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Unidade I - Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano

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Prévia do material em texto

Geografia Agrária
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Eduardo Augusto Wellendorf Sombini
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
• Introdução
• O Espaço Geográfico
• Conceitos Básicos do Espaço Rural e Urbano 
• A Questão Agrícola e Agrária
 · Tratar das concepções teóricas sobre o rural e o urbano;
 · Discutir a concepção de espaço; 
 · Tratar das diferenças entre as questões agrária e agrícola. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Algumas Concepções Teóricas sobre o 
Espaço Rural e Urbano 
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar sobre a categoria espaço geográfico e, principal-
mente, algumas concepções sobre os espaços urbano e rural. 
O Espaço Geográfico
As diferentes disciplinas acadêmicas possuem sistemas de categorias e conceitos 
que oferecem coerência e operacionalidade às pesquisas realizadas em cada área 
do conhecimento. 
As categorias podem ser entendidas como as construções abstratas fundadoras 
das disciplinas, correspondendo aos termos que historicamente orientam a produção 
de cada área do conhecimento. O espaço geográfico é o objeto da Geografia, 
enquanto território, região, paisagem e lugar são comumente entendidos como as 
categorias centrais da Geografia.
Como afirma Milton Santos (2008b, p. 12): “Falar sobre o espaço é muito 
pouco se não buscamos defini-lo à luz da história concreta. Falar simplesmente do 
espaço, sem oferecer categorias de análise, é também insuficiente”. 
Os conceitos, por sua vez, possuem um conteúdo histórico, permitindo 
estabelecer relações entre as categorias abstratas e a realidade concreta, que está 
em processo permanente de transformação. O movimento da história altera os 
conteúdos e as possibilidades de análise dos temas de interesse de determinada 
disciplina, fazendo com que os conceitos precisem ser revisados e atualizados a 
cada novo período, para que as interpretações correspondam à realidade do tempo 
presente e não fiquem presas a realidades já superadas. 
A Geografia é uma ciência social preocupada com as problemáticas territoriais 
do tempo presente e, por isso, precisa renovar constantemente os instrumentos 
teóricos e conceituais que utiliza. O espaço geográfico tem se transformado 
radicalmente nas últimas décadas, em diversas escalas, o que é resultado da difusão 
de novos sistemas técnicos e da reconfiguração das relações sociais. É preciso, 
portanto, acompanhar as transformações do mundo e trabalhar com conceitos que 
permitam a interpretação das situações geográficas emergentes. 
Entre outras possibilidades de método, apresentaremos brevemente alguns 
pontos da proposta formulada por Milton Santos, que realizou um amplo trabalho 
de revisão das teorias e dos conceitos da Geografia, em diálogo com as demais 
ciências humanas e sociais. 
8
9
Esse autor se inscreve no movimento de renovação da Geografia, iniciado 
na década de 1970, que refuta as práticas científicas da Geografia Tradicional e 
propõe uma teorização para a disciplina pautada nas teorias sociais críticas, como 
o marxismo. 
Desse movimento, surge a Geografia Crítica, preocupada em afastar o 
empirismo que dominava o trabalho dos geógrafos, isto é, a preocupação excessiva 
com a descrição das paisagens, regiões e lugares. Em seu lugar, as perspectivas 
críticas da Geografia propõem considerar o espaço geográfico como o resultado do 
emprego da técnica e do trabalho de uma determinada sociedade, com o objetivo 
de transformar o meio existente. 
Os agentes sociais – em conflito e em cooperação entre si – possuem concepções 
de futuro e intencionalidades, que orientam a produção social do espaço. Desse 
modo, o espaço geográfico aparece, nessa perspectiva, não mais como um quadro 
inerte a ser descrito em um determinado momento, mas como uma construção 
histórica correspondente a sistemas técnicos e projetos sociais. 
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Milton Santos propõe que o espaço geográfico seja entendido como “[...] conjun-
to indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas 
de ações” (2006, p. 63). Nessa concepção, o espaço geográfico é entendido como 
um híbrido entre as formas espaciais e os conteúdos sociais que lhes dão sentido. As 
formas espaciais correspondem à materialidade do espaço geográfico: edifícios, cida-
des, rodovias, ferrovias, redes de energia elétrica e telecomunicações, entre outros. 
