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ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I As infecções das vias respiratórias inferiores (IVAIs) são responsáveis por um grande número de consultas médicas em ambiente hospitalar e extra- hospitalar. Essas podem ser divididas em bronquite aguda (ou traqueobronquite aguda), exacerbação aguda de bronquite crônica (doença pulmonar obstrutiva crônica [DPOC]) e pneumonia. A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar envolvendo os bronquíolos, os brônquios e, ocasionalmente, a pleura. Pode ser classificada em comunitária ou nosocomial, dependendo do local de adoecimento. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é aquela que acomete o indivíduo fora do ambiente hospitalar ou que surge nas primeiras 48 horas da admissão. A incidência anual de PAC diagnosticada na comunidade aproxima-se de 12/1000 habitantes.1 As taxas de incidência da doença são muito mais altas em países em desenvolvimento, e a doença é mais frequente nos extremos de idade (< 5 anos e > 70 anos). Uma grande proporção dos casos de pneumonia apresenta etiologia bacteriana. A principal bactéria implicada na etiologia da PAC é o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) (22%), as bactérias gram- negativas – Haemophylus influenzae, 4%, e Moraxellacat harralis – e atípicas – Mycoplasma pneumoniae, 18%, Chlamydophila (ou Chlamydia) pneumoniae, 16%, Legionella sp. Também devem ser citadas outras gram- positivas (Staphylococcus aureus), gram-negativas (enterobactérias, Pseudomonas aeruginosa) e bactérias anaeróbias. Os vírus (10%) também participam como agentes etiológicos da pneumonia, com destaque para o vírus da influenza, adenovírus, vírus sincicial respiratório (VSR), parainfluenzae coronavírus. O diagnóstico de pneumonia baseia- se principalmente na presença de sinais e sintomas sugestivos. Os achados clínicos mais frequentes são: tosse seca ou produtiva (82%), febre (78%), dispneia (40-90%), taquicardia (65%) e estertores (80%). Não existe nenhuma combinação de achados da história e exame físico que confirmem ou afastem com segurança absoluta o diagnóstico de pneumonia. A sensibilidade e a especificidade dos achados do exame físico são de 58 e 67%, respectivamente. Ressalta-se que, em indivíduos idosos, a presença de sintomas é menos prevalente, e sinais de confusão mental podem ser os únicos dados presentes. → Sintomas da pneumonia 1. Sintomas de doença aguda da VAl: tosse e um ou mais dos seguintes sintomas (expectoração, dispneia ou dor torácica) 2. Achados focais no exame físico do tórax 3. Pelo menos um achado sistêmico (confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, mialgias ou temperatura ≥ 37,8°C) 4. Infiltrado radiológico não presente previamente 5. Exclusão de outras condições que resultam em achados clínicos e/ou radiológicos semelhantes O termo “pneumonia atípica” representa uma síndrome clínica que inclui diversas entidades e tem valor clínico limitado. A resposta do hospedeiro influencia a expressão clínica da pneumonia, independente do agente etiológico, e já foi demonstrado que existe sobreposição dos achados clínicos mesmo quando diferentes agentes foram comparados. Os agentes atípicos são: M. pneumoniae, C. pneumoniae e Legionella, porém dirigir ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I uma estratégia terapêutica de acordo com a apresentação clínica e radiológica (“típica” ou “atípica”) tem demonstrado falha terapêutica em muitos casos, não sendo indicada. A pneumonia aspirativa apresenta características peculiares e pode decorrer de aspiração de conteúdo gástrico (pneumonia química devido à aspiração de conteúdo estéril) ou aspiração de material da orofaringe colonizado (pneumonia infecciosa). Associa-se a condições clínicas predisponentes (alteração de consciência, disfagia ou dentes em mau estado de conservação). Os sintomas clássicos de pneumonia associam-se ao característico escarro com odor fétido nos casos de pneumonia por germes anaeróbios. A bronquite aguda é caracterizada por tosse secundária à inflamação autolimitada das vias aéreas de grosso calibre, na ausência de pneumonia. Afeta 5% dos adultos anualmente, principalmente nos meses de outono e inverno. Os agentes virais (influenza A e B, parainfluenza, VSR, coronavírus, adenovírus e rinovírus) são as principais etiologias da bronquite aguda, porém são isolados em apenas 37% dos casos. As bactérias, principalmente os “germes atípicos” (Bordetella pertussis, Chlamydophila pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae), são