Os diálogos, por exemplo, costumam seguir essa marcação, pois a duração é de acordo com a conversa entre as personagens. Quanto ao tempo histórico, não é difícil perceber que ele se aplica a eventos que já ocorreram e agora estão sendo reconstituídos. As biografias, pela sua natureza, seguem necessariamente esse tempo, pois elas se referem aos acontecimentos na vida de uma pessoa, ou seja, tudo aquilo quea formou como indivíduo. As narrativas históricas, de modo geral, também buscam a obediência a essas marcas no calendário. Atenção! Essa distinção não impede que o discurso seja construído com a combinação dos dois tipos de tempo, pois, assim como há a necessidade de contextualizar historicamente uma narrativa do passado, ela também precisa estar de acordo com o ritmo do presente da escrita e da leitura. Sheherazade, no Livro das mil e uma noites, inicia seus relatos ao sultão Shahryar com praticamente a mesma fórmula, “Conta-se, ó rei venturoso...”, a fim de imprimir ao evento do passado o frescor do presente. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 38/53 O tempo psicológico, também chamado de tempo da memória, é um dos mais complexos e se mistura, de certa maneira, com o espaço. Você já deve ter experimentado em algumas ocasiões esse tipo temporal, quando um evento parece ter durado tão pouco enquanto outro, quase uma eternidade. É comum qualificarmos essa passagem subjetiva do tempo de acordo com a satisfação da nossa experiência. Em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, o tempo também opera nessa duração. Aliás, uma das características do tempo psicológico, muito presente na literatura de Clarice, é o fluxo de consciência, técnica que procura descrever a complexidade do pensamento e das sensações de uma personagem. Além de Clarice, Virginia Woolf, Marcel Proust, James Joyce e William Faulkner estão entre os autores que mais desenvolveram esse recurso em suas obras. Elementos da narrativa: espaço e tempo Acompanhemos agora o professor Rodrigo Jorge analisar aspectos e estrutura característica de dois tipos de narrativa. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Tipos de narrador Módulo 3 - Vem que eu te explico! Tipos de personagem 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 39/53 Todos Módulo 1 - Video Narrativa: distintas concepções Módulo 2 - Video Tipos de narrativa: a novela e o romance Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 Questão 1 Considere o seguinte texto: “O Clube dos Desconfiados teve existência breve. Sua utilidade era indiscutível. Por isso congregou inúmeros desconfiados, que em sociedade se sentiriam mais garantidos contra possíveis más intenções e surpresas desagradáveis. Uma vez reunidos e organizados, com estatutos e diretoria, passaram a desconfiar uns dos outros e de si mesmos. Marcada assembleia geral extraordinária para exame da situação, ninguém compareceu. Ficaram todos nas esquinas próximas, espiando quem entrava na sede. O porteiro, desconfiadíssimo, sumiu.” (ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 44) Intitulado “Aquele clube”, o texto faz parte da coletânea Contos plausíveis, de Carlos Drummond de Andrade, em que o poético e o cômico se combinam. A utilização do narrador-observador, em terceira pessoa, contribui para realçar a comicidade da narrativa, pois: ele se envolve com os destinos dos membros do clube e tenta convencer o leitor de sua 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 40/53 A importância. B ele não participa da história e, portanto, busca obter cumplicidade do leitor, já que ambos estão distantes daquela realidade. C não há seriedade na forma como ele descreve as personagens da história, levando-nos a um riso irônico. D ele protagoniza a história, já que possui informações privilegiadas sobre o destino do clube e de seus membros. E o distanciamento em relação aos eventos narrados destaca a sua vantagem sobre os membros do clube. Parabéns! A alternativa B está correta. O narrador-observador está em uma posição distante dos eventos e não participa deles, mas, ao mesmo tempo, tem uma visão geral e mais imparcial da história. A focalização sobre as personagens, sem se envolver com elas, aproxima-o mais do leitor, que também imprime um significado na narrativa. Os dois, narrador e leitor, situam-se em um plano distinto dos Desconfiados, destacando ainda mais o efeito cômico. Questão 2 A personagem é um dos elementos fundamentais em uma narrativa, pois é por meio dela que sabemos em que história estamos entrando no ato de leitura. Quanto aos tipos de personagem, segundo a teoria da narrativa, assinale a alternativa correta: A Contradições e embates interiores são características muito comuns em personagens construídas como redondas ou esféricas. B Resignação e tristeza estão presentes em personagens planas, criadas a partir da leitura de outros textos da tradição narrativa. