Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
• É caracterizada pelo endurecimento e perda da elasticidade das artérias. Envolve três doenças diferentes – aterosclerose, esclerose calcificada da média de Monckeberg e arteriosclerose • A aterosclerose é uma patologia que compromete artérias de grande e médio calibre, obstruindo progressivamente suas luzes e gerando isquemia • É uma condição multifatorial que apresenta fatores de risco constitucionais ou não modificáveis (anormalidades genéticas, histórico familiar, idade avançada e gênero masculino) e fatores modificáveis (hiperlipidemia, hipertensão arterial, tabagismo, diabetes e inflamação) • Os locais preferencialmente acometidos são as artérias do SNC, artérias mesentéricas, artérias renais, artérias de membros inferiores, artérias coronárias e artéria aorta • Essa doença evolui silenciosamente durante grande parte da vida, apenas quando alcança um grau de obstrução importante (cerca de 70% da luz da artéria) é que pode gerar isquemia crônica no coração, nos membros inferiores ou no SNC (isquemia transitória) • Uma manifestação precoce e aguda da aterosclerose é o infarto, que está relacionado com a obstrução aguda da luz vascular por trombos → ex: infartos intestinais, infartos no SNC e gangrenas que ocorrem nas extremidades • Também pode ocorrer manifestações tardias e crônicas, como é o caso da atrofia renal e aneurisma de aorta abdominal • Agressão às células endoteliais, que possui um papel importante na modulação do tônus vascular, na expressão de fatores de crescimento (remodelamento vascular), na hemostasia e na inflamação • Em seu estado basal, a célula endotelial tem uma superfície não adesiva e não trombogênica, isto é, não inflamatória e não pró-trombogênica, porém, quando ativada ou agredida, ocorre uma mudança de fenótipo e a célula passa a representar um ambiente pró-inflamatório e pró-trombótico • Toda vez que houver uma agressão à célula endotelial, é formado um processo inflamatório crônico. Dessa forma, esse ambiente compreende o aumento da permeabilidade vascular e entrada de lipoproteínas para a camada íntima do vaso, assim como a expressão de moléculas de adesão de monócitos e plaquetas, sendo que estas últimas liberam fatores de crescimento que agem sobre as fibras musculares lisas da camada média, o que leva à proliferação e migração dessas fibras para a camada íntima Aterosclerose MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E COMPLICAÇÕES PATOGENIA • Na camada íntima, as fibras musculares e os macrófagos fagocitam os lipídios, que entram e também passam a se comportar como miofibroblastos, produzindo colágeno que leva a formação de uma capa fibrosa • As placas ateroscleróticas possuem um núcleo lipídico, que é formado por restos necróticos, colesterol e ésteres de colesterol, sendo que estes últimos podem estar dentro de macrófagos (como células xantonizadas) ou fora na forma de cristais • Essas placas evoluem ao longo da vida e podem ter complicações como hemorragia intra-placa, ulcerações, trombose (principalmente) e calcificações extensas Placas instáveis ou vulneráveis: • Também chamadas de fibroateroma de capa delgada, são as placas mais propensas a complicações • Possuem um componente inflamatório muito importante, com grande núcleo lipídico e capa fibrosa delgada, isso ocorre porque os macrófagos xantomizados ativados produzem metaloproteinases que lisam a capa fibrosa • Essas placas não geram uma obstrução importante da luz, de modo que não provocam manifestações de isquemia crônica, porém, a capa fibrosa mais delgada pode se romper com maior facilidade, o que leva à formação de trombos na luz do vaso Placas estáveis: • São as placas menos propensas a complicações • Caracterizam-se por um componente inflamatório menos evidente, com um núcleo lipídico menor e capa fibrosa mais espessa, isso por conta da maior reparação e produção de colágeno pelas fibras musculares lisas, as quais formam a capa fibrosa • Além disso, essas são lesões mais obstrutivas, de modo que geram sinais de isquemia crônica (angina estável) e tem menor risco de