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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS E QUÍMICA - DEAQ DISCIPLINA: Laboratório de Operações Unitárias DOCENTE: Mônica Bagnara DISCENTE: Adrieli Piccinin, Eduarda Heck Sumny e Tamires Pagani LEITO FIXO 1. Introdução Diversas operações unitárias na indústria de alimentos ocorrem devido a circulação intensa de sólidos em conjunto com um fluido (gás ou líquido). Leitos fixos podem ser empregados em processos como reatores catalíticos, reator enzimático, reator nuclear, secador, gaseificador, adsorvedor, incinerador, extrator, mas em geral o sistema sólido/fluido pode ser empregado em processos de fluidização, filtração, operações de transferência de calor e massa em colunas de recheio, entre outros (TADINI et al., 2018). Quando o sólido está em repouso, o leito é conhecido como leito fixo e o fluido, nesse caso, simplesmente percola entre os espaços vazios entre as partículas; em outros casos, quando a velocidade do fluido é suficiente para provocar um movimento aleatório das partículas do leito; ou ainda, no caso de grandes vazões do fluido, que carrega os particulados, a operação é conhecida como fluidização (TADINI et al., 2018) Ao ocorrer o escoamento de um fluido em um leito fixo, há a transferência de quantidade de movimento do fluido para as partículas sólidas do meio, e como consequência, há uma perda de pressão (MARTINS, 2013). Segundo Cremasco (2014) a perda de carga que é definida como a diferença de pressão causada pela passagem do fluido pelo interior de um meio poroso, resultante da resistência das partículas do meio filtrante ao movimento do fluido, aumenta conforme o aumento da vazão. Os leitos são caracterizados principalmente pela granulometria das partículas nele contidas, por sua área específica, porosidade e densidade. Sendo que o conjunto fluido/partícula, dependendo da maneira como estão relacionados podem ser classificados em leito fixo, fluidizado ou névoa (TADINI et al., 2018) O objetivo foi determinar experimentalmente a permeabilidade de um meio poroso através da relação existente entre a perda de carga e a velocidade de um fluido, desde vazões baixas (escoamento lento) até vazões elevadas. 2. Materiais e Métodos O equipamento utilizado neste experimento é composto por um leito fixo. O leito é um tubo de vidro de 7,5 cm de diâmetro interno recheado de pequenas pedras. É constituído também por reservatório e bomba centrífuga, tubulações de PVC e válvulas, rotâmetro (medidor de vazão), manômetro de tubo em U contendo clorofórmio como fluido manométrico. No escoamento em leito fixo, o leito contém 4650 gramas de partículas com diâmetro entre 3,34 e 4,75 mm. A porosidade inicial do leito é de 0,49 e a densidade do sólido é 2,4 g/cm³. A vazão foi aumentada de 0,5 em 0,5 L/min, medindo-se a perda de carga no leito pelo desnível no manômetro para cada ponto. Quando a vazão máxima foi atingida, procedeu-se a diminuição da vazão, de forma decrescente, fazendo as leituras de perda de carga no manômetro a fim de verificar possível “histerese”. 3. Resultados e Discussão Com dos dados obtidos dos experimentos, calculou-se a queda de pressão através da equação (1), para vazão crescente e decrescente: (1) Determinou-se também, a velocidade superficial (q), para área do leito de 0,004418 m² (conforme diâmetro do leito fornecido): (2) Logo, temos: Tabela 1: Dados experimentais - Vazão crescente. Vazão Crescente Q(L/min) Q (m³/s) ΔH (cm) ΔP(Pa) ΔP/L q (m/s) 0 0,00 2 96,14 96,14 0 1 0,00001667 9,9 475,88 475,88 0,003773 1,5 0,00002501 14,5 697,00 697,00 0,005660 2 0,00003334 19,9 956,57 956,57 0,007546 2,5 0,00004168 25,8 1240,18 1240,18 0,009433 3 0,00005001 32,2 1547,82 