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Narratologia Das Literaturas em Língua Inglesa aula 1

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18/09/2022 23:24 Teoria da Narrativa
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03254/index.html#imprimir 1/53
Teoria da Narrativa
Prof. Rodrigo Jorge Ribeiro Neves
Descrição
Estudo dos principais aspectos teóricos e conceituais da narrativa e de sua estrutura, considerando suas
características, seus elementos e as diversas relações entre eles.
Propósito
A compreensão do funcionamento de uma narrativa é fundamental para a análise e interpretação de textos
que relatam uma sequência de acontecimentos, encadeados ou não. Para isso, conheceremos seus
componentes e os modos como eles se organizam para que a narrativa possa cumprir o seu principal papel:
contar uma história.
Preparação
Antes de iniciar seu estudo, pesquise e acesse o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia,
disponível na Internet, para entender conceitos específicos da área.
Objetivos
Módulo 1
A universalidade da Narrativa
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Reconhecer a universalidade da Narrativa.
Módulo 2
Gênero Narrativo: características
Identificar as principais características do Gênero Narrativo.
Módulo 3
Elementos da narrativa
Identificar os elementos da Narrativa.
Módulo 4
Narratividade
Reconhecer o conceito de Narratividade.
Contar histórias é uma das atividades fundamentais da existência humana. Por meio delas,
construímos e reconstruímos, simbolicamente, o mundo ao nosso redor.
Compreender os mecanismos envolvidos na construção de histórias, ou narrativas, é fundamental
não apenas para saber como chegamos até aqui, mas também para enxergar as possibilidades de
caminhos que temos adiante.
Por isso, a Teoria da Narrativa é de grande importância. Também conhecida como Narratologia, ela é
a parte da Teoria Literária que estuda as narrativas, seus elementos e efeitos. Apesar de, desde
sempre, as histórias estarem presentes em nossas vidas, o desenvolvimento desse ramo dos
estudos literários é relativamente recente, mas já conta com diversos conceitos e tendências críticas
que, cada vez mais, vêm sendo atualizados, como acontece em toda área de estudos diante de novas
descobertas e demandas.
Introdução
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1 - A universalidade da Narrativa
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a universalidade da
Narrativa.
Feitos de Histórias
Por que contamos histórias?
Portanto, neste conteúdo, demonstraremos como se constitui a universalidade da Narrativa e
analisaremos as principais características do Gênero Narrativo. Em seguida, identificaremos os
principais elementos narrativos que compõem a sua estrutura e, por fim, examinaremos a função
exercida pelas histórias por meio do conceito de Narratividade.
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Eduardo Galeano, escritor uruguaio.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano (2012) afirmou certa vez que, ao contrário do que dizem os cientistas,
não somos feitos de átomos, mas de histórias. A metáfora utilizada por Galeano, como podemos perceber,
não tem nenhuma pretensão de ser tomada como uma conclusão científica, mas de destacar a importância
das histórias para a natureza humana.
Somos feitos de átomos, sonhos, medos, paixões, crenças, ódio, culpa, esperança, ideologias, preconceito,
violência, descobertas, governos, memória, intolerância e tantos outros produtos de nossa necessidade de
contar e de ouvir histórias.
No Paleolítico, as condições climáticas e os animais eram difíceis de encarar. As cavernas serviam como
refúgio para a sobrevivência do ser humano. Nelas, os desenhos rupestres registram imagens e histórias
daquele tempo. Pesquisas recentes, inclusive, apontam muitas delas como precursoras das narrativas
cinematográficas.
Dá para acreditar? Aquelas paredes não eram sua única proteção. As histórias também. Diante de uma
realidade ainda desconhecida para o homem, as narrativas gravadas na pedra, de certa maneira,
contribuíram para que ele a conhecesse melhor e a enfrentasse. Por isso, podemos pensar no ato de narrar
como uma forma de produzir conhecimento e de se prevenir do que não é bom.
Curiosidade
Pesquisadores também acreditam que alguns desenhos pré-históricos são relatos de eventos passados,
uma espécie de ritual de agradecimento ou de forma de recordação. Contar histórias, nesse sentido, é
também lembrar.
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A memória tem papel fundamental na experiência humana. É preciso lembrar não apenas para que
possamos aprender uma lição ou evitar erros, mas também para nos conhecermos melhor.
As narrativas são poderosas ferramentas para a memória, pois elas
reconstroem a experiência por meio da linguagem e nos oferecem
outras maneiras de olhar.
É como se criassem um tipo de espelho. Não esse que temos em nossas casas, no qual conferimos cada
detalhe, verificando se está tudo em ordem e se tem algo a ser ajeitado. Não é disso que estamos tratando.
As narrativas criam espelhos que nos colocam diante do que vemos, mas, principalmente, do que não
vemos.
A frase lida no Oráculo de Delfos é um belo exemplo dessa relação entre memória e narrativa em nossa
vida: “Conhece-te a ti mesmo”.
Sacerdotisa de Delfos, John Collier, 1891.
Não é difícil perceber que as palavras “comunicar” e “comum” têm origens semelhantes. Elas vêm do latim
communis, ou seja, o que é compartilhado por muitos, público. Já não é tão evidente o fato de elas
derivarem de mei-, mesma raiz indo-europeia de palavras como “migrar” e “mútuo”, que significa “mudar,
trocar”. Assim como migrar é trocar de lugar ou residência, comunicar é trocar entre pessoas e fazer com
que o objeto da troca pertença a todos. É tornar aquilo que era apenas individual em algo coletivo, mas sem
perder a unidade do que cada um passa a ter depois da troca. Por isso, também contamos histórias, para
que, lembrando e conhecendo melhor sobre o mundo e sobre nós mesmos, estejamos juntos.
Compreendendo a estrutura narrativa
A concepção aristotélica
Em nossa tentativa de responder à pergunta que dá título ao núcleo anterior, procuramos características
gerais da arte de contar histórias que explicassem a sua ocorrência entre diversos povos e tempos
diferentes. Ou seja, buscamos razões universais que nos ajudassem a entender o fenômeno em si. Sem
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dúvida, cada história varia de uma cultura para outra, mas há alguns padrões que se repetem,
independentemente do idioma e dos autores. É o que caracteriza a universalidade da narrativa. E um dos
primeiros a formular os conceitos para a compreensão dessa estrutura foi Aristóteles.
Busto de Aristóteles.
As artes, de acordo com Aristóteles, possuíam um papel fundamental para a natureza humana e para o
crescimento moral dos indivíduos. Dentre as obras dedicadas a essa atividade, destaca-se a sua Poética,
considerada o primeiro tratado filosófico sobre as formas de criação literária e cênica, exercendo grande
influência até os dias atuais.
A Poética de Aristóteles trata basicamente da poesia, sua natureza, suas espécies e funções, assim como
seus modos de composição. As espécies são:

A tragédia
De versos curtos, possuiria tempo e espaço delimitados, sendo realizada em um único cenário e em apenas
um dia.

A epopeia
De versos mais longos, ocorreria durante dias, meses ou anos, e em diversos espaços.

A comédia
Se dedicaria à imitação (mimesis) de homens inferiores, enquanto as duas anteriores, dos elevados.
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Aristóteles discute um pouco mais sobre a tragédiae a epopeia nesse conjunto de notas sobre a arte
poética que chegou até nós. O ponto em comum entre essas duas espécies da Poética que vai nos
interessar é o esquema de três atos, ou seja, é a estrutura com começo, meio e fim. Familiar?
Atenção!
Para Aristóteles, a relação entre esses três atos é de causalidade, ou seja, cada um é modificado pelo
princípio de causa e consequência, a partir de um conflito entre personagens, ideias ou situações.
A chave de um bom enredo, segundo o filósofo, seria constituída da seguinte forma:
Encontramos essa estrutura em muitas grandes obras do teatro e da literatura. Em Fausto I, de Goethe
(1985), por exemplo, a seguinte divisão seria possível:
O começo
Essa é a situação estável até que algo a desequilibre.
O meio
É a tentativa de volta à estabilidade anterior e de eliminação do que provocou o desequilíbrio.
O �m
Que é a eliminação do objeto do desequilíbrio.
1º ato, ou começo
Fausto realizou um pacto com Mefistófeles, o demônio, para se tornar mais jovem e atraente.
Como ele se apaixona por uma moça, Margarida, pede a intervenção do diabo.
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Claro que a obra de Goethe é mais complexa e recheada de cenas e conflitos importantes, mas o enredo
pode ser sintetizado dessa maneira. A ordem dos atos também pode variar e assumir outros sentidos na
história. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, Machado de Assis começa pelo fim, o
narrador conta sua história depois de morto (ASSIS, 1999).
Gabriel García Márquez, em Crônica de uma morte anunciada, de certa maneira, realiza algo parecido,
estimulando o nosso desejo de saber mais sobre como se deu a morte de Santiago Nasar (GARCÍA
MARQUEZ, 2006).
