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Como mudar o mundo

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JURGEN APPELO 
 
 
 
 
 
 
COMO MUDAR O MUNDO 
Gestão de Mudanças 3.0 
 
 
 
Edição 1.1 
 
 
 
Tradução: 
André Faria Gomes 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 2012 
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  
Gestão	
  de	
  Mudanças	
  3.0	
  
	
  
Jurgen Appelo 
 
 
www.management30.com/how-to-change-the-world 
	
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © 2012 Jurgen Appelo 
Todas precauções foram tomadas na preparação deste texto. No entanto, o autor não assume 
nenhuma responsabilidade por erros ou omissões. Até mesmo algumas das piadas podem não ter 
sido intencionais. 
Esta publicação está protegida por direitos autorais, e os direitos autorais são de propriedade do 
autor, a menos que indicado o contrário. Deve-se pedir permissão ao autor antes de realizar 
qualquer tipo de reprodução. 
Versão 1.01 – Maio de 2012
	
  
Índice	
  
PRÓLOGO	
  ..........................................................................................................	
  VIII	
  
AGRADECIMENTOS	
  ...............................................................................................	
  X	
  
SOBRE	
  O	
  AUTOR	
  ..................................................................................................	
  XI	
  
PREFÁCIO	
  DO	
  AUTOR	
  ..........................................................................................	
  XII	
  
PREFÁCIO	
  DO	
  TRADUTOR	
  ...................................................................................	
  XIII	
  
DO	
  FRACASSO	
  AO	
  ENTUSIASMO	
  ............................................................................	
  1	
  
15	
  ANOS	
  DE	
  FRACASSOS	
  .............................................................................................................	
  2	
  
COMO	
  MUDAR	
  OUTRAS	
  PESSOAS	
  ..................................................................................................	
  3	
  
O	
  Pensamento	
  Complexo	
  ................................................................................................	
  4	
  
O	
  MÉTODO	
  MOJITO	
  ..................................................................................................................	
  5	
  
GESTÃO	
  DE	
  MUDANÇAS	
  3.0	
  ........................................................................................................	
  6	
  
Primeiro,	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  .......................................................................................	
  7	
  
Segundo,	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ..................................................................................	
  7	
  
Terceiro,	
  Estimule	
  os	
  Relacionamentos	
  ...........................................................................	
  7	
  
Quarto,	
  Mude	
  o	
  Ambiente	
  ...............................................................................................	
  7	
  
O	
  Supermodelo	
  da	
  Gestão	
  de	
  Mudanças	
  3.0	
  ..................................................................	
  8	
  
DANCE	
  COM	
  O	
  SISTEMA	
  ........................................................................................	
  9	
  
INSPECIONE	
  E	
  ADAPTE	
  (E	
  ANTECIPE	
  E	
  EXPLORE)	
  .............................................................................	
  11	
  
O	
  Modelo	
  PDCA	
  .............................................................................................................	
  12	
  
PLANEJAR	
  ..............................................................................................................................	
  13	
  
Qual	
  é	
  sua	
  Meta?	
  ...........................................................................................................	
  13	
  
Onde	
  está	
  indo	
  bem?	
  .....................................................................................................	
  14	
  
EXECUTAR	
  ..............................................................................................................................	
  15	
  
Quais	
  são	
  os	
  passos	
  cruciais?	
  .........................................................................................	
  15	
  
Quando	
  e	
  por	
  onde	
  você	
  começa?	
  ................................................................................	
  16	
  
VERIFICAR	
  ..............................................................................................................................	
  17	
  
	
   	
   Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  v	
  
Como	
  você	
  obtém	
  feedback?	
  ........................................................................................	
  17	
  
Como	
  você	
  mede	
  os	
  resultados?	
  ...................................................................................	
  18	
  
AGIR	
  .....................................................................................................................................	
  19	
  
Como	
  você	
  acelera	
  os	
  resultados?	
  .................................................................................	
  19	
  
SEJA	
  UM	
  PENSADOR	
  DA	
  COMPLEXIDADE	
  ......................................................................................	
  20	
  
COMPREENDA	
  AS	
  PESSOAS	
  .................................................................................	
  21	
  
ELIMINADO	
  AS	
  BARREIRAS	
  .........................................................................................................	
  22	
  
O	
  Modelo	
  ADKAR	
  ...........................................................................................................	
  23	
  
CONSCIÊNCIA	
  .........................................................................................................................	
  24	
  
Como	
  você	
  comunicará?	
  ................................................................................................	
  24	
  
Como	
  você	
  dará	
  o	
  exemplo?	
  .........................................................................................	
  26	
  
DESEJO	
  .................................................................................................................................	
  26	
  
Como	
  você	
  torna	
  urgente?	
  ............................................................................................	
  26	
  
Como	
  você	
  torna	
  atraente?	
  ...........................................................................................	
  27	
  
CONHECIMENTO	
  .....................................................................................................................	
  29	
  
Quem	
  ensinará?	
  .............................................................................................................	
  29	
  
Como	
  você	
  os	
  ensinará?	
  ................................................................................................	
  30	
  
HABILIDADE	
  ...........................................................................................................................	
  31	
  
Como	
  facilitar?	
  ...............................................................................................................	
  31	
  
Como	
  pode	
  ser	
  praticado?	
  .............................................................................................	
  31	
  
INCENTIVO	
  .............................................................................................................................	
  32	
  
Quais	
  são	
  os	
  ganhos	
  de	
  curto	
  prazo?	
  ............................................................................	
  32	
  
Como	
  tornar	
  sustentável?	
  .............................................................................................	
  33	
  
SEJA	
  UM	
  PESSOA	
  DE	
  PESSOAS	
  ....................................................................................................34	
  
ESTIMULE	
  OS	
  RELACIONAMENTOS	
  ......................................................................	
  35	
  
SIGA	
  A	
  CURVA	
  ........................................................................................................................	
  35	
  
A	
  curva	
  de	
  adoção	
  ..........................................................................................................	
  36	
  
PRECURSORES	
  .........................................................................................................................	
  38	
  
Você	
  está	
  comprometido?	
  .............................................................................................	
  38	
  
Quem	
  está	
  ajudando	
  você?	
  ...........................................................................................	
  38	
  
INOVADORES	
  ..........................................................................................................................	
  39	
  
Quem	
  serão	
  os	
  inovadores?	
  ..........................................................................................	
  39	
  
OS	
  PRIMEIROS	
  ADEPTOS	
  ...........................................................................................................	
  40	
  
Quem	
  são	
  os	
  primeiros	
  adeptos?	
  ..................................................................................	
  40	
  
Como	
  os	
  líderes	
  te	
  ajudarão?	
  ........................................................................................	
  41	
  
	
   	
   Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  vi	
  
A	
  PRIMEIRA	
  MAIORIA	
  ..............................................................................................................	
  42	
  
Como	
  você	
  atingirá	
  a	
  primeira	
  maioria?	
  ........................................................................	
  43	
  
Como	
  você	
  tornará	
  viral?	
  ...............................................................................................	
  43	
  
A	
  SEGUNDA	
  MAIORIA	
  ..............................................................................................................	
  44	
  
Como	
  você	
  lidará	
  com	
  os	
  céticos?	
  .................................................................................	
  44	
  
RETARDATÁRIOS	
  ......................................................................................................................	
  45	
  
Como	
  você	
  prevenirá	
  uma	
  recaída?	
  ..............................................................................	
  45	
  
ESPALHE	
  A	
  IDEIA	
  .....................................................................................................................	
  46	
  
MUDE	
  O	
  AMBIENTE	
  ..............................................................................................	
  47	
  
AUTO-­‐ORGANIZAÇÃO	
  COM	
  LIMITES	
  .............................................................................................	
  47	
  
Os	
  quatro	
  I’s	
  mais	
  Um	
  ....................................................................................................	
  48	
  
INFORMAÇÃO	
  .........................................................................................................................	
  50	
  
Como	
  você	
  dissemina	
  a	
  informação?	
  ............................................................................	
  50	
  
Como	
  você	
  facilita	
  a	
  comunicação?	
  ...............................................................................	
  50	
  
IDENTIDADE	
  ...........................................................................................................................	
  51	
  
Qual	
  é	
  a	
  identidade	
  do	
  grupo?	
  ......................................................................................	
  51	
  