trombose PLACA ATEROSCLERÓTICA • A isquemia pode ser definida como sendo o desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio e nutrientes para um tecido • No coração, a isquemia coronariana pode gerar quatro síndromes clínicas – angina pectoris (dor precordial que não gera necrose do músculo cardíaco), infarto do miocárdio (isquemia grave o suficiente para gerar necrose), morte súbita (isquemia por arritmia que leva o indivíduo a morte) e doença isquêmica crônica do miocárdio (isquemia prolongada que gera disfunção miocárdica progressiva) • A principal causa de isquemia miocárdica é a obstrução coronariana que, por sua vez, tem como maior causa a aterosclerose • Outras situações também podem provocar a obstrução coronariana, como o aumento da demanda de sangue pelo coração (por aumento da FC ou hipertrofia), diminuição do volume de perfusão (por choque), diminuição da oxigenação (por pneumonia ou insuficiência cardíaca congestiva) e diminuição da capacidade de transportar oxigênio (em quadros de anemia) • As repercussões de isquemia variam de acordo com o tamanho e a distribuição da artéria comprometida, extensão e duração da oclusão, demandas metabólicas do miocárdio e presença ou não de circulação colateral • A obstrução coronariana por doença aterosclerótica acontece preferencialmente nos terços proximais do ramo descendente anterior, na artéria circunflexa e em toda a artéria coronária direita • Porém, as manifestações clínicas ocorrem a partir de uma obstrução maior que 70% da luz das coronárias, nesse sentido, o indivíduo apresenta angina estável (se tiver 70% de obstrução) e angina instável (se tiver 90% de obstrução) • O prognóstico desses casos também varia de acordo com a presença de circulação colateral • Sabe-se que o local preferencial para o aparecimento de trombos é no ombro da placa PATOLOGIA Doença isquêmica do miocárdio MANIFESTAÇÕES DA ISQUEMIA • As valvas são compostas por folhetos delicados e translúcidos, sendo que a transição entre um folheto e outro é representada por uma área chamada de comissura valvar, que é importante pois fornece amplitude de abertura para as valvas. As atrioventriculares (mitral e tricúspide) são suportadas pelo esqueleto fibroso do coração, pelas cordas tendíneas e pelos músculos papilares. Na valva aórtica, a região entre a parede da aorta e a face arterial do folheto (válvula semilunar) é chamada de seio de Valsalva; existe um seio em cada folheto (coronariano direito, coronariano esquerdo e não coronariano). Além disso, sabe-se que 1-2% da população possui uma valva aórtica bicúspide, isto é, com apenas com 2 folhetos e com um cordão fibroso chamado de rafe mediana - isso é importante porque a valva bicúspide pode sofrer alterações degenerativas mais precocemente do que a valva que possui 3 folhetos • Todas as valvas são estruturas avasculares compostas por três camadas, que são: a superfície endotelial/endocárdica, que corresponde à face atrial das valvas atrioventriculares e à face ventricular das valvas arteriais; a camada espongiosa, que é composta por um tecido conjuntivo mais frouxo; e a camada fibrosa, que fica na base da valva e é composta por um tecido conjuntivo denso - ela dá suporte ao tecido valvar e impede sua deformação • As doenças valvares, principalmente as adquiridas, são mais frequentes do lado esquerdo do coração e podem se manifestar de duas formas diferentes: o Estenose valvar: caracteriza-se por um estreitamento do orifício valvar e consequente dificuldade de passagem do sangue. As estenoses normalmente estão associadas com a febre reumática e com lesões degenerativas (principalmente calcificação do tecido valvar)o Insuficiência valvar: caracteriza-se pela dificuldade de fechamento do orifício valvar e consequente refluxo de sangue para a câmera anterior. Essa insuficiência ocorre não só por conta anormalidades dos folhetos, mas também por disfunções no aparelho tensor ou de sustentação (representado pelo anel da valva aórtica, cordas tendíneas e músculos papilares), por causas inflamatórias (ex: febre reumática) e outras causas não inflamatórias (ex: prolapso