Como podemos ver, “falar grego” também pode significar uma boa forma de ser compreendido.
Principalmente se esse grego for Aristóteles e sua Poética.
A concepção formalista
Outra contribuição importante para a Teoria da Narrativa no que diz respeito ao estudo da universalidade
nas histórias foi dada pelo filólogo, crítico e linguista russo Vladimir Propp, um dos nomes do chamado
Formalismo Russo. Os formalistas buscam se afastar das tendências críticas da época que se baseiam em
fatores externos ao texto, como a biografia do autor e o contexto histórico.
Atenção!
Para eles, o texto e seus componentes seriam o objeto central das análises. Apenas o que diz e como diz o
texto seriam de interesse. Por isso, sua metodologia é descritiva e morfológica, pois a obra é entendida
como construção artística.
Os formalistas perguntavam: quais são os elementos das obras? E como
interagiriam entre si?
2º ato, ou meio
Em sua tentativa de conquistar a mulher amada, uma sucessão de mortes acontece. Um
infanticídio leva à prisão de Margarida. Fausto recorre a Mefistófeles mais uma vez.
3º ato, ou �m
Margarida recusa a ajuda de Fausto para sair de sua cela, entrega sua alma a Deus e é levada
pelos anjos aos céus. Fausto e Mefistófeles fogem da cela de Margarida.
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Vladimir Propp lançou mão dessas e de outras perguntas em sua análise de contos folclóricos russos para
escrever sua Morfologia do conto maravilhoso (PROPP, 2001), um dos estudos mais importantes da
Narratologia e da Teoria do Conto.
Ele coletou cerca de cem contos maravilhosos, da tradição popular russa, como os contos de fadas e de
magia, buscando encontrar elementos em comum entre eles.
Como um formalista, Propp não estava interessado em uma investigação dos temas, mas de seus
processos de construção, considerando as personagens e suas ações para o desenrolar da história.
Vladimir Propp, crítico e linguista russo.
Como sabemos, toda narrativa é movida por ações. Por isso, segundo Propp (2001, p. 16): “o que realmente
importa é saber o que fazem os personagens”, isto é, quais são suas funções na história. Para definir essa
função, o “procedimento de um personagem”, devemos considerar o substantivo que expresse a ação e o
significado da função na ocorrência da ação (PROPP, 2001, p. 16). Um personagem, portanto, não é definido
pelo que ele é, mas pelo que faz dentro de um momento da história. Ele exerce um papel específico sem o
qual essa história não é possível.
No conjunto de narrativas populares reunidas por Propp, ele encontrou diversas funções e as agrupou em
“esferas de ação”, que são, nada mais, nada menos, que os personagens que executam as ações.
As esferas, ou personagens básicos, seriam sete, de acordo com suas funções:
1. Antagonista
Ou malfeitor. Simboliza a
provocação de dano e luta
contra o herói.
2. Doador
Também conhecido como
provedor, realiza a entrega do
objeto mágico ao herói.
3. Auxiliar
Realiza a prestação de
assistência ao herói em sua
trajetória.
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Como bem indicou João Luís Lafetá (2004, p. 79), o estudo de Propp
gira em torno de um núcleo simples, que é o dano ou a carência do
herói e as tentativas dele em se restabelecer.
Cada uma dessas esferas de ação, ou personagens, contribuem para que o herói obtenha aquilo de que
necessita por meio de suas funções. Propp identificou 31 funções em seu corpus de narrativas populares,
que nem sempre estão presentes em sua totalidade, mas seguem sempre uma mesma sequência:
Uma parte preparatória.
O nó da intriga.
A intervenção de doadores.
O regresso do herói.
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Para que possamos visualizar como essas funções são distribuídas dentro dessa sequência, vejamos a
síntese a seguir:
Quadro: Sequência de funções. 
Elaborado por: Rodrigo Jorge Ribeiro Neves.
Antes da sequência de funções, há uma situação inicial $$$\text { (〈) }$$$. Como podemos notar, Propp
atribui um símbolo combinatório a cada função. Algumas delas se repetem, mas, é preciso lembrar,
obedecem sempre a essa mesma série. A estrutura de Propp desenvolve o esquema aristotélico, embora
esteja centrada nos contos populares maravilhosos.
Há críticos, como Haroldo de Campos (1973), que veem em Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, a
possibilidade de análise segundo o modelo funcional de Propp, ainda que tenha sido uma obra criada a
partir de tradições populares e não feita delas.
Independentemente do corpus e do alcance do trabalho de Propp, é certo que sua busca por unidades nas
estruturas dos contos maravilhosos influenciou bastante outros teóricos da narrativa, como os
estruturalistas.
A concepção estruturalista
Assim como os formalistas russos, os estruturalistas queriam encontrar padrões dentro de um sistema que
os ajudassem a compreender um objeto.
Comentário
Uma das principais diferenças é que o estruturalismo teve uma repercussão mais ampla, não se limitando
apenas ao campo da linguagem.
O termo surgiu a partir do Curso de linguística geral (1975), de Ferdinand de Saussure, que estabelece um
sistema de relações entre os elementos que formam uma língua. Por meio dessa relação, cada elemento é
definido, formando, assim, um modelo que possa explicar como a língua funciona. Isso é o que chamamos
de estrutura.
Nas ciências humanas, o estruturalismo é uma metodologia aplicada a diversas áreas, como a Sociologia, a
Antropologia, a Filosofia e a Psicologia. Cada uma tenta, à sua maneira, compreender os seres humanos a
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partir de relações estruturais, ou seja, de modelos que expliquem o que fazemos e o que pensamos.
Claude Lévi-Strauss.
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss foi um dos primeiros a aplicar o estruturalismo fora da
linguística. Ao observar povos indígenas de diferentes etnias e países, ele constatouque havia formas
comuns entre eles que moldavam a maneira como agiam e pensavam. Em sua análise dos mitos, por
exemplo, ele percebeu que tinham uma estrutura e funcionavam como uma linguagem.
Na literatura, encontramos nomes como Roland Barthes, Tzvetan Todorov, Julien Greimas, Claude Bremond,
entre outros que buscavam encontrar uma espécie de gramática da narrativa.
Falaremos aqui um pouco sobre o primeiro e sua obra Introdução à análise estrutural das narrativas (1966),
uma das mais influentes nos estudos sobre o tema. Nela, Barthes ressalta a natureza universal da narrativa,
ao indicar sua presença em todos os setores da sociedade: “não há, nunca houve em lugar nenhum povo
algum sem narrativa” (BARTHES, 2001, p. 104).
Roland Barthes.
Uma pergunta, entretanto, perdura: em uma perspectiva estruturalista,
como entenderia tais recorrências?
Para realizar sua análise, Barthes recorre aos principais estruturalistas e formalistas, como Propp, Todorov e
Benveniste, chegando até mesmo a Aristóteles. Ele propõe a utilização de um conceito da linguística: “nível
de descrição”.
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E o que seria?
No caso da linguística, a frase é o seu objeto de análise, podendo ser descrita em vários níveis, divididos de
forma hierárquica, como o fonético, fonológico, gramatical e contextual. Embora cada unidade seja descrita
em um nível, ela só tem sentido se estiver relacionada ao nível superior. Barthes dá o exemplo do fonema,
que, apesar de poder ser descrito, só faz sentido se integrado na palavra, e esta, na frase.
E as narrativas? Como Barthes aplica esse conceito a elas?
Sua análise estrutural propõe três níveis de descrições (BARTHES, 2001, p. 112):
Para aplicar sua análise estruturalista, Barthes recorre a uma variedade de narrativas clássicas e
contemporâneas, buscando estabelecer os vínculos entre os níveis de descrição presentes em suas
estruturas, como em A carta roubada, de Edgar Allan Poe, Um coração simples, de Gustave Flaubert, A
O nível das funções
Como em Propp e Bremond, é onde a história acontece e como estão caracterizados os
papéis das personagens na história, é uma unidade de conteúdo, de “o que quer dizer”.
O nível das ações
Como em Greimas, no qual as personagens estão como “actantes”, ou seja, são descritas não
pelo que são, mas pelo que fazem.
O nível da narração
No qual os dois níveis anteriores se integram, em que a narrativa possui um doador/narrador,
quem dirige a história para alguém, e um destinatário/leitor, quem recebe a história. É onde
leitor e narrador dão significado à narrativa.
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Odisseia, de Homero, ou até mesmo no filme Goldfinger (1964), dirigido por Guy Hamilton, em que o famoso
agente James Bond, interpretado por Sean Connery, enfrenta o milionário criminoso que intitula a película.
Embora Barthes e outros teóricos dessa corrente tenham se afastado da metodologia estruturalista pouco
tempo depois, é importante conhecermos alguns de seus principais aspectos, que ainda podem ser
utilizados como instrumentos, mesmo complementares, de análises das narrativas.
