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APOL_VIOLENCIA PUBLICA

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PRÁTICA e PRODUÇÃO 
 
VOCÊ SABIA? - LEITURA 
Segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, houve 57.956 homicídios no 
Brasil, em 2018, o que corresponde a uma taxa de 27,8 mortes por 100 mil habitantes – o menor nível de 
homicídios em quatro anos. Essa queda no número de casos remete ao patamar dos anos entre 2008 e 2013, 
em que ocorreram entre 50 mil e 58 mil homicídios anuais, conforme destacado no gráfico 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O gráfico 2 mostra que a diminuição das taxas de homicídio aconteceu em todas as regiões, com maior 
intensidade no Nordeste. Desde 2016, esse índice de violência vinha diminuindo nas regiões Sudeste, Centro- -
Oeste e Sul. Nesse gráfico, chama a atenção a reversão da tendência de aumento das mortes no Norte e 
Nordeste e o aumento da velocidade de queda no Sul e Sudeste. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diante do quadro da redução, em 12%, das taxas de homicídio no país, entre 2017 e 2018, que passou de 31,6 
para 27,8 por 100 mil habitantes, fica a pergunta: quais fatores poderiam explicar essa notável diminuição? 
Trata-se de alguma mudança institucional súbita ocorrida a partir de 2017? Ou a redução das mortes violentas, 
nesse ano, pode ser explicada pela própria dinâmica da criminalidade que já vinha se desenrolando nos anos 
anteriores? Do ponto de vista institucional, elementos importantes surgiram, em 2018, no tema das políticas 
públicas de segurança pública: a criação do Ministério da Segurança Pública, a aprovação da legislação criando 
o Sistema Único de Segurança Pública, e a instituição do Plano Decenal de Segurança Pública (PDSP). Ainda 
que a Lei no 13.675/2018(Lei do Susp) não fosse a solução para o problema da integração e governança 
federativa no setor, uma vez que não teria como equacionar as várias restrições constitucionais sobre o tema, 
foi um passo importante na direção correta para a imposição de maior racionalidade à política de segurança 
pública. Certamente, esse primeiro passo poderia ser a senha para os movimentos subsequentes no sentido de 
se reformar o marco institucional da segurança pública, o que, infelizmente, não ocorreu, fazendo com que, até 
o momento, tal legislação se configure apenas como uma peça anódina, que não interfere na dinâmica da 
criminalidade no país. De outro modo, no Atlas da Violência 2019, já havíamos chamado a atenção para a 
tendência de queda de homicídios que abrangia gradualmente cada vez mais Unidades da Federação (UFs), nos 
dez anos anteriores a 2017. Entre 2016 e 2017, a taxa de homicídios diminuiu em quinze UFs. Por sua vez, em 
2018, a queda de letalidade foi observada em 24 UFs. 
Naquele documento, apontamos as principais razões que estariam influenciando a queda dos homicídios pelo 
país afora até 2017, a saber: I) a mudança no regime demográfico, que fez diminuir substancialmente, na última 
década, a proporção de jovens na população; II) o Estatuto do Desarmamento, que freou a escalada de mortes 
no Brasil e que serviu de mecanismo importante para a redução de homicídios em alguns estados, como São 
Paulo, que focaram fortemente a retirada de armas de fogo das ruas; e III) políticas estaduais de segurança, que 
imprimiram maior efetividade à prevenção e ao controle da criminalidade violenta em alguns estados. 
Destacamos ainda, no Atlas da Violência 2019, que um quarto fator que conspirou a favor do aumento dos 
homicídios, entre 2016 e 2017, em alguns estados, sobretudo do Norte e do Nordeste, foi a guerra desencadeada 
entre as duas maiores facções penais no Brasil (Primeiro Comando da Capital – PCC e Comando Vermelho – CV) 
e seus parceiros locais, que eclodiu em meados de 2016, gerando número recorde de mortes no Acre, Amazonas, 