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 41/53 C As personagens esféricas podem representar um grupo social bem delimitado ou difuso, dependendo do espaço da narrativa. D As personagens-tipos são as mais distantes das características humanas, por isso são muito comuns nas representações de monstros nas fábulas. E A dimensão coletiva das personagens planas se dá pela sua representação dos anseios de um grupo social. Parabéns! A alternativa A está correta. As personagens chamadas de esféricas ou planas são concebidas a partir de aspectos subjetivos da natureza humana, evidenciando, assim, características que as aproximam de pessoas reais. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 42/53 4 - Narratividade Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de Narratividade. Tudo é narrativa? O que pode ser narrado? No primeiro módulo, falamos sobre a nossa necessidade milenar de contar histórias. Elas sempre estiveram presentes em nossas vidas e foram se transformando ao longo do tempo, mas preservando alguns de seus elementos e outros componentes estruturais. Jonathan Culler (1999, p. 85) cita uma observação do crítico literário Frank Kermode sobre nossa capacidade de organizar ficcionalmente o mundo tomando como exemplo o ruído de um relógio analógico, o tique-taque. Ao conferir palavras diferentes a sons idênticos, estamos demarcando um início e um fim do movimento, como se construíssemos uma espécie de microenredo. Nesse sentido, é possível concluir que absolutamente tudo é narrativa, tudo pode ser narrativa ou não é bem por aí? O que de�ne se algo pode ser tornar uma história ou não? Aqui não se trata de seu valor estético, mas de sua eficácia. Não importa se uma história é boa ou ruim, o que importa é que ela seja autêntica, pois ela não deixa de ser uma história se não for bem contada. Será apenas uma história... mal contada. Mas, ainda assim, uma história. Talvez possamos oferecer sugestões para que ela se torne melhor, aí é outro caso. De qualquer maneira, se estamos falando de uma narrativa entendida como tal, ela segue uma estrutura e é composta por um número razoável de elementos que a tornam comunicável, já que o papel do leitor é fundamental para que uma narrativa se constitua como gênero. E já que tocamos no assunto, voltemos à pergunta: o que pode ser narrado? 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 43/53 Na teoria da narrativa, há um conceito chamado narratividade, que, em um primeiro momento, não é muito difícil de compreender, considerando as palavras que você conhece com o mesmo sufixo. Do que se trata? Basicamente, é a qualidade da narrativa, do que é narrativo ou pode ser narrado. Ou seja, ele se refere ao potencial de um discurso de reconstruir o mundo por meio de uma história. Mas ele não se encerra nisso. Há outro dado imprescindível para que a narratividadeseja exercida: o leitor. Apenas por meio do processo de leitura é que essa qualidade da narrativa se completa, pois a recepção de uma narrativa é imprescindível para que ela cumpra com seu principal objetivo, que é contar uma história. Por isso, “a narratividade tem que ver com a capacidade possuída pelo texto (narrativo) para facultar ao receptor o acesso a ações de dimensão humana, de matriz temporal e englobadas em universos internamente coerentes” (REIS; LOPES, 1988, p. 79). A recepção do texto pelo leitor é que vai permitir a produção de sentido, de acordo com a transformação da história, ou relato, em discurso. A narratividade é uma operação realizada pelo texto narrativo que o vincula também ao contexto histórico-cultural. Um leitor não é apenas uma camada imaginária, uma estratégia discursiva do autor, mas um indivíduo dotado de subjetividade e inserido em determinado tempo histórico e formado por regras sociais mais ou menos estabelecidas. De acordo com Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes (1988, p. 78), isso explica o porquê de a epopeia ter sido tão importante em determinadas épocas e de o romance, mesmo vinculado a espaços e tempos históricos específicos, ser evocado em outros momentos e por subgêneros narrativos, como o romance histórico. É o que chamam de “potencialidades modelizantes da narratividade”, isto é, a capacidade da narrativa de se inscrever em um período e de se adaptar com o passar do tempo, podendo ser lida de diversas maneiras por um público diverso. Por que certas obras parecem tão atuais e outras amarradas à data de publicação? Por que alguns textos nos remetem a problemas ainda próximos ao nosso cotidiano? Não é apenas pela permanência de aspectos 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 44/53 humanos e sociais, que também entram na conta, claro, mas também porque a narratividade do texto contribui para essa identificação. Assim, o mesmo texto pode ser lido de diferentes maneiras. Portanto, o que pode ser narrado não é apenas o que reúna os principais elementos narrativos, mas o que tenha a capacidade de ser lido como uma história, já que a narratividade é um fenômeno que se dá por meio da recepção, assim como todo fenômeno estético em geral. E é por esta razão que a narrativa, como bem destaca Roland Barthes (2001, p. 103), é dada não apenas pela linguagem, mas também pela imagem e pelo gesto, ou pela mistura de todas essas formas de expressão. Narratividade em textos orais ou escritos Narrativas de linguagem verbal A narratividade nas histórias de linguagem verbal se refere à qualidade da narrativa nos textos orais ou escritos, o que inclui praticamente todos os textos literários que citamos até agora. Mas sabemos que um texto não é um conjunto de elementos homogêneos que se comportam da mesma maneira em todas as situações. Ao contrário, ele é orientado pelos seus componentes estruturais e pelos gêneros do discurso que organizam a história. É por isso que a narratividade é fundamental, pois ela vai diferenciar um texto narrativo de outro que não exerça essa função. A�nal, nem todo texto literário ou não literário é dotado de narratividade, mas toda narrativa sim. Pegue o manual de um eletrodoméstico qualquer que você tenha em casa, ou uma bula de remédio. Ainda que em alguns deles você encontre mais números, em todos você encontrará palavras organizadas em uma modalidade de discurso. Tanto no manual quanto na bula de remédio, você terá à sua disposição uma série de instruções para a realização de uma tarefa. Em nenhum deles você encontrará um discurso narrativo, mas isso não significa que eles não possam ser transformados em um. Caso você tenha errado a dose do remédio, vai precisar ir até seu médico para ser examinado. Para que o profissional possa ajudá-lo, você precisará reconstituir uma série de eventos, em que a bula se inclui. Nesse processo, a narratividade está presente. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 45/53 Vejamos o caso de alguns textos literários. A poesia lírica, por exemplo, define-se, de um modo geral, pela expressão de sentimentos e da subjetividade do poeta em forma de versos. Mas também há poemas de gênero lírico que apresentem certa narratividade, como este famoso texto de Manuel Bandeira: João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (BANDEIRA, 1998, p. 28) Intitulado “Poema tirado de uma notícia de jornal”, o texto foi publicado em Libertinagem (1930), obra em que Bandeira adere, de forma mais marcante, ao modernismo. Algumas das características do movimento aparecem com frequência nesse e em outros poemas do livro, como a linguagem coloquial, o uso de versos livres, a presença de temas do cotidiano comum e de certo tom narrativo. O olhar objetivo dos versos dá ao poema certo tom irônico, crítica à indiferença da suposta imparcialidade da linguagem jornalística. Podemos traçar um paralelo com a música “Construção”, de Chico Buarque, lançada em álbum homônimo. Nos dois casos, apesar de pertencerem a gêneros distintos, a narratividade se realiza quando identificamos, como leitores e ouvintes, os elementos que sustentam as duas histórias trágicas. Atenção! Se não conseguimos identificar uma história sendo contada, ou seja, se os elementos presentes não são suficientes para que a recepção reconheça o discurso narrativo, então não ocorre o fenômeno da narratividade. O poema O corvo, de Edgar