da valva mitral ou lesões da valva aórtica relacionadas com a síndrome de Marfan). No entanto, a insuficiência valvar pode ocorrer mesmo sem lesão das valvas, como é o caso SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS Valvopatias ESTRUTURA DAS VALVAS ETIOLOGIA DAS DOENÇAS VALVARES de doenças que provocam dilatação do coração e que podem gerar uma insuficiência mitral; assim como também podem haver aneurismas de aorta ascendente (de diferentes causas) que levam à dilatação do anel de implantação da valva aórtica, o que também gera uma insuficiência aórtica sem que haja lesão dos folhetos valvares Febre Reumática: • A febre reumática é o principal exemplo das doenças valvares de natureza inflamatória e ocorre de 2 a 4 semanas após uma infecção de orofaringe pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A de Lancefield. A doença reumática aguda está relacionada com a susceptibilidade do indivíduo (padrão de HLA específico) e com a virulência do agente (existem algumas cepas reumatogênicas) • Pode se manifestar de diversas formas, como pancardite (valvopatia reumática crônica, com comprometimento dos folhetos pericárdico, miocárdico e endocárdico), poliartrite migratória, nódulos subcutâneos, eritema marginatum e Coreia de Sydenham • Em relação ao mecanismo de agressão, essa é uma doença mediada imunologicamente por um mimetismo molecular entre as proteínas bacterianas e algumas do próprio hospedeiro. Basicamente, a infecção de orofaringe gera uma resposta imune humoral (mediada principalmente por linfócitos B) e os anticorpos anti-proteína M produzidos fazem uma reação cruzada com proteínas sarcoméricas e glicoproteínas teciduais - com isso é formado um infiltrado clássico com macrófagos induzidos por linfócitos TCD4+, que são chamados de nódulos de Aschoff. Além disso, a febre reumática é uma doença que evolui em surtos de atividade, sendo que cada surto é precedido por uma nova infecção de orofaringe pelo estreptococo OBS: o coração é o único local que esse processo inflamatório deixa sequelas, em qualquer outro local do corpo o organismo se regenera o Pericardite fibrinosa: caracteriza-se pela perda de transparência da superfície epicárdica por deposição de fibrina o Miocardite: tem um aspecto histológico com presença dos nódulos de Aschoff, que são representados inicialmente (na fase exsudativa) por áreas centrais de necrose fibrinoide (necrose do tecido colágeno), que ficam envoltas por uma reação inflamatória composta principalmente por macrófagos modificados chamados de células de Anitschkow - essa reação inflamatória é patognomônica da febre reumática. Já VALVOPATIA INFLAMATÓRIA nas fases consecutivas, que são a granulomatosa e a cicatricial, ocorre a resolução do processo inflamatório o Valvulite reumática: caracteriza-se pela presença de vegetações de 2-3mm dispostas de forma linear na borda de aposição dos folhetos (onde os folhetos anterior e posterior se tocam), com espessamento esbranquiçado dos folhetos e das cordas tendíneas (indicativo de fibrose) e neovascularização nos surtos de atividade (aumentam a fibrose e alteram a arquitetura valvar). A valvulite é a única manifestação da fase aguda que deixa sequelas funcionais (valvopatia reumática crônica), principalmente quando ocorre do lado esquerdo (nas valvas mitral e aórtica) - sabe-se que a valva mitral é a mais frequentemente acometida, podendo haver uma estenose ou dupla lesão mitral; quando comprometida, a valva aórtica aparece junto com a mitral - raramente é acometida isoladamente Valvopatia reumática crônica: • Ocorre devido à alteração da arquitetura valvar. Isso porque a valva acaba sendo submetida a um maior estresse hemodinâmico, o que gera inflamação e fibrose - com isso, há perda da transparência dos folhetos valvares (por conta da fibrose), com fusão comissural (= comissuras valvares desaparecem, de modo que os folhetos anterior e posterior ficam unidos), retração (dos folhetos e das cordas tendíneas, o que gera insuficiência valvar) e neovascularização (por conta do processo inflamatório) Endocardite Infecciosa: • A endocardite infecciosa é a