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1 UC VIII P1 1. Discorrer sobre o sono e o ciclo sono-vigília (fases do sono) “Os organismos têm osciladores naturais, conjuntos de células cujas funções variam em ciclos, espontaneamente. Nos animais superiores, muitos desses osciladores ficam no sistema nervoso, constituídos por neurônios especiais que disparam sinais de modo periódico. Esses “relógios biológicos” recebem informações do ambiente, e desse modo a sua oscilação espontânea fica acoplada aos ciclos ambientais. No hipotálamo está o relógio dos ritmos do dia a dia (circadianos); no epitálamo fica o relógio dos ritmos sazonais (circanuais). O mais conhecido é o ciclo vigília-sono, que nada mais é do que uma oscilação do nível geral de atividade do sistema nervoso: maior atividade durante a vigília, menor durante o sono. Regulam esse ciclo os sistemas moduladores difusos, conjuntos de neurônios – cada um deles com neuromediadores diferentes – que emitem extensos axônios que estabelecem sinapses em grandes territórios do córtex cerebral e regiões subcorticais, do tálamo à medula espinhal.” - Há sistemas orgânicos especializados em gerar os ciclos funcionais que caracterizam os ritmos biológicos • Ritmo circadiano: uma vez por dia • Ritmo infradiano: uma vez por mês • Ritmo ultradiano: quatro vezes por dia - O ritmo circadiano leva cerca de 4 meses para se estabelecer em RNs - O ciclo do vigília-sono tem três categorias: comportamentais, autonômicos e eletroencefalográficos - Durante o sono há redução geral das funções vegetativas • Diminui a FC e a FR = queda da PA • Diminuição da motilidade gastrointestinal • Redução da temperatura corporal em 1 ou 2 ºC • Redução da atividade metabólica dos órgãos e tecidos Estados do sono - Durante a vigília, os neurônios talamocorticais são mantidos ligeiramente despolarizados, com o potencial de membrana próximo ao limiar de disparo. A transmissão sináptica é altamente eficaz nessas condições, e resulta na ativação massiva dos dendritos das células corticais: por isso o EEG da vigília é dessincronizado. - Durante o sono, entretanto, os neurônios talamocorticais ficam hiperpolarizados, com o potencial de membrana longe do limiar. A transmissão sináptica torna-se muito menos eficaz, os neurônios talâmicos disparam apenas ocasionalmente e o resultado é um EEG sincronizado no córtex. Estágio 1 Durante o adormecimento, quando o indivíduo se tornava sonolento, observaram que o EEG passava de um traçado dessincronizado típico, chamado de ritmo beta, para um traçado de amplitude maior e menor frequência, o ritmo alfa. O eletro-oculograma (EOG) e o eletromiograma (EMG), muito ativos e variáveis porque o indivíduo acordado realiza vários movimentos, tornavam-se mais estáveis Estágio 2 O indivíduo se torna mais adormecido, e seu EEG passava a apresentar algumas ondas de alta voltagem (fusos do sono e complexo K). O EOG e EMG se mantinham estáveis Estágios 3 e 4 Sono mais profundo. O indivíduo permanece imóvel, com ocasionais mudanças de posição. O EEG se apresenta ainda mais sincronizado, alcançando um ritmo de alta voltagem e baixa frequência, o ritmo delta. - O sono de ondas lentas compreende os primeiros quatro estágios, pela natureza progressivamente mais sincronizada do EEG - O sono paradoxal ou REM tem relação com os sonhos. Nesse caso, o EEG dessincroniza, assim como o EOG, com movimentação ativa dos olhos, embora o EMG se mantenha liso e estável, visto a imobilidade do indivíduo 2 Geralmente, ao adormecer, em menos de 1 hora de sono, passamos pelos 4 estágios do sono de ondas lentas, seguido de 30 minutos de sono paradoxal. De 90 em 90 minutos há alternância entre o sono de ondas lentas e o paradoxal. - Durante a noite a duração de cada estágio se torna maior. - O sono paradoxal pode atingir 80% do período total de sono em crianças Relógio epitalâmico e o ritmo das estações - A glândula pineal, localizada no epitálamo, é encarregada de monitorar as estações do ano e sincronizar com elas algumas funções que variam anualmente. - Sob ativação simpática, que aumenta durante a noite, as células da pineal aumentam a síntese e secreção de melatonina - A pineal é um sensor da duração do fotoperíodo “O sistema temporizador circanual reconhece as estações do ano por meio da monitoração da duração dos dias, feita pelo núcleo supraquiasmático com informações da retina, e das noites pelo aumento da