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Narrativa e histórias de vida

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Indaial – 2020
Qualidade de Vida na 
Contemporaneidade
Alberto Rosa
Alessandra Bittencourt Flach
Leticia Sangaletti
María Fernanda González
Mario Carretero
Patrícia Cristine Hoff
Roberta Spessato
Simone de Oliveira
1a Edição
2020
Elaboração:
Alberto Rosa
Alessandra Bittencourt Flach
Leticia Sangaletti
María Fernanda González
Mario Carretero
Patrícia Cristine Hoff
Roberta Spessato
Simone de Oliveira
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Conteúdo produzido
Copyright © Sagah Educação S.A.
Impresso por:
III
apresentação
Saudações prezado acadêmico! Sinta-se calorosamente acolhido ao 
livro da disciplina de Narrativas e Histórias de Vida. 
Quais são as impressões e expectativas que o título desse livro gerou 
em você? Um dos nossos objetivos é que por meio dos seus estudos nessa 
disciplina, você transforme sua maneira de explorar textos narrativos, e 
obtenha mais subsídios para se aventurar em escrever as suas narrativas.
Para tanto, a Unidade 1 lhe oferece várias oportunidades para 
ampliar seus conhecimentos sobre as narrativas. Nela, você observará que as 
narrativas estabelecem inúmeras relações com a história, com a sociedade, e 
com a literatura. Poderá refletir sobre o papel que tempo e espaço ocupam nas 
narrativas, além de resgatar e atualizar conteúdos vistos nas aulas de língua 
portuguesa do seu período de escolarização, acerca de gêneros discursivos, 
com maior destaque para o conto. 
Já a Unidade 2 disponibiliza momentos de reflexão sobre a História 
e histórias. Portanto, além de você lembrar de algumas coisas que aprendeu 
enquanto estudava língua portuguesa, também se recordará de algumas 
aulas da disciplina de história, ou de leituras que fez a pedido dos professores 
de história. Isso provavelmente acontecerá, já que, a Unidade 2 aborda os 
seguintes temas: escrita, oralidade, fala, verdade, realidade, seleção de fatos, 
perspectivas, historiografia, manifestações de linguagem, tipos textuais, 
gêneros textuais, textos literários, performance, contadores de histórias, 
entre outros.
Durante a sua leitura da Unidade 3, possivelmente você se lembrará de 
conteúdos que aprendeu nas suas aulas de biologia, pois alguns professores 
de biologia costumam abordar aspectos relacionados à memória, como, por 
exemplo, os diferentes tipos de memória. A psicologia e a neurociência vêm 
estudando sobre a memória, e ao longo da Unidade 3, você se deparará com 
as perspectivas dessas ciências a respeito da memória e dos esquecimentos. 
A Unidade ainda discorre sobre pesquisa em história, aprendizagem e sobre 
as funções psicológicas como a linguagem, e cognição.
Desejamos que esse livro seja contributivo para os seus estudos nesse 
curso! 
Boa leitura!
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 - NARRATIVAS ..................................................................................................................1
TÓPICO 1 - NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES DE PRINCÍPIO .... 3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 REPRESENTAÇÃO E REALIDADE: PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS ............................................3
3 A NARRATIVA: CONCEITO E ELEMENTOS .................................................................................6
3.1 TIPOS DE NARRATIVA ...................................................................................................................9
3.2 FOCO NARRATIVO ..........................................................................................................................9
3.2.1 Autor onisciente intruso .........................................................................................................10
3.2.2 Narrador onisciente neutro ...................................................................................................10
3.2.3 “Eu” como testemunha ..........................................................................................................10
3.2.4 Narrador-protagonista ...........................................................................................................11
3.2.5 Onisciência seletiva múltipla ................................................................................................11
3.2.6 Onisciência seletiva ................................................................................................................11
3.2.7 Modo dramático ......................................................................................................................12
3.2.8 Câmera .....................................................................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................13
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................14
TÓPICO 2 - NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE ..................................................................15
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................15
2 RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA .........................................................................15
3 NARRATIVA, LITERATURA E SOCIEDADE ................................................................................17
4 SOCIEDADE, LITERATURA E CRÍTICA LITERÁRIA ................................................................19
5 REGISTROS DA HISTÓRIA EM TEXTOS LITERÁRIOS ..........................................................21
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................25TÓPICO 3 - TEMPO E ESPAÇO NA NARRATIVA ..........................................................................27
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................27
2 O TEMPO NA NARRATIVA ..............................................................................................................27
3 TEMPO CRONOLÓGICO ..................................................................................................................29
4 TEMPO PSICOLÓGICO .....................................................................................................................29
5 TEMPO DO DISCURSO .....................................................................................................................30
6 ESPAÇO E AMBIENTE ........................................................................................................................31
7 ESPAÇO ..................................................................................................................................................31
8 AMBIENTE.............................................................................................................................................32
9 ARTICULAÇÕES DO TEMPO E DO ESPAÇO NA NARRATIVA ............................................33
9.1 CIRCUITO FECHADO, DE RICARDO RAMOS: O TEMPO DEFINIDO PELO ESPAÇO ...34
10 CADEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO: O TEMPO SUSPENSO ....................................................35
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................38
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................39
sumário
VIII
TÓPICO 4 - TIPOS TEXTUAIS - A NARRAÇÃO ELEMENTOS ESTRUTURA E GÊNEROS ........ 41
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41
2 NARRAÇÃO: CONCEPÇÕES TEÓRICAS .....................................................................................41
3 ESTRUTURA E ELEMENTOS DA NARRAÇÃO ..........................................................................42
4 GÊNEROS DO TIPO TEXTUAL NARRATIVO .............................................................................43
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................47
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................48
TÓPICO 5 - TEORIA DO CONTO .......................................................................................................51
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................51
2 O CONTO ...............................................................................................................................................51
3 O CONTO E AS SUAS VARIAÇÕES ...............................................................................................53
3.1 CONTO DE TRADIÇÃO ORAL ....................................................................................................53
3.2 Conto clássico ...................................................................................................................................55
3.3 CONTO MODERNO .......................................................................................................................56
4 PRINCIPAIS TEÓRICOS E AUTORES ...................................................................................................... 57
4.1 EDGAR ALLAN POE (1809–1849) ................................................................................................57
4.2 MACHADO DE ASSIS (1839–1908) ..............................................................................................57
4.3 JULIO CORTÁZAR (1914–1984) ....................................................................................................58
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................60
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................61
UNIDADE 2 - HISTÓRIA; ORALIDADE E ESCRITA .....................................................................63
TÓPICO 1 - A HISTÓRIA VIVE? QUE HISTÓRIA VIVE? ............................................................65
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65
2 A HISTÓRIA É UMA FORMA DE MEMÓRIA? ............................................................................66
3 MEMÓRIA COLETIVA E HISTÓRIA ..............................................................................................68
4 A HISTORIOGRAFIA COMO CONSTRUTORA DO PASSADO E
 CONFORMADORA DO PRESENTE: O PAPEL CRÍTICO DO HISTORIADOR ..................69
5 QUE HISTÓRIA ENSINAR? DAS NARRAÇÕES DO PASSADO
 ÀS FERRAMENTAS HISTORIOGRÁFICAS E ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS ................................70
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................72
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................73
TÓPICO 2 - LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................75
2 AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA LINGUAGEM ...........................................................75
2.1 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO ........................................................75
2.2 FALA E ESCRITA: CONJUNTO DE PARTES UNIDAS ENTRE SI ..........................................77
2.3 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS .....................................................................................................79
3 O TEXTO LITERÁRIO E AS SUAS MANIFESTAÇÕES LINGUÍSTICAS ...............................80
3.1 O QUE É UM TEXTO LITERÁRIO? ..............................................................................................80