Como	
  você	
  aumenta	
  a	
  pressão	
  dos	
  pares?	
  ...................................................................	
  52	
  
INCENTIVOS	
  ............................................................................................................................	
  53	
  
Como	
  você	
  incentiva	
  o	
  bom	
  comportamento?	
  .............................................................	
  53	
  
INFRAESTRUTURA	
  ....................................................................................................................	
  54	
  
Quais	
  barreiras	
  você	
  removerá?	
  ....................................................................................	
  54	
  
Que	
  recursos	
  de	
  orientação	
  você	
  utilizará?	
  ...................................................................	
  54	
  
INSTITUIÇÕES	
  ..........................................................................................................................	
  55	
  
Quem	
  pode	
  criar	
  regras?	
  ...............................................................................................	
  56	
  
OTIMIZE	
  O	
  AMBIENTE	
  ..............................................................................................................	
  56	
  
CONCLUSÃO	
  ........................................................................................................	
  58	
  
MUDANDO	
  A	
  GESTÃO	
  ..............................................................................................................	
  59	
  
Dançando	
  com	
  o	
  Sistema	
  ...............................................................................................	
  59	
  
Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ................................................................................................	
  60	
  
Estimule	
  os	
  Relacionamentos	
  ........................................................................................	
  60	
  
Mude	
  o	
  Ambiente	
  ..........................................................................................................	
  60	
  
AGORA	
  É	
  A	
  SUA	
  VEZ	
  .................................................................................................................	
  61	
  
	
   	
   Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  vii	
  
APÊNDICE	
  A:	
  JOGO	
  DOS	
  AGENTES	
  DE	
  MUDANÇA	
  .................................................	
  62	
  
APÊNDICE	
  B:	
  LIVRO	
  MANAGEMENT	
  3.0	
  ..................................................................	
  63	
  
APÊNDICE	
  C:	
  CURSO	
  MANAGEMENT	
  3.0	
  ................................................................	
  64	
  
APÊNDICE	
  D:	
  STOOS	
  NETWORK	
  ............................................................................	
  66	
  
APÊNDICE	
  E:	
  A	
  COMUNIDADE	
  AGILE	
  LEAN	
  EUROPE	
  ...............................................	
  67	
  
BIBLIOGRAFIA	
  ......................................................................................................	
  68	
  
 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  viii	
  
Prólogo	
  
Não é segredo algum que o mundo precisa de mudanças. Quando olhamos à nossa 
volta, neste nosso pequeno planeta, podemos ver que a raça humana conseguiu criar 
um conjunto de organizações que, cada vez mais, desanimam as pessoas que estão 
trabalhando e frustram aquelas para quem o trabalho está sendo realizado. Jovens 
que ingressam do mercado de trabalho, cada vez mais, se deparam com um mundo 
vazio e sem significado. 
Nossas organizações estão quebrando cada vez mais rápido. Apesar dos 
pronunciamentos confiantes dos líderes da atualidade, estudos evidenciam que 
nossas organizações estão bem menos produtivas do que já foram e que estão saindo 
o mercado cada vez mais rápido [Denning 2012a]. As maneiras pelas quais as coisas 
eram feitas no século 20 já não funcionam mais para nós [Denning 2012b]. 
Do mesmo modo, os métodos que utilizávamos no século 20 para lidar com 
mudanças também estão falhando. Aqueles programas de mudança, empurrados de 
cimapara baixo, que antes eram implantados, já não têm mais credibilidade 
suficiente para criar um verdadeiro senso de urgência ou uma versão significativa de 
um futuro do qual as pessoas, realmente, gostariam participar. 
Felizmente, Jurgen Appelo escreveu este guia sobre como fazer mudanças 
acontecerem em nosso mundo emergente. Trata-se de provocar mudanças que 
engajem as pessoas, de mente e coração. Trata-se de mudanças que se baseiam na 
criatividade e no talento de todos, e não apenas em estratégias de alguns experts que 
estão no topo da organização. 
Em vez de articular uma visão e “empurrá-la de cima para baixo”, esmagando os 
obstáculos, no caminho, trata-se de convidar as pessoas a ‘dançar’ com a 
complexidade. Em vez de recursos humanos, trata-se de importar-se com as pessoas. 
Em vez da tendência a uma hierarquia vertical, trata-se de estimular uma rede social 
horizontal. Em vez de construir barreiras para isolar a empresa de seu contexto, 
trata-se de engajar-se com o ambiente. 
Os primeiros passos no caminho certo são, geralmente, os mais difíceis e os mais 
importantes. Razões e argumentos não funcionam: apenas levam a contra-
argumentos e mais argumentos. Em vez disso, a melhor forma de começar é 
encontrar um exemplo em que seja possível ver que as coisas estão indo bem em 
algum lugar e, então, mostrá-lo através de uma história. Ao levar as pessoas a 
falarem através da narração de histórias sobre casos em que as coisas correram bem, 
as pessoas apresentam suas próprias ideias que contêm as sementes do futuro. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  ix	
  
As ideias descritas, neste livro, não foram concebidas em nenhuma ‘torre de marfim’ 
acadêmica. Elas são o produto de muitos fracassos. Jurgen é quase um perito em 
fracassos. Ele descreve, de forma encantadora, como fracassou por mais de quinze 
anos antes de descobrir caminhos mais produtivos. Felizmente, ele decidiu 
compartilhar conosco o que aprendeu nessa jornada. 
O desafio é maior e mais difícil do que pensamos. Quando os alicerces da sociedade 
estão quebrados, não é apenas uma questão de trabalhar duro ou encontrar uma 
solução rápida. Trata-se de sonhar mais alto, com ideias e pensamentos grandiosos, 
falando e agindo de forma diferente. Trata-se de persistir, mesmo quando parecer 
impossível. É preciso explorar além das fronteiras. Isso requer uma profunda 
mudança que implica desaprender muito do que se tinha como certo, coisas que são 
ensinadas em todas as escolas de negócios e assumidas como verdades fundamentais 
na maioria dos textos de gestão. 
Ao longo do livro, está descrita a história do Stoos Gathering, um evento do qual eu 
tive o privilégio de fazer parte. Vinte e uma pessoas reuniram-se, em janeiro de 2012, 
em um pequeno vilarejo, nas montanhas da Suíça, com a ideia absurda de criar uma 
bandeira comum, sob a qual, muitas pessoas que pretendem mudar organizações ao 
redor do mundo pudessem se unir e marchar lado a lado para criar um futuro 
melhor. Nós não tínhamos a menor ideia de que alguém pudesse notar ou se lembrar 
do que faríamos. Praticando os princípios descritos neste livro, dentro de um mês, 
nosso pequeno grupo cresceu para mais de seiscentas pessoas. 
Claro que este é apenas o começo. Ainda há muito o que realizar. O desafio é 
imenso e requer a participação de milhões. Mas como Margaret Mead, nós nunca 
duvidamos de que um pequeno grupo de pensadores comprometidos poderia mudar 
o mundo. Na verdade, essa é a única forma que funcionou até hoje. 
Stephen Denning 
Autor de The	
  Leader’s	
  Guide	
  to	
  Radical	
  Management e 
The	
  Leader’s	
  Guide	
  to	
  Storytelling. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  x	
  
