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1. COMPREENDER A PRODUÇÃO FISIOLÓGICA DOS HORMÔNIOS ESTEROIDAIS. Histologicamente, o córtex da adrenal possui 3 camadas: a zona glomerulosa (mais externa - encarregada da produção de aldosterona), a zona fasciculada (meio - produção de cortisol) e a zona reticular (mais interna - produção de androgênios). Os hormônios produzidos pela suprarrenal são chamados de esteroides porque todos derivam de um precursor comum: o colesterol, proveniente tanto da dieta quanto da síntese endógena. Os esteroides adrenais são constituídos por diversos anéis aromáticos e contem 19 ou 21 átomos de carbono. Os C19-esteroides (com 19 carbonos) são representados pelos androgênios. Como possuem um grupamento cetona no carbono 17, são também chamados de 17-cetoesteroides. Já os C21-esteroides (com 21 carbonos) podem atuar como glicocorticoides ou mineralocorticoides. Ao receberem um radical hidroxila no carbono 17, passam a ser chamados de 17-hidroxicorticosteroides, sendo classificados como glicocorticoides. Na ausência da 17- hidroxilação, os C21-esteroides são classificados como mineralocorticoides. Os estrogênios (hormônios sexuais femininos) possuem 18 carbonos e NÃO são produzidos pelas adrenais, tendo origem nos ovários ou na conversão periférica de androgênios em estrogênios pela aromatase que se localiza no tecido adiposo. Observe: a deficiência da CYP17 promove um acúmulo de pregnenolona, cujo excesso será desviado para a síntese de aldosterona, já que essas não precisam dessa enzima para sintetizar seus produtos. Já a deficiência da CYP21A2 impede a síntese de cortisol e aldosterona. Nesse caso, o excesso de precursores é desviado para a síntese de androgênios renais, caracterizando a forma mais comum de HAC. DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS SP5: Acontece rapidamente.. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-SUPRARRENAL O cortisol é regulado pelo ACTH (corticotrofina), um hormônio produzido pela hipofise. O hipotálamo produz o CRH (hormônio liberador de corticotrofina) que estimula a secreção de ACTH após ser transportado pelo sistema porta- hipofisario. O ACTH estimula principalmente as zonas fasciculada e reticular, promovendo secreção de cortisol e androgênio. De forma limitada, ele também estimula a secreção de aldosterona pela camada glomerulosa (mas o controle desta é feito principalmente pelo sistema renina- angiotensina). O ACTH se liga a um receptor de membrana, ativando a primeira enzima da esteroidogênese (Star ou regulador agudo da esteroidogênese). Tal enzima cliva a cadeia lateral de colesterol, convertendo-o em pregnenolona e representa a etapa limitante de todo o processo de esteroidogênese. O ACTH possui efeito trófico sobre a glândula: na sua ausência ocorre atrofia do córtex, e no seu excesso hiperplasia. Vale lembrar, que na ausência de ACTH (insuficiência adrenal secundária ex: uso de glicocorticoide exógeno) a aldosterona continua a ser secretada (controle pelo SRAA). Já nos casos de insuficiência adrenal primaria (doença da própria glândula) todos os hormônios suprarrenais se tornam deficitários. O eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal contém uma alça de feedback negativo. O cortisol inibe a síntese de ACTH pela adeno-hipófise e de CRH pelos neurônios hipotalâmicos. 