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Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 1 INTRODUÇÃO • O sono foi considerado por muito tempo uma parte passiva das vidas diárias humanas, no entanto, ele desempenha um aspecto fundamental para a vida do ser humano, pois possui função reparadora, de conservação de energia, de proteção e imunológica. • A privação do sono interfere no bem estar mental e físico do paciente, o que leva a grave prejuízo funcional no desempenho dos papéis sociais e nas relações interpessoais. • Vale ressaltar que os transtornos do sono (TS) são frequentes na população geral e se manifestam por má qualidade do sono, insônia, sonolência excessiva diurna (SED), dificuldade em dormir ou acordar na hora desejada e por movimentos/comportamentos anormais relacionados ao sono. ASPECTOS ANATOMOFISIOLÓGICOS DO SONO • O ciclo sono-vigília segue uma periodicidade circadiana, sendo variável com a idade, o sexo e características individuais. • A regulamentação deste ciclo (uma concepção) é consequente a uma interação complexa de dois processos: homeostático e circadiano. Processo Homeostático Refere-se à liberação de substâncias que promovem o sono, em especial a adenosina, que se concentra acumulada após longos períodos de vigília. Sendo assim, ela representa a carga do sono que aumenta durante a vigília e diminui à medida que o sono ocorre. OBS: o café é antagonista dos receptores de adenosina. Processo Circadiano Refere-se à variação cíclica do estado de vigília e do sono que acontece durante o dia e que é regulada pelo núcleo supraquiasmático, considerado como o marcapasso circadiano. Nesse processo, é gerado um acoplamento entre as funções endógenas e a variações ambientais que ocorrem durante o dia, em especial a luminosidade, promovendo a vigília durante o dia e consolidando o sono no período noturno. Despertar 1. EEG: ritmo beta 2. EOG: movimentos oculares rápidos 3. EMG: Presença de tônus muscular Existe pouca ou nenhuma influência do fator homeostático, enquanto a regulação circadiana proporciona influências excitatórias no córtex cerebral. Com o passar das horas ocorre incremento no impulso homeostático, o que aumenta a atividade excitatória promovida pelo núcleo supraquiasmático. Através das aferências provenientes da retina, os estímulos luminosos atingem o núcleo supraquiasmático e o controle da secreção da melatonina. Os níveis plasmáticos deste hormônio começam a aumentar entre 1 e 3 horas antes do horário normal de sono e tem seu pico próximo ao nadir (ponto mais baixo) da temperatura central corporal. O estímulo luminoso desempenha papel importante na sincronização entre o ritmo circadiano endógeno e o ambiente externo. Sonhos Os mais vívidos e memoráveis costumam ocorrer na última etapa do sono, no REM. É importante notar que o sono pode ser bifásico (ou sono bimodal ou bifurcado) – prática de dormir durante dois períodos ao longo de 24 horas, polifásico – dormir várias vezes, em contraste com o sono monofásico, que é um período apenas de sono em 24 horas. Sono Em relação ao próprio sono, ele não é homogêneo, pois é constituído por quatro a cinco ciclos, compreendendo cada um, quatro estágios sendo que cada ciclo dura cerca de 90-120min. Existe variação no padrão de frequência e sincronização da atividade elétrica cortical entre os diferentes estágios, bem como existe uma variabilidade nos elementos fisiológicos e no grau de relaxamento muscular com o aprofundamento do sono. Além disso, há elevado limiar para resposta a estímulos ambientais, podendo o sono ser reversível à estimulação. Por outro lado, a alta responsividade e grande atividade motora caracterizam a vigília, que é permeada por um ambiente neuroquímico favorável ao processamento e registro de informações o que permite uma maior interação ambiental. Anatomia e Ciclo Sono-Vigília Áreas diferentes do sistema nervoso central estão envolvidas com os diversos estágios do sono e com a vigília. A ativação cortical necessária para a manutenção da vigília é garantida por uma rede extensa de estruturas e vias subcorticais, onde o hipotálamo desempenha papel fundamental. Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 2 No hipotálamo anterior encontram-se neurônios gabaérgicos, que estimulam e controlam o sono NREM (Não REM) por inibição do sistema reticular ativador ascendente e o prosencéfalo basal. Em conjunto com o hipotálamo posterior/lateral, estas regiões são responsáveis pela manutenção do sono, enquanto os núcleos pontinos promovem o sono REM. OBS: Muitas substâncias que induzem sonolência agem sobre os receptores do GABA, como o álcool, hipnóticos sedativos, agonistas benzodiazepínicos e os barbitúricos. Outros neurotransmissores estão envolvidos com o sistema de alerta, entre eles a acetilcolina, dopamina, serotonina e hipocretina/orexina. Estagiamento O estagiamento neurofisiológico segue as normas internacionais do Manual de Estagiamento do Sono e de Eventos Associados, da Associação Americana de Medicina do Sono e é baseado no padrão das ondas cerebrais (eletroencefalografia), na atividade muscular (eletromiografia) e nos movimentos oculares (eletroculograma), que são analisados a cada período de 30 segundos (denominados de “épocas”). Dois grandes estágios compõem o sono do adulto: o estágio NREM (~75%) e o REM (~25%). Estágio NREM – é subdividido em 3 fases: N1, N2 e N3. A sequência normal dos estágios normalmente é: vigília → N1 → N2 → N3 → REM. Em relação ao tempo total de sono, essas fases costumam apresentar proporção pouco variável: - Vigília: 5-10% - N2: 50% - N3: 12,5-20% - REM: 20-25% - N1: o restante. OBS: Indivíduos idosos podem apresentar sono mais superficial, com diminuição dos estágios N3 e REM e aumento dos estágios N1 e N2, enquanto em crianças o contrário é observado. Resumo dos ritmos demonstrados no EEG: 1. Gama: aparece na área que você está executando uma tarefa; 2. Beta: vigília ativa (acordado e com atenção); 3. Alfa: vigília relaxada (olhos fechados) 4. Teta: sono leve, pode aparecer na vigília 5. Delta: sono profundo Fisiologia FASE N1 Se caracteriza por atividade cortical de baixa frequência e amplitude (ondas teta), redução da atividade muscular em relação à vigília (ainda há tônus) e movimentos oculares lentos. 1. EEG: Ritmo teta 2. EOG: Movimentos oculares lentos 3. EMG: Presença de tônus OBS: ritmo alfa desaparece quando a fase N1 se inicia. FASE N2 Ocorrência de complexos K (mais evidentes nas regiões frontais) e fusos do sono (melhor visualizados nas regiões centrais) marcam a fase N2. 1. EEG: Ritmo teta 2. EOG: Ausência de movimento ocular 3. EMG: Presença de tônus OBS: adultos passam boa parte do sono em N2. FASE N3 Na presença de ondas deltas (ondas de grande amplitude e baixa frequência) em pelo menos 20% de uma época se define a fase N3 (sono de ondas lentas). Ausência de movimentos do globo ocular. Presença de tônus. OBS: Crianças e adolescentes passam boa parte do sono em N3. REM É caracterizado por uma atividade cortical de frequência mista e baixa amplitude, redução/ausência do tônus muscular (inibição do neurônio motor inferior) e movimentos rápidos dos olhos (dessincronização). Os grafoelementos característicos deste estágio são as ondas em serra (ondas teta e beta), que podem estar ausentes. No sono REM, são evidenciados eventos fásicos (atividade oculomotora, abalos musculares e ereção peniana) e tônicos (dessincronização elétrica cortical, atonia muscular e ritmo teta hipocampal). 