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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 1 SITUAÇÃO PROBLEMA 01 – QUE DOR NO PEITO? 1. CARACTERIZAR DOR PLEURÍTICA PULMONAR; Das afecções que acometem os pulmões temos a pneumonia como uma das principais causas infecciosas. A dor originada por essa entidade noológica é do tipo pleurítica. Cabe destacar que a inervação pulmonar inferior se dá por fibras nociceptivas presentes na pleura parietal a qual produz uma dor referida seguindo alguns dermátomos. Estímulos químicos da via aérea inferior é aferido pelo nervo vago e manifestado com desconforto em região retroesternal. A aferência da pleura parietal é veiculada pelos nervos intercostais e frênicos. Tais nervos manifestam a dor na região retroesternal, e na região cervical dos territórios de C3 a C5. Tais estímulos podem ser desencadeados por inflamação ou estiramento pleural. 2. CONCEITUAR PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE; Pneumonia é definida como doença inflamatória aguda que acomete as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar, causada mais comumente por vírus, bactérias e outros organismos. Pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é a que acomete o indivíduo fora do ambiente hospitalar ou se manifesta em até 48 horas da admissão. O termo pneumonia configura sob um aspecto histopatológico um preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinfamatório – composto por neutrófilos e exsudato purulento. Desse modo, do ponto de vista clínico o termo pneumonia significa uma infecção aguda do pulmão em que acomete o parênquima pulmonar causada por algum agente infeccioso (vírus, bactéria ou fungo). A pneumonia pode ser classificada de duas maneiras: a comunitária a qual se caracteriza pelos agentes naturais e a hospitalar ou nosocomial a qual se encontra associada aos cuidados de saúde. 3. ESTUDAR EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO E QUADRO CLÍNICO DA PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE; EPIDEMIOLOGIA A pneumonia adquirida na comunidade ainda se constitui como a principal causa de mortalidade por doenças infecciosas no mundo. No Brasil, assim como em outros países foi Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 2 observado uma redução bastante significativa da taxa de mortalidade. Mesmo assim, os dados que temos sobre a doença nos dias atuais revelam um aumento do número absoluto de casos. Tais fatores que contribui com isso: aumento da expectativa de vida, aumento da sobrevida de patologias respiratórias (aumento da prevalência), acesso aos antibióticos para combate da doença, aumento do acesso aos serviços de saúde e promoção de políticas públicas. Embora tenhamos evidenciado esse aumento no número absoluto é notório que as taxas de mortalidade acerca de pneumonia vêm reduzindo anos a anos. FISIOPATOLOGIA A primeira pneumonia descrita foi à pneumocócica causada pelo Streptococos pneumoniae o qual é um coco gram-positivo. Ela ao atingir os alvéolos gera uma reação inflamatória com a liberação de substâncias vasodilatadoras e com alto poder quimiotáxico para os neutrófilos. O processo inflamatório é dividido em etapas: • Fase de congestão: as bactérias se multiplicam rapidamente no interior dos alvéolos, liberam substâncias vasodilatadoras que permitem o extravasamento de exsudato; • Fase de hepatização vermelha: se caracteriza pela presença de hemácias no exsudato presente no espaço alveolar; • Fase hepatização cinzenta: as hemácias começam a se degradarem e o exsudado começa a conter uma maioria de neutrófilos, fibrina e exsudato; • Fase de resolução ou organização o exsudato: consiste em um semifluido granulado que é constantemente consumido por macrófagos até a resolução do processo. A maioria das infecções não afeta o parênquima pulmonar, principalmente, a pneumonia Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 3 pneumocócica, entretanto a pneumonia estafilocócica, a causada por germes gram- negativos entéricos e por anaeróbicos