2. DEFINIR HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA E SUA EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA (DISTURBIO HIDROELETROLÍTICO), FATORES DE RISCO, QUADRO CLINICO, DIAGNÓSTICO, EXAMES E TRATAMENTO. A hiperplasia adrenal congênita é um distúrbio autossômico recessivo, resultante da deficiência de uma das enzimas responsáveis pela síntese de cortisol nas glândulas adrenais. Os baixos níveis plasmáticos do cortisol, promovem um aumento na síntese e liberação de ACTH pela hipófise devido à redução do feedback negativo sobre o eixo hipotálamo-hipofise. O ACTH elevado estimula a adrenal, levando a sua hiperplasia e a um acumulo de metabolitos intermediários. EPIDEMIOLOGIA A HAC é uma doença com significativa morbimortalidade, frequentemente sub- diagnosticada no período neonatal, principalmente em crianças do sexo masculino, antes de sua inclusão nos testes de triagem neonatal. Em populações caucasianas, 90 a 95% dos casos de HAC ocorrem por redução da atividade da enzima 21-hidroxilase (21-OH), devido a mutações no gene CYP21A2 que codifica a enzima que leva o mesmo nome: CYP21A2, resultando em diferentes comprometimentos da atividade enzimática. Na maioria dos grupos étnicos, a deficiência de 11β-hidroxilase corresponde a segunda causa mais comum (5% dos casos). Mas, no Brasil essa deficiência é muito rara e a da 17α-hidroxilase é a segunda causa de HAC. Estudos recentes realizados na população brasileira demonstraram que a HAC também possui frequência elevada em nosso meio, variando de 1:10.000 a 1:18.000 nascidos vivos. FISIOPATOLOGIA Em decorrência do comprometimento da produção do cortisol, ocorre a hipersecreção secundária de adrenocorticotrofina (ACTH), resultante da ativação do feedback negativo. Esse excesso de ACTH estimula de modo contínuo o córtex adrenal, promovendo tanto sua hiperplasia como a hiperfunção das vias de síntese não comprometidas pela deficiência enzimática. Uma vez que precursores e outros produtos são secretados em excesso, o perfil esteroide final resulta em quadros clínicos variáveis e combinados de deficiência de glicocorticoides, deficiência ou excesso de mineralocorticoides e deficiência ou excesso de androgênios. FORMAS DE HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA As deficiências enzimáticas que envolvem a síntese do cortisol são as seguintes, por ordem de frequência: Deficiência de 21-hidroxilase (21-OH, CYP21A2) 90% dos casos Forma “não clássica” Forma “clássica” com perda de sal Forma “clássica” virilizante simples Deficiência de 17A-hidroxilase (17A-OH, CYP17) Deficiência de 11B-hidroxilase (11B-OH, CYP11B1) Deficiência de 3B-hidroxiesteroide desidrogenase (3B-olDH, 3B-HSD2) DEFICIÊNCIA DE 21-HIDROXILASE (21-OH) A deficiência de 21-hidroxilase (CYP21A2) é responsável, sozinha, por cerca de 90% dos casos de HAC. A transmissão familiar ocorre por herança autossômica recessiva. As formas não clássicas são mais comuns do que as clássicas e chegam a 0,1% da população em geral, com incidência maior (1:27 indivíduos) em judeus do leste europeu. A fisiopatologia dessa afecção caracteriza-se pela seguinte sequência de eventos: I. Alterações no gene CYP21A2 (deleções, mutações etc.) II. Deficiência de 21-hidroxilação III. Redução da síntese do cortisol IV. Elevação do ACTH V. Hiperplasia adrenal bilateral + elevação dos precursores do cortisol (progesterona e 17-OH progesterona) + estímulo da via de produção dos andrógenos (DHEA, androstenediona e testosterona). A enzima CYP21A2 está presente tanto na via glicocorticoide (convertendo a 17-α- hidroxiprogesterona em 11-desoxicortisol) quanto na via mineralocorticoide (convertendo a progesterona em 11-desoxicorticosterona). Desse modo, na forma completa da síndrome (deficiência enzimática profunda), ocorre choque circulatório hipovolêmico e hiponatrêmico nos primeiros dias após o nascimento (deficiência de cortisol + aldosterona). Em formas incompletas (deficiência enzimática parcial), tal desfecho dramático pode não acontecer. A maioria dos pacientes apresenta, além da deficiência de cortisol, um comprometimento da produção de aldosterona, já que ocorre um comprometimento da biossíntese dos mineralocorticoides, por conta da deficiência enzimática. A inabilidade para sintetizar aldosterona ou outro mineralocorticoide resulta da inadequada conservação renal de sódio, que ocorre junto a hipovolemia, episódios de