concentração sanguínea de melatonina. Quanto mais longa a noite (no inverno), maior a concentração de melatonina no sangue, e mais intenso o seu efeito sobre os órgãos e tecidos periféricos.” Sistemas moduladores O ciclo vigília-sono é um dos ritmos circadianos, portanto, também é sincronizado pelo sistema temporizador regido pelo núcleo supraquiasmático.. Formação reticular: neurônios que se originam no tronco encefálico, reunidos em núcleos bem definidos ou distribuídos em uma rede de fibras nervosas dispostas em todas as direções, constituindo um conjunto que recebe o nome genérico de formação reticular. • Agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico • A formação reticular tem uma estrutura que não corresponde à substância branca ou cinzenta, é intermediária entre elas - Esses neurônios têm axônios muito grandes que se bifurcam dando um ramo ascendente e um descendente, os quais se estendem ao longo do tronco, medula, diencéfalo e telencéfalo a) núcleos de rafe – ao longo da linha mediana em toda a extensão do tronco encefálico. Contem neurônios ricos em serotonina. b) Locus ceruleus – assoalho do quarto ventrículo. Neurônios ricos em noradrenalina. c) Área tegumentar ventral – parte ventral do mesencéfalo. Neurônios ricos em dopamina - Funções • Controle da atividade elétrica cortical – ciclo vigília-sono • Controle eferente da sensibilidade e da dor • Controle da motricidade somática • Controle do sistema nervoso autônomo • Controle neuroendócrino • Integração de reflexos - Constatou-se a existência de diferentes sistemas moduladores difusos, cada um deles caracterizado por empregar um determinado neurotransmissor. - Emergiu uma visão original do efeito que eles causam nas extensas regiões que inervam: a criação de "microclimas" neuroquímicos. - Quando um sistema que utiliza a noradrenalina, por exemplo, aumenta sua atividade, ocorre a liberação desse neurotransmissor nas amplas áreas que recebem os axônios respectivos - cria-se um "microclima noradrenérgico", como se o tecido se tomasse banhado em noradrenalina. - Se no momento seguinte um outro sistema predominar, por exemplo o que emprega a serotonina como neurotransmissor, o microclima toma-se serotoninérgico. - O balanço entre os diversos neurotransmissores de liberação difusa no tecido neural faria modular a excitabilidade dos neurônios, e com isso seria possível controlar dinamicamente o seu nível geral de atividade. - Em conjunto, o resultado funcional seria o controle do nível de consciência e da atividade comportamental geral do indivíduo. - Cada sistema foi codificado com uma letra e um número: a letra indica o neurotransmissor e o número assinala a localização do grupo de neurônios que tem aquele neurotransmissor 3 O grupo de sistemas moduladores que participam do ciclo são em geral mais difusos. Os axônios desses sistemas inervam praticamente todo o SNC, modulando a sua excitabilidade e assim, controlando o nível de consciência do indivíduo. • Os neurônios noradrenérgicos descendentes da formação reticular pontina são os responsáveis pela diminuição do tônus muscular que ocorre quando o indivíduo adormece. • Ao mesmo tempo, as células noradrenérgicas ascendentes do tronco encefálico (Al e A3) modulam as regiões do hipotálamo encarregadas do controle cardiovascular e neuroendócrino, e assim produzem asalterações de frequência cardíaca e de secreção hormonal que ocorrem durante o sono e a vigília. 2. Elencar as consequências da privação de sono - Os transtornos do humor são caracterizados por distúrbios do sono. A mania tende a ser caracterizada por redução na necessidade de sono, mas a depressão pode estar associada com hipersonia ou insônia. - A privação do sono pode precipitar mania em indivíduos com transtorno bipolar I e aliviar temporariamente a depressão naqueles om depressão unipolar. Cerca de 60% dos pacientes com transtornos depressivos exibem benefícios significativos, mas transitórios, com a privação total do sono. FUNÇÕES DO SONO As funções do sono foram examinadas de diversas maneiras. A maioria dos pesquisadores conclui que o sono exerce uma função homeostática restaurativa e parece ser essencial ao funcionamento normal da termorregulação e da conservação de energia. Como o sono não REM aumenta após exercício e fome, esse estágio pode estar associado com a satisfação de necessidades metabólicas. As principais funções do sono são