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APG 21 - Pneumonia Objetivos Descrever a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, classificação e fatores de risco para a pneumonia. Explicar as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da pneumonia. Diferenciar pneumonia comunitária de pneumonia hospitalar. Pneumonia A pneumonia ocorre quando uma infecção do parênquima pulmonar causa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pulmonar na radiografia de tórax. Logo, a pneumonia pode ser definida do ponto de vista histológico como preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, assim como, do ponto de vista clínico como infecção aguda do pulmão decorrente da infecção por algum microrganismo. As pneumonias são comumente classificadas como adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais. Epidemiologia De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,6 milhão de pessoas ainda morrem anualmente em decorrência da Pneumonia, e são vistos 12 casos/1000 habitantes a cada ano. A incidência de pneumonia é alta entre lactentes e crianças, diminui consideravelmente durante a infância, permanece relativamente incomum em adultos jovens, mas depois começa a aumentar após os 50 anos de idade e, em especial, após os 65 anos. A pneumonia bacteriana não é só mais prevalente entre os idosos como também é mais grave, com um risco de morte progressivamente crescente com o avançar da idade. No Brasil, houveram 2,5 M de mortes em 2019, e dessas, 672.000 eram crianças. Fatores de risco PNEUMONIA BACTERIANA: a maioria dos adultos de qualquer idade que desenvolve uma pneumonia bacteriana apresenta frequentemente uma ou mais condições predisponentes. Infecção respiratória viral prévia: aumenta a adesão das bactérias às células epiteliais respiratórias e altera os mecanismos do clearance devido a interferência com a ação ciliar. Desnutrição: fragiliza o sistema imunológico Consumo excessivo de álcool: diminui o reflexo da tosse e afeta anmigração dos leucócitos. Tabagismo: aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar. Doença hepática ou renal: diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos. Diabetes melito: diminui a função a mobilização dos leucócitos. Deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. - PNEUMONIA VIRAL OU POR MYCOPLASMA Ocorre quando esses organismos são transmitidos a hospedeiros imunologicamente naïves, ou seja,imunologicamente “imaturos”. A presença ou ausência de uma imunidade prévia e a competência do sistema imunológico parecem ser os principais determinantes da ocorrência de infecção. Etiologia Na imensa maioria dos casos, os patógenos não são identificados. Vale ressaltar que os agentes etiológicos variam entre as instituições e, por isso, é importante conhecer a flora local para que o tratamento seja mais específico e eficaz. Em relação à PAC, o Streptococcus pneumoniae (Pneumococo) é o agente mais frequente em todas as idades, sendo responsável por cerca de dois terços das PACs. STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE (PNEUMOCOCO) - É o agente causador mais comum de pneumonia aguda adquirida na comunidade - A presença de numerosos neutrófilos contendo os diplococos lancetados gram-positivos típicos no exame de escarro é compatível com o diagnóstico de pneumonia pneumocócica. - Deve-se lembrar que o S. pneumoniae faz parte da flora endógena em 20% dos adultos, e, consequentemente, resultados falso-positivos podem ser obtidos. Entre todos os agentes, os típicos – S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis, K. pneumoniae, S. aureus, S. pyogenes e P. aeroginosas – mais frequentemente cursam com um quadro típico de típico de pneumonia. Os atípicos - Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae, Legionella pneumophila e os vírus respiratórios (Vírus influenza A e B, Rinovírus, Vírus parainfluenza, Adenovírus, Vírus sincicial respiratório) cursam com um quadro mais arrastado, com predomínio de tosse com pouca expectoração e febre baixa, lembrando mais um quadro gripal. A prevalência relativa desses patógenos varia com a geografia, taxas de vacinação contra pneumococos, fatores de risco do hospedeiro (ex: tabagismo), estação do ano e gravidade da pneumonia. De acordo com o local de atendimento: Ambulatorial S. pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Haemophilus influenzae, Chlamydophila pneumoniae Enfermaria S. pneumoniae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, H. influenzae, Legionella pneumophila. UTI S. pneumoniae, Staphylococcus aureus, L. pneumophila, bacilos gram-negativos, H. influenzae. Quando se trata de PH, até o 4º dia de internação (início precoce), são mais vistos: Pneumococo, M. catarrhalis e H. influenzae. S. aureus sensíveis à oxacilina; já os agentes mais frequentes após o 5º dia de internação (início tardio), são: Pseudomonas aeruginosa, Escherichia colli, Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp e S. aureus resistentes à oxacilina. Vale ressaltar que os agentes etiológicos variam entre as instituições e, por isso, é importante conhecer a flora local para que o tratamento seja mais específico e eficaz. Fisiopatologia Pode surgir por deficiências no sistema de defesa do paciente, exposição a microrganismo muito virulento ou inoculação excessiva, além da capacidade de defesa do indivíduo. Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos, como: Configuração das vias aéreas. Produção de imunoglobulina A secretora (IgA). Ação ciliar das células epiteliais. MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO - PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC) Os principais mecanismos de desenvolvimento da PAC são: micro ou macroaspiração, disseminação de infecções distantes através da circulação sanguínea, ou contiguidade de outro foco infeccioso. - PNEUMONIA HOSPITALAR Já a PH pode aparecer em pacientes com estado de defesa diminuído por causa do uso de drogas, da doença de base, desnutrição e invasão por sondas, cateteres e cânulas, porém, a colonização é composta, geralmente, por patógenos mais resistentes. Dentre as diversas causas de PH, a principal é o aspirado de secreção da orofaringe ou vazamento da secreção que se acumula no tubo traqueal. Por isso, é importante o constante cuidado com os dispositivos hospitalares que os pacientes utilizam. Patogênese Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos, como a configuração das vias aéreas, a produção de imunoglobulina A secretora (IgA), a ação ciliar das células epiteliais, entre outros. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as defesas inatas e específicas entram em ação. Se esses mecanismos de defesa falharem, as bactérias podem replicar- -se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e acúmulo de plasma e células inflamatórias. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão, gerando hipoxemia. Patogênese da PAC: •Passo1: Chegada do patógeno no espaço alveolar. (aspiração de secreções, inalação de aerossóis, disseminação hematogênica) •Passo2: Multiplicação descontrolada do patógeno. •Passo3: Produção local de citocinas principalmentepor macrófagos alveolares. •Passo4: Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica. •Passo5: Geração do exsudato alveolar. Ao contrário da pneumonia bacteriana, o vírus influenza invade diretamente as células do epitélio cilíndrico, originando assim alterações patológicas que vão desde a vacuolização de algumas células epiteliais respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas alterações dispersas que originam o padrão intersticial difuso observado na radiografia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. Quadro clínico A apresentação clínica da PAC varia amplamente, desde uma pneumonia leve, caracterizada por febre, tosse e falta de ar, até uma pneumonia grave, caracterizada por sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. O quadro clínico típico clássico da PAC é representado pela pneumonia pneumocócica. A doença se apresenta de forma hiperaguda, entre 2 e 3 dias, tendo como história principal calafrios, tremores, febre alta (39-40ºC), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. O exame físico normalmente evidencia prostração, taquipneia, taquicardia e hipertermia. Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndrome de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. A síndrome de consolidação pulmonar é caracterizada pela presença de som bronquial, aumento do frêmito toracovocal, submacicez e broncofonia. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. Sinais pulmonares Tosse, dispneia, dor no peito do tipo pleurítica, taquipneia, aumento do esforço respiratório, sons adventícios como estertores e roncos, hipoxemia e macicez à percussão (Esses sinais e sintomas resultam do acúmulo de leucócitos, fluidos e proteínas no espaço alveolar. A hipoxemia pode resultar do comprometimento subsequente das trocas gasosas alveolares) Sinais sistêmicos Febre, calafrios, fadiga, mal estar, Taquicardia, leucocitose neutrofílica com desvio para a esquerda ou leucopenia (mau prognóstico), aumento de marcadores inflamatórios (PCR e VHS) e indícios de sepse, como hipotensão. Diagnóstico O diagnóstico de PAC geralmente requer a demonstração de um infiltrado na imagem do tórax em um paciente com uma síndrome clinicamente compatível, por exemplo, febre, dispneia, tosse e produção de escarro. A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina, nas incidências posteroanterior (PA) e perfil. Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxiliar no diagnóstico diferencial. Os achados radiográficos consistentes com o diagnóstico de PAC incluem: consolidações lobares, infiltrados intersticiais e/ou cavitações. Embora certas características radiográficas sugiram certas causas de pneumonia (por exemplo, consolidações lobares quase sempre são causadas por pneumococo, embora possam eventualmente surgir da evolução de uma pneumonia estafilocócica), a aparência radiográfica sozinha não pode diferenciar de maneira confiável as etiologias. A ultrassonografia de tórax (UST) apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de alterações parenquimatosas. Os principais achados ultrassonográficos na PAC são: consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormalidades na linha pleural. Adicionalmente, a UST apresenta alto rendimento na detecção de complicações como o derrame pleural, além de permitir a visualização de loculações na cavidade. A tomografia de tórax é