hipotensão arterial e até choque.Com frequência esses indivíduos são hiperpotassêmicos e acidóticos. Assim, a atividade plasmática de renina (APR) encontra-se elevada, e isso reflete a contração crônica do volume do líquido extracelular e a redução do sódio total corporal. É importante lembrar que, na deficiência de 21-OH, a atividade residual enzimática manifesta-se em graus variados, resultando em tipos graves com perda de sal associada à virilização (atividade residual: < 1%), passando por virilizantes simples (atividade residual: 2 a 5%), até os mais leves, considerados não clássicos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - DEFICIENCIA DE 21-OH FORMA CLÁSSICA VIRILIZANTE SIMPLES: O menino encontra-se normal ao nascimento, porém sinais de puberdade precoce isossexual aparecem nos primeiros seis meses e, em casos mais arrastados, nos quatro a cinco primeiros anos de vida. Estes sinais incluem aumento do pênis, escroto e próstata; aparecimento de pelos pubianos; surgimento de acne e alteração no timbre da voz. Observamos músculos desenvolvidos e a idade cronológica óssea está adiantada (os androgênios em excesso aceleram a idade óssea, favorecendo o fechamento das epífises). Apesar do crescimento rápido inicial, as epífises se fecham antes do normal, justificando a baixa estatura na idade adulta em indivíduos não diagnosticados durante a infância. Nas meninas, encontramos pseudo- hermafroditismo feminino (ou seja, o cariótipo é 46 XX). Como esta deficiência enzimática se inicia no período fetal, já ao nascimento observamos, no recém-nato, hipertrofia do clitóris e graus variados de fusão labial. O grau de virilização da genitália pode ser clinicamente avaliado pela escala de Prader. FORMA CLÁSSICA PERDEDORA DE SAL: Nessa variedade de HAC, os sintomas aparecem ao nascimento, com perda ponderal progressiva, desidratação, vômitos, anorexia, distúrbios no ritmo cardíaco, cianose e dispneia. A forma clássica perdedora de sal, ao contrário do que muitos pensam, corresponde à maioria dos casos de deficiência de 21-hidroxilase (cerca de 66%), enquanto a forma virilizante simples responde por aproximadamente 32% dos casos. A incapacidade para sintetizar aldosterona e deoxicorticosterona (DOC) decorre do comprometimento da biossíntese de mineralocorticoides da zona glomerulosa devido à predominância da deficiência enzimática nessa camada. Assim, a atividade plasmática de renina (APR) encontra-se elevada, e isso reflete a contração crônica do volume do líquido extracelular e a redução do sódio total corporal (hiponatremia) A hiperpotassemia é frequente, e episódios de desidratação e hipovolemia ocorrem em geral entre a primeira e a terceira semanas de vida; Este problema parece ser ainda mais crítico em meninos, pois eles não apresentam alterações da genitália ao nascimento (como no caso das meninas, que apresentam graus variados de genitália ambígua), de modo que o pediatra pode não estar atento à possibilidade de HAC. FORMA NÃO CLÁSSICA; Nesta forma, as manifestações de virilização nas meninas não ocorrem ao nascimento, pois as mutações no gene CYP21A2 permitem uma atividade enzimática residual. Os pacientes com esta forma geralmente apresentam pubarca precoce durante a infância e sinais de hiperandrogenismo durante a adolescência. DIAGNÓSTICO O diagnóstico bioquímico da deficiência de 21- OH fundamenta-se no encontro de níveis séricos elevados de 17-OHP (“marcador” da doença), além dos níveis de androstenediona, testosterona e DHEA. O que diferencia a forma clássica da forma não clássica é o grau de déficit na atividade enzimática. Como nas formas não clássicas os níveis dos precursores metabólicos não são muito elevados, estaria indicado o teste de cortrosina (250mcg de ACTH, com dosagem hormonal basal e 60 min após estimulo). Seria esperado se encontrarmos formas não clássicos valores de 17-α-OHP > 