fogem dessa regra. Cabe destacar que o quadro bacteriano apresenta uma clínica mais exuberante e na maioria dos casos sobrepõe uma infecção viral. Desse modo, os vírus influenza e coronavírus podem anteceder e facilitar a ação da bactéria mais comum o pneumococo. A via de entrada dessas bactérias deriva da microaspiração dos gemes próprios da mucosa oral. Alguns microrganismos conseguem atingir o epitélio alveolar através de micropartículas de aerossol (Legionella), ou por via hematogênica (Staphylococus aureus). A ocorrência de pneumonia depende da competição existente entre a bactéria e as defesas do hospedeiro, sendo o aparecimento desse processo através de três situações (1) contato do alvéolo com um agente de alta virulência; (2) contato do alvéolo com um grande inóculo de bactérias; (3) defeito nos mecanismos de defesa do hospedeiro. As defesas naturais do hospedeiro são bastante eficazes para a manutenção da condição estéril das vias aéreas inferiores. Para tanto, o organismo apresenta dois mecanismos para assegurar essa eficiência protetora: o primeiro consiste em um mecanismo mecânico através da movimentação dos cílios em direção a laringe a fim de evitar a entrada de partículas (reflexos epiglóticos e da tosse); o segundo é a secreção de IgA específica para defesa das vias aéreas superiores contra agentes infecciosos, podendo também está presenta nas vias aéreas inferiores. Não podemos desconsiderar outras formas de adquirir a infecção: através da inalação (Legionella) através de partículas de ar condicionado; disseminação hematogênica (estafilococcica) pacientes com acometimento de valva tricúspide – usuário de heroína; por contiguidade derivada de uma mediastinite. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 4 ETIOLOGIA O agente etiológico mais comum da pneumonia comunitária é o Streptococcus pneumoniae – o “pneumococo”, um diplococo Gram-positivo. Isso é verdadeiro para todas as faixas etárias, exceto recém-natos. Estima-se que o pneumococo seja responsável por 30-40% das pneumonias em adultos. Na PAC não grave raramente a busca do agente etiológico se faz necessária, entretanto quando ela é grave, não a resposta a ATB empírico ou em indivíduos internados em UTI devemos sempre fazer a busca etiológica. Dessa forma, a identificação do agente se dá em apenas 40-50% dos casos, não havendo nenhum critério clínico ou radiológico com valor preditivo que permite definir a etiologia, mas podemos suspeitar através dos dados epidemiológicos e dos achados do exame físico. Para determinar o microrganismo podemos realizar hemocultura, teste de Gram + cultura de escarro, pesquisa de antígeno urinária, broncoscopia, PCR e biópsia. Ao identificar os gemes causadores da pneumonia vamos nos deparar com a separação entre microrganismo típico e atípico. O típico é chamado dessa forma, pois ele é composto por uma parede celular de peptídeoglicano que cora muito bem ao método de Gram, diferentemente do atípico. • Streptococcus pneumoniae: bactéria Gram-positiva mais comum em PAC acima de 05 anos de idade. Sua identificação pode ser feita beira-leito através da dosagem de antígeno urinário. A bactéria pode causar derrame pleural, e o achado pseudotumoral. No Brasil, o risco de resistência frente ao uso de betalactâmicos para essa classe é pouco importante, diferentemente do que acontece nos EUA. Entretanto, não devemos desconsiderar as possíveis situações em que a resistência pode está presente: (1) uso < 3 meses de antibióticos, (2) comorbidades e (3) imunossupressão. Vale lembrar que frente essa resistência a gente aumenta a dose do betalactâmico. • Mycoplasma pneumoniae: manifesta um quadro clínico como uma gripe intensa que é difícil de associar na prática queé um quadro de pneumonia. Entretanto, esse agente é responsável por causar algumas manifestações atípicas (não possui parede celular), como a otalgia (miringite bolhosa), anemia hemolítica, aumento do IgM, Stevens- Johnson, Raynaud, Guillain-Barré. O tratamento desse tipo de pneumonia atípica