3.2 ALGUNS ESCRITORES E SUAS OBRAS .....................................................................................81
3.2.1 Escritores internacionais ........................................................................................................81
3.2.2 Escritores nacionais ................................................................................................................82
3.3 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA .................................................................................82
4 A LINGUAGEM E OS SEUS DIFERENTES CONTEXTOS .........................................................85
4.1 TIPOS DE LINGUAGEM ................................................................................................................85
4.2 A INTERLOCUÇÃO E O CONTEXTO .........................................................................................87
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89
IX
A ORALIDADE E A ESCRITURA ........................................................................................................91
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................91
2 NO PRINCÍPIO,ERA A PALAVRA: AS ORIGENS ORAIS DA LITERATURA .....................91
3 ORALIDADE E PERFORMANCE .....................................................................................................93
4 AS FÓRMULAS ORAIS NA ESCRITA ............................................................................................96
4.1 LITERATURA EXCLUSIVAMENTE ORAL.................................................................................96
4.2 LITERATURA ORAL COM REGISTRO ESCRITO .....................................................................97
4.3 LITERATURA ESCRITA COM INFLUÊNCIAS DA ORALIDADE .........................................98
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................101
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102
UNIDADE 3 - HISTÓRIAS E MEMÓRIAS ......................................................................................105
TÓPICO 1 - HISTÓRIA E MEMÓRIA ..............................................................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 O CONCEITO DE MEMÓRIA .........................................................................................................107
3 RELAÇÕES ENTRE A HISTÓRIA, A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO ............................110
4 AS POSSIBILIDADES DE PESQUISA HISTÓRICA COM A MEMÓRIA ............................113
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117
TÓPICO 2 - FUNÇÕES PSICOLÓGICAS BÁSICAS: MEMÓRIA E COGNIÇÃO ..................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 AS BASES DA MEMÓRIA ...............................................................................................................120
2.1 MEMÓRIA SENSORIAL ..............................................................................................................122
2.2 MEMÓRIA DE CURTO PRAZO .................................................................................................123
2.3 MEMÓRIA DE LONGO PRAZO ................................................................................................128
2.4 MÓDULOS DE LONGO PRAZO ................................................................................................128
2.5 REDES SEMÂNTICAS ..................................................................................................................131
2.6 A NEUROCIÊNCIA DA MEMÓRIA ..........................................................................................132
3 RECORDANDO MEMÓRIAS DE LONGO PRAZO ..................................................................133
3.1 PISTAS DE RECUPERAÇÃO .......................................................................................................133
3.2 NÍVEIS DE PROCESSAMENTO .................................................................................................135
3.3 MEMÓRIA EXPLÍCITA E IMPLÍCITA .......................................................................................136
3.4 MEMÓRIAS VÍVIDAS ..................................................................................................................138
3.5 PROCESSOS CONSTRUTIVOS NA MEMÓRIA ......................................................................140
4 ESQUECIMENTO: QUANDO A MEMÓRIA FALHA ................................................................145
4.1 POR QUE ESQUECEMOS ............................................................................................................146
4.2 INTERFERÊNCIA PROATIVA E RETROATIVA ......................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................150
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................151
TÓPICO 3 - APRENDIZAGEM MEMÓRIA LINGUAGEM E FALA ..........................................153
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153
2 O APRENDIZADO É A AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO ................................................153
3 A MEMÓRIA É A HABILIDADE DE RETER E EVOCAR INFORMAÇÕES ........................154
4 A LINGUAGEM É O COMPORTAMENTO COGNITIVO MAIS ELABORADO ...............159
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................165
X
1
UNIDADE 1
NARRATIVAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• Relacionar as noções de narrativa, realidade e representação;
• Identificar os elementos essenciais da narrativa literária;
• Definir os modos pelos quais a literatura lida com temas da sociedade;
• Explicar a construção do espaço na narrativa;
• Analisar a função dos elementos tempo e espaço na estrutura da narrativa;
• Recordar a teoria do conto;
• Apontar os tipos de contos produzidos ao longo da história da literatura;
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 - NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES 
DE PRINCÍPIO
TÓPICO 2 - NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
TÓPICO 3 - TEMPO E ESPAÇO NA NARRATIVA
TÓPICO 4 - TIPOS TEXTUAIS - A NARRAÇÃO: ELEMENTOS, ESTRUTURA 
E GÊNEROS
TÓPICO 5 - TEORIA DO CONTO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: 
QUESTÕES DE PRINCÍPIO
1 INTRODUÇÃO
Você alguma vez já ficou em dúvida sobre se algo é fato ou ficção? 
Saiba que esse também é um problema comum para os estudos literários, que 
motiva inúmeros debates. Em tais debates, são centrais as noções de realidade e 
representação, assim como as possíveis fronteiras entre elas.
Outro conceito importante para a apreensão da realidade por meio da 
representação é o conceito de narrativa. Em linhas gerais, a narrativa serve para 
contar histórias, criando uma certa ordem para os fatos caó-ticos da existência. E, 
em se tratando da narrativa literária, os fatos são ordenados segundo a adoção de 
alguns elementos e de determinada perspectiva de narração.
Neste texto, você irá estudar as noções de narrativa, representação e 
realidade. Também vai compreender como elas se relacionam e se distanciam. 
Além disso, irá conhecer os elementos essenciais das narrativas literárias e do 
foco narrativo nelas empregado.
2 REPRESENTAÇÃO E REALIDADE: PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS
Embora possam ser entendidas muitas vezes como opostas, as noções 
de “representação” e “realidade” não são rígidas e definitivas. Ao longo da his-
tória, surgiram muitas perspectivas e muitos debates sobre esse tema. Um dos 
debates mais famosos é sem dúvida o gerado pelas discordâncias entre Platão e 
Aristóteles, lá na Antiguidade, mais precisamente no século 4 a.C.
Cronologicamente,a proposta de Platão é mais antiga. Em seu livro A República 
(PLATÃO, 2001), ele classifica a poesia e a pintura como imitação (mimesis), mas o faz 
de um modo pejorativo. Como exemplo, Platão menciona uma mesa. O filósofo afirma 
que o marceneiro, ao produzir uma mesa, realiza uma cópia do modelo já existente no 
mundo das ideias (a mesa que você conhece e reconhece como mesa). Mas o pintor, ao 
representar a mesa na tela, efetua a cópia da cópia: ele copia na tela a cópia da mesa feita 
pelo marceneiro, que, por sua vez, copia a mesa de acordo com a ideia que se tem de 
“mesa”. Veja na Figura 1 um exemplo da mímesis platônica.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
4
FIGURA 1 - EXEMPLO DA MÍMESIS PLATÔNICA
FONTE: Shutterstock. Web. Acesso em: 25 abr. 2020.
Representação e realidade: princípios 
filosóficos
Embora possam ser entendidas muitas vezes como opostas, as noções de 
“representação” e “realidade” não são rígidas e defi nitivas. Ao longo da his-
tória, surgiram muitas perspectivas e muitos debates sobre esse tema. Um 
dos debates mais famosos é sem dúvida o gerado pelas discordâncias entre 
Platão e Aristóteles, lá na Antiguidade, mais precisamente no século 4 a.C. 
Cronologicamente, a proposta de Platão é mais antiga. Em seu livro 
A República (PLATÃO, 2001), ele classifica a poesia e a pintura como imi-
tação (mimesis), mas o faz de um modo pejorativo. Como exemplo, Platão 
menciona uma mesa. O filósofo afirma que o marceneiro, ao produzir uma 
mesa, realiza uma cópia do modelo já existente no mundo das ideias (a mesa 
que você conhece e reconhece como mesa). Mas o pintor, ao representar a 
mesa na tela, efetua a cópia da cópia: ele copia na tela a cópia da mesa feita 
pelo marceneiro, que, por sua vez, copia a mesa de acordo com a ideia que se 
tem de “mesa”. Veja na Figura 1 um exemplo da mímesis platônica.
Figura 1. Exemplo da mímesis platônica.
Fonte: Mesa: donatas1205 / Shutterstock.com; Tela: Zonda / Shutterstock.com
Algo semelhante acontece com a poesia: ao imitar os gestos e as ações 
humanas, o poeta está, da mesma forma, copiando os gestos e as ações que 
são elas mesmas cópias dos gestos e das ações possíveis da vida das pessoas. 
Textos fundamentais de ficção em língua portuguesa12
Textos Fundamentais de Ficção em Língua Portuguesa_U1_C01.indd 12 09/06/2017 15:00:34
Algo semelhante acontece com a poesia: ao imitar os gestos e as ações humanas, o 
poeta está, da mesma forma, copiando os gestos e as ações que são elas mesmas cópias dos 
gestos e das ações possíveis da vida das pessoas.
Em função dessa distância que os poetas possuem da realidade (sendo 
que, para Platão, a realidade é esse mundo das ideias), o trabalho artístico era 
visto por Platão como enganoso e sem seriedade.
Alguns anos depois, Aristóteles, o discípulo mais famoso de Platão, seria o 
responsável por ampliar o horizonte dessa discussão sobre o tema da representação. Na 
sua Arte Poética (ARISTÓTELES, 1995), ele emprega o termo mimesis num sentido que 
foge ao da mimesis platônica (que é ligada às formas/ideias). Em Aristóteles, mimesis é 
a representação artística – no caso, a imitação propriamente dita. Assim, ao contrário 
de Platão, Aristóteles valoriza a arte como representação do mundo. Em função disso, 
passa a ver o que hoje se chama de “belas-artes” (literatura, escultura, música, retórica, 
pintura, etc.) como técnicas, sendo a obra de arte pensada em conformidade com regras 
e procedimentos de fabricação. O artista – aquele que domina uma determinada arte – 
segue essas normas para atingir o fim a que a arte se destina.