1. EEG: teta e beta – ondas em dente de serra 2. EOG: Movimentos oculares rápidos3. EMG: Ausência de tônus muscular Neste estágio ocorrem os sonhos e a consolidação das informações aprendidas durante o dia, além de flutuações da função cardiorrespiratória, perda do controle da temperatura e da sensibilidade ao CO2. Devido ao aumento da atividade parassimpática, há diminuição dos níveis pressóricos, da frequência cardíaca e da resistência vascular periférica. A ventilação alveolar se encontra reduzida, assim como o tônus muscular das vias aeres superiores, com consequente aumento da resistência das vias aéreas. Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 3 OBS: Essas alterações respiratórias e hemodinâmicas ocorridas durante o sono REM não apenas aumentam a ocorrência de apneias/hipopneias e de dessaturações arteriais de oxigênio, mas também estão associadas ao maior risco de mortalidade nas primeiras horas da manhã em pacientes com doenças cardiopulmonares. OU SEJA: Funções do Sono REM 1. Reestabelecer equilíbrio cognitivo 2. Armazenar memórias explícitas (hipocampo) 3. Função sentinela – fase superficial, sono leve – característica evolutiva: para ouvir “ameaças”. EXAME NEUROLÓGICO – SONO Baseia-se na observação clínica, com enfoque na história e no exame físico. No entanto, uma história detalhada é o componente central dessa avaliação e deve sempre ser complementada, quando possível, pelo depoimento de outros indivíduos (familiares, companheiro, etc.). Deve-se dar atenção especial a sintomas noturnos associados – roncos, respiração bucal, apneias, dispneia, refluxo gastroesofágico, nictúria, disfunção erétil, sonambulismo, bruxismo, movimento de pernas, paralisia do sono – aos sintomas diurnos – sonolência, alterações de humor, queda da produtividade, dificuldade de concentração e memória, diminuição da atenção na condução de veículos, cataplexia (perda repentina do tônus muscular provocada por emoção forte, às vezes associada a uma irresistível vontade de dormir) e alucinações hipnagógicas (ao adormecer). Principais Fatores predisponentes 1. Transtornos da personalidade 2. Hiperatividade cognitiva 3. Preferência para dormir em horários não compatíveis com a norma social O principal fator perpetuante é a associação entre o AMBIENTE onde o paciente dorme e o MEDO de não conseguir dormir. AVALIAÇÃO SUBJETIVA • Feita por meio de questionários e diários de sono; • Vantagens: baixo custo e fácil aplicação, além de promover uniformidade na abordagem do paciente. • Desvantagem: uso limitado em pacientes com baixa capacidade intelectual. • O questionário mais usado é a Escala de Sonolência Excessiva de Epworth (ESS), no qual o paciente pontua a partir de uma escala de 0 a 3 a probabilidade de dormir em diversas situações, sendo 3 a maior probabilidade. Um resultado > 10 (máximo de 24) é classificado como sonolência excessiva diurna (SED). • O Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) é composto por 19 itens (e 5 perguntas para alguma pessoa que divida a mesma cama/quarto). Cada componente é pontuado de 0 a 3. A soma de 7 componentes produz a pontuação total do PSQI, variando de 0 a 21 pontos – quanto MAIOR a pontuação, PIOR a qualidade do sono. • Questionário Escandinavo Básico do Sono, que é uma escala de 5 pontos (1 a 5), com destaque para quantas noites/dias por semana algo acontece. A escala básica é 1, “nunca ou menos de uma vês por mês”; 2, “menos de uma vez por semana”; 3, “em 1- 2 noites por semana”; 4, “em 3-5 noites por semana” e 5, “todas as noites ou quase todas as noites”. Para perguntas de eventos raros, específicos da primeira categoria, podem ser divididos em “nunca” e “menos de uma vez por mês”. Eventos tais como “ronco habitual” é definido como ronco todas as noites ou quase