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DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO Lisiane Mezzomo Legislação sanitária: propaganda de medicamentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os requisitos gerais para a publicidade de medicamentos. Reconhecer os requisitos para a distribuição de amostras grátis. Definir os requisitos para a produção de material explicativo de me- dicamentos manipulados. Introdução A Política Nacional de Medicamentos, por meio da Portaria nº. 3.916, de 30 de outubro de 1998, estabeleceu que a propaganda de produtos farmacêuticos direcionada aos médicos, ao comércio farmacêutico e à população deveria se enquadrar em todos os preceitos legais vigen- tes, nas diretrizes éticas emanadas do Conselho Nacional de Saúde e nos padrões éticos aceitos internacionalmente. No ano seguinte, a Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de 1999, determinou que o controle, a fiscalização e o acompanhamento da propaganda de medicamentos no Brasil seria de competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essas legislações reforçaram o que já havia sido estabelecido pela Constituição Federal de 1988, ou seja, que cabe ao Estado proteger a pessoa e a família das propagandas de produtos e das práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. Assim, a Consti- tuição Federal impõe restrições legais à propaganda de medicamentos, estabelecendo limites à propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, os quais devem conter, sempre que necessário, a advertência sobre os malefícios decorrentes do seu uso. Neste capítulo, você vai ler sobre os requisitos e as normativas legais para a publicidade de medicamentos, incluindo as condições necessárias para a distribuição de amostras grátis e os requisitos necessários para a propaganda de medicamentos manipulados. Requisitos legais para a publicidade de medicamentos Os medicamentos visam à recuperação da saúde. Portanto, não podem ser oferecidos da mesma maneira como outros bens e serviços de consumo. Nesse sentido, a Anvisa regulou a propaganda de medicamentos isentos de prescrição, normatizou a divulgação de medicamentos sob prescrição, as condições para a propaganda em eventos científi cos, campanhas sociais e a distribuição de amostras grátis. A primeira normativa que regulamentou a propaganda de medicamentos no Brasil foi a Lei nº. 6.360, de 23 de setembro de 1976 (BRASIL, 1976). Essa regulamentação representou um marco na publicidade de medicamentos e uma enorme mudança no controle sanitário desses produtos. Introduziu pontos impor- tantes, como a necessidade de autorização prévia pelo Ministério da Saúde para os anúncios de produtos sujeitos à vigilância sanitária, e determinou que a propaganda de substâncias, medicamentos ou qualquer outro produto com a exigência de venda sujeita à prescrição médica ou odontológica fosse restrita à distribuição a profissionais da saúde, como médicos, cirurgiões-dentistas e farmacêuticos. Além disso essa lei determinou que não poderiam constar quaisquer indicações que possibilitassem interpretação falsa, erro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou qualidade do produto, que atribuíssem a ele finalidades ou características diferentes daquelas que realmente possui. Posteriormente, com a criação da Anvisa pela Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de 1999 (BRASIL, 1999), instalaram-se mecanismos efetivos em busca de controle, fiscalização e acompanhamento de propaganda e publicidade de produtos submetidos ao regime de vigilância sanitária. Entre 1999 e 2008, outras três legislações também tiveram um papel importante na regulação da propaganda e publicidade dos medicamentos, entre elas: Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº. 102, de 30 de novembro de 2000; RDC nº. 133, de 12 de julho de 2001; RDC nº. 199, de 17 de agosto de 2004. Legislação sanitária: propaganda de medicamentos2 Nesse cenário, foi implementada a RDC nº. 96, de 17 de dezembro de 2008, ainda vigente. Essa normativa regulamenta a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial dos medicamentos. Objetiva, ainda, que as informações veiculadas pelas propagandas sejam corretas, equilibradas e acessíveis aos médicos, aos farmacêuticos e, principalmente, à população em geral. Essa RDC teve alguns artigos alterados no ano seguinte a sua publicação pela RDC nº. 23, de 20 de maio de 2009, em vigor atualmente. Somente é permitida a propaganda ou publicidade de medicamentos regularizados na Anvisa, e as informações sobre medicamentos