Aristóteles foi provavelmente o primeiro teórico de arte da história, pois ele 
se dedicou a considerar as obras de arte de acordo com os métodos (ou meios) de que se 
utilizam e os objetos que imitam/representam. Além disso, foi capaz de destacar qualidades 
e defeitos das obras artísticas de sua época.
INTERESSA
NTE
TÓPICO 1 | NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES DE PRINCÍPIO
5
No que diz respeito ao tema da representação, Aristóteles legou para 
a humanidade a ideia de que representação e realidade são conceitos inter--
relacionados, mas apenas no seguinte sentido: a representação é um tipo especial 
de “manipulação” da realidade. Para criar aquela representação, o artista irá 
adotar os recursos que julgar necessários e estabelecer as distâncias que considera 
relevantes entre o real e o ficcional. Os diversos movimentos artísticos que fazem 
parte da história da arte são, em sentido estrito, as diferentes formas que os 
artistas elegeram para acessar a realidade a partir de suas obras.
Ainda nesse contexto, é importante que você conheça o conceito aristoté-
lico de verossimilhança. Segundo Aristóteles, a representação deve sempre seguir 
certos critérios que a tornem possível. Ou seja, seus efeitos precisam estar de acordo 
com os efeitos da realidade para que ela possa, enfim, suscitar exatamente esses 
efeitos no espectador. Isso não significa que uma obra deva sempre reproduzir 
o modo como as pessoas veem a realidade. Significa, na verdade, que uma obra 
deve estabelecer com a realidade uma relação de lógica e necessidade com as 
referências que ela mesma suscita, de modo que possa ser entendida justamente 
a partir dessa relação. O argumento é o seguinte: de nada adianta uma obra que 
não produz sentidos, que não suscita impressões e interpretações – e produzir 
sentidos, nesse caso, é dialogar com a organização do mundo vivenciada por 
todos. A verossimilhança, portanto, uma lei que opera tanto interna quanto 
externamente: ela atua no interior da obra, costurando as relações entre os 
elementos que a compõem – as relações entre enredo, personagens, tempo, 
espaço, narração, etc. –, ao mesmo tempo em que opera com os fatos e as coisas 
do mundo a que necessariamente faz referência.
Uma obra verossímil é a que utiliza a realidade como pano de fundo, 
ainda que a obra não adote as mesmas regras do mundo factual. Esse pano de 
fundo necessário para que o espectador consiga estabelecer o que você pode 
chamar de pacto ficcional. O espectador tem de saber que o que a obra apresenta 
é uma história imaginária, mas nem por isso deve pensar que o autor dessa obra 
está contando mentiras. É o que ocorre, por exemplo, quando você lê a história 
da Chapeuzinho Vermelho, na qual há um lobo que fala. No mundo real, você 
sabe que os lobos, ao menos no seu estágio atual de evolução, não possuem um 
aparelho fonador suficientemente desenvolvido para que articu-lem palavras, 
tampouco têm a consciência linguística para se comunicarem por intermédio de 
um código verbal. Entretanto, uma vez que você aceite o acordo ficcional assim 
entendido, saber que no mundo real o lobo é incapaz de falar não impedirá a sua 
apreensão do mundo ficcional onde lobos falam e conversam com crianças. Você, 
ao firmar o pacto ficcional, atribui um valor de verdade à obra, embora não esteja 
comparando em igual medida o mundo ficcional ao mundo real.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
6
Ela surpreendeu-se com a aparência da vovozinha, de Gustave Doré, 1867.
Ela surpreendeu-se com a aparência da vovozinha, de Gustave Doré, 1867.
Fonte: Doré (1867).
O conto de fadas é uma narrativa curta com elementos fantásticos. Seus personagens 
normalmente têm origem em tradições folclóricas, como anões, dragões, duendes, 
fadas, gigantes, gnomos, grifos, sereias, animais falantes, unicórnios ou bruxas. Além 
disso, as ações geralmente envolvem magia ou encantamentos. O gênero se difere 
das lendas, que implicam a crença na veracidade dos eventos narrados, e das fábulas, 
que trazem um ensinamento moral explícito. 
A narrativa: conceito e elementos
Para que você estude mais a fundo o conceito de narrativa e os elementos que 
a compõem, cabe mais uma vez retornar à Arte Poética de Aristóteles (1995). 
Lá, o fi lósofo afi rma que a “arte poética” (as artes em geral) é realizada por 
meio da disposição do ritmo, da linguagem e da harmonia. Ele distingue 
diferentes gêneros que exploravam, cada um aseu modo, certos elementos. 
Alguns gêneros abordados por Aristóteles não são mais praticados, como o 
ditirambo (um canto coral entusiástico e exuberante dirigido aos deuses), mas 
outros gêneros, como a epopeia e o teatro, ainda hoje podem ser estudados 
segundo os critérios aristotélicos. Assim, é possível afi rmar que o fi lósofo deu 
15Narrativa, realidade e representação: questões de princípio
Textos Fundamentais de Ficção em Língua Portuguesa_U1_C01.indd 15 09/06/2017 15:00:34
Fonte: Doré (1867).
O conto de fadas é uma narrativa curta com elementos fantásticos. Seus personagens 
normalmente têm origem em tradições folclóricas, como anões, dragões, duendes, fadas, 
gigantes, gnomos, grifos, sereias, animais falantes, unicórnios ou bruxas. Além disso, as 
ações geralmente envolvem magia ou encantamentos. O gênero se difere das lendas, 
que implicam a crença na veracidade dos eventos narrados, e das fábulas, que trazem um 
ensinamento moral explícito.
INTERESSA
NTE
3 A NARRATIVA: CONCEITO E ELEMENTOS
Para que você estude mais a fundo o conceito de narrativa e os elementos 
que a compõem, cabe mais uma vez retornar à Arte Poética de Aristóteles (1995). 
Lá, o filósofo afirma que a “arte poética” (as artes em geral) é realizada por meio 
da disposição do ritmo, da linguagem e da harmonia. Ele distingue diferentes 
gêneros que exploravam, cada um a seu modo, certos elementos. Alguns gêneros 
abordados por Aristóteles não são mais praticados, como o ditirambo (um canto 
coral entusiástico e exuberante dirigido aos deuses), mas outros gêneros, como 
a epopeia e o teatro, ainda hoje podem ser estudados segundo os critérios aris-
totélicos. Assim, é possível afirmar que o filósofo deu muitas contribuições para 
as teorias das artes que você estuda atualmente. É dele, por exemplo, o conceito 
de catarse e a divisão dos gêneros miméticos em função dos meios narrativo e 
dramático.
TÓPICO 1 | NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES DE PRINCÍPIO
7
A obra Arte Poética, de Aristóteles (1995), não chegou completa aos dias 
atuais. Somente a parte referente à tragédia está inteira. Segundo Aristóteles, a tragédia 
é capaz de promover a catarse, ou seja, tem uma função ético-pedagógica que incide 
sobre o espectador, fazendo-o sentir os sentimentos narrados e vivenciá-los interiormente, 
experimentando em seguida a libertação. Para entender esse conceito, pense, por exemplo, 
em quando você assiste a um filme e chora. Você chora porque vivenciou o efeito catártico 
gerado pelo filme, porque experimentou intensamente a problemática da obra e se 
“purificou” com ela.
ATENCAO
Essa divisão das obras artísticas em gêneros, em especial as obras literá-
rias, vem sendo desde então discutida, ampliada e alterada, satisfazendo às 
características de cada época. Os gêneros literários tradicionalmente podem ser 
divididos ou em dois grupos – poesia e prosa – ou em três categorias – lírico, 
narrativo e dramático.
A primeira classificação é baseada no fator ritmo. Nela você encontra:
• Poesia: gênero com ritmo marcado – com a repetição de fonemas, os acentos, 
o jogo de pausas vocais, a pontuação especial, etc.
• Prosa: gênero com ritmo não marcado – com a preservação do ritmo espontâneo 
que a linguagem verbal possui em seu uso cotidiano, fora da literatura.
A segunda classificação leva em conta o fator estilo, que divide os gêneros 
em seus diferentes tipos:
• Lírico: voltado para a expressão de sentimentos e emoções – como a exaltação 
de alguém, um acontecimento ou um sentimento, como o amor. O gênero 
lírico se caracteriza por não contar histórias.
• Narrativo: usado para contar histórias. A história é apresentada ao leitor 
por meio da mediação de um narrador. Pode conter narrações, descrições, 
diálogos e dissertações.
• Dramático: gênero também usado para contar histórias, mas estas são 
apresentadas ao leitor sem a mediação de um narrador, ou seja, são contadas 
diretamente pelos diálogos das personagens.