Narrativa: distintas concepções
Vamos rever de forma mais abrangente as três concepções mencionadas neste conteúdo? Acompanhe o
especialista Rodrigo Jorge Ribeiro Neves no vídeo a seguir:
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A concepção formalista
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A concepção estruturalista


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Todos
Módulo 1 - Video
Narrativa: distintas concepções
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 
Questão 1
Considere o texto a seguir: 
“Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos — e, antes de começar, digo
os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram
inutilizadas, e assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível,
redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais
aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de
jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me
deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance, mas teria eu o direito de utilizá-
las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos
esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas?” (RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio
de Janeiro: Record, 2008, p. 11) 
Esse é o primeiro parágrafo de um livro de Graciliano Ramos, um dos mestres da narrativa literária brasileira.
Considerando a citação e a relação do ser humano com a arte de contar histórias, assinale a alternativa
correta:
A
A reconstrução da memória pela narrativa é fundamental para entender não apenas a
história de um indivíduo, mas de suas relações sociais.
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B
A reconstrução da memória pela narrativa é fundamental para entender apenas a história
do indivíduo que a escreve.
C
É impossível reconstruir o passado pela narrativa sem anotações e outros registros sobre
os acontecimentos.
D
A experiência coletiva depende da concordância de todos os indivíduos para que possa
ser narrada em uma história.
E
A reconstrução da memória pela narrativa é produto de uma decisão coletiva, desde que
os nomes utilizados na história sejam verdadeiros.
Parabéns! A alternativa A está correta.
O trecho faz parte do livro Memórias do cárcere, em que Graciliano Ramos relata a sua experiência
vivida na prisão. O processo de rememoração depende da estrutura narrativa para que possa ser
comunicada aos outros membros da sociedade, seja como personagens e testemunhas da
história ou como leitores que estejam interessados em conhecê-la.
Questão 2
Em sua abordagem estruturalista das narrativas, Roland Barthes deu grande contribuição aos estudos
acerca da universalidade das histórias. Para o crítico francês, compreender uma narrativa “não é apenas
passar de uma palavra para outra, é também passar de um nível a outro.” (BARTHES, 2001, p. 112). Assinale
a alternativa que explique o conceito de narrativa defendido por Barthes:
A Relação entre narrador, ação e personagem em uma sequência fixa.
B Encadeamento de personagens, espaço e ação, considerando um público leitor.
C
Encadeamento de personagens, seus papéis e suas ações, transmitidos por um narrador
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C
para um leitor.
D
Relação não delimitada de ações e personagens, que nem sempre assumem um papel na
história.
E
Encadeamento de funções e personagens, sem considerar, em princípio, a possibilidade
de um leitor.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Na análise estruturalista de Roland Barthes, em esquema provisório, como ele mesmo atesta,
uma narrativa é constituída de três níveis que, apesar de poderem ser descritos, só fazem sentido
em uma relação entre eles. Os papéis de personagens e suas ações se integram em uma
narração construída para um leitor.

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2 - Gênero Narrativo: características
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais
características do Gênero Narrativo.
Gênero LiterárioConceito
As questões em torno das tentativas de classificação da literatura em gêneros literários são das mais
importantes e decisivas na própria concepção da literatura e dos limites e condições da teoria literária,
desde os seus precursores, Platão, com sua República, e Aristóteles, com a Poética, até os dias atuais.
Para Anatol Rosenfeld (1985), a adoção do sistema de gêneros na literatura é fundamental não apenas pela
necessidade científica de estabelecer normas que deem conta da multiplicidade de fenômenos, mas, por
um motivo ainda mais profundo, a necessidade de uma atitude face ao mundo imaginário que se busca
comunicar por meio da obra literária.
Segundo Tzvetan Todorov, em seu clássico estudo Os gêneros do discurso, todo gênero literário surgiu de
outro, pois “um novo gênero é sempre a transformação de um ou de vários gêneros antigos: por inversão,
por deslocamento, por combinação” (TODOROV, 1981, p.48). Assim, para o crítico búlgaro, a pergunta a ser
feita não é o que veio antes, mas as formas na linguagem que evidenciam o surgimento de um novo gênero
ou que mostrem a passagem de um para outro.
Exemplo
Podemos trazer o caso de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Em sua tentativa de parodiar as histórias
de cavalaria, ele se torna precursor de um dos principais gêneros da modernidade: o romance.
Por outro lado, algumas chamadas “transgressões” de determinados gêneros literários, recorrentes na
literatura, em especial no século XX, ocorrem justamente em situações em que todos os pressupostos
tradicionais de determinados gêneros foram rigorosamente seguidos. Jorge Luís Borges (2007), por
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exemplo, lembra-nos que Edgar Allan Poe, mesmo inventando o conto policial e escrevendo contos de horror
fantástico ou de bizarrice, não misturou os dois gêneros. O objetivo não é esquecer ou mudar internamente
os procedimentos do gênero literário, mas utilizá-los à risca, seguindo as regras convencionais e até mesmo
prestigiadas do gênero, ainda que isso seja feito de modo transgressor.
Exemplo
Na literatura brasileira, o romance Vidas secas (1938) é um dos casos mais interessantes de obediência e
transgressão de gêneros. Apesar da estrutura inovadora proposta por Graciliano Ramos, os elementos que
compõem um conto e um romance estão ali, em diálogo inovador em nossa literatura.
O livro não deixa de ser classificado, enquanto um conjunto de textos, como romance. É possível que você
tenha um exemplar em sua estante ou em sua pasta na nuvem. Veja na ficha catalográfica. Viu? Agora, leia
qualquer capítulo do livro. Pode ser o mais famoso, “Baleia”, e tente observar como ele também pode ser
lido com um conto. Deu para notar?
Um gênero literário é parecido com o ciclo de um ser vivo, ele nasce,
cresce e se reproduz, só não morre, ele se transforma.
Distinções básicas para Teoria da Narrativa
Discurso, história e horizonte de expectativa.
As relações entre discurso e história no Gênero Narrativo são uma de suas características mais importantes
e nos ajudam a compreender os limites e condições da própria estrutura da narrativa a partir de seus
principais elementos, que veremos no módulo seguinte.
Antes de mais nada, temos três distinções que precisam ser feitas, para que possamos refletir sobre os
significados dessas relações:
Discurso
O discurso nada mais é do que o texto apresentado, com sua forma e regras de estruturação.
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História
É o acontecimento descrito pelo texto, ou seja, é o que deduzimos do discurso que acabamos de ler.
Horizonte de expectativa
A definição do tipo de narrativa vai depender também de como essas duas categorias se relacionam, além
do horizonte de expectativa manifestado pelo leitor.
Jonathan Culler (1999) destaca que essa relação é uma das distinções básicas da teoria da narrativa. A
história é o dado, o discurso são as diferentes maneiras de apresentação dele. Para Culler, a história é o
enredo, elemento da narrativa sobre o qual discutiremos adiante.
Apesar de estarem relacionados, qual característica enxergamos
primeiro: o discurso ou a história?
Em geral, a história é a primeira que notamos. Depois, identificarmos o discurso, ou seja, qual é o gênero, os
efeitos da narrativa, a estrutura etc.
Como vimos, os gêneros literários são fenômenos culturais. São, portanto, formas específicas de ler a vida.
Ora, se a escolha de um gênero está relacionada ao setor da vida sobre o qual você quer falar/escrever,
então há um horizonte de expectativa de sua parte na definição desse gênero. Você tem um conhecimento
prévio sobre os gêneros escolhidos, o que indica que a sua expectativa como leitor influencia na escolha do
tipo de narrativa adequada para contar a sua história de vida.
Por que não costumamos ouvir ou ler que uma vida daria um poema?
Porque, em um primeiro momento, relacionamos o poema à expressão de sentimentos e de uma
subjetividade, que são, na verdade, características do gênero lírico.
Uma vida também poderia dar uma peça de teatro, como fez o ator e comediante Paulo Gustavo ao levar
para os palcos a premiada representação de sua mãe. Nesse caso, costumamos associar a peça ao gênero
cômico.
Isso quer dizer que uma vida não poderia virar também uma peça
trágica?
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Claro que sim, mas o que estamos discutindo aqui é que existe um conjunto de informações que
carregamos antes de decidirmos o discurso que queremos ler.
E de onde elas vêm?
Elas fazem parte de nossa visão histórica do mundo, moldada pelas instituições culturais e educacionais,
como a escola, a família, as redes sociais etc. Por meio delas, temos acesso aos vários discursos e
percebemos como eles conseguem se ajustar às questões do nosso tempo. É a partir dessa observação,
por exemplo, que podemos avaliar como um poema pode também contar uma história de vida.
Para que isso seja possível, qual característica seria imprescindível
nele?
Isso mesmo, a narração.