1.000ng/dl (embora valores > 1.500 ng/dl sejam mais específicos) e de 21-desoxicortisol > 200 ng/dl após estímulo com ACTH. Em crianças prematuras sem HAC, o 17-OHP também se encontra elevado, entretanto tende a cair no segundo ao terceiro dia após o nascimento. Por outro lado, nos bebês com HAC, a 17-OH progesterona se eleva progressivamente, sobretudo após as primeiras 48 a 72 horas de vida. Outros achados incluem níveis baixos de cortisol, atividade de renina plasmática elevada (decorrente dos baixos níveis de aldosterona). Recém-natos com a forma perdedora de sal se apresentam com baixos teores de sódio e cloro no plasma e valores elevados de ureia e potássio. TRATAMENTO Com base na fisiopatologia da doença, o tratamento da deficiência da 21-OH visa à reposição continuada de glicocorticoides e mineralocorticoides em doses adequadas para suprir as necessidades fisiológicas do paciente e normalizar a hipersecreção do ACTH e da renina, com redução do estímulo sobre o córtex adrenal e promoção da involução da hiperplasia. A consequente redução da síntese adrenocortical normaliza a produção anômala de androgênios e impede a progressão da virilização, o que possibilita, com o tempo, a remissão do quadro. Em pacientes com a forma clássica é necessária a reposição de glicocorticoides para o resto da vida, sendo iniciada logo após o diagnóstico. A droga empregada é a hidrocortisona, na dose de 10 a 20 mg/m²/24h administrada por via oral em duas a três doses. A dose noturna deve ser maior, para suprimir o aumento fisiológico do ACTH noturno. O suporte mineralocorticoide é oferecido por meio da fludrocortisona (0.05 a 0,3 mg/dia). Para as crianças em aleitamento materno exclusivo ou em uso de fórmulas infantis, é essencial a oferta de cloreto de sódio (sal de cozinha) na dose de 1 a 2 g/dia, diluído em 20-30 mL de água e oferecido entre as mamadas. O bom controle terapêutico se reflete na ausência de sinais de Cushing, velocidade de crescimento adequada e maturação óssea compatível com a idade. Laboratorialmente, o principal critério indicador de bom controle terapêutico é a normalização dos níveis de androstenediona e testosterona, já que os níveis de 17-OHP não se normalizam, apesar de um bom controle. Isso tem importância terapêutica: diante de valores normais de 17-OHP, podemos afirmar que a dose de glicocorticoide usada está sendo alta e o paciente poderá apresentar futuramente sinais de Cushing. Devemos, portanto, reduzir a dose do glicocorticoide nesses casos... Em situações de estresse (como febre e infecção), que aumentam a necessidade de glicocorticoides, deve-se dobrar a dose de reposição, sem alterar a dose do mineralocorticoide. Em caso de vômitos, diarreia ou desidratação, deve-se administrar hidrocortisona venosa além da hidratação. TRATAMENTO PRÉ-NATAL Em gestações onde a mãe já possua uma criança portadora da forma clássica, é indicado iniciar antes da 7ª semana de gestação, o tratamento com dexametasona na dose de 20mg/kg/dia, dividida em 3x. Tem como objetivo principal evitar a virilização intrauterina da genitália externa de feto feminino portador da forma clássica. TRIAGEM NEONATAL A triagem neonatal da HAC foi implementada no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro no final de 2012 e é coordenada pelos Serviços de Referência em Triagem Neonatal (SRTN) de cada estado. A amostra de sangue para dosagem da 17-OHP deve ser coletada entre o terceiro e o quinto dia de vida. Recomendam-se pontos de corte da concentração de 17-OHP estratificados por peso ao nascer, para evitar resultados falso-positivos. A triagem possibilita o diagnóstico precoce da doença, previne e/ou atenua a gravidade da crise perdedora de sal, além de evitar complicações em longo prazo, principalmente as relacionadas à hiponatremia neonatal, tais como retardo mental e/ou déficits cognitivos.Tratamento no período