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Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
Apresentação de dados epidemiológicos sobre mortalidade e morbidade relacionados ao
sedentarismo, intervenções voltadas à prevenção de doenças e recomendações de órgãos
normativos para prática de atividades físicas voltadas à saúde.
PROPÓSITO
O domínio das relações entre a prática de atividade física como estratégia de prevenção
primária de doenças crônico-degenerativas é importante para o profissional prescrever
exercícios físicos para diferentes populações.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer os conceitos e os princípios básicos da epidemiologia relacionados à prática de
atividades físicas para a prevenção de doenças
MÓDULO 2
Identificar os indicadores epidemiológicos das condições de saúde e da qualidade de vida e as
fases de instalação de uma doença e seus níveis de prevenção
MÓDULO 3
Identificar as recomendações de agências normativas para prescrição de exercícios físicos
INTRODUÇÃO
No primeiro módulo deste conteúdo, serão discutidos conceitos básicos de epidemiologia e
apresentados dados epidemiológicos sobre mortalidade e morbidade relacionadas à inatividade
física ou sedentarismo no mundo e no Brasil, em especial.
No segundo módulo, serão discutidos aspectos da qualidade de vida relacionada à saúde,
inclusive medidas das condições de saúde. Os conceitos de medicina preventiva e curativa
serão contrapostos, com destaque para seus potenciais efeitos sociais e econômicos. Além
disso, apresentaremos as fases de instalação de uma doença e seus níveis de prevenção
(primária, secundária, terciária e quaternária).
Por fim, no terceiro módulo, serão resumidas as recomendações de algumas das principais
agências normativas quanto às características da prescrição de atividades físicas, visando
prevenir doenças e promover a saúde. Em virtude de suas características, diversidade e
alcance, foram selecionadas para detalhamento as recomendações do Colégio Americano de
Medicina do Esporte (ACSM) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
MÓDULO 1
 Reconhecer os conceitos e os princípios básicos da epidemiologia relacionados à
prática de atividades físicas para a prevenção de doenças
A DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA E O
PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
ETIMOLOGICAMENTE, A PALAVRA EPIDEMIOLOGIA
VEM DO GREGO EPI (SOBRE) + DEMO (POVO) +
LOGOS (ESTUDO OU CONHECIMENTO). ASSIM,
TERÍAMOS NA EPIDEMIOLOGIA A CIÊNCIA QUE
ESTUDA EVENTOS OU FATORES QUE AFETAM AS
POPULAÇÕES.
Na área da saúde, o termo designa a ciência que estuda o processo de desenvolvimento das
doenças e as condições de saúde em coletividades humanas, sua distribuição e determinantes.
Com base nisso, estimam-se potenciais danos à saúde coletiva, propondo-se medidas de
prevenção e controle a partir de indicadores que subsidiam o planejamento, a condução e a
avaliação das ações de saúde.
Uma vez que a saúde é uma noção multifatorial, a epidemiologia adota métodos e técnicas de
diferentes áreas das Ciências Biológicas, Ciências Sociais e Estatística com vistas aos
seguintes objetivos:
 
Foto: Shutterstock.com
Descrever as condições de saúde das populações.
Promover o ensino e a pesquisa em saúde.
Investigar os determinantes das condições de saúde das populações.
Avaliar o impacto das estratégias para modificar a situação de saúde das coletividades.
 Clique aqui e reforce o conteúdo lido assistindo ao vídeo vem que eu te explico.
Objetivos da Epidemiologia
Um dos princípios básicos da epidemiologia é a noção de que qualquer evento que seja capaz
de modificar a saúde das populações (doenças, acesso aos serviços de saúde etc.) não ocorre
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por acaso em larga escala. Ou seja, tais eventos obedecem a padrões que podem ser
determinados e, em algumas situações, previstos. Assim, é possível estimar a suscetibilidade
de grupos populacionais para desenvolver certas doenças.

Isso acontece porque os fatores predisponentes às enfermidades, frequentemente, não se
apresentam igualmente distribuídos, antes organizando-se na forma de aglomerados (Default
tooltip) , presentes em alguns grupos mais do que em outros.
Esse padrão sofre a influência de fatores diversos, desde características biológicas individuais
até aspectos de cunho social, cultural e econômico, passando pelo entorno físico e social.


Entende-se, portanto, que o processo saúde-doença se desenvolva de maneira diversa entre
grupos populacionais diferentes.
ISSO, ALIÁS, LEVA A OUTRO CONCEITO
IMPORTANTE: O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA. ESSE
PROCESSO CONSISTE NO PRINCIPAL OBJETO DOS
ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS, BUSCANDO
DESCREVER COM DETALHES COMO ASPECTOS
MÚLTIPLOS E COMPLEXOS INTERAGEM PARA
FAVORECER OU DESFAVORECER O ESTADO DE
SAÚDE DAS COLETIVIDADES, BEM COMO AS
MANEIRAS DE INFLUENCIÁ-LOS ATRAVÉS DA
INTERVENÇÃO HUMANA.
PERSPECTIVA HISTÓRICA DA
EPIDEMIOLOGIA
Em uma perspectiva histórica, a epidemiologia evoluiu à medida que a ciência provia novas
informações sobre o processo saúde-doença, até consolidar-se no corpo de conhecimentos de
que hoje se dispõe. Essa evolução deu-se em paralelo àquela do próprio conceito de saúde
(FARINATTI; FERREIRA, 2006).
Desde as sociedades primitivas, predominava uma concepção de saúde, derivada da ausência
de enfermidades, influenciada principalmente por comportamentos individuais.

As noções de saúde e doença, portanto, revestiam-se de uma base paradigmática
comportamental.

O rico ambiente científico na era iluminista levaria ao desenvolvimento de métodos
quantitativos e estratégias estatísticas para comparar as observações clínicas nas populações.

A observação e a quantificação em grande escala das influências ambientais sobre os
indivíduos contribuiriam, paulatinamente, com a valorização do que se entendia como história
natural da doença para a compreensão dos casos clínicos.
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
Começava, então, a desenvolver-se um pensamento sanitário para subsidiar as estratégias
de promoção da saúde
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
Consiste no fluxo no qual o processo de adoecimento está inserido, desde a exposição
ao agente causador até a cura ou morte.
Esse embrião de visão epidemiológica, nascido do desejo de quantificar estatisticamente as
doenças que acometiam os povos, modificou a noção de contágio, estabelecendo-se a
convicção de que isso seria potencializado pelas condições mais gerais de vida. Aplicavam-se
métodos epidemiológicos em investigações clínicas e propunham-se as primeiras
sistematizações de informações para o planejamento de ações de saúde, incluindo a higiene e
melhorias ambientais (saneamento básico etc.).
O entendimento do processo saúde-doença tinha como princípio a observação do ambiente em
que as enfermidades se desenvolviam. A visão epidemiológica predominou entre os séculos
XVII e XIX no entendimento das relações entre saúde e doença. A prevenção das
enfermidades e as iniciativas de saúde pública avançaram com base na quantificação dos
eventos mórbidos e medidas epidemiológicas de natureza coletiva (LEAVELL; CLARKE, 1976).
O final do século XIX foi marcado pelo advento da era bacteriológica, que viria de certo modo
eclipsar a perspectiva epidemiológica: a ênfase em um amplo conjunto de fatores
determinantes da saúde foi substituída pelo poder de um paradigma que pretendia determinar
as causas específicas de cada doença – a chamada doutrina da etiologia específica.
Esse modelo biomédico fundado na microbiologia seria imposto a todas as outras perspectivas,
dominando o cenário médico e científico até meados do século XX, com a criação da OMS e o
início do desenvolvimento de uma visão mais positiva de saúde. Um novo paradigma se
sobrepunha à visão epidemiológica, com os esforços da medicina concentrando-se na
identificação dos agentes etiológicos (germes) envolvidos na transmissão de doenças
infectocontagiosas responsáveis por altas taxas de morbimortalidade, bem como ao
desenvolvimento de medidas para sua prevenção e tratamento (FARINATTI; FERREIRA,
2006).
 
Imagem: WHO / Wikimedia Commons / Domínio Público
A partir dosanos 1950, com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), passou-se a
estimular uma visão de saúde como mais do que a ausência de doenças – sedimentava-se a
noção de um estado decorrente de bem-estar nas esferas física, mental e social. Desde então,
reconhece-se que a saúde dos indivíduos e povos resulta de fatores biológicos, sociais,
ambientais, econômicos e institucionais. Nas últimas décadas, vem se impondo uma
perspectiva biopsicossocial de saúde, que, evidentemente, influenciou o pensamento
epidemiológico.
 
Foto: Shutterstock.com
A epidemiologia clínica moderna firmou-se como uma ciência que reconhece como
determinantes da saúde fatores interligados de igual importância. De certo modo, combinam-se
as perspectivas comportamental e ambiental dos entendimentos de saúde precedentes.
Logo, a avaliação das condições de saúde de uma população deveria envolver não só a busca
de agentes etiológicos das doenças, mas também a compreensão de como o ambiente físico e
social aumenta as chances de seu aparecimento e molda comportamentos que favorecem as
enfermidades e limitam as possibilidades de realização pessoal (saúde mental e social).
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
O sucesso na prevenção de doenças infectocontagiosas e a melhoria geral das condições de
vida das populações levou ao fenômeno da transição epidemiológica, que também
influenciou nas ferramentas aplicadas nos levantamentos epidemiológicos.
Esse conceito proposto por Abdel-Rahmin Omran (OMRAN, 1971) designa as mudanças que
ocorreram ao longo do século XX nos padrões de morbimortalidade nas populações,
acarretando transformações simultâneas nas esferas demográfica, social e econômica. De fato,
o perfil de morbimortalidade é um indicador relativamente sensível das condições de vida de
uma população.
O PROCESSO DE TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
INCLUI TRÊS MUDANÇAS BÁSICAS:
Migração das taxas de morbidade e mortalidade de uma maior prevalência de doenças
transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas.
Menor mortalidade precoce, com prevalência maior de taxas de morbimortalidade em grupos
mais idosos versus jovens.
Deslocamento de uma situação em que predomina a mortalidade para outra, na qual
predominam as taxas de morbidade.
 Clique aqui e reforce o conteúdo lido assistindo ao vídeo vem que eu te explico.
Modelo de transição epidemiológica
É fácil compreender que, em sociedades nas quais a transição epidemiológica ocorre, as
necessidades em termos de estratégias de prevenção de doenças e promoção da saúde
modificam-se. O foco migra da prevenção do contágio de doenças e mortalidade precoce para
outro, centrado no desenvolvimento de condições de vida ao mesmo tempo capazes de
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prevenir doenças crônico-degenerativas e favorecer a realização pessoal, com preenchimento
dos anos adicionais de vida conquistados.
COMPRESSÃO DA MORBIDADE
Isso nos leva a um dos conceitos epidemiológicos mais importantes para discutir o impacto de
intervenções para a promoção da saúde em sociedades pós-transição epidemiológica – a
noção de compressão da morbidade.
 ATENÇÃO
Esse conceito, originalmente proposto por James F. Fries (1980 e 1989), trabalha com a
hipótese de que, uma vez que a esperança de vida das populações se aproxima do limite
máximo genético, o efeito das intervenções para melhorar as condições de saúde seria
traduzido pelo retardamento de doenças incapacitantes. Assim, nas últimas décadas
atravessaríamos uma nova transição epidemiológica, na qual a esperança de vida não se
alteraria significativamente, mas sim a forma pela qual os anos adicionais conquistados pelos
avanços da medicina seriam aproveitados.
Em outras palavras, como a esperança de vida adulta tende a aproximar-se cada vez mais do
limite biológico, estratégias para promover saúde deveriam investir na redução dos anos de
morbidade incapacitante, ou seja, na compressão da morbidade, conforme ilustrado na figura
a seguir.
 