Com isso, constatamos que o horizonte de expectativa não influencia apenas as escolhas do leitor, mas
também do escritor, que, assim como quem recebe o discurso, também é formado pelas instituições,
estando inserido em determinada cultura literária. A partir do seu conhecimento da tradição, ele vai realizar
escolhas que atentam ao que está querendo compor, ou seja, qual discurso se ajusta melhor à história que
pretende contar.
O surgimento de novos gêneros, ou a mistura de gêneros distintos, mantendo as características de cada um,
também surge dessa relação entre discurso e história, mas movidos por um horizonte de expectativa.
Tipos de Narrativa: Gêneros mais antigos
Como um gênero literário é uma maneira de tornar determinado setor da vida legível por meio de um texto, é
natural que ele também acompanhe as condições históricas. Assim, os gêneros vão se transformando,
renascendo e criando novos tipos, ou subgêneros. Claro que nem todos são bem delimitados, alguns se
encontram na fronteira entre dois ou mais tipos.
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No gênero narrativo, cada vez mais essa fronteira vem sendo colocada em xeque, mas, ainda assim,
podemos observar as estruturas ali presentes, com todos os principais elementos que respondem às
exigências da realidade que se quer retratar.
Comentário
Na literatura, os principais tipos de narrativa que ainda podemos encontrar, ou subgêneros, são a epopeia, o
conto, a novela e o romance.
A epopeia
A epopeia é um dos subgêneros narrativos mais antigos e o único que é definido pela sua composição em
versos. Como vimos no primeiro módulo, Aristóteles, em sua Poética, descreveu a epopeia,ou poesia épica,
como uma espécie dedicada aos homens elevados, assim como a tragédia, mas se distingue desta pela sua
extensão e ritmo.
A epopeia é um texto longo e se dedica aos grandes feitos de heróis
históricos ou mitológicos, narrando, geralmente, os destinos de uma
coletividade.
É o que vemos, por exemplo, na Ilíada e na Odisseia, de Homero, na Divina comédia, de Dante Alighieri, e em
Os lusíadas, de Luís de Camões. Apesar de sua decadência no século XVIII, com a ascensão do romance,
encontramos algumas obras que retomam a forma da epopeia em diálogo com outras formas modernas e
contemporâneas, como em Invenção de Orfeu (1952), de Jorge de Lima, e Uma viagem à Índia (2010), de
Gonçalo M. Tavares.
A Divina comédia, de Dante Alighieri.
O conto
O conto é uma narrativa curta, em prosa, que contém, normalmente, um só conflito, uma única ação, espaço
e tempo limitados e poucos personagens. Claro que não são regras fixas, elas podem variar, mas essas são
suas características mais comuns. É considerado um dos tipos de narrativas mais antigos, anterior até
mesmo à escrita, quando povos pré-históricos se reuniam em torno da fogueira para contar e ouvir histórias.
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O Decamerão, de Giovanni Boccaccio
Com o advento da escrita, passou a acolher histórias de diversas civilizações, crenças e costumes, desde os
relatos bíblicos e o Livro das mil e uma noites até o Decamerão, de Giovanni Boccaccio, e as fábulas dos
irmãos Grimm. Entre os maiores mestres do gênero, temos Machado de Assis, Anton Tchekhov, Virginia
Woolf, Franz Kafka, Clarice Lispector, entre muitos outros.
Aliás, o conto é um dos tipos de narrativa mais utilizados na expressão
do fantástico e do maravilhoso, como podemos notar pelo estudo de
Vladimir Propp já citado.
Curiosidade
Com o surgimento da imprensa escrita, o conto explodiu e se tornou um gênero moderno e ainda mais
popular.
Tipos de Narrativa: Gêneros mais recentes
A novela
Outra narrativa curta ainda atual é a novela, que, em termos de extensão, está entre o conto e o romance.
Apesar do nome, não confunda com a telenovela, ainda que esta possa ser a adaptação de uma novela
literária. A novela, enquanto tipo de narrativa, é um texto curto em prosa, mas com mais ações, conflitos e
personagens que o conto, além de apresentar um espaço e um tempo mais extensos. Sua agilidade e
objetividade na narração dos eventos é também uma de suas características mais comuns.
À diferença do conto, a novela é um gênero mais “recente”, surgindo em um momento próximo ao do
romance, no Renascimento, principalmente por meio do Decamerão, de Boccaccio, que também influenciou
o desenvolvimento do conto.
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A metamorfose, de Franz Kafka.
Na literatura brasileira, não é um gênero muito comum, mas há grandes novelas, como O alienista, de
Machado de Assis, e Um copo de cólera, de Raduan Nassar. Outras novelas que merecem ser destacadas
são A metamorfose, de Franz Kafka, A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói, e O velho e o mar, de Ernest
Hemingway.
O romance
Dos tipos de narrativas mencionados até aqui, nenhum é tão múltiplo e híbrido quanto o romance. É, sem
dúvida, um dos gêneros mais importantes da modernidade, pois reflete como poucos seu processo, seus
conflitos e suas contradições.
O romance tem sua ascensão, segundo Ian Watt (2010), no século XVIII, quando ocorre uma reorientação do
individualismo no pensamento filosófico, influenciada por Descartes e, portanto, uma maior autonomia do
indivíduo. Em sua estrutura, o romance se assemelha à novela, mas é um pouco mais complexo. Nele, as
ações acontecem de forma paralela, podendo, inclusive, um personagem surgir no meio da história e
desaparecer antes de seu fim.
Machado de Assis merece, mais uma vez, ser citado como grande mestre no gênero, principalmente com
seus romances da fase madura, Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba. Desse
período, vale a pena citar a primeira romancista negra brasileira, Maria Firmina dos Reis, com Úrsula.
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
No século XX, Virginia Woolf, com Ao farol, James Joyce, com Ulysses, Marcel Proust, com a série Em busca
do tempo perdido, e Guimarães Rosa, com Grande sertão: veredas, elevaram o gênero narrativo à plenitude
de sua forma e também de seu conteúdo.
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Tipos de narrativa: a novela e o romance
Acompanhemos agora o professor Rodrigo Jorge apresentar os tipos de narrativa conhecidos como novela
e romance, a partir de suas estruturas características.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
O que são gêneros literários?
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Tipos de narrativa: a epopeia e o conto
Todos
Módulo 1 - Video

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 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 
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Narrativa: distintas concepções
Módulo 2 - Video
Tipos de narrativa: a novela e o romance
Módulo 3 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A narrativa, assim como todo gênero literário, transforma-se de acordo com as condições de cada tempo,
mas também preserva determinados aspectos estruturais de seus tipos anteriores. Assinale a alternativa
que exemplifique essa informação:
A
O conto surge na Antiguidade, especialmente depois das obras de Aristóteles e Platão
sobre os gêneros literários. Por isso, o conto é o tipo de narrativa mais antigo.
B
O romance é um gênero com estrutura fixa e com poucas variações. Ele é antecedido pela
novela, do qual herdou poucos elementos.
C
O conto e a novela são gêneros bem próximos em suas respectivas estruturas. A única
diferença entre eles está no número de personagens. Enquanto o conto contém poucos
personagens, a novela apresenta um número bem mais variado.
D
A epopeia, ou poesia épica, é um dos gêneros mais antigos dentre os tipos de narrativa.
Mesmo assim, ela é bastante comum na contemporaneidade e pode ser lida com poucas
variações em sua estrutura.
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E
O romance surge em um momento em que a razão e o indivíduo se tornam centrais na
sociedade. Ele é antecedido pela novela, que, apesar da menor extensão, também pode
apresentar uma variedade de personagens, espaços e tempos.
Parabéns! A alternativa E está correta.
O gênero narrativo do romance é reflexo da modernidade e de suas transformações, a partir do
século XVIII. Embora também tenha herdado elementos do conto, a novela se aproxima um pouco
mais de sua estrutura. Além disso, ela emerge no Renascimento, pouco antes da ascensão da
modernidade.
Questão 2
No gênero narrativo, é fundamental não apenas identificar o acontecimento relatado, mas também como é
construído o relato. Assinale a alternativa que contenha, respectivamente, duas características básicas do
gênero narrativo presentes nessa afirmação.
A Horizonte de expectativa e discurso.
B Estrutura e narração.
C História e discurso.
D História e intenção.
E Discurso e leitura.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Segundo Jonathan Culler, em Teoria literária (1999), a oposição entre discurso e história é uma
das distinções básicas do gênero narrativo. A história, que também pode ser lida como “enredo”, é
o acontecimento em si, “sobre” o qual a narrativa fala. O discurso é o conjunto de elementos
estruturais utilizados para contar a história, é o “como” a narrativa fala.
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3 - Elementos da narrativa
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os elementos da
Narrativa.
Quem ou de quem se fala?