1547,82 0,011320 3,5 0,00005835 40 1922,76 1922,76 0,013206 4 0,00006668 48,8 2345,77 2345,77 0,015093 4,5 0,00007502 57,5 2763,97 2763,97 0,016979 5 0,00008335 67,9 3263,89 3263,89 0,018866 5,5 0,00009169 78,4 3768,61 3768,61 0,020753 6 0,00010002 90,5 4350,24 4350,24 0,022639 ρm (clorofórmio) 1,49 g/cm³ ρ (água) 1 g/cm³ g 981 cm/s² L 100 cm FONTE: Autores, 2021. Tabela 2: Dados experimentais - Vazão decrescente. Vazão Decrescente Q(L/min) Q (m³/s) ΔH (cm) ΔP(Pa) ΔP/L q (m/s) 6 0,00010002 90,5 4350,24 4350,24 0,022639 5,5 0,00009169 81,6 3922,43 3922,43 0,020753 5 0,00008335 70 3364,83 3364,83 0,018866 4,5 0,00007502 58,1 2792,81 2792,81 0,016979 4 0,00006668 50 2403,45 2403,45 0,015093 3,5 0,00005835 40,4 1941,99 1941,99 0,013206 3 0,00005001 33 1586,28 1586,28 0,011320 2,5 0,00004168 26,1 1254,6 1254,6 0,009433 2 0,00003334 21,1 1014,26 1014,26 0,007546 1,5 0,00002501 14,9 716,228 716,228 0,005660 1 0,00001667 10,4 499,918 499,918 0,003773 ρm (clorofórmio) 1,49 g/cm³ ρ (água) 1 g/cm³ g 981 cm/s² L 100 cm FONTE: Autores, 2021. A partir dos resultados obtidos, os valores de queda de pressão experimental foram plotados em função da velocidade superficial, para a leitura crescente e decrescente. Figura 1: Gráfico da queda de pressão experimental versus velocidade superficial. FONTE: Autores, 2021. É possível observar em algumas regiões do gráfico a sobreposição das curvas, sendo esse comportamento compreendido pela pouca variação das medições de pressão em função da velocidade. Pode ser evidenciada uma pequena histerese do processo quando a vazão decresce, podendo ser atribuído a uma diferenciação de caminho percorrido preferencialmente pelo fluido na volta, pois teoricamente não deve haver histerese na percolação do leito fixo. Identificou-se também, apenas para a curva de crescimento, as regiões de baixas e altas vazões. Figura 2: Gráfico da queda de pressão experimental versus velocidade superficial. FONTE: Autores, 2021. A região de baixas vazões é caracterizada pela faixa linear do gráfico - escoamento laminar, que compreende até a vazão de 2,0 L/min. Para altas vazões ocorre um desvio da linearidade - escoamento turbulento. A partir da determinação da região de baixas vazões, determinou-se a permeabilidade experimental (K) do meio poroso. Para o cálculo do K experimental usou-se os dados de velocidade superficial e queda de pressão dos pontos aplicados na equação rearranjada de Darcy (3): (3) Considerando a viscosidade da água (μ) como 0,00089 kg/m.s, obtemos: Tabela 3: Permeabilidade experimental. Permeabilidade experimental (K) ΔP/L q (m/s) K ( )𝑚2 96,14 0 0 475,88 0,003773 7,06E-09 697,00 0,005660 7,23E-09 956,57 0,007546 7,021E-09 Permeabilidade Experimental Média (KM) = 7,104E-09 FONTE: Autores, 2021. Portanto, o K experimental para os dados analisados a baixas vazões é de 7,104 .𝑥10−09 𝑚2 Tendo os valores calculados do K experimental, é necessário fazer os cálculos da permeabilidade pela correlação de Kozeny-Carman, equação (4), para comparação de resultados. (4) Sendo φ = 0,77, β = 5, ɛ = 0,49, disponíveis no material conforme as características do experimento. O foi calculado pela média entre a soma do diâmetro máximo e o𝑑 𝑝 diâmetro mínimo da partícula no leito, que é de 3,34 e 4,75 mm, respectivamente. Logo, . Dessa forma, a permeabilidade calculada para os dados fornecidos é de𝑑 𝑝 = 4, 045𝑥10−3𝑚 2,438 .