Imagem: Paulo de Tarso Veras Farinatti.
Compressão da morbidade, representação esquemática. EV: Esperança total de vida; MC:
Margem de cuidados; MS: Margem de saúde; EVI: Esperança de vida com incapacidades;
EVA: Esperança de vida ativa. A situação ‘A’ representa a linha de base, evoluindo para a
situação ‘B’ (ausência de compressão da morbidade) ou para a situação ‘C’ (presença de
compressão da morbidade).
 Clique aqui e reforce o conteúdo lido assistindo ao vídeo vem que eu te explico.
Compressão da morbidade
As estatísticas demográficas tendem a fortalecer a hipótese da compressão da morbidade.
Observa-se que o declínio funcional associado ao envelhecimento tende a ocorrer em idades
cada vez mais avançadas. O período em que as incapacidades decorrentes de doenças se
acumulam ao ponto de gerar dependência vem diminuindo.
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
Estudos relativamente recentes levantaram evidências de que países com índices elevados de
desenvolvimento humano vivem uma compressão relativa ou absoluta da morbidade.
Os dados indicam que a prevalência de doenças crônicas e incapacitantes com diferentes
graus de severidade diminui constantemente.


Existe hoje certo consenso de que o padrão ideal para um envelhecimento bem-sucedido
estaria associado a uma vida longa e produtiva, seguida de um rápido declínio da autonomia e
da morte.
ATUAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA
Em relação à atuação da epidemiologia, em geral propõem-se três grandes áreas:
Descrição das condições de saúde da população, usualmente com recurso a indicadores de
saúde.
Investigação dos fatores determinantes das doenças, como no caso da identificação de
agentes etiológicos (vírus, bactérias etc.) ou fatores de risco (inatividade física, tabagismo,
obesidade etc.).
Avaliação da eficácia de ações para melhorar as condições de saúde. Exemplos comuns são
as obras de saneamento básico ou campanhas de vacinação.
A descrição das condições de saúde de uma população depende de um correto diagnóstico
da situação de saúde, primeiro passo para se que implementem ações para resolver os
problemas coletivos de saúde.
Para tanto, empreende-se uma coleta sistemática de dados sobre a saúde da população,
incluindo informações demográficas, econômicas, sociais, culturais e ambientais. A partir
dessas informações, compõem-se os indicadores de saúde. Os resultados dessa avaliação
diagnóstica subsidiarão hipóteses acerca dos fatores envolvidos em um dado cenário
epidemiológico, assim como planos de ação visando minimizar os problemas identificados.
 
Foto: Shutterstock.com
Um aspecto importante do diagnóstico da situação de saúde é o estabelecimento do risco de
desenvolvimento das doenças. Em resumo, estima-se o risco ou a probabilidade de que uma
doença se instale.
Em epidemiologia, o conceito de risco é definido como o grau de probabilidade da ocorrência
de um determinado evento, revestindo-se de diversas ramificações, das quais duas podem ser
consideradas como principais:
Risco relativo (razão de risco – RR)
O RR refere-se a quantas vezes os indivíduos expostos a determinados fatores têm mais risco
de desenvolver uma doença, em comparação com indivíduos não expostos.

Razão de chances (odds ratio – OR)
A OR indica se a chance de se desenvolver uma doença específica no grupo de indivíduos
expostos é maior (ou menor) do que no grupo de não expostos.
A DIFERENÇA ENTRE RR E OR RESIDE NO FATO DE O
PRIMEIRO ILUSTRAR O RISCO OU A PROBABILIDADE
DE ADOECER, ENQUANTO O SEGUNDO DESIGNA A
CHANCE DE ADOECER.
Explica-se:
No cálculo da probabilidade, compara-se o número de casos favoráveis com o de casos
possíveis.

No cálculo da chance, compara-se o número de casos favoráveis com o de casos
desfavoráveis.

O RR corresponde à divisão da incidência do desfecho em expostos e não expostos.
Imagine que um estudo encontre que entre vendedores ambulantes a incidência de câncer de
pele tenha sido de 10%, sendo apenas de 2% entre trabalhadores administrativos. O RR para a
ocorrência de câncer depele, portanto, foi cinco vezes maior nos trabalhadores ambulantes
que nos trabalhadores administrativos. No cálculo do RR, estima-se a probabilidade da
ocorrência de um evento.
A OR É CALCULADA PELA RAZÃO DE PRODUTOS
CRUZADOS (A.D)/(B.C) , ISTO É, A MULTIPLICAÇÃO
DO ESPERADO DIVIDIDO PELA MULTIPLICAÇÃO DO
INESPERADO.
Digamos que, em um grupo de indivíduos classificados como fisicamente inativos, tenha-se
observado a ocorrência de 45 (a = Fator esperado) infartos do miocárdio (15%), enquanto 255
(b = Fator inesperado) indivíduos não tenham sofrido este evento (85%). Por outro lado, em um
grupo classificado como fisicamente ativo, os infartos do miocárdio aconteceram em 15 (c =
Fator inesperado) indivíduos (5%), enquanto outros 285 (d = fator esperado) não foram
acometidos (95%). A chance de ocorrência de infarto, portanto, foi aproximadamente 3,4 vezes
maior entre os indivíduos fisicamente inativos versus inativos. Na OR, não se estima a
probabilidade (casos ocorridos entre os possíveis), mas sim a chance da ocorrência de um
evento, visto que se trata da divisão do esperado (a.d) pelo inesperado (b.c).
 ATENÇÃO
Com base na determinação de fatores de risco, é possível estabelecer um prognóstico, ou seja,
se o indivíduo acometido por determinada condição patológica terá maior ou menor
probabilidade de desenvolver outras complicações ou maior/menor tempo de sobrevida.
Esse fator de prognóstico é definido a partir de variáveis quantificadas na fase de
diagnóstico, que podem ser utilizadas em modelos preditores. A determinação de prognósticos
consiste em uma das aplicações principais da epidemiologia clínica. Fatores de prognóstico
são muito utilizados para estimar sobrevida em pacientes com neoplasias e determinados tipos
de doença cardíaca. Os desfechos possíveis relacionados a um fator de prognóstico são a
determinação de sobrevida, letalidade, mortalidade associadas a doenças específicas, bem
como sua remissão ou recorrência. Mais recentemente, a identificação de biomarcadores
diversos vem atribuindo uma nova perspectiva aos fatores de prognóstico, permitindo a
intervenção médica antes mesmo de os sintomas da doença aparecerem. Para além disso,
biomarcadores podem fornecer informações preciosas quanto às possibilidades de resposta a
tratamentos específicos.
 
Imagem: Shutterstock.com
Os indicadores de saúde produzidos pelos dados epidemiológicos permitirão o planejamento e
organização de serviços de saúde compatíveis com as necessidades de saúde das
populações. Portanto, quanto mais localizada e específica for a avaliação da situação de saúde
de uma população, mais fácil e eficiente será o planejamento das ações de saúde e a
organização dos serviços a ela oferecidos.
ATIVIDADE FÍSICA, PREVENÇÃO DE
DOENÇAS E IMPACTO NAS TAXAS DE
MORBIMORTALIDADE
A atividade física aparece na literatura como um dos fatores relacionados aos modos de vida
capaz de atenuar o risco de desenvolvimento de diversas enfermidades. Desse modo, o
estímulo a estilos de vida ativos é considerado central nas políticas públicas de promoção da
saúde, seja por meio de campanhas de informação, apoio a mudanças de comportamento ou
modificações no meio ambiente, tornando-o mais adequado para as atividades físicas.
 
Foto: Shutterstock.com
Em geral, pode-se dizer que essa aceitação inicia a partir de estudo que analisou a incidência
de doença coronariana em motoristas de ônibus ativos e sedentários, que trabalhavam nos
transportes coletivos em Londres (MORRIS et al., 1953). Um menor nível de atividades físicas
associou-se à maior prevalência de doença cardiovascular.
São diversos os estudos posteriores com diferentes populações e modalidades de atividades
físicas, ratificando a premissa de que um comportamento sedentário aumenta o risco para
doenças crônico-degenerativas em geral. Em 1980, a ocorrência de doença coronariana foi
acompanhada junto a mais de 17 mil servidores civis britânicos, durante mais de oito anos.
Constatou-se que a incidência, a gravidade e o tempo de recuperação foram significativamente
menores naqueles que se envolviam usualmente em atividades físicas vigorosas (MORRIS et
al., 1980).
Um dos grupos mais produtivos no estudo das relações entre atividade física e saúde foi o
coordenado por Ralph Paffenbarger.

No início da década de 1970, publicaram-se dados de mais de 6,5 mil trabalhadores da região
de São Francisco, acompanhados durante 22 anos.