todas as noites. • O nível de percepção do paciente sobre sua insônia pode ser medido pelo Índice de Gravidade de Insônia – um questionário de 7 perguntas que divide, de acordo com a pontuação do paciente, a insônia em: 1. Sem evidências clínicas de insônia 2. Insônia subliminar 3. Insônia clínica Leve a Moderada 4. Insônia Grave • Diário de Sono – é um registro realizado pelo paciente no período de pelo menos duas semanas, com informações sobre horários do despertar e de dormir, quantas vezes acorda durante a noite, se o sono foi reparador, sendo particularmente útil nos transtornos circadianos do sono, insuficiência e inadequada higiene do sono. AVALIAÇÃO OBJETIVA • Os principais exames solicitados são: 1. Polissonografia noturna (PSG) 2. Teste de latência múltipla do sono (TLMS) 3. Teste de manutenção da vigília 4. Actigrafia Polissonografia noturna – PSG Registro poligráfico (do EEG, EOG, EMG do mento, membros, das medidas do fluxo oro nasal, do movimento toraco-abdominal, ECG e da oximetria de pulso) de noite inteira realizado em um laboratório de sono, sendo o método padrão-ouro para diagnóstico dos TS. Outros canais podem estar disponíveis para registro de parâmetros adicionais, tais como posição corpórea, medidas de pressão esofágica, ronco, além de outros suplementares ao EEG. Indicações 1. Suspeita de transtornos respiratórios relacionados ao sono – pode estar associada à titulação do uso do CPAP e avaliação dos resultados da terapêutica; 2. Avaliação de suspeita de narcolepsia – em associação ao TLMS; 3. Parassonias atípicas ou incomuns 4. Pacientes com doenças neuromusculares e sintomas relacionados ao sono Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 4 5. Auxiliar no diagnóstico de despertares paroxísticos ou outras perturbações do sono que possam estar relacionadas a crises epilépticas ou que não respondam a terapia convencional. NÃO é rotineiramente solicitada para: 1. Insônia não complicada 2. Diagnóstico de DPOC 3. Pacientes com diagnóstico clínico definido 4. Pacientes com crises epilépticas e sem queixas relacionadas ao sono 5. Casos de transtornos do ciclo circadiano 6. Síndrome das pernas inquietas 7. Diagnóstico de depressão Teste de Latência Múltipla do Sono – TLMS Foi desenvolvido para demonstrar sonolência e é utilizado para diagnóstico de hipersonias de origem central como a narcolepsia e a hipersonia idiopática. São feitos 5 registros de 20 minutos nos quais o paciente é instruído a dormir. Entre cada etapa, há um intervalo de 2 horas. O resultado é dado apresentando-se a média das latências de sono das 5 etapas, além da presença de episódios de sono REM precoce (SOREMP); Esse exame, geralmente, é realizado na manhã seguinte a uma PSG noturna. OBS: Na ICDS-3 o diagnóstico de narcolepsia foi modificado em relação a ICDS 2. Na versão atual, a média das latências é menor que 8 minutos ou a presença de 2 ou mais SOREMPS, onde um dos episódios de sono REM precoce pode ser contabilizado se ocorrido na PSG noturna da noite anterior. Teste de manutenção da vigília Determina a capacidade de um indivíduo de se manter acordado. O teste avalia os efeitos de tratamentos medicamentosos ou não em pacientes com hipersonolência e determina a capacidade de um indivíduo de desenvolver adequadamente tarefas caseiras e/ou no trabalho. São realizados 4 registros de 40 minutos, a cada 2 horas. O início do sono é definido como 3 épocas contínuas de N1 ou uma época de qualquer outra fase do sono. Esse teste pode ser usado para auxiliar a história clínica na avaliação da capacidade de ficar acordado. Actigrafia É uma técnica de avaliação do ciclo sono-vigília. O actígrafo é um dispositivo colocado no punho (como um relógio de pulso) que realiza a detecção dos movimentos dos