segue com uso de macrolídeo. • Chlamydia pneumoniae: é uma bactéria atípica intracelular Gram-negativa. Geralmente esse microrganismo é responsável por apresentar um quadro de pneumonia Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 5 leve com presença de febre e tosse. Aqui há um predomínio de sintomas de via aérea superior: faringite + laringite + sinusite. Desse modo, por se tratar de germe atípico o tratamento é com macrolídeo. • Vírus influenza: responsável por causar um quadro de pneumonia atípica com febre + tosse + fadig e “algias”. Além do quadro de síndrome gripal em alguns casos mais graves a apresentação grave pode manifestar dispneia ou desconforto respiratório, SatO2 < 95%, piora da doença de base e redução da PA. O diagnóstico pode ser alcançado com swab nasofaríngeo + PCR. O tratamento desse tipo de pneumonia é com Osetalmivir (nos extremos da idade < 5 anos ou > 60 anos). Pacientes imunodeprimido, com comorbidades, indígenas, IMC ≥ 40 e gestantes apresentam um risco aumentado para adquirir o quadro grave. • Haemophillus influenzae: é uma bactéria típica (cocobacilo Gram-negativo). Tal bactéria é responsável por apresentar um quadro típico bastante comum em pacientes com DPOC. • Leigionella: uma bactéria atípica (bacilo Gram-negativo). Tal bactéria é responsável por causar um quadro típico grave, presença de sinal de faget (pouco sangue para muita febre – pouca taquicardia), presença de sintomas gastrointestinais (diarreia + dor abdominal), redução dos níveis séricos de sódio e elevação das transaminases. O diagnóstico pode ser alcançado pelo antígeno urinário (quadro típico podemos fazer o antígeno urinário para identificar ou pneumococo ou Leigionella). O tratamento é com macrolídeo. • Moraxella catarrhalis: um diplococo gram-negativo típico. Responsável por causar pneumonia em paciente com DPOC. O aumento da chance desse microrganismo causar infecção decorre o período de tempo de uso de corticoide. • Klebsiella: é um bastonete Gram-negativo que causa um quadro típico e grave em pacientes etilistas e diabéticos. Ela é famosa também por causar o achado radiológico que denominamos de pneumonia de lobo pesado (abaulamento da cisura horizontal do pulmão direito). • Staphilococcus aureus: coco Gram-positivo em cachos que causa um quadro típico e grave. A apresentação do quadro grave é comum em neonatos, lactentes, pós infecção de influenza, usuário de drogas IV, pacientes com fibrose cística e com bronquiectasias. Assim como o pneumococo, o S.aureus pode causar pneumatoceles (quando rompidas pode originar um piopneumotórax), derrame pleural e pneumonia necrotizante (< 2cm) ou abscesso ≥ 2cm. • Pseudomonas: bacilo Gram-negativo que causa quadro típico. Responsável por apresentar um quadro grave em pacientes que apresentam alterações estruturais do trato respiratório: fibrose cística, bronquiectasia, neutropênicos, e uso de corticoide (pacientes com DPOC). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clássico da pneumonia comunitária “típica” é representado pela pneumonia pneumocócica. Sua manifestação como já foi citada consiste em uma forma hiperaguda (2-3 dias), calafrios e febre alta (39-40°C), dor torácica pleurítica (inicialmente oriunda da musculatura decorrente do esforço respiratório e posteriormente pleurítica pelo acometimento da pleura parietal) e tosse produtiva com expectoração purulenta (esverdeada). O exame físico pode revelar prostração, taquipneia (FR>24 ipm), taquicardia (FC> 100 bpm) e hipertermia (Tax > 38°C). O achado do exame do aparelho respiratório pode variar da ausculta de simples Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 6 estertores inspiratórios até uma síndrome de consolidação (ocupação do espaço alveolar pelo exsudato purulento) ou derrame pleural. Nesse sentido, a síndrome de consolidação se caracteriza pela presença do som brônquico (sopro tubário), aumento do frêmito toracovocal, submacicez, broncofonia (a voz do paciente encontra-se audível até mesmo em áreas periféricas) e