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Amniorrexe Prematura Introdução - Definição: • Amniorrexe prematura é a rotura das membranas corioamniticas antes da deflagração do trabalho de parto, independente da idade gestacional • Deve ser considerado um período de latência de 1 hora, ou seja, eu só posso afirmar que trata-se de um quadro de amniorrexe prematura se rompeu a bolsa e não começou o trabalho de parto dentro de 1 hora • Não deve ser confundida com amniorrexe precoce (quando as membranas rompem e logo em seguida já se inicia o trabalho de parto) • Pode acontecer em qualquer idade gestacional - Epidemiologia: • Afeta cerca de 10% das gestantes (sendo que 30% acontece na prematuridade e 20% acaba evoluindo para óbito fetal) Fisiopatologia - O líquido amniótico protege contra traumatismos, permite a movimentação do feto (o que favorece o fortalecimento muscular e permite os movimentos respiratórios), tem ação bacteriostática por imunoglobulinas/complexos proteicos/lisozimas, impede a compressão do cordão umbilical e é responsável pela manutenção da temperatura - O oligodrâmnio (<300 ml) causado pelo rompimento das membranas leva a compressão do cordão umbilical e sofrimento fetal - O óbito fetal pode acontecer por compressão do cordão umbilical, descolamento prematuro de placenta, infecção neonatal e complicações de partos prematuros Fatores Predisponentes - Inflamações e infecções: geram aumento das citocinas pró-inflamatórias —> metaloproteinases (degradam o colágeno) e prostaglandinas fazem irritabilidade do útero —> desencadeia o trabalho de parto - Incompetência istmo-cervical - Fragilidade de membranas (ex: síndrome de Ehlers-Danlos - má formação dos tecidos conjuntivos) - Inserção baixa da placenta - Apresentações anômalas (especialmente a córmica) - Sobredistensão uterina (ex: polidrâmnio, macrossômico, gemelar) - Vícios pélvicas (principalmente bacias raquidicas) Fatores Desencadeantes - Contrações uterinas: aumenta a pressão intra-amniótica - Traumatismos abdominais: acidentes de trânsito e agressões - Punção da bolsa (amniocentese): por isso, hoje em dia prefere-se a ecografia - Exame pélvico e coito: ainda é discutível Classificação - Amniorrexe Evidente: • A paciente chega com queixa de perda súbita, contínua e intensa do líquido • O aspecto do líquido pode ser visto no exame: • Se for claro e com grumos é uma gestação de termo • Se for claro sem grupos é uma gestação pré-termo • Se for meconial indica sofrimento fetal • Se for sanguinolento indica descolamento de placenta ou rotura da vasa prévia • O odor é característico do líquido amniótico (cheiro de quiboa/sangue) • É diagnóstico fechado de rotura baixa da bolsa —> é um problema em partos prematuros - Amniorrexe Dissimulada (Duvidosa): • A paciente tem queixa de perda intermitente, pequena e descontínua do líquido • Fazer exame especular e, se for feito toque, fazer com luva esterilizada • Teste do forro: pano esterilizado azul ou verde, paciente caminha durante uma meia hora e depois observar se o forro ficou molhado e com o cheiro característico • Ecografia: na maioria das vezes é o que define o diagnóstico (verifica o oligodrâmnio) • É diagnóstico fechado de rotura alta da bolsa Diagnóstico Diferencial - Rotura da bolsa amniocorial: • A bolsa é constituída por duas membranas: o córion (mais externa) e o âmnio (mais interno). Sendo que, normalmente não há espaço entre essas duas membranas • Quando a acúmulo de líquido entre as duas membranas podendo ocorrer a rotura do córion • Não tem importância clínica - Incontinência urinária: • Frequente em multíparas • O cheiro do líquido é bem característico de urina - Secreções vaginais: • Candidíase pode fazer transudação grande em gestantes • Visto pelo exame especular Diagnóstico Laboratorial - Conteúdo Vaginal: • Pesquisar lanugem, células fetais (epiteliais da derme, trato digestivo ou respiratório), células do epitélio amniótico e lipídios - Teste de Cristalização do líquido amniótico: • Colocar o líquido amniótico em uma lâmina e observar no microscópio • O líquido amniótico se cristaliza em aspecto de “folha de samambaia” (parecido com o muco cervical em período ovulatório) - Teste do pH Vaginal: • O meio vaginal gravídico é ácido (~4,5-6), mas quando o líquido amniótico está na vagina acaba se alcalinizando • Pode-se avaliar com fitas de nitrazina - Teste de Lanetta: • Colocar uma gota de líquido na lâmina e aquecer • Se mudar a cor indica que é positivo (é de fato