O narrador
O Gênero Narrativo precisa de uma série de elementos fundamentais em sua construção. Um deles é o
narrador.
Atenção!
É importante apenas não confundirmos o narrador com o autor do texto, que é a pessoa física que escreve a
história. A perspectiva do narrador pode ou não corresponder à do autor.
Um dos casos em que essa distinção é óbvia acontece em Memórias póstumas de Brás Cubas, já que o
narrador pode estar morto, mas o romancista não. Por mais que Machado de Assis possa manifestar,
eventualmente, em uma passagem ou outra algum ponto de vista semelhante ao do narrador, isso não o

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coloca na mesma função. O narrador é não apenas uma voz, mas uma estratégia narrativa. Para que
possamos identificá-lo, uma das principais perguntas a serem feitas é: “quem ou de quem fala?”
O narrador é também considerado o foco narrativo ou ponto de vista da história, podendo, ou não, ser
confundida com a do autor, como já ressaltamos. Mas nem sempre o narrador é o focalizador da história,
pois eles podem assumir posições distintas ao longo do texto (CULLER, 1999, p. 90). Por isso, é sempre
importante estar atento ao que nos é apresentado pelo narrador, observando suas estratégias.
Há diversos tipos de narrador, que podem variar de acordo com os estudos específicos sobre o tema. Em
síntese, eles são divididos em três tipos.
Quem fala? Eu. Quando você conta uma história que aconteceu com você para os seus amigos,
quem sabe mais sobre ela? É você, claro, que vai narrá-la a partir do foco narrativo em primeira
pessoa, como faz um narrador-personagem, já que você também participa da história. Contudo,
justamente por ser a perspectiva de quem está na história, esse narrador é parcial, nem sempre
devemos confiar em seu relato.
Neil Hamilton como Nick Carraway em The Great Gatsby (1926).
Um clássico exemplo é o narrador-protagonista de Dom Casmurro, Bentinho. A eterna questão em
torno da traição de Capitu, na verdade, está mais ligada à suspeição do narrador, que tenta nos
convencer de que sua perspectiva dos fatos é a verdadeira, pois não temos provas de que houve a
infidelidade. Temos apenas uma versão dos fatos. Há também narradores em primeira pessoa que
são personagens, mas não protagonistas, como Nick Carraway, em O grande Gatsby, de F. Scott
Fitzgerald, e Dr. Watson, nas histórias de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle.
Narrador-personagem, em primeira pessoa 
Narrador-observador, ou narrador-testemunha, em terceira pessoa 
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De quem fala? Ela ou ele, elas ou eles. Você já deve ter escutado, ou até mesmo dito, algumas vezes
que quem enxerga de fora, enxerga melhor. Isso porque aquele que está em uma perspectiva
distante consegue ver a história de uma forma global e sem o envolvimento que, muitas vezes, pode
distorcer a versão dos fatos. Um observador ou testemunha também pode distorcê-los? Sem dúvida,
mas, na reconstituição dos acontecimentos, o narrador em terceira pessoa, por não ter relação direta
com os personagens, pode apresentar uma visão mais imparcial.
Margaret Thatcher: A Biografia Autorizada
É o caso, por exemplo, das biografias em geral. Para reconstituir a história de uma vida, o biógrafo
reúne uma série de documentos e relatos sobre ela, que vão dar sustentação ao narrador. Na
literatura de ficção, as fábulas de Esopo e algumas narrativas infantis são um exemplo da utilização
desse foco narrativo.
De quem fala? Ela ou ele, elas ou eles. A diferença em relação ao narrador-observador é que, apesar
de falar em terceira pessoa, o narrador sabe tudo sobre as personagens, podendo, inclusive, ter
participação na história. Os sentimentos, o pensamento, as intenções e aspectos da vida dos
personagens são conhecidos desse narrador. É o tipo mais comum na literatura.
Narrador onisciente, em terceira pessoa 
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Garoto olhando pelo buraco da fechadura.
Quem nunca se sentiu tentado a ser um narrador onisciente e saber exatamente o que uma pessoa
está pensando ou sentindo? De certa maneira, esse foco narrativo é uma estratégia do escritor para
envolver o leitor na história, mas mantendo algum distanciamento. Nelson Rodrigues dizia que sua
ótica de ficcionista era de um garoto olhando pelo buraco da fechadura, ou seja, ao mesmo tempo
em que o narrador conhece a história pelo lado de fora da porta, ele também a enxerga em sua
intimidade.
A literatura não se limita a esses tipos de narrador. Eles podem se combinar no mesmo texto. Há narrativas
de diversas vozes, como em As ondas, de Virginia Woolf, ou nas quais o narrador é uma figura difícil de
definir, como em Museu do romance da eterna, de Macedonio Fernández. E ainda nos dias atuais eles
encontram um jeito novo de falar.
Quem age?
Personagem
Outro elemento fundamental em uma narrativa é a personagem. Ela nem sempre corresponde ao narrador,
como acabamos de ver, podendo assumir papéis ainda mais variados e complexos. Em alguns casos, ela
até mesmo pode desaparecer. A palavra, em português, surgiu do francês personnage, que, por sua vez, veio
do latim persona.
Curiosidade
A expressão remonta ainda ao etrusco e ao grego e era utilizada para se referir à máscara teatral.
Não é interessante? Uma personagem é uma máscara, uma face, que um ator veste para representar algo
em uma história. É por meio dela que somos apresentados ao universo ficcional ou não ficcional da
narrativa, pois apenas quando aparece a personagem é que sabemos qual história estamos lendo.
Afinal, um texto que inicie falando de uma paisagem ou descrevendo, por meio de um narrador qualquer, a
movimentação em uma rua ou no transporte público, pode ser um artigo de jornal, uma carta, um ensaio
sociológico ou uma folha solta de um caderno de anotações. Mas, ao entrar uma personagem, seja por
meio de sua fala ou da descrição de uma atividade, entramos também no enredo, ou trama.
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Por isso, uma personagem é um dos principais elementos do gênero narrativo. É por meio dela que a
natureza humana se reflete e se revela na construção dos eventos. E como se dá isso? Pela ação. A
personagem é quem age e é também afetada pelas ações. Ela é o elemento essencial para que ocorra o
conflito, um dos efeitos mais importantes de uma narrativa.
Por ser uma “máscara”, ela assume diversos papéis, todos bem conhecidos:
Dependendo da história, esses papéis podem mudar, mas cada um tem uma relevância para a sucessão dos
acontecimentos e o desenrolar da intriga. Um exemplo de herói clássico é Ulisses, ou Odisseu, da epopeia
de Homero, Odisseia, que relata o retorno do protagonista para casa após 10 anos na Guerra de Troia,
enfrentando uma série de situações no caminho, ajudado ou atrapalhado pelos deuses. Dentro dessa
mesma categoria, temos o anti-herói, que não corresponde às virtudes esperadas de um herói. O
O protagonista, ou herói
Figura central no desenvolvimento da ação.
O antagonista
Opositor, em geral, do herói, atua sempre contra algo ou alguém.
Coadjuvante
Participante da narrativa com importância para o desenvolvimento da ação, mas menos
destacado que o protagonista.
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personagem Macunaíma, do livro de mesmo título, de Mário de Andrade, é um caso de anti-herói na
literatura brasileira.Nas histórias em quadrinhos, Batman, personagem criado por Bob Kane e Bill Finger,
também assume esse papel, embora nos pareça, por vezes, ambíguo.
É importante lembrar que os anti-heróis não são antagonistas, ou opositores,
embora muitas vezes se comportem quase como vilões, tornando-se difícil
determinar a linha que separa um de outro.
De qualquer forma, os anti-heróis são personagens fundamentais para a trama, como é o caso do Major
Vidigal, do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, ou Iago, de Othelo,
de William Shakespeare.
Entre os coadjuvantes, há uma infinidade, pois, como vimos, são todos aqueles que não possuem a
relevância do protagonista, mas têm uma participação imprescindível na história. Um exemplo é Escobar, do
já citado Dom Casmurro, que é peça chave no discurso paranoico do narrador.
Quanto à composição, as personagens podem ser, de um modo geral:
Redondas, ou esféricas
Complexas, dinâmicas e de profundidade psicológica, podendo mudar ao longo da história e nos
surpreender.
Planas ou desenhadas
Mais simples e delimitadas em sua caracterização, sem exploração de uma interioridade, tornando-se, por
isso, previsíveis no desenrolar da narrativa.
Tipos
Representações simbólicas de um grupo de indivíduos, como uma unidade, de acordo com o aspecto que
se quer ressaltar.
Na literatura, temos muitos exemplos, especialmente das duas primeiras formas. Raskólnikov, em Crime e
castigo, de Fiódor Dostoiévski, Macabéa, em A hora da estrela, de Clarice Lispector, e Ponciá Vicêncio, no
romance que leva seu nome no título, de Conceição Evaristo, são alguns bons exemplos de personagens de
composição redonda ou esférica.