O conteúdo social, por sua vez, diz respeito aos fatores político-jurídicos, 
econômicos e culturais que condicionam o uso das formas espaciais. Como 
exemplo, é possível pensar em uma região especializada na produção de uma 
commodity agrícola, como a soja.
9
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Para entender essa parcela do território nacional, é necessário levar em conta os 
objetos técnicos que permitem a existência dessa produção agrícola: as plantações, o 
maquinário agrícola, os sistemas de armazenamento, a infraestrutura de transporte 
e comunicação, as agências bancárias, entre outros. 
Ao mesmo tempo, as ações sociais que criaram e sustentam a continuidade 
dessa produção são também fundamentais: as relações de trabalho, as leis e 
demais normas que regulam o setor, as políticas agrícolas nacionais, o sistema de 
financiamento à produção, o comportamento dos preços do produto nos mercados 
nacional e internacional, entre outros.
Caso a análise fique restrita ao sistema de objetos, o resultado será uma descrição 
da configuração territorial dessa região, isto é, um retrato estático da distribuição 
espacial de objetos e pessoas. Sem levar em consideração os conteúdos sociais 
dessa região, não é possível compreender os processos históricos e as dinâmicas 
atuais que comandam a evolução regional.
Figura 2– A configuração territorial mostra como estão distribuídas 
 determinadas ações e objetos num território
Fonte: Wikimedia Commons
Ao longo da história do pensamento geográfico, em vários momentos, foram 
valorizados demasiadamente aspectos naturais como fundamentais para a explicação 
do espaço geográfico: o relevo, o clima, o solo, a hidrografia, a vegetação, a 
distribuição populacional, a produção agrícola, entre outros. 
No entanto, se os sistemas de ações receberem atenção exclusiva, a interpretação 
tenderá a tratar essa parcela do território nacional como o palco dos agentes sociais 
que participam das dinâmicas regionais. 
O espaço geográfico seria considerado, portanto, um depositário passivo das 
ações sociais, isto é, a superfície material em que se instalariam os produtos espa-
ciais das dinâmicas sociais, sem qualquer forma de influência relevante do território.
10
11
A valorização excessiva de um aspecto em detrimento de outro pode comprometer 
a avaliação de como os aspectos específicos influenciam na peculiaridade de cada 
lugar ou região. 
Essa visão de que o espaço geográfico seria um mero receptáculo das ações 
da sociedade levou a um questionamento sobre a importância da Geografia como 
disciplina científica. Na década de 1990, costumava-se afirmar que a globalização 
teria eliminado a importância do espaço geográfico, já que os fluxos financeiros 
prescindiriam dos territórios nacionais, das regiões e dos lugares. 
Contrariando tal afirmação, diversos intelectuais demonstraram que, no período 
da globalização, o território adquire um caráter ainda mais estratégico. Dessa forma, 
o entendimento do espaço geográfico como um híbrido entre materialidades e 
ações, ou entre técnica e política, é extremamente promissor como princípio de 
método geográfico. O que importa, portanto, não é o território visto simplesmente 
como arranjo de objetos, mas os usos do território. O território usado, nessa 
perspectiva, pode ser tratado como sinônimo de espaço geográfico.
Para dar um exemplo: um determinado Estado da Federação pode ter a intenção 
de atrair empresas para seu território. Para isso, ele investe na construção de um 
terminal portuário e uma rodovia de acesso ao terreno onde se instalará a empresa. 
Ao mesmo tempo, dá incentivos fiscais, como redução de impostos, por meio de 
uma legislação específica. 
Nesse caso, a legislação e os incentivos fazem parte do sistema de ações do 
Estado. A estrada, o porto e o terreno são agora parte do sistema de objetos. No 
entanto, a empresa pode ser atraída também pela disponibilidade de algum recurso 
natural, como água ou matérias-primas. A somatória desses atrativos é que vai 
determinar a instalação da empresa ou não.
Como explica Milton Santos (2005, p. 155): 
Vivemos com uma noção de território herdada da Modernidade incompleta 
e do seu legado de conceitos puros, tantas vezes atravessando os séculos 
praticamente intocados. É o uso do território, e não o território em si 
mesmo, que faz dele objeto da análise social. Trata-se de uma forma 
impura, um híbrido, uma noção que, por isso mesmo, carece de constante 
revisão histórica. O que ele tem de permanente é ser nosso quadro de 
vida. Seu entendimento é, pois, fundamental para afastar o risco de 
alienação, o risco da perda do sentido da existência individual e coletiva, 
o risco de renúncia ao futuro.