𝑥10−08𝑚2 Tabela 4: Valores de Permeabilidade. Permeabilidade (K) Permeabilidade Experimental (Lei de Darcy) 7, 104𝑥10−09 𝑚2 Permeabilidade Teórica (Carman - Kozeny) 2, 438𝑥10−08𝑚2 FONTE: Autores, 2021. Os valores entre as duas permeabilidades deram resultado a um desvio padrão igual a 1,2216 e uma variação percentual de 70,9%. Analisando esses resultados, vemos𝑥 10−08 diferença significativa entre os dois. A resposta para essa diferença pode ser a pequena variação entre os pontos, pois para a permeabilidade experimental foram apenas quatro pontos a serem considerados, sendo o primeiro igual a 0. Outra possível resposta para a diferença significativa é que o método teórico utilizado é um método que apresenta inconsistências e poderia ser estudado mais a fundo para um possível reavaliação dasua aplicação e técnica. Para vazões elevadas, ao invés de uma relação linear entre a queda de pressão e a velocidade superficial, observa-se uma relação parabólica, associada a variação da energia cinética do fluido durante o seu escoamento pelo meio poroso. Para esses casos a equação utilizada é: (5) Através da região linear do gráfico, obteve-se uma equação de primeira ordem para a determinação da permeabilidade (K). Figura 3: Gráfico da queda de pressão experimental versus velocidade superficial. FONTE: Autores, 2021. Equação Linear → y = 112764 + 77,734𝑥 considerando para a região laminar, que: temos, Logo, K experimental é igual a 7,892 , ou seja, a permeabilidade𝑥10−09 𝑚2 experimental para a região de baixas e altas vazões é praticamente a mesma, levando em conta erros de arredondamento quando determinado anteriormente através dos pontos do gráfico. A partir disso, foi possível determinar a constante experimental C através da equação polinomial de segunda ordem obtida: Figura 4: Gráfico da queda de pressão experimental versus velocidade superficial. FONTE: Autores, 2021. Equação de segunda ordem → y = 5 + 69555 +121,2𝑥106𝑥2 𝑥 considerando para a região turbulenta, que: temos, para K = 7,892 , o coeficiente para altas vazões é C = 0,446.𝑥10−09 𝑚2 Para determinar K e C teóricos, é utilizada a equação de Ergun (6), que combina os componentes laminar e turbulento da queda de pressão. (6) Comparando as equações (5) e (6), podemos inferir relações teóricas para as constantes “K” e “C”: (7) (8) Logo, a permeabilidade teórica é K = 4,934 .𝑥10−08𝑚2 A constante C foi calculada a partir do valor teórico da permeabilidade encontrado, C = 0,417. Tabela 4: Valores de Permeabilidade e C. Permeabilidade (K) Permeabilidade Experimental 7, 892𝑥10−09 𝑚2 Permeabilidade Teórica 4, 934𝑥10−08𝑚2 C C Experimental 0,446 C Teórico 0,417 FONTE: Autores, 2021. Comparando os resultados obtidos para os coeficientes de permeabilidade, verificou-se que os dados experimentais diferiram significativamente do teórico, visto que o teórico leva em considerações diferentes parâmetros relacionados às características do leito. Esse erro pode ser atribuído a fatores como, erro na leitura dos dados experimentais, problemas com os manômetros, utilização de um fluido com baixa densidade para a medição da diferença de altura e também a uma possível ocorrência de caminhos preferenciais dentro do leito o qual prejudica na resistência interna e afeta a queda de pressão. Através da equação (9) foi possível calcular o fator de atrito dependendo da queda de pressão: (9) E a equação (10) nos diz respeito ao número de Reynolds: (10) Para o dado teórico da relação utilizou-se a equação (11), a correlação de Ergun: (11) Com essas três equações foi possível fazer o cálculo da relação entre fator de atrito e o número de Reynolds dependendo da vazão e da queda de pressão experimental e teórico obtendo-se os dados da tabela abaixo: Tabela 5: Fator de atrito e número de Reynolds. Fator de atrito e número de Reynolds ΔP/L q (m/s) log f log Re log f (Ergun) 96,14 0 0 0 0 475,88 0,003773 1,495291446 1,52539 0,79407059 697,00 0,00566 1,308841736 1,70149 0,6751068 956,57 0,007546 1,196449337 1,82642 0,60064702 1240,18 0,009433 1,11539594 1,92333 0,54895489 