devem ser comprovadas cientificamente (BRASIL, 2008). Os itens sob regulamentação da RDC nº. 96/2008 são todos aqueles que utilizam técnicas de comunicação com o objetivo de promover e/ou induzir a prescrição, dispensação, aquisição e utilização de medicamentos, sendo eles (BRASIL, 2008): anúncios feitos por apresentadores durante programas de rádio e tele- visão, ao público em geral; materiais elaborados pela indústria farmacêutica para serem expostos aos profissionais prescritores e dispensadores; artigos científicos entregues pelas empresas (quando reproduzidos na íntegra, são considerados material científico, porém os que apresentam informações destacadas, argumentos de cunho publicitário e outras informações ou imagens não publicadas no artigo científico são con- siderados propagandas); matérias sobre medicamentos veiculadas em revistas, jornais e rá- dio, quando patrocinadas pelos laboratórios farmacêuticos (caso não sejam patrocinadas, entretanto, promovam ou induzam a prescrição, dispensação, aquisição ou utilização de medicamentos, os veículos de comunicação devem observar a comprovação científica da informação e não divulgar mensagens que induzam à automedicação e ao uso de medicamentos de forma não racional). 3Legislação sanitária: propaganda de medicamentos A normativa proíbe a veiculação de imagem e/ou menção de qualquer substância ativa ou marca de medicamentos, de forma não declaradamente publicitária, em espaços editoriais na televisão, contexto cênico de telenovelas, espetáculos teatrais, filmes, mensagens ou programas radiofônicos, entre outros tipos de mídia eletrônica ou impressa (Quadro 1). Permissões na propaganda ou publicidade de medicamentos Utilizar figuras anatômicas, a fim de orientar sobre a correta utilização do produto. Informar o sabor do medicamento. Utilizar expressões como: “seguro”, “eficaz” e “qualidade”, em combinação ou isoladamente, desde que complementadas por frases que justifiquem a veracidade da informação, as quais devem ser extraídas de estudos veiculados em publicações científicas e devem estar devidamente referenciadas. Utilizar expressões como: “absoluta”, “excelente”, “máxima”, “ótima”, “perfeita”, “total” relacionadas à eficácia e à segurança do medicamento, quando fielmente reproduzidas de estudos veiculados em publicações científicas e devidamente referenciadas. Quando constar das propriedades aprovadas no registro do medicamento na Anvisa, informar que o medicamento pode ser utilizado por qualquer faixa etária, inclusive por intermédio de imagens. Quando determinado pela Anvisa, publicar mensagens, como: “aprovado”, “recomendado por especialista”, “o mais frequentemente recomendado” ou “publicidade aprovada pela Vigilância Sanitária'', pelo ''Ministério da Saúde”, ou mensagem similar referente a órgão congênere estadual, municipal e do Distrito Federal. Fazer menção à quantidade de países onde o medicamento é comercializado e/ou fabricado, desde que os países sejam identificados na peça publicitária. Quadro 1. Permissões e proibições na publicidade de medicamentos (Continua) Legislação sanitária: propaganda de medicamentos4 Fonte: Adaptado de Brasil (2008) e Brasil (2009). Proibições na propaganda ou publicidade de medicamentos Incluir imagens de pessoasfazendo uso do medicamento. Sugerir que o medicamento possua características organolépticas agradáveis, como: “saboroso”, “gostoso”, “delicioso” ou expressões equivalentes; bem como a inclusão de imagens ou figuras que remetam à indica- ção do sabor do medicamento. Usar expressões ou imagens que possam sugerir que a saúde de uma pessoa poderá ser afetada por não usar o medicamento. Sugerir ou estimular diagnósticos ao público em geral. Estimular e/ou induzir o uso indiscriminado de medicamentos. Empregar imperativos que induzam diretamente ao consumo de medicamentos, como: “tenha”, “tome”, “use”, “experimente”. Anunciar um medicamento como novo, depois de transcorridos dois anos da data de início de sua comer- cialização no Brasil. Incluir selos, marcas nominativas, figurativas ou mistas de instituições governamentais, entidades filantrópicas, fundações, associações e/ou sociedades médicas, organi- zações não governamentais, associações que representem os interesses dos consumidores ou dos profissionais de saúde e/ou selos de certificação de qualidade. Fazer propaganda ou publicidade de medicamentos e (ou) empresas em qualquer parte do bloco de receitu- ários médicos. Criar expectativa de venda. Divulgar como genéricos os medicamentos manipulados ou industrializados que não sejam genéricos. A