neonatal Na fase aguda, o tratamento da crise de perda de sal consiste na hidratação com reposição de sódio e da administração endovenosa de hidrocortisona na dose inicial de 50 mglm2, seguida de manutenção com 25 a 50 mglm1 a cada oito horas até o reinício da alimentação. Compensada a fase aguda, introduz-se 9-alfa-Fluor- hidrocortisona 150 a 250 mg via oral em dose única pela manhã e hidrocortisona 10 a 15 mglm1/dia cm três tomadas, com 20% da dose maior à noite. As crianças devem ser acompanhadas semanalmente durante o primeiro mês de vida e a seguir a cada 2 a 3 semanas para adequação da dose do mineralocorticoide, já que a sensibilidade renal ao mineralocorticoide aumenta subitamente, o que pode acarretar retenção hídrica, edema e até insuficiência cardíaca. Prematuridade e baixo peso ao nascer são as principais causas de resultados falso-positivos na triagem neonatal para HAC 3. DIFERENCIAR CRISE ADRENAL DE SEPSE É bem descrito na literatura que, nas situações de estresse, tais como na sepse grave e choque séptico, ocorre uma estimulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e, assim sendo, um aumento na secreção de cortisol e perda no ritmo circadiano. A ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é componente essencial da adaptação do paciente à situação de estresse e contribui para manter a homeostase. Nas UTI, quanto maiores os escores de gravidade da doença, maiores os níveis esperados de cortisol e as taxas de mortalidade. A insuficiência adrenal relativa está presente quando a resposta adrenal é inadequada para a situação de estresse. Geralmente, estes pacientes apresentam os mais altos níveis de cortisol basal, mas não respondem ao teste de estímulo com ACTH, ou seja, não apresentam reserva adrenal. Já a insuficiência adrenal absoluta é caracterizada por baixos níveis de cortisol basal e a não resposta ao teste de estímulo com ACTH. Este padrão de resposta, em pacientes com choque séptico, não é o que verificamos habitualmente, já que em tal situação é esperada uma ativação do eixo hipotálamohipófise- adrenal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL Clinicamente, a insuficiência adrenal aguda pode ser indistinguível do choque séptico e hipovolêmico, entrando como diagnóstico diferencial. Existem muitos sintomas associados à insuficiência adrenal. Na maioria das vezes, suspeita-se do diagnóstico quando estes pacientes apresentam uma hipotensão refratária à fluidoterapia e às drogas vasoativas. Outros sintomas relacionados à insuficiência adrenal são: dor abdominal, febre na presença de culturas negativas e não responsiva a antibióticos, mudanças inexplicáveis do nível de consciência, anormalidades eletrolíticas (hipoglicemia, hiponatremia, hipercalemia), neutropenia e eosinofilia 4. ESTUDAR A FARMACOLOGIA DA OXACILINA E AMICACINA. OXACILINA A oxacilina é uma penicilina resistente à beta- lactamase estafilocóccica. Portanto, está indicada em infecções por estafilococos produtores de beta-lactamase, embora as cepas de estreptococos e penumococos sensíveis a penicilina também sejam sensíveis a esse fármaco. Microbiologia: As penicilinas penicilinase- resistentes exercem uma ação bactericida contra micro-organismos sensíveis durante a multiplicação ativa. Todas as penicilinas inibem a biossíntese da parede celular bacteriana. A oxacilina é ativa contra a maioria dos cocos gram-positivos, incluindo os estreptococos beta- hemolíticos, pneumococos e estafilococos não- produtores de penicilinase. Devido à sua resistência à enzima penicilinase, a oxacilina é ativa também contra estafilococos produtores de penicilinase. Propriedades farmacocinéticas: Absorção: A oxacilina é rapidamente absorvida após injeção intramuscular. Os picos séricos de oxacilina são atingidos em aproximadamente 30 minutos após a administração. Após injeção intramuscular de uma dose única de 250 mg