as responsáveis pela minoria dos casos. Os sintomas iniciais da bronquite aguda assemelham-se aos das infecções das vias aéreas superiores (IVAS). A persistência de tosse por mais de 5 dias sugere fortemente o diagnóstico da bronquite aguda O escarro é purulento em 50% dos casos. A tosse, característica da doença, pode persistir por 4 ou mais semanas (geralmente, 10-20 dias). O diagnóstico da bronquite aguda é basicamente clínico. Deve ser diferenciada da bronquiolite, da asma brônquica, das bronquiectasias, da bronquite crônica e da coqueluche. Na beira do leito, a presença de tosse sem anormalidades dos sinais vitais (taquicardia, taquipneia e febre) sugere bronquite aguda, e não pneumonia, exceto em pacientes idosos. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se caracteriza por limitação crônica ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, sendo frequentemente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases nocivos. Ocorre piora da função pulmonar ao longo do tempo, mesmo que o indivíduo não se exponha mais aos fatores de risco e utilize o melhor tratamento disponível, determinando limitações na realização de atividades diárias e impacto psicossocial negativo. As alterações não se restringem ao trato respiratório, podendo ocorrer também efeitos sistêmicos adversos, como baixo índice de massa corporal e repercussões sobre a musculatura esquelética, principalmente nos pacientes com doença em estágio mais avançado. Além disso, os portadores de DPOC têm maior prevalência de infarto agudo do miocárdio, angina, osteoporose, diabetes, infecções respiratórias, glaucoma, distúrbios do sono e neoplasia pulmonar. O processo inflamatório crônico pode provocar alterações nos brônquios (bronquite crônica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima pulmonar (enfisema pulmonar). Tosse é o sintoma mais comum, podendo ser diária ou intermitente e pode preceder a dispneia ou aparecer junto com ela. A dispneia é o principal sintoma associado à incapacidade, redução da qualidade de vida e pior prognóstico. O terceiro sintoma cardinal da DPOC é a produção excessiva de escarro. É comum que os sintomas não sejam constantes no decorrer de todo o dia. Muitos pacientes relatam piora dos sintomas (principalmente da tosse e expectoração) pela manhã, com melhora parcial no decorrer do dia. A presença de outros sintomas menos comuns pode indicar progressão da doença, como por exemplo a perda ponderal, que muitas vezes é um resultado da dispneia quando o paciente se alimenta, causando redução da ingesta. A perda ponderal é um sinal de mau prognóstico em pacientes com DPOC. Os sinais de DPOC incluem sibilos. Uma fase expiratória prolongada da respiração; hiperinsuflação pulmonar que se manifesta pela atenuação dos sons cardíacos e pulmonares; e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em barril). A doença avançada se manifesta com sinais de esforço respiratório (lábios cerrados, uso de musculatura acessória, tiragem intercostal, batimento de asa do nariz), retração paradoxal dos espaços intercostais (sinal de Hoover) e cianose. Os sinais de cor pulmonale incluem distensão das veias jugulares; ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I desdobramento da segunda bulha cardíaca, com hiperfonese do componentepulmonar; sopro de insuficiência tricúspide; e edema periférico. As pneumonias podem ser classificadas de acordo com vários parâmetros: (a) origem (hospitalar ou da comunidade); (b) etiologia (bactérias, vírus, fungos ou protozoários); (c) lesões morfológicas (específicas ou inespecíficas); (d) distribuição anatômica. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) se refere à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão na unidade assistencial. A maioria das pneumonias agudas adquiridas em comunidade apresenta etiologia bacteriana. Não incomumente, a infecção bacteriana sobrepõe-se a uma infecção viral das vias aéreas superiores. O início geralmente é abrupto, com febre alta, calafrios, dor torácica pleurítica e tosse produtiva mucopurulenta; alguns pacientes podem ter hemoptise. S. pneumonie (isto é, pneumococos) é a causa mais comum de pneumonia aguda adquirida em comunidade; portanto, a pneumonia pneumocócica é discutida como protótipo desse subgrupo. DISTRIBUIÇÃO ANATÔMICA Pneumonia lobar. O processo inflamatório tem disseminação relativamente uniforme nos lobos pulmonares, dando ao parênquima padrão homogêneo de acometimento. O microrganismo mais associado à pneumonia lobar é o pneumococo (Streptococcus