veiculação, na televisão, de propaganda ou publici- dade de medicamentos nos intervalos dos programas destinados a crianças, conforme classificação do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como em revistas de conteúdo dedicado a esse público. Sugerir que o medicamento é a única alternativa de tratamento e/ou fazer crer que são supérfluos os hábitos de vida saudáveis e/ou a consulta ao médico. Utilização de designações, símbolos, figuras, imagens, desenhos, slogans e quaisquer argumentos de cunho publicitário em relação aos medicamentos. Quadro 1. Permissões e proibições na publicidade de medicamentos (Continuação) 5Legislação sanitária: propaganda de medicamentos Requisitos para a propaganda ou publicidade de medicamentos industrializados isentos de prescrição A RDC nº. 96/2008 (BRASIL, 2008), que regulamenta a propaganda, publi- cidade, informação e outras práticas de divulgação ou promoção comercial de medicamentos, estabelece que, nos medicamentos industrializados isentos de prescrição, devem constar as seguintes informações: nome comercial do medicamento, quando houver; nome da substância ativa de acordo com a denominação comum brasi- leira (DCB) e, na sua falta, a denominação comum internacional (DCI) ou nomenclatura botânica, que deverá ter, no mínimo, 50% do tamanho do nome comercial; número de registro na Anvisa, contemplando, no mínimo, nove dígitos, com exceção das peças publicitárias veiculadas em rádio; no caso dos medicamentos de notificação simplificada, a seguinte frase: “MEDICAMENTO DE NOTIFICAÇÃO SIMPLIFICADA RDC Anvisa nº _____ /2006. AFE nº:_____”, com exceção das peças publicitárias veiculadas em rádio; indicações; data de impressão das peças publicitárias; advertência: “SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DE- VERÁ SER CONSULTADO”. Na propaganda ou publicidade dos complexos vitamínicos e/ou minerais e/ou de aminoácidos, as expressões “polivitamínico” e/ou, “poliminerais” e/ou “poliaminoácidos” podem ser utilizadas. Requisitos para propaganda ou publicidade de medicamentos industrializados de venda sob prescrição A propaganda ou publicidade de medicamentos de venda sob prescrição é restrita aos meios de comunicação destinados exclusivamente aos profi ssionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar tais produtos. Devem incluir informações essenciais referentes a: Legislação sanitária: propaganda de medicamentos6 nome comercial do medicamento, quando houver; nome da substância ativa de acordo com a DCB e, na sua falta, a DCI ou nomenclatura botânica, que deverá ter, no mínimo, 50% do tamanho do nome comercial; número de registro na Anvisa, contemplando, no mínimo, os nove dígitos; indicações; contraindicações; cuidados e advertências (contemplando as reações adversas e interações com medicamentos, alimentos e álcool); posologia; classificação do medicamento em relação à prescrição e dispensação; data de impressão das peças publicitárias impressas. Além disso, cabe destacar que a propaganda ou publicidade de medica- mentos de venda sob prescrição veiculada na internet deve ser acessível, exclusivamente, aos profissionais habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos, por meio de sistema de cadastramento eletrônico. Quando forem destacados os benefícios do medicamento no texto da peça publicitá- ria, devem ser destacadas também, no mínimo uma contraindicação e uma interação medicamentosa mais frequente. As informações relacionadas à biodisponibilidade e à bioequivalência de princípios ativos poderão ser feitas com base em estudos aprovados pela Anvisa emitidos por laboratórios certificados. Vejamos o texto da propaganda de um medicamento com propriedades analgési- cas e antitérmicas veiculada antes da publicação da RDC nº. 96/2008 (BRASIL, 2008, documento on-line): Vamos falar sério, para tomar um remédio tem que ter confiança nele, a mesma confiança que a criança tem quando segura firme na mão do papai. Por isso que quando eu tenho dor, febre ou gripe eu só tomo [...] O [...] é feito com as melhores matérias-primas do mundo, por isso que a gente sabe que pode confiar nele há muito tempo. Pra você ficar legal, toma [...] (atriz) Contra dor, febre e gripe, com [...] você vai ficar legal. (narrador) Pode confiar! (atriz). Ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado. 7Legislação sanitária: propaganda de medicamentos A legislação determina que todo medicamento que constar na bula, registrada na Anvisa, que tenha efeito de sonolência ou sedação, na sua publicidade ou propaganda, deve apresentar a advertência: “[...] (nome comercial do medicamento ou, no caso dos medicamentos genéricos, a substância ativa) é um medicamento. Durante seu uso, não dirija veículos ou opere máquinas, pois sua agilidade e atenção podem estar prejudicadas” (BRASIL, 2008, documento on-line). A propaganda ou publicidade de medicamentos sob controle especial, sujeitos à venda sob prescrição médica, com notificação de receita ou retenção de receita, além de observar as disposições da RDC nº. 96/2008, somente pode ser efetuada em revistas de conteúdo exclusivamente técnico, referentes a patologias e medicamentos, dirigidas direta e unicamente a profissionais de saúde habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos (BRASIL, 2008). Requisitos necessários para a distribuição de amostras grátis A produção, a dispensação e o controle de amostras grátis de medicamentos é regulamentada pela RDC nº 60, de 26 de novembro de 2009 (BRASIL, Na propaganda, a voz que narra esse comercial é de uma atriz conhecida, o que não é permitido pela RDC nº. 96/2008, que preconiza (BRASIL, 2008, documento on-line): Na propaganda ou publicidade de medicamentos isentos de prescrição é vedado: apresentar nome, imagem e/ou voz de pessoa leiga em medi- cina ou farmácia, cujas características sejam facilmente reconhecidas pelo público em razão de sua celebridade, afirmando ou sugerindo que utiliza o medicamento ou recomendando o seu uso. No comercial, a atriz afirma que faz uso do medicamento com a frase “Quando eu te- nho dor, febre ou gripe eu só tomo [...]”. Ela também garante a eficácia do medicamento com a expressão “Pode confiar!”. Outro ponto em desacordo com a RDC nº. 96/2008 é o uso do imperativo “toma”, proibido pela legislação (BRASIL, 2008, documento on-line). Legislação sanitária: propaganda de medicamentos8 2009), que consolidou o entendimento sobre o assunto, publicado inicialmente um ano antes, pela RDC nº. 96/2008, que estabeleceu algumas regras para a distribuição de amostras grátis.A RDC nº. 60/2009 da Anvisa define amostra grátis como o medicamento com a quantidade total ou específica da apresentação registrada na Anvisa destinado à distribuição gratuita aos profissionais prescritores (são os profissionais de saúde autorizados legalmente para a prescrição de medicamentos no País) como ferramenta de publicidade, pois é destinada à propaganda do medicamento (BRASIL, 2009). A RDC nº. 60/2009 esclarece que somente é permitida a distribuição de amostras grátis de medicamentos registrados na Anvisa e de apresentações comercializadas pela empresa. Além disso, determina, ainda, que a distribuição pode ser feita pelas empresas aos profissionais prescritores em ambulatórios, hospitais, consultórios médicos e odontológicos que tiverem manifestado formalmente o seu interesse em receber esses produtos somente mediante aceitação documentada desses profissionais (BRASIL, 2009). A Resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) nº. 357, de 20 de abril de 2001, que aprova o regulamento técnico para boas práticas de farmácia, define que é vedado ao farmacêutico manter em estoque e dispensar ao paciente medicamentos divulgados como amostras grátis, medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) e medicamentos de uso exclusivo hospitalar (Quadro 2) (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2001). São vetadas Distribuição de amostras grátis de produtos biológicos que ne- cessitem de cuidados especiais de conservação e transporte. Distribuição de amostras grátis de preparações magistrais de medicamentos. Distribuição de vacinas. Quadro 2. Distribuição de amostras grátis (Continua) 9Legislação sanitária: propaganda de medicamentos Com relação às embalagens, as regras são as seguintes, de acordo com a RDC nº. 60/2009 (BRASIL, 2009): podem diferir apenas quanto ao seu tamanho ou volume, sendo expres- samente proibido alterar o material de embalagem aprovado no registro; não podem veicular designações, símbolos, figuras, imagens, desenhos, slogans e quaisquer argumentos de cunho publicitário, exceto quando aprovado pela Anvisa para constar na embalagem do medicamento registrado e comercializado; São exigidas As amostras grátis devem conter, no mínimo, 50% da quantidade total de peso, volume líquido ou unidades farmacotécnicas da apresentação registrada na Anvisa e comercializada pela empresa. As amostras grátis de anticoncepcionais deverão apresentar 100% da quantidade de peso, volume líquido ou unidades farmacotécnicas da apresentação registrada na Anvisa e comercializada pela empresa. A empresa titular de registro