pectorilóquia fônica (ausculta da voz de forma nítida - sussurro). Por outro lado, o derrame pleural se caracteriza pela redução do murmúrio vesicular e frêmito toracovocal, submacicez e egofonia (é uma forma especial de broncofonia, entretanto se apresenta de forma anasalada ou metálica). Pacientes idosos é menos prevalente a presença de tosse, febre e dispneia. Geralmente o quadro de pneumonia acontece com confusão mental e redução da capacidade funcional. Podemos observar ainda a descompensação de alguma outra doença de base, haja vista que esse grupo etário apresenta um grande leque de doenças prevalentes. Outro dado importante é que 2/3 dos casos vão manifestar taquicardia e taquipneia como sinais clínicos sugestivos da doença. O quadro clínico pneumonia comunitária atípica se parece com uma virose respiratória prolongada... O principal agente responsável por esse quadro é o Mycoplasma pneumoniae o qual apresenta uma prevalência em indivíduos jovens na faixa etária de 5-40 anos. Sua instalação é subaguda o que resulta cerca de 10 dias para o aparecimento dos sintomas. Sobre os sintomas, eles se caracterizam como a síndrome gripal (dor de garganta, mal-estar, mialgia, cefaleia, tosse seca, febre entre 38-39°C). A tosse é o principal sintoma, ela surge a partir de uma semana da infecção e persiste por várias semanas. Ela pode se apresentar produtiva, com expectoração, geralmente, branca, mas também purulenta em 30-50% dos casos. Os exames laboratoriais irão apresentar uma leucocitose neutrofílica em 20% dos casos, fato esse que a diferencia da pneumonia bacteriana típica (manifesta-se com uma leucocitose neutrofílica com desvio para a esquerda). O exame do aparelho respiratório se caracteriza como normal, podendo apresentar alguns discretos estertores crepitantes e sibilos. Por outro lado, a radiografia de tórax mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado pelo exame físico, podendo esse se manifestar do tipo broncopneumônico ou intersticial. A pneumonia causada por Chlamydia pneumoniae se manifesta de forma semelhante à pneumonia por mycoplasma, ela tem uma preferência por idosos 65-80 anos e representa a segundo agente mais comum de pneumonia atípica. Outro tipo é a Legionella pneumophila (legionelose) ela é classificada como uma pneumonia bacteriana atípica devido ao fato dessa bactéria não ser identificada com facilidade pelo método de Gram de escarro, não crescer em cultura e não responder a antibióticos betalactâmicos. Sua manifestação clínica é muito grave com início agudo, com febre alta e evolução para grandes áreas de condensação. (pneumonia lobar). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 7 4. ENTENDER DIAGNÓSTICO CLÍNICO E COMPLEMENTAR (LABORATORIAIS E IMAGEM), DD, SCORES DE GRAVIDADE E TRATAMENTO (AMBULATORIAL E HOSPITALAR) DA PNEUMONIA DE ACORDO COM AS DIRETRIZES; DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos para PAC são: quadro radiológico compatível + quadro clínico. O resultado para fechar diagnóstico necessita de 01 critério maior, ou 02 critérios menores. Dentre os critérios maiores temos: • Tosse 80-90% • Expectoração 60-80% • Febre (Tax ≥ 37,8°C) 68-78% Critérios menores são: • Dor torácica • Dispneia • Ausculta pulmonar alterada • Confusão mental • Leucocitose > 12.000/mm³ O diagnóstico de pneumonia comunitária geralmente é feito pelo quadro clínico- laboratorial em conjunto com a radiografia de PA e perfil.Os exames laboratoriais inespecíficos revelam uma leucocitose neutrofílica entre 15000-35000/mm³, com desvio para a esquerda (granulócitos imaturos notados pela hematoscopia com presença de granulações grosseiras no citoplasma ou corpúsculo de Dohle). A leucopenia pode ocorrer e caracteriza um mau prognóstico. O paciente pode apresentar uma hiponatremia (diminuição dos níveis de sódio com a sua diluição no sangue devido à retenção de água) leve ou moderada, podendo ser grave quando a pneumonia é causada pela Leigionella peumophila. A função renal pode ser comprometida sugerindo uma sepse grave