membros durante 24 horas. Esse exame, que mede a atividade motora grosseira, possui grande utilidadepara determinar padrões de sono e ritmos circadianos, podendo ser usado por várias semanas. Ao contrário da PSG, pode ser realizado fora do ambiente laboratorial, já que seus registros são gravados e posteriormente analisados. Isso permite que o paciente possa ficar em seu ambiente natural de sono. OBS: A avaliação laboratorial para síndrome das pernas inquietas inclui: 1. Dosagem de ferro e ferritina séricos 2. Ácido fólico, Mg, T3, T4 e TSH A neuroimagem está indicada para pacientes com antecedentes de trauma e TS associados a exame neurológico anormal. O vídeo EEG deve ser conduzido para afastar crises epilépticas noturnas e a EMG, neuropatia periférica em associação com síndrome das pernas inquietas. CLASSIFICAÇÃO E CLÍNICA DOS TRANSTORNOS DO SONO A ICSD-3 identifica 7 principais categorias: 1. Insônia 2. TS relacionados à respiração 3. Hipersonolência de origem central 4. Parassonias 5. Transtornos do ritmo circadiano 6. TS relacionado ao movimento 7. Outros transtornos A-TRANSTORNO DE INSÔNIA É o TS mais comum na população geral (6-10%) Definição: insatisfação com a qualidade ou quantidade do sono associada a um sintoma noturno (dificuldade em iniciar o sono, dificuldade em manter o sono ou despertar matinal precoce), situação esta que traz prejuízo no funcionamento diurno deste indivíduo na esfera física, mental ou social. Critérios: os sintomas devem ter duração de pelo menos 3 meses, ocorrer pelo menos 3 vezes por semana e não ser melhor explicado por outro TS. Classificação: 1. Transtorno de insônia crônica 2. Transtorno de insônia de curto prazo 3. Outro transtorno de insônia 4. Sintomas isolados e variantes da normalidade 5. Tempo excessivo na cama 6. Dormidor curto Epidemiologia: • Mais comum no sexo feminino; • Idade avançada • Baixa renda, desempregados, aposentados. • Maior número de consultas e custos com saúde. Clínica Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 5 • Dificuldade em iniciar o sono, múltiplos despertares noturnos (dificuldade na manutenção) com dificuldade para voltar a dormir, maior tempo acordado após adormecer, despertar precoce e resistência em ir para a cama (em crianças), além de disfunção diurna. • Maior dificuldade no desempenho das atividades diárias, o que leva a prejuízo da qualidade de vida, e sofrem com maior frequência de doenças psiquiátricas – especialmente depressão e ansiedade. • Maior risco de HAS, doenças cardiovasculares e distúrbios endócrinos – DM2. → esses desfechos negativos ocorrem especialmente em insones que desenvolvem estado de hiperalerta, definido em alguns estudos como sono com menos de 6 horas de duração. • Por todas essas razões é recomendação padrão da American Academy of sleep medicine que todo profissional de saúde investigue insônia nas avaliações dos pacientes. Principalmente se grupos de maior risco, o que inclui os idosos. Diagnóstico • Eminentemente clínico; • Auxilia: Diário de Sono e o Índice de Gravidade da Insônia. • O PSG não é rotineiramente recomendado, a não ser se existirem evidências razoáveis da presença de outro TS. • Entretanto, tanto a PSG quanto a Actigrafia poderiam ajudar a identificar os pacientes com estado hiperalerta, aqueles com maior risco de desenvolverem desfechos desfavoráveis, através da mensuração do tempo total de sono. • Pode variar de forma aguda e autolimitada até crônica e persistente, sendo que última situação pode constituir a insônia psicofisiológica, paradoxal ou idiopática. • INSÔNIA AGUDA (menos de 3 meses): deflagrada por um evento/situação de estresse, como mudança de emprego, perda de parente, etc. Esses eventos deflagradores são facilmente identificados o que facilita