lesão valvar ou do endocárdio mural caracterizada por uma vegetação (trombo na superfície valvar) que é invadida e colonizada por bactérias ou outros agentes, o que leva à formação de vegetações volumosas e friáveis com diferentes graus de destruição tecidual. Conforme o avanço da lesão, a valva pode se tornar insuficiente e também pode ocorrer formação de êmbolo • Essa endocardite pode se manifestar de forma aguda (mais grave), quando é provocada por organismos altamente virulentos como o Staphylococcus aureus, os quais provocam grande destruição tecidual em valvas previamente normais, podendo levar a um quadro de embolização séptica (por fragmentação do trombo) e morte em 50% dos casos; ou de forma subaguda, quando é provocada por organismos menos virulentos como o Streptococcus viridans, tem instalação insidiosa, normalmente acomete valvas já doentes e provoca uma destruição tecidual menos evidente e com melhor prognóstico e recuperação quando tratada adequadamente • Patogenia: para que a endocardite infecciosa ocorra, é necessária a coincidência de três fatores: o Lesão endotelial e formação de trombos: a lesão é gerada por um fluxo turbulento e jatos de alta pressão, o que leva à formação de trombos. Isso é muito frequente em pacientes com doenças valvares prévias (ex: doença reumática, prolapso mitral e estenose aórtica senil) ou cardiopatias congênitas (ex: shunts de alta pressão em CIV, PCA, DSAV e tetralogia de Fallot) o Bacteremia: pode ser decorrente de manipulação em focos dentários, queimaduras, hemodiálise, intra-cath, cirurgia cardíaca, aborto por aspiração ou traumas menores nas mucosas orofaríngea, gastrointestinal ou gênito-urinária. Por isso que pacientes com valvulopatias devem receber antibioticoterapia profilática antes da realização de qualquer procedimento que envolva manipulação o Virulência: alguns agentes têm uma virulência mais pronunciada por conta de características próprias e da capacidade de aderência (na superfície endotelial normal ou na superfície de um trombo formado na valva previamente lesada). Os agentes infecciosos mais frequentes são as bactérias Gram- positivas, como o Staphylococcus aureus (tem maior virulência e causa endocardite aguda - é muito frequente em usuários de drogas injetáveis, uma vez que esse micro-organismo está presente na pele) e o Streptococcus viridans (faz parte da flora da cavidade oral, de modo que pode causar bacteremia em casos de manipulação de focos dentários) • Macroscopia e microscopia: as lesões macroscópicas das endocardites infecciosas são as vegetações (trombos), com rompimento de cordas tendíneas e destruição tecidual; as vegetações localizam-se sempre na face onde o sangue chega, isto é, na face atrial das valvas atrioventriculares ou na face ventricular das valvas arteriais. Essa lesão também pode ocorrer em próteses valvares, quando geralmente é causada por fungos. Na microscopia podem ser vistas colônias bacterianas em meio a um trombo (composto por fibrina, plaquetas, hemácias e leucócitos), além de um processo inflamatório que ocorre na intimidade da válvula por conta da destruição tecidual • Complicações: são as disfunções valvares (por conta da destruição e insuficiência valvar, o que pode gerar insuficiência cardíaca), o comprometimento do coração (por embolizaçãoséptica), os fenômenos tromboembólicos (por conta da fragmentação do trombo, que pode seguir como êmbolo para o miocárdio ou para locais extracardíacos) e a formação de complexos imunes circulantes (provocam glomerulonefrite proliferativa focal ou difusa) Endocardite Não Infecciosa: • As endocardites não infecciosas (trombóticas não bacterianas) ocorrem quando o trombo é asséptico, isto é, não foi colonizado por um agente infeccioso - exemplos disso são a febre reumática e o lúpus eritematoso sistêmico • Na macroscopia, nota-se uma valva sem inflamação ou destruição do tecido valvar, além de um trombo composto por fibrina, plaquetas, hemácias e raros leucócitos • Essa lesão normalmente ocorre em pacientes em estadios terminais de algumas doenças inflamatórias crônicas (ex: tuberculose), neoplasias (ex: carcinomas em brônquios, estômago, pâncreas e ovários) e coagulopatias, que são situações que levam à hipercoagulabilidade sanguínea, o que implica na formação de múltiplos trombos em diversos locais • Endocardite de Libman-Sacks (é a endocardite do lúpus): caracterizada por ocorrer preferencialmente na valva mitral. Ocorre pequenas vegetações localizadas em ambas as faces das valvas, se estendendo para endocárdio atrial e ventricular. Pode ocorrer valvulite concomitante com necrose fibrinóide e presença de corpos hematoxilínicos • As valvopatias degenerativas são representadas por situações em que ocorre calcificação dos folhetos ou do aparelho valvar. Podem acontecer tanto na valva aórtica quanto na valva mitral Estenose aórtica senil: • Caracteriza-se por uma calcificação maciça nos seios de Valsava da valva aórtica, o que impede a sua abertura • Essa lesão ocorre com maior frequência em pacientes com 70-80 anos; porém, ocorre mais precocemente quando a valva aórtica é bicúspide (a partir de 50-60 anos) • Além disso, essa calcificação eventualmente pode ser acompanhada por um processo inflamatório leve e vasos de parede delgada - por isso que se acredita que essa lesão não seja puramente degenerativa (por desgaste), mas sim que esteja relacionada com alguns fatores de risco da doença VALVOPATIA DEGENERATIVA aterosclerótica (ex: idade avançada, sexo masculino, hipertensão, tabagismo, baixa estatura e hiperlipidemia) • O tratamento dos fatores de risco (ex: uso de estatina em casos de hiperlipidemia) melhora a condição coronariana do indivíduo mas não afeta a evolução da lesão valvar aórtica • Entre as complicações tem-se a disfunção diastólica (pode causar congestão pulmonar) inicialmente e se a causa não cessar pode evoluir para sistólica (podendo causar ICC); além disso, pode ocorrer isquemia levando a um quadro de angina • As manifestações clínicas envolvem angina, ICC ou síncope Calcificação do anel da valva mitral: • Tem o mesmo mecanismo de lesão da estenose aórtica senil, mas a calcificação ocorre no aparelho de sustentação (esqueleto fibroso do coração) da valva mitral, o que gera uma insuficiência na maior parte das vezes • Essa é uma lesão de pacientes idosos e que ocorre com maior frequência em mulheres e em portadores de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e fibrilação atrial • Essa calcificação pode causar arritmias e morte súbita Prolapso mitral: • Caracteriza-se por um aspecto redundante dos folhetos valvares e ocorre quando a camada espongiosa (formada por tecido conjuntivo frouxo) é expandida ao passo em que a camada fibrosa (de sustentação) é diminuída - com isso, os folhetos valvares são empurrados (por conta da pressão sanguínea dos ventrículos na sístole) para acima do anel de implantação da válvula mitral, projetando-se para dentro do átrio esquerdo. Esse problema é mais frequente na valva mitral, mas também pode ocorrer nas outras • Essa lesão é mais frequente em mulheres e na maior parte das vezes é assintomática, mas em 3% dos casos gera complicações como endocardite infecciosa, insuficiência mitral (por ruptura de cordas), acidente vascular encefálico (AVE), infartos sistêmicos e arritmias ventriculares e atriais (pode causar morte súbita) • Na macroscopia podem ser vistas valvas deformadas, balonizadas, brilhantes e com cordas tendíneas alongadas (suscetíveis ao rompimento, o que gera insuficiência) • Além disso, o prolapso mitral pode ser restrito à valva, com anormalidade local do tecido conjuntivo ou anormalidade anatômica do anel fibroso e/ou na disposição das cordas tendíneas; ou associado a distúrbios genéticos e outras doenças cardíacas que provocam sobrecargas intracavitárias, como é o caso dos distúrbios do colágeno (síndrome de Marfan = pode se manifestar como prolapso em crianças), formas familiares (mutações associadas ao remodelamento da matriz extracelular, como MMVP1, MMVP2 e MMVP3) e doenças cardíacas de outras naturezas (que levam ao aumento da pressão no ventrículo esquerdo, o que gera uma deformação secundária da valva mitral) • As miocardiopatias são doenças intrínsecas