Os indivíduos cuja atividade correspondia a um gasto calórico de pelo menos
8.500kcal/semana exibiram menor risco para desenvolver doença coronariana
(PAFFENBARGER et al., 1970; PAFFENBARGER; HALE, 1975).
 SAIBA MAIS
Anos mais tarde, o mesmo grupo publicou dados de quase 17 mil ex-alunos de Harvard
acompanhados por 16 anos. Houve uma clara relação entre a prática regular de atividades
físicas e menores taxas de morbimortalidade entre aqueles que dispendiam pelo menos
2000kcal/semana com exercícios moderados a vigorosos.
Outro centro que muito contribuiu para o entendimento do binômio atividade física e saúde foi o
Institute for Aerobic Research, em Dallas (Texas, EUA). Um dos estudos mais conhecidos foi
publicado por Blair et al. (1989), apresentando taxas de mortalidade de mais de 13 mil homens
e mulheres participantes de programa de treinamento naquele instituto, ao longo de oito anos.
As maiores taxas de mortalidade ocorreram entre os indivíduos menos versus mais ativos: 3,5
vezes mais elevadas nos homens e 4,5 vezes nas mulheres.
O INDICADOR MAIS PRECISO DE ESPERANÇA DE
VIDA FOI NÃO PERTENCER À CATEGORIA
SEDENTÁRIA, JÁ QUE DISCRETOS AUMENTOS NA
PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS IMPACTARAM NAS
TAXAS DE MORBIMORTALIDADE.
Recentemente, foi publicado estudo que investigou o impacto da prática de atividades físicas
em longo prazo sobre as taxas de mortalidade por todas as causas, doença cardiovascular e
câncer em 14.599 homens e mulheres com idades de 40 a 79 anos no Reino Unido, seguidos
por cerca de 12 anos (MOK et al., 2019). A atividade física foi quantificada por questionários e
mensuração direta de movimentos e frequência cardíaca:
Aqueles que, ao longo de cinco anos, aumentaram os níveis de atividade física até atingir o
recomendado pela OMS para promoção da saúde (150 minutos por semana) exibiram riscos
menores em todas as taxas: 36% menor para mortalidade por todas as causas, 39% para
causas cardiovasculares e 11% menor para o câncer.
Em relação ao padrão de atividades físicas, as reduções foram de 24%, 38% e 42% para o
nível baixo, médio e alto, respectivamente.
Em termos populacionais, concluiu-se que atender e manter pelo menos as recomendações
mínimas de atividade física para a saúde poderia evitar 46% das mortes associadas à
inatividade física.
Adultos de meia-idade e idosos, incluindo aqueles com doenças cardiovasculares e câncer,
obtiveram benefícios substanciais de longevidade ao aumentarem seus níveis de atividades
físicas, independentemente de fatores de risco já existentes.
PODE-SE AFIRMAR, ENTÃO, QUE É CADA VEZ MAIOR
O RECONHECIMENTO QUE INICIATIVAS VISANDO À
PROMOÇÃO DA SAÚDE DEVAM INCORPORAR O
APOIO A MODOS DE VIDA ATIVOS EM QUALQUER
IDADE.
No Brasil, ainda não existem estudos epidemiológicos quanto às relações entre atividade física
e morbimortalidade por todas as causas em grandes populações. No entanto, há
levantamentos acerca do perfil de atividades físicas em diversas regiões do país. De acordo
com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), realizada em 2019 (IBGE, 2020), cerca de 40% da população adulta pode
ser considerada sedentária ou insuficientemente ativa, ou seja, não praticam atividades físicas
ou o fazem por menos do que 150 minutos/semana considerando lazer, trabalho e
deslocamento para o trabalho. Desse total, quase 60% das pessoas de 60 anos ou mais era
insuficientemente ativa, enquanto o menor nível de sedentarismo foi observado entre 18 e 24
anos de idade (32,8%),seguido de 25 a 39 anos (32,9%). Apenas 34% dos homens adultos
envolviam-se com atividades físicas em níveis recomendados para a saúde no tempo livre,
enquanto para as mulheres esse percentual foi de 26%. Em domicílio, atividades físicas
vigorosas (faxina etc.) eram realizadas durante 150 minutos/semana por 16% dos adultos,
principalmente mulheres (22%) em comparação aos homens (9%).
 
Foto: Shutterstock.com
Além das atividades físicas em si, volta-se também para o período de inatividade física como
fator de exposição importante – ou seja, as horas em que os indivíduos adotam
comportamentos sedentários são tão importantes quanto aquelas em que se envolve com
práticas corporais ativas. A prevalência do comportamento sedentário nas populações é,
portanto, questão epidemiológica fundamental. Outro aspecto que vem sendo investigado
remete à dose-resposta das atividades físicas realizadas, entendida como o volume e a
intensidade ideais para que se provoquem efeitos favoráveis em outros fatores de risco e na
própria chance de desenvolvimento das doenças.
 ATENÇÃO
Os fatores determinantes de mais ou menos envolvimento com atividades físicas no tempo livre
vêm sendo estudados, uma vez que definem a propensão de determinado grupo populacional
para adotar estilos ativos de vida. Sobre muitos desses fatores, os indivíduos têm pouco ou
nenhum controle, cabendo às coletividades encontrar solução para atenuá-los (equipamentos
públicos, segurança, transporte etc.).
As informações fornecidas por esses estudos são cruciais para que se identifiquem obstáculos
e proponham-se estratégias para superá-los, no sentido de facilitar a opção pela prática
continuada de atividades físicas. Apenas com mais aderência às atividades corporais no
tempo livre, teremos nessa prática uma variável capaz de impactar no risco de doenças,
qualidade de vida e na própria saúde pública.
EPIDEMIOLOGIA E ATIVIDADE FÍSICA
O doutor Paulo de Tarso Veras Farinatti fala sobre o conceito de epidemiologia e o papel da
atividade física como fator de prevenção de doenças e morbimortalidade.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Objetivos da Epidemiologia
Objetivos da Epidemiologia
Modelo de transição epidemiológica
Modelo de transição epidemiológica
Compressão da morbidade
Compressão da morbidade
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA OBJETIVOS DA
EPIDEMIOLOGIA:
A) Descrever o estado e as condições de saúde de dada população, assim como obter
respostas sobre os determinantes dessas condições.
B) Avaliar a mortalidade e a morbidade de grupos populacionais específicos.
C) Identificar agentes etiológicos das doenças e fomentar pesquisas para fabricação de
vacinas.
D) Descrever e identificar comportamentos incompatíveis com a saúde, a fim de elaborar
políticas públicas para a prevenção de doenças.
E) Armazenar dados demográficos populacionais para estabelecer séries temporais.
2. QUANTO AO IMPACTO DAS ATIVIDADES FÍSICAS NAS TAXAS DE
MORBIMORTALIDADE É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Um maior nível de atividades físicas nas populações compromete o fenômeno da
compressão da morbidade.
B) Níveis menores de atividades físicas são desejáveis quando a pirâmide etária revela maior
percentual de idosos na população.
C) Pequenos incrementos no tempo livre ocupado com atividades físicas já acarretam impacto
favorável nas taxas de morbimortalidade populacional.
D) As atividades físicas com potencial benéfico à prevenção de doença cardiovascular são
apenas aquelas cuja intensidade é de moderada a vigorosa.
E) O tempo ocupado com atividades sedentárias só é importante caso os indivíduos não
realizem atividades físicas em volume compatível com o recomendado pela OMS.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que apresenta objetivos da epidemiologia:
A alternativa "A " está correta.
 
Epidemiologia é uma ciência que estuda eventos ou fatores que afetam as populações. Quanto
aos aspectos relacionados à saúde, tem o objetivo de avaliar as condições de saúde em que a
população se encontra, assim como os fatores determinantes dessas condições.
2. Quanto ao impacto das atividades físicas nas taxas de morbimortalidade é correto
afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
 
Os estudos epidemiológicos indicam que, quanto às atividades físicas, o melhor preditor de
esperança de vida é não pertencer à categoria sedentária e que discretos aumentos em sua
prática impactam significativamente nas taxas de morbimortalidade.
MÓDULO 2
 Identificar os indicadores epidemiológicos das condições de saúde e da qualidade de
vida e as fases de instalação de uma doença e seus níveis de prevenção
INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS DE
SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Uma das grandes dificuldades em epidemiologia é medir o padrão de vida em nível
populacional. Por outro lado, isso é necessário para a comparação de dados entre diferentes
regiões, épocas ou grupos populacionais em um mesmo local e tempo.
Nos anos 1950, a OMS formou um Comitê para definir os métodos mais satisfatórios para
definir e avaliar o nível de vida. Evidentemente, índices únicos não poderiam ser utilizados com
esse fim.

