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Unidade III A Revolução Verde e a Modernização no Campo

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Prévia do material em texto

Geografia Agrária
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
A Revolução Verde e a Modernização no Campo
• Introdução
• Revolução Verde e Complexos Agroindustriais
• Fronteira Agrícola no Brasil
 · Tratar da Revolução Verde e das transformações no campo;
 · Evidenciar as modernizações no campo brasileiro;
 · Discutir as características dos complexos agroindustriais. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
A Revolução Verde e a 
Modernização no Campo
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Introdução
Nesta unidade, vamos abordar o primeiro período de modernização da agricul-
tura brasileira, ocorrido entre as décadas de 1960 e 1980.
Revolução Verde e Complexos 
Agroindustriais
A pesquisa e a inovação foram fundamentais no desenvolvimento histórico 
da agricultura mundial. O aumento da produtividade e o combate às pragas no 
campo, por exemplo, estão diretamente relacionados às iniciativas empreendidas 
por entidades de pesquisa públicas e privadas.
No Brasil, a pesquisa agronômica começa a se desenvolver ainda no século XIX, 
com a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1808, e do Instituto 
Fluminense de Agricultura, em 1860. De acordo com Szmrecsányi (1990), essas 
instituições produziam mudas e sementes, promoviam o melhoramento de espécies 
animais e testavam novas máquinas e equipamentos, entre outras atividades.
No estado de São Paulo, com o intuito de sustentar a ampliação do complexo 
cafeeiro em meados do século XIX, foram criados o atual Instituto Agronômico de 
Campinas (IAC), em 1887, e a Escola Superior de Agricultura “Luis de Queiroz” 
de Piracicaba, em 1899. As duas instituições são, até hoje, centros de referência 
da pesquisa agronômica no país e, além da experimentação de novas variedades 
agrícolas e um conjunto de outras atividades de pesquisa e desenvolvimento agro-
nômicos, foram responsáveis pela assistência técnica aos fazendeiros e trabalhado-
res rurais, difundindo novas técnicas de produção e práticas de cultivo e criação.
Com exceção do cultivo das principais commodities agrícolas voltadas à 
exportação (como o café), que receberam mais atenção e incorporaram pouco a 
pouco inovações em seus métodos produtivos, o panorama geral da agricultura 
brasileira no início do século XX era marcado pelo uso de técnicas de produção 
bastante rudimentares e pela baixa incorporação de tecnologias modernas.
 Esse quadro começa a se alterar a partir dos anos 1930, com o início do 
processo de industrialização do país. Esse impulso inicial da industrialização, apesar 
de começar a alterar o centro de gravidade da economia brasileira (do setor primário 
exportador para o setor industrial), não foi suficiente para modernizar amplamente 
a agricultura brasileira. Uma alteração ampla da base técnica da produção agrícola 
brasileira começa a acontecer somente a partir de meados dos anos 1960 e, mais 
aceleradamente na década de 1970, com a difusão da revolução verde no país.
8
9
Institui-se, assim, um novo paradigma produtivo, formulado e aplicado original-
mente nos Estados Unidos, que combinava alta intensidade de tecnologia e capital 
no campo, com o intuito de ampliar consideravelmente a produtividade agrícola e, 
em consequência, as quantidades produzidas.
A revolução verde propunha que as antigas práticas da agricultura tradicional 
fossem superadas por meio da adoção de pacotes tecnológicos, que englobavam 
novas variedades de sementes, correção prévia dos solos, maquinário agrícola 
(tratores, colheitadeiras, entre outros), irrigação mecanizada, fertilizantes e 
defensivos agrícolas, entre outras técnicas com um caráter industrial.
Como explica Samuel Frederico (2013, p. 71):
O paradigma da Revolução Verde se caracterizou pelo desenvolvimento 
- pelo menos para alguns produtores, culturas e regiões - de cultivares 
mais produtivos, sensíveis ao uso do pacote tecnológico difundido pelas 
grandes empresas em parceria com o Estado (máquinas, ferramentas, 
fertilizantes, agrotóxicos e irrigação.
Entre as questões presentes na base da formulação e da difusão internacional 
da revolução verde está o receio, por parte dos Estados Unidos e de outros países 
centrais, de que a urbanização acelerada que ocorria da periferia do mundo 
capitalista não fosse acompanhada pelo aumento da produção agrícola na mesma 
proporção, processo que poderia ampliar a fome e a desnutrição que são traços 
históricos desses países periféricos.