Pará, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Ocorre que uma guerra custosa, imprevisível e duradoura, sem 
um contendor com vantagens ou supremacia clara, é inviável economicamente, conforme discutido na literatura 
de economia do crime, como em Donohue e Levitt (1998). Depois de cerca de um ano e meio das escaramuças 
em alta intensidade – no eixo do tráfico internacional de drogas, nas rotas do alto do Juruá, Solimões e nos 
estados nordestinos –, em que membros das duas maiores facções penais se matavam mutuamente, a 
intensidade dos conflitos diminuiu. O movimento das guerras de facções em 2016 e 2017 e o subsequente 
armistício, velado ou não, a partir de 2018, explicariam por que os supramencionados estados do Norte e 
Nordeste foram aqueles com maiores aumentos nas taxas de homicídio, em 2017, e maiores quedas em 2018. 
Apesar de não protagonizar nenhum conflito armado, o Brasil presencia uma realidade típica de guerras. Só em 
homicídios, atingimos a marca recorde de 59.627 em 2014, segundo levantamento realizado pelo Mapa da 
Violência. O número é 29,1% maior do que o registrado há 11 anos, quando ocorreram 48.909 mortes. 
Em diversas regiões do País, a violência impacta diretamente o avanço econômico que se tenta alcançar. 
“Enquanto a segurança não for vista como um fator central para a economia, o Brasil não vai estar entre as 
nações mais desenvolvidas do mundo”, afirma o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 
Renato Sérgio de Lima. 
A perda de capital humano é uma das faces mais trágicas desse fenômeno. Pesquisadores reconhecem as 
consequências na saúde, nas dinâmicas social e demográfica e na produtividade. “Somos um país doente, com 
quase 60 mil homicídios em um ano, o que nos coloca em uma situação muito grave”, diz o economista do 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira. 
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o custo da violência é de R$ 258 bilhões, aproximadamente 
5,4% do Produto Interno Bruto (PIB). E a maior parte desse valor, R$ 114 bilhões, é resultado justamente da 
perda de capital humano. Os jovens acabam sendo a ponta mais vulnerável do sistema, uma vez que acabam 
mortos ou condenados pelas faltas de educação, de estruturas social e familiar e de acesso a serviços básicos. 
A violência está, portanto, intimamente ligadas à prosperidade econômica de uma região. “A violência provoca o 
constrangimento de alguns setores, diminui a circulação de pessoas nas ruas, o comércio fecha mais cedo e, 
assim, a economia perde dinamismo”, afirma Lima. 
De acordo com a Constituição Federal, a segurança é uma obrigação do Estado. Contudo, como o governo não 
consegue provê-la nas proporções que a sociedade deseja, há um custo diário para a sobrevivência. “Pagamos 
para ter uma polícia, mas como não funciona, pagamos pela segurança privada”, explica o professor de Finanças 
do Ibmec-RJ, Gilberto Braga. “Há o custo inerente ao tributo e o custo extra pela ineficiência do Estado”, afirma. 
Um evento violento, explica ele, afasta investidores interessados em negociar e desestimula a circulação de 
dinheiro em determinadas regiões. “Há um freio na economia e na produtividade.” 
No setor de turismo há consequências graves. Nos últimos anos, o Norte e o Nordeste do País vivem uma 
realidade particularmente complexa no que diz respeito à falta de segurança. Fortaleza, Natal, Salvador, João 
Pessoa e Maceió estão entre as 50 cidades com maior taxa de assassinatos por 100 mil habitantes no mundo em 
2015, segundo o ranking elaborado por uma ONG mexicana e divulgado pelo Conselho Cidadão para a Segurança 
Pública e a Justiça Penal. 
Outras 16 cidades brasileiras integram a lista. “O crescimento econômico no Nordeste ocorreu sem a devida 
preparação das cidades. As polícias eram pequenas, mais pessoas passaram a utilizar álcool e drogas e o sistema 
como um todo não foi repensado”, diz Lima. 
 