1547,82 0,01132 1,053269614 2,00252 0,51072434 1922,76 0,013206 1,013580154 2,06946 0,48119744 2345,77 0,015093 0,983956091 2,12745 0,4576554 2763,97 0,016979 0,952899069 2,17861 0,43841978 3263,89 0,018866 0,933586017 2,22436 0,42239331 3768,61 0,020753 0,913246935 2,26576 0,40882606 4350,24 0,022639 0,90000233 2,30355 0,397187 FONTE: Autores, 2021. O gráfico entre a relação do fator de atrito e número de Reynolds teórico e experimental é o seguinte: Figura 5: Fator de atrito versus Reynolds. FONTE: Autores, 2021. O gráfico representa a escala log-log, do fator de atrito em relação a Reynolds experimental e Reynolds utilizando a correlação de Ergun, para toda faixa de vazão. Tem-se que o fator de atrito diminui com o aumento do número de Reynolds, demonstrando uma curva que decresce à medida que o valor de Reynold aumenta, isso se dá pela mudança do regime de escoamento dentro do tubo em que o contato entre o fluido diminui com o aumento da velocidade. Para verificar do comportamento global dos dados foi calculado o -ΔP/L teórico utilizando a equação de Ergun (6) usando o K e C teóricos calculados anteriormente, dessa forma temos: Tabela 6: Queda de Pressão Experimental e Teórica. ΔP/L Experimental e Teórico ΔP/L (experimental) q (m/s) ΔP/L (teórico) 96,14 0 0 475,88 0,003773 68,0673 697,00 0,00566 102,1054 956,57 0,007546 136,1464 1240,18 0,009433 170,1904 1547,82 0,01132 204,2374 1922,76 0,013206 238,2873 2345,77 0,015093 272,3402 2763,97 0,016979 306,3961 3263,89 0,018866 340,4549 3768,61 0,020753 374,5167 4350,24 0,022639 408,5814 FONTE: Autores, 2021. A partir dos dados obtidos, plotou-se o gráfico: Figura 6: Queda de Pressão versus Velocidade Superficial. FONTE: Autores, 2021. Comparando as duas curvas no gráfico, observa-se diferença nos valores da queda de pressão, embora ambas as curvas apresentam um comportamento semelhante, os dados experimentais apresentaram um maior valor em relação a curva teórica. Essa diferença, pode ser explicada devido a imprecisão de medidas e formação de caminhos preferenciais dentro da coluna os quais interferem na queda de pressão. 4. Conclusão Com base nos ensaios experimentais em leitos porosos foi possível observar o comportamento da queda de pressão em relação ao aumento da vazão e da velocidade superficial do fluido. Os resultados obtidos com os ensaios experimentais foi possível identificar que o leito fixo não apresentou histerese, justamente por não ocorrer movimentação do leito com o aumento da vazão. Comparando as diferenças nos valores da queda de pressão, embora ambas as curvas apresentam um comportamento semelhante, os dados experimentais apresentaram um maior valor em relação a teórica. Essa diferença se dá em muitos casos, pela imprecisão dos valores obtidos teoricamente, que não preveem por completo o comportamento do leito e consequentemente da queda de pressão. O fator de atrito em relação ao número de Reynold demonstra uma curva que decresce à medida que o valor de Reynold aumenta, sendo uma curva similar ao diagrama de Moody. 5. Referências CREMASCO, M.A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2014. MARTINS, P. F. Escoamento em meios porosos – Leito fixo. Universidade Federal de São Paulo. Agosto de 2013. Disponível em:<https://www.passeidireto.com/arquivo/2237829/relatorio-42-opi---escoamento-e m meio poroso---leito-fixo---2013>. Acesso em 14 de agosto de 2021. TADINI, C.C., et al. Operações unitárias na indústria de alimentos. 1 ed. Rio de Janeiro, TC Editora, 2018. https://www.passeidireto.com/arquivo/2237829/relatorio-42-opi---escoamento-emmeio https://www.passeidireto.com/arquivo/2237829/relatorio-42-opi---escoamento-emmeio
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