o diagnóstico clínico. Toda insônia aguda pode cronificar se houver um fator perpetuante. • INSÔNIA CRÔNICA (3 meses ou mais): possui grande importância clínica, pois afeta o funcionamento social e ocupacional e diminui a qualidade de vida. Tratamento • Objetivos: melhoria da qualidade/ quantidade do sono e da disfunção diurna. • 1ª conduta nas formas crônicas: Terapia cognitiva-comportamental (TCC), considerada padrão-ouro no manejo da insônia. – Objetiva aumentar o tempo de remissão da doença e aumentar a resposta à terapia farmacológica. Existem vários tipos de intervenções na TCC, entre elas a terapia de controle de estímulos, treinamento com relaxamento, restrição do sono, intenção paradoxal, biofeedback e higiene do sono. • Os benefícios da TCC se mantêm por 2 anos, portanto são mais duradouros que o tratamento farmacológico isolado. Na fase aguda (até 8 semanas), o tratamento farmacológico e não farmacológico são eficazes e se equivalem. Mas, a longo prazo, os benefícios se mantêm apenas com o TCC. • Caso haja persistência da insônia após a TCC e controle dos fatores contribuintes, a terapia farmacológica empírica está indicada. Agir nas possíveis 3 vias: 1. Gabaérgica 2. Melatoninérgica 3. Antagonizar efeitos da orexina Classes utilizadas: Agonista do receptor GABA Benzodiazepínico (ABRG) Alprazolam Estazolam Oxazepam Triazolam Cloridiazepóxido Clonazepam Diazepam Flurazepam Agonista do receptor GABA não benzodiazepínico (ANBRG) Zolpidem Zopiclone Eszopiclone* Zaleplon Indiplon Agonista do receptor da melatonina Ramelteon* Antagonista da orexina Suvorexant* Antidepressivos com efeitos sedativos Amitriptilina Imipramina Mirtazapina Trazodona Anticonvulsivantes Gabapentina Pregabalina Anti-histamínico Doxilamina *Não comercializados no Brasil Higiene do sono: 1. Só ir para cama quando sonolento Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 6 2. Se demorar para dormir, levantar e ir para outro ambiente 3. Cama apenas para sono e atividade sexual 4. Horários regulares para dormir e acordar 5. Exposição a luz durante o dia 6. Sem sonecas diurnas 7. Não usar cafeína e nicotina 4-6h antes de dormir 8. Exercícios físicos regulares, mas apenas até 3 horas antes de dormir 9. Evitar uso de bebidas alcoolicas e refeições pesadas antes de dormir 10. Cuidados com ambiente: temperatura, barulho, conforto 11. Não lidar com os problemas antes de dormir. DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO É dividido em 4 seções: 1. Síndrome da apneia obstrutiva do sono; 2. Síndromes de apneia Central (CSA); 3. Distúrbios de Hipoventilação relacionados ao sono; 4. Distúrbio de Hipóxia relacionado ao sono SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO Síndrome caracterizada por eventos recorrentes de obstrução da via aérea superior durante o sono. Epidemiologia: É prevalente – 32,8% (estudo populacional de 1024 indivíduos em SP); São grupos de maior risco: sexo masculino e obesidade. Mecanismo: É um ciclo que pode se repetir várias vezes. Ocorre relaxamento dos músculos da faringe, colabamento (parcial ou total) da via aérea e nesse momento → microdespertamento (~15s) com elevação do tônus, depois retorna a dormir, reduzindo o tônus. O sono do paciente fica fragmentado e perde a qualidade. Critérios: Presença dos critérios A e B ou critério C A. Presença de 1 ou mais dos seguintes: 1. Paciente queixa de sonolência, sono não- restaurador, fadiga ou sintomas de insônia; 2. Paciente acorda com dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento; 3. Parceiro observa ronco habitual e/ou pausas respiratórias durante o sono 4. Paciente tem diagnóstico de HAS, transtorno do humor, disfunção cognitiva, coronariopatia, AVE, ICC, FA ou DM2. B. A polissonografia demonstra: 1. 