Allan Poe, um dos mais importantes da literatura ocidental, também apresenta narratividade, já que avançamos de um verso para outro e acompanhamos a descrição do eu lírico de seu encontro com o “emigrado lá das trevas infernais”, na tradução de Fernando Pessoa. Nas canções de Bob 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 46/53 Dylan, um dos mais notáveis compositores da atualidade, esse é um dos traços mais presentes, seja criando histórias ou reconstituindo situações reais, como na música Hurricane, escrita com Jacques Levy, em protesto pela prisão injusta de Rubin “Hurricane” Carter, de clara motivação racista. Nesse caso, a narratividade não atua apenas para comunicar os eventos tais como se deram, mas também para provocar a indignação dos ouvintes e engajá-los na luta antirracista expressa na música. Narratividade e os signos visuais Narrativas de linguagem não verbal Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Será verdade? Vai depender da imagem e também de quais palavras quero substituir por elas. De fato, há imagens que carregam tantos significados que chegam a se tornar objetos de longos ensaios, por isso elas constituem o que chamamos de linguagem não verbal e utilizam signos visuais, em vez dos signos linguísticos. As fotografias de guerra, por exemplo, são eloquentes em sua exposição crua da violência e da dor ali expressas. Às vezes, o excesso dessas imagens acaba, inclusive, banalizando o sofrimento e o naturalizando, como analisa a filósofa Susan Sontag, em seu ensaio Diante da dor dos outros. O olhar de alguém que amamos, seja um bebê, um animal de estimação, um amigo que não víamos há muitos anos ou uma grande paixão, pode estar carregado de entusiasmo que não conseguimos exprimir de outra maneira. Ou aquela troca de olhares por minutos, mudos, logo após uma longa conversa difícil e que precede o abraço envolvido de lágrimas. Em nenhuma dessas cenas as palavras foram necessárias para comunicar um turbilhão de sentimentos e histórias, como se tudo estivesse misturado e não soubéssemos como dizer. Na verdade, sabemos. E 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 47/53 dizemos.A narratividade também ocorre aqui (SONTAG, 2003). Como já estudamos, a narratividade só se completa se a recepção contar com a matéria narrativa fornecida, pois o fenômeno possui vínculo direto com quem recebe a história, seja por meio da leitura, da audição ou da observação. Um olhar, como descrito em uma das situações anteriores, pode comunicar apenas emoções, sem nenhuma narrativa envolvida, mas a cena pode estar inserida em um esquema narrativo e que atenda ao horizonte de expectativas de quem a assiste. Há vários exemplos no cinema mudo. Em um dos filmes mais divertidos e sensíveis de Charles Chaplin, Luzes da cidade (1931), encontramos diversas cenas antológicas. Uma, em especial, está entre as mais belas. Na imagem, o protagonista está sorrindo e tem a mão, que segura uma flor, na boca, com o dedo indicador mais flexionado que os outros. Seus olhos se dirigem à personagem da florista cega, que está fora do plano. É uma cena carregada de emoção, mas também de história e que diz tanto sobre as duas figuras, tanto a que aparece quanto a que não aparece na imagem. Dica Se não viu a cena ainda, veja! É imperdível. Na história da arte, também encontramos vários exemplos de narrativas de linguagem não verbal. Mencionamos, no primeiro módulo, as pinturas rupestres dos povos pré-históricos, cheios de mistério e de significado, mas também de muitas histórias. Ainda que eles a utilizassem apenas com motivações ritualísticas, isso não impediria de haver narratividade, já que o homem sempre fez uso de símbolos imagéticos para expressar as suas crenças e tentativas de comunicação com o plano espiritual. Crucificação de Jesus, Aleijadinho, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (MG). 