o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar, porém trata-se de um método de alto custo e alta exposição à radiação. Trata-se de um exame útil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes obesos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias. Além disso, a TC de tórax está indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados. É importante para a avaliação de complicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, além da investigação da falta de resposta clínica ao tratamento. Avaliação da gravidade Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão quanto ao local de tratamento — ambulatorial, hospitalar ou UTI — quanto à necessidade de investigação etiológica, quanto à escolha do antibiótico e sua via de administração. Os instrumentos validados incluem: • Pneumonia Severity Index (PSI): Tabelas** • Mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65) Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score); Ureia > 50 mg/dl; Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; Blood pressure: pressão arterial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial diastólica < 60 mmHg; Idade ≥ 65 anos. • CRB-65: forma simplificada sem a dosagem de ureia; Tratamento A escolha do antibiótico deve levar em consideração: 1) patógeno mais provável no local de aquisição da doença; 2) fatores de risco individuais; 3) presença de doenças associadas; e 4) fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e relação custo-eficácia. A proposta da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) na publicação “Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade” de 2018, é o uso de monoterapia com ẞ-lactâmico ou macrolídeos para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Para esses casos, sugere-se evitar o uso das fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência norte-americana Food and Drug Administration sobre o potencial risco de efeitos colaterais graves. Essas drogas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento, situações essas em que os benefícios superariam os potenciais riscos. Quanto aos macrolídeos, a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC. Tratamento de pacientes internados em enfermarias: A recomendação atual da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia é o emprego de ẞ-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória isolada. Um ẞ-lactâmico isolado pode ser usado se houver exclusão confirmada de Legionella sp. Tratamento de pacientes internados em UTI: A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo e um ẞ-lactâmico, ambos por via endovenosa. Duração do tratamento: A duração do tratamento pode ser diferente conforme a gravidade da PAC. Recomenda-se que para a PAC de baixa gravidade e com tratamento ambulatorial, esse seja feito com monoterapia e por 5 dias. A PAC de moderada a alta gravidade deve ser tratada com os esquemas antibióticos discutidos abaixo, por períodos de7 a 10 dias. O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente. Tratamento adjuvante: O uso de corticoides na PAC grave mostrou-se tanto seguro como benéfico em diversos desfechos clínicos importantes. Diferentes tipos de pneumonia Pneumonia adquirida na comunidade (PAC): aquela vista em pacientes fora do ambiente hospitalar ou que surge nas primeiras 48 horas de internação. Além disso, para que seja considerada PAC, o paciente não pode residir em casas de repouso, ou em homecare; não deve ter sido internado por mais de 2 dias nos últimos três meses; nem devem ter recebido antibióticos ou quimioterapia no último mês; ou ser um paciente que faz tratamento em clínica de hemodiálise. A pneumonia relacionada aos cuidados de saúde é aquela que ocorre em pacientes que foram internados por mais de 2 dias nos últimos 3 meses, residem em casa de repouso ou estão em internação domiciliar, receberam antibiótico ou quimioterapia no último mês ou se encontram em hemodiálise. Pneumonia hospitalar (PH): definida como aquela que acomete pacientes com internamento hospitalar superior a 48 horas. A pneumonia hospitalar pode ainda ser classificada em pneumonia associada a ventilação mecânica (PAVM), que acomete pacientes após 48 horas da intubação orotraqueal Pneumonia por Aspiração: A pneumonia por aspiração ocorre em pacientes debilitados ou naqueles que aspiram conteúdo gástrico enquanto se encontram em estado de inconsciência (p. ex., após uma convulsão) ou durante episódios repetitivos de êmese. Tais pacientes apresentam reflexos da deglutição anormais que facilitam a aspiração. A pneumonia resultante é, em parte, química devido aos efeitos irritantes do ácido gástrico e, em parte, bacteriana. Embora se acredite que haja predomínio de bactérias anaeróbias, estudos recentes têm demonstrado que as aeróbias são mais predominantes. A pneumonia por aspiração é comumente necrosante, apresenta evolução clínica fulminante e é uma causa de óbito frequente em pessoas predispostas à aspiração. A formação de abcesso é uma complicação comum nos pacientes que sobrevivem. Ao contrário, a microaspiração ocorre em muitas pessoas, especialmente aquelas com refluxo gastroesofágico, podendo exarcebar outras doenças pulmonares; entretanto, não leva à pneumonia.
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