No período subsequente à Segunda Guerra Mundial, o mundo subdesenvolvido 
passa por uma inédita revolução demográfica: a diminuição brusca das taxas de 
mortalidade, associada à manutenção de altas taxas de natalidade, trouxe uma 
verdadeira explosão populacional em todos esses países. Além desse crescimento 
acelerado, o êxodo rural e as migrações inter-regionais alteraram por completo as 
dinâmicas demográficas até então existentes.
Mattelart (1994, p. 185) comenta este processo:
Contra a solução dita política, ela [revolução verde] oferecia a solução 
técnica a um problema social perigoso. Essas novas variedades de 
sementes acompanhadas por uma injeção de novas técnicas agrícolas, 
novos adubos químicos e novos modos de irrigação se apresentavam como 
o meio mais competitivo para fazer desaparecer o subdesenvolvimento e 
a fome no mundo.
O crescimento demográfico acelerado e a crise agrícola poderiam acirrar as 
tensões sociais e colocar em risco os fluxos de investimento estrangeiro e capitais 
transnacionais que se ampliavam com a instalação das corporações multinacionais 
nos países periféricos. A revolução verde, nesse contexto, buscava ampliar a 
produção de alimentos e outros gêneros agrícolas no mundo subdesenvolvido, 
marginalizando os camponeses e pequenos agricultores e contendo possíveis 
processos revolucionários.
9
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Os pacotes tecnológicos e o aparato institucional associado (instituições de 
pesquisa e assistência técnica, entre outros) foram difundidos internacionalmente 
a partir de pressões externas do governo dos Estados Unidos e de um conjunto 
de agências multilaterais, que forneciamdiversas modalidades de apoio financeiro 
(empréstimos e aplicações diretas de recursos) com o intuito de disseminar essas 
técnicas e práticas produtivas.
Podemos situar a revolução verde no conjunto de modelos voltados à manutenção 
dos mecanismos de dominação dos países subdesenvolvidos no pós-guerra, ao lado 
do controle de natalidade, de programas de alfabetização à distância e da difusão 
dos meios de comunicação com o intuito de difundir “atitudes modernas” e novas 
práticas de consumo (MATTELART, 1994).
Milton Santos (2003, p. 30-31) aborda sobre esta situação da modernização:
Sob o novo projeto, a modernização das áreas rurais aparece como 
imperativa. Ele contribuirá para a especialização regional e para a 
introdução de novos modelos de consumo que possibilitarão a difusão 
ou a expansão de uma economia monetária. A necessidade de capital 
será aprofundada juntamente com uma tendência para o assalariamento 
e com uma diminuição da mão-de-obra rural. A “Revolução Verde” 
ainda é recomendada, apesar do fato, geralmente reconhecido, de que 
ela implicou a formação ou consolidação de uma burguesia agrária e na 
proletarização de camponeses.
A criação de demanda para os setores industriais voltados à agricultura também 
teve importância crucial nessa discussão. Como tratamos na última unidade, há 
um conjunto de produtos industrializados que são consumidos pela agricultura 
moderna, como fertilizantes químicos, agrotóxicos ou maquinário agrícola.
A modernização da agricultura poderia, portanto, criar mercado consumidor 
para as indústrias químicas, por exemplo. Em um primeiro momento, os tratores e 
outros insumos eram importados. A produção de commodities em escala industrial 
no Brasil permitiu, acompanhando a estratégia do governo brasileiro, de substituir 
essas importações com a criação dessas indústrias no país.
Por um lado, a criação de indústrias nacionais diminuiu a dependência externa 
brasileira em alguns setores, como o de fertilizantes (tanto de tecnologia quanto 
de produtos importados) – um dos objetivos do Estado nacional no pós-guerra. 
Por outro lado, a adoção do paradigma da revolução verde trouxe muito endivi-
damento externo.