do músculo cardíaco que evoluem com disfunção mecânica e/ou elétrica. Existem formas primárias (confinadas ao coração) e secundárias (manifestações cardíacas de doenças sistêmicas) • Grande parte das miocardiopatias tem natureza genética/ familiar, mas também podem ser inflamatórias e degenerativas. Além disso, esse é sempre um diagnóstico de exclusão, que deve ser considerado após a exclusão de doença arterial coronariana, hipertensão arterial, doença valvar e cardiopatias congênitas (malformações cardíacas) • Do ponto de vista morfológico e funcional, as miocardiopatias são divididas em 5 tipos - dilatada, hipertrófica, restritiva, arritmogênica e não classificável • A miocardiopatia dilatada é a forma mais comum de miocardiopatia (90%) e se caracteriza por uma dilatação global das câmaras cardíacas e disfunção sistólica (com queda da fração de ejeção), que são progressivas e evoluem para um quadro de insuficiência cardíaca importante. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial dessa doença com a cardiopatia isquemia, valvopatias, cardiopatia hipertensiva e cardiopatias congênitas • Causas: a miocardiopatia dilatada inclui uma série de doenças, sendo que algumas têm natureza genética (20 a 50% dos casos - herança autossômica dominante), com mutações que comprometem as proteínas do citoesqueleto (ex: distrofina), do sarcolema (ex: titina) e do envoltório nuclear (ex: laminina) - nas crianças a alteração principal ocorre em proteínas mitocondriais; e outras são adquiridas, que aparecem como resultado de diferentes agressões ao músculo cardíaco, as quais podem ser inflamatórias e infecciosas (ex: miocardites virais), tóxicas (ex: consumo de álcool e uso de quimioterápicos), no periparto (mecanismo desconhecido, mas pode ter influência das alterações hemodinâmicas e nutricionais) ou podem ser idiopáticas. Em relação às miocardites virais, estas podem evoluir para a miocardiopatia dilatada por conta de uma eliminação ineficiente dos vírus, o que provoca uma reação imune contra a sua persistência que leva à destruição e degeneração das fibras musculares cardíacas e áreas de fibrose intersticial - ao longo do tempo vai ocorrendo o remodelamento do coração, que fica dilatado e com dificuldade contrátil • Manifestações: compreendem as arritmias ventriculares e supraventriculares, trombos intramurais (são frequentes porque a dilatação cardíaca altera o fluxo sanguíneo, que segundo a tríade de Virchow contribui para a trombose) e até mesmo morte súbita. Além disso, a dilatação global do coração está sempre associada a algum grau de hipertrofia compensatória. Já na microscopia não há nenhuma alteração característica dessa patologia, mas é possível observar uma hipertrofia e fibras cardíacas adelgaçadas e vacuolizadas (por conta da perda de miofibrilas) Miocardiopatia s MIOCARDIOPATIA DILATADA • A miocardiopatia hipertrófica é comum (1 a cada 500nascidos vivos) e se caracteriza por uma hipertrofia biventricular mais acentuada à esquerda e assimétrica (na maioria das vezes o septo interventricular é a parede mais grossa) e com disfunção diastólica (por dificuldade de enchimento da câmara ventricular). Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com cardiopatia hipertensiva e estenose aórtica, que são condições que causam uma hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo • Causas: a miocardiopatia hipertrófica é sempre genética, com herança autossômica dominante e penetrância variável - isto é, nem todas as pessoas portadoras de mutação evoluem para esse fenótipo mais grave. Ela está associada com uma mutação da cadeia pesada da β-miosina (principalmente), mas também podem existir mutações de proteínas que compõem o sarcômero • Manifestações: compreendem a obstrução da via de saída do sangue do ventrículo esquerdo (presente em ⅓ dos pacientes) e a hipertrofia ventricular assimétrica (na maioria dos casos o septo interventricular tem uma espessura maior do que a parede livre). Essa hipertrofia costuma ser mais pronunciada junto à via de saída do ventrículo esquerdo, de modo que é criado um gradiente de pressão entre o