A violência é um problema que afeta e preocupa todas as camadas sociais, sendo determinante para avaliação 
do nível de bem-estar social de uma população. Pode ser definida como ato de violentar, estado de violência, 
opressão e abuso de força, caracterizando-se comoato criminoso, normalmente, quando se ferem direitos e leis 
formalmente constituídas. Destaca-se que a violência tem diferentes facetas, que vão desde a agressão verbal 
e psicológica à agressão física, seja esta letal ou não. A análise deste trabalho se concentra na violência 
intencional contra terceiros, caracterizada pela agressão física, podendo resultar em morte. Assim, 
considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 
2017a), tem-se “mortes violentas por causas externas”. De acordo com a OMS (2017b), aproximadamente 3.800 
pessoas são mortas diariamente no mundo, vítimas de algum tipo de violência. Essa estatística, além de 
corroborar a violência como um problema de saúde pública, levanta questões sobre seu impacto em termos dos 
custos socioeconômicos para combatê-la. Ainda, segundo a OMS, 90% das mortes violentas acontecem em 
países onde há grande disparidade na distribuição de renda, atingindo principalmente os mais jovens. Entre as 
causas mais latentes da violência, tem-se a baixa escolaridade, a fragilidade financeira e a desestruturação 
familiar. 
Dado que segurança é um direito universal, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 1948), cabe ao 
Estado, na maior parte das vezes, atuar de forma direta no intuito de combater a violência já existente e buscar 
meios de combater e inibir o acesso às armas e às drogas, uma vez que estes fatores, entre outros, estão 
fortemente correlacionados ao surgimento de conflitos interpessoais e situações de violência, os quais podem 
levar a perdas sociais, financeiras, má alocação dos recursos públicos, sentimento de insegurança e impunidade, 
influenciando a tomada de decisão de todos os agentes da sociedade. 
Apesar de ser um pensamento compartilhado por muitos, é um equívoco dizer que a segurança privada e 
a segurança pública são concorrentes e não conseguem atuar bem em conjunto. Muito pelo contrário. As duas 
se complementam muito bem. Em alguns países, a segurança privada é responsável até mesmo pela proteção 
de bases militares. 
No Brasil, a segurança privada faz a liberação do efetivo da segurança pública, com o intuito de atuar de forma 
mais incisiva no combate a criminalidade, ao mesmo tempo que é responsável pela segurança de interesses 
individuais. Logo, o Estado ganha tempo para focar em interesses coletivos. 
Existem acordos de cooperação entre as duas seguranças. Um exemplo: quando os vigilantes enxergam uma 
possível situação de crime, mesmo em áreas distintas das que eles atuam, o aviso às forças de segurança é feito, 
no intuito de coibir a ação dos criminosos. 
A importância da segurança privada em nosso país é nítida e alguns fatores contribuem bastante para que ela 
continue em evidência. São alguns deles: índice de criminalidade alto; preocupação com atos terroristas em 
grandes eventos; mais pessoas conscientes em proteger a sua vida e o seu patrimônio. 
Essa importância também é fruto do bom trabalho desempenhado pelas empresas de segurança; por 
profissionais bem qualificados; técnicas e táticas de segurança; pelo avanço da tecnologia e fiscalização efetivo 
da Polícia Federal. 
A segurança privada complementa a segurança pública, pois o Estado possui certa dificuldade em promover a 
proteção da população, com base na crescente explosão de violência e deficiência do sistema carcerário do nosso 
país. 
Por mais que a segurança privada seja um meio fundamental de apoio a segurança pública, não é o intuito dela 
exercer a função de polícia. Porém ela vem se destacando como um instrumento fundamental no trabalho de 
proteção ao cidadão. 
A atuação da segurança privada junto ao Estado tende a trazer benefícios à sociedade. Qualquer auxílio e trabalho 
coletivo são sempre muito bem-vindos. Portanto, saiba que o intuito de um é sempre complementar o trabalho 
do outro. 
Dentre as múltiplas questões pertinentes à problemática da violência e da criminalidade, a disseminação dos 
serviços de segurança privada tem chamado cada vez mais a atenção, nos últimos anos, da sociedade e de 
especialistas do assunto. Há muitas evidências sobre o fenômeno, como a visível ampliação de guardas privados 
e do número de veículos de segurança patrimonial circulando nas ruas das cidades, porém poucos estudos que 
abordam de forma objetiva a densa rede atualmente existente do mercado de segurança privada, cristalizando 
uma grande ausência de pesquisas voltadas ao dimensionamento detalhado do setor, que possam consolidar 
uma tipologia abrangente sobre as formas com que a segurança privada atua hoje. 
 