Desde a sua criação, a OMS reconheceu que indicadores de saúde e qualidade de vida
deveriam assumir um perfil multifatorial, compatível com a própria forma pela qual se entendem
tais construtos.
A COMPLEXIDADE DESSES CONCEITOS EXIGE QUE
SE ADOTEM PERSPECTIVAS VARIADAS DE
AVALIAÇÃO, INCLUINDO MORTALIDADE, MORBIDADE,
INCAPACIDADE FÍSICA, GRAU DE AUTONOMIA DAS
PESSOAS (PRINCIPALMENTE OS IDOSOS),
ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO, QUALIDADE
DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE ETC.
A escolha dos indicadores depende dos objetivos da avaliação, bem como de determinantes
metodológicos, éticos e operacionais. Por essas razões, comitê formado pela OMS sugeriu
várias dimensões que poderiam ser consideradas em separado ou conjunto para avaliar a
saúde e a qualidade de vida das populações:
• Saúde, incluindo condições demográficas (mortalidade, morbidade etc.)
• Estado nutricional
• Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico
• Condições de trabalho e situação de emprego
• Consumo e economia
• Transporte e moradia, incluindo saneamento e qualidade dos domicílios
• Vestuário
• Recreação
• Segurança social
• Liberdade e direitos humanos.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
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Dimensões da OMS para avaliar a saúde e a qualidade de vida
INDICADORES DE SAÚDE
Alguns dos principais indicadores de saúde são de natureza demográfica. No entanto,
uma crítica usual é o foco em variáveis mais associadas à ausência de saúde (doenças
ou morte) do que à saúde propriamente dita, denotando uma abordagem negativa (por
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exclusão). Os críticos defendem a utilização de indicadores positivos de saúde. No
entanto, esses indicadores são mais difíceis de definir, em virtude de certa subjetividade
em sua interpretação.
 EXEMPLO
Uma alta natalidade em um país subdesenvolvido pode ser vista como um aspecto
negativo, ao passo que em regiões onde essa taxa é baixa historicamente, pode ser
interpretada como desejável.
Indicadores positivos da saúde são sempre carregados de subjetividade, já que remetem
a conceitos dos quais todos temos uma percepção intuitiva, mas em relação aos quais
dificilmente concordamos em sua definição. Esse é o caso de noções como bem-estar,
qualidade de vida, normalidade etc.
Os principais indicadores epidemiológicos de saúde ainda são aqueles ligados à
prevalência e a causas das doenças, como:
Taxas de mortalidade ou sobrevivência
Taxas de morbidade ou incapacidade
Indicadores de nutrição, crescimento e desenvolvimento
Aspectos demográficos e condições socioeconômicas
Indicadores de saúde ambiental
Acesso aos serviços de saúde
 
Imagem: Shutterstock.com
A seguir, veremos cada um desses indicadores de maneira mais detalhada.
TAXAS DE MORTALIDADE OU SOBREVIVÊNCIAÉ o indicador de saúde mais antigo, sendo fácil de operar e interpretar. A morte é um
evento inequívoco e, em princípio, os óbitos e suas causas devem ser obrigatoriamente
registrados. Com isso, facilita-se o estabelecimento de séries temporais para uma dada
causa de mortalidade, por exemplo.
 ATENÇÃO
A principal limitação reside no fato de que a morte se encontra no extremo negativo do
processo saúde-doença, provendo informações imprecisas sobre a história natural da
doença. Além disso, muitas doenças não têm como desfecho comum a morte, o que leva
a uma sub-representação de sua incidência. Uma vez que apenas uma pequena parcela
da população falece a cada ano (em geral, 1% do total), mudanças nas taxas mortalidade
são lentas e suas informações pouco úteis para planejamentos de prazo curto e médio.
TAXAS DE MORBIDADE OU INCAPACIDADE
Depois da mortalidade, os indicadores mais utilizados são as taxas de morbidade. O
levantamento da prevalência das doenças é tão mais preciso, quanto maior a
capilaridade dos sistemas de saúde.
 
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No Brasil, em que pesem suas limitações, o Sistema Único de Saúde alcança todas as
cidades do país e as informações obtidas são um bom espelho da realidade
epidemiológica no país.
O conhecimento das taxas de morbidade permite a avaliação dos riscos de
acometimento de doenças específicas, bem como de seus fatores determinantes. Com
isso, pode-se planejar ações adequadas às diferentes regiões, de acordo com seu perfil
epidemiológico, inclusive o oferecimento de serviços de saúde que melhor atendam às
demandas identificadas. Séries temporais de morbidade permitem conhecer mudanças
relacionadas a certas doenças em prazo relativamente curto, ajudando na adaptação das
políticas públicas.
INDICADORES DE NUTRIÇÃO, CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO
Os indicadores nutricionais podem ser agrupados naqueles de avaliação direta e
avaliação indireta.
Avaliação direta
São os índices como a mortalidade infantil, renda per capita ou disponibilidade de
alimentos.

Avaliação indireta
São utilizadas avaliações dietéticas (inquéritos dietéticos e consumo de nutrientes),
avaliações clínicas (peso, estatura, perímetro cefálico, pregas cutâneas, índice de massa
corporal – IMC etc.) ou avaliações laboratoriais (ferro, vitaminas etc.). É fácil
compreender que estas últimas são mais difíceis de obter, não apenas pelos custos, mas
também pela dificuldade de se estabelecer um “padrão de referência” de normalidade na
população.
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E CONDIÇÕES
SOCIOECONÔMICAS
Para além da mortalidade, indicadores demográficos comumente considerados na
avaliação da saúde são a natalidade, fecundidade e as migrações. Entre os índices mais
usados internacionalmente, destacam-se a esperança de vida ao nascer, fecundidade,
natalidade, a estrutura etária e a distribuição por sexo da população. Além da facilidade
para obter essas informações, sua interpretação é simples e direta.
 EXEMPLO
Quando a população jovem (0-14 anos) predomina sobre a população idosa (> 65 anos),
isso costuma ser indicativo de piores condições de vida e saúde do que o inverso. As
demandas de cada uma dessas realidades são, igualmente, diversas – enquanto, na
primeira, as necessidades seriam de serviços de saúde materno-infantil, saúde da
criança e oferecimento de ensino fundamental, na segunda, as demandas tendem a se
concentrar em serviços de atenção ambulatorial e hospitalar, medicamentos de uso
contínuo ou suporte social ao idoso.
INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
Os indicadores ambientais incluem as condições de moradia e são estreitamente
associados com o nível socioeconômico da população. São informações importantes
nessa categoria a extensão da cobertura e a qualidade do saneamento básico
(abastecimento de água, coleta de esgoto, lixo e destinação das águas pluviais).
INDICADORES DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Representam o quanto a população pode contar com assistência no caso de
acometimento de enfermidades, sendo comumente estratificados em indicadores de
insumos, de processo e de impacto.
INDICADORES DE INSUMO
INDICADORES DE PROCESSO
INDICADORES DE IMPACTO
INDICADORES DE INSUMO
Remetem aos recursos humanos e materiais em saúde, como a quantidade por mil
habitantes de profissionais de saúde (médicos, dentistas, enfermeiros), leitos
hospitalares ou gastos e distribuição dos recursos financeiros com saúde.
INDICADORES DE PROCESSO
Avaliam o quanto a população participa de ações que conduzem à prevenção e cura das
doenças. Exemplos são a proporção de gestantes que fazem pré-natal ou homens que
realizam exames preventivos de câncer de próstata.
INDICADORES DE IMPACTO
Quantificam os resultados das ações em saúde, de maneira a se otimizarem os
investimentos. Por exemplo, o impacto do aumento das redes de saneamento básico
nos anos 1980 e 1990 sobre a mortalidade infantil no Brasil foi evidente, mais que
justificando investimentos adicionais no setor.
INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA
Tendem a ser mais complexos que os indicadores de saúde desenvolvidos com base na
prevalência e causas das enfermidades. Isso se deve à natureza intrinsecamente
polissêmica dessa noção.
 
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Para a OMS, a qualidade de vida é definida como a percepção do indivíduo sobre sua
posição na vida, segundo o contexto cultural e o sistema de valores no qual vive e em
relação a suas aspirações, expectativas, referências e interesses. Trata-se de um
conceito amplo, influenciado de maneira complexa pelas relações sociais e pela
interação com o meio ambiente (WHO, 1997). Na busca de sintetizar a complexidade da
noção de qualidade de vida, dando conta de sua relatividade cultural e social, diversos
indicadores têm sido propostos.
UM DOS INDICADORES MAIS CONHECIDOS É O
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH),
ELABORADO PELO PROGRAMA DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO.

O IDH foi criado a partir da aceitação de que o conceito de desenvolvimento não poderia
ser discutido a partir de aspectos puramente econômicos (nível de renda, produto
interno bruto - PIB etc.), mas deveria também incluir fatores sociais e culturais.
Encontram-se integrados nesse indicador elementos relacionados à renda, à saúde e à
educação, considerados fundamentais e de igual importância para a qualidade de vida
de uma população.


Logo, o IDH coaduna-se com a aceitação de que incrementos na qualidade de vida
decorrem do aumento da capacidade de realização pessoal, ou seja, na capacidade de
desenvolvimento humano.
Isso resultaria não apenas de maior riqueza, mas também de níveis de saúde e
educação, que permitem a expansão dos horizontes das pessoas para uma realização
mais plena.

Apesar de composto, o IDH é um indicador relativamente simples da qualidade de vida,
que é obtido pela média entre os níveis de renda, saúde e educação. A renda é avaliada
pelo PIB per capita; a saúde, pela esperança de vida ao nascer, e a educação, pelas
taxas de alfabetização de adultos e matrículas nos ensinos fundamental, médio e
superior. Pela facilidade de obtenção desses índices, o IDH reveste-se de grande
potencial de aplicação e, por isso, foi amplamente aceito internacionalmente, inclusive
no Brasil.
OUTRO BOM EXEMPLO É O INSTRUMENTO
DESENVOLVIDO PELA OMS ATRAVÉS DE SEU GRUPO
DE QUALIDADE DE VIDA, JÁ COM VERSÕES
VALIDADAS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA. O
QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA DA OMS FOI
DESENVOLVIDO EM ESTUDO MULTICÊNTRICO E
TOMOU POR BASE A PREMISSA DE QUE A
QUALIDADE DE VIDA SERIA UMA CONSTRUÇÃO
SUBJETIVA (PERCEPÇÃO DO INDIVÍDUO),
MULTIDIMENSIONAL E COMPOSTA POR ELEMENTOS
POSITIVOS (POR EXEMPLO, MOBILIDADE E BEM-
ESTAR) E NEGATIVOS (DOR E DOENÇA).
O resultado foi a proposição de versões longa e curta do questionário World Health
Organization Quality of Life (WHOQOL-100 e WHOQOL-breve, com apenas uma questão
de cada faceta do WHOQOL-100). Ambas podem ser usadas em uma grande variedade
de ambientes culturais, permitindo compararos resultados de diferentes populações e
países.
Adicionalmente, módulos foram desenvolvidos para permitir avaliações mais detalhadas
de populações específicas (por exemplo, pacientes com câncer, refugiados, idosos e
pessoas com certas doenças, como HIV/AIDS). Ambas as versões podem ser facilmente
encontradas na internet e em diversos idiomas.
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Apresentação do WHOQOL e WHOQOL breve
MEDICINA PREVENTIVA VERSUS CURATIVA
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A medicina curativa preocupa-se com a cura dos estados patológicos. Suas técnicas
visam tratar sintomas manifestos para que não evoluam, buscando evitar o agravamento
e as complicações de um problema de saúde em curso. Isso pode ser feito por meio de
medicamentos, terapias ou intervenções cirúrgicas.