relacionadas ao descanso e a regeneração orgânica que são essenciais para o funcionamento do corpo e mente, conservação da energia diária, consolidação do aprendizado e memória, além da função imunológica, auxiliando processos de defesa do organismo frente a estímulos externos ou do próprio corpo. Privação de sono Em consonância, noites mal dormidas tem efeitos adversos bem conhecidos como fadiga, cansaço, indisposição, alteração de sintomas cognitivos como atenção e memória, baixo rendimento escolar e em atividades de trabalho sendo um fator de risco importante para acidentes como os automobilísticos. Ainda tem relação independente com complicações cardiovasculares sendo fator de risco para obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doenças psiquiátricas. Uma pessoa cansada e sonolenta é propensa a acidentes, julgamento prejudicado e mais propenso a cometer erros e más decisões. Ficar acordado por 24 horas leva a uma coordenação olho-no-olho reduzida que é semelhante a ter um teor de álcool no sangue de 0,1. É por isso que a privação de sono contribui para acidentes rodoviários e lesões de trabalho. A falta de sono também pode afetar o desempenho escolar de uma criança e pode estar associada a um maior risco de problemas emocionais, como depressão Períodos prolongados de privação do sono podem levar a desorganização do ego, alucinações e delírios. Privar as pessoas de sono REM acordando- as no início desses ciclos aumenta o número de períodos REM e a quantidade de sono REM (aumento de rebote) quando podem dormir sem interrupções. Pacientes privados de REM podem exibir irritabilidade e letargia. Em estudos com ratos, a privação de sono produz uma síndrome que inclui aparência debilitada, lesões de pele, aumento de ingesta alimentar, perda de peso, aumento de gasto de energia, redução na temperatura corporal e morte. As alterações neuroendócrinas incluem aumento de norepinefrina e redução dos níveis de tiroxina no sangue. Necessidade de sono Algumas pessoas têm sono naturalmente curto, necessitando de menos de 6 horas de sono por noite para funcionar de maneira adequada. Pessoas com sono longo precisam dormir mais de 9 horas por noite para funcionamento adequado. Estas têm mais períodos REM e mais movimentos rápidos dos olhos em cada período (conhecidos como densidade REM) do que aquelas que têm sono curto. Às vezes, esses movimentos são considerados uma medida da intensidade do sono REM e estão relacionados com a vivacidade do sonho. A necessidade de sono aumenta com o trabalho físico, exercício, doença, gravidez, estresse mental geral e atividade mental aumentada. Os períodos REM aumentam após estímulos psicológicos fortes, como situações difíceis de aprendizado e estresse, e após o uso de fármacos ou drogas que reduzem as catecolaminas do cérebro. 3. Discorrer sobre a regulação da consciência e seus níveis (transição e integração) Manutenção da vigília O córtex cerebral tem uma variedade elétrica espontânea, que determina os vários níveis de consciência. Essa atividade pode ser detectada por eletroencefalograma e ela varia em relação ao sono e a vigília. 4 • Em vigília, o traçado elétrico é uniforme e dessincronizado, apresenta ondas de baixa amplitude e alta frequência. • Durante o sono de ondas lentas, o traçado é sincronizado, com ondas lentas e de grande amplitude • No sono REM, o eletroencefalograma mostra um traçado semelhante ao de vigília, apesar de a pessoa estar dormindo e com profundo relaxamento muscular, por isso, é chamado de paradoxal (rapid eye movement) - Na reformação reticular há um sistema de fibras ascendentes, que exercem uma ação ativadora sobre o córtex cerebral. Criou-se, assim, foi criado o conceito de sistema ativador reticular ascendente. • O SARA é constituído de fibras noradrenérgicas do locus ceruleus, serotoninérgicas dos núcleos do refe e colinérgicas da formação reticular da ponte e dos neurônios dopaminérgicos mesencéfalos • Essas vias constituem os sistemas modulatórios de projeção difusa • O conjunto das fibras ativadoras noradrenérgicas, serotoninérgicas, dopaminérgicas e colinérgicas constituem o SARA. - A lesão das vias modulatórias do SARA diminui o tempo de vigília, mas não é capaz de induzir o coma. - O ciclo vigília-sono é regulado por neurônios hipotalâmicos do SAA. A atividade de seus neurônios pode ser medida pela taxa de disparos dos potenciais de ação. Durante o dia essa