Frente à multiplicidade de atores e objetos a serem observados, é importante deixar claro que o foco específico 
aqui recai sobre os serviços de policiamento privado desempenhado pelos vigias e vigilantes (não obstante, dado 
o caráter não especializado dos funcionários da segurança privada, frequentemente eles exercem múltiplas 
funções). Trata-se da área em que a segurança privada mais evoluiu no mundo, ao menos nos últimos 50 anos, 
e objeto principal dos estudos que configuram a literatura internacional sobre o tema. Apesar da abordagem 
recair sobre o montante de empresas e vigilantes regularmente cadastrados, outros aspectos não menos 
importantes também serão analisados, como a disseminação da segurança eletrônica, a subcontratação de 
policiais para serviços particulares de segurança e a proliferação de grupos coletivos que atuam de forma ilegal, 
embora a limitação de informações relativas a esses setores seja consideravelmente maior. 
 
De forma a fazer uso de uma categoria que seja suficientemente abrangente para denominar esse tipo de serviço 
em diferentes contextos (nações, estados, municipalidades, etc.), por segurança privada (e também 
policiamento privado e serviços particulares de segurança ou de proteção) estarei me referindo aos serviços de 
vigilância e guarda, que servem de referência para as categorias do setor em diferentes bases de dados utilizadas 
no Brasil , e que são basicamente os serviços fornecidos por entidades particulares por meio de contrato ou 
segurança orgânica. Os demais aspectos aparecem no trabalho de forma secundária, visando uma delimitação 
mais clara do objeto específico. 
Para melhor compreendermos a expansão da segurança privada no Brasil é importante levarmos em conta três 
aspectos que podem ser apontados como os principais fatores impulsionadores da ampliação do mercado de 
segurança: I. o crescimento da criminalidade (sobretudo a especialização do crime); II. a percepção da violência 
e o aumento da insegurança; e III. as mudanças na utilização do espaço urbano e circulação da população nas 
grandes cidades. 
A evolução da criminalidade urbana e dos crimes corporativos e a percepção da violência e o aumento da 
insegurança a partir dos anos 80 são temas já largamente difundidos na literatura acadêmica e especializada na 
temática do crime, da violência e da segurança pública, marcados pela propagação epidêmica dos homicídios, 
pelo aumento da violência nas ações criminosas em geral, pela intensificação dos crimes corporativos e de 
“quadrilheiros” (seqüestros extorsivos, fraudes, contrabando, falsificações, lavagem de dinheiro, roubo e furto 
de veículos, roubo e furto de cargas, tráfico de armas e drogas) e também pelo aguçamento da percepção da 
violência e do crime. (Pinheiro e Almeida, 2003; Lima, Misse e Miranda, 2000; Zanetic, 2006). Desta forma, não 
havendo diferenças importantes ou pontos que comprometeriam o sentido da análise, optamos aqui por 
concentrarmos a atenção no terceiro aspecto levantado, as mudanças na utilização do espaço urbano e 
circulação da população nas grandes cidades. 
 