Essa proposta trata o espaço geográfico como uma instância social, isto é, como 
uma dimensão que condiciona o futuro das sociedades. Como dissemos, o espaço 
geográfico é produzido a partir de intencionalidades de projetos sociais e se realiza 
por meio da técnica e do trabalho. Ao mesmo tempo, o espaço produzido participa 
ativamente do movimento social do presente, influenciando a evolução histórica 
das sociedades.
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UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Devem ser consideradas as heranças que as sociedades recebem dos períodos 
passados e que condicionam a evolução presente. Essas heranças podem ser jurídicas 
(leis aprovadas há décadas que continuam em vigor, por exemplo), econômicas 
(dívidas públicas contraídas no passado que permanecem como compromissos 
presentes, por exemplo) ou culturais (os sistemas de valores que remontam a 
períodos anteriores, por exemplo). 
Da mesma forma, existem também heranças espaciais, chamadas por Milton 
Santos (2006) de rugosidades. Os centros históricos das cidades são o melhor exem-
plo dessa discussão, já que são compostos por uma morfologia construtiva que era 
funcional àquele período da história e, muitas vezes, não respondem às exigências 
do tempo presente. Se permanecerem na paisagem das cidades, essas construções 
tendem a acolher novos usos sociais, passando por processos de refuncionalização.
Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
As formas podem persistir, mas o conteúdo social dessas rugosidades é transforma-
do a partir dos imperativos do sistema de ações do período histórico presente. Assim 
como as áreas urbanas, as regiões agrícolas também podem ser refuncionalizadas. 
A modernização da agricultura brasileira promoveu transformações profundas 
nos conteúdos econômicos, políticos e sociais das regiões do território nacional. 
Para sintetizar, é possível afirmar que o espaço geográfico pode ser compreendido 
a partir de quatro dimensões (SANTOS, 1997, p. 50):
• A forma, a dimensão material do espaço geográfico, que coloca lado a lado, 
na paisagem, objetos produzidos em diversos períodos históricos; 
• A função, o conteúdo social que cada objeto geográfico assume em determinado 
momento da história, associado às intencionalidades dos agentes sociais; 
• A estrutura, a totalidade social composta por variáveis econômicas, políticas 
e culturais; 
12
13
• E o processo, o movimento histórico que transforma continuamente todas as 
dimensões do espaço geográfico.
Partindo dessa introdução, discutiremos em seguida alguns pares de conceitos 
fundamentais para a Geografia Agrária: urbano e rural, cidade e campo, questão 
agrícola e questão agrária.
Conceitos Básicos do Espaço Rural e Urbano
Há, na Geografia e em outras disciplinas, uma ampla discussão a respeito da 
diferenciação entre campo e cidade. Esse debate é tributário da conceituação de 
rural e urbano e das diferentes interpretações sobre os processos de urbanização e 
o futuro das áreas rurais.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
De acordo com José Eli da Veiga (2006), há duas hipóteses centrais nessa 
discussão. A primeira, formulada pelo filósofo Henri Lefebvre, defende que o par 
industrialização-urbanização promove uma ruptura nas relações historicamente 
constituídas entre campo e cidade, trazendo como consequência o avanço inexorável 
das áreas urbanas sobre as áreas rurais. 
Para esse autor, a principal tendência é que o campo seria submetido às cidades 
pela difusão de sistemas técnicos e valores culturais eminentemente urbanos.
Além da expansão das cidades sobre o entorno rural, o campo teria suas 
características originais esvaziadas, já que a rápida urbanização da sociedade e do 
território disseminaria o modo de vida urbano. O campo perderia a possibilidade 
de decidir sobre seu próprio futuro, já que as racionalidades que comandam seu 
desenvolvimento estariam localizadas nas cidades.
13
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Já para Lefebvre (2008, p. 12): 
Trazidas pelo tecido urbano, a sociedade e a vida urbana penetram nos 
campos. Semelhante modo de viver comporta sistemas de objetos e 
sistemas de valores. Os mais conhecidos dentre os elementos do sistema 
urbano de objetos são a água, a eletricidade, o gás (butano nos campos) 
que não deixam de se fazer acompanhar pelo carro, pela televisão, 
pelos utensílios de plástico, pelo mobiliário ‘moderno’, o que comporta 
novas exigências no que diz respeito aos ‘serviços’. Entre os elementos 
do sistemade valores, indicamos os lazeres ao modo urbano (danças, 
canções), os costumes, a rápida adoção das modas que vêm da cidade.