Agora, você irá conhecer melhor a caracterização do gênero narrativo e, mais 
adiante, da narrativa literária.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
8
Em linhas gerais, o conceito de “narrativa” está relacionado ao hábito de contar 
histórias. Não se resume, portanto, à literatura (seja ela oral ou escrita), pois quadros, filmes, 
músicas, entre outras expressões artísticas, também podem ter por função primordial contar 
histórias e produzir sentidos.
ATENCAO
O hábito de contar histórias acompanha o ser humano há muitos séculos. 
Nesse contexto, se pode afirmar que a narrativa surgiu da necessidade de criar 
uma certa unidade para essas histórias. Assim, as narrativas desempe-nham a 
função de oferecer um certo ordenamento, uma forma no tumulto da experiência 
humana.
A narrativa literária, por sua vez, é caracterizada pela dinamicidade, pela 
objetividade e por vezes pela subjetividade, mescladas às ações que se apresen-
tam. O texto narrativo é um sistema complexo e imprevisível de possibilidades 
interpretativas, que trabalha continuamente com o real e o imaginário. A partir 
das situações vividas pelas personagens, a narrativa aproxima realidade e 
representação de fatos, lidando continuamente com o possível e o impossível. 
Assim, a narrativa tem por objetivos, além de relatar, produzir informação, 
aprendizado e/ou entretenimento. Nesse sentido, o leitor pode se apropriar dos 
sentidos que ecoam da narrativa até se identificar com o que está lendo.
A narrativa se estrutura conforme uma rede de relações entre os seguintes 
elementos essenciais:
• Enredo: aqui se fundamentam e se desenvolvem as ações da estrutura da 
narrativa.
• Personagens: executam as ações. Dividem-se em protagonista (perso-
nagem principal), coadjuvantes (personagens secundárias) e antagonista 
(personagem que se opõe à personagem principal).
• Narrador: relata os fatos. Existem vários tipos de narradores: narrador--
personagem, narrador-observador, narrador onisciente, entre outros. A 
identificação do narrador depende da perspectiva adotada perante os fatos 
narrados: basicamente, ou o narrador participa da história ou é somente um 
espectador.
• Tempo: momento ou época em que acontecem os fatos. O tempo poderá ser 
cronológico (linear) ou psicológico (não linear).
TÓPICO 1 | NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES DE PRINCÍPIO
9
• Espaço: local ou cenário onde se desenrolam os fatos narrados.
3.1 TIPOS DE NARRATIVA
Você já viu que o gênero narrativo serve para contar histórias e é 
estruturado conforme alguns elementos. Agora, acompanhe as definições de 
alguns dos principais tipos de narrativa.
• Epopeia: longo poema narrativo, de tom solene e elevado. O tema da epopeia, 
ao contrário daqueles dos demais tipos de narrativa, é limitado, tratando 
sempre de um assunto heroico e nacional. Constitui a primeira modalidade 
narrativa criada e é escrita em verso. Seus exemplos má-ximos são Ilíada e 
Odisseia, de Homero.
• Romance: narrativa longa que envolve um número considerável de 
personagens (em relação à novela e ao conto), bem como um maior número de 
conflitos e tempo e espaço mais dilatados. Embora haja romances que datem 
do século XVI (D. Quixote de La Mancha, de Cervantes, por exemplo), esse 
tipo de narrativa se consagrou sobretudo no século 19, assumindo o papel de 
refletir a sociedade burguesa, e vem se renovando desde então.
• Novela: tipo mais curto de romance, ou seja, tem um número menor de 
personagens, conflitos e espaços, ou os tem em igual número ao romance, com 
a diferença de que na novela a ação no tempo é mais veloz. Um exemplo de 
novela seria Max e os felinos, de Moacyr Scliar, na qual o personagem central, 
Max, vive muitas aventuras.
• Conto: narrativa mais curta que tem como característica central con-densar 
conflito, tempo e espaço, bem como reduzir o número de per-sonagens. O 
conto é um tipo de narrativa tradicional, isto é, já adotada por muitos autores 
nos séculos XVI e XVII, como Cervantes e Voltaire. Atualmente tem adquirido 
atributos diferentes,como deixar de lado a intenção moralizante e adotar o 
fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo.
• Crônica: texto curto, leve, que geralmente aborda temas do cotidiano. É um 
texto híbrido, que pode ter diferentes funções além de narrar, como contar, 
comentar, descrever e analisar.
3.2 FOCO NARRATIVO
Analisar os tipos de narrador, embora essencial para os estudos literários, 
não se trata de uma tarefa simples. O estudo do foco narrativo pode ser definido 
como um problema técnico da ficção que supõe fazer algumas perguntas 
fundamentais, sintetizadas por Lígia Chiappini em O foco nar-rativo (LEITE, 1985):
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
10
1. Quem conta a história? Trata-se de um narrador em primeira ou em terceira 
pessoa; de uma personagem em primeira pessoa; ou não há ninguém narrando?
2. De que posição ou ângulo em relação à história o narrador conta (por cima, na 
periferia, no centro, de frente, ou mudando)?
3. Que canais de informação o narrador usa para comunicar a história ao leitor? 
(palavras? pensamentos? percepções? sentimentos? do au-tor? da personagem? 
ações? falas do autor? da personagem? ou uma combinação disso tudo?)
4. A que distância ele coloca o leitor da história? (próximo? distante? mudando?)
Após coletar tais propriedades da narração, você pode adotar uma 
tipolo-gia básica de narradores para caracterizar o foco narrativo empregado. 
Uma tipologia interessante é a de Norman Friedman (2002), apresentada no 
famoso ensaio O ponto de vista na ficção. Friedman (2002) vai elencar as seguintes 
classificações:
3.2.1 Autor onisciente intruso
Esse tipo de narrador tem a liberdade de narrar à vontade, de se colocar 
acima ou atrás, adotando um ponto de vista divino para além dos limites de 
tempo e espaço. Pode também narrar da periferia dos acontecimentos, ou do 
centro deles, ou ainda se limitar a narrar como se estivesse de fora, ou de frente, 
podendo, inclusive, mudar e adotar sucessivamente várias posições. Como 
canais de informação, predominam suas próprias palavras e seus pensamentos e 
percepções. Seu traço característico é a intrusão, ou seja, seus comentários sobre 
a vida, os costumes, os caracteres, a moral, que podem ou não estar entrosados 
com a história narrada.
3.2.2 Narrador onisciente neutro
Narrador em terceira pessoa que, embora semelhante no modo de narrar 
(ân-gulo, distância, canais) ao autor onisciente intruso, se distingue pela ausência 
de instruções e comentários sobre temas gerais ou mesmo sobre o comportamento 
das personagens. Apesar disso, sua presença, se interpondo entre o leitor e a 
história, é sempre muito clara.
3.2.3 “Eu” como testemunha
Narra em primeira pessoa, mas é um “eu” já interno à narrativa. Ele 
vive os acon-tecimentos aí descritos como personagem secundária que pode 
observar, desde dentro, os acontecimentos. Portanto, os oferece ao leitor de modo 
TÓPICO 1 | NARRATIVA, REALIDADE E REPRESENTAÇÃO: QUESTÕES DE PRINCÍPIO
11
mais direto, mais verossímil. No caso do “eu” como testemunha, o ângulo de 
visão é, neces-sariamente, mais limitado. Como personagem secundária, ele 
narra da periferia dos acontecimentos, sem conseguir saber o que se passa na 
cabeça dos outros; ele pode apenas inferir, lançar hipóteses, se servindo também 
de informações, de coisas que viu ou ouviu e, até mesmo, de cartas ou outros 
documentos secretos que tenham caído em suas mãos. Quanto à distância em que 
o leitor é colocado, pode ser próxima ou remota, ou ambas, porque esse narrador 
tanto sintetiza a narrativa quanto a apresenta em cenas. Nesse caso, sempre narra 
as cenas como as vê.
3.2.4 Narrador-protagonista
O narrador, personagem central, não tem acesso ao estado mental das 
demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado quase que exclusivamente 
às suas percepções e aos seus pensamentos e sentimentos.
3.2.5 Onisciência seletiva múltipla
Não há propriamente narrador. A história vem diretamente da mente 
das personagens, das impressões que fatos e pessoas deixam nelas. Difere da 
onisciência neutra porque agora o autor traduz detalhadamente os pensamentos, 
percepções e sentimentos, filtrados pela mente das personagens – enquanto o 
narrador onisciente os resume depois de terem ocorrido. O que predomina no 
caso da onisciência múltipla, como no caso da onisciência seletiva que vem logo a 
seguir, é o estilo indireto livre, ao passo que na onisciência neutra o predomínio 
é do estilo indireto. Os canais de informação e os ângulos de visão podem ser 
vários, nesse caso.
3.2.6 Onisciência seletiva
Essa é uma categoria semelhante à anterior, mas que recai sobre uma só 
perso-nagem, e não muitas. É, como no caso do narrador-protagonista, a limitação 
a um centro fixo. O ângulo é central, e os canais são limitados aos sentimentos, 
pensamentos e percepções da personagem central, sendo mostrados diretamente.