As personagens planas ou desenhadas não significam que são necessariamente malfeitas, ao contrário.
Quando bem desenvolvidas, cumprem muito bem o seu papel na narrativa. Como é o caso das personagens
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da série Harry Potter, de J.K. Rowling, como Harry e Voldemort.
As personagens-tipos podem não ser tão explícitas, como o cortiço que intitula a obra de Aluísio Azevedo,
mas exercem uma importante função.
Onde ocorre a ação?
Espaço
O espaço é onde ocorre a ação. Pode ser um, dois ou mais lugares, ou até mesmo ser indefinido. O
sociólogo francês Michel de Certeau (1998, p. 201-202) define o espaço como resultante do deslocamento
entre posições, ou lugares. Assim, o que define o espaço não é a circunscrição física e geográfica, mas as
relações sociais que ali se estabelecem. Se aplicarmos para a teoria da narrativa, poderemos pensar no
espaço não apenas como um cenário estático, mas como elemento que integra essas ações. Se fosse
acessório, não precisaria ser descrito.
Portanto, o espaço deve cumprir uma função, seja para contextualizar a
história ou para ressaltar uma caraterística da personagem.
Em uma narrativa, o espaço pode ser, geralmente, de dois tipos: físico e psicológico. O primeiro pode ser
interno e externo. É possível que, na mesma história, as personagens se desloquem entre ambientes físicos
distintos, de acordo com o enredo e o tipo de narrativa, como uma novela ou um romance.
Há situações em que a definição do espaço atende também à caracterização do ambiente social do qual as
personagens fazem parte, já que a posição de um indivíduo na sociedade também se reflete nos lugares
que ele habita e frequenta.
Podemos citar, mais uma vez, dois romances da literatura brasileira em que os espaços físicos ressaltam a
caracterização de classe das personagens: O cortiço, de Aluísio Azevedo, e Dom Casmurro, de Machado de
Assis. O primeiro traz, já no título, o próprio elemento da narrativa que estamos discutindo. Na época,
interessado em escrever sobre as vidas das gentes das habitações pobres da cidade, chega a frequentar e
até a morar em cortiços, próximo à região central do Rio de Janeiro.
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O cortiço
Em O cortiço, exemplar do naturalismo no Brasil, o meio é determinante para o comportamento, o
caráter e a personalidade do ser humano.
Dom Casmurro
A rua de Matacavalos, apesar de apresentar a decadência de uma elite, também traz a representação
de uma estrutura social e econômica fundada na escravidão.
Saiba mais
Em Dom Casmurro, a rua de Matacavalos foi o local onde nasceu e cresceu Bentinho.
O espaço psicológico é mais comum nas narrativas modernas, em especial entre os séculos XIX e o atual.
Ele se refere ao interior da personagem, seus pensamentos, sentimentos e suas impressões.
Sabe quando você se coloca a viajar mentalmente para situações e lugares que seriam impossíveis de
alcançar? É como sonhar acordado, não? Às vezes, pode virar até mesmo um pesadelo, dependendo de
onde vamos parar. Mas isso não deixa de ser uma espécie de narrativa que criamos.
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A traição de Capitu com Escobar, por exemplo, ocorreu em um espaço físico ou psicológico nos devaneios
de Bentinho? Baleia, a cachorra de Vidas secas, antes de morrer, sonha com um mundo cheio de preás
imensos, um dos episódios mais belos e sensíveis da literatura. É um dos raros momentos em que o espaço
psicológico é de um animal. Clarice Lispector explorou como poucos esse ambiente em suas narrativas,
como em uma de suas obras mais conhecidas, A paixão segundo G.H.
Como podem ver, a escolha de uma rua, de uma construção, de uma sensação, de uma lembrança, ou até
mesmo de uma calçada, em uma boa narrativa, não é casual. Podem ocorrer seleções aleatórias? Podem. E
não significa, necessariamente, que sejam histórias ruins ou mal contadas, mas uma narrativa bem
construída deve considerar cada um dos elementos e saber amarrá-los na trama. Os espaços podem ser
diversos, misturar-se, dissolver-se e desaparecer, mas sempre relacionados ao que a história quer contar.
Os diferentes tipos de tempo da narrativa
Tempo
“Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos...
Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo...
Tempo tempo tempo tempo...
”Diz um trecho de Oração ao tempo, de Caetano Veloso (1979).
Você já deve ter escutado em algum momento essa canção. Se não escutou, coloque no seu streaming de
música preferido ou veja no YouTube. Se já escutou, escute de novo. O tempo é um dos elementos
fundamentais da vida, por isso, não é menos imprescindível em uma narrativa. Ele é o tecido do que somos,
com nossos desvios, virtudes e hesitações. Assim, aquele que domina o tempo em uma história, domina
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absolutamente todos os elementos, narrador, personagem e espaço, embora este, para alguns, esteja
também vinculado ao tempo.
Quanto aos tipos de tempo em uma narrativa, podemos encontrar, de uma forma geral, três:

Cronológico, ou da história
É a sequência de acontecimentos narrados na ordem semelhante à do relógio, ou do calendário.
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Histórico
É a adequação da narrativa a uma época ou um momento histórico, portanto, ele ocorre sempre no passado.

Psicológico
É a duração subjetiva, da interioridade da personagem, de acordo com o ritmo de suas sensações e seus
pensamentos.
O tempo cronológico, como o nome já deixa claro, é o mais próximo do que estamos acostumados no
nosso cotidiano. Nas narrativas, é um dos tipos mais comuns. Os diálogos, por exemplo, costumam seguir
essa marcação, pois a duração é de acordo com a conversa entre as personagens.
Quanto ao tempo histórico, não é difícil perceber que ele se aplica a eventos que já ocorreram e agora estão
sendo reconstituídos. As biografias, pela sua natureza, seguem necessariamente esse tempo, pois elas se
referem aos acontecimentos na vida de uma pessoa, ou seja, tudo aquilo quea formou como indivíduo. As
narrativas históricas, de modo geral, também buscam a obediência a essas marcas no calendário.
Atenção!
Essa distinção não impede que o discurso seja construído com a combinação dos dois tipos de tempo, pois,
assim como há a necessidade de contextualizar historicamente uma narrativa do passado, ela também
precisa estar de acordo com o ritmo do presente da escrita e da leitura.
Sheherazade, no Livro das mil e uma noites, inicia seus relatos ao sultão Shahryar com praticamente a
mesma fórmula, “Conta-se, ó rei venturoso...”, a fim de imprimir ao evento do passado o frescor do presente.
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O tempo psicológico, também chamado de tempo da memória, é um dos mais complexos e se mistura, de
certa maneira, com o espaço. Você já deve ter experimentado em algumas ocasiões esse tipo temporal,
quando um evento parece ter durado tão pouco enquanto outro, quase uma eternidade. É comum
qualificarmos essa passagem subjetiva do tempo de acordo com a satisfação da nossa experiência.
Em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, o tempo também opera nessa duração. Aliás, uma das
características do tempo psicológico, muito presente na literatura de Clarice, é o fluxo de consciência,
técnica que procura descrever a complexidade do pensamento e das sensações de uma personagem. Além
de Clarice, Virginia Woolf, Marcel Proust, James Joyce e William Faulkner estão entre os autores que mais
desenvolveram esse recurso em suas obras.
Elementos da narrativa: espaço e tempo
Acompanhemos agora o professor Rodrigo Jorge analisar aspectos e estrutura característica de dois tipos
de narrativa.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Tipos de narrador
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Tipos de personagem
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Todos
Módulo 1 - Video
Narrativa: distintas concepções
Módulo 2 - Video
Tipos de narrativa: a novela e o romance
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 
Questão 1
Considere o seguinte texto: 
“O Clube dos Desconfiados teve existência breve. Sua utilidade era indiscutível. Por isso congregou
inúmeros desconfiados, que em sociedade se sentiriam mais garantidos contra possíveis más intenções e
surpresas desagradáveis. Uma vez reunidos e organizados, com estatutos e diretoria, passaram a
desconfiar uns dos outros e de si mesmos. Marcada assembleia geral extraordinária para exame da
situação, ninguém compareceu. Ficaram todos nas esquinas próximas, espiando quem entrava na sede. O
porteiro, desconfiadíssimo, sumiu.” 
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 44) 
Intitulado “Aquele clube”, o texto faz parte da coletânea Contos plausíveis, de Carlos Drummond de Andrade,
em que o poético e o cômico se combinam. A utilização do narrador-observador, em terceira pessoa,
contribui para realçar a comicidade da narrativa, pois:
ele se envolve com os destinos dos membros do clube e tenta convencer o leitor de sua
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A importância.
B
ele não participa da história e, portanto, busca obter cumplicidade do leitor, já que ambos
estão distantes daquela realidade.