pneumoniae), frequentemente associado a pneumonias adquiridas na comunidade. Na pneumonia lobar, o lobo atingido consolida-se de forma homogênea pela substituição do ar dos alvéolos e sacos alveolares por exsudato inflamatório, enquanto as vias aéreas maiores permanecem permeáveis. Se não tratada, a doença evolui em quatro fases: (1) inicial ou de congestão, em que há hiperemia intensa dos capilares septais e edema, poucos neutrófilos e numerosas bactérias nos alvéolos; (2) hepatização vermelha, quando, além da hiperemia, os alvéolos ficam cheios de fluido, fibrina e bactérias. O lobo adquire consistência firme e semelhante à do fígado, daí o termo hepatização; (3) hepatização cinzenta, em que há aumento de células inflamatórias e fibrina nos alvéolos, além de diminuição da hiperemia e do número de bactérias. A liberação de grande quantidade de enzimas pelas células inflamatórias leva a degradação de fibras elásticas da matriz extracelular, tornando o parênquima bastante friável; (4) resolução, quando há lise da fibrina e redução progressiva do exsudato, permitindo a penetração de ar nos alvéolos. De forma característica, na pneumonia lobar não há destruição das paredes alveolares . Exsudação de fibrina na pleura é frequente (pleurite fibrinosa). Pneumonia lobular ou broncopneumonia. A infecção apresenta- se como focos inflamatórios múltiplos que acometem lóbulos pulmonares, caracterizando disseminação do agente através das pequenas vias aéreas distais. Trata-se de doença infecciosa muito frequente na prática médica e que acomete mais comumente crianças, idosos ou indivíduos debilitados. A broncopneumonia é um processo caracterizado por focos múltiplos, às vezes bilaterais, de inflamação purulenta no parênquima pulmonar; em alguns casos, os focos são confluentes e podem comprometer grande parte do pulmão. Microscopicamente, encontram-se hiperemia, edema e exsudato purulento na luz dos alvéolos e bronquíolos, com destruição da parede dessas estruturas. As mesmas fases da pneumonia lobar podem acontecer no desenvolvimento do processo, porém com distribuição focal. Pneumonia intersticial. Caracteriza-se por reação inflamatória que afeta predominantemente o interstício pulmonar. Diversos vírus, e Mycoplasma sp. são agentes infecciosos associados a pneumonias com padrão intersticial.Na pneumonia intersticial o acometimento pode ser zonal ou difuso, às vezes bilateral. Macroscopicamente, o quadro é pouco característico, podendo haver apenas hiperemia. Ao microscópio, o achado dominante é inflamação nitidamente intersticial, em que os septos alveolares tornam-se alargados por edema e infiltrado de mononucleares. Os alvéolos contêm pequena quantidade de líquido e, nos casos graves, apresentam membranas hialinas, indicativas de dano alveolar. Dependendo do agente etiológico, podem ser encontrados elementos específicos. Nas viroses, são vistos necrose do epitélio alveolar e bronquiolar, células gigantes e, em alguns casos, inclusões características. Fisiopatologia Os microrganismos causadores da pneumonia podem atingir os alvéolos pulmonares de duas formas: através da ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I microaspiração do material proveniente das vias aéreas superiores e, menos comumente, através da inalação de aerossol contaminado do ambiente ou por via hematogênica. Os microrganismos infectantes podem atingir os alvéolos e desenvolver pneumonia devido à aspiração de pequenas quantidades de secreções nasofaríngeas ou de conteúdos da boca, em especial durante o sono. Algum grau de aspiração ocorre normalmente. Aspirações mais importantes, contudo, são mais frequentes em pessoas mais idosas, particularmente naquelas mais frágeis ou acamadas. A aspiração maciça ocorre, por exemplo, em pessoas que apresentam convulsões, que se engasgam enquanto vomitam ou em indivíduos cujo reflexo da tosse está marcadamente diminuído pelo álcool, drogas ou doenças neurológicas. Em tais pacientes, a síndrome clínica de pneumonia aspirativa inclui os efeitos dos microrganismos e do material aspirado, assim como do ácido gástrico. A pneumonia também pode ser causada por inalação direta de material em aerossóis para os pulmões. Esse processo é incomum para a maioria das pneumonias bacterianas, mas é característico do Mycobacterium tuberculosis e do Bacillus anthracis. Esse mecanismo também explica a infecção por alguns vírus, como o da influenza ou sincicial respiratório. As bactérias também podem atingir os pulmões através da corrente sanguínea, ser filtradas pelos mecanismos normais do clearance do hospedeiro, mas depois escapar e causar pneumonia. A pneumonia por S. aureus é comumente causada por disseminação hematogênica, em especial se uma infecção endovascular como a endocardite estiver presente. A Escherichia coli e outros bacilos Gram- negativos podem, ainda, causar pneumonias através de disseminação hematogênica. Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos, como a configuração das vias aéreas, a produção de imunoglobulina A secretora (IgA), a ação ciliar das células epiteliais, entre outros. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as defesas inatas e específicas entram em ação. Se esses mecanismos de defesa falharem, as bactérias podem replicar- se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e acúmulo de plasma e células inflamatórias. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão, gerando hipoxemia. Patogênese da PAC: • Passo 1: Chegada do patógeno no espaço alveolar. • Passo 2: Multiplicação descontrolada do patógeno. • Passo 3: Produção local de citocitas principalmente por macrófagos alveolares. • Passo 4: Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica. • Passo 5: Geração do exsudato alveolar Manifestações clínicas A apresentação clínica da PAC varia amplamente, desde uma pneumonia leve, caracterizada por febre, tosse e falta de ar, até uma pneumonia grave, caracterizadapor sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. O quadro clínico típico clássico da PAC é representado pela pneumonia pneumocócica. A doença se apresenta de forma hiperaguda, entre 2 e 3 dias, tendo como história principal calafrios, tremores, febre alta (39-40°C), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. O exame físico ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I normalmente evidencia prostração, taquipneia, taquicardia e hipertermia. Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndrome de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. A síndrome de consolidação pulmonar é caracterizada pela presença de som bronquial, aumento do frêmito toracovocal, submacicez e broncofonia. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. OBS: Embora certos sinais e sintomas como febre, tosse, taquicardia e estertores sejam comuns entre pacientes com PAC, esses achados são inespecíficos e são compartilhados entre muitos distúrbios respiratórios. Nenhum sintoma individual ou constelação de sintomas é adequado para o diagnóstico sem imagens do tórax.Sinais e sintomas de pneumonia também podem ser sutis em pacientes com idade avançada e/ou sistema imunológico comprometido, e um maior grau de suspeita pode ser necessário para o diagnóstico. Como exemplo, pacientes mais velhos podem apresentar alterações no estado mental, sem apresentar febre ou leucocitose. Em pacientes imunocomprometidos, os infiltrados pulmonares podem não ser detectáveis nas radiografias de tórax, mas podem ser visualizados com tomografia computadorizada (TC) de tórax. Radiografia de tórax A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina, quando disponível, nas incidências posteroanterior e perfil. Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxiliar no diagnóstico diferencial. Quando o clínico está seguro do diagnóstico, a realização da radiografia de tórax não é necessária para dar início ao tratamento, e os antimicrobianos podem ser prescritos adequadamente. Entretanto, menos de 40% dos médicos são capazes de diagnosticar pneumonias com base somente no exame físico. Dentro desse contexto, a radiografia deveria ser obrigatória para pacientes com suspeita de PAC. A radiografia de tórax está recomendada também quando há dúvida quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferencial com câncer de pulmão. A realização da radiografia de tórax está recomendada para todos os pacientes admitidos ao hospital. Ultrassonografia do tórax A ultrassonografia de tórax (UST) apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de alterações parenquimatosas. Os principais achados ultrassonográficos na PAC são consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormalidades na linha pleural. TC de tórax A TC de tórax é o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar, em que pese a seu alto custo e alta exposição à radiação. Trata-se de exame útil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes obesos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias. Além disso, a TC de tórax está indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados. Ressalta-se ainda a importância da TC de tórax para a avaliação de complicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, e a investigação de motivos da falta de resposta clínica ao tratamento. Investigação etiológica da PAC ambulatorial e em internados: quais as recomendações? - Embora possa haver resposta inadequada a alguns tratamentos empíricos, a realização de testes etiológicos não é necessária nos casos de pacientes com PAC não grave com tratamento ambulatorial. Assim, permanecem as recomendações para a realização de exames que busquem a etiologia somente para pacientes com PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial, bem como nos internados em UTI. Em relação aos exames microbiológicos, o exame direto e a cultura de amostras de escarro (ou de aspirado nasotraqueal para os que não conseguem expectorar) devem obedecer os critérios de qualidade da amostra, isto é, menos de 10 células ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I epiteliais e mais de 25 leucócitos por campo examinado. Destaca-se que o tratamento dos casos nos quais o patógeno foi identificado foi semelhante ao tratamento iniciado empiricamente. Os pacientes com PAC grave devem ser investigados etiologicamente com os exames básicos disponíveis: exame direto e cultura de escarro, bem como hemocultura, testes para detecção de antígenos urinários para S. pneumoniae e Legionella sp., testes sorológicos e eventual cultura para germes atípicos. Em pacientes em ventilação mecânica, pacientes não respondedores à terapêutica empírica inicial ou aqueles com suspeita de agentes etiológicos menos comuns, assim como em casos que necessitem diagnóstico diferencial com doença pulmonar não infecciosa, como, por exemplo, tumores, vasculites ou doença intersticial pulmonar, pode ser necessária a coleta de amostras de forma invasiva via broncoscopia, aspiração endotraqueal, lavado broncoalveolar ou toracocentese, em casos com derrame pleural do mesmo lado da lesão. OBS: PAPEL DOS VÍRUS E RECOMENDAÇÕES PARA SUA INVESTIGAÇÃO NA PAC - O advento do uso dos testes moleculares na prática clínica tem sinalizado para um papel de maior relevância dos vírus como possíveis agentes etiológicos da PAC. Estudos que incluem em seu escopo de trabalho a PCR como ferramenta de diagnóstico têm detectado vírus em aproximadamente um terço dos casos de PAC em adultos, sendo o vírus influenza o mais comumente isolado. Além do influenza, outros agentes virais são considerados possíveis agentes etiológicos de PAC, como rinovírus, vírus sincicial respiratório, vírus parainfluenza, adenovírus e metapneumovírus. AVALIAÇÃO Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença, cuidado que tem impacto direto na redução da mortalidade. Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão quanto ao local de tratamento — ambulatorial, hospitalar ou UTI — quanto à necessidade de investigação etiológica, quanto à escolha do antibiótico e sua via de administração. Os instrumentos validados incluem Pneumonia Severity Index (PSI); mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65); CRB-65 (sem determinação de ureia); as diretrizes da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) de 2007; Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxygenation, and pH (SMART-COP); e Severe Community- Acquired Pneumonia (SCAP) — os três últimos relacionados a pneumonia grave e internação em UTI. É importante frisar que a gravidade da doença definida pelos escores é o fator preponderante para a decisão sobre internação hospitalar; porém, outros fatores devem ser levados em consideração, como a viabilidade do uso de medicação por via oral, comorbidades associadas, fatores psicossociais e características socioeconômicas que indiquem vulnerabilidade do indivíduo. Idealmente, a SpO2 deve ser sempreavaliada: valores de SpO2 inferiores a 92% devem indicar internação. O score de risco mais utilizado é o CRUB-65. Confusão mental; Ureia > 50 mg/dl; frequência Respiratória > 30 ciclos/min; Blood pressure (pressão arterial sistólica) < 90 mmHg ou diastólica < 60 mmHg; e idade ≥ 65 anos; TRATAMENTO Tratamento de pacientes ambulatoriais O tratamento antibiótico inicial é definido de forma empírica devido à impossibilidade de se obterem ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I resultados microbiológicos logo após o diagnóstico da PAC, o que permitiria escolher antibióticos dirigidos a agentes específicos. A escolha do antibiótico deve levar em consideração: 1) patógeno mais provável no local de aquisição da doença; 2) fatores de risco individuais; 3) presença de doenças associadas; e 4) fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e relação custo- eficácia. A proposta do grupo executivo da presente recomendação é o uso de monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeos para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos três meses anteriores, quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25% Para esses casos específicos, recomenda-se para o tratamento ambulatorial da PAC associar macrolídeos a um β-lactâmico ou realizar monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias. Tratamento de pacientes internados em enfermarias A monoterapia com o uso de uma fluoroquinolona respiratória isolada (levofloxacino, moxifloxacino ou gemifloxacino) ou a associação de um β- lactâmico a um macrolídeo têm sido recomendadas por diretrizes para o tratamento de pacientes com PAC internados em enfermarias devido a boa cobertura e bons resultados nas infecções causadas por S. pneumoniae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, H. influenzae ou Legionella sp. Tratamento de pacientes internados em UTI Na PAC grave, estudos avaliando a terapia combinada têm demonstrado resultados favoráveis em relação a diversos desfechos clínicos. A terapia combinada deve ser recomendada para pacientes com PAC grave com indicação de admissão em UTI por reduzir a mortalidade. A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo e um β-lactâmico, ambos por via endovenosa. **DURAÇÃO DO TRATAMENTO ** Recomenda-se que para a PAC de baixa gravidade e com tratamento ambulatorial, esse seja feito com monoterapia e por 5 dias. A PAC de moderada a alta gravidade deve ser tratada com os esquemas antibióticos acima discutidos, por períodos de 7 a 10 dias. O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente. Tuberculose, tromboembolismo pulmonar, doenças pulmonares intersticiais e neoplasia pulmonar. Tuberculose O M. tuberculosis é transmitido de uma pessoa com doença ativa a outra, exclusivamente por via inalatória, por meio de gotículas de secreção respiratória. A micobactéria é muito estável nessas gotículas e no escarro, podendo permanecer viável no escarro seco por até seis semanas. A inalação do bacilo M. tuberculosis induz no pulmão uma das seguintes possibilidades: eliminação do bacilo, infecção latente, rápida progressão para doença (doença primária) ou doença algum tempo após a infecção (reativação de infecção latente). A tuberculose pulmonar classicamente apresenta-se com tosse há mais de 2 semanas, além de outros sintomas respiratórios (dor torácica, dispneia e hemoptise) e sistêmicos, (febre vespertina, sudorese noturna, anorexia e emagrecimento). As formas extrapulmonares apresentam, além das manifestações sistêmicas, sintomatologias relacionadas com a localização da doença, tais como: linfonodomegalia, derrame pleural e/ou espessamento pleural, rouquidão (laringite), meningite, hematúria e dor lombar (trato urinário), obstrução intestinal, dor óssea e edema periarticular (ósseo), ocular (conjuntivite ou uveíte) e nódulos de pele. A presença de bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) no escarro ou nos tecidos é sugestivo de tuberculose; no entanto, o padrão de referência de diagnóstico é a cultura com ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I identificação da micobactéria M. tuberculosis. Tromboembolismo pulmonar Tromboembolismo pulmonar crônico hipertensivo (TEPCH) pode ser definido como o quadro de hipertensão pulmonar observado após um período mínimo de 3 meses, subsequente a pelo menos um episódio de embolia de pulmão, desde que excluídas outras causas de hipertensão pulmonar. Após um quadro de embolia pulmonar, ocorre falência hemodinâmica e morte na primeira hora em 20 a 40% dos pacientes. Na maioria dos sobreviventes, os coágulos são absorvidos por fibrinólise local e o leito vascular pulmonar é completamente restaurado. Entretanto, por razões ainda desconhecidas, em até 4% dos pacientes, esse processo não ocorre, permitindo que o coágulo se desenvolva no interior do vaso, obstruindo sua luz e produzindo hipertensão pulmonar. Acredita-se que isto ocorre devido à alteração da hemostase ou da fibrinólise, entre outros fatores. A patogênese do TEP envolve os fatores que predispõe à ocorrência de trombose venosa profunda (TVP) (os elementos da Tríade de Virchow) e migração de êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos,há formação de trombos nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo-femorais (vasos proximais dos membros inferiores) que se movimentam em direção à circulação