ou nefrite intersticial causado pela utilização de antibióticos (escórias renais significa a incapacidade dos rins em excretar os compostos nitrogenados). Quanto aos achados cardiopulmonares os achados mais frequentes são a hipoxemia (baixo nível de saturação de oxigênio no sangue) e alcalose respiratória (causado pela taquicardia). Cabe ressaltar que um hipoxemia grave (PaO2 < 60mmHg), acidose metabólica ou respiratória são achados que caracterizam um mau prognóstico. EXAMES DE IMAGEM Radiografia de Tórax no quadro clínico “típico” Embora a pneumonia se encontre evidenciada na radiografia, pode acontecer situações que não apareça no RX, como por exemplo: (1) quando o infiltrado é retrocardíaco o que impossibilita sua visualização em uma incidência em PA; (2) quando o infiltrado é muito tênue para ser identificado na radiografia, mas pode ser visualizado na TC (esse caso é comum na pneumocistose – infecção causada por um fungo unicelular - e na neutropenia grave – redução do número de neutrófilos); (3) quando a técnica radiográfica foi incorreta, exagerando-se na kilovoltagem dos raios X (muito penetrado). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 8 O que costumamos visualizar na radiografia de tórax em um paciente com pneumonia? A visualização no RX é a presença de um infiltrado pulmonar, no caso de pneumonia bacteriana sendo do tipo broncopneumônico – múltiplas condensações lobulares coalescentes. Essa infiltração pode acometer uma grande área e como vimos é classificado uma pneumonia lobar. O infiltrado alveolar do tipo broncopneumônico é o achado radiológico mais frequente na pneumonia bacteriana, sendo de qualquer agente etiológico. Todo infiltrado pulmonar visto na radiografia de tórax significa pneumonia? Claro que não, existe uma infinidade de doenças não infecciosas que podem se manifestar como infiltrado pulmonar na radiografia. Dentre elas: edema pulmonar da insuficiência cardíaca congestiva descompensada, síndrome de Mendelson e tromboembolismo pulmonar. Devido essa grande quantidade de doenças que se manifestam de forma semelhante no RX, a pneumonia necessita de uma boa análise do diagnóstico diferencial, do caso clínico e dos exames complementares. O exame clínico não é definitivo para o diagnóstico embora seja bastante sugestivo. A radiografia de tórax é fundamental para a confirmação e exclusão da suspeita de pneumonia, pois a partir dela pode terminar a localização dos quadros infecciosos tanto no trato respiratório superior, quanto no inferior, bem como determinar a extensão da infiltração e identificar complicações como derrame pleural. Existem padrões radiológicos sugestivos para um determinado agente etiológico? Sim, existem alguns padrões sugestivos: • A pneumonia lobar quase sempre é causada pelo “pneumococo”, podendo surgir da evolução de uma pneumonia estafilocócica ou por Gram-negativos. • Um tipo especial de pneumonia lobar é a pneumonia do lobo pesado, ela é causada pela Klebsiella pneumoniae acomete geralmente alcoólatras ou diabéticos, sendo o principal achado no RX um acometimento do lobo superior e abaulamento da cisura. • Outro achado radiológico que remete a um agente etiológico denominado de Staphylococcus aureus é o cisto pneumatoceles. Esses cistos se caracterizam por apresentar bordas finas, sendo resultado da passagem de ar para o interstício subpleural, através de roturas bronquiolares. Com a utilização dos medicamentos para pneumonia há a reversão completa desses cistos. • Uma pneumonia que se manifesta com uma condensação de formato arredondado (pseudotumor) denominada de “pneumonia redonda” é um tipo de entidade típica em crianças, sendo essa causada pelo Strptococcus pneumoniae. • Outro tipo de pneumonia causa uma propensão da formação de cavitações no parênquima pulmonar. Ela pode ser subdividida em pneumonia necrosante quando a lesão cavitaria é grande ou um abscesso pulmonar quando se forma uma cavidade que no seu interior há a presença de fluido hidroaéreo. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 9 A radiografia de tórax se constitui como um principal exame de imagem para avaliação PAC. Vale ressaltar que tal exame é bastante acessível e de baixo custo em todo o país. Mesmo assim, alguns lugares não dispõe da tecnológica, por exemplo, a atenção primária. Desse Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 10 modo, a sociedade de pneumologia e tisiologia recomenta o tratamento empírico com antibióticos frente a um quadro clínico bastante sugestivo. Um dado importante é que menos de 40% dos clínicos não conseguem chegar ao diagnóstico apenas com clínica do paciente, sendo assim a radiografia de tórax se faz necessária e obrigatória em alguns casos. Outro método de imagem de baixo custo e eficaz para diagnóstico é USG de tórax. A US consegue avaliar e detectar alterações no parênquima pulmonar, bem como consegue identificar possíveis complicações oriundas da PAC, por exemplo o derrame pleura. Em pacientes acamados e gestantes tal exame é recomendado, pois possui uma sensibilidade e especificidade elevada, sobretudo quando é operado por mãos experientes. A TC de tórax apresenta um alta sensibilidade e especificidade para identificação de patologias pneumológicas. Porém, não podemos esquercer do alto custo do exame e a enorme exposição radioativa que paciente é submetido. Por outro lado, o exame permite identificar achados não visualizados por uma simples radiografia. Desse modo, o uso da TC de tórax aumenta o número de diagnósticos de pneumonia. Vale destacar que é um importante exame para diagnóstico diferencial. Sua indicação pode ser feita em pacientes imunoss,uprmidos, indivíduos com alterações radiológicas prévias, na suspeita de infecções fúngicas e exclusão de outros diagnósticos. Não podemos esquecer da dosagem dos biomarcadores procalcitonina (PCT – produzida por céluas parenquematosas em respostas a presença de toxinas bacterianas e pouco produzida em infecções virais. Apresenta elevação dos níveis em 2h do processo infeccioso, maior sensibilidade) e a proteína C-rativa (PCR). Ambas proteínas séricas apresentam níveis elevados na presença de quadros inflamatórios. A detecção quantitativa de seus valores podem auxiliar no diangóstico e na resposta ao tratamento. Uma PCR elevada ou com redução inferior a 50% no momento da admissão sugere complicação da infecção. Por outro lado, uma PCT menor que 0,1 sugerem ausência de infecção bacteriana e valores entre 0,25- 0,5 são considerados presença de infecção bacteriana ativa. Pacientes internatos com PCR elevados, pode ser útil a adminsitração de corticoide (paciente muito inflamado). A busca pelo agente etiológico só é possível em somente em 40% dos casos não existe nenhum critério, clínico ou radiológico, com valor preditivo adequado para definir a etiologia microbiológica da PAC. Jamais deve atrasar o início do tratamento devido a exames para definir o agente. Hemocultura, Gram + cultura do escarro pesquisar antígeno urinário, broncoscopia com coleta de LBA ou aspirado endotraqueal, toracocentese, sorologia, PCR e biópsia pulmonar. Matheus dosSantos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 11 ESCORES DE AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE Após alcançar o diagnóstico de PAC os pacientes devem ser avaliados quanto à gravidade da doença e se o tratamento terá impacto direto em sua mortalidade. Os dois instrumentos utilizados pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia são: Pneumonia Severitu Index (PSI) e o mental Confusion, Urea, Respiratory rat, Blood pressure and age ≥ 65 (CURB-65 ou CRB-65 sem ureia). O PSI é composto por 20 itens que permite a avaliação do paciente considerando as questões demográficas, comorbidades, laboratório, alterações radiológicas e alterações no exame físico. Tal instrumento permite avaliar a mortalidade em 30 dias e sugere em qual local o paciente deve ser atendido. Embora seja um cálculo complexo a tabela pode subestimar a gravidade da doença em jovens, pois atrela comorbidades à idade. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 12 O CURB-65 necessita da dosagem da ureia para sua avaliação. Entretanto, locais que não dispõe de exames laboratoriais acessíveis, como a atenção primária, pode lançar mão do CRB- 65 sem a dosagem da ureia. Por ser um cálculo simples tal escore apresenta limitações, pois não considera comorbidades e hábitos de vida que pode tornar o paciente vulnerável. Tais instrumentos devem ser utilizados para manejo do paciente com PAC, mas devemos sempre ter o bom senso e praticar a medicina centrada na pessoa, levando em consideração a viabilidade de uso de medicação por via oral, a presença de comorbidades associadas, fatores psicossociais, as questões de higiene e vulnerabilidade social. Cabe destacar que uma SatO2 < 92% é motivo para admissão do paciente. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 13 Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 14 TRATAMENTO AMBULATORIAL: Previamente sadio e sem uso ATB últimos 3 meses: devemos fazer uso de bata-lactâmico ou macrolídeo ou doxicilina (não tem no Brasil). Amoxicilina ou amoxicilina + ácido clavulânico ou macrolídeos: azitromicina ou claritromicina. Paciente com fatores de risco, doença mais grave, uso recente de antibióticos devemos fazer uso de -lactâmico + macrolídeo 5 a 7 dias. Na presença de alergia tanto ao beta-lactâmico, quanto ao macrolídeo podemos lançar mão do uso das quinolonas respiratórias. Essa classe apresenta uma eficácia terapêutica surpreendente e pode ser utilizando em monoterapia (moxi/levofloxacino 5-7 dias). Entretanto, observou-se o aparecimento de colaterais graves: tendinites, neuropatias, alterações psíquicas e aneurisma de aorta. Desse modo, atualmente é uma droga reservada para casos graves. ENFERMARIA: paciente indicados para tratamento em enfermaria a duração desse tratamento é de 7-10 dias. Podemos lançar mão de cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou ampicilina/sulbactam + um macrolídeo (azitromicina ou claritromicina). Amoxicilina + ácido clavulânico, OU Levofloxacino ou moxifloxacino ou emifloxacino em monoterapia ੦7 a 10 dias. O uso do macrolídeo deve ser considerado na suspeita de infecção por Legionella. UTI: Cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou ampicilina/sulbactam + um macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) Cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona ou cefotaxima) + quinolona respiratória ੦7 a 14 dias. PACIENTES INTERNADOS PODEM FAZER USO DE CORTICOIDE (DOSAR PCR) Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 15 O CONTROLE DOS SINTOMAS ACONTECE EM 48-75, O ATB AGE BASTANTE RÁPIDO CONTRA OS SINTOMAS. DESSE MODO, DEVEMOS ORIENTAR OS PACIENTES A RETORNAREM À UNIDADE CASO NÃO APRESENTEM MELHORA DE SEU QUADRO. POR OUTRO LADO, O CONTROLE RADIOLÓGICO NÃO APRESENTA UM PERÍODO ESPECÍFICO. 5. CITAR AS COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS DE UM TRATAMENTO INEFICAZ; ABSCESSO PULMONAR O abscesso pulmonar consiste em me uma lesão cavitaria maior que 2 cm que contém pus acometendo o parênquima pulmonar e presença de nível hidroaéreo. Geralmente, essa degeneração do parênquima é causada por uma infecção causada por um germe piogênico. O abscesso pode ser classificado como primário quando ele decorre de uma pneumonia bacteriana a qual ocasiona lesões brônquica obstrutivas. Quando classificamos em secundário o mesmo pode ser causado por contiguidade extrapulmonares e geralmente se encontra associado a quadro de imunodepressão. As etiologias de germes que cursam com a formação desse tipo de complicação normalmente estão associadas as bactérias anaeróbias presentes na bucofaringe. Além disso, é comum que a infecção do abscesso seja fruto de uma infecção polimicrobiana que contem germes aeróbios e anaeróbios. Desse modo, indivíduos com doença periodontal os germes se proliferam no sulco gengival e aumenta a chance de formação de abscesso por microaspiração. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 16 Condições que predispõe a proliferação dos germes são: depressão do estado de consciência, alcoolismo, epilepsia, distúrbios motores da deglutição (sequela pós- AVE). Tanto bactérias Gram-negativas, como Gram-positivas podem causar o abscesso. Dentre os Gram-positivos temos S. aureus como principal agente pós-influenza e a infecção estafilococcica com endocardite tricúspide. Dentre os Gram- negativos temos a Klebsiella pneumoniae – pneumonia do alcoólico ou do lobo pesado. O quadro clínico dos pacientes que apresentam abscesso pulmonar é semelhante a apresentação de uma tuberculose, só que o aspecto radiológico difere bastante. Os pacientes apresentem mais de um mês de febre do tipo vespertina, sudorese noturna, perda ponderal e tosse produtiva. Normalmente, a expectoração é de grande quantidade com material purulento e fétido (nossa principal pista diagnóstica). Não podemos desconsiderar que os mesmos podem apresentar ainda bom ou regular estado geral, hipocorado, desntes em mau estado de conservação. Na radiografia de tórax evidenciando a presença de lesões cavitadas de parede espessa e extensão variável. Pode ou não haver presença de infiltrado ou até mesmo linfodenomegalia mediastinal. O diagnóstico diferencial frente a identificação de um abscesso pulmonar é com: tuberculose, granulomatose de Wegener, infarto pulmonar, carcinoma broncogênico cavitado, empiema pleural, cistos ou bolhas pulmonares, bronquiectasias infectadas e sequestro pulmonar. O tratamento do abscesso pulmoar é realizado com antibiótico que cubra os principais agente etiológicos que cursam com tal complicação. Desse modo, o uso da Clindamicina 600 mg IV 8/8h até a defervecência, seguido de clindamicina 150-300 mg VO de 6/6h por no mínimo 03 semanas. Não podemos esquecer que podemos lançar mão de metronidazol + penicilina G ou amoxicilina + clavulanato (alto custo). A cirurgia pode ser indicada na presença de não resposta ao tratamento prolongado, abscessos maiores que 06 cm, presença de empiema pleural, suspeita de neoplasia maligna. DERRAME PLEURAL O derrame pleural é uma condição associada à pneumonial que pode ser denominado de derram parapneumônico. Os derrames cursam de uma infecção bacteriana a qual apresenta a presença de líquido visível à radiografia de tórax, sobretudo através do velamento do seio costofrênico. O derrame livre que corre na cavidade pleural é considerável pulcionável quando através da incidência da Lawrell (decúbito lateral em PA) forma uma camada > 10 mm de espessura. Tal punção pode ser realizada as cegas no 6° espaço intercostal utilizando agulha fina na linha axilar média ou posterior ao nível do plano do apêndice xifoide. Podemos lembrar que USGde tórax e TC de tórax podem auxiliar. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de dispneia, dor torácica e edema) 17 O derrame parapneumônico e dividido em três fases: (1) fase exsudativa (acúmulo de glicose e pH alcalino) com acúbulo de debris de neutrófilos e bactérias que formam o pus; (2) fase fibropurulenta com presença de septos de fibrina na caivdade pleural, transformando em empiema livre em septado; (3) fase organizada aquela que forma uma carapaça fibrosa em volta do pulmão, correspondendo a formação de tecido sicatricial. O empiema é a presença de líquido pleural purulento em aspecto macroscópio com presença de bactérias de Gram. Aqui já teríamos uma redução da glicose, redução do pH e acúmulo do ácido lático pela intensa inflamação. O tratamento de um derrame simples consiste em antibioticoterapia voltada para a pneumonia de base. Já em derrames complicados e formação em empiema a drenagem pode ser indicada. Paciente pós-influenza, presença de cavitações ou pneumatoceles devemos acrescentar cobertura antiestafilocócica. Não podemos esquecer de cobrir anaeróbios. A recomendação de drenagem do derrame segue as informações que estão na tabela, pois leva em consideração o líquido ser purulento, positividade para Gram, ph < 7,2, derrame loculado, grau de acometimento.
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