C
não há seriedade na forma como ele descreve as personagens da história, levando-nos a
um riso irônico.
D
ele protagoniza a história, já que possui informações privilegiadas sobre o destino do
clube e de seus membros.
E
o distanciamento em relação aos eventos narrados destaca a sua vantagem sobre os
membros do clube.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O narrador-observador está em uma posição distante dos eventos e não participa deles, mas, ao
mesmo tempo, tem uma visão geral e mais imparcial da história. A focalização sobre as
personagens, sem se envolver com elas, aproxima-o mais do leitor, que também imprime um
significado na narrativa. Os dois, narrador e leitor, situam-se em um plano distinto dos
Desconfiados, destacando ainda mais o efeito cômico.
Questão 2
A personagem é um dos elementos fundamentais em uma narrativa, pois é por meio dela que sabemos em
que história estamos entrando no ato de leitura. Quanto aos tipos de personagem, segundo a teoria da
narrativa, assinale a alternativa correta:
A
Contradições e embates interiores são características muito comuns em personagens
construídas como redondas ou esféricas.
B
Resignação e tristeza estão presentes em personagens planas, criadas a partir da leitura
de outros textos da tradição narrativa.
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C
As personagens esféricas podem representar um grupo social bem delimitado ou difuso,
dependendo do espaço da narrativa.
D
As personagens-tipos são as mais distantes das características humanas, por isso são
muito comuns nas representações de monstros nas fábulas.
E
A dimensão coletiva das personagens planas se dá pela sua representação dos anseios
de um grupo social.
Parabéns! A alternativa A está correta.
As personagens chamadas de esféricas ou planas são concebidas a partir de aspectos subjetivos
da natureza humana, evidenciando, assim, características que as aproximam de pessoas reais.

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4 - Narratividade
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de
Narratividade.
Tudo é narrativa?
O que pode ser narrado?
No primeiro módulo, falamos sobre a nossa necessidade milenar de contar histórias. Elas sempre estiveram
presentes em nossas vidas e foram se transformando ao longo do tempo, mas preservando alguns de seus
elementos e outros componentes estruturais.
Jonathan Culler (1999, p. 85) cita uma observação do crítico literário Frank Kermode sobre nossa
capacidade de organizar ficcionalmente o mundo tomando como exemplo o ruído de um relógio analógico,
o tique-taque. Ao conferir palavras diferentes a sons idênticos, estamos demarcando um início e um fim do
movimento, como se construíssemos uma espécie de microenredo.
Nesse sentido, é possível concluir que absolutamente tudo é narrativa,
tudo pode ser narrativa ou não é bem por aí? O que de�ne se algo pode
ser tornar uma história ou não?
Aqui não se trata de seu valor estético, mas de sua eficácia. Não importa se uma história é boa ou ruim, o
que importa é que ela seja autêntica, pois ela não deixa de ser uma história se não for bem contada. Será
apenas uma história... mal contada. Mas, ainda assim, uma história. Talvez possamos oferecer sugestões
para que ela se torne melhor, aí é outro caso. De qualquer maneira, se estamos falando de uma narrativa
entendida como tal, ela segue uma estrutura e é composta por um número razoável de elementos que a
tornam comunicável, já que o papel do leitor é fundamental para que uma narrativa se constitua como
gênero.
E já que tocamos no assunto, voltemos à pergunta: o que pode ser
narrado?
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Na teoria da narrativa, há um conceito chamado narratividade, que, em um primeiro momento, não é muito
difícil de compreender, considerando as palavras que você conhece com o mesmo sufixo. Do que se trata?
Basicamente, é a qualidade da narrativa, do que é narrativo ou pode ser narrado. Ou seja, ele se refere ao
potencial de um discurso de reconstruir o mundo por meio de uma história.
Mas ele não se encerra nisso. Há outro dado imprescindível para que a narratividadeseja exercida: o leitor.
Apenas por meio do processo de leitura é que essa qualidade da narrativa se completa, pois a recepção de
uma narrativa é imprescindível para que ela cumpra com seu principal objetivo, que é contar uma história.
Por isso, “a narratividade tem que ver com a capacidade possuída pelo texto (narrativo) para facultar ao
receptor o acesso a ações de dimensão humana, de matriz temporal e englobadas em universos
internamente coerentes” (REIS; LOPES, 1988, p. 79). A recepção do texto pelo leitor é que vai permitir a
produção de sentido, de acordo com a transformação da história, ou relato, em discurso.
A narratividade é uma operação realizada pelo texto narrativo que o
vincula também ao contexto histórico-cultural.
Um leitor não é apenas uma camada imaginária, uma estratégia discursiva do autor, mas um indivíduo
dotado de subjetividade e inserido em determinado tempo histórico e formado por regras sociais mais ou
menos estabelecidas.
De acordo com Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes (1988, p. 78), isso explica o porquê de a epopeia ter sido
tão importante em determinadas épocas e de o romance, mesmo vinculado a espaços e tempos históricos
específicos, ser evocado em outros momentos e por subgêneros narrativos, como o romance histórico.
É o que chamam de “potencialidades modelizantes da narratividade”, isto é, a
capacidade da narrativa de se inscrever em um período e de se adaptar com o
passar do tempo, podendo ser lida de diversas maneiras por um público diverso.
Por que certas obras parecem tão atuais e outras amarradas à data de publicação? Por que alguns textos
nos remetem a problemas ainda próximos ao nosso cotidiano? Não é apenas pela permanência de aspectos
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humanos e sociais, que também entram na conta, claro, mas também porque a narratividade do texto
contribui para essa identificação. Assim, o mesmo texto pode ser lido de diferentes maneiras.
Portanto, o que pode ser narrado não é apenas o que reúna os principais elementos narrativos, mas o que
tenha a capacidade de ser lido como uma história, já que a narratividade é um fenômeno que se dá por meio
da recepção, assim como todo fenômeno estético em geral. E é por esta razão que a narrativa, como bem
destaca Roland Barthes (2001, p. 103), é dada não apenas pela linguagem, mas também pela imagem e pelo
gesto, ou pela mistura de todas essas formas de expressão.
Narratividade em textos orais ou escritos
Narrativas de linguagem verbal
A narratividade nas histórias de linguagem verbal se refere à qualidade da narrativa nos textos orais ou
escritos, o que inclui praticamente todos os textos literários que citamos até agora. Mas sabemos que um
texto não é um conjunto de elementos homogêneos que se comportam da mesma maneira em todas as
situações. Ao contrário, ele é orientado pelos seus componentes estruturais e pelos gêneros do discurso
que organizam a história. É por isso que a narratividade é fundamental, pois ela vai diferenciar um texto
narrativo de outro que não exerça essa função.
A�nal, nem todo texto literário ou não literário é dotado de
narratividade, mas toda narrativa sim.
Pegue o manual de um eletrodoméstico qualquer que você tenha em casa, ou uma bula de remédio. Ainda
que em alguns deles você encontre mais números, em todos você encontrará palavras organizadas em uma
modalidade de discurso. Tanto no manual quanto na bula de remédio, você terá à sua disposição uma série
de instruções para a realização de uma tarefa.
Em nenhum deles você encontrará um discurso narrativo, mas isso não significa que eles não possam ser
transformados em um. Caso você tenha errado a dose do remédio, vai precisar ir até seu médico para ser
examinado. Para que o profissional possa ajudá-lo, você precisará reconstituir uma série de eventos, em que
a bula se inclui. Nesse processo, a narratividade está presente.
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Vejamos o caso de alguns textos literários. A poesia lírica, por exemplo, define-se, de um modo geral, pela
expressão de sentimentos e da subjetividade do poeta em forma de versos. Mas também há poemas de
gênero lírico que apresentem certa narratividade, como este famoso texto de Manuel Bandeira:
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro 
Bebeu 
Cantou 
Dançou 
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, 1998, p. 28)
Intitulado “Poema tirado de uma notícia de jornal”, o texto foi publicado em Libertinagem (1930), obra em
que Bandeira adere, de forma mais marcante, ao modernismo. Algumas das características do movimento
aparecem com frequência nesse e em outros poemas do livro, como a linguagem coloquial, o uso de versos
livres, a presença de temas do cotidiano comum e de certo tom narrativo. O olhar objetivo dos versos dá ao
poema certo tom irônico, crítica à indiferença da suposta imparcialidade da linguagem jornalística.
Podemos traçar um paralelo com a música “Construção”, de Chico Buarque, lançada em álbum homônimo.
Nos dois casos, apesar de pertencerem a gêneros distintos, a narratividade se realiza quando identificamos,
como leitores e ouvintes, os elementos que sustentam as duas histórias trágicas.
Atenção!
Se não conseguimos identificar uma história sendo contada, ou seja, se os elementos presentes não são
suficientes para que a recepção reconheça o discurso narrativo, então não ocorre o fenômeno da
narratividade.