ventrículo esquerdo e a aorta, levando a um turbilhonamento do fluxo sanguíneo que atrapalha o fechamento da valva mitral - por conta disso, o folheto anterior da valva mitra pode ser puxado e bater contra o septo interventricular, o que piora a obstrução na via de saída do VE e causa um trauma na superfície endocárdica chamado de lesão em espelho (espessamento do endocárdio) • Na macroscopia, além da hipertrofia assimétrica e da lesão em espelho, são observadas áreas de fibrose intramural (em meio ao miocárdio). A microscopia é bastante característica, com um desarranjo pronunciado na disposição das fibras musculares cardíacas, o que também ocorre entre os feixes e miofibrilas de cada fibra cardíaca - também são vistos núcleos aumentados de volume e hipercorados (indicativo de hipertrofia), fibrose intersticial (com colágeno) e espessamento de vasos intramiocárdicos • A miocardiopatia restritiva caracteriza-se por ventrículos de tamanho normal mas pouco complacentes (com dificuldade de enchimento), átrios dilatados (por conta da sobrecarga de volume) e disfunção diastólica (dificuldade de enchimento das câmaras cardíacas). Deve-se fazer o diagnóstico diferencial dessa doença com a pericardite constritiva. Ela pode aparecer de maneira isolada (idiopática) ou secundária a outras doenças • A microscopia mostra alterações variadas (ex: hipertrofia, fibrose intersticial e desarranjo generalizado dos miocardiócitos) e nem sempre o grau de alteração histológica é proporcional ao grau de disfunção miocárdica. Já na macroscopia observa-se uma dilatação atrial, ventrículos de tamanho normal e MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA MIOCARDIOPATIA RESTRITIVA miocárdio extremamente rígido. Então, a miocardiopatia restritiva pode ser secundária às seguintes situações: • Fibroelastose endocárdica: compreende o espessamento esbranquiçado da superfície endocárdica, o que pode ocorrer em corações com malformações (ex: atresia aórtica e defeito do septo atrioventricular) ou em corações normais (acredita-se que a fibroelastose seja a via final comum de agressões intra-uterinas, talvez associadas a infecções virais [ex: caxumba] ou a mutações genéticas [ex: gene tafazina]) • Endomiocardiofibrose: é uma doença de países tropicais que compreende uma fibrose endocárdica no ⅓ mais interno do miocárdio. Provoca comprometimento dos ventrículos, que ficam com sua cavidade ocupada por placas de fibrose, o que também prejudica a via de entrada em porção apical e muitas vezes os folhetos das valvas atrioventriculares acabam se aderindo à fibrose - com isso, há uma cavidade ventricular pequena (com restrição ao enchimento) e insuficiência valvar, o que justifica a sobrecarga de volume que leva à dilatação dos átrios. A endomiocardiofibrose tem causa desconhecida, mas existem diversas teorias que a explicam, as quais envolvem infecções parasitárias associadas à hipereosinofilia, deficiências nutricionais e alterações relacionadas à dieta. Ao diagnóstico não é encontrada hipereosinofilia periférica, o que permite o diagnóstico diferencial com a endomiocardite eosinofílica de Loeffler • Endomiocardite eosinofílica de Loeffler: é uma doença de climas temperados que se caracteriza pela presença de placas esbranquiçadas que ocupam as cavidades ventriculares direita e esquerda - nos estadios terminais tem um aspecto histológico indistinguível. Esse processo está associado com uma síndrome hipereosinofílica, com hipereosinofilia periférica e sinais de infiltração dos eosinófilos nos tecidos, onde degranulam e liberam proteínas (ex: proteína básica principal presente nos grânulos) que agridem o músculo cardíaco. Essa síndrome pode ser primária (neoplásica), quando é causada por doenças mieloproliferativas ou linfoproliferativas (na medula óssea), sendo que a maior parte está relacionada aos receptores PDGFRα e β; ou secundária à parasitose intestinal; também pode ter causa familiar ou idiopática. Além disso, nessa doença são identificadas três fases, que são: a necrótica (por ação dos grânulos dos eosinófilos), a trombótica e a fibrótica (quando os trombos são