do medicamento deverá entregar ao prescritor uma quantidade de amostras grátis de antibióticos suficientes para o tratamento completo do paciente e, da mesma forma, os prescritores devem entregar a quantidade de amostras grátis de antibióticos suficientes para o tratamento completo do paciente. A distribuição de amostras grátis de medicamentos à base de substâncias sujeitas a controle especial deverá observar também os dispositivos constantes na Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, e na Portaria nº 6, de 29 de janeiro de 1999, e suas atualizações, ou seja, substâncias que constem na lista C1 e C4, em suas embalagens originais. A entrega da amostra grátis pelo profissional prescritor ao paciente deve ser realizada de forma a garantir o uso racio- nal do medicamento. A fabricação das amostras grátis de medicamentos deve seguir fielmente as condições aprovadas no registro do medicamento, respeitando as diretrizes de boas práticas de fabricação de medicamentos. Quadro 2. Distribuição de amostras grátis (Continuação) Legislação sanitária: propaganda de medicamentos10 devem conter o número do registro com os 13 dígitos correspondentes à apresentação do medicamento, registrada e comercializada, da qual se originou amostra; devem conter a expressão “AMOSTRA GRÁTIS” não removível, em caixa alta, com caracteres nunca inferiores a 70% do tamanho do nome comercial ou, na sua falta, do nome do princípio ativo, em tonalidades contrastantes ao padrão daquelas, inseridas no terço médio da emba- lagem secundária e ao longo da embalagem primária; as embalagens secundárias das amostras grátis devem conter a expressão “VENDA PROIBIDA”, não removível, de forma clara, ostensiva e precisa; as embalagens secundárias das amostras grátis de medicamentos de venda sob prescrição médica devem conter a expressão “USO SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA”, não removível, em substituição à expressão “VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA”, exigida em norma específica; a rotulagem e a bula das amostras grátis de medicamentos devem se apresentar idênticas às aprovadas no registro para a respectiva apre- sentação do medicamento. A RDC nº. 60/2009 exigiu para as amostras grátis os mesmos procedimentos para os medicamentos originais no que se refere às diretrizes de boas práticas de fabricação, aos mecanismos de rastreabilidade e autenticidade, às notificações de efeitos adversos, ao recolhimento e à solicitação de anuência prévia para mensagens de recolhimento. De acordo com a RDC nº. 20, de 26 de maio de 2008 (BRASIL, 2008), para os antimicrobianos, será permitida a fabricação e distribuição de amostras grátis desde que atendidos os requisitos definidos na RDC nº. 60/2009. É permitido oferecer, aos prescritores e dispensadores, material com a relação de medicamentos genéricos em lista que contemple: o número de registro na Anvisa; o nome do detentor do registro; a apresentação, incluindo a concentração, a forma farmacêutica e a quantidade; 11Legislação sanitária: propaganda de medicamentos o nome do medicamento de referência; o respectivo detentor do registro. Propagandista de produtos farmacêuticos Com a publicação da Lei nº. 6.360/1976, os medicamentos passaram a ter uma divisão distinta, e aqueles que só podiam ser vendidos sob prescrição não puderam mais ser anunciados na mídia de massa. Nesse momento, surgiram os propagandistas de medicamentos. O propagandista atua apresentando os materiais elaborados pela indústria farmacêutica aos profissionais prescritores e dispensadores. Esse material configura tipicamente uma peça publicitária sob regulamentação da RDC n.º 96/2008, sendo chamados de materiais de ajuda visual. A RDC nº. 96/2008 traz as seguintes definições (BRASIL, 2008): Material de ajuda visual — peça publicitária utilizada exclusivamente pelos propa- gandistas com o objetivo de apresentar aos profissionais prescritores. Material científico — artigos científicos publicados e livros técnicos. Monografia — material elaborado mediante uma compilação de informações técnico-científicas provenientes de estudos publicados, livros técnicos e informa- ções contidas na documentação de registro submetida à Anvisa, visando munir o profissional de saúde com variadas informações sobre determinado medicamento, apresentando resumos com informações equilibradas, ou seja, resultados satisfa- tórios e não satisfatórios, e conclusões fiéis à original. Segundo a RDC nº. 96/2008 (BRASIL, 2008), quando as informações técnicas sobre os medicamentos industrializados e manipulados forem