Agradecimentos	
  
Este é um livro curto, e eu deveria tentar manter o tamanho desta seção 
proporcional ao restante deste trabalho. Mas eu não posso. Minha gratidão para com 
aqueles que me ajudaram, intencionalmente ou não, é enorme. 
Agradeço às pessoas que participaram dos meus cursos e palestras em conferências. 
Eu sempre gostei de boas discussões e de feedback, e não teria sido capaz de escrever 
este livro sem as estórias delas. 
Agradeço às pessoas ativas da comunidade Agile Lean Europe. Eu estou muito 
orgulhoso de ver que vocês transformaram uma ideia simples em realidade, e sou 
grato por isso ter me provocado e possibilitado que eu aprendesse muito sobre 
gestão de mudanças. 
Agradeço aos participantes do Stoos Network. É muito bom conversar e colaborar 
com pessoas apaixonadas pelas mesmas coisas que eu. 
Agradeço ao Steve Denning por concordar em escrever um maravilhoso prefácio 
para este pequeno livro. 
Agradeço aos revisores: Alyssa Fox, Andrea Chiou, Ángel Medinilla, Anne Schüßler, 
Arne Åhlander, Christine Koppelt, Christof Braun, Deb Hartmann Preuss, Erwin 
van der Koogh, Ewan O’Leary, Gitte Klitgaard Hansen, Jürgen de Smet, Lisa 
Crispin, Maarten Volders, Marcin Floryan, Mischa Ramseyer, Nina Kaurel, Peter 
Stevens, Rudie de Bruin, Saket Bivalkar, Ted M. Young, Voranc Kutnik, Yves 
Ferland, e Yves Stalgies. Juntos vocês me pouparam de uma série de 
constrangimentos. 
Agradeço a Nadira Rambocus, Erik Gille, Linda Hirzmann e Mick Schouten. É 
muito bom poder chamá-los de “membros da minha equipe” mesmo estando do 
outro lado do planeta. 
E agradeço a vocês, leitores do meu blog, seguidores do Twitter, amigos do 
Facebook, e leitores do livro. Vocês me mantêm caminhando. Não parem! 
Se este livro for um sucesso, da próxima vez, eu poderei até agradecer a mim 
mesmo. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  xi	
  
Sobre	
  o	
  autor	
  
Jurgen Appelo é escritor, palestrante, instrutor, empreendedor, ilustrador, 
desenvolvedor, gerente, blogger, leitor, sonhador, líder, livre-pensador, e... holandês. 
Desde 2008, Jurgen escreve para o popular blog NOOP.NL, 
que cobre assuntos como gestão ágil, engenharia de software, 
melhoria nos negócios, desenvolvimento pessoal, e teoria da 
complexidade. Ele é o autor do livro Management 3.0: Leading 
Agile Developers, Developing Agile Leaders, que descreve o papel 
do gestor em organizações ágeis. Ele também é um 
palestrante frequentemente convidado para falar em 
seminários e conferências de negócios ao redor do mundo. 
Depois de estudar Engenharia de Software, na Universidade 
de Tecnologia de Delft, e receber seu grau de mestre, em 
1994, Jurgen Appelo tem se ocupado em fomentar e liderar um variedade de 
negócios na Holanda, sempre na posição de líder de equipe, gerente ou executivo. 
Jurgen teve experiência de liderar uma multidão de 100 desenvolvedores, gerentes de 
desenvolvimento, gerentes de projetos, consultores de negócio, gerentes de 
qualidade, gerentes de serviços, e cangurus, alguns dos quais ele contratou 
acidentalmente. 
Atualmente, ele trabalha, integralmente, no desenvolvimento de treinamentos, livros, 
e outros tipos de conteúdos originais. Mas, às vezes, Jurgen deixa tudo de lado para 
passar algum tempo com sua crescente coleção de livros de ficção científica e 
fantasia, que ele empilha em uma estante que ele mesmo projetou. Ela tem 4 metros 
de altura. 
Jurgen mora em Roterdã (Países Baixos) – e em Bruxelas (Bélgica) – com seu 
cônjuge Raoul. Ele tem dois filhos, e um hamster imaginário, chamado George. 
 
jurgenappelo.com 
management30.com 
noop.nl 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  xii	
  
Prefácio	
  do	
  Autor	
  
Uma das questões que ouço com mais frequência: Como devo lidar com minha 
organização medíocre? Eu gosto do meu trabalho, mas eu não gosto do que a gestão 
está fazendo. Como lidar com isso? 
Bem, é fácil. Você tem três opções: 
1. Ignore. Mudar organizações é um trabalho duro. Se você não tem o vigor 
necessário para aprender como tornar-se um bom agente de mudança, 
então, pare de reclamar do que está ruim. Aceite que a organização é o que 
é, e aproveite as partes boas do seu trabalho. Nesse caso, você pode parar 
de ler, daqui. 
2. Peça demissão. A única razão pela qual organizações ruins existem é 
porque as pessoas não pedemdemissão. Faça um favor para o mundo e 
encontre um lugar melhor para trabalhar. Ajude organizações ruins a 
saírem de suas misérias não trabalhando para elas. 
3. Aprenda sobre gestão de mudanças. Muitas pessoas são péssimas em 
influenciar outras pessoas a mudarem organizações. Mas, se você levar a 
sério, você pode aprender a ser um agente de mudança mais eficiente. 
É como meu amigo Olaf Lewitz disse: “É pegar, largar, ou mudar…” 
Eu escrevi este livro para aqueles que escolheram a opção 3. 
 
Jurgen Appelo 
Roterdã, maio de 2012 
jurgen@noop.nl 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  xiii	
  
Prefácio	
  do	
  Tradutor	
  
A única coisa constante neste nosso mundo é a mudança. Albert Einstein disse que 
“A vida é como andar de bicicleta, para manter-se equilibrado você precisa estar em 
movimento”, o filósofo Heráclito de Éfeso disse que “Não se pode percorrer duas 
vezes o mesmo rio, por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação”. O fato 
é que o mundo está mudando o tempo todo, e que a mudança faz parte da natureza. 
Inclusive eu e você já não somos mais os mesmos que éramos na semana passada. E, 
sem dúvida, há algo que você gostaria de ver diferente no mundo à sua volta. Algo 
que você gostaria que fosse melhor, mais eficiente, mais divertido. 
Enquanto muitos de nós passa a vida reclamando que as coisas não são da forma 
como gostaríamos que fossem (que os políticos são corruptos, que a empresa é 
chata, que o mercado está dominado por mercenários, ou seja lá o que for que não 
está bem), Mahatma Gandhi foi um verdadeiro exemplo deixando-nos essa filosofia: 
“Seja a mudança que você quer ver no mundo”. 
Agilidade tem a ver com Melhoria Contínua. E nada melhora se permanecer como 
está. As coisas melhoram quando mudam. Então, para melhorar, sua organização 
precisa mudar. E eu tenho certeza que este livro pode te ajudar nesta missão. Você 
será apresentado a um super-modelo de gestão de mudanças desenvolvido por 
Jurgen Appelo que vai te ajudar a sistematizar o processo de mudança, e a estar 
preparado para lidar com os diversos desafios que o seu projeto de mudança vai te 
apresentar ao longo do caminho. E, é por isso que, pra mim, foi uma grande honra 
traduzir este livro para você pode ler agora. 
 
André Faria Gomes 
São Paulo, novembro de 2012 
andre@fariagomes.com 
	
   	
   Como	
  mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  1	
  
Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo	
  
Eu não faço a menor ideia de como mudar as pessoas, 
mas ainda assim eu mantenho uma longa lista de possíveis candidatos, 
só para o caso de algum dia eu descobrir. 
 
David Sedaris, Escritor Americano (1956). 
 
W. Edwards Deming escreveu, décadas atrás, que premiações em dinheiro são ruins 
para os negócios [Deming 1986]. Mas a maioria dos gerentes, ao redor do mundo, 
ainda as está utilizando. Peter F. Drucker disse, muito tempo atrás, que 
trabalhadores do conhecimento não podem ser subordinados de gerentes [Drucker 
1974], mas gerentes ainda agem como se fossem superiores de outras pessoas. Além 
disso, pesquisas já nos mostraram, inúmeras vezes, que as avaliações de desempenho 
não funcionam [Bobinski 2010]. Mas muitos gerentes ainda confiam nelas como sua 
principal técnica de avaliação. 
Por quê? 
Por que a gestão está mudando tão devagar (se é que está mudando)?. 
O Manifesto Ágil1 já causou um grande impacto no desenvolvimento de software ao 
redor do mundo, em questão de 10 anos considerando que, ainda, não terminamos, 
mas que já progredimos significativamente. Ainda assim, parece que o Oceano 
Ártico terá derretido antes que possamos ver a gestão tradicional substituída por um 
novo paradigma. 
Ideias para melhorar organizações já existem há décadas. Mesmo assim, pouco, de 
fato, já mudou. As mudanças na gestão dos negócios estão acontecendo em um 
ritmo glacial. Mas será que podemos acelerar a transformação da forma como as 
 