ou 500 mg de oxacilina em adultos saudáveis, os picos médios de concentração sérica são 5,3 e 10,9 μg/mL, respectivamente. Distribuição: A oxacilina se liga às proteínas séricas em uma taxa de 89% a 94%, principalmente à albumina. A oxacilina é distribuída para os líquidos sinovial, pleural e pericárdio, bile, escarro, pulmões e ossos. Com doses normais, concentrações insignificantes de oxacilina são alcançadas nos fluidos cérebro-espinhal e ascítico. Metabolismo e eliminação: A meia-vida sérica de oxacilina em adultos com função renal normal é de 0,3 a 0,8 horas. A oxacilina é parcialmente metabolizada em metabólitos microbiologicamente ativos e inativos. A oxacilina e seus metabólitos são rapidamente excretados na urina por secreção tubular e filtração glomerular. A oxacilina é excretada também na bile. A oxacilina não é dialisável. A terapia deve ser continuada durante pelo menos 48 horas após o paciente tornar-se afebril, assintomático e possuir culturas negativas. Nas infecções graves por estafilococos, a terapia com penicilina penicilinaseresistente deve ser continuada por pelo menos 14 dias. O tratamento de endocardite e osteomielite podem requerer uma terapia de longa duração. AMICACINA Mecanismo de ação Os aminoglicosídeos inibem a síntese das proteínas bacterianas e tem ação mínima contra microrganismos anaeróbios. O efeito dos aminoglicosídeos é bactericida, sendo realçado por agentes que interferem na síntese da parede celular (p. ex., penicilinas). Resistência A resistência aos aminoglicosídeos vem-se tornando um problema. A resistência ocorre através de vários mecanismos diferentes, e o mais importante é a inativação por enzimas microbianas, das quais se conhecem nove ou mais. A amicacina foi considerada um substrato fraco para essas enzimas, mas alguns microrganismos também podem inativar esse agente. A resistência como resultado da falta de penetração pode ser largamente ultrapassada pelo uso concomitante de penicilina e/ou vancomicina, a custo do risco de aumento de efeitos adversos graves. Espectro antibacteriano Os aminoglicosídeos mostram-se efetivos contra muitos microrganismos Gram-negativos e alguns Gram-positivos. São amplamente utilizados contra microrganismos entéricos Gram-negativos e septicemia. Podem ser combinados com uma penicilina nas infecções causadas por estreptococos, por Listeria spp. e P. aeruginosa. A amicacina tem um espectro antimicrobiano mais amplo e pode ser eficaz em infecções por microrganismos resistentes à gentamicina e à tobramicina. Aspectos farmacocinéticos Não são absorvidos pelo trato gastrointestinal e, em geral, são administrados via intramuscular ou via intravenosa. Os aminoglicosídeos atravessam a placenta, mas não a barreira hematoencefálica, embora seja possível atingir elevadas concentrações nos fluidos articulares e pleurais. A eliminação ocorre totalmente através de filtração glomerular nos rins, sendo que 50 a 60% da dose é excretada inalterada após 24 horas. Se a função renal estiver comprometida, a acumulação ocorre rapidamente, resultando em aumento desses efeitos tóxicos (p. ex.,ototoxicidade e nefrotoxicidade), os quais estão relacionados com a dosagem. 5. CONHECER A FARMACOLOGIA DOS CORTICOESTEROIDES (GLICO E MINERALOCORTICOIDES); GLICOCORTICOIDES Os glicocorticoides, também conhecidos como anti-inflamatórios esteroidais, são hormônios sintetizados a partir do cortisol (que por sua vez deriva do colesterol), um hormônio normalmente fabricado pela glândula suprarrenal. Antes de conhecer os glicocorticoides como fármacos, é preciso ter ciência que eles são substâncias produzidas endogenamente pelo organismo, exercendo funções importantes nele: metabólicas, indução da produção de glicose, aumento da disponibilidade de nutrientes para o organismo. São prescritosmais comumente devido às intensas propriedades imunossupressoras e anti-inflamatórias. Os