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UCA001_Filosofia_do_Conhecimento_Tema8

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O conhecimento na vertente racionalista
Márcio Tadeu Girotti
Introdução
A filosofia racionalista emprega a razão para a obtenção do conhecimento, construindo um 
saber por meio de inferências lógicas, com processos de dedução e indução. Possui na metafísica 
seu principal instrumento de análise da realidade, levando a comprovação do saber para um ter-
reno que escapa à compreensão humana, por não ter bases na experiência sensível. 
O racionalismo possui vários representantes, que procuram mostrar um método para o 
conhecimento, mas sempre sobrevalorizando a razão.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • compreender os aspectos da filosofia racionalista e o método de conhecimento;
 • identificar as características da filosofia racionalista de Descartes e Kant.
1 A filosofia racionalista
A razão opera com o raciocínio dentro de uma razão discursiva, realizando atos de conhecimento 
para captar objetos que são externos ao sujeito. Ou para criar objetos da própria razão, constituindo 
saber por meio de etapas que são progressivas, a fim de atingir o objeto que se deseja conhecer. 
Esse modo de conhecer é o racionalismo, que sobrevaloriza a razão no processo de conhecimento.
No racionalismo dois métodos são empregados: a intuição, como um ato do espírito de capta 
de forma imediata o objeto que busca conhecer; e o raciocínio, que passa por uma razão discursiva 
operando com a dedução e indução.
Tanto a dedução quanto a indução partem do que se conhece para aquilo que se deseja 
conhecer, sendo processos racionais que operam por meio de inferências lógicas. A dedução parte 
de uma verdade conhecida que se pode aplicar a casos particulares, sempre do geral ao particu-
lar. A indução parte do particular ao geral, ascendendo de casos iguais ou semelhantes que se 
repetem para o mesmo fenômeno, constituindo uma lei geral, um conceito, uma ideia, uma teoria.
EXEMPLO
A água que ferve (evapora) sempre a 100ºC (cem graus Celsius). Após observar 
esse fenômeno, a partir de vários casos particulares, constitui-se a teoria de que a 
água sempre irá evaporar ao atingir 100ºC.
Figura 1 – Propriedade do fogo: o calor
Fonte: VladisChern/Shutterstock.com
Dedução e indução são inferências lógicas promovidas pela razão dentro do processo de 
conhecimento. Constituindo conceitos, ideias e teorias sempre por raciocínios, com ou sem o auxí-
lio direto da experiência sensível. Havendo articulação com a experiência, a razão se sobressai na 
aquisição de conhecimento, tornando-o racional.
FIQUE ATENTO!
A dedução e a indução são raciocínios de uma razão discursiva empregados em 
inferências lógicas, partindo do que já se conhece para aquilo que se deseja conhe-
cer. Enquanto a indução parte do particular para o geral, a dedução parte do geral 
para o particular.
2 A metafísica dogmática
Dogmático é um termo grego (Dogmatikós) que significa fundar-se em princípios, consti-
tuindo doutrinas, dogmas. Dogmatismo é, portanto, uma doutrina pela qual se atinge a certeza 
(ARANHA; MARTINS, 2003). 
O dogmatismo metafísico, com bases ontológicas, é todo conhecimento racional anterior 
a Immanuel Kant (1724-1804) e sua crítica que busca expurgar os erros cometidos pela razão, 
submetendo-a a um tribunal. Kant promoveu uma investigação que procurou colocar limites ao 
conhecimento metafísico. Ele afirmou que os filósofos, chamados dogmáticos, não se atentaram 
aos limites da razão.
A metafísica dogmática emprega uma verdade absoluta, sem prova que seja concreta que 
demostre, em uma experiência sensível, o objeto de sua análise. Essa metafísica não se preocupa 
em criticar o conhecimento. Ela se atém a uma razão de conhecer inquestionável, com verdades 
indubitáveis, que não são colocadas à prova, validadas pela própria razão. 
FIQUE ATENTO!
O dogmatismo se contrapõe ao ceticismo, que procura a verdade sem alcançá-la, 
que questiona, que coloca em dúvida o saber, não se atendo a verdades absolutas.
3 Racionalismo moderno
O problema da modernidade está na relação entre sujeito e mundo, mas a grande questão 
gira em torno da origem das nossas ideias. Se é o sujeito que representa o mundo a partir de si 
mesmo, sendo o mundo a sua representação, como se articula a ideia que o sujeito faz do mundo 
ao próprio mundo? Em outras palavras, como ligar o conceito ao objeto?
Essa questão promove a descoberta do método, que, por meio da representação, faz uma 
ponte entre o objeto e seu conceito, mas, ainda assim, fica a questão: qual a origem da ideia? 
Para o racionalismo, as ideias são criações da razão; para o empirismo, são adquiridas a partir da 
experiência. É na modernidade que vemos surgir uma disputa entre racionalismo e empirismo em 
relação os processos de conhecimento, criando métodos para o conhecer. 
O racionalismo moderno tem como principal representante René Descartes (1596-1650). Ele 
foi considerado o pai da modernidade por criar o método cartesiano para o conhecimento. Sua 
filosofia ficou conhecida como cartesianismo, valorizando a razão em detrimento da experiência, 
afirmado que os sentidos nos enganam.
Figura 2 – René Descartes
Fonte: Giorgios Kollidas/Shutterstock.com
Com a filosofia kantiana, o racionalismo moderno ganhou outra perspectiva, colocando a 
razão sob crítica de si mesma, corrigindo o erro metafísico. Teve lugar a revolução copernicana, 