1 Agile Manifesto, http://agilemanifesto.org/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  2	
  
organizações são geridas? Será que podemos ‘esquentar’ as coisas? Será que 
podemos estimular um movimento para uma mudança global? 
Em conjunto com muitos outros pensadores e profissionais, eu estou em busca de 
ideias para estimular um movimento global para transformar organizações. Isso 
significa gestão de mudanças em proporções épicas, em escala global. Parece algo 
ambicioso? Sim. Difícil? Certamente. Possível? Eu não sei. Mas, pelo menos, é algo 
que me mantém ocupado. 
Neste livro, eu discutirei uma abordagem de gestão de mudanças que provou 
funcionar em escalas menores. Talvez também funcione numa escala global. Talvez 
ajude você em sua tentativa de mudar a sua organização. Definitivamente, já me 
ajudou a mudar a minha. 
Mas antes de vermos até aonde isso tudo pode nos levar, eu contarei a vocês sobre 
as muitas vezes que eu não fui capaz de mudar o meu ambiente. 
15	
  Anos	
  de	
  Fracassos	
  
Eu adoro me gabar pelo fato de eu ter fracassado por mais de 15 anos. Em 1992, eu 
tentei começar um boletim de notícias internacional sobre música dance e eu falhei. 
Em 1994, eu tentei lançar uma empresa de desenvolvimento de jogos e eu falhei. Eu 
passei três anos escrevendo um software de contabilidade e consegui vender para 
pouquíssimos clientes. Em 1997, com um amigo, eu dei início a uma empresa de 
software, que foi bem-sucedida por algum tempo, mas, que, por fim, junto com a 
empresa controladora, ruiu (assim como os diversos relacionamentos que eu tinha 
naquela época). 
Os primeiros sinais de mudança surgiram em 1999, quando eu criei uma empresa de 
Internet, que produzia rankings de jogos. Meu plano de negócios era tão 
impressionante que eu ganhei um prêmio nacional. Isso me ajudou a atrair um 
milhão de euros de investidores informais. Eu e minha equipe fomos muito bem- 
sucedidos em gastar todo esse dinheiro até o último centavo. Mas, apesar de tudo, 
nós não conseguimos nenhum cliente, e essa empresa também ruiu. Eu vou poupá-
lo dos meus tantos fracassos entre 2000 e 2008, que incluem um romance, um 
desenho animado, um blog, outro livro, e muitos projetos de software originais, mas 
condenados. De novo, e de novo, eu tentei causar algum impacto no mundo ao meu 
redor. E todas as vezes, eu falhei. 
Se eu desisti? Claro que não. 
A partir de 2008, por algumas razões inexplicáveis, as coisas começaram a mudar. 
Meu blog NOOP.NL tornou-se um sucesso, aclamado como o terceiro blog mais 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  3	
  
popular sobre desenvolvimento ágil do mundo [Saddington 2010]. Meu livro 
Management	
  3.02 é um sucesso, que me trouxe diversos convites para seminários e 
conferências. Meu curso também parece ser um sucesso, e está recebendo avaliações 
excelentes por todo o mundo. Meu último relacionamento se saiu tão bem que 
resolvemos nos casar. Minha ideia de dar início à comunidade Agile	
   Lean	
   Europe	
  
network3 resultou na ALE	
  20114, uma conferência pan-europeia extraordinária, que se 
realizou em Berlim, reunindo mais de 200 participantes. 
Às vezes, as pessoas me perguntam, “O que mudou?” ou “Como você fez isso?”. 
Na verdade, eu também estou tentando descobrir... 
Talvez eu tenha esgotado o suprimento de falhas que havia disponível para mim no 
universo. Talvez algum deus, lá em cima, tenha balançado a cabeça e dito: “Basta de 
fracasso para você. Se você continuar assim, não vai sobrar nada para o governo da 
Europa.” 
A única coisa de que eu tenho certeza é de que eu, agora, passo muito mais tempo 
aprendendo sobre como tornar-me um melhor escritor, um melhor palestrante, um 
melhor instrutor e um melhor agente de mudança. E parece que está valendo a pena. 
Seja qual for a razão, depois de tantas tentativas fracassadas de fazer as minhas ideias 
darem certo, eu aprendi algumas coisas sobre como ser um agente de mudança um 
tanto quantobem-sucedido e, certamente, muito persistente. Neste livro, eu 
contarei à você sobre as lições que eu aprendi. Espero que possa ajudar você a 
aprender mais rápido do que eu aprendi. 
Como	
  mudar	
  outras	
  pessoas	
  
A parte mais difícil da melhoria contínua nas organizações é mudar o 
comportamento das outras pessoas. (Ao menos, isso é o que as pessoas sempre 
dizem.) Quando as pessoas querem ser trabalhadores do conhecimento mais 
profissionais, ou querem ter um ambiente de trabalho mais sustentável, ou um 
trabalho de que, realmente, gostem, suas organizações (os sistemas ao redor dessas 
pessoas) nem sempre cooperam. Como você “torna” a gestão mais ágil? Como você 
pode convencer as pessoas de uma equipe a estudarem mais? Como você pode 
influenciar colegas a colaborarem em vez de competirem? Como você pode orientar 
clientes para que busquem contratos mais justos e colaborativos? 
Eu notei que todos esses desafios giram em torno da mesma pergunta: 
 
2 Management 3.0, http://www.management30.com/ 
3 Comunidade ALE, http://alenetwork.eu/ 
4 ALE 2011, http://ale2011.eu/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  4	
  
“ Como	
  podemos	
  mudar	
  os	
  comportamentos	
  das	
  outras	
  pessoas?	
  
Eu	
  sei	
  o	
  que	
  elas	
  deveriam	
  estar	
  fazendo,	
  mas	
  elas	
  não	
  o	
  fazem!	
  
Christof	
  Braun,	
  Consultor	
  de	
  Scrum	
  em	
  Frankfurt,	
  Alemanha	
  
Será	
  que,	
  realmente,	
  é	
  o	
  comportamento	
  das	
  pessoas	
  que	
  você	
  quer	
  
mudar?	
  Será	
  que	
  antes	
  você	
  não	
  quer	
  fazê-­‐las	
  compreender	
  o	
  porquê?	
  
Mudar	
  seus	
  sistemas	
  de	
  valores	
  e	
  crenças?	
  Se	
  você	
  conseguir	
  uma	
  
mudança	
  de	
  mentalidade,	
  as	
  pessoas	
  se	
  comportarão	
  de	
  maneira	
  
diferente.	
  Isso	
  poderá	
  levar	
  a	
  comportamentos	
  que	
  você	
  nem	
  sequer	
  
imaginava,	
  e	
  pode	
  ser	
  muito	
  melhor	
  do	
  que	
  o	
  que	
  você	
  estava	
  esperando.	
  
Estamos falando sobre o básico de gestão de mudanças. Todos nós queremos saber 
como mudar um sistema social complexo ou como mudar o mundo. É como na 
política, mas sem os guarda-costas. 
Felizmente, há muitos e muitos livros disponíveis sobre esse assunto. Switch [Heath 
2010], Fearless	
   Change [Manns, Rising, 2005], Leading	
   Change [Kotter, 1996], 
Influencer [Patterson 2008], e muitos outros oferecem centenas de páginas repletas 
de sugestões valiosas para agentes de mudança. Contudo, apesar de alguns desses 
livros serem muito bons, a maioria deles dá apenas algumas “pinceladas” a respeito 
de mudanças em sistemas sociais. 
O	
  Pensamento	
  Complexo	
  
Modelos simples, suportados por histórias inspiradoras, são bons para ajudar você a 
começar com o básico da gestão de mudanças. O mundo real, no entanto, é bem 
mais complexo do que a maioria dos modelos quer nos fazer crer. Nós precisamos 
de uma abordagem mais completa para a mudança organizacional. É muito difícil de 
prever como um sistema social complexo se comportará. Nós precisamos entender 
como influenciar o sistema como um todo, cutucando-o e, então, observando como 
ele responde. Como agentes de mudança, nós precisamos cutucar as pessoas, 
equipes, e organizações para que se reorganizem. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  5	
  
“ O	
  truque,	
  considerando	
  todas	
  as	
  possibilidades	
  de	
  
comportamentos	
  em	
  sistemas	
  complexos,	
  é	
  reconhecer	
  quais	
  
estruturas	
  contém	
  quais	
  comportamentos	
  latentes,	
  e	
  em	
  que	
  
condições	
  os	
  comportamentos	
  se	
  apresentam	
  –	
  então,	
  onde	
  for	
  
possível,	
  pode-­‐se	
  reorganizar	
  as	
  estruturas	
  e	
  condições	
  para	
  
reduzir	
  a	
  probabilidade	
  de	
  comportamentos	
  destrutivos,	
  e	
  
estimular	
  a	
  possibilidade	
  de	
  comportamentos	
  benéficos.	
  