levadas aos profissionais prescritores ou dispensadores por intermédio de propagan- distas das empresas, elas deverão ser transmitidas com o intuito de promover a prescrição e dispensação do medicamento de forma adequada e condizente com a Política Nacional de Medicamentos. Dessa forma, os propagandistas devem limitar-se às informações cien- tíficas e características do medicamento registradas na Anvisa. A visita do Legislação sanitária: propaganda de medicamentos12 propagandista não pode interferir na assistência farmacêutica, nem na atenção aos pacientes, bem como não pode ser realizada na presença de pacientes e seus respectivos acompanhantes, ficando a critério das instituições de saúde a regulamentação das visitas dos propagandistas. Assim, o propagandista atua junto aos profissionaisprescritores ou dispensadores, dessa forma, deve conhecer conceitos técnicos do medica- mento para garantir o padrão de qualidade das informações que destina aos seus clientes. A RDC nº. 96/2008 normatiza a propaganda publicitária em eventos científicos. Ela define que qualquer apoio ou patrocínio aos profissionais de saúde para participação em eventos científicos não deve estar condicionado à prescrição, dispensação e/ou propaganda ou publicidade de medicamento. Além disso, o patrocínio por uma ou mais empresas deve ser exposto com clareza no ato da inscrição dos participantes e nos anais, quando estes existirem. Requisitos necessários para material explicativo de medicamentos manipulados A Anvisa defi ne medicamentos manipulados como aqueles preparados direta- mente na farmácia, pelo profi ssional farmacêutico, a partir das fórmulas ins- critas no Formulário Nacional ou em Formulários Internacionais reconhecidos pela Anvisa, ou ainda a partir de uma prescrição de profi ssional habilitado, que estabeleça em detalhes sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar (BRASIL, [2018]). Por serem produzidos de forma personalizada, considerando-se as características individuais de cada paciente, não é permitida a propaganda desses medicamentos, já que não podem ser divulgados como passíveis de uso por qualquer pessoa. Contudo, é permitido fornecer, exclusivamente aos profissionais habilitados a prescrever medicamentos, um material informativo sobre os princípios ativos que a farmácia disponibiliza para manipulação. 13Legislação sanitária: propaganda de medicamentos A RDC nº. 60/2009 traz as seguintes definições (BRASIL, 2009): Manipulação — conjunto de operações com a finalidade de elaborar preparações magistrais e oficinais, bem como fracionar produtos industrializados para uso humano. Matéria-prima — substância ativa ou inativa com especificação definida, que se emprega na preparação dos medicamentos e demais produtos. Preparação magistral — é aquela preparada na farmácia para ser dispensada aten- dendo a uma prescrição médica, que estabelece sua composição, forma farma- cêutica, posologia e modo de usar. Preparação oficinal — é aquela preparada na farmácia, cuja fórmula esteja inscrita nas farmacopeias, compêndios ou formulários reconhecidos pelo Ministério da Saúde. Preparação — procedimento farmacotécnico para obtenção do produto mani- pulado, compreendendo a avaliação farmacêutica da prescrição, a manipulação, o fracionamento de substâncias ou produtos industrializados, a conservação e o transporte das preparações magistrais e oficinais. As formulações oficinais, os gases medicinais, os medicamentos homeopáticos e os medicamentos manipulados também são abrangidos pela RDC nº. 96/2008 no que se aplica à propaganda, publicidade, informação e a outras práticas que objetivem a divulgação ou promoção comercial de qualquer tipo de medicamento. Para divulgação de informação sobre medicamentos manipulados, é facultado às farmácias fornecer, somente aos profissionais que prescrevem medicamentos, o material informativo que contenha somente os nomes das substâncias ativas, indicações terapêuticas, segundo a sua DCB, ou DCI ou a nomenclatura botânica, retiradas de literatura especializada e livros científicos. Não pode conter nome comercial, preços, designações, símbolos, figuras, desenhos, slogans e qualquer tipo de informação publicitária em relação às substâncias ativas. A propaganda institucional, por ter a finalidade de divulgar a empresa e não havendo menção aos produtos por ela manipulados ou vendidos, é permitida em quaisquer meios de divulgação. Entretanto, é proibido fazer propaganda ou publicidade de empresas em blocos de receituários médicos. Considerando que os medicamentos manipulados são preparados