que colocou o sujeito no centro do conhecimento, representando o mundo à sua maneira.
Independente das teorias que surgiram na modernidade, esse período foi marcado pela razão, 
pelo iluminismo, pela sobrevalorização da razão, pela iluminação do conhecimento, que veio se 
contrapor aos métodos e à filosofia dos empiristas (em especial, os ingleses). 
4 O método cartesiano
O ponto de partida do pensamento cartesiano é a busca por uma verdade indubitável. Pri-
meiro é preciso duvidar de tudo que um dia foi afirmado como verdadeiro, duvidar daquilo que 
observamos com os sentidos, de nossa própria existência. 
Na cadeia de raciocínio que tem por base a dúvida, resta a certeza de que existe algo que 
dúvida, um ser que é capaz de pensar. Descartes chega à sua primeira verdade, clara e distinta, 
indubitável: “Penso, logo existo” (DESCARTES, 1972). O ato de pensar é um ato puro do pensa-
mento, pois minha existência foi colocada em dúvida, restando a certeza de que penso, pois, se 
deixo de pensar deixo de existir. 
Descartes formula ideias que são duvidosas ou confusas, ou claras e distintas, ideias gerais 
que não derivam de nada que seja particular, que não derivam da experiência, mas que se encon-
tram no espírito, como se já existissem com ele. São as ideias inatas, que fundamentam a apre-
ensão de outras verdades, próprias do sujeito que pensa, sem ligação com o que possa vir de fora, 
dos sentidos.
FIQUE ATENTO!
A primeira ideia inata é o próprio cogito, quando o sujeito se descobre como um ser 
pensante. Outra ideias inatas são a ideia de Deus, movimento, extensão, perfeição.
O método cartesiano trabalha com o conhecimento analisando o real, em quatro passos: 
partir de uma verdade clara e distinta; analisar parte a parte, dividindo o problema; sintetizar a 
questão, partindo do simples ao mais complexo; revisar todo o caminho percorrido. Esse método 
é utilizado a todo momento, quando nos deparamos com certos problemas que precisam de uma 
análise minuciosa para chegara à solução. 
Figura 3 – Plano cartesiano
Fonte: Radu Bercan/Shutterstock.com
SAIBA MAIS!
Descartes era matemático e criou uma teoria que ficou conhecida como plano 
cartesiano, muito utilizado na matemática, e na engenharia, para unificar o encontro 
de dois pontos de medida. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/eventos/
iisimposioeducacao/anais/trabalhos/280.pdf>.
5 Filosofia kantiana
Kant coloca em xeque a razão, perguntando sobre o que é o próprio conhecimento,colo-
cando-a em um tribunal para legitimar o que pode ser conhecido e o que não possui fundamento 
algum, inaugurando o criticismo. O filósofo critica o racionalismo por afirmar que tudo o que pen-
samos é proveniente de nós mesmos. Ao mesmo tempo, não concorda com o empirismo, pois 
este afirma que todo o conhecimento vem dos sentidos.
Figura 4 – Tribunal da razão
Fonte: Piotr Adamowicz/Shutterstock.com
A filosofia kantiana procura romper com a dicotomia racionalismo-empirismo, mostrando 
que todo conhecimento começa com a experiência, mas nem todo conhecimento deriva dela. 
Expressão que está marcada na introdução da sua obra maior, “Crítica da razão pura”.
Isso significa que o conhecimento provém da experiência, mas precisa do trabalho do sujeito, 
da razão, para tornar-se um conhecimento: matéria e forma. A matéria provém dos sentidos e a 
forma provém dos sujeitos.
Nossa realidade é abarcada pelo sujeito do conhecimento, que organiza e representa os obje-
tos do mundo, promovendo o conhecimento das coisas. Exemplificando: o mundo é como um 
quebra-cabeças, desorganizado, que precisa de síntese para formar uma imagem do mundo que 
possa representá-lo. Essa organização é promovida pelo sujeito a partir da matéria do mundo.
O racionalismo kantiano é marcado pela crítica da razão e pela aproximação entre experiên-
cia e razão, entre racionalismo e empirismo.
SAIBA MAIS!
De uma forma simples, com animações, o vídeo “Emmanuel Kant – A crítica da 
razão pura”, mostra a composição da obra e a filosofia racional de Kant. Disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=V1XFAKT7T4A>.
EXEMPLO
É possível formar um conceito racional de um objeto inexistente, como o unicórnio, 
sem que seja preciso comprovar a sua existência. Permanecendo sem prova, é uma 
tese dogmática; buscando sua validação da experiência, é uma tese criticista.
 
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • compreender a filosofia racionalista e sua vertente metafísica;
 • entender o método racional para o conhecimento;
 • conhecer a filosofia de Descartes e Kant.
Referências 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução a filosofia. 
3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. 
CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005. 
CONEGLIAN, Stella Maris Gesualdo Grenier; SANTOS, Christina Aparecida dos; MELO, José Joa-
quim Pereira. Reflexões sobre a vida de descartes e o plano cartesiano. 2010. Disponível em: 
<http://cac-php.unioeste.br/eventos/iisimposioeducacao/anais/trabalhos/280.pdf>. Acesso em: 
14 fev. 2017.
DESCARTES, Rene. Discurso do método. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1972. 
(Coleção Os Pensadores). 
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
KOFLER, Anna. Emmanuel Kant: a crítica da razão pura. 2011. Disponível em: <https://www.you-
tube.com/watch?v=V1XFAKT7T4A> Acesso em: 24 jan. 2017.

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