-­‐	
  Donella	
  H.	
  Meadows,	
  Thinking	
  in	
  Systems	
  [Meadows	
  2008]	
  
Pessoas inteligentes dizem: “você não pode fazer as pessoas se comportarem de 
maneira diferente.” É verdade. Mas nós também não podemos “fazer alguém rir” ou 
“fazer alguém feliz”, o mínimo que podemos fazer é tentar. É sobre isso que a 
gestão de mudanças diz respeito. Faça o melhor que você puder. E na medida do 
possível, faça de forma mais inteligente do que uma tentativa aleatória qualquer. 
O	
  Método	
  Mojito	
  
Eu já disse, algumas vezes, em meu blog, e no meu livro, que eu não bebo cerveja, 
vinho, nem qualquer outra bebida alcoólica com exceção de mojitos. Eu faço isso na 
esperança de que, algum dia, eu serei surpreendido pela chegada espontânea de um 
refrescante mojito no meu quarto de hotel. Lamentavelmente, eu ainda não tive tanta 
sorte. Mas eu sou otimista, então, não perco a esperança. 
Uma coisa que eu acho fascinante sobre mojitos é como o seu sabor pode ser tão 
maravilhoso, ainda que, separadamente, cada ingrediente, seja, na realidade, sem 
graça. E eu percebi que a mesma coisa se aplica a ideias. Quando você combina 
diferentes ideias de diferentes fontes, uma nova ideia emerge de ambas as partes 
tornando as ideias anteriores melhores. 
Eu chamo isso de Método Mojito. 
Meus amigos dizem que eu faço excelentes mojitos. Eu também sou habilidoso em 
aplicar o método mojito. Eu tomo ideias de outras pessoas, misturo-as, e as uso de 
uma forma bem mais útil do que as ideias originais separadas (pelo menos, eu acho). 
No meu livro, eu descrevi por que isso pode funcionar: 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  6	
  
“ Pesquisas	
  recentes	
  apresentaram	
  que	
  copiar	
  ideias	
  é	
  o	
  modo	
  mais	
  
bem-­‐sucedido	
  de	
  todas	
  as	
  estratégias	
  [de	
  melhoria].	
  [...]	
  Isso	
  
indica	
  que	
  times	
  devem	
  passar	
  a	
  maior	
  parte	
  do	
  tempo	
  (de	
  
aprendizado)	
  copiando	
  ideias	
  de	
  outras	
  fontes.	
  Apenas	
  uma	
  
pequena	
  parte	
  do	
  tempo	
  deveria	
  ser	
  usada	
  para	
  inventar	
  suas	
  
próprias.	
  
	
  
-­‐	
  Jurgen	
  Appelo,	
  Management	
  3.0	
  [Appelo	
  2011a]	
  
O Método Mojito faz sentido para qualquer um que queira inovar sem a preocupação 
de inventar algo completamente novo. Eu fiz isso com a Porta	
   da	
   Felicidade (ou 
Hapiness Door - uma combinação de quadro	
  de	
  feedback e do índice	
  de	
  felicidade), com 
o Pôquer	
   da	
   Delegação (uma combinação de liderança	
   situacional, áreas-­‐chave	
   de	
  
decisão, e pôquer	
  do	
  planejamento), e com o jogo Moving	
  Motivators (adaptado dos 16	
  
Desejos	
   Básicos [Reiss 2002] e da Teoria	
   da	
   Auto-­‐determinação	
   [Deci, Ryan 2002]). 
[Appelo 2011b] [Appelo 2011c] [Appelo 2011d] 
Agora, eu quero aplicar o Método Mojito para mudar a gestão de mudanças. Eu 
posso ajudar você a vencer a resistência às mudanças, e a misturar as coisas um 
pouquinho... 
Gestão	
  de	
  Mudanças	
  3.0	
  
Não importa o quão grande é a cadeira do CEO, uma organização não é uma 
máquina guiada por um chefe. É uma rede social. As pessoas interagem, umas com 
as outras, em todos os níveis da hierarquia corporativa. Ainda que entregar um 
produto ou serviço seja bem diferente de ‘se alcançar a manteiga’, enquanto se bate 
papo, durante o almoço, ambos envolvem redes sociais. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  7	
  
“ Nós	
  acreditamos	
  [...]	
  que	
  organizações	
  podem	
  se	
  tornar	
  redes	
  de	
  
aprendizagem	
  compostas	
  de	
  [diversos]	
  indivíduos	
  gerando	
  valor.	
  
	
  
-­‐	
  Afirmação	
  do	
  Stoos	
  Gathering5	
  
Quando você quiser mudar comportamentos de algo como um sistema social 
complexo, você precisa entender os quatro aspectos da gestão de mudanças. 
Primeiro,	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  
Uma rede social é complexa e adaptativa [Mitchell2009]. Ela vai se adaptar às suas 
ações, e você também deve se adaptar à rede social. É como dançar com o sistema. 
Um pensador complexo compreende que mudanças, raramente, acontecem através 
um caminho direto, e que elas, geralmente, têm, como consequência, alguns pés e 
cotovelos machucados. 
Segundo,	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  
Saiba que as pessoas são a parte crucial do sistema social, e que elas são diferentes 
umas das outras. Não há uma abordagem única que sirva para todos. Simplesmente 
pedir para que as pessoas mudem, raramente, é suficiente. A diversidade é o que faz 
sistemas complexos funcionarem, e é, por isso, que trabalhar com uma diversidade de 
métodos é crucial para lidar com as pessoas. 
Terceiro,	
  Estimule	
  os	
  Relacionamentos	
  
Entenda como um comportamento se espalha através de um sistema complexo. Em 
uma rede social, tudo gira em torno de indivíduos e das interações entre eles. 
Comportamentos se espalham, de forma viral, e estimular a rede social pode ajudar a 
se vencer a resistência às mudanças e a transformar uma organização por completo. 
Quarto,	
  Mude	
  o	
  Ambiente	
  
As pessoas sempre se organizam dentro do contexto de um ambiente. O ambiente 
determina como o sistema pode se auto-organizar, e você deve ser capaz de ajustar o 
ambiente. Isso porque o comportamento das pessoas depende do ambiente, e se 
você mudar o ambiente, você também muda as pessoas. 
 
5 Stoos Network, http://www.stoosnetwork.org/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Do	
  Fracasso	
  ao	
  Entusiasmo♦	
  8	
  
 
FIGURA	
  1:	
  Os	
  quatro	
  aspectos	
  da	
  Gestão	
  de	
  Mudanças	
  3.0	
  
O	
  Supermodelo	
  da	
  Gestão	
  de	
  Mudanças	
  3.0	
  	
  
Se você compreender esses quatro aspectos da gestão de mudanças: Parabéns! Você 
poderá aplicar o supermodelo da Gestão de Mudanças 3.0 (Figura 1). Eu o chamo de 
supermodelo porque contém alguns modelos menores e famosos para lidar com 
mudanças, cada um atacando um dos quatro aspectos que foram apresentados. É o 
Método Mojito aplicado à Gestão de Mudanças. 
1. Dance com o Sistema – com o modelo PDCA 
2. Compreenda as Pessoas – com o Modelo ADKAR 
3. Estimule os Relacionamentos – com o modelo da Curva	
  de	
  Adoção 
4. Mude o Ambiente – com o modelo dos Cinco	
  I’s 
Cada um dos quatro modelos menores está descrito nos próximos quatro capítulos. 
Compreendendo o supermodelo, você estará em uma ótima posição para tentar e 
“fazer” as pessoas mais ágeis, mais habilidosas e mais colaborativas, ou - se você 
gosta de um bom desafio - mais dispostas a assistir a uma apresentação de seu coral. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  9	
  
Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  
É importante que um objetivo nunca seja definido em termos de atividades ou métodos. Deve estar sempre 
relacionado diretamente com uma vida melhor para todos. O objetivo do sistema deve estar claro para todos no 
sistema. O objetivo tem que incluir planos para o futuro. O objetivo é um juízo de valor. 
 