transformados em fibrose, o que é semelhante à endomiocardiofibrose) • Amiloidose cardíaca: o comprometimento cardíaco ocorre principalmente na forma sistêmica da doença, a qual está relacionada com as cadeias leves de imunoglobulinas. Então, as cavidades cardíacas podem ficar maiores ou mais dilatadas e o amiloide pode infiltrar no miocárdio, nas válvulas e no endocárdio. Na microscopia observa-se a deposição de material róseo, homogêneo e eosinofílico entre as musculares fibras cardíacas, encarcerando-as - o diagnóstico é feito através da coloração do tecido com vermelho congo e observação dele pela luz polarizada, o que provoca uma birrefringência verde maçã • A miocardiopatia arritmogênica é uma doença degenerativa miocárdica, determinada geneticamente, que se caracteriza por um coração que nasce normal e vai se alterando progressivamente ao longo da vida • É familiar em 50% dos casos, isto é, existem outros casos dentro da família; tem herança autossômica dominante, baixa penetrância e variável expressividade (nem todos os doentes têm o mesmo fenótipo) - está relacionada com uma mutação das proteínas que compõem os desmossomos • Do ponto de vista funcional, a principal manifestação dessa doença é a arritmia ventricular, o que muitas vezes provoca morte súbita. Do ponto de vista morfológico, caracteriza-se pela substituição do músculo cardíaco por tecido fibro-adiposo da região epicárdica para o endocárdio, poupando o miocárdio trabecular; na microscopia observa-se a gordura e a fibrose infiltrando o músculo cardíaco • Além disso, essa miocardiopatia é dividida em alguns estágios, que são: não estrutural (coração normal), surtos agudos de necrose e apoptose (lembram infartos do miocárdio e são desencadeados por exercício intenso ou inflamação) e atrofia miocárdica com substituição fibroadiposa progressiva • As miocardiopatias não classificáveis não se encaixam em nenhum dos outros tipos do ponto de vista morfológico e funcional • Um dos exemplos é o miocárdio não compactado, que é uma doença congênita (isolada ou familiar) e com várias mutações relacionadas (inclusive a da cadeia pesada da β-miosina, característica da miocardiopatia hipertrófica - por isso que uma mesma família pode ter diferentes fenótipos de miocardiopatias). Essa doença tem baixa prevalência, manifestações variadas (ex: disfunção e insuficiência cardíaca, trombos, arritmias e morte súbita) e acredita-se que ocorra devido a uma falha na embriogênese entre a 5ª e a 8ª semana de gestação, o que leva à persistência de um padrão macroscópicosemelhante a uma esponja no miocárdio (em diferentes extensões) MIOCARDIOPATIA ARRITMOGÊNICA MIOCARDIOPATIA NÃO CLASSIFICÁVEIS • As miocardites virais normalmente acompanha um quadro de problemas respiratórios. Normalmente afeta indivíduos imunodeprimidos, mulheres grávidas e crianças. Essa miocardite pode causar IC e arritmias dias ou semanas depois da infecção • A miocardite bacteriana geralmente ocorre por causa secundária, afeta o coração pela via hematogênica • A miocardite por fungo ocorre através da disseminação fúngica por endocardite valvar e disseminação de infecções fúngicas em imunodeprimidos. Entre os fatores predisponentes temos imunodepressão e prótese valvar • A miocardite por protozoário temos duas doenças mais importantes – por toxoplasma gondii, geralmente é assintomático e afeta mais imunodeprimidos que reativa um processo latente, ocorre proliferação de parasitas dentro das fibras levando a ruptura que leva ao aparecimento de infiltrado linfocitário, plasmócitos, eosinófilos e histiócitos, tem associação com comprometimento de SNC; já na miocardite chagásica aguda é caracterizada pela destruição das fibras miocárdicas pela infestação parasitária, na fase crônica ocorre uma resposta imune induzida pelo parasita através de linfócitos T sensibilizados pelo parasita e anticorpos (ocorre reação cruzada com células miocárdicas, células nervosas e proteínas extracelulares levando a lesão miocárdica com fibrose), além disso, leva a alteração de microcirculação (agregação plaquetária, trombose e disfunção endotelial)
Compartilhar