taxa é muito alta, indicando que o córtex está sendo ativado. O córtex recebe normalmente as aferências dos núcleos talâmicos sensitivos. - No final da vigília, em antecipação ao período de dormir, um grupo de neurônios do hipotálamo anterior (núcleo pré-óptico ventrolateral) inibe a atividade dos neurônios do SAA, desativando o córtex. - Ao mesmo tempo, o núcleo reticular do tálamo inibe a atividade dos núcleos talâmicos sensitivos, barrando a passagem para o córtex dos impulsos originados nas vias sensoriais - Inicia-se assim o estado de sono de ondas lentas ou sono não REM, no qual a atividade elétrica do córtex deriva de circuitos intrínsecos sem influencia de informações sensoriais externas e o eletroencefalograma é sincronizado. - Pouco antes do despertar, a atividade do núcleo pré-óptico ventrolateral é reduzida e os neurônios do SAA voltam a disparar, e se inicia um novo período de vigília. - O sono REM é gerado por uma rede de neurônios do tronco encefálico, principalmente na ponte Transição A região subcerulea recebe estímulos inibitórios gabaérgicos. Os hormônios gabaérgicos são mais ativos durante a vigília e o sono não REM e inibem os neurônios subceruleos e núcleo tegmentar pedúnculo pontinho, evitando a entrada em sono REM. A interação entre essas vias permite a alternância entre sono REM e não REM Essas projeções também evitam que o organismo passe diretamente da vigília para o sono REM. O sono REM é encerrado pelos neurônios do locus ceruleus, que aumentam a sua atividade na transição entre o sono paradoxal e a vigília, podendo ser considerados os neurônios do despertar. Durante a vigília, a atividade metabólica e a utilização de adenosino- trifosfato (ATP) são intensas. O ATP é metabolizado e gera a molécula adenosina, que se liga a receptores em várias partes do encéfalo, inibindo a sua atividade e gerando sonolência. É por isso que inibidores dos receptores de adenosina, como a cafeína, inibem o sono momentaneamente. - A geração do ritmo de vigília e sono depende também do núcleo supraquiasmático do hipotálamo que, junto com a glândula pineal, sincroniza esse ritmo com a alternância de claro e escuro. Consciência Para a psicopatologia, a consciência constitui uma síntese ou uma integração de todos os processos mentais em um dado momento. São características da consciência: apresentar vivência interna; ter relaçãocom a distinção do Eu/não Eu; ter intencionalidade (dá significado às coisas); e ser reflexiva (possibilita refletir sobre seus próprios conteúdos psíquicos). - Alterações quantitativas da consciência A consciência é o reconhecimento do mundo interno e externo, e o nível de consciência é descrito em termos do estado aparente de vigília do paciente e de sua resposta a estímulos. Um paciente com um nível de consciência normal está acordado (ou pode ser acordado) Alerta (responde apropriadamente a estímulos visuais ou verbais) Orientado (sabe quem ele é, que local está e a data ou a hora aproximada). Uma consciência anormal (rebaixada) representa uma variação desde sonolência leve até ausência completa de responsividade e incapacidade de acordar (coma). O coma é um estado semelhante ao sono, durante o qual os pacientes não respondem adequadamente ao meio ambiente e do qual não conseguem despertar. Os olhos estão fechados e não abrem espontaneamente. Os pacientes não falam, e não existe propósito nos movimentos da face ou dos membros. A estimulação verbal não produz resposta. A estimulação dolorosa pode não produzir resposta ou pode gerar movimentos reflexos sem propósito, mediados por vias medulares ou do tronco cerebral. O coma resulta de um distúrbio da função do sistema reticular ativador do tronco cerebral acima da metade da ponte ou de ambos os hemisférios cerebrais, uma vez que são estas regiões cerebrais que mantêm a consciência. 4. Descrever a escala de Glasgow A escala de coma de Glasgow, introduzida em 1974, permanece ainda como uma das ferramentas de monitorização mais utilizadas em UTI. É baseada em três itens cuja soma é utilizada como parâmetro de avaliação, variando entre 3 e 15 pontos, é de fácil aplicação e reprodutibilidade, devendo ser registrada sempre a melhor resposta obtida. Sua principal limitação é a análise da resposta verbal em pacientes sedados, com distúrbios de linguagem e em ventilação mecânica. 