W. Edwards Deming, Estatístico Americano (1900 - 1993) 
Em janeiro de 2012, um grupo de 21 líderes do pensamento, fomentadores de ideias, 
coaches, consultores, e praticantes de gestão reuniram-se, em Stoos na Suiça (FIGURA 
2), com o objetivo de “discutir sobre como acelerar mudanças na gestão e as 
transformações organizacionais”. O evento foi organizado por Steve Denning, Franz 
Röösli, Peter Stevens, e por mim. Foi uma das experiências de aprendizado mais 
cansativas e recompensadoras que eu já tive. 
Além do apoio entusiástico e das mensagens encorajadoras, os participantes do Stoos 
Gathering também receberam algumas reações negativas, tanto ao longo do evento 
quanto após evento. Nós fomos acusados por alguns de “não sermos abertos e 
transparentes”. 
O que fizemos de errado? 
Bem, para ser sincero, os organizadores (inclusive eu) somos culpados por termos 
anunciado publicamente que estávamos organizando um evento particular, e por 
termos pedido opiniões de nossos leitores e seguidores. Tais anúncios públicos (e 
pedidos de opiniões) não aconteceram em eventos particulares anteriores, como nos 
eventos que deram origem ao Manifesto	
   Ágil6 e à Declaração	
   de	
   Interdependência7. 
Infelizmente, nossa abertura anterior ao evento conflitou com a necessidade de 
privacidade de alguns dos participantes durante o evento. Como grupo, nós 
decidimos respeitar essa necessidade de privacidade, que levou a um (relativo) 
 
6 Manifesto Ágil, http://agilemanifesto.org/ 
7 Declaração de Interpendência, http://pmdoi.org/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  10	
  
silêncio nas redes sociais enquanto estávamos discutindo em particular. Entretanto, 
ainda que eventos anteriores não tenham divulgado nada enquanto os participantes 
estavam reunidos, algumas pessoas perturbaram-se com nosso silêncio repentino. 
Elas expressaram essa preocupação, abertamente, em alto e bom som. Nenhum dos 
participantes havia previsto que isso poderia acontecer. 
 
FIGURA	
  2:	
  Vista	
  em	
  Stoos,	
  do	
  hotel	
  
Depois do que aconteceu, o feedback tornou-se compreensível e óbvio. No 
pensamento complexo nós chamamos isso de coerência	
   retrospectiva. Nós não 
havíamos previsto isso, mas, depois que os fatos aconteceram, tornou-se 
completamente compreensível. Infelizmente, sem experiência direta na organização 
de um evento como esse, é impossível gerenciar essas incógnitas. Nós, apenas, 
podemos aprender, iterar, inspecionar e adaptar. 
Como um agente de mudança, é importante valorizar todas as discussões, tanto as 
boas quanto as ruins, porque, quando as pessoas criticam o que você está fazendo, 
isso significa que elas se importam com o assunto. Seria preocupante se o silêncio de 
nossos leitores e seguidores tivesse sido mais ensurdecedor do que o nosso silêncio 
ao longo do evento. Além disso, como alguns apontaram, os fervorosos debates 
foram um reflexo da complexidade do problema que nós estávamos tentando 
solucionar. Se todos tivessem simplesmente concordado, em primeiro lugar, não 
haveria problema algum! 
Neste capítulo, nós iremos mais a fundo no tema de melhoria contínua, ou gestão 
contínua de mudanças. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  11	
  
Inspecione	
  e	
  Adapte	
  (e	
  Antecipe	
  e	
  Explore)	
  
Uma organização é um sistema complexo adaptativo (FIGURA 3). Ela se adaptará ao 
que você fizer. Então, você também deve adaptar-se, continuamente, à forma com 
que o sistema responde. Isso é refletido nas palavras inspecionar	
   e adaptar, 
utilizadas, com frequência, na comunidade Ágil. 
 
FIGURA	
  3:	
  Uma	
  organização	
  como	
  um	
  sistema	
  complexo	
  adaptativo	
  
Mas… adaptação não é suficiente. Se adaptar-se é tudo que você faz, isso significa 
que o sistema está sempre na liderança. As pessoas que nunca dirigem um sistema 
estão, meramente, seguindo-o para onde quer que ele vá! Por isso, como um agente 
de mudança, você precisa combinar a adaptação com antecipação e exploração, ou, 
em outras palavras: 
“ Nós	
  não	
  podemos	
  controlar	
  sistemas	
  ou	
  decifrá-­‐los.	
  Mas	
  nós	
  
podemos	
  dançar	
  com	
  eles.	
  
	
  
-­‐	
  Donella	
  Meadows,	
  Thinking	
  in	
  Systems	
  [Meadows	
  2008]	
  
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  12	
  
O	
  Modelo	
  PDCA	
  
Isso não é novidade. De fato, muitas décadas atrás, alguns dos primeiros pensadores 
sistêmicos, como W. Edwards Demming e Walter A. Shewhart, já haviam descrito 
esse princípio. O modelo PDCA (FIGURA 4) foi desenvolvido por Shewhart, no início 
da década de 1920 e foi popularizado por Demming, na década de 1950. 
 
FIGURA	
  4:	
  PDCA	
  (Planejar,	
  Executar,	
  Verificar,	
  Agir)	
  
PDCA, que corresponde a Planejar, Executar, Verificar	
   e	
   Agir,é uma processo 
iterativo de quatro passos. Cada uma de suas iniciativas de gestão de mudanças 
consiste em uma sequência de intervenções em um sistema (ou em seu ambiente), 
onde você quer verificar os efeitos das intervenções no sistema (ou em si próprio). 
Quando suas ações funcionam como você queria, você, então, segue para o próximo 
passo. Quando não funcionam, você tenta algo diferente. É um ciclo sem fim de 
definir	
  metas	
   (Planejar), implementar	
   ideias	
   (Executar), medir	
  o	
   feedback (Verificar) e 
analisar	
  os	
  resultados	
  (Agir). 
Dançar com o sistema diz respeito a liderar e seguir. É um ciclo contínuo de planejar 
uma direção, dar um passo, sentir o resultado, e avaliar o sucesso. É uma 
combinação de antecipação, adaptação e exploração. 
O conceito do modelo PDCA está baseado no método cientifico de hipóteses, 
experimentação, e avaliação. Há muitos modelos alternativos disponíveis, tais como: 
Avaliar-Analisar-Medir-Melhorar	
   [Pulford 1996], Definir-Medir-Melhorar-Controlar-
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  13	
  
Analisar8, e Criar-Medir-Aprender [Ries 2011], mas eu prefiro ficar com o bom e velho 
modelo Planejar-Executar-Verificar-Agir, porque é simples, e ainda assim, eficiente o 
bastante para o nosso propósito. 
Especialmente no caso de dançarinos inexperientes, os resultados intermediários 
inevitáveis – de ir para a direção errada, ‘pisar nos dedos de alguém’, ou colidir com 
outras iniciativas – são, para muita gente, o aspecto mais desafiador da gestão de 
mudanças. Existe apenas um remédio: aprender a ser um melhor dançarino. 
Planejar	
  
Eu não acredito que as pessoas não gostam de mudanças. A internet, o iPad, e a 
Lady GaGa têm provado o oposto. Entretanto, eu estou disposto a acreditar que o 
que pessoas não gostam é da sua sugestão de mudança. Eu estou certo de que elas 
vão resistir à sua mudança porque não estão convencidas que devem mudar com 
você. Vejamos como esse problema pode ser resolvido. 
Qual	
  é	
  sua	
  Meta?	
  
Antes de qualquer coisa, para fazer as pessoas se mexerem, nós precisamos de uma 
meta. É vital deixar claro o que você quer realizar. Será que você pode retratar um 
mundo melhor? Ou uma organização melhor? Você pode descrever uma visão e um 
ponto de chegada em que as pessoas vão querer acreditar? Você está pronto para 
usar estórias, metáforas, e recursos visuais para transmitir melhor a sua mensagem? 
“ Quando	
  há	
  uma	
  visão	
  original	
  (ao	
  contrário	
  da	
  maioria	
  das	
  visões	
  
organizacionais),	
  as	
  pessoas	
  superam-­‐se	
  e	
  aprendem,	
  não	
  porque	
  
lhes	
  foi	
  dito,	
  mas	
  porque	
  o	
  querem.	
  