A segunda hipótese foi desenvolvida pelo geógrafo Bernard Kayser. Ao observar 
a evolução demográfica das áreas rurais dos países industrializados, Kayser (1990) 
percebe uma inflexão a partir dos anos 1970: depois de muitas décadas de declínio 
populacional, em vários países começa a haver uma retomada do crescimento 
demográfico das áreas rurais. O autor, portanto, defende que há um “renascimento 
rural” e que, portanto, ao contrário do esvaziamento de seus sentidos, o campo se 
recoloca como realidade geográfica em expansão. 
No Brasil, essas hipóteses se desdobraram em um conjunto de interpretações, 
sendo que há diversos autores que defendem que a urbanização da sociedade e do 
território brasileiro tem um impulso fortíssimo e redefine os conteúdos dos espaços 
rurais. Nessa interpretação, a modernização agrícola e a urbanização são processos 
paralelos, correspondendo à perda de autonomia do campo. 
Outros autores, por sua vez, defendem que há um “novo rural” em consolidação, 
marcado por atividades não agrícolas, como é o caso do economista José Graziano 
da Silva (1999). A divisão entre ‘urbano e rural’ e entre ‘cidade e campo’ é fundada 
em divisões técnicas, sociais e territoriais do trabalho. Historicamente, o campo 
deteve a centralidade do processo produtivo, enquanto a cidade abrigava as funções 
religiosas, administrativas e militares. 
No Brasil, o campo foi responsável pelo dinamismo econômico até o século XIX 
aproximadamente. Nesse período, “tratava-se muito mais da geração de cidades, que 
mesmo de um processo de urbanização” (SANTOS, 2008, p. 22), já que a economia 
agroexportadora não permitia o desenvolvimento expressivo de áreas urbanas. 
Esse quadro se altera somente em meados do século XIX, com o complexo 
cafeeiro em São Paulo, e se acelera com a industrialização e a integração nacional 
a partir da década de 1930.
14
15
Figura 5 – Plataforma petrolífera P-51 da Petrobras, a primeira 100% brasileira
Fonte: Wikimedia Commons
Quais critérios podem ser utilizados para diferenciar urbano e rural, cidade e campo?
O urbano corresponde ao conjunto de objetos técnicos e de valores sociais engendrados com 
a ascensão do capitalismo concorrencial e da burguesia industrial a partir do século XVIII, 
na Europa Ocidental (LEFEBVRE, 2008). Trata-se, portanto, de um modo de vida próprio 
do atual período histórico e que, desde a sua constituição, está em processo de expansão 
planetária. O urbano diz respeito, dessa forma, ao processo de constituição de um novo meio 
geográfi co, que rompe com as lógicas naturais e incorpora progressivamente conteúdos 
técnicos e científi cos funcionais à expansão do capitalismo (SANTOS, 2006). 
A cidade, apesar de existir muito antes da industrialização capitalista, passa a representar 
a forma espacial da urbanização. O mesmo pode ser dito em relação ao campo e ao rural: o 
campo corresponde às áreas onde o rural se manifesta.
Ex
pl
or
Para Endlich (2006, p. 14), a teorização sobre cidade e campo dá destaque às 
áreas urbanas: “o espaço rural nesse caso define-se por contraposição, de maneira 
residual”. Isso significa que o campo e o rural são tratados, normalmente, pelo 
critério da exclusão: as parcelas do território que não correspondem às cidades são 
enquadradas como campo.
15
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Esse é o caminho assumido pela legislação brasileira (Decreto-Lei 311, de 1938): 
considera-se cidade toda sede de municípios, e área rural é oficialmente definida 
como toda área que não esteja inserida no perímetro urbano. Essa definição é 
extremamente genérica e não permite uma melhor categorização das cidades e das 
áreas rurais no país. 
Alguns autores questionam a real parcela das cidades que podem ser consideradas 
urbanas, já que muitas das pequenas cidades do país ainda têm dinâmicas econômicas 
essencialmente rurais. 