5 Escala FOUR A escala tem sido validada em UTI, departamentos de emergência e entre profissionais de enfermagem com reprodutibilidade comparável à da escala de Glasgow e com a vantagem de avaliar respostas em pacientes sob ventilação mecânica e respostas de tronco encefálico. Apresenta quatro itens com respostas de 0 a 4 • Os parâmetros são avaliados individualmente 5. Compreender os impactos dos hábitos alimentares no sono 6. Explicar os principais transtornos do sono (polissonografia) Insônia - A característica essencial do transtorno de insônia é a insatisfação com a quantidade ou a qualidade do sono e queixas de dificuldade para iniciar ou manter o sono. - Essas queixas são acompanhadas de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional... - Pode ocorrer durante o curso de outro transtorno ou de forma independente - As manifestações podem ocorrer em horários distintos do período de sono • Insônia na fase inicial do sono (insônia inicial): dificuldade em conciliar o sono na hora de dormir • Insônia de manutenção do sono (intermediária): despertares frequentes ou prolongados durante a noite • Insônia terminal: despertar antes do horário habitual e a incapacidade de retornar ao sono Com frequência, a insônia está associada a um estado de alerta fisiológico e cognitivo e a fatores condicionantes que interferem no sono. - A preocupação com o sono e com o desconforto causado pela incapacidade de dormir pode levar a um círculo vicioso: o esforço que um indivíduo faz para dormir aumenta a frustração, além de prejudicar o sono. - Consequentemente, atenção e esforços excessivos para dormir, que acabam predominando sobre os mecanismos normais da fase inicial do sono, podem contribuir para o desenvolvimento de insônia. - A insônia pode ser acompanhada de uma grande variedade de queixas e de sintomas diurnos, incluindo fadiga, energia diminuída e perturbações do humor. - Sintomas de ansiedade ou de depressão que não atendem aos critérios para um transtorno mental específico são comuns, assim como um foco excessivo nos efeitos percebidos da perda de sono no funcionamento durante o dia. - Consequências funcionais • Problemas interpessoais, sociais e profissionais poderão ocorrer como resultado de insônia • Aumento na irritabilidade diurna e má concentração. • Redução da atenção e da concentração é comum e pode estar relacionada a taxas mais elevadas de acidentes observadas em casos de insônia. • A insônia persistente também está associada a consequências de longo prazo, incluindo aumento no risco de transtornos depressivos graves, hipertensão e infarto do miocárdio; - Comorbidade • Comorbidade comum de muitas condições médicas, incluindo diabetes, doença cardíaca coronariana, doença pulmonar obstrutiva crônica, artrite, fibromialgia e outras condições de dor crônica. • Aparentemente, a relação de risco é bidirecional: a insônia aumenta o risco dessas condições médicas, e os problemas médicos aumentam o risco de insônia. Sonolência excessiva diurna - Sintomas de quantidade excessiva de sono, qualidade deteriorada de vigília e inércia do sono (período de alteração no desempenho e de vigilância diminuída após acordar de um episódio de sono regular) - Com frequência, o sono não é reparador e é seguido pela dificuldade de acordar no horário normal. - A sonolência excessiva se caracteriza por vários cochilos diurnos involuntários que tendem a ser relativamente longos (em geral duram 1 hora ou mais), não são considerados reparadores (i.e., não são revigorantes) e não melhoram o estado de alerta. - Indivíduos com hipersonolência têm cochilos diurnos quase todos os dias, seja qual for o tempo de duração do sono noturno. A qualidade subjetiva do sono pode ou não ser relatada como boa. - Em geral, eles sentem a sonolência se desenvolver ao longo de um período de tempo em vez de vivenciarem “ataques” repentinos de sono. 6 Normalmente, os episódios involuntários de sono ocorrem em situações de baixa estimulação e de baixa atividade (p. ex., assistindo a palestras, lendo, vendo televisão ou dirigindo em longas distâncias), embora em casos mais graves se manifestem em situações de alta concentração, como no trabalho, em reuniões ou em encontros sociais. - O transtorno de hipersonolência tem curso persistente, com evolução progressiva na gravidade dos sintomas. Nos casos mais extremos, os episódios de sono podem durar até 20 horas. - Ela tem inicio progressivo, com sintomas se iniciando entre os 15 e 25 anos. Apnéia do sono - Apneia e hipopneia obstrutivas do sono são os transtornos do sono mais comuns relacionados à respiração. Caracterizam-se pela repetição de episódios de obstrução (apneia e hipopneia) da via aérea superior (faríngea) durante o sono. - Diagnóstico • Pelo menos cinco apneias ou hipopneias obstrutivas por hora de sono + perturbações na respiração noturna, como ronco e respiração ofegante ou sintomas como sonolência ao longo do dia, fadiga e sono não reparador • 15 ou mais apneias e/ou hipopneias obstrutivas por hora de sono, independentemente da presença de sintomas - Apneia refere-se à ausência total de fluxo de ar, e hipopneia refere- se a uma redução no fluxo de ar. Cada apneia ou hipopneia representa uma redução na respiração com duração de pelo menos 10 segundos em adultos ou duas falhas respiratórias em crianças e geralmente está associada a quedas no nível de saturação de oxigênio iguais ou superiores a 3% - O ganho de peso poderá precipitar aumento nos sintomas. - Embora possam ocorrer em qualquer idade, apneia e hipopneia obstrutivas do sono geralmente se manifestam entre indivíduos na faixa etária de 40 a 60 anos, principalmente os do sexo masculino - é influenciada pela genética - A gravidade da doença é medida pela contagem do número de apneias e de hipopneias por hora de sono (índice de apneia e hipopneia)com auxílio da polissonografia ou de qualquer outro sistema de monitoramento noturno A apneia central do sono idiopática e a respiração de Cheyne-Stokes caracterizam-se por aumentos no ganho do sistema de controle ventilatório, também conhecido como retroalimentação de alto ganho (high loop gain), causando instabilidade na ventilação e nos níveis de PaCO2. Essa instabilidade é chamada de respiração periódica e pode ser identificada pela alternância entre hiperventilação e hipoventilação. Síndrome das pernas inquietas - A síndrome das pernas inquietas (SPI) é um transtorno neurológico sensório-motor do sono que se caracteriza por uma necessidade de movimentar as pernas ou os braços; em geral está associada a sensações desconfortáveis, tipicamente descritas como de rastejar, engatinhar, formigamento. - Os sintomas pioram quando o indivíduo está em estado de repouso, e o movimento frequente das pernas ocorre em um esforço para aliviar sensações desconfortáveis. Os sintomas se agravam no fim da tarde e à noite e, em alguns indivíduos, ocorrem somente nesse período. - Os fatores predisponentes incluem sexo feminino, envelhecimento, variantes do risco genético e história familiar de SPI. Necessidade de movimentar as pernas, em geral acompanhada por, ou em resposta a, sensações desconfortáveis e desagradáveis nas pernas, que se caracterizada por todas as circunstâncias • A necessidade de movimentar as pernas inicia-se e agrava-se durante períodos de repouso ou de inatividade. • A necessidade de movimentar as pernas é aliviada, completa ou parcialmente, pelo movimento. • Parassonias - Episódios recorrentes de despertares incompletos, acompanhados de uma entre as seguintes alternativas • Sonambulismo: Episódios repetidos de levantar-se da cama durante o sono e deambular. Durante o sonambulismo, o indivíduo se apresenta com o olhar fixo e o rosto vazio, praticamente não responde aos esforços de comunicação por parte de outras pessoas e pode ser acordado apenas com muita dificuldade. • Terrores no sono: Em geral, episódios recorrentes de despertares súbitos provocados por terror que iniciam com um grito de pânico. O medo é intenso, com sinais de estimulação autonômica como midríase, taquicardia, respiração rápida e sudorese durante cada episódio. Há relativa ausência de resposta aos esforços de outras pessoas para confortar o indivíduo durante os episódios. Os transtornos de despertar do sono não REM ocorrem com mais frequência na infância e diminuem com o avanço da idade. Narcolepsia - Cochilos diurnos recorrentes ou ataques de sono. Em geral a sonolência ocorre diariamente, pelo menos três vezes por semana, no mínimo por três meses • Narcolepsia sem cataplexia, porém com deficiência de hipocretina – baixos níveis de hipocretina sem presença de cataplexia • Narcolepsia com cataplexia, porém sem deficiência de hipocretina – mais raro, os níveis de hipocretina são normais • Ataxia cerebelar dominante autossômica, surdez e narcolepsia: Este subtipo é causado por mutações e caracteriza-se pelo início tardio (idade de 30 a 40 anos) da