10
11
Os pacotes tecnológicos e a infraestrutura necessária para a modernização 
agrícola foram introduzidos nos países periféricos, de maneira geral, por meio de 
empréstimos internacionais. Para pagar as dívidas contraídas, começou a haver 
um esforço de exportação das commodities agrícolas e minerais e as preocu-
pações com o mercado interno passaram a ser constantemente colocadas em 
segundo plano:
“quanto à intensificação da agricultura para exportação, ela se torna 
imperativa para a modernização; o equipamento comprado no exterior 
deve ser pago”. (SANTOS, 2003, p. 31)
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Em síntese, é possível afirmar que a receita da revolução verde propunha que 
a crise agrícola dos países subdesenvolvidos fosse resolvida pela intensificação de 
capitais e tecnologias, e não pela distribuição de terras e o possível equacionamento 
da crise agrária. Ao lado do paradigma da revolução verde, os anos 1970 marcam 
o surgimento dos complexos agroindustriais (CAIs) no Brasil.
Os CAIs são formados pela associação técnica e econômica da produção 
agropecuária aos setores industriais, tanto a montante quanto à jusante. Isso 
quer dizer que a produção agropecuária consome bens de capital (tratores, por 
exemplo) e insumos (fertilizantes, por exemplo) de firmas industriais – a integração 
a montante.
11
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Além disso, os produtos agropecuários são destinados a indústrias de transfor-
mação, as agroindústrias – a integração a jusante. Muitas vezes, essas agroindús-
trias fazem parte de conglomerados que controlam a distribuição e a comerciali-
zação dos produtos finais, fechando o circuito. Para dar um exemplo, podemos 
pensar no caso da laranja: apenas uma pequena parte da produção nacional é 
vendida em feiras e supermercados sem processamento; a maior parte é destinada 
a agroindústrias que, a partir da fruta, produzem o suco e o colocam no mercado.
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
Os complexos agroindustriais, portanto, pressupõem a existência de uma 
“indústria para a agricultura”, fornecedora de insumos, e de uma “indústria da 
agricultura”, processadora dos produtos agrícolas (SZMRECSÁNYI, 1990; SILVA, 
1982). Uma interpretação muito recorrente na literatura especializada sobre os 
CAIs é que as atividades agrícolas perdem definitivamente sua autonomia, já que 
ficam subordinadas à hegemonia da indústria.
Há diversos estudos que comprovam a dependência cada vez maior dos produto-
res agrícolas em relação ao capital industrial e financeiro, instalado nas metrópoles.
Isnard (1982, p. 189) comenta este processo:
Tornada científica, a agricultura se encontra colocada na dupla dependência 
da indústria: primeiro, para a aquisição da energia, máquinas e produtos, 
depois para o escoamento de uma parte das suas colheitas. Muitos 
agricultores trabalham, com efeito, sob o regime de contratos subscritos 
com indústrias alimentares.
12
13
Na síntese de Szmrecsányi (1990, p. 61), os CAIs são “[...] conjuntos de 
estabelecimentos agropecuários e industriais funcionalmente inter-relacionados e 
organizadamente subordinados a um determinado centro de decisão, capaz de 
coordenar as atividades de todos os demais componentes do sistema”.
Portanto, como vimos na unidade I, a industrialização da agricultura e o surgimento 
dos CAIs como paradigma produtivo retira do campo o poder de decisão sobre a 
produção agropecuária regional e local. Esse comando passa a ser realizado cada 
vez mais pelas cidades, quer sejam as cidades médias ou as metrópoles nacionais.
Para Denise Elias (2007, p. 50), as dinâmicas criadas pelos CAIs são depen-
dentes de novas funções exercidas pelas cidades, que “fornecem parte da mão-
-de-obra, dos recursos financeiros, dos insumos químicos, das máquinas agrícolas, 
da assistência técnica agropecuária, etc.”. No caso brasileiro, a ascensão dos CAIs 
como modelo produtivo desloca o centro de decisão das atividades agrícolas – que 
anteriormente eram locais e regionais, de maneira geral – para as cidades médias 
e, sobretudo, São Paulo, que se torna a metrópole que regula praticamente todo o 
território nacional.
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
Atualmente, São Paulo sedia as sedes da maior parte dos bancos privados 
(nacionais e estrangeiros) existentes no país, a Bolsa de Mercadorias e Futuros 
(BMF, recentemente fundida com a Bolsa de Valores do país, a BOVESPA) e o 
CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São 
Paulo), o principal entreposto agrícola do Brasil. Esse conjunto de instituições tem 
o poder de determinar o financiamento à produção agropecuária, a formação dos 
preços futuros e a comercialização de boa parte dos produtos agrícolas nacionais.