pulmonar, ocluindo os vasos arteriais pulmonares. Os trombos também podem ter sido originados em membros superiores, entretanto, esta situação é infrequente. O trombo ascende dos MMII (mais comum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar, com resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e consequentemente hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. O TEP pode apresentar-se, clinicamente, de várias maneiras e, com grande frequência, de forma silenciosa. Os sinais e sintomas presentes em casos comprovados de TEP, quando analisados isoladamente, variam em frequência, nas diversas séries, trazendo grande dificuldade diagnóstica, sobretudo por serem inespecíficos e por mimetizarem outras condições mórbidas. O TEP, geralmente, manifesta-se sob a forma de um dos seguintes quadros sindrômicos: dispneia aguda, infarto pulmonar, cor pulmonale agudo, choque cardiogênico e morte súbita. Na forma de dispneia aguda, o quadro é muito inespecífico e exige grande suspeição clínica para o diagnóstico. Outros sintomas e sinais podem se associar em maior ou menor frequência. Doenças pulmonares intersticiais As pneumopatias intersticiaissão um grupo heterogêneo de doenças caracterizadas por espessamento dos septos alveolares, proliferação fibroblástica, deposição de colágeno e, se o processo permanecer descontrolado, fibrose pulmonar. Pode- ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I se classificar as doenças pulmonares intersticiais de acordo com vários critérios (p. ex., aguda versus crônica, não granulomatosa versus granulomatosa, causa conhecida versus desconhecida, doença pulmonar primária versus. secundária à doença sistêmica, histórico de tabagismo versus histórico de não tabagismo). Câncer de pulmão O carcinoma pulmonar é uma doença de etiopatogenia multifatorial, em que se destacam os seguintes agentes: tabagismo, ocupacionais (exposição ao asbesto, sílica, hidrocarbonetos policíclicos e metais pesados, como arsênico, cromo e níquel), ambientais (exposição ao radônio e à poluição tabágica ambiental) e sociodemográficos (gênero, fatores hormonais, dieta, exposição a compostos derivados da queima de gorduras animais na prática culinária diária, antecedentes de doenças pulmonares, predisposição individual etc.).85% dos portadores de neoplasias pulmonares têm história direta de exposição ao cigarro. Essa relação respeita o princípio de dose resposta, havendo implicação direta do número de cigarros consumidos, tempo de exposição e idade de iniciação no risco relativo de câncer de pulmão. Sintomas e sinais inespecíficos são comuns e incluem anorexia, fadiga e perda de peso. Achados considerados específicos para neoplasia pulmonar dividem-se entre aqueles atribuídos à lesão primária, os relacionados à extensão intratorácica da doença e os atribuíveis a metástases e síndromes paraneoplásicas. → Sinais e sintomas relacionados à lesão primária Tosse. O sintoma mais frequentemente associado às neoplasias pulmonares. Pode, no entanto, ser inespecífico ou decorrer de outras doenças comuns entre os grandes fumantes. Raramente é a queixa que motiva o paciente a procurar o médico. Tosse persistente após o tratamento de uma exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica ou a mudança das características da tosse e da expectoração devem suscitar a hipótese de neoplasia pulmonar. Dispneia. O relato de dispneia é frequente e ocorre em mais da metade dos casos. Hemoptise. É o sintoma que mais faz o paciente procurar o médico e está presente em número considerável dos doentes em alguma fase da evolução da neoplasia. Apesar de somente cerca de 25% dos casos de hemoptise serem devidos às neoplasias pulmonares, sua presença não pode ser menosprezada. Dor torácica. A sua presença requer pesquisa de acometimento pleural ou invasão da parede torácica. → Sinais e sintomas relacionados à extensão intratorácica ∙ rouquidão: acometimento de nervo laríngeo recorrente, principalmente à esquerda, pela contiguidade com linfonodos da janela aórtico-pulmonar; ∙ paralisia frênica: acometimento de nervo frênico; ∙ dor torácica: acometimento pleural ou costal; ∙ síndrome de Horner: envolvimento da cadeia simpática e do gânglio estrelado; ∙ derrame pleural: por extensão direta, obstrução linfática ou atelectasia; ∙ derrame pericárdico: por extensão direta ou obstrução linfática; ∙ síndrome da veia cava superior: compressão da veia cava superior pela massa ou por linfonodomegalia ANA PAULA CASTRO 6° P MED CLINICA INTEGRADA I
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