5 ou mais eventos obstrutivos por hora C. A polissonografia demonstra: 1. 15ou mais eventos obstrutivos por hora OBS: Apneia obstrutiva do sono é caracterizada por episódios de obstrução faríngea parcial (hipopneia) ou total (apneia) durante o sono – achado no PSG. Quando as apneias ou hipopneias ocorrem com certa frequência e associam-se a sintomas → Síndrome da apneia-hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS). Classificação da apneia: baseada no resultado do Índice de apneia e hipopneia por hora de sono (IAH) de seu exame diagnóstico – a polissonografia. 1. Leve: IAH ≥ 5 e ≤ 15 2. Moderada: IAH > 15 e ≤ 30 3. Grave: IAH > 30 Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 7 Clínica: Consequências: • Acidentes de trânsito, • acidentes de trabalho, • doenças cardio/cerebrovasculares, • Intolerância a glicose. Tratamento: • CPAP • Outros: medidas clínicas, dispositivo intraoral (anterioriza a mandíbula, feito pelo profissional odontólogo com atuação na área do sono), cirurgia – avanço maxilo-mandibular, faringoplastia lateral. HIPERSSONIAS DE ORIGEM CENTRAL Esses distúrbios são caracterizados por excesso de sonolência diurna (hipersonolência) que não é atribuível a outro distúrbio do sono, especificamente àqueles que resultam no sono perturbado (por exemplo, distúrbios respiratórios relacionados ao sono) ou anormalidades do ritmo circadiano. NARCOLEPSIA Ocorre deficiência da hipocretina (orexina), no tipo 1 (com cataplexia). Esse neurotransmissor é responsável por regular a excitação, vigília e apetite. • Sonolência excessiva diurna • Alucinações hipnagógicas (do adormecer) • Paralisia do sono • Fragmentação do sono noturno • Cataplexia (associada a emoção forte) Diagnóstico (com especialista responsável): • Demonstração de deficiência de hipocretina-1 no líquido cefalorraquidiano (<110pg / mL ou menos de um terço dos valores normativos com o mesmo ensaio padronizado) OU • Uma latência média de < 8 minutos no MSLT, com evidência de períodos rápidos de movimentos oculares no início do sono (SOREMPs) e cataplexia clara (definida como “mais de um episódio de geralmente breve [< 2 min], comumente simétrica bilateralmente, perda súbita de tônus muscular com consciência retida”). PARASSONIAS Nesse grupo estão: 1. Parassonias do sono NREM a. Transtornos do despertar (a partir do NREM); b. Despertar confusional c. Sonambulismo d. Terror noturno e. Transtornos alimentares relacionados ao sono 2. Parassonias do Sono REM a. Transtorno comportamental do sono REM b. Paralisia do sono isolada recorrente c. Pesadelos 3. Outras Parassonias 4. Sintomas isolados e variantes da normalidade a. Sonilóquio PARASSONIAS DO SONO NREM Ocorrem principalmente em crianças e geralmente desaparecem na puberdade, porém podem persistir na vida adulta. OBS (não dado): Os transtornos do despertar consistem em despertar incompleto do sono com resposta ausente ou inapropriada apesar da intervenção de pessoas durante o episódio. São limitados (uma única cena, sem imagens de sonho), geralmente ocorrem no início do estágio do sono de ondas lentas (N3), sendo que a maioria dos episódios é de curta duração, podendo durar de 30 a 40 minutos, mas podem ser acompanhadas de fala e de gritos. Os olhos geralmente estão abertos e sem expressão, sendo difícil acordá-los, porém se despertos mostram-se confusos. Parassonias Principais Sintomas Diagnósti co Tratamento Despertar Confusional - Mais comum < 5 anos; - Despertar confuso antes da primeira parte do sono; - Duração < 5min; - Comportame nto benigno, ocasionalmen te podem estar História Clínica - Geralmente não precisa farmacotera pia. Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 8 agressivos e violentos; - Resolução espontânea – no adulto, pode persistir longo tempo e com comportamen tos automáticos / inapropriados Sonambulis mo - Início assim que a criança começa a andar, na adolescência ou em qualquer fase da vida (incluída a 7ª década); - Deixam a cama (olhos abertos), andam, correm, podendo apresentar comportamen tos inapropriados e violentos com prejuízo da memória anterógrada e retrógrada. História Clínica Farmacotera pia não necessária Terror Noturno - 1 a 6,5% das crianças (4 a 12 anos) e 2,2% nos adultos - Sintomas desaparece m na adolescência; - Acompanha choros, gritos, sonhos e sintomas motores e autonômicos intensos; - Desorientaçã o e amnésia após cada episódio, término súbito e resistência ao consolo História Clínica Farmaco terapia geralmente não necessária PARASSONIAS DO SONO REM • O Transtorno comportamental do Sono REM é o TS mais característico deste grupo; Parassonia Sintomas Diagnósti co Tratamen to Transtorno Comportamen tal do Sono REM - Homens > 50anos; Mas pode se manifestar em mulheres e indivíduos mais jovens; - Vocalizações ou comportamen tos motores complexos e relatos de sonhos violentos com agressões ao próprio paciente ou ao companheiro. (olhos fechados) História Clínica Clonazepa m Caracterizado por: 1. Maneiras de agir anormais durante este sono que podem causar lesões e interrupção do sono; anormalidades na eletromiografia do mento e na polissonografia-PSG (falta de atonia do mento). 2. Em crianças, há associação deste TS com narcolepsia-cataplexia, tumores do tronco cerebral ou uso de medicamento antidepressivo. 3. Especialmente nos adultos, existe associação com neurodegenerações da sinucleína (atrofia sistêmica múltipla, Doença de Parkinson, demência com corpos de Lewy, falha autonômica pura) e neurodegenerações não relacionadas à sinonucleína (paralisia supranuclear progressiva, taupatias, demência frontotemporal, esclerose lateral amiotrófica, Doença de Alzheimer, amiloidopatias, ataxia espinhal do tipo 3, Coréia de Huntington e narcolepsia) DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO RELACIONADOS AO SONO Síndrome das Pernas Inquietas Epidemiologia: Vários estudos têm demonstrado que a SPI é uma condição de alta prevalência nos países ocidentais. Eva Carneiro NEUROLOGIA 3ª edição da Classificação Internacional de TS (ICSD-3) // LENT, 100bi de neurônios – 2ªed, cap 16. 9 • No maior estudo sobre o tema, a prevalência de SPI no último ano foi 7,2%. • Um estudo populacional brasileiro, realizado com entrevistas porta a porta em uma cidade do interior de São Paulo, mostrou prevalência de cerca de 6,4%. • É subdiagnosticada (6,2% recebem o diagnóstico) Critérios: Vontade imperiosa de mover as pernas, geralmente acompanhada de sensações locais desagradáveis. Os quatro aspectos fundamentais para o diagnóstico incluem: 1. urgência em movimentar os membros associados com parestesias e disestesias; 2. sintomas que se iniciam ou pioram com o repouso; 3. melhora parcial dos sintomas com o movimento; 4. piora dos sintomas no final da tarde Ainda, é preciso se certificar de que: • As manifestações não são decorrentes de outra condição: câimbras, desconforto posicional, mialgia, etc. • As manifestações causam repercussões significativas. OBS: Podem estar associados com deficiência de ferro, doença de Parkinson, insuficiência renal (principalmente quando submetidos à diálise), diabetes mellitus, artrite reumatóide, neuropatia periférica, gestação (acima de 20 semanas), uso de anti-histamínicos e antidepressivos. 80 % tem movimento periódico de pernas. Diagnóstico: História clínica, exames laboratoriais e de imagem. Tratamento: • Agonistas dopaminérgicos • Alfa delta ligantes: gabapentina e pregabalina• Opioides • Reposição de ferro • Levodopa • Outros
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