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 48/53 A via crucis, por exemplo, é um dos temas recorrentes ao longo da história da arte sacra. Ela se refere ao percurso de Jesus Cristo até o Calvário, de sua condenação até o seu sepultamento, constituindo 14 estações. Uma das reproduções mais admiráveis foi concebida por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Embora a via crucis seja um tipo de narrativa de linguagem não verbal complementar ao registro escrito, já que se trata de uma passagem bíblica, observem que a escultura do artista mineiro possui emoção, mas também movimento, gesto, resultando em uma cena extremamente dramática. Ainda que alguém não conheça o relato pelas Escrituras, as imagens contam uma história, por isso, está presente aqui também narratividade, já que onde o humano se revela, há uma vida a ser contada. Narratividade: o que é? Você conseguiu compreender do que se trata a narratividade? Precisa de mais uma ajudinha? Sem problemas! No vídeo a seguir, o professor Rodrigo Jorge nos apresenta o conceito de narratividade, suas aplicações e implicações para a teoria literária. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 4 - Vem que eu te explico! O que é narratividade? Módulo 4 - Vem que eu te explico! Narratividade em histórias de linguagem verbal 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 49/53 Todos Módulo 1 - Video Narrativa: distintas concepções Módulo 2 - Video Tipos de narrativa: a novela e o romance Módulo 3 - Video Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 Questão 1 Um texto narrativo do século XVI pode ser lido de uma maneira no século seguinte e de outra no atual. Além dos fatores históricos e sociais, a narratividade do discurso contribui para sua recepção nesses três momentos, pois: A como fenômeno, ela afasta o texto do leitor. B não há significado produzido pelo processo de leitura. C as histórias se tornam cada vez mais reais. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 50/53 D ela atualiza os gêneros de acordo com o contexto em que foram produzidos. E como fenômeno, ela estabelece uma relação da história com o leitor. Parabéns! A alternativa E está correta. A narratividade é a capacidade da narrativa de recriação do mundo e o estabelecimento das diversas formas possíveis de recepção do discurso. Por isso, ela é fundamental no processo de leitura, pois indica que a história está sendo compreendida e, portanto, cumprindo sua função. Questão 2 Em todo álbum de família, temos uma coleção de imagens que cobrem diversos momentos da vida de cada um. Independentemente da organização do conjunto, elas comunicam histórias, ainda que o observador das fotografias não conheça os membros. Assinale a alternativa que explique essa recepção: A As fotografias, em geral, são sempre narrativas. B Por meio de signos visuais, as fotografias familiares, em sua narratividade, expõem os acontecimentos para o observador. C O processo de comunicação da imagem é semelhante ao do texto. D Por meio de signos visuais, as fotografias familiares ressaltam qualidades dos fotografados. E Para conhecer as histórias dos membros da família, o observador precisa colocar as imagens em ordem cronológica. Parabéns! A alternativa B está correta. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 51/53 Considerações �nais Contar e ouvir histórias é uma das condições humanas essenciais. Por meio dessa necessidade de narrar as nossas vidas e de ouvi-las é que nos desenvolvemos. Por isso, estudar as estruturas, os elementos e as técnicas narrativas é tão importante, auxiliando na compreensão do mundo e de nós mesmos. Apesar das diferenças de tempo, língua e espaço geográfico, todos seguimos alguns padrões mais ou menos estabelecidos. A Teoria da Narrativa busca, assim, investigar os mecanismos que compõem as estruturas narrativas e as dinâmicas envolvidas em suas variações de uma época a outra. Os elementos que fazem parte de uma narrativa operam de modo que cada história transmita uma perspectiva. A escolha de um narrador ou de um espaço não é casual, mas cumpre uma função dentro da história, essencial para que ela alcance o seu objetivo, atualizando os nossos vínculos com o outro e com o mundo. Em tudo, uma história pode estar presente, desde que uma vida possa ser lida. Podcast Neste podcast, o especialista Rodrigo Jorge irá revisitar os pontos centrais do tema. Como uma narrativa de linguagem não verbal, a fotografia faz uso de signos visuais, diferente da narrativa de linguagem verbal. No entanto, as duas formas de expressão, por transmitirem para o receptor uma sequência, linear ou não, dos acontecimentos, possuem narratividade. 18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 52/53 Referências ARISTÓTELES. Poética. Trad. Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2020. ASSIS, M. 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