na própria farmácia, de forma individualizada, não se justifica a sua distribuição por meio de amostras grátis. Além disso, a distribuição de amostra grátis trata-se de uma estratégia de publicidade. Desse modo, considerando que não é permitida a realização de propagandas de medicamentos manipulados, consequentemente não é permitida a produção e a distribuição das suas amostras grátis. Legislação sanitária: propaganda de medicamentos14 Segundo a RDC nº. 96/2008, alguns alertas sobre princípios ativos são necessários em propagandas (BRASIL, 2008, documento on-line): Ácido acetilsalicílico — “não use este medicamento em caso de gravidez, gastrite ou úlcera do estômago e suspeita de dengue ou catapora”. Ácido ascórbico (vitamina C) — “não use este medicamento em caso de doença grave dos rins”. Bicarbonato de sódio — “não use este medicamento se você tem restrição ao consumo de sal, insuficiência dos rins, do coração ou do fígado”. Bisacodil — “não use este medicamento em caso de doenças intestinais graves”. Cânfora — “não use este medicamento em crianças menores de dois anos de idade”. Carbonato de cálcio — “não use este medicamento em caso de doença dos rins”. Carvão vegetal — “não use este medicamento em crianças com diarreia aguda e persistente”. Cloridrato de ambroxol — “não use este medicamento em crianças menores de dois anos de idade”. Cloridrato de fenilefrina — “não use este medicamento em caso de doenças do coração, pressão alta e glaucoma”. Dipirona sódica — “não use este medicamento durante a gravidez e em crianças menores de três meses de idade”. Dropropizina — “não use este medicamento em caso de tosse com secreção em crianças menores de dois anos de idade”. Hidróxido de alumínio — “não use este medicamento em caso de doença dos rins e dor abdominal aguda”. Hidróxido de magnésio — “não use este medicamento em caso de doença dos rins”. Ibuprofeno — “não use este medicamento em casos de úlcera, gastrite, doença dos rins ou se você já teve reação alérgica a anti-inflamatórios”. Mebendazol — “não use este medicamento em crianças menores de um ano de idade”. Naproxeno — “não use este medicamento em casos de úlcera, gastrite, doença dos rins ou se você já teve reação alérgica a anti-inflamatórios”. Nicotina — “não use este medicamento se você é fumante com problemas cardíacos”. Paracetamol — “não use junto com outros medicamentos que contenham para- cetamol, com álcool, ou em caso de doença grave do fígado”. Picossulfato de sódio — “não use este medicamento em caso de doenças intes- tinais graves”. Plantago ovata Forsk — “não use este medicamento em caso de doenças intestinais graves”. Sulfato ferroso — “não use este medicamento se você tem problemas gastrointestinais”. 15Legislação sanitária: propaganda de medicamentos 1. Veja o seguinte anúncio publicitário de medicamento multigripal, com clorfeniramina na sua composição: “[...] Combate sozinho todos os sintomas da gripe — É gripe? [...] Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. Com base na legislação RDC nº. 96/2008 da Anvisa, que regula a publicidade de medica- mentos, assinale a afirmativa correta. a) A propaganda segue a legislação vigente, pois trata-se de um multigripal, que trata uma gripe comum sem necessidade de outros medicamentos. b) A frase é veiculada junto com uma imagem dos componentes da fór- mula (vídeo), então está de acordo com o preconizado na legislação. c) Os medicamentos antigripais são isentos de prescrição, portanto, somente a frase “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado” abaixo dos compo- nentes da fórmula é necessária para informar a população dos riscos do produto. d) O uso da expressão “É gripe? [...]” é um exemplo da indução ao diagnóstico e não está de acordo com a resolução. e) A presença de clorfeniramina na formulação determina que o fabricante apresente advertência a respeito do seu efeito de sono- lência e sedação, que pode ser substituído pela frase “Ao persis- tirem os sintomas, o médico deve ser consultado”. 2. Assinalea afirmativa correta em relação à frase presente na pro- paganda de um medicamento indicado para alívio dos sintomas de excessos alcóolicos e alimentares “[...] Exagerou? Sinta-se bem com [...]”. a) Está correta, pois o medicamento melhora os sintomas dos ex- cessos etílicos e gastronômicos. b) Os medicamentos isentos de prescrição não necessitam de informes de advertências para seu uso, pois dificilmente contêm efeitos colaterais e podem ser uti- lizados por toda a população. c) O uso de linguagem direta relacio- nando o uso do medicamento a excessos etílicos ou gastronômicos é proibido pela atual legislação. d) A informação não sugere que são supérfluos os hábitos de vida saudáveis e/ou a consulta ao mé- dico, assim, pode ser veiculada. e) Essa frase pode ser utilizada em informes comerciais somente para medicamentos fitoterápicos. 3. Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de propaganda/publici- dade permitida pela atual legislação. a) A distribuição de vacinas na forma de amostras grátis. b) A distribuição de amostras grátis de gases medicinais. c) A propaganda/divulgação de me- dicamentos isentos de prescrição. d) A distribuição de medicamentos homeopáticos na forma de amostras. e) A propaganda/divulgação de medicamentos manipulados. 4. A amostra grátis é definida como o medicamento com a quantidade total ou específica da apresentação Legislação sanitária: propaganda de medicamentos16 registrada na Anvisa destinada à distribuição gratuita aos profissionais prescritores como ferramenta de pu- blicidade. Com base nesse conceito, assinale a afirmativa correta a respeito da distribuição de amostras grátis. a) A amostra grátis serve como publicidade dos medicamentos comercializados, portanto, deve conter obrigatoriamente a designação “AMOSTRA GRÁTIS” em caixa alta. b) As amostras de anticoncepcionais podem conter apenas os compri- midos necessários para as pri- meiras semanas do tratamento. c) As amostras de antibióticos devem ter, no mínimo, três comprimidos. d) As amostras grátis de medica- mentos controlados e antibió- ticos devem conter, no mínimo, 50% do volume do medicamento comercializado pela empresa. e) A embalagem das amostras grátis pode ser adaptada a fim de melhorar o aspecto visual para o redimensionamento da caixa (geralmente menor do que os medicamentos comercializados). 5. Os medicamentos manipulados são aqueles preparados diretamente na farmácia e produzidos de forma per- sonalizada. Em relação à propaganda de produtos manipulados, assinale a alternativa correta. a) É permitida e segue as mesmas regras dos demais medica- mentos. b) A distribuição de amostras grátis é permitida somente aos profis- sionais prescritores. c) É proibida, uma vez que os produtos são preparados indivi- dualmente. d) O material informativo deve fazer referência ao nome comercial do produto. e) A divulgação de produtos home- opáticos é proibida, mas a dos manipulados não. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos manipulados: per- guntas e respostas sobre propaganda de medicamentos manipulados, conforme a RDC 96, de 2008. Brasília, DF, [2018]. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/ documents/33864/284972/RDC96_manipulados_comentada_ago2010.pdf/6002021d- a082-4b47-b643-34b0ecc5f9a5>. Acesso em: 4 dez. 2018. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada nº. 96, de 17 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medica- mentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2008. Disponível em: <http://www. camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=666066&filename=L egislacaoCitada+-PDC+1650/2009>. Acesso em: 4 dez. 2018. 17Legislação sanitária: propaganda de medicamentos BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada nº. 60, de 26 de novembro de 2009. Dispõe sobre a produção, dispensação e controle de amos- tras grátis de medicamentos e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 nov. 2009. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/ RDC_60_2009_COMP.pdf/0bcb63b0-bb24-4b90-b2d8-dcaa915e84c5>. Acesso em: 4 dez. 2018. BRASIL. Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e dá outras provi- dências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 jan. 1999. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9782.htm>. Acesso em: 4 dez. 2018. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº. 357, de 20 de abril de 2001. Aprova o regulamento técnico das Boas Práticas de Farmácia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr. 2001. Disponível em: <http://www.cff.org.br/legis/legis.html>. Acesso em: 4 dez. 2018. Leituras recomendadas BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Regulamentação da propaganda de medicamentos. RDC 96: perguntas e Respostas. Brasília, DF, [2018]. Disponível em: <http:// portal.anvisa.gov.br/documents/33864/284972/RDC96_COMENTADA.pdf/7092f0ca- f08a-43c4-ac7a-5d8ba208f2dd>. Acesso em: 4 dez. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao.htm>. Acesso em: 4 dez. 2018. Legislação sanitária: propaganda de medicamentos18 Conteúdo:
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