líquido amniótico) - Teste do Azul de metileno: • Injetar o corante na cavidade amniótica, colocar um tampão vaginal, pedir que a gestante caminhe —> se for bolsa rota, o tampão fica azulado • Raramente utilizado porque pode causar alergia no bebê Quadro Clínico - 2 Opções: • Pode desencadear trabalho de parto: • Quanto menor a IG, maior o período de latência: • Se for acima de 37 semanas, normalmente o trabalho de parto se inicia entre 12 e 24 horas • Se for entre 28 e 34 semanas, o trabalho de parto se desencadeia em uma semana • Se for abaixo de 26 semanas, o trabalho de parto vai se desencadear em uma semana também ou antes • Pode NÃO desencadear o trabalho de parto: • Nesse caso há risco de infecção amniótica (corioamnionite) e oligodrâmnio (com consequente compressão do cordão umbilical) • Infecção amniótica: • É ascendente (por bactérias mistas da vagina) • Se a paciente não tiver capacidade imunológica, a criança e a mãe ficam expostas a infecção (proliferação de microrganismos na cavidade amniótica e dos anexos fetais) • Microrganismos aeróbios: GBS - estreptococo beta hemolítico é o principal causador da sepse neonatal • Risco para sepse: aumenta quando a rotura ultrapassa 18h; a febre materna pode existir concomitante com o trabalho de parto; bacteriúria • Durante o trabalho de parto pode ocorrer septicemia materna e até mesmo óbito fetal • Sinais de infecção amniótica: • Febre, taquicardia materna e fetal, aumento da sensibilidade do útero, fluído amniótico com cheiro muito forte • No laboratório: leucocitose pronunciada (pode chegar a 30.000), bastões elevados, aumento de PCR precoce Conduta - Baseia-se em 5 itens: 1. Presença ou ausência de infecção 2. Idade gestacional (história clínica e US) 3. Presença ou ausência do trabalho de parto (se está ou não em andamento) 4. Vitalidade fetal 5. Condição do berçário (equipe, condições de assistência, etc) - Opções Terapêuticas: • 1. Interrupção imediata da gestação: • Indicações: • Gestações de termo • Infecção amniótica presente (não tem como esperar e nem inibir o trabalho de parto —> sempre resolver se tiver infecção; preferência por parto normal porque a cesárea aumenta a disseminação) • Sofrimento fetal ou óbito fetal intrauterino • Se fizer parto normal —> antibiótico pré e pós-parto obrigatoriamente • 2. Conduta Expectante: • Indicações: • Gestação pré-termo • Ausência de infecção • Ausência de sofrimento fetal • O tempo de espera depende da idade gestacional: • Conduta expectante a curto prazo: • Se entre 34-37 semanas, com boas condições de berçário —> Esperar 12-24 horas para finalizar a gestação • Se 34-37 semanas, sem boas condições de berçário ou imaturidade fetal —> Esperar 48- 72 horas • O próprio estresse fetal ao romper a bolsa acaba amadurecendo o pulmão • Conduta expectante a longo prazo: • Indicado abaixo de 32-34 semanas • Repouso para não perder mais líquido amniótico • Ingestão de líquidos • Controlar temperatura e pulso a cada 4 horas • Avaliar o forro vulvar periodicamente - aspecto e odor • Controle da vitalidade fetal pelo perfil biofísico fetal • Controle da dinâmica da atividade uterina e dos BCF (taquicardia fetal pode sugerir início de infecção da cavidade amniótica) • Hemograma, leucograma, PCR diário ou a cada 2 dias na 1ª semana • Sulfato de magnésio: roturas abaixo de 34 semanas - tem efeito neuroprotetivo(inclusive diminui convulsões da eclampsia). • Condições higieno-dietéticas: ingestão de proteínas, sais minerais, vitaminas e fibras; comer menos calorias e frituras; tratar corrimentos • Evitar toques desnecessários (se forem feitos = usar luva esterilizada) e coito • Corticoide + antibiótico + uterolítico —> CONTROVÉRSIAS: • Corticoide: se faz tempo que rompeu a bolsa (mais do que 2-3 dias), já teve muito estresse para o feto e a princípio não teria necessidade do corticoide (tem ação imunossupressora, facilitando infecções); se a rotura for recente, gestação < 34 semanas, é adequado fazer betametasona (12 mg/dia por 2 dias) ou dexametasona. • Antibiótico: pesquisa de GBS positiva —> fazer penicilina cristalina, amoxacilina ou cefalosporina. Se não houver sinais de infecção, fazer controle e exames laboratoriais frequentes, mas não precisa de antibiótico. • Uterolítico: na teoria acredita-se que não precisa; mas se for abaixo de 34 semanas e já está entrando em trabalho de parto, pode ser recomendado uma inibição temporária para dar tempo de usar o corticoide.
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