Além desses, Friedman aponta para tipos de narração que acontecem com 
a exclusão tanto do autor quanto do narrador. Isso ocorre quando se eliminam os 
estados mentais e se limita a informação ao que as personagens falam ou fazem 
– como no teatro –, com breves notações de cena amarrando os diálogos. Assim, 
surgem os tipos modo dramático e câmera.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
12
3.2.7 Modo dramático
Em virtude da eliminação da figura presente do narrador ou da voz 
narrativa, nesse tipo narrativo cabe ao leitor deduzir as significações a partir 
dos movi-mentos e das palavras das personagens. O ângulo é frontal e fixo, e a 
distância entre a história e o leitor, pequena, já que o texto se faz por uma sucessão 
de cenas. Trata-se de uma técnica dificilmente sustentável em textos longos.
3.2.8 Câmera
Significa o máximo em matéria de “exclusão do autor”. Essa categoria 
serve àquelas narrativas que tentam transmitir flashes da realidade como se 
fossem apanhados por uma câmera, de modo arbitrário e mecânico.
No momento em que são apontados os tipos de narrador, Friedman (2002) 
salienta que, embora seja possível identificar, por meios internos da obra, a existência de um 
ou outro tipo, se trata sempre de uma questão de predominância e não de exclusividade. 
Isso porque é difícil encontrar, numa obra de ficção, especialmente quando ela é rica em 
recursos narrativos, qualquer uma dessas categorias em estado puro.
INTERESSA
NTE
13
Neste tópico, você aprendeu que:
• No que concerne à narrativa, há polêmicas entre o que é considerado realidade, 
e o que é considerado representação. 
• Tanto a representação, quanto a realidade apresentam princípios filosóficos.
• A narrativa é composta por determinados elementos. 
• Existem diferentes tipos de narrativa.
• O foco narrativo abrange pelo menos quatro perguntas específicas, que 
precisam ser claramente definidas pelo autor da narrativa. 
• Existem distinções entre autor onisciente intruso, narrador onisciente neutro, 
"eu” como testemunha, narrador-protagonista, onisciência seletiva múltipla, 
onisciência seletiva, modo dramático e câmera.
RESUMO DO TÓPICO 1
14
1. Nobre (et al, 2018, p. 5), fizeram um estudo sobre população em situação de 
rua, seus modos de vida, manifestações de resistência e narrativas. De acordo 
com as autoras supracitadas, "As narrativas femininas extrapolam as questões 
de gênero e dizem respeito aos modos de vida de muitas outras pessoas que 
vivem nas/das ruas". Diante do exposto, classifique V para sentenças verdadei-
ras e F para as falsas:
Fonte: NOBRE, Maria Teresa et al . NARRATIVAS DE MODOS DE VIDA NA RUA: HISTÓRIAS E 
PERCURSOS. Psicol. Soc., Belo Horizonte , v. 30, e175636, 2018. Disponível em <https://bit.
ly/3j9ThRL>. acessos em 07 jul. 2020. Epub 08-Out-2018. https://bit.ly/3fAKshH.
( ) A narrativa serve para contar histórias, criando uma certa desordem para 
os fatos ordenados da existência.
( ) O conto de fadas é uma narrativa curta com elementos fantásticos. 
( ) A narrativa surgiu da necessidade de criar uma certa unidade para essas 
histórias.
( ) A narrativa tem por objetivos, relatar,produzir informação, aprendizado 
e/ou entretenimento.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F - V - V - V.
b ) ( ) V - F - V - F.
c ) ( ) F - V - F - V.
d ) ( ) V - F - F - F.
2. Segundo o estudo de Nobre (et al, 2018, p. 9) sobre as narrativas feitas por 
pessoas em situação de rua, pode-se "[...] afirmar que cada uma das narrativas 
alcança as subversões ao modo capitalístico excludente e violento que atinge, 
sobretudo, os corpos femininos, pobres e negros de nosso país". Assim sendo, 
analise as sentenças que seguem:
Fonte: NOBRE, Maria Teresa et al . NARRATIVAS DE MODOS DE VIDA NA RUA: HISTÓRIAS E 
PERCURSOS. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 30, e175636, 2018. Disponível em <https://bit.
ly/3j9ThRL>. acessos em 07 jul. 2020. Epub 08-Out-2018. https://bit.ly/3fAKshH.
I - As narrativas desempenham a função de oferecer um certo ordenamento, 
uma forma no tumulto da experiência humana.
II - A narrativa literária é caracterizada pela dinamicidade, pela objetividade e 
por vezes pela subjetividade, mescladas às ações que se apresentam. 
III - O texto narrativo é um sistema simples e previsível quanto às possibilidades 
interpretativas, que trabalha continuamente com a ficção.
Agora assinale a alternativa CORRETA:
a ) ( ) Estão corretas as sentenças I e II.
b ) ( ) Estão corretas as sentenças I e III.
c ) ( ) Estão corretas as sentenças II e III.
d ) ( ) Apenas a sentença II está correta.
AUTOATIVIDADE
15
TÓPICO 2
NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Você já sabe que, como um produto cultural, o texto literário não é des-
-vinculado do contexto social em que é produzido. Mas você sabia que, se a lite-
ratura emerge de uma determinada realidade histórica, isso não quer dizer que 
ela deva ser o registro fiel da história? Isso porque a obra literária pode se insurgir 
contra esse real, ou porque, hoje em dia, a própria noção de “verdade histórica” 
é questionada.
Neste texto, você irá estudar os conceitos e as relações entre narrativa/ 
literatura, história e sociedade. Além disso, irá conhecer alguns exemplos de tex-
tos literários em que as aproximações com a história e a sociedade são elementos 
marcantes.
2 RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA
Os distanciamentos e os entrecruzamentos entre literatura e história são 
debatidos desde a Antiguidade. Um exemplo é o texto Arte Poética, de Aristóteles, 
datado do século 4 a.C. Nele, Aristóteles (1995) afirma que a poesia (literatura) e a 
história se aproximam pela presença do mito (da narrativa). O filósofo sustenta que 
tanto a literatura quanto a história fazem uso do mito, da forma narrativa, mas elas 
diferem quanto às relações que estabelecem com o mundo relatado.
Segundo Aristóteles, a história é regida pelo princípio da verdade, rela-
-tando o que de fato aconteceu. Assim, a história estaria comprometida com a 
factualidade, sendo a narração dos fatos históricos atrelada ao modo exato como 
esses fatos se sucederam na realidade.
Já a literatura tem o compromisso com a verossimilhança, isto é, com o 
que poderia ter acontecido. A literatura, portanto, obedece à noção de necessi-
dade, no sentido de que uma obra deve estabelecer com a realidade uma relação 
de lógica e necessidade com as referências que ela mesma suscita, de modo que 
possa ser compreendida pelo público justamente a partir dessa relação. Assim, a 
verossimilhança opera na literatura tanto interna quanto externamente: ela opera 
no interior da obra, costurando as relações entre os elementos que a compõem – 
as relações entre enredo, personagens, tempo, espaço, narração, etc. –, ao mesmo 
tempo em que opera com os fatos e as coisas do mundo a que faz referência.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
16
De certo modo, a perspectiva aristotélica segundo a qual a literatura e a 
história compartilham a forma narrativa é ainda hoje relevante aos estudos literá-
rios. Porém, os debates contemporâneos divergem sobre as relações que a história 
e a literatura estabelecem com a realidade/a sociedade em que se inserem. Tais di-
vergências são decorrentes, sobretudo, da indefinição dos limites entre literatura 
e história e do próprio conceito – sempre questionado – de história.
Roland Barthes (2004), um dos estudiosos contemporâneos que se dedica 
ao tema, vai dizer, concordando com Aristóteles, que a história e a literatura são 
formas narrativas. Além disso, Barthes acrescenta que as narrativas históricas e 
literárias existem apenas no plano do discurso. Sua significação é adquirida so-
mente no momento em que são articuladas linguisticamente. Contudo, enquanto 
que Aristóteles opõe literatura e história levando em consideração a relação que 
ambas mantêm com a realidade (excluindo, assim, a literatura, que é orientada 
pela verossimilhança), Barthes afirma que essa oposição é irrelevante. Para ele, 
tanto o literato quanto o historiador transformam os seus discursos em significan-
te, gerando sentidos a partir do tratamento particular que dão aos aspectos narra-
dos. Assim, segundo Barthes (2004), não seria possível estabelecer limites claros 
entre o discurso literário e o discurso historiográfico. Isso porque ambos são tipos 
de produção narrativa e, sendo assim, resultados de configurações linguísticas 
que visam a produzir sentidos variados.