narcolepsia (com níveis baixos ou intermediários de hipocretina-1), surdez, ataxia cerebelar e, por fim, demência. • Narcolepsia autossômica dominante, obesidade e diabetes tipo 2: Condições como narcolepsia, obesidade, diabetes tipo 2 e níveis baixos de hipocretina-1 foram descritas em casos raros e estão associadas a uma mutação no gene para a glicoproteína da mielina de oligodendrócitos. • Narcolepsia secundária a outra condição médica: se desenvolve depois de condições médicas que produzem infecção (p. ex., 7 doença de Whipple, sarcoidose), trauma ou destruição tumoral de neurônios produtores de hipocretina. - Gravidade • Leve: A cataplexia é infrequente (menos de uma vez por semana), necessidade de cochilos apenas uma ou duas vezes por dia, e sono noturno menos fragmentado. • Moderada: Cataplexia uma vez por dia ou em intervalos de alguns dias, sono noturno fragmentado e necessidade de vários cochilos por dia • Grave: Cataplexia resistente a medicamentos, com múltiplos ataques diários, sonolência quase constante e sono noturno fragmentado - A cataplexia costuma se apresentar em episódios breves (de segundos a minutos) de atonia bilateral muscular precipitada por emoções. - Os músculos afetados incluem o pescoço, a mandíbula, os braços, as pernas ou o corpo inteiro, resultando em oscilação da cabeça, queda da mandíbula ou quedas completas - Durante os episódios, os indivíduos permanecem despertos e conscientes - Quase sempre é resultante da perda de células hipotalâmicas que produzem hipocretina, provocando deficiência dessa substância, podendo essa perda ser causada por doença autoimune - A hipocretina (ou orexina) é um tipo de hormônio neuropeptídico estimulante; especificamente, é um hormônio polipeptídico encontrado no hipotálamo posterior. Suas funções incluem induzir a sensação de fome, estimular o estado de vigília ou alerta e promover um estado de humor positivo, entre outros. Por outro lado, seus níveis elevados têm sido relacionados a distúrbios do sono, como insônia ou narcolepsia. Sonambulismo - A característica essencial do sonambulismo diz respeito a episódios repetidos de comportamento motor complexo que se inicia durante o sono, incluindo levantar-se da cama e deambular - Os episódios de sonambulismo começam em qualquer estágio do sono não REM, em geral durante o sono de ondas lentas e, portanto, ocorrem com mais frequência durante a primeira terça parte da noite. - Durante os episódios, o indivíduo apresenta redução do estado de alerta e das respostas, olhar vazio e relativa ausência de resposta à comunicação com outras pessoas ou aos esforços dessas pessoas para despertá-lo. - Se for despertado durante o episódio (ou ao despertar na manhã seguinte), o indivíduo tem uma vaga lembrança do ocorrido. Em seguida, pode haver, inicialmente, um breve período de confusão ou dificuldade para orientar-se, seguido de plena recuperação do funcionamento cognitivo e de comportamento adequado Polissonografia A polissonografia avalia as fases de sono e a fisiologia associada. - A fase de sono é determinada por EEG, eletro-oculograma e atividade no eletromiograma submentoniano. As medições para avaliar a fisiologia incluem a função respiratória (fluxo, esforço e trocas gasosas), atividade dos músculos das extremidades, eletrocardiograma e, algumas vezes, o pH esofágico ou a temperatura corporal interior. - Exame feito ao longo da noite A polissonografia é mais útil para distúrbios do sono tais como a apneia do sono, movimentos excessivos, parassonias ou para a sonolência excessiva não explicável. Registros mais limitados durante a noite podem-se concentrar estritamente em medições respiratórias. Dois testes quantificam a capacidade de adormecer e de ficar acordado: o teste de latência múltipla do sono e o teste de manutenção da vigília. O teste de latência múltipla do sono quantifica a sonolência objetiva com base no tempo para iniciar o sono através de cinco cochilos diurnos. O teste de latência múltipla do sono é útil para a narcolepsia, mas existe uma sobreposição entre indivíduos normais e pacientes com distúrbios do sono. O teste de manutenção da vigília quantifica a propensão para ficar acordado por períodos de 40 minutos e pode fornecer evidência objetiva da eficácia diurna de terapia estimulante. 8 P1 1. Discorrer sobre o sono e o ciclo sono-vigília (fases do sono)
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