principais efeitos do corticoide são: Metabolismo dos carboidratos: aumentam a gliconeogênese hepática e são antagonistas periféricos da insulina, podendo induzir à hiperglicemia devido a redução da captação de glicose no músculo e tecido gorduroso. Portanto, os glicocorticoides podem causar diabetes, que normalmente é moderado, estável, sem cetose e relacionado com a dose e o tempo de administração. Na maioria das vezes, após a retirada do corticoide, o diabetes desaparece. Metabolismo proteico: ocorre inibição da síntese proteica e elevado catabolismo proteico com balanço nitrogenado negativo, provocando redução da massa muscular. Metabolismo lipídico: altas doses de corticoide podem levar à um aumento do VLDL e LDL. Efeitos no crescimento: a administração de corticoide em crianças pode provocar atraso no crescimento, causado pela redução da absorção de cálcio no intestino e efeito antianabólico e catabólico nas proteínas dos tecidos periféricos. Outro fator que pode prejudicar o crescimento é que os corticóides também podem antagonizar os efeitos do GH e interferir na sua secreção. Efeito no Na, K e Metabolismo da Água: a reabsorção de Na+ e a excreção de K+ são aumentadas pelo uso de corticoides e em altas doses pode ocorrer alcalose metabólica hipocalêmica. A interferência no metabolismo da água ocorre pelo aumento do “clearance” de água livre provocado por um efeito direto no túbulo renal e uma maior taxa de filtração glomerular. Além disso, os corticoides podem inibir a secreção do ADH (hormônio antidiurético), contudo, ainda não é conhecido por qual mecanismo. Efeito no Metabolismo do Cálcio: a absorção intestinal de cálcio é diminuída pelos corticoides, já a excreção fecal é aumentada pelo efeito antivitamina D a nível intestinal. O aumento da filtração glomerular juntamente com a redução da reabsorção tubular faz com que o rim aumente o “clearance” urinário de cálcio. Resposta Inflamatória: a potente ação anti- inflamatória dos corticoides ocorre principalmente devido a ação estabilizadora na membrana do lisossomo; a inibição da formação de cininas que provocam vasodilatação, maior permeabilidade capilar e dor; a inibição da proliferação de fibroblastos e a redução da síntese de colágeno. É importante lembrar que a concentração de corticosteroides endógenos (cortisol, cortisona e corticosterona) na circulação sanguínea é elevada no período da manhã e baixa no período da noite, CLASSIFICAÇÃO A classificação dos GC ocorre de acordo com sua duração de ação. A duração de ação pode ser curta, intermediária ou longa e tem como base o tempo de supressão do ACTH, após dose única que demonstre atividade anti-inflamatória equivalente a 50 mg de prednisona. Ação curta: suprimem o ACTH durante 8 a 12 horas. A cortisona e a hidrocortisona são exemplos. Ação intermediária: suprimem o ACTH por 12 a 36 horas. Como exemplo pode-se citar a prednisona, prednisolona, metilprednisolona e triancinolona. Ação longa: suprimem o ACTH por 36 a 72 horas. A dexametasona e a betametasona são representantes deste grupo. A retirada ou redução das doses de GC deve ocorrer de forma lenta e gradual em usuários crônicos destes hormônios, pois a retirada abrupta pode provocar a reativação da doença base ou a insuficiência adrenocortical secundária (supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal — HHA). EFEITOS ADVERSOS Os principais efeitos adversos dos glicocorticoides nos sistemas do corpo humano são: Sistema imunológico: maior probabilidade de desenvolver infecções secundárias. Sistema nervoso: podem ocorrer: estados depressivos e eufóricos, convulsão, psicoses e pseudotumor cerebral. Sistema ocular: distúrbios como glaucoma e catarata. Dermatológico: podem surgir acne, estrias róseas, fragilidade capilar, dificuldade de cicatrização de feridas e equimoses. Sistema musculoesquelético: complicações como