Outro estudioso, Hayden White (2001), também corrobora a perspectiva 
de Aristóteles de que a literatura e a história são formas narrativas. Ele também 
reafirma a posição de Barthes no que diz respeito ao entendimento de que o ofício 
do escritor e do historiador é o de organizar o discurso narrado para produzir 
sentidos. White, no entanto, em oposição a Barthes, afirma que o discurso literá-
rio e o discurso historiográfico se diferenciam em função da maneira com a qual 
manipulam a matéria narrada. Segundo White (2001), enquanto que o discurso 
literário é dotado de liberdade artística, sendo o resultado de um ato de imagina-
ção e inventividade, o discurso historiográfico obedece a elementos extratextuais, 
No século XVIII, os estudos da história eram baseados na visão “positivista” legada 
por Auguste Comte. Segundo essa visão, a história era caracterizada pela estrita observação 
dos fatos, pela ausência de subjetivismo e ornamento e pela busca da pura “verdade histórica”. 
Tratava-se, assim, do historicismo, que tomava os registros da história como registros científicos, 
“objetivos” dos fatos. Acreditava-se reproduzir a realidade em sua totalidade e de maneira neutra 
e fiel. Do século XX para cá, os estudos da história passaram a pertencer ao domínio da histo-
riografia, que revela justamente a natureza narrativa (grafia = escrita) dos seus registros. Assim, a 
historiografia exige que o histo-riador reconheça que o fato histórico não é um fato objetivo. Ele 
é o produto de uma construção ativa para transformar a fonte em documento e, em seguida, 
constituir esse documento, esse fato histórico, em problema. Com isso, os discursos da história 
perdem o estatuto de “verdade”. Eles passam a ser discursos construídos a partir do ponto de 
vista do historiador acerca dos dados por ele considerados – resultando, assim, em uma per-
cepção mais maleável e menos pretenciosa sobre o conceito de história.
ATENCAO
TÓPICO 2 | NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
17
Quando você considera especificamente a narrativa literária, pode conce-
bê-la como uma ferramenta dinâmica e complexa de manipulação da linguagem 
verbal. O texto literário é caracterizado por gerar inúmeras possibilidades inter-
pretativas, trabalhando ao mesmo tempo com o real e o imaginário. A partir das 
situações vividas pelas personagens, a narrativa literária aproxima realidade e 
representação de fatos, lidando continuamente com o possível e o impossível.
Na seção anterior, você leu que o discurso literário não tem o mesmo com-
promisso com a realidade que tem o discurso historiográfico. Certo, é isso mes-
mo. Mas essa afirmação não quer dizer que a literatura não tenha o real como re-
ferente. Desse modo, vocêpode pensar que, muito embora uma obra literária não 
deva ser lida como um objeto de relato factual, ela não está apartada do mundo. 
A literatura, afinal, é uma produção cultural humana, sendo, por isso, histórica, 
cultural e socialmente situada.
Prova disso é que você provavelmente já leu obras literárias e percebeu 
como elas lidavam com temas da sociedade da qual emergiram. Por exemplo, se 
os quais são trazidos para o texto e costu-rados com elementos imaginados pelo 
autor. Os elementos extratextuais são os que dizem respeito aos fatos históricos 
que servem de base para a escrita do historiador. Tais fatos, por existirem inde-
pendentemente da vontade do autor, impõem certos parâmetros à escrita histo-
riográfica. Nessa escrita, o historiador deve perseguir a realidade (ainda que a 
realidade não seja algo totalmente recuperável). O literato, ao contrário, não tem 
esse mesmo com-promisso com a realidade, pois seu ofício lhe permite, além de 
se referir a fatos reais, criar eventos ficcionais.
3 NARRATIVA, LITERATURA E SOCIEDADE
O conceito de “narrativa” está relacionado ao hábito de contar histórias. 
Nesse sentido, as narrativas assumem a função de proporcionar certo ordenamento 
em meio ao tumulto das experiências humanas, conferindo alguma unidade aos 
eventos, aos pensamentos, às sensações, às angústias e às fantasias do ser humano. 
Além disso, as narrativas proporcionam a manutenção da memória coletiva, guar-
dando e propagando os ideais das sociedades para suas gerações posteriores.
Em sentido estrito, a narrativa é um produto da linguagem e, por conseguinte, 
um mecanismo de produção de sentidos. Por isso, ela não se resume ao âmbito da litera-
tura (seja ela oral ou escrita), já que quadros, filmes, músicas, entre outras expressões 
artísticas, por meio de suas diferentes modalidades de linguagem, também têm por função 
primordial veicular sentidos e gerar interpretações.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
18
você leu Vidas secas, de Graciliano Ramos (2008), deve ter notado, entre outras 
coisas, como a família do personagem Fabiano lutava para deixar para trás o ser-
tão impiedoso e buscar uma vida melhor em paisagens menos hostis, vivendo o 
drama da miséria e da desesperança. Ao mesmo tempo, você deve ter percebido 
que a narrativa de Vidas secas guarda relações com uma sociedade excludente 
e desigual. Isto é, essa sociedade se transforma em elementos que caracterizam 
as relações humanas retratadas na narrativa, como a exploração decorrente das 
imposições do patrão desonesto feitas ao trabalhador necessitado, as injustiças 
promovidas pelo comportamento policial repressor e o mal-estar gerado pelo 
contato de diferentes classes sociais. Em tal caso, o livro de Graciliano Ramos, 
além de ser um belíssimo exercício de escrita e de produção de sentidos variados, 
promove uma visão crítica das relações sociais, ressaltando o homem hostilizado 
pelo ambiente, pela terra, pela cidade e pelo próprio homem. Assim, Vidas secas, 
lançado em 1938, oferece um cenário rico em significações, incluindo a represen-
tação de um Brasil das primeiras décadas do século XX – representação que em 
muitos aspectos não perde a atualidade.
Os retirantes, de Cândido Portinari, 1944.
FONTE: <https://bit.ly/3dwgsCy>. Acesso em: 25 abr. 2020.
É recorrente nas artes brasileiras a representação de uma realidade marcada por miséria, 
ignorância e opressão nas relações sociais e de trabalho, bem como pela força da natureza 
impiedosa sobre um homem completamente desprotegido. Assim como Vidas secas, em 
INTERESSA
NTE
TÓPICO 2 | NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
19
Em cada época, escritores e livros contribuem para que os leitores conhe-
çam diferentes momentos históricos e configurações sociais. A obra literária, por-
tanto, encontra-se sempre inserida em um contexto, relacionando-se de algum 
modo com a sociedade em que é produzida. Às vezes, a relação entre literatura e 
sociedade é algo tratado de modo mais evidente na superfície da narrativa; nou-
tras vezes, essa relação é menos imediata, estando profundamente atrelada a uma 
rede de imagens ficcionais e fantásticas.
Por isso, em se tratando do modo como se leem os textos literários – no 
âmbito da crítica literária –, não é preciso avaliar o valor de uma obra em função 
de como ela consegue ou não exprimir algum aspecto da realidade. Segundo o 
crítico Antonio Candido (2006), é preciso sempre fundir o texto ao contexto em 
uma interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o texto considerado em 
seus aspectos formais e próprios quanto o ponto de vista que olha para aspectos 
externos à obra se combinam enquanto elementos necessá-rios do processo inter-
pretativo. Isso é importante porque o externo (no caso, o social) funciona na obra 
não como causa ou significado, mas como elemento que desempenha um certo 
papel na constituição da narrativa, se tornando, portanto, interno. Voltando ao 
exemplo de Vidas secas, de Graciliano Ramos: você não precisa entender o con-
texto social de miséria e desigualdades como algo presente na obra apenas para 
servir de matéria ou suporte para se retratar a história ficcional dessa família de 
retirantes. O contexto social presente na obra é, ao contrário, um componente in-
tegrante do próprio drama de Vidas secas, livro no qual se pode dizer que ocorre 
justamente esse entrosamento da dor humana na tortura da paisagem.
4 SOCIEDADE, LITERATURA E CRÍTICA LITERÁRIA
Você viu que, na perspectiva de Antonio Candido, os aspectos de uma 
obra literária que podem ser lidos em função do contexto social não são mera-
mente ilustrativos, como se apenas servissem para fixar a obra em uma certa épo-
ca e em uma sociedade determinada. Segundo Candido (2006), a relação que uma 
narrativa literária estabelece com os aspectos sociais é, na verdade, uma relação 
construída internamente, no interior das estruturas significantes de que o texto se 
nutre para se constituir.
que o leitor acompanha a fuga de uma família sertaneja pobre para um futuro incerto, o 
quadro Os retirantes, de Cândido Portinari, mostra o drama dos retirantes expulsos pela 
pobreza e pelo ambiente inóspito, que estão indo não se sabe bem para onde. Os corpos 
famintos e esqueléticos, as fisionomias de desesperança e angústia, as trouxas de roupa 
carregando os ínfimos bens, o cenário sombrio e desolado, os urubus à espera dos corpos 
mortos, o efeito da foice, representando a morte, no cajado do velho unido ao urubu ao 
longe, a súplica ao espectador que é encarado de frente pelas figuras... tudo faz parte de 
uma obra que, em tom de denúncia, reflete o problema da seca e da miséria que afeta 
muitos brasileiros, em especial os que vivem no sertão nordestino, e que compromete a 
sobrevivência e a dignidade de gerações consecutivas, de avós, pais e filhos.