O poema O corvo, de Edgar Allan Poe, um dos mais importantes da literatura ocidental, também apresenta
narratividade, já que avançamos de um verso para outro e acompanhamos a descrição do eu lírico de seu
encontro com o “emigrado lá das trevas infernais”, na tradução de Fernando Pessoa. Nas canções de Bob
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Dylan, um dos mais notáveis compositores da atualidade, esse é um dos traços mais presentes, seja
criando histórias ou reconstituindo situações reais, como na música Hurricane, escrita com Jacques Levy,
em protesto pela prisão injusta de Rubin “Hurricane” Carter, de clara motivação racista. Nesse caso, a
narratividade não atua apenas para comunicar os eventos tais como se deram, mas também para provocar
a indignação dos ouvintes e engajá-los na luta antirracista expressa na música.
Narratividade e os signos visuais
Narrativas de linguagem não verbal
Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Será verdade? Vai depender da imagem e também
de quais palavras quero substituir por elas. De fato, há imagens que carregam tantos significados que
chegam a se tornar objetos de longos ensaios, por isso elas constituem o que chamamos de linguagem não
verbal e utilizam signos visuais, em vez dos signos linguísticos.
As fotografias de guerra, por exemplo, são eloquentes em sua exposição crua da violência e da dor ali
expressas. Às vezes, o excesso dessas imagens acaba, inclusive, banalizando o sofrimento e o
naturalizando, como analisa a filósofa Susan Sontag, em seu ensaio Diante da dor dos outros.
O olhar de alguém que amamos, seja um bebê, um animal de estimação, um amigo que não víamos há
muitos anos ou uma grande paixão, pode estar carregado de entusiasmo que não conseguimos exprimir de
outra maneira. Ou aquela troca de olhares por minutos, mudos, logo após uma longa conversa difícil e que
precede o abraço envolvido de lágrimas.
Em nenhuma dessas cenas as palavras foram necessárias para comunicar um turbilhão de sentimentos e
histórias, como se tudo estivesse misturado e não soubéssemos como dizer. Na verdade, sabemos. E
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dizemos.A narratividade também ocorre aqui (SONTAG, 2003).
Como já estudamos, a narratividade só se completa se a recepção contar com a matéria narrativa fornecida,
pois o fenômeno possui vínculo direto com quem recebe a história, seja por meio da leitura, da audição ou
da observação. Um olhar, como descrito em uma das situações anteriores, pode comunicar apenas
emoções, sem nenhuma narrativa envolvida, mas a cena pode estar inserida em um esquema narrativo e
que atenda ao horizonte de expectativas de quem a assiste.
Há vários exemplos no cinema mudo. Em um dos filmes mais divertidos e sensíveis de Charles Chaplin,
Luzes da cidade (1931), encontramos diversas cenas antológicas. Uma, em especial, está entre as mais
belas.
Na imagem, o protagonista está sorrindo e tem a mão, que segura uma flor, na boca, com o dedo indicador
mais flexionado que os outros. Seus olhos se dirigem à personagem da florista cega, que está fora do plano.
É uma cena carregada de emoção, mas também de história e que diz tanto sobre as duas figuras, tanto a
que aparece quanto a que não aparece na imagem.
Dica
Se não viu a cena ainda, veja! É imperdível.
Na história da arte, também encontramos vários exemplos de narrativas de linguagem não verbal.
Mencionamos, no primeiro módulo, as pinturas rupestres dos povos pré-históricos, cheios de mistério e de
significado, mas também de muitas histórias. Ainda que eles a utilizassem apenas com motivações
ritualísticas, isso não impediria de haver narratividade, já que o homem sempre fez uso de símbolos
imagéticos para expressar as suas crenças e tentativas de comunicação com o plano espiritual.
Crucificação de Jesus, Aleijadinho, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (MG).
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A via crucis, por exemplo, é um dos temas recorrentes ao longo da história da arte sacra. Ela se refere ao
percurso de Jesus Cristo até o Calvário, de sua condenação até o seu sepultamento, constituindo 14
estações. Uma das reproduções mais admiráveis foi concebida por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Embora a via crucis seja um tipo de narrativa de linguagem não verbal complementar ao registro escrito, já
que se trata de uma passagem bíblica, observem que a escultura do artista mineiro possui emoção, mas
também movimento, gesto, resultando em uma cena extremamente dramática. Ainda que alguém não
conheça o relato pelas Escrituras, as imagens contam uma história, por isso, está presente aqui também
narratividade, já que onde o humano se revela, há uma vida a ser contada.
Narratividade: o que é?
Você conseguiu compreender do que se trata a narratividade? Precisa de mais uma ajudinha? Sem
problemas! No vídeo a seguir, o professor Rodrigo Jorge nos apresenta o conceito de narratividade, suas
aplicações e implicações para a teoria literária.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 4 - Vem que eu te explico!
O que é narratividade?
Módulo 4 - Vem que eu te explico!
Narratividade em histórias de linguagem verbal
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Todos
Módulo 1 - Video
Narrativa: distintas concepções
Módulo 2 - Video
Tipos de narrativa: a novela e o romance
Módulo 3 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Módulo 4 
Questão 1
Um texto narrativo do século XVI pode ser lido de uma maneira no século seguinte e de outra no atual. Além
dos fatores históricos e sociais, a narratividade do discurso contribui para sua recepção nesses três
momentos, pois:
A como fenômeno, ela afasta o texto do leitor.
B não há significado produzido pelo processo de leitura.
C as histórias se tornam cada vez mais reais.
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D ela atualiza os gêneros de acordo com o contexto em que foram produzidos.
E como fenômeno, ela estabelece uma relação da história com o leitor.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A narratividade é a capacidade da narrativa de recriação do mundo e o estabelecimento das
diversas formas possíveis de recepção do discurso. Por isso, ela é fundamental no processo de
leitura, pois indica que a história está sendo compreendida e, portanto, cumprindo sua função.
Questão 2
Em todo álbum de família, temos uma coleção de imagens que cobrem diversos momentos da vida de cada
um. Independentemente da organização do conjunto, elas comunicam histórias, ainda que o observador das
fotografias não conheça os membros. Assinale a alternativa que explique essa recepção:
A As fotografias, em geral, são sempre narrativas.
B
Por meio de signos visuais, as fotografias familiares, em sua narratividade, expõem os
acontecimentos para o observador.
C O processo de comunicação da imagem é semelhante ao do texto.
D
Por meio de signos visuais, as fotografias familiares ressaltam qualidades dos
fotografados.
E
Para conhecer as histórias dos membros da família, o observador precisa colocar as
imagens em ordem cronológica.
Parabéns! A alternativa B está correta.
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Considerações �nais
Contar e ouvir histórias é uma das condições humanas essenciais. Por meio dessa necessidade de narrar
as nossas vidas e de ouvi-las é que nos desenvolvemos. Por isso, estudar as estruturas, os elementos e as
técnicas narrativas é tão importante, auxiliando na compreensão do mundo e de nós mesmos.
Apesar das diferenças de tempo, língua e espaço geográfico, todos seguimos alguns padrões mais ou
menos estabelecidos. A Teoria da Narrativa busca, assim, investigar os mecanismos que compõem as
estruturas narrativas e as dinâmicas envolvidas em suas variações de uma época a outra.
Os elementos que fazem parte de uma narrativa operam de modo que cada história transmita uma
perspectiva. A escolha de um narrador ou de um espaço não é casual, mas cumpre uma função dentro da
história, essencial para que ela alcance o seu objetivo, atualizando os nossos vínculos com o outro e com o
mundo.
Em tudo, uma história pode estar presente, desde que uma vida possa ser lida.
Podcast
Neste podcast, o especialista Rodrigo Jorge irá revisitar os pontos centrais do tema.
Como uma narrativa de linguagem não verbal, a fotografia faz uso de signos visuais, diferente da
narrativa de linguagem verbal. No entanto, as duas formas de expressão, por transmitirem para o
receptor uma sequência, linear ou não, dos acontecimentos, possuem narratividade.


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Referências
ARISTÓTELES. Poética. Trad. Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2020.
ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Moderna, 1999.
BARTHES, R. Introdução à análise estrutural das narrativas. In: BARTHES, R. A aventura semiológica. Trad.
Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 103-152.
BANDEIRA, M. Libertinagem - Estrela da manhã. Edição crítica, coord. Giulia Lanciani. Madrid; Paris; México;
Buenos Aires; São Paulo; Lima; Guatemala, San José; Santiago: ALLCA XX, 1998. (Colección Arquivos; 33).
BENJAMIN, W. O narrador. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987.
BORGES, J. L. Outras inquisições. Trad. Davi Arrigucci Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
CAMPOS, H. Morfologia de Macunaíma. São Paulo: Perspectiva, 1973.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Rio de Janeiro: Vozes,
1998.
CÉSAR, A. C. Poética. São Paulo: Companhia das Letras,

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