13
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Figura 4
Fonte: Wikimedia Commons
Para entender a ruptura criada com os CAIs em relação à situação anterior, 
podemos voltar ao exemplo da laranja. Esse circuito teve, durante muito tempo, 
uma feição regional. Com a ascensão dos CAIs, a maior parte da produção é 
destinada às agroindústrias que, depois de processar a fruta, vendem o suco em 
todo o país. O mercado, portanto, se amplia consideravelmente e a produção 
ultrapassa os limites regionais que existiam anteriormente.
Ao mesmo tempo, o controle dessa produção deixa de ser regional, e os 
produtores agrícolas passam a ter um papel de decisão muito pequeno nesse 
circuito. A formação dos preços da laranja passa a obedecer às oscilações do 
mercado nacional, em um primeiro momento, e mesmo internacional, quando o 
suco de laranja brasileiro começa a ser preferencialmente exportado.
Figura 5 – Laranjal, em Avaré, SP
Fonte: Wikimedia Commons
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Os produtores, dessa forma, se tornam cada vez mais dependentes das indús-
trias que fornecemos insumos para a produção e da agroindústria que compra as 
frutas para transformar em suco. O controle da produção deixa de ser local e regio-
nal: as decisões que influenciam no crédito à produção, na formação do preço da 
laranja ou na comercialização dos produtos finais se concentram em São Paulo e 
no exterior do país. Os complexos agroindustriais inauguram, portanto, uma nova 
forma de regulação da produção agrícola, em que o campo e as regiões têm seu 
poder de decisão drasticamente diminuído.
Como comenta Oliveira (2008, p. 470):
A rápida expansão [da citricultura] nas décadas de 70 e 80 deveu-se, 
fundamentalmente, à introdução no mercado norte-americano e europeu 
do suco de laranja nacional”. Como consequência, o preço da laranja 
in natura no mercado interno tem-se nivelado ao preço do mercado 
internacional. Além disso, os fabricantes de suco procuram ampliar o 
mercado interno com suco industrializado, transformando o hábito do 
consumo da fruta ou do suco natural da laranja.
Os complexos agroindustriais, uma das expressões do paradigma produtivo da 
revolução verde, foram implantados no Brasil a partir de uma ação deliberada do 
Estado. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi criada em 
1973 para dar suporte à modernização da agricultura brasileira, desenvolvendo 
tecnologias adaptadas às condições do país. Hoje, a Embrapa é um dos principais 
centros de pesquisa e desenvolvimento agrícola do mundo. Ao mesmo tempo, 
o governo militar investiu pesadamente na criação de empresas públicas que 
passaram a produzir boa parte dos fertilizantes consumidos no país.
“Por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que 
englobou o I Plano Nacional de Fertilizantes, o Estado procurou reduzir 
a dependência externa, elevando a participação da produção nacional 
na oferta total de produtos finais. Investiu-se, principalmente, na 
produção de matérias-primas nitrogenadas e fosfatadas.” (FERNANDES, 
GUIMARÃES, MATHEUS, 2009, p. 205).
Houve, também, a criação de incentivos fiscais para a compra de tratores e 
outros maquinários agrícolas, com o intuito de acelerar a mecanização da produção 
agrícola. É possível concluir, portanto, que o primeiro período de modernização 
da agricultura brasileira foi marcado pela adoção do paradigma da revolução verde 
e pela formação dos complexos agroindustriais no Brasil. Esses processos tiveram 
como agente principal o Estado brasileiro que, além de regular diretamente o 
financiamento, a produção e a comercialização desses produtos, também se tornou 
produtor de insumos para a agricultura.
Essa modernização trouxe uma primeira onda de perda de autonomia dos 
produtores rurais e das regiões agrícolas, impulsionando a especialização produtiva, 
sobretudo de commodities para exportação, e a concentração do comando nas 
metrópoles. Associado a esses processos, a expansão da fronteira agrícola foi um 
processo fundamental desse período.
15
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
Fronteira Agrícola no Brasil
O conceito de fronteira é fundamental para compreender a constituição do 
território brasileiro e de outros países com passado colonial. No Brasil, o estudo 
clássico a empregar o conceito é do geógrafo francês Pierre Monbeig (1984). O 
autor analisou o povoamento dos estados de São Paulo e do Paraná durante a 
primeira metade do século XX, permitido pela consolidação da rede ferroviária, da 
criação de cidades e da instalação de atividades agropecuárias. 