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
20
Desse modo, o estudo literário sobre as confluências entre literatura e so-
ciedade pode deixar de partir dos aspectos periféricos da sociologia ou da histó-
ria para chegar a uma interpretação estética que assimila a dimensão social como 
fator de arte. Isso quer dizer que o elemento social se torna um dos muitos que 
interferem na constituição do texto, ao lado dos elementos psicológicos, religio-
sos, linguísticos e outros. Todos eles, no conjunto, tra-balham para tornar a obra 
literária um mecanismo gerador de múltiplas e variadas interpretações.
Com tais observações, Candido pretende desvencilhar os estudos literá-
rios da crítica de postura determinista. Essa crítica não corresponde a uma abor-
dagem única, mas se encontra vinculada, de certa forma, a diferentes tipos de 
estudos em que há o deslocamento de interesse da obra para os elementos sociais 
que formam a sua matéria, para as circunstâncias do meio que influíram na sua 
elaboração ou para a sua função na sociedade. Enquanto crítico literário, ou seja, 
enquanto pesquisador da obra literária em si mesma e nas suas relações, Candido 
considera que seis tipos de estudos se distanciam da literaturapara promover 
pesquisas situadas unicamente nos campos da sociologia e da história, embora 
suas análises partam de obras literárias. São eles (CANDIDO, 2006):
• Estudos que procuram relacionar o conjunto de uma literatura, um período, 
um gênero, com as condições sociais. Esse é o método tradi-cional, esboçado 
no século XVIII, que equiparava a realidade histórica à configuração ficcional, 
visando a explicitar os nexos causais entre ambos.
• Estudos que procuram verificar em que medida as obras espelham ou 
representam a sociedade, descrevendo os seus vários aspectos. É a modalidade 
mais simples e mais comum, consistindo basicamente em estabelecer 
correlações entre os aspectos reais e os que aparecem no livro.
• Estudos da relação entre a obra e o público, isto é, o seu destino, a sua aceitação 
ou a ação recíproca de ambos.
• Estudos da posição e da função social do escritor, procurando rela-cionar 
a sua posição com a natureza da sua produção e ambas com a organização 
da sociedade, sendo importante, por exemplo, a reflexão sobre o estatuto e a 
tarefa do intelectual.
• Estudos da função política das obras e dos autores, em geral com intuito 
ideológico marcado, a exemplo dos autores de orientação marxista.
• Estudos sobre a investigação hipotética das origens, seja da literatura em 
geral, seja de determinados gêneros. São temas de interesse, por exemplo, 
as raízes da poesia, a correlação entre o trabalho e o ritmo poético e as raízes 
sociais da tragédia grega.
Candido reconhece a relevância desses grupos de estudos, inclusive como 
fonte para o crítico literário. Mas o que o incomoda é que, por vezes, estudos 
como esses encerram a obra literária em uma rede de conexões com o mundo 
externo que pode, por fim, limitar o seu alcance enquanto obra de arte, geradora 
de efeitos múltiplos.
Sendo assim, nada impede que se adote uma ou mais daquelas aborda-
gens. O importante é que você saiba que, embora a literatura, como fenômeno de 
civilização, dependa do entrelaçamento de vários fatores sociais para se consti-
tuir, seu trabalho com a obra literária deve estar atento ao caráter sempre aberto 
TÓPICO 2 | NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
21
do produto estético, não tomando interpretações pontuais como definitivas. Você 
deve sempre, entre outras coisas, atentar para a relação arbitrária e deformante 
que o trabalho artístico estabelece com a realidade, mesmo quando pretende ob-
servá-la e transpô-la rigorosamente. Isso porque a representação é sempre uma 
forma de construção, de produção. Como tal, resulta de um processo, da junção 
de vários elementos, inclusive dos elementos intertextuais, os quais podem ser 
citados textualmente ou apenas vagamente aludidos.
Para compreender como a sociedade se transforma em um elemento 
da narrativa, você não precisa isolar esse elemento, como se ele não fosse um 
componente importante para a compreensão de outros. Nos textos literários, a 
sociedade vem para dentro da narrativa literária para funcionar como mais um 
recurso a serviço da abertura da obra, da sua elaboração estética.
Assim, para que não se confunda o discurso literário com o discurso, por 
exemplo, historiográfico, é sempre necessário considerar que o “contexto” da obra 
literária não é somente a sociedade considerada em sua globalidade, mas, em 
primeiro lugar, o campo literário que obedece a regras de construção específicas.
5 REGISTROS DA HISTÓRIA EM TEXTOS LITERÁRIOS
Você já sabe que, como um produto cultural, o texto literário não é des-
vinculado do contexto social em que é produzido. Além disso, você aprendeu 
que a literatura pode estabelecer diferentes e variadas relações com os fatos da 
realidade e com as configurações sociais e históricas do mundo.
No que diz respeito aos entrecruzamentos entre a literatura e a história, mui-
tas possibilidades podem ser suscitadas. Uma delas é o já comentado compartilha-
mento da forma narrativa. Tanto a literatura quanto a história são construídas a partir 
da adoção de recursos narrativos. No caso da história, seu discurso é narrativamente 
organizado a partir do ponto de vista do sujeito historiador. Isso também pode indi-
car que a historiografia é, em certo sentido, um tipo de invenção. Já a literatura tem a 
liberdade de poder tanto retratar eventos históricos e ambientes conhecidos quanto, 
por exemplo, criar universos imaginados e fantásticos ou mesmo futurísticos.
A intertextualidade é um conceito que explicita a relação que a literatura 
estabelece com o mundo e consigo mesma – com sua história, com a história de suas 
produções, com a longa caminhada de suas origens. Os textos, assim, nascem uns dos 
outros, influenciam uns aos outros, embora isso não signifique que ocorra uma reprodução 
pura e simples ou uma adoção plena. Segundo Tiphaine Samoyault (2008), essa retomada 
de um texto existente pode ser aleatória ou consentida, vaga lembrança, homenagem 
simples, submissão a um modelo, subversão ao cânone ou inspiração voluntária. Desse 
modo, você deve compreender que todo texto se constrói como um mosaico de citações, 
todo texto é a absorção e a transformação de um outro texto.
ATENCAO
UNIDADE 1 | NARRATIVAS
22
Outra possibilidade é a de acessar, por meio do texto literário, indícios do 
passado. Isso ocorre quando o texto é tomado enquanto criação de um escritor 
situado historicamente em um determinado tempo e espaço do qual ele enuncia.
Alguns grupos de textos literários, além de tecerem relações variadas com 
a realidade, trazem como aspectos centrais de sua construção a aproximação com 
os discursos da história. Você conhecerá quatro desses grupos de textos que pro-
põem tal aproximação, nos quais diferentes posturas podem ser assumidas – seja 
para confirmar a narrativa histórica, seja para construir sobre ela uma outra ver-
são, subvertendo-a. Os grupos são caracterizados como: romance histórico tradi-
cional, metaficção historiográfica, literatura de testemunho e crônica.
No romance histórico tradicional, ocorre justamente o que seu nome in-
dica: uma produtiva articulação entre literatura e história. Essa articulação, con-
tudo, depende de uma visão sacralizada e totalizadora do passado, pois o ro-
mance histórico tradicional é caracterizado sobretudo pela adoção da concepção 
de história assumida pela corrente positivista, para a qual é possível reproduzir 
fielmente o passado. Assim, o escritor do romance histórico tradicional acredita 
estar reconstruindo o passado de maneira “neutra” e “objetiva”, lançando mão 
de personagens históricos que ajudam a fixar os fatos no tempo pretérito da nar-
rativa. Tais personagens não assumem, portanto, papéis de protagonismo, uma 
vez que a trama não deve macular, questionar ou modificar o passado. Além 
disso, o escritor desse tipo de romance normalmente ambienta tramas amorosas 
e com elas reproduz visões de uma sociedade privilegiada – a sociedade também 
relatada nos textos historiográficos tradicionais. Um dos exemplos mais conheci-
dos é o romance Ivanhoé, de Walter Scott. No Brasil, são exemplos O Guarani e 
Iracema, de José de Alencar.