 
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A medicina preventiva vale-se de outras estratégias para promover a saúde das pessoas.
Seu foco é prevenir o desenvolvimento das enfermidades, buscando identificar fatores
de risco relacionados à sua história natural. Exemplos de intervenções em medicina
preventiva são as vacinas ou as modificações de hábitos associados ao aumento do
risco de doenças.
Conforme discutido no módulo anterior, ao longo do século XIX, o pensamento
sanitarista predominante valorizava a história natural das doenças, adotando como
ponto central de sua prevenção a observação dos ambientes em que se desenvolviam.
Os médicos envolvidos com o intenso movimento social que emergiu nesse período, ao
relacionarem a doença com o ambiente, articulavam-no também às relações sociais que
o produziam.
BASICAMENTE, AS ENFERMIDADES ERAM
ASSOCIADAS ÀS CONDIÇÕES DE VIDA,
TRANSFORMANDO-SE HISTORICAMENTE DE
ACORDO COM A SUA EVOLUÇÃO. COM O ADVENTO
DA ERA BACTERIOLÓGICA E A AFIRMAÇÃO DA
DOUTRINA DA ETIOLOGIA ESPECÍFICA, AS PRÁTICAS
MÉDICAS MIGRARAM DA ANÁLISE DA HISTÓRIA
NATURAL DA DOENÇA PARA A BUSCA DAS SUAS
CAUSAS INDIVIDUAIS, PARTICULARMENTE, OS
GERMES.
Essa abordagem foi difundida por todos os setores da medicina, que passava, então, a
atacar as causas com tratamentos cada vez mais específicos. Passou-se a compreender
as doenças como resultantes das relações entre os agentes etiológicos e as alterações
fisiopatológicas por eles provocadas, traduzidas por sinais e sintomas mensuráveis.
A teoria do germe como causa das enfermidades possibilitou intervir no curso das
doenças transmissíveis, principalmente, por meio das vacinas. Afinal, esse tipo de
doença era o principal problema de saúde pública.
Uma vez que a maior parte das doenças infectocontagiosas foi controlada com
vacinação em massa, a ênfase da medicina deslocou-se para o tratamento de doenças
que não podiam ser prevenidas por essa via, mas sob a mesma perspectiva.
Desenvolveram-se técnicas cada vez mais sofisticadas para tratar problemas de saúde já
estabelecidos. Investia-se no diagnóstico precoce dos estados mórbidos, possibilitando
seu tratamento imediato.
Por outro lado, abandonava-se a visão sanitarista, negligenciando-se a sua origem – se
doenças poderiam ser prevenidas ou tratadas pela identificação do germe específico
que a causava, por que os grupos dominantes economicamente deveriam investir em
mudanças ambientais custosas ou em atenuar as diferenças sociais?
 RESPOSTA
Em suma, o ambiente em que as doenças se desenvolviam não era mais prioridade,
estabelecendo-se uma relação de causa e efeito entre germe e doença. A preocupação
principal era a doença, não o doente.
A influência da doutrina da etiologia específica na medicina fez com que grandes
investimentos fossem realizados no desenvolvimento de intervenções específicas,
individualizadas, de cunho predominantemente biológico e com recursos tecnológicos
dispendiosos, eminentemente centradas nos hospitais (hospitalocentrismo) e com
progressiva especialização dos médicos.
O movimento da medicina preventiva afirmou-se entre 1920 e 1950, principalmente, no
Reino Unido, nos Estados Unidos e no Canadá, a partir de críticas à medicina curativa
por pensadores que continuavam a discutir saúde sob uma perspectiva coletiva
(LEAVELL; CLARK, 1976).
Estabeleceu-se um conflito entre os estudiosos que defendiam serem as doenças fruto
de causas gerais (como pobreza, fome etc.) e aqueles que sustentavam a noção de que
causas e estratégias específicas deveriam ser buscadas.
Uma das consequências disso foi o desenvolvimento de um quadro teórico
independente do quadro da medicina clínica, a partir de outros postulados e interesses
(FARINATTI; FERREIRA, 2006). As escolas de saúde pública e os departamentos de
saúde denunciavam os desequilíbrios na alocação de recursos para a educação médica
e a adesão estrita ao paradigma biomédico para explicar as doenças e avaliar os
resultados das iniciativas no campo da saúde.
As críticas à ênfase excessiva na medicina curativa incluíam:
Ineficiência do foco na terapia, em vez de prevenção, com encarecimento da assistência
médica.
Especialização crescente da atividade médica, contribuindo com a redução do paciente
a órgãos e estruturas e, com isso, com uma relação pouco humanista entre médicos e
pacientes.
Conhecimento médico centrado em aspectos biológicos, quando doença e saúde são
construtos multifatoriais.
Afastamento entre medicina e interesses de saúde das comunidades, com abordagem
demasiadamente individualista.
Esses problemas eram tão mais graves, quanto maior a carência de recursos, como no
caso dos países subdesenvolvidos. Formavam-se médicos segundo os padrões dos
países desenvolvidos, estranhos à própria realidade em que viviam.
 SAIBA MAIS
Apenas para ilustrar, nos anos 1970, o Brasil lutava contra doenças infectocontagiosas
há muito debeladas em países desenvolvidos, como cólera, meningite ou poliomielite,
além de quadros endêmicos de malária, tuberculose ou esquistossomose, mas era
considerado líder em especialidades distantes desses problemas, como cirurgia plástica
ou transplante cardíaco.
O conceito de medicina preventiva viria firmar-se definitivamente a partir de meados do
século XX, com o reconhecimento de que as doenças, assim como a saúde, têm
natureza multifatorial, sobretudo a partir da criação da Organização Mundial da Saúde
em fins dos anos 1940 (FARINATTI; FERREIRA, 2006).
A CONCEPÇÃO BIOMÉDICA PERDIA CONSISTÊNCIA,
UMA VEZ QUE O REDUCIONISMO DO PARADIGMA DA
ETIOLOGIA ESPECÍFICA REPRESENTAVA UMA VISÃO
POR DEMAIS SIMPLISTA. É CADA VEZ MAIS CLARO
EM NOSSOS DIAS QUE OS PERFIS DE SAÚDE E DE
ENFERMIDADE DEPENDEM DAS CONDIÇÕES MAIS
GERAIS DE VIDA.
As taxas elevadas de morbidade e mortalidade dos países em desenvolvimento, em
comparação com as nações industrializadas, por exemplo, são em muito explicadas
pelos níveis acentuados de pobreza, decorrentes das condições econômicas e sociais
vigentes.
A grande incidência de problemas de saúde e doenças crônicas nas classes mais
pobres e grupos minoritários decorre de suas condições de trabalho e subsistência,
induzindo modos de vida pouco compatíveis com a saúde.

Assim, os aspectos socioculturais, político-econômicos e ecológicos mostram-se tão
importantes para as decisões sobre a saúde quanto os aspectos de ordem biológica.
DIVERSOS DOCUMENTOS FORAM PRODUZIDOS
NESSE SENTIDO:

1978
Um dos mais importantes foi a histórica Declaração de Alma-Ata da OMS (WHO, 1978),
na qual foram lançados os princípios do movimento da promoção da saúde. O texto
explicitava os postulados do programa Saúde para Todos 2000, advogando uma
mudança de investimentos por parte das nações que valorizasse iniciativas de
prevenção primária das doenças, e descrevia as mudanças nas expectativas relativas à
saúde dos povos.
1987
No Brasil, pode-se mencionar a Carta Brasileira de Saúde, editada na VIII Conferência
Nacional de Saúde em 1987. Nela, assume-se que a saúde depende de um amplo
espectro de fatores, como as “...condições de alimentação, de educação, de habitação,
de renda,do meio ambiente, de trabalho, de transporte, de emprego, de lazer, de
liberdade, de acesso [...] à terra e [...] aos serviços de saúde” (BRASIL, 1987, p. 382).

Em suma, afirmava-se o reconhecimento de que a prevenção de doenças seria uma
estratégia mais efetiva para o controle de doenças do que aguardar a sua evolução para,
então, tratá-la. A medicina preventiva seria uma especialidade dedicada à prevenção de
doenças e lesões. Em vez de tratar enfermidades ou amenizar os sintomas, busca-se
valorizar a adoção de hábitos saudáveis. Em tese, isso diminuiria os riscos de se
desenvolverem problemas crônicos.
 
Foto: Shutterstock.com
 ATENÇÃO
Em termos operacionais, pode-se entender a medicina preventiva como um conjunto de
técnicas representadas por ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças e
suas complicações. As intervenções são proativas, buscando identificar fatores atuais
que podem representar risco futuro para o surgimento ou agravamento de enfermidades.
A medicina preventiva é vista por muitos estudiosos como uma consequência das
demandas resultantes do processo de “transição epidemiológica”, como
envelhecimento populacional, compressão da morbidade e maior prevalência de
doenças crônico-degenerativas (LEAVELL; CLARK, 1976).

Os impactos dessa abordagem nos custos de saúde são evidentes. A medicina
preventiva vem se revelando a maneira mais eficaz e barata de lidar com possíveis
problemas de saúde.
Por isso, se há alguns anos as estratégias de medicina preventiva remetiam diretamente
à saúde pública, hoje, muitas de suas práticas foram incorporadas pela iniciativa
privada, particularmente, os planos de saúde suplementar.