	
  
-­‐	
  Peter	
  M.	
  Senge,	
  The	
  Fifth	
  Discipline	
  [Senge	
  2006]	
  
• Em	
  fevereiro	
  de	
  2011,	
  eu	
  queria	
  que	
  os	
  praticantes	
  de	
  Agile	
  e	
  Lean,	
  na	
  
Europa,	
  colaborassem	
  mais	
  para	
  além	
  de	
  suas	
  fronteiras,	
  porque	
  eu	
  
percebi	
  que	
  havia	
  pouca	
  interação	
  entre	
  as	
  comunidades	
  de	
  diferentes	
  
países.	
  Eu,	
  então,	
  elaborei	
  uma	
  visão	
  em	
  que	
  as	
  comunidades	
  
europeias	
  trabalhavam	
  juntas.	
  Em	
  diversas	
  publicações	
  de	
  blog,	
  eu	
  
 
8 Six Sigma, http://en.wikipedia.org/wiki/Six_Sigma 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  14	
  
ressaltei	
  o	
  que	
  poderíamos	
  alcançar	
  retratando	
  um	
  mundo	
  melhor	
  
[Appelo	
  2011e].	
  E	
  deu	
  certo!	
  Alguns	
  meses	
  mais	
  tarde,	
  40	
  pessoas	
  de	
  
toda	
  a	
  Europa	
  reuniram-­‐se	
  e	
  traduziram	
  suas	
  esperanças	
  e	
  sonhos	
  
para	
  a	
  Agile	
  Lean	
  Europe	
  através	
  de	
  um	
  modelo	
  físico	
  criado	
  com	
  Lego	
  
(FIGURA	
  5),	
  e	
  uma	
  explicação	
  em	
  um	
  vídeo	
  no	
  YouTube9.	
  Essa	
  
visualização	
  física	
  ajudou	
  a	
  tornar	
  a	
  visão	
  compartilhada	
  muito	
  mais	
  
tangível	
  e	
  concreta.	
  
 
FIGURA	
  5:	
  Visão	
  da	
  Agile	
  Lean	
  Europe10	
  
Onde	
  está	
  indo	
  bem?	
  
Quando já se sabe aonde se quer chegar, a melhor forma de começar é encontrar um 
exemplo de algum lugar em que as coisas estejam indo bem e, então, copiar os bons 
comportamentos. Tente encontrar uma situação que possa servir como um exemplo 
notável de como você quer que as coisas sejam, ou, em outras palavras, faça o que 
puder para encontrar boas referências. 
Em muitas iniciativas de mudanças, você não precisa começar do zero. Você apenas 
precisa procurar por coisas que já estão funcionado bem e, então, pode começar 
com elas. Não foque, excessivamente, no resultado final, foque nos primeiros 
comportamentos. Não em todos eles, mas naqueles vitais que poderão fazer a 
diferença. 
 
9 Visão da Comunidade ALE, http://www.youtube.com/watch?v=Zg2PMv8lFUA 
10 Foto por Olaf Lewitz, Agile42, usada com permissão 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  15	
  
• Peter	
  Stevens,	
  um	
  coach	
  de	
  scrum,	
  me	
  disse	
  que	
  sempre	
  que	
  ele	
  
começa	
  a	
  trabalhar	
  com	
  um	
  novo	
  time,	
  ele	
  pergunta	
  para	
  as	
  pessoas	
  o	
  
seguinte:	
  “Qual	
  foi	
  o	
  seu	
  melhor	
  projeto?”	
  Ele	
  diz	
  que	
  as	
  pessoas,	
  
então,	
  compartilham	
  suas	
  melhores	
  práticas	
  através	
  de	
  estórias	
  e,	
  
assim,	
  sempre	
  podem	
  encontrar	
  práticas	
  de	
  senso	
  comum	
  que	
  outras	
  
pessoas	
  chamam	
  de	
  Agile	
  ou	
  Lean.	
  Mas	
  ele	
  diz,	
  	
  “Eu	
  não	
  peço	
  aos	
  
times	
  que	
  utilizem	
  Scrum	
  ou	
  Kanban.	
  Se	
  o	
  projeto	
  atual	
  deles	
  não	
  é	
  o	
  
melhor	
  projeto	
  de	
  que	
  já	
  participaram,	
  eu,	
  então,	
  pergunto	
  a	
  eles:	
  o	
  
que	
  precisa	
  ser	
  feito	
  para	
  que	
  o	
  projeto	
  atual	
  torne-­‐se	
  o	
  seu	
  melhor?	
  
Isso	
  os	
  ajuda	
  a	
  aplicar	
  práticas	
  e	
  abordagens	
  que	
  eles	
  acabam	
  
redescobrindo.”	
  	
  
Seu pedido de mudança pode ser difícil para muitas pessoas. Não o torne ainda mais 
difícil exigindo grandes passos em um território desconhecido. Mostre a elas que o 
lugar a que você quer chegar é um bom lugar para se estar e, então, entre em acordo 
com elas, em relação aos primeiros passos simples. 
Executar	
  
Você não pode introduzir mudanças se você não sabe o que quer que as pessoas 
façam. Como você define o que é um “bom comportamento”? Quais são os 
movimentos críticos que as pessoas devem realizar? 
Quais	
  são	
  os	
  passos	
  cruciais?	
  
Para fazer com que as pessoas se mexam, comece com pequenos passos. Não basta, 
simplesmente, mostrar a visão geral para eles; é também necessário apresentar metas 
de curto prazo que sejam claras e realistas. Sim, uma visão abrangente é necessária, 
mas os passos críticos para caminhar na direção certa devem ser simples o suficiente 
para que todos possam compreendê-los. 
• Em	
  2001,	
  em	
  uma	
  estação	
  de	
  esqui,	
  em	
  Utah,	
  17	
  pessoas	
  reuniram-­‐se	
  
para	
  discutir	
  sobre	
  melhores	
  formas	
  de	
  se	
  criar	
  software.	
  Elas	
  
chegaram	
  a	
  uma	
  visão	
  abrangente	
  e	
  convincente	
  (FIGURA	
  6).	
  Elas	
  a	
  
tornaram	
  concreta	
  através	
  do	
  nome	
  “Ágil”	
  e	
  a	
  transformaram	
  em	
  um	
  
manifesto11.	
  Mas,	
  individualmente,	
  essas	
  pessoas	
  passaram	
  muito	
  
 
11 Manifesto Ágil, http://manifestoagil.com.br	
   
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  16	
  
tempo	
  ensinando	
  sobre	
  práticas	
  simples	
  e	
  cruciais,	
  	
  como	
  “escrever	
  
estórias	
  em	
  cartões	
  de	
  papel”,	
  “tornar	
  seu	
  trabalho	
  visível”e	
  “obter	
  
feedback	
  do	
  cliente	
  toda	
  semana”.	
  	
  
Iniciativas de mudança bem-sucedidas, frequentemente, combinam uma visão 
abrangente com práticas simples e cruciais. 
 
FIGURA	
  6:	
  O	
  Manifesto	
  Ágil	
  
Quando	
  e	
  por	
  onde	
  você	
  começa?	
  
A hora e local podem ser muito importantes para algumas iniciativas de mudança. 
Escolha, cuidadosamente, o momento e o local certos para começar. Às vezes, isso 
significa que você precisará esperar por um momento mais apropriado. Outras 
vezes, significa que você não pode mais esperar, e deve fazer agora mesmo! Por 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  17	
  
exemplo, fazer brincadeiras com “um sistema”, da forma certa, pode ter um efeito 
maravilhoso quando o sistema está relaxado e sensível, mas pode não ser tão bom se 
“o sistema” estiver palestrando em frente a uma audiência grande e crítica. 
• Por	
  dois	
  anos,	
  eu	
  tive	
  ideias	
  sobre	
  uma	
  colaboração	
  pan-­‐europeia	
  de	
  
praticantes	
  de	
  Agile	
  e	
  Lean.	
  Mas,	
  apenas	
  depois	
  do	
  lançamento	
  de	
  
meus	
  livros,	
  eu	
  percebi	
  que	
  tinha	
  a	
  atenção	
  das	
  pessoas,	
  e	
  que	
  eu	
  
estava	
  em	
  contato	
  com	
  gente	
  de	
  toda	
  a	
  Europa.	
  De	
  repente,	
  eu	
  
entendi	
  que	
  era	
  o	
  momento	
  certo.	
  Eu	
  tive	
  que	
  parar	
  de	
  pensar	
  sobre	
  
isso	
  e	
  começar	
  a	
  agir!	
  