O conceito de fronteira, portanto, trata do contato dinâmico entre um novo 
meio geográfico em expansão, marcado por conteúdos técnicos modernos, e 
áreas com conteúdos naturais mais pronunciados, geralmente de baixa densidade 
populacional. Isso não significa, porém, que as áreas assimiladas pela expansão das 
fronteiras são vazias e que o processo ocorre sem conflitos.
É preciso, certamente, reconhecer que as regiões ainda não incorporadas pela 
fronteira abrigam um conjunto de grupos sociais, como populações indígenas e 
tradicionais. Estas, historicamente, vêm sendo perseguidas e expropriadas de suas 
terras para dar lugar ao avanço das fronteiras agrícolas. 
O caso dos Estados Unidos é bastante emblemático. A ideia de fronteira é 
fundadora do imaginário territorial do país, já que os EUA se constituem a partir 
da “marcha para o oeste”. A fronteira aparece, nesse sistema de valores, como um 
processo que sobrepôs a civilização de origem europeia à pretensa barbárie dos 
grupos indígenas originais.
16
17
Esse discurso, na verdade, inviabiliza o extermínio indígena que ocorreu na mar-
cha para o este. De forma geral, a expansão das fronteiras significa, na raciona-
lidade do Estado e do mercado, a conquista de novos territórios que podem ser 
incorporados às lógicas de reprodução do capital. É um processo que permite o 
prolongamento das relações capitalistas de produção sobre um território mais vas-
to, subjugando formas tradicionais de produção ou sociabilidade.
Fronteira agrícola no Brasil: https://goo.gl/X3B9C9
Ex
pl
or
A expansão das fronteiras agrícolas, que é anterior à modernização agrícola, 
ganha um impulso forte com esse processo nas décadas de 1960 e 1980. Para 
tratar desse assunto, é preciso lembrar rapidamente do processo de integração 
territorial do país. A herança colonial deixou como marca a existência de diversas 
regiões agrário-exportadoras, que funcionavam como ilhas, conectadas ao exterior, 
mas muito pouco articuladas às demais regiões do país.
Por isso, o país se organizava como um arquipélago de regiões funcionalmente 
independentes, com o agravante de que o governo central tinha pouco poder de 
controle sobre o conjunto do território nacional. Esse quadro começa a se alterar na 
década de 1930, com a revolução que colocou Getúlio Vargas no poder. A unifica-
ção do território nacional e a constituição de um mercado único se tornam os gran-
des objetivos geopolíticos do Estado brasileiro, entre as décadas de 1930 e 1970.
Uma série de medidas políticas, fiscais e monetárias é colocada em prática 
para quebrar a antiga organização em arquipélago e permitir que as economias 
deixem de ser regionalmente fechadas e cedam espaço a um mercado nacional. 
Um traço distintivo do Brasil é a existência histórica de amplos “fundos territoriais” 
(MORAES, 2000): áreas não povoadas ou pouco aproveitadas do ponto de vista 
produtivo.
Nesse período, boa parte do Centro-Oeste e da região amazônica não era den-
samente ocupada e o Estado brasileiro passa a considerar o povoamento dessas 
regiões como uma necessidade fundamental para garantir a integração do terri-
tório nacional. A interiorização demográfica e econômica brasileira é vista como 
uma medida urgente para equilibrar a ocupação concentrada no litoral do país: 
a construção de Brasília, durante a década de 1950, se insere deliberadamente 
nessa estratégia.
Nesse contexto de integração territorial, a expansão das fronteiras agrícolas 
nas áreas de cerrado e na região amazônica passa a ser incentivada pelo governo 
federal, por meio de incentivos fiscais e projetos de colonização agrária, atraindo 
o interesse de proprietários de terras e trabalhadores rurais já estabelecidos em 
outras áreas do país.
17
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Nas áreas já consolidadas, a tendência à formação de latifúndios pressiona 
os pequenos trabalhadores rurais, que veem nas áreas de expansão da fronteira 
agrícola uma possibilidade de se tornar proprietários de terras e recriar a produção 
rural. Esse é um processo descrito pela literatura sobre o tema no Brasil e vêm 
ocorrendo há muitas décadas.
Durante a ditadura militar, boa parte dos trabalhadores rurais que não 
encontravam possibilidade ou tinham dificuldade de sobreviver economicamente 
nas áreas de produção consolidada migraram para o cerrado e para a Amazônia 
buscando melhores condições de vida.