Ainda que isso aconteça por meio de ações educativas e iniciativas incipientes de
“convite” a clientes para participação de programas que incluem exames preventivos,
aconselhamento nutricional e de atividades físicas, o fato é que as operadoras de saúde
começam a vislumbrar que investir em medicina preventiva pode reduzir
substancialmente seus custos futuros com tratamentos e internações. Essa diminuição
dos custos assistenciais vai par e par com a melhora das condições de saúde dos
beneficiários, o que apenas valoriza essa abordagem. Há, portanto, uma tendência de
que programas estruturados de medicina preventiva ganhem importância nos processos
decisórios na esfera da saúde pública e privada.
O MUNDO DO TRABALHO TAMBÉM VEM
ABRAÇANDO, PAULATINAMENTE, OS PRINCÍPIOS DA
MEDICINA PREVENTIVA, NO CONTEXTO DA MEDICINA
DO TRABALHO. PARA ALÉM DAS ATIVIDADES
COSTUMEIRAS DA REALIZAÇÃO DE EXAMES
ADMISSIONAIS E DEMISSIONAIS, MUITAS EMPRESAS
VÊM INVESTINDO NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS EM
SEUS FUNCIONÁRIOS, ESPECIALMENTE AQUELAS
DECORRENTES DA PRÓPRIA ATIVIDADE
PROFISSIONAL.
A assistência aos trabalhadores tende a diminuir os gastos com o absenteísmo, além de,
evidentemente, contribuir com a melhor qualidade de vida dos funcionários. Aliás, isso
abre um mercado interessante a diversos profissionais no campo dos exercícios
compensatórios (ou ginástica laboral), nutrição, psicologia, entre outros, que passam a
ter papel relevante na gestão de recursos humanos de qualquer empresa.
FASES DE INSTALAÇÃO DAS DOENÇAS E
NÍVEIS DE PREVENÇÃO
A prevenção das doenças no contexto da medicina preventiva envolve ações
antecipadas, com base nos conhecimentos de que se dispõe acerca da história natural
da doença, de maneira a dificultar sua instalação ou atenuar sua evolução. A prevenção
pode se dar em três níveis:
Prevenção primária
Prevenção secundária
Prevenção terciária
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
Envolve estratégias que visam impedir o surgimento de enfermidades no período de pré-
patogênese. Isso vai desde ações educativas até intervenções invasivas, como as
vacinas. De modo geral, trata-se de iniciativas que visam aumentar a resistência às
doenças, mas também o bem-estar geral dos indivíduos e coletividades. Costuma-se
dividir a prevenção primária em dois níveis, o da promoção da saúde e da proteção
específica.
 
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PROMOÇÃO DA SAÚDE
Engloba as ações que visam ao bem-estar geral, sem visar à nenhuma doença em
particular. O foco é a qualidade de vida de indivíduos e comunidades, contribuindo para
prevenir o desenvolvimento de processos patogênicos. Alguns exemplos são a
educação alimentar, incentivo à prática de atividades físicas, campanhas contra o uso de
álcool ou tabaco etc.
 
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PROTEÇÃO ESPECÍFICA
Também ocorre no período pré-patogênico, mas as ações são dirigidas ao combate de
enfermidades específicas. Nessa categoria, estão vacinação, exame pré-natal,
eliminação de focos de vetores de doenças, distribuição de preservativos, adoção de
medidas ergonômicas e ginástica laboral no ambiente de trabalho, entre outras.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
Diz respeito às ações desenvolvidas junto a pacientes que já se encontram doentes, mas
em um estado inicial da enfermidade. A intenção é evitar o agravamento da doença.
Nesse nível, os tratamentos visam evitar complicações ulteriores decorrentes da
evolução da doença, como invalidez ou enfermidades secundárias. Aqui, as
intervenções são relevantes por limitar a extensão das lesões e retardar o aparecimento
de complicações. Isso acontece em dois níveis:
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PRECOCE
LIMITAÇÃO DE INCAPACIDADES E DEFICIÊNCIAS
 EXEMPLO
Exames periódicos de saúde (check-ups), intervenções médicas ou cirúrgicas precoces.
No caso das atividades físicas, programas delineados para pacientes em estágio inicial
de hipertensão ou síndrome metabólica podem ser classificados como de prevenção
secundária.
PREVENÇÃO TERCIÁRIA
Diz respeito às ações de reabilitação do paciente. Envolve práticas que são aplicadas
quando o paciente apresenta uma evolução significativa da enfermidade, que passa a se
manifestar de forma crônica ou deixa sequelas. Estratégias de prevenção terciária
buscam atenuar as limitações resultantes das doenças, para que tragam o menor
prejuízo possível à vida cotidiana dos pacientes e familiares. O propósito é contribuir
para que o indivíduo aprenda a conviver com sua condição de saúde e leve uma vida
produtiva e com qualidade. Temos como exemplos a terapia ocupacional, próteses e
órteses e programas de reabilitação em geral.
ALGUNS AUTORES AINDA MENCIONAM A
EXISTÊNCIA DE UM QUARTO NÍVEL, A PREVENÇÃO
QUATERNÁRIA. AQUI, SERIAM INCLUÍDAS AS AÇÕES
PARA PREVENIR UMA MEDICALIZAÇÃO EXAGERADA,
EVITANDO INTERNAÇÕES OU MEDICAÇÃO
DESNECESSÁRIAS. ADMITE-SE QUE A DOENÇA ESTÁ
CRONICAMENTE ESTABELECIDA E INTERVÉM-SE
PARA REDUZIR OS DESCONFORTOS MÉDICOS DE
SEU TRATAMENTO AO MÍNIMO POSSÍVEL.
Para resumir:
• Prevenção primária: Busca conscientizar e imunizar, prevenindo a doença antes
que possa se desenvolver.
• Prevenção secundária: Busca detectar precocemente os problemas, com o
objetivo de tratar a doença ainda no estágio inicial.
• Prevenção terciária: Busca a reabilitação, através de procedimentos para
diminuir os sintomas e complicações da doença.
• Prevenção quaternária: Busca evitar intervenções e limitar a prescrição de
medicações, através de ações que minimizem os efeitos colaterais de
procedimentos considerados excessivos e até mesmo evitar a sua realização.
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Níveis de prevenção da primária a quaternária
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Para fechar o presente módulo, passamos a discutir as fases de instalação das doenças.
Quando nos referimos à história natural da doença, designamos a descrição da sua
progressão, desde o momento da exposição aos agentes causais até seu desfecho (cura
ou morte).
 
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O conhecimento da forma pela qual evoluem as doenças consiste em uma das
preocupações principais da epidemiologia, tendo papel central na definição das ações
para o seu controle. Como dito, a epidemiologia pode ser entendida como uma ciênciaque estuda os processos saúde-doença e como seus determinantes se distribuem na
sociedade.
Em geral, são esquematizadas três classes de fatores no processo saúde-doença:
AGENTE
HOSPEDEIRO
AMBIENTE
A suscetibilidade do hospedeiro ao agente etiológico é influenciada pelas características
do ambiente, que pode favorecer a evolução patológica ou a resistência à doença. Com
base nisso, Leavell e Clark (1976) propuseram quatro estágios para a instalação das
doenças:
Interação estímulo-hospedeiro

Patogênese precoce

Doença precoce discernível

Doença avançada
Além disso, identificaram quatro fases da evolução na história natural das doenças, as
quais podem ser associadas aos seus níveis de prevenção:
Fase inicial ou de suscetibilidade
Fase patológica pré-clínica
Fase clínica
Fase de incapacidade residual
A seguir, veremos cada uma dessas fases de maneira mais detalhada.
FASE SUBCLÍNICA
As duas primeiras fases – suscetibilidade e pré-clínica – são consideradas pré-
patogênicas.
Na fase de suscetibilidade, temos o período em que a doença ainda não se manifestou
clinicamente, mas fatores de risco podem ser identificados e, portanto, atenuados para
prevenir a enfermidade. A fase pré-clínica compreende os períodos de interação
estímulo-suscetível e de alterações bioquímicas, fisiológicas e histopatológicas. Em
ambos, ainda não se observam sintomas, apesar de já ter havido alterações patológicas
no organismo.
No período interação estímulo-suscetível, os fatores para o desenvolvimento da doença
estão presentes, apesar de ela não ter evoluído a maiores proporções.
No período de alterações bioquímicas, fisiológicas e histopatológicas, a doença já se
encontra instalada, mesmo que não haja sintomatologia clínica. Nesse momento,
exames laboratoriais específicos são capazes de revelar o processo patogênico.
O curso da doença nas fases de suscetibilidade e pré-clínica pode ser considerado
como subclínico (ou seja, abaixo do limiar clínico), evoluindo para a cura ou para a fase
clínica. Iniciativas compatíveis com a prevenção primária e secundária aplicam-se a
essas fases da evolução das doenças. No caso da atenção primária, temos ações como
vacinação, uso de equipamentos de proteção individual, adoção de hábitos saudáveis
etc. No caso da prevenção secundária, incluem-se estratégias de diagnóstico precoce,
como tecnologias de rastreio (p. ex., teste do pezinho), exames periódicos ou sistemas
de vigilância epidemiológica – no Brasil, temos o VIGITEL, que faz um excelente trabalho
nesse sentido.
FASE CLÍNICA
Marca o início do período patogênico da doença, caracterizando-se pela expressão de
sinais e sintomas claros e danos a órgãos e sistemas. A doença pode apresentar
diferentes níveis de gravidade e evoluir para a cura, óbito, ou ainda para uma
estabilização crônica.
 ATENÇÃO
Em termos epidemiológicos, divide-se, então, o período clínico em uma fase de sinais e
sintomas e outra de cronicidade. Medidas preventivas nesta fase coadunam-se com a
prevenção secundária, buscando intervir adequadamente para evitar o agravamento da
enfermidade e potenciais sequelas.
Em termos epidemiológicos, é fundamental para um correto manejo da fase clínica das
doenças o acesso universalizado das populações a serviços de saúde.
FASE DE INCAPACIDADE RESIDUAL
Lida-se com as consequências das doenças, seja pelas sequelas por elas produzidas ou
pelo controle de condições patológicas que se tornaram crônicas. Nesta fase, aplicam-
se estratégias de prevenção terciária, sendo possível intervir por meio de uma grande
multiplicidade de ações nos níveis ambulatorial, hospitalar, educacional, ambiental,
legislativo etc., buscando aumentar a capacidade dos pacientes em lidar com a doença
(cirurgias, medicamentos, próteses, educação, treinamento, terapia ocupacional etc.) e
modificar o próprio ambiente (asilos, centros de reabilitação, construções adaptadas
etc.).
A figura a seguir resume as fases de instalação das doenças no curso de sua história
natural, associando-as aos níveis de prevenção comumente aceitos em medicina
preventiva.
 
Imagem: Pereira, 2005. Adaptado por Paulo de Tarso Veras Farinatti.
Fases de instalação das doenças (história natural) e níveis de prevenção associados.
 