José Eli da Veiga (2002), em um texto bastante conhecido, defende que as 
estatísticas oficiais da urbanização brasileira são fantasiosas e que o “Brasil é menos 
urbano do que se calcula”. Como explica o autor (VEIGA, 2002, p. 57-58): 
Essa anômala divisão territorial surgiu em 2 de março de 1938, no ápice 
do Estado Novo, quando o Decreto-Lei 311 determinou que “a sede do 
município tem a categoria de cidade”. Após 63 anos de estragos surge 
um bom Estatuto da Cidade que, lamentavelmente, é omisso sobre a ques-
tão. Urge, portanto, que outro diploma revogue esse entulho varguista e 
estabeleça critérios mais adequados ao século 21. Afinal, o Brasil urbano 
dificilmente será formado por mais do que 800 cidades que concentrarão, 
talvez, uns 70% da população. Outros 30% ou mais continuarão distribu-
ídos por milhares de pequenos municípios do vasto Brasil rural.
Ângela Endlich (2006) coloca que há quatro critérios empregados para distinguir 
áreas rurais de áreas urbanas:
• Leis e normas nacionais que definem cidade e campo, como citado anteriormente;
• Patamar demográfico, ou seja, a cidade é considerada de acordo com uma 
aglomeração populacional, sendo o campo marcado pela dispersão de pessoas;
16
17
• A concentração urbana ou a dispersão rural aparecem em relação à área 
ocupada pelas cidades ou pelo campo;
• O campo concentra as atividades primárias, sobretudo a agricultura e a 
pecuária, e na cidade há as atividades secundárias e terciárias.
No entanto, o campo acolhe cada vez mais atividades não agrícolas, como 
serviços dos mais variados segmentos. Há, dessa forma, uma dificuldade cada vez 
maior em conceituar o campo a partir dessa definição de atividades econômicas, 
já que a modernização agrícola leva para o campo um conjunto de atividades 
tipicamente industriais, além dos serviços que caracterizariam o “novo rural”. 
Os limites entre urbano e rural, campo e cidade são cada vez mais tênues no 
atual período. De acordo com Ariovaldo Oliveira (2008, p. 474-475), “o processo 
de industrialização da agricultura tem eliminado gradativamente a separação entre 
a cidade e o campo, entre o rural e o urbano, unificando-os dialeticamente”. É 
preciso, portanto, compreender os usos do território a partir da ideia de totalidade, 
isto é, perceber que os processos territoriais não se realizam apenas em áreas 
urbanas ou áreas rurais.
As interpretações que pensam o funcionamento sistêmico de campo e cidade 
– não separando um contexto que é unitário por definição – alcançam um 
entendimento muito mais avançado das questões territoriais brasileiras. Como 
coloca Maria Encarnação Sposito (2006, p. 112), a questão cidade-campo “requer 
a compreensão das relações e complementariedades que se estabelecem entre 
esses dois espaços”.
É fundamental considerar as relações entre campo e cidade a partir do 
entendimento das dinâmicas territoriais que articulam as duas áreas, levando em 
conta as lógicas de funcionamento que dão unidade ao urbano e ao rural a partir 
da análise da rede urbana. 
Toda cidade tem um entorno rural que é sua área de influência. Enquanto esse 
entorno rural desempenha um conjunto de atividades – agrícolas e não agrícolas – é a 
cidade que acolhe as funções de decisão, comando e cooperação com outras escalas. 
O campo poderia ser visto, então, como a área polarizada por uma cidade, 
que participa de redes urbanas com características mais ou menos hierárquicas, a 
depender da situação geográfica em questão. Para exemplificar, podemos voltar 
à região especializada na produção de soja: são as cidades dessa região que 
oferecem os serviços necessários à realização dessa produção, como encomenda 
de maquinário agrícola, recrutamento de trabalhadores especializados, acesso ao 
crédito por meio de agências de instituições financeiras, bem como um conjunto 
de atividades cotidianas que o campo não dispõe (residências,comércios, 
supermercados, restaurantes, atividades de lazer e entretenimento, entre outros).
Essas cidades locais – denominadas dessa forma por responderem aos ritmos de 
produção desse entorno mais restrito – estão em permanente contato com cidades 
médias, que oferecem serviços com maior nível de sofisticação, e metrópoles, que 
17
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
polarizam vastas áreas do território nacional por oferecerem produtos e serviços 
não encontrados em outros pontos da rede urbana. 