osteoporose, miopatia e necrose asséptica. Sistema endócrino/metabólico: entre as principais complicações deste sistema estão: síndrome de Cushing, supressão do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal, diabetes, intolerância a glicose, obesidade central, dislipidemia, atraso do crescimento, distúrbios menstruais, impotência, balanço negativo de cálcio e nitrogênio. Sistema cardiovascular: pode ocorrer retenção hídrica, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e equimoses. Sistema gastrointestinal: podem ocorrer pancreatite, úlcera gastrointestinal, ulceração e sangramento digestivo. MINERALOCORTICOIDES Nos seres humanos, a aldosterona é o mineralocorticoide mais importante. Todavia, pequenas quantidades de desoxicorticosterona (DOC) também são formadas e liberadas. A fludrocortisona, um corticosteroide sintético é o hormônio de retenção de sal mais comumente prescrito. 1. ALDOSTERONA Os mineralocorticoides, exemplificados pela aldosterona, possuem duas funções básicas: regular o volume do líquido extracelular (controlando o balanço corporal de sódio) e excretar o excesso de potássio. Sua síntese é limitada à zona glomerulosa da adrenal, pois somente nessa região é expressa a enzima aldosterona sintetase (CYP11B2). Os mineralocorticoides estimulam um receptor intracitoplasmático conhecido como MR (receptor de mineralocorticoide). O complexo hormônio-receptor adentra o núcleo celular e modifica a transcrição gênica, estimulando a produção de proteínas como a NaK-ATPase e os canais luminais de sódio e de potássio (particularmente na célula principal do túbulo coletor renal). Lembre-se que, no túbulo coletor, para cada Na+ reabsorvido um K+ ou um H+ tem que ser secretado, de modo a manter o equilíbrio eletroquímico... Três fatores controlam a secreção de aldosterona pelas células da zona glomerulosa: (1) sistema renina-angiotensina; (2) potássio; e (3) ACTH 2. DESOXICORTICOSTERONA (DOC) A DOC que também serve como percursos da aldosterona, normalmente é secretado em quantidades de cerca de 200mcg/dia. Quando injetada na circulação humana, apresenta meia vida de cerca de 70 minutos. O controle da sua secreção difere daquele da aldosterona, visto que a secreção de DOC encontra-se principalmente sob o controle do ACTH. Embora a resposta do ACTH seja intensificada pela restrição dietética de sódio, uma dieta com baixo teor de sal não aumenta a secreção de DOC. Essa secreção pode aumentar em condições anormais como carcinoma adrenocortical e hiperplasia suprarrenal congênita com atividade reduzida de algumas enzimas. 3. FLUDROCORTISONA É um potente esteroide com atividade tanto glicocorticoide quanto mineralocorticoide, sendo o mineralocorticoide mais amplamente usado. Doses orais de 0,1mg, 2 a 7 vezes por semana, exercem poderosas atividades de retenção de sal e são usadas no tratamento da insuficiência corticossuprarrenal associada a deficiência de mineralocorticoides. Essas doses são muito pequenas para exercer qualquer efeito antiflamatório importante. 6. CONHECER O ACOMPANHAMENTO GENÉTICO FAMILIAR DA HAC. A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é uma doença genética hereditária, isto é, passada dos pais para o filho. A doença só ocorre quando a pessoa recebe dois genes alterados, um do pai e um da mãe, que são sadios (transmissão autossômica recessiva). Nesta situação, a cada gravidez, o casal que possui genes alterados terá 25% de chance de ter uma criança com a doença, 50% de ter uma criança sadia e portadora do gene alterado (como os pais) e 25% de ter uma criança sadia e sem o gene alterado. Por isso, é recomendado o aconselhamento genético aos pais, mostrando a possibilidade denovos casos na família e a importância redobrada do diagnóstico logo ao nascimento. 10 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022
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