Imagem: Pereira, 2005. Adaptado por Paulo de Tarso Veras Farinatti.
Fases de instalação das doenças (história natural) e níveis de prevenção associados.
O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS
O doutor Paulo de Tarso Veras Farinatti fala sobre os principais indicadores
epidemiológicos, as versões longa e curta do WHOQOL e sua aplicabilidade e os níveis
de prevenção de doenças.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Dimensões da OMS para avaliar a saúde e a qualidade de vida
Dimensões da OMS para avaliar a saúde e a qualidade de vida
Apresentação do WHOQOL e WHOQOL breve
Apresentação do WHOQOL e WHOQOL breve
Níveis de prevenção da primária a quaternária
Níveis de prevenção da primária a quaternária
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUANTO AOS PRINCIPAIS INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS DE
SAÚDE, PODE-SE AFIRMAR QUE:
A) Focam exclusivamente variáveis relacionadas à ausência de doenças e bem-estar
físico, mental e social.
B) Incluem taxas de morbimortalidade, incapacidade, informações nutricionais,
demográficas econômicas, ambientais e de acesso aos serviços de saúde.
C) São mais completos em relação aos indicadores compostos de qualidade de vida.
D) Não são tão úteis quanto os indicadores de qualidade de vida para planejamento em
longo prazo.
E) São índices únicos e melhor interpretados separadamente do que em conjunto.
2. EM RELAÇÃO ÀS FASES DE INSTALAÇÃO DAS DOENÇAS E NÍVEIS DE
PREVENÇÃO, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Na fase pré-patogênica, incluem-se as fases pré-clínica e clínica, cabendo
intervenções de prevenção secundária.
B) Na fase clínica, temos preocupação com as sequelas das doenças, cabendo
intervenções de prevenção terciária.
C) A fase de suscetibilidade é o momento mais propício para que se intervenha com
ações de prevenção primária.
D) Ações de prevenção quaternária são típicas da fase de incapacidade residual.
E) Na fase de interação estímulo sensível, os sintomas das doenças são claros,
intervindo-se sobretudo com ações de prevenção secundária.
GABARITO
1. Quanto aos principais indicadores epidemiológicos de saúde, pode-se afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
 
A complexidade do conceito de saúde exige que se adotem perspectivas variadas de
avaliação, incluindo mortalidade, morbidade, incapacidade física, grau de autonomia das
pessoas, estrutura etária da população, qualidade da prestação de serviços de saúde
etc.
2. Em relação às fases de instalação das doenças e níveis de prevenção, é correto
afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
 
Na fase de suscetibilidade, a doença ainda não se manifestou clinicamente, mas fatores
de risco podem ser identificados e atenuados para prevenir a enfermidade.
MÓDULO 3
 Identificar as recomendações de agências normativas para prescrição de exercícios
físicos
RECOMENDAÇÕES DO COLÉGIO
AMERICANO 
DE MEDICINA DO ESPORTE (ACSM)
O último posicionamento oficial do ACSM relativo à prescrição de exercícios para
manter uma aptidão física adequada foi publicado em 2011 (GARBER et al., 2011).
Seu objetivo foi oferecer orientações adequadas aos profissionais que prescrevem
exercícios individualizados para adultos saudáveis de todas as idades.

No entanto, as recomendações também se aplicam a adultos com doenças crônicas,
principalmente as de natureza cardiovascular ou metabólica.
Cabe ressaltar que esse posicionamento oficial não foi estruturado para orientações no
treinamento de atletas. O foco é o exercício físico, ou seja, a prática intencional de
atividades físicas com um objetivo preestabelecido. Atividade física, exercício e aptidão
física são termos correlatos, mas não têm o mesmo significado.
Atividade física
 
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Pode ser definida como qualquermovimento corporal produzido pelos músculos
esqueléticos, que resulta em gasto energético maior do que os níveis de repouso. Desse
modo, todo movimento corporal que realizamos, como as atividades domésticas, lavar o
carro, passear com o cachorro, brincar, entre outros, constituem atividades físicas.
Logo, todos realizamos atividades físicas em algum nível.
Exercício físico
Quando as atividades físicas são realizadas com a finalidade de desenvolver aspectos
específicos da capacidade de se realizar trabalho, precisam ter características
relacionadas à natureza desse trabalho. Essa intencionalidade caracteriza o conceito de
exercício físico.
 
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Os exercícios físicos consistem em atividades físicas planejadas, sistematizadas e
repetitivas que visam alcançar objetivos específicos. Em geral, programas de exercícios
físicos são delineados para preservar ou melhorar um ou mais componentes
relacionados da aptidão relacionada à saúde ou ao desempenho.
Logo, atividade física e exercício físico diferenciam-se em virtude da intencionalidade do
movimento. Em linhas gerais, todo exercício físico pode ser considerado atividade física.
No entanto, são atividades planejadas com estímulos controlados, produzindo
resultados que podem ser acompanhados e previstos.
Aptidão física
O CONCEITO DE EXERCÍCIO FÍSICO, UMA VEZ
LIGADO À NOÇÃO DE FATORES TREINÁVEIS,
CONDUZ NATURALMENTE À NOÇÃO DE APTIDÃO
FÍSICA.
Em contraste com a atividade física, que concerne aos movimentos que realizamos, a
aptidão física refere-se a um conjunto de atributos que as pessoas possuem ou desejam
alcançar. Melhorar a aptidão física significa aumentar a capacidade de realizar tarefas
diárias, com menos fadiga e eficiência.
 
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A aptidão física relacionada à saúde engloba as qualidades físicas necessárias para a
realização das atividades cotidianas e prevenção de doenças, principalmente as de
natureza crônico-degenerativa. Uma vez influenciada em larga medida por aspectos
fisiológicos, aceita-se que níveis mínimos em seu desenvolvimento tendem a oferecer
alguma proteção aos distúrbios orgânicos relacionados ao envelhecimento e estilos
inativos de vida.
 ATENÇÃO
Programas de exercícios com ênfase na aptidão física relacionada à saúde costumam
incluir estímulos para a preservação ou incremento da capacidade aeróbia (ou
cardiorrespiratória), força muscular (máxima e resistência), flexibilidade e composição
corporal adequada.
APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA E
COMPOSIÇÃO CORPORAL
Nas esferas de aptidão cardiorrespiratória e composição corporal situam-se a maior
parte das evidências disponíveis, com efeitos benéficos tanto na capacidade de trabalho
físico quanto na prevenção de doenças cardiovasculares e metabólicas (hipertensão,
obesidade, diabetes, doença coronariana etc.).
AS RELAÇÕES ENTRE APTIDÃO
CARDIORRESPIRATÓRIA E FATORES DE RISCO PARA
ESSAS DOENÇAS TENDEM A SER PARALELOS COM
AQUELES ASSOCIADOS AO NÍVEL DE ATIVIDADE
FÍSICA. OS DEMAIS COMPONENTES DA APTIDÃO
FÍSICA TERIAM IMPACTO EM FUNÇÕES
IMPORTANTES PARA A SAÚDE, PORÉM, MAIS
ESPECÍFICAS, COMO FORÇA E MOBILIDADE
NECESSÁRIAS PARA A INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL,
PREVENÇÃO DA SARCOPENIA, OSTEOPOROSE E
OUTROS COMPROMETIMENTOS DO APARELHO
LOCOMOTOR.
Volume
O volume de atividades físicas necessário para efeitos benéficos à saúde é amplamente
discutido.
Reconhece-se que comportamentos que envolvam maiores níveis de atividades são, em
princípio, aqueles que acarretam maiores benefícios.
 
Contudo, a quantidade e qualidade ideais para a obtenção desses efeitos ainda é
contraditória na literatura.
 RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS
A duração recomendada pelo ACSM para sessões de treinamento aeróbio é de 20 a 60
minutos, com a busca do equilíbrio entre intensidade e duração à medida que a
capacidade cardiorrespiratória aumenta.
Com base em estudos epidemiológicos, sugere-se um gasto energético de
aproximadamente 1000kcal por semana (ou 150 minutos por semana) com atividades
moderadas a vigorosas (3-6 METs para pessoas com cerca de 70-90kg), o que
equivaleria a 30-60 minutos por dia.
MET
Equivalente metabólico; 1 MET corresponde à energia suficiente para um indivíduo
permanecer em repouso. De modo prático, o MET representa o número de vezes
pelo qual o metabolismo de repouso foi multiplicado durante uma atividade
específica.

Em iniciantes fisicamente inativos, um montante de 20 minutos por dia parece já surtir
efeitos positivos sobre a saúde.
Uma recomendação que poderia contribuir com a individualização do volume de
atividades seria equacioná-lo com base na aptidão física.


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Assim, a redução do risco tenderia a ser maior em indivíduos com maior aptidão
cardiorrespiratória.
Por outro lado, também necessitariam de menor volume de atividades para um impacto
no risco equivalente ao observado naqueles com menor capacidade cardiorrespiratória.

Intensidade
Para a melhoria da aptidão cardiorrespiratória, a importância da intensidade aumenta –
de fato, trata-se do principal componente de adaptações em longo prazo na aptidão
cardiorrespiratória.
O ACSM recomenda:
Indivíduos iniciantes
Exercícios com intensidade leve a moderada (40-70% da capacidade máxima de
consumo de oxigênio ou VO2máx).

Praticantes treinados
Indicam-se intensidades moderadas a vigorosas (até 90% VO2max).
PARA O INDIVÍDUO MÉDIO, A FAIXA DE INTENSIDADE
CONSIDERADA COMO SENSÍVEL AO TREINAMENTO
VARIA ENTRE 60 E 90% DO VO2MÁX.
Duração
O padrão de realização dos exercícios físicos também foi abordado. Indica-se que
sessões de ao menos 10 minutos poderiam ser feitas de maneira acumulada, para atingir
os 30 minutos diários desejáveis. Esses efeitos, contudo, seriam mais propensos a
ocorrer em fatores de risco cardiovascular do que na aptidão cardiorrespiratória.
Isso parece não ocorrer quando o padrão se aproxima do que se denominou “guerreiros
de fim de semana”.

Nesses casos, acumular 150 minutos de atividade aos sábados e domingos, com amplos
volumes de atividades concentrados em poucos dias, teria riscos bem estabelecidos,
enquanto os benefícios seriam duvidosos, principalmente em indivíduos com fatores de
risco observados.