A metaficção historiográfica configura o tipo de texto que melhor desvela 
o caráter narrativo da história, se recusando a sustentar as diferenças entre o dis-
curso literário e o discurso historiográfico. Tal como o romance histórico tradicio-
nal, a metaficção historiográfica promove um entrecruzamento claro entre litera-
tura e história; mas, ao contrário daquele, essa tem por característica se apropriar 
de personagens e/ou acontecimentos históricos visando a problematizar os fatos 
concebidos e reproduzidos tradicionalmente como “verdadeiros”.
Exemplos de como a literatura ajuda a compreender a história são os fatos de 
que grande parte da história grega foi construída a partir das epopeias homéricas Ilíada e 
Odisseia e de que muito da história dos povos romanos foi interpretado a partir da Eneida 
de Virgílio. Os textos referentes à conquista da América também caminham nesse sentido, 
como o exemplo brasileiroda Carta de Pero Vaz de Caminha, estudada tanto como registro 
da história quanto como obra de literatura.
DICAS
TÓPICO 2 | NARRATIVA, HISTÓRIA E SOCIEDADE
23
Os textos que pertencem à chamada literatura de testemunho estabelecem 
um certo compromisso ético e moral com a história, uma vez que buscam recuperar, 
com a maior veracidade possível, experiências reais traumáticas. Diferentemente 
da metaficção historiográfica, que visa a subverter os discursos históricos, a litera-
tura de testemunho lida com momentos específicos da história, que podem ser vi-
vidos por grupos de pessoas ou por indivíduos. Assim, há inúmeras modalidades 
de testemunho, seja em relação a situações, eventos, períodos (genocídios, guerras, 
ditaduras, tortura, miséria, opressão, etc.), seja em relação a formas de expressão do 
testemunho (memória, romance, filme, depoimento, poema, quadrinhos, canções, 
etc.). Em linhas gerais, diz-se que é literatura de testemunho porque não há pro-
vas para além dos relatos que compõem os eventos narrados. Ou seja, assim como 
acontece com a teste-munha no âmbito jurídico, que goza da confiança presumida 
do júri, o leitor precisa confiar naquilo que é narrado, precisa acreditar na palavra 
do narrador enquanto sujeito/testemunha que estava lá quando o evento aconte-
ceu. São exemplos o famoso Diário de Anne Frank, escrito pela jovem alemã Anne 
Frank, e, no Brasil, Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos.
A crônica é, segundo alguns autores, um gênero híbrido que mistura discur-
so literário e discurso jornalístico (e, portanto, factual e histórico). A crônica faz dos 
acontecimentos e temas miúdos do cotidiano do leitor o seu tema narrativo, dando a 
eles uma luz especial. O cronista capta o que até então não era notado e que agora se 
torna objeto de reflexão e julgamento, se preocupando em defender o seu ponto de 
vista e o endereçando aos seus contemporâneos. Assim, é a apropriação temática de 
fatos reais e de reflexões baseadas nos comportamentos humanos na sociedade que 
caracteriza a crônica como um gênero que aproxima a literatura da história.
A metaficção historiográfica tem por característica essencial o questionamento 
das “verdades históricas”, as quais, devido às relações de interesse e poder de grupos con-
servadores, permaneceram por muito tempo inabaladas. Na metaficção historiográfica, 
a história é recuperada não em caráter de certeza, mas como uma entre tantas outras 
possibilidades de compreensão do mundo. São exemplos História do Cerco de Lisboa, de 
José Saramago, e, no Brasil, Agosto, de Rubem Fonseca.
ATENCAO
Você deve entender que a crônica, por se referir a dados do cotidiano, é sempre 
colada ao momento histórico em que é produzida, sendo, por isso, uma importante fonte 
de historicidade para tempos posteriores. Ainda assim, as crônicas podem abordar outros 
temas, se referindo a assuntos de interesse não apenas local.
INTERESSA
NTE
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• As narrativas estabelecem inúmeras relações com a história, com a sociedade, 
e com a literatura.
• As narrativas também se relacionam com a crítica literária.
• Textos literários podem abarcar registros da história.
25
1. "O tema Narrativa e História é objeto de um debate na historiografia 
contemporânea em relação ao qual as Ciências Sociais não deveriam estar 
desatentas: seja diante das questões envolvidas nas reconstruções históricas 
da sociedade isto é, diante dos modos de percepção ou representação dos seus 
tempos históricos seja diante da forma que a escrita de uma história a ser 
reconstruída pode tomar" (CARDOSO, 2000, P. 3). Sendo assim, classifique V 
para sentenças verdadeiras e F para as falsas:
Fonte: CARDOSO, Irene. Narrativa e história. Tempo soc., São Paulo , v. 12, n. 2, p. 3-13, Nov. 
2000 . Available from <https://bit.ly/32ppv5v>. access on 07 July 2020. https://bit.ly/33kuYcJ.
( ) O filósofo David Hume sustenta que tanto a literatura quanto a história 
fazem uso do mito, da forma narrativa, mas elas diferem quanto às relações 
que estabelecem com o mundo relatado.
( ) A partir das situações vividas pelas personagens, a narrativa literária 
aproxima realidade e representação de fatos, lidando continuamente com o 
possível e o impossível.
( ) Facilmente pode-se estabelecer limites claros entre o discurso literário 
e o discurso historiográfico, já que se processam por meio de tipos textuais 
diferentes e gêneros discursivos totalmente opostos entre si. 
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) F - V - F.
b) V - F - V.
c) V - V - F.
d) F - F - V.
2. Para Cardoso (2000, p. 10) "[...] a narrativa histórica poderia ser aproximada 
de uma narrativa ficcional quando uma história-memória, cujo objeto é a 
memória histórica das sociedades (no sentido anteriormente construído), 
defronta-se com as construções desaparecidas que são também desconhecidas. 
E esta questão é significativa porque esse desconhecimento, embora 
constituindo-se como um ponto cego de compreensão na história, jamais 
poderá ser inteiramente recoberto por um conhecimento histórico construído 
a partir de traços deixados na história". Desta maneira, classifique V para 
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
Fonte: CARDOSO, Irene. Narrativa e história. Tempo soc., São Paulo , v. 12, n. 2, p. 3-13, Nov. 
2000 . Available from <https://bit.ly/32ppv5v>. access on 07 July 2020. https://bit.ly/33kuYcJ.
( ) A narrativa literária pode ser considerada uma ferramenta dinâmica e 
complexa de manipulação da linguagem verbal.
AUTOATIVIDADE
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( ) O conceito de “narrativa” está relacionado ao hábito de contar histórias. 
Para o estudioso Barthes tanto a história quanto a literatura são formas 
narrativas.
( ) As narrativas são responsáveis pela perda da memória coletiva, prevenindo 
que os ideais das sociedades sejam repassados para suas gerações posteriores.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) V - V - F.
b) V - F - V.
c) F - V - F.
d) F - F - V.
27
TÓPICO 3
TEMPO E ESPAÇO NA NARRATIVA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, você vai se aprofundar na análise de dois aspectos 
importantes da narrativa: o tempo e o espaço. Cada uma dessas categorias tem 
papel essencial na consolidação da narrativa e também na construção dos efeitos 
de sentido do texto. O modo como esses elementos se articulam no texto e as 
escolhas do autor em relação a eles produzem incontáveis histórias, cada uma 
com seu encanto e suas surpresas.
Como a narrativa se caracteriza pela sucessão de ações no tempo e no 
espaço, é inquestionável a importância de um estudo teórico sobre a elaboração 
dessas categorias. Neste capítulo, você vai ver muitas informações sobre os 
vários processos de criação literária a partir do tempo e do espaço. Além disso, 
vai conhecer alguns exemplos de histórias que exploraram muito bem essas 
potencialidades.
2 O TEMPO NA NARRATIVA
Para começar a sua reflexão, veja este breve comentário do escritor Lodge 
(2017, p. 83–84, grifo nosso):
A maneira mais simples de se contar uma história, preferida dos 
bardos tribais e dos pais que põem os filhos a dormir, é começar pelo 
começo e então seguir até chegar no fim, ou até que o público durma. 
Mas, ainda na antiguidade, os contadores de histórias perceberam 
que era possível obter efeitos interessantes ao se abrir mão da ordem 
cronológica. [...] Graças à manipulação temporal, a história evita 
apresentar a vida como uma sucessão de acontecimentos um atrás do 
outro, permitindo-nos fazer ligações de causalidade e de ironia entre 
acontecimentos muito distantes.
A partir dessa ideia, você pode depreender muitas informações acerca 
da importância da representação do tempo na história. Lodge (2017) se refere 
à manipulação do tempo como um aspecto significativo para atrair o leitor e 
complexificar a narrativa. De fato, “subverter” a ordem cronológica, ou seja, optar 
por começar as histórias por outro ponto que não

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