Além da preocupação diretamente relacionada ao crime, há outras evidências importantes de transformações 
sociais relacionadas com a expansão da segurança privada, como a ampliação dos espaços chamados de semi-
públicos e dos condomíniosresidenciais, que criam demanda por provedores dos serviços particulares de 
proteção. Da mesma forma, nas décadas recentes verifica-se uma intensa especialização dos recursos e 
tecnologias de segurança utilizados nos centros industriais e comerciais, reformulando as tendências da 
segurança empresarial. Como decorrência desses processos sociais e urbanos, a segurança privada vem atender 
a demandas sociais existentes e cada vez mais comuns no mundo contemporâneo, assumindo em muitas 
localidades funções complementares com a segurança pública. Ao mesmo tempo em que temos essa grande 
evolução na criminalidade, o contexto metropolitano passou por grandes transformações nas últimas décadas. 
Além do crescimento acelerado das periferias urbanas em meio a uma grande precariedade estrutural 
decorrente do processo de rápida urbanização, que se deu à margem de um desenvolvimento econômico capaz 
de sustentar esta crescente demanda populacional, desenvolveram-se nos grandes centros novos padrões de 
comércio, moradia, trabalho e lazer, verificados, como já observado, no surgimento em larga escala dos espaços 
privados abertos para o público. Além desses espaços, nesse período há uma grande disseminação dos 
condomínios residenciais e centros comerciais, que requerem grande investimento privado em segurança. 
 
Essas mudanças configuram a tendência das pessoas (principalmente no mundo democrático) gastarem 
atualmente mais tempo nos lugares protegidos por agências não governamentais (shopping-centers, 
hipermercados, casas de apresentações e eventos diversos, universidades, danceterias e estádios esportivos) do 
que nos lugares em que o policiamento é público. Esse processo é desencadeado pela gradual substituição, nas 
grandes cidades, dos agrupamentos comunitários (em que as pessoas trabalhavam, estudavam, iam às compras 
e desfrutavam do lazer em um mesmo bairro ou em suas proximidades) para as metrópoles modernas, onde as 
áreas de moradia, negócios, indústrias e espaços de lazer estão dispersas, ligados pelas ruas da cidade por onde 
os automóveis percorrem diariamente grandes distâncias (Felson, 1987). O automóvel tem inclusive um papel 
central nesse processo, possibilitando a grande dispersão residencial metropolitana que pulveriza a organização 
comunitária dita ecológica, de forma que possamos falar nessa organização urbana como um resultado de uma 
“era do automóvel”, com mais circulação, mais escolhas e consequentemente com mais oportunidades para a 
ocorrência de violência e ações criminosas. 
Ao contrário da visão reducionista com que, no Brasil, os estudos da segurança privada têm localizado o 
fenômeno, identificando-o sumariamente como um efeito deletério de carências e características sociais 
problemáticas que emana, principalmente, da forma como o poder público é exercido, consideramos aqui que 
o surgimento e emancipação dos serviços particulares de segurança no Brasil é fenômeno complexo e que não 
pode ser resumido na questão da falência da segurança pública, nem tampouco a uma suposta crise de 
legitimidade do Estado, como mostra a análise desse processo. Além do aumento da criminalidade e da sensação 
de insegurança, a segurança privada tem como pressupostos de sua expansão o surgimento de novas formas de 
uso e circulação no espaço urbano que tem motivado a criação de determinados espaços para os quais se deseja 
ter segurança reforçada em tempo integral. Embora esse aspecto tenha sido compreendido como uma ocupação 
da segurança privada de espaços cuja responsabilidade caberia ao setor público, pouco tem sido observada a 
presença dos novos recursos de segurança como uma necessidade gerada pela multiplicação desses espaços, 
onde apesar da jurisdição pertencer ao Estado, a responsabilidade pela segurança é atribuída aos proprietários. 
As forças públicas, mesmo que quisessem, não teriam recursos capazes de suprir tal demanda. 
Outro aspecto que tem sido negligenciado na literatura é o fenômeno da especialização, diversificação e 
profissionalização do crime e dos criminosos, que se apropriam de novos recursos e tecnologias na produção de 
meios cada vez mais sofisticados para a prática das atividades ilícitas, criando instantaneamente novas ameaças 
 
para as empresas e seus clientes. Essa focalização do crime em alvos mais oportunos e rendosos tem levado o 
setor empresarial a ampliar seus investimentos em recursos de segurança privada, tornando-se o seu principal 
consumidor. Os investimentos individuais em segurança privada (mesmo somando os serviços irregulares de 
vigilância de bairro e residencial) representam parcela consideravelmente pequena perto do montante investido 
pelo setor corporativo, bem como da alocação dos recursos técnicos e humanos da segurança.

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