Ao menos nesses casos, a regularidade parece ser um aspecto fundamental dos
programas de exercícios visando saúde.
Os treinamentos intervalados, em que se varia a intensidade dos exercícios na mesma
sessão de treinamento, parecem ter impacto tão similar no risco cardiovascular quanto
nos de tipo contínuo. No entanto, esse tipo de estratégia pode favorecer o
desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória e muscular, pela administração de
intensidades mais próximas da capacidade máxima do praticante.
 
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É interessante notar que o comportamento sedentário é entendido nesse parecer como
um dos padrões de atividade física – níveis muito reduzidos de dispêndio calórico, com
períodos prolongados na posição sentada ou de tela estariam associados com risco
elevado de morbimortalidade por causas cardiovasculares ou metabólicas. Isso
independeria da prática de exercícios em períodos curtos do dia ou da semana, mesmo
quando compatíveis com o nível de atividades recomendadas para a saúde (150 minutos
por semana).
A INTERRUPÇÃO DESSES LONGOS PERÍODOS DE
COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO, AINDA QUE COM
ATIVIDADES LEVES (FICAR EM PÉ, CAMINHAR ETC.),
SERIA IMPORTANTE PARA ATENUAR EFEITOS
DELETÉRIOS DA INATIVIDADE. ASSIM, NÃO SERIA
SUFICIENTE CONSIDERAR SE UM INDIVÍDUO FAZ
ATIVIDADES FÍSICAS, DEVENDO-SE TAMBÉM
ATENTAR PARA O TEMPO DISPENDIDO EM
ATIVIDADES COMPLETAMENTE SEDENTÁRIAS, COMO
ASSISTIR TELEVISÃO OU TRABALHAR SENTADO.
TREINAMENTO DE FORÇA OU RESISTIDO
Recomenda-se a inclusão de exercícios para a função muscular em programas de
treinamento, com vistas a promover saúde. Vários são os tipos possíveis de exercícios,
de caráter geral e envolvendo grandes grupamentos musculares e valendo-se de pesos,
máquinas ou mesmo bandaselásticas.
Para adultos saudáveis, programas de treinamento de resistência deveriam incluir
exercícios dinâmicos multiarticulares para o fortalecimento do tórax, ombros, costas,
quadris, pernas, tronco e braços.
Exercícios uniarticulares, que isolam funcionalmente grupos musculares como
abdominais, extensores lombares, panturrilha, isquiotibiais, quadríceps, bíceps, entre
outros, também são recomendados.
Indica-se, ainda, que se trabalhem grupos musculares opostos (antagonistas) para
prevenir desequilíbrios, sempre de forma bilateral. A técnica correta de execução é
fundamental para preservar a integridade do praticante e administração correta dos
estímulos.
Quanto à respiração, recomenda-se o tipo passiva-eletiva, exalando-se o ar durante a
fase concêntrica e inalando-o durante a fase excêntrica, evitando-se a manobra de
Valsalva. Não se recomendam rotinas envolvendo exclusivamente contrações
excêntricas, em virtude de danos musculares, dor e, em última análise, complicações
graves como rabdomiólise.
MANOBRA DE VALSALVA
Aplicação de força durante um exercício com interrupção do fluxo respiratório.
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RABDOMIÓLISE
Lesão muscular com extravasamento de conteúdo intracelular, como proteínas,
enzimas e eletrólitos que, em casos graves e sem tratamento, pode causar danos
severos na função renal.
Intensidade
As cargas aplicadas devem variar de acordo com o grau de condicionamento dos
praticantes. Em geral, aumentos na força e massa musculares parecem ocorrer em
resposta a cargas correspondentes a 60-80% da repetição máxima (1-RM).
 
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Iniciantes podem treinar com 60-70% de 1-RM (carga moderada a elevada), enquanto
praticantes mais experientes devem mobilizar pelo menos 80% de 1-RM (carga elevada e
muito elevada).
As cargas deveriam permitir com que 8-12 repetições fossem realizadas em cada série,
não sendo necessárias repetições até a exaustão.
Volume
No começo dos programas de treinamento, com predomínio de adaptações neurais,
ganhos são observados com apenas uma série por exercício. À medida que os ganhos
de força passam a dever-se a mecanismos hipertróficos, 2-4 séries seriam
recomendadas.
A QUANTIDADE DE SÉRIES POR GRUPO MUSCULAR
PODE SER APLICADA EM UM ÚNICO OU VÁRIOS
EXERCÍCIOS, DEPENDENDO DOS OBJETIVOS DO
TREINAMENTO.

No caso de preservação da força ou melhoria da resistência muscular, cargas de 50% de
1-RM (cargas moderadas) parecem ser suficientes, com 15-25 repetições em no máximo
2 séries.
No caso de se desejar melhorar a potência muscular e o equilíbrio, principalmente em
idosos, foram indicadas rotinas com 3 séries de 8-12 repetições, com cargas de 20-50%
de 1-RM (cargas leves a moderadas) e movimentos feitos com velocidade.

Frequência
A frequência semanal também é considerada um componente do volume de treinamento,
dependendo do tempo necessário para um repouso adequado entre as sessões.
 RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS
No início de programas de treinamento, rotinas com 1-2 sessões por semana parecem
ser suficientes para melhorar a força. Contudo, sugere-se uma frequência de 3-5
sessões por semana em praticantes mais avançados, que dependem de hipertrofia
muscular para o incremento da força.
Intervalos de recuperação de 2-3 minutos entre séries e exercícios são compatíveis com
ganhos de força e massa muscular. O repouso entre sessões de treinamento deveria ser
de 48-72 horas, para otimizar as adaptações celulares hipertróficas.
FLEXIBILIDADE
O desenvolvimento da flexibilidade é recomendado como maneira de melhorar a postura
e equilíbrio, especialmente quando combinado ao treinamento da força. Por outro lado,
nenhuma relação consistente foi estabelecida quanto à prevenção de lesões músculo-
tendinosas, lombalgia ou dor muscular tardia.
O objetivo principal dessa modalidade de treinamento é preservar ou aumentar a
amplitude de movimentos e efeitos positivos são rapidamente observados, em torno de
3-4 semanas de intervenção regular com frequência de 2-3 vezes por semana.
Diversos tipos de exercícios podem ser aplicados, desde métodos mais suaves, como o
estático ou mais agressivos, como os exercícios balísticos.
 
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No primeiro caso, conduz-se vagarosamente o movimento até a máxima amplitude,
mantendo a posição durante alguns segundos (10-30 segundos). Isso pode ser feito de
maneira ativa (como na ioga) ou passiva (com assistência de terceiros ou
equipamentos).
 
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No segundo caso, os movimentos são realizados com velocidade elevada para produzir
o alongamento, o que acarreta riscos de lesão conjuntiva e muscular, devendo ser
evitado por iniciantes.
No método da facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), há várias formas
possíveis de estímulo, mas, tipicamente, aplica-se uma contração isométrica do grupo
muscular que se deseja alongar seguido por um alongamento estático do mesmo grupo.
 ATENÇÃO
Os benefícios dos métodos de treinamento da flexibilidade tendem a ser similares,
quando realizados adequadamente. Os maiores riscos associados à forma balística e
FNP, todavia, fazem com que o método estático seja geralmente o mais indicado para
praticantes iniciantes com flexibilidade reduzida.
Exercícios de flexibilidade também podem ser incluídos como parte de aquecimento ou
volta à calma em sessões de treinamento aeróbio ou de força. Nesses casos,
intensidades submáximas devem ser aplicadas. Os grupos articulares a serem
priorizados relacionam-se com a mobilidade geral e a deambulação, como o tronco,
quadril e tornozelos, ou a realização de atividades cotidianas, como os ombros.
RECOMENDAÇÕES DA OMS
Em 2020, a OMS publicou suas recomendações mais recentes quanto à prática de
atividades físicas e comportamento sedentário (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
O documento sumariza informações baseadas em evidências para estabelecer
recomendações de atividades físicas para crianças, adolescentes e adultos (jovens e
idosos) sob a perspectiva da saúde pública. Além disso, pela primeira vez, são
fornecidas indicações acerca das relações entre comportamento sedentário e o
desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas.
AS DIRETRIZES DA OMS FORAM ELABORADAS A
PARTIR DE REVISÕES SISTEMÁTICAS DE ESTUDOS
EPIDEMIOLÓGICOS E ENSAIOS CLÍNICOS
RANDOMIZADOS DE ALTA QUALIDADE,
PROCURANDO LEVAR EM CONTA AS DIFERENÇAS
REGIONAIS QUANTO AOS OBSTÁCULOS PARA A
PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS.
O documento provê recomendações para todas as populações e os grupos de idade
variando de 5 a mais de 65 anos, independentemente do sexo, status socioeconômico
ou proficiência motora. Com isso, esperou-se fornecer subsídios a iniciativas de órgãos
governamentais e não governamentais para o fomento da atividade física em nível
populacional, no contexto do plano de ação global sobre atividade física 2018-2030
daquela agência, que visa reduzir a inatividade física em 15% até 2030.
A PRINCIPAL DIFERENÇA ENTRE O PRESENTE
POSICIONAMENTO DA OMS E O DA ACSM É A
ESTRATIFICAÇÃO POR FAIXAS ETÁRIAS E A
INCLUSÃO DE INDIVÍDUOS COM DISTÚRBIOS DE
SAÚDE CRÔNICOS.
Neste módulo, sumarizamos as recomendações para praticantes saudáveis de diferentes
idades.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Para crianças e adolescentes (5-17 anos), a OMS esclarece que as atividades físicas
deveriam ser realizadas como parte de recreação e lazer (brincar, jogos, esportes ou
exercícios planejados), educação física, transporte (caminhada ou ciclismo) ou tarefas
domésticas, no contexto de ambientes educacionais, domésticos e comunitários.
Nessa faixa etária, espera-se que a prática regular de atividades físicas confira
benefícios na aptidão física (cardiorrespiratória e muscular), saúde cardiometabólica
(pressão arterial, dislipidemia, glicose resistência à insulina, obesidade etc.), saúde
óssea, desempenho cognitivo (resultados acadêmicos, função executiva) e saúde mental
(relacionamento social etc.).
Recomenda-se que realizem cerca de 60

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