Para avançar em relação ao debate sobre o que é urbano e o que é rural no 
território brasileiro, Milton Santos (2008a) propõe uma regionalização que considera 
dois tipos principais: os espaços agrícolas e os espaços urbanos, que permitiriam 
superar as antigas dicotomias entre espaços urbanos e rurais. 
Os espaços agrícolas seriam aqueles que têm a dinâmica regional centrada 
nas atividades econômicas do campo. As cidades localizadas nessa região seriam, 
portanto, “cidades do campo”, já que as funções que desempenham estão 
essencialmente ligadas ao suporte necessário a essa produção. 
Já os espaços urbanos seriam aqueles que teriam a indústria e os serviços como 
as molas propulsoras de seu desenvolvimento. Nessas regiões, certamente se 
encontrariam áreas rurais, mas não seria a produção do campo a responsável 
pelos dinamismos locais e regionais. Como comenta Milton Santos (2008a, p. 76):
A região urbana tem sua unidade devido, sobretudo à inter-relação das 
atividades de fabricação ou terciárias, encontradas em seu respectivo 
território, às quais a atividade agrícola existente preferentemente se 
relaciona. A região agrícola tem sua unidade devido à inter-relação entre 
mundo rural e mundo urbano, representado este por cidades que abrigam 
atividades diretamente ligadas às atividades agrícolas circundantes e que 
dependem, segundo graus diversos, dessas atividades.
Desse modo, existem várias concepções sobre o espaço rural e urbano, ou 
espaço agrícola e urbano, conforme terminologias usadas. 
A Questão Agrícola e Agrária
Por fim, é necessário discutir a diferença entre questão agrícola e questão agrária. 
José Graziano da Silva (1980) introduziu essa distinção na literatura sobre o tema, 
alertando que essa diferenciação entre questão agrária e questão agrícola é mera-
mente analítica já que, na realidade concreta, as duas dimensões estão relacionadas.
Para o autor, a questão agrícola diz respeito às questões técnicas e econômicas 
estritamente relacionadas à produção agropecuária: “o que se produz, onde se 
produz e quanto se produz” (1980, p. 11). Uma crise agrícola, portanto, seria uma 
situação de escassez de alimentos e matérias-primas agropecuárias, bloqueando o 
desenvolvimento urbano e industrial do país.
A questão agrária, por sua vez, está relacionada às “relações de produção: como 
se produz, de que forma se produz” (idem). Dessa forma, uma crise agrária estaria 
relacionada a questões como disputas pelo acesso a terra, a concentração fundiária 
por poucos latifundiários, o rendimento dos trabalhadores do campo, entre outras. 
18
19
A estrutura agrária – a distribuição social das terras – é um dos temas fundamentais 
dessa questão. O autor chama a atenção para o fato de que, se as duas questões 
não forem consideradas, as crises do campo podem se agravar, mesmo quando há 
políticas para solucionar uma das questões.
Graziano Silva (1980, p. 11) explica:
A questão agrária está presente nas crises agrícolas, da mesma maneira que 
a questão agrícola tem suas raízes na crise agrária. Portanto, é possível ve-
rificar que a crise agrícola e a crise agrária, além de internamente relaciona-
das, muitas vezes ocorrem simultaneamente. Mas o importante é que isso 
não é sempre necessário. Pelo contrário, muitas vezes a maneira pela qual 
se resolve a questão agrícola pode servir para agravar a questão agrária. 
Em suma, o percurso das políticas brasileiras para o campo nas últimas décadas 
primou pela resolução da chamada questão agrícola, mas aprofundou ainda mais 
os problemas referentes à questão agrária.
19
UNIDADE Algumas Concepções Teóricas sobre o Espaço Rural e Urbano 
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Boletim Geográfico
GOMES, Ivair. O que é rural? Contribuições ao debate. Boletim Geográfico. Maringá, 
v. 31, n. 3, p. 81-95, set.-dez., 2013.
 Leitura
Revista Mercator
HESPANHOL, Rosangela A. de Medeiros. Campo e cidade, rural e urbano no Brasil 
contemporâneo. Revista Mercator. Fortaleza, v. 12, número especial (2), set. 2013, 
p. 103-112.
https://goo.gl/3o9XwA
Revista de Pesquisa Fapesp
IZIQUE, Cláudia. O novo rural brasileiro. Revista de Pesquisa Fapesp. Humanidades, 
Economia, 2000.
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