O avanço das fronteiras agrícolas, portanto, gerou enormes fluxos migratóriose 
uma reorganização produtiva do território nacional. Esse processo, como vimos, foi 
fortemente impulsionado pelo Estado: uma das principais políticas foi a construção 
da malha rodoviária que integrou as regiões brasileiras e permitiu, dessa forma, a 
expansão das áreas de produção agrícola moderna.
Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001, p. 120) comentam este processo 
no Brasil:
Hoje, tanto os cinturões quanto as frentes pioneiras revelam que o 
território brasileiro tem incorporado muitas das características da chamada 
revolução agrícola, mas especialmente nas culturas de exportação, 
aquelas que consolidam a divisão territorial do trabalho mundial. Assim, 
esses produtos acabam por invadir, com velocidade cada vez maior, áreas 
antes destinadas às produções domésticas. Houve uma desvalorização 
das agriculturas alimentares básicas e de tradição nacional (como arroz, 
feijão e mandioca), e isto se dá com a colaboração do crédito público, da 
informação, da propaganda e dos novos consumos.
Parte das áreas de fronteira foi ocupada por assentamentos rurais, de pequenos 
proprietários. A maior parte, contudo, foi apropriada por grandes latifúndios – 
muitos deles improdutivos. Dessa forma, a expansão das fronteiras agrícolas não 
equacionou a questão agrária brasileira. Pelo contrário, houve um aprofundamento 
da concentração fundiária por parte de um número pequeno de latifundiários. 
O padrão da produção agrícola – historicamente marcado pela produção de 
commodities para exportação – se tornou ainda mais presente nas áreas das 
fronteiras modernas, como é o caso dos cerrados do Centro-Oeste, ocupado 
sobretudo pela produção de soja.
18
19
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
O Novo Tempo do Cerrado: Expansão dos Fronts Arícolas e Controle do Sistema de Armazenamento de Grãos
FREDERICO, Samuel. O novo tempo do cerrado: expansão dos fronts agrícolas e 
controle do sistema de armazenamento de grãos. Campinas: Annablume, 2010.
As Estratégias do Capital no Complexo da Soja
BERNARDES, Júlia Adão. As estratégias do capital no complexo da soja. In: CASTRO, 
Iná Elias de et alii (orgs.). Brasil: Questões atuais da reorganização do território. Rio 
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996, p.325-366.
Da Fachada Atlântica à imensidão Amazônica: Fronteira Agrícola e Integração Territorial
HUERTAS, Daniel Monteiro. Da fachada atlântica à imensidão amazônica: 
fronteira agrícola e integração territorial. São Paulo: Annablume, 2009.
 Filmes
Xingu
1h42min, mostra a criação do Parque Nacional do Xingu. Filme de Cao Hamburguer, 
2002, conta a história dos irmãos Villas-Boas.
19
UNIDADE A Revolução Verde e a Modernização no Campo
Referências
ELIAS, Denise. O meio técnico-científico-informacional e a reorganização do 
espaço agrário nacional. In: MARAFON, Glaucio; RUA, João; RIBEIRO, Miguel. 
Abordagens teórico-metodológicas em Geografia Agrária. Rio de Janeiro: 
EdUERJ, 2007.
FERNANDES, Eduardo; GUIMARÃES, Bruna; MATHEUS, Romulo. Principais 
empresas e grupos brasileiros do setor de fertilizantes. BNDES Setorial, Rio de 
Janeiro n. 29, p. 203-228, mar. 2009.
FREDERICO, Samuel. Agricultura científica globalizada e fronteira agrícola 
moderna no Brasil. Confins, n. 17, 2013. Disponível em: http://confins.revues.
org/8153?lang=pt
ISNARD, Hildebert. O espaço geográfico. Coimbra: Almedina, 1982.
MATTELART, Armand. A “revolução das esperanças crescentes”. In: ______. 
Comunicação-mundo: história das teorias e das estratégias. Petrópolis: Vozes, 
1994, p. 170-194.
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: 
Hucitec, 1984.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil: o 
território colonial brasileiro no “longo” século XVI. São Paulo: Hucitec, 2000.
OLIVEIRA, Ariovaldo. Agricultura brasileira: transformações recentes. In: ROSS, 
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