Também faz parte da gestão de mudanças descobrir os passos cruciais que as 
pessoas devem dar e escolher o momento e local certos para começar. 
Verificar	
  
A terceira parte do ciclo PDCA diz respeito a feedback. Quando você cutuca o 
sistema com ideias, precisa verificar e compreender como o sistema responde. 
Como	
  você	
  obtém	
  feedback?	
  
Como um agente de mudança, você tentará muitas coisas diferentes. Você precisará 
validar o que funciona e livrar-se daquilo que não funciona. Em outras palavras, 
você precisa de feedback. Mas quem fará críticas positivas e estará apto a oferecer o 
feedback que você possa, realmente, utilizar? Você precisa achar pessoas de opiniões 
valiosas. Faça com que conheçam suas ideias e ouçam o que você tem a dizer. Faça 
experiências com indivíduos que estarão dispostos a sofrer as consequências de suas 
ideias e que ficarão felizes em reportar suas descobertas, de preferência, sem que 
tentem lhe dar um surra. 
• Quando	
  eu	
  comecei	
  a	
  oferecer	
  o	
  curso	
  Management	
  3.0,	
  eu	
  fiz	
  diversas	
  
experiências	
  com	
  diferentes	
  audiências.	
  A	
  primeira	
  vez	
  foi	
  um	
  
workshop	
  de	
  5	
  horas,	
  no	
  Scrum	
  Gathering,	
  em	
  Amsterdã.	
  A	
  segunda	
  
vez	
  foi	
  curso	
  gratuito	
  de	
  1	
  dia	
  com	
  15	
  participantes.	
  A	
  terceira	
  vez	
  foi	
  
um	
  teste	
  beta	
  de	
  curso	
  pago,	
  com	
  2	
  dias	
  de	
  duração,	
  em	
  uma	
  empresa	
  
com	
  30	
  colaboradores.	
  E	
  mesmo	
  depois	
  de	
  dezenas	
  de	
  cursos,	
  as	
  
minhas	
  experiências	
  e	
  validações	
  ainda	
  não	
  acabaram.	
  Eu,	
  
geralmente,	
  convido	
  os	
  estudantes	
  a	
  comentarem	
  na	
  happiness	
  door	
  
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  18	
  
[Appelo	
  2011d]	
  antes	
  da	
  pausa	
  para	
  o	
  almoço	
  (FIGURA	
  7).	
  Esse	
  tipo	
  de	
  
feedback	
  qualitativo	
  me	
  ajuda	
  a	
  melhorar	
  o	
  curso	
  e	
  a	
  permanecer	
  na	
  
direção	
  certa.	
  
 
FIGURA	
  7:	
  Feedback	
  Door:	
  Feedback	
  ao	
  longo	
  do	
  curso	
  
Como	
  você	
  mede	
  os	
  resultados?	
  
Comentários são excelentes, mas feedback qualitativo, frequentemente, não é 
suficiente. Se você não medir resultados quantitativos, você pode nunca saber se sua 
iniciativa de mudança está, realmente, no caminho certo. Como isso funciona? 
Como você pode medir algo tão abstrato quanto “tornar-se ágil” ou “tornar-se uma 
organização que aprende”? Eu fico feliz por não ter que responder essa pergunta, 
porque isso depende do que você quer mudar e isso você precisará descobrir por si 
próprio. Ao mesmo tempo, você precisa se prevenir para que suas métricas não 
levem o sistema a comportamentos disfuncionais. Isso parece difícil? Que bom, 
porque realmente é! 
• O	
  Aeroporto	
  de	
  Schiphol	
  mede	
  quantas	
  pessoas	
  compram	
  produtos	
  
livres	
  de	
  tributos	
  por	
  voo,	
  de	
  onde	
  os	
  viajantes	
  estão	
  vindo,	
  e	
  para	
  
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  19	
  
onde	
  estão	
  indo.	
  Eu	
  meço	
  quantos	
  estudantes	
  estão	
  dispostos	
  a	
  
preencher	
  avaliações,	
  de	
  que	
  partes	
  do	
  treinamento	
  eles	
  mais	
  gostam,	
  
e	
  como	
  eles	
  avaliam	
  o	
  curso	
  como	
  um	
  todo.	
  
Agentes de mudança medem as coisas para que possam correlacionar resultados 
com ideias. O que nós fizemos para causar uma mudança significativa? O resultado 
foi bom? Se não foi, será que podemos tentar algo diferente? No livro The	
   Lean	
  
Startup Eric Ries chama isso de “aprendizado validado” [Ries 2011]. Trata-se de 
medir quais intervenções de fato produzem os efeitos certos nas pessoas (e quais 
não). 
Agir	
  
Ciclos curtos de feedback são melhores que longos. Saber se algo funciona ou não, 
evita que você invista por muito tempo em um abordagem ruim. 
Como	
  você	
  acelera	
  os	
  resultados?	
  
O feedback rápido reduz o risco de você se enganar e aumenta a liberdade para que 
você possa experimentar. Quando as coisas ainda estão frescas nas cabeças das 
pessoas, há mais detalhes sobre os quais possam refletir no momento de dar a você 
feedback. 
• O	
  motivo	
  pelo	
  qual	
  eu	
  peço	
  aos	
  estudantes	
  para	
  que	
  escrevam	
  
comentários,	
  por	
  diversas	
  vezes,	
  ao	
  longo	
  do	
  curso,	
  é	
  para	
  que	
  eu	
  
possa	
  obter	
  o	
  feedback	
  	
  antes	
  que	
  eles	
  se	
  esqueçam.	
  A	
  princípio,	
  eu	
  
nem	
  mesmo	
  lia	
  o	
  feedback	
  	
  deles	
  	
  antes	
  de	
  chegar	
  em	
  casa.	
  (E	
  se	
  eles	
  
não	
  estivessem	
  gostando	
  do	
  que	
  eu	
  estava	
  fazendo?	
  Seria	
  horrível!)	
  
Mas	
  eu	
  logo	
  comecei	
  a	
  lê-­‐los,	
  ao	
  longo	
  dos	
  intervalos,	
  e,	
  então,	
  eu	
  
pude	
  começar	
  a	
  agir	
  imediatamente,	
  sempre	
  que	
  era	
  possível.	
  Eu	
  
podia	
  responder	
  ao	
  feedback	
  dos	
  estudantes	
  após	
  a	
  pausa	
  para	
  o	
  
almoço,	
  e	
  horas	
  depois,	
  eu	
  podia	
  coletar	
  um	
  novo	
  feedback	
  sobre	
  as	
  
mudanças	
  que	
  havia	
  acabado	
  de	
  fazer!	
  
Mas talvez o aspecto mais importante do feedback rápido é o potencial para disparar 
um ciclo de feedback positivo. Pequenos ciclos de feedback permitem que você use 
ganhos de curto prazo para evidenciar que a sua mudança vale o esforço. Assim que 
você conseguir provar que a sua ideia produz resultados benéficos, você poderá, 
gradualmente, aumentar a velocidade da mudança e espalhá-la por toda a 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Dance	
  com	
  o	
  Sistema	
  ♦	
  20	
  
organização. Ganhos de curto prazo podem disparar uma amplificação no ciclo de 
feedback que o ajudará a consolidar ganhos e produzir ainda mais mudanças positivas. 
Arne	
  Åhlander,	
  consultor	
  em	
  Lund,	
  Suécia	
  
Eu	
  me	
   recordo	
   da	
   discussão	
   de	
   alguns	
   anos	
   atrás	
   sobre	
   quais	
   requisitos	
  
escolher	
   em	
   um	
   projeto.	
   Alguns	
   eram	
   muito	
   grandes	
   e	
   importantes,	
   e	
  
outros	
   eram	
   pequenos	
   e	
   importantes.	
   Quais	
   deveríamos	
   escolher?	
   Para	
  
que	
  nós	
  pudéssemos	
  compreender	
  as	
  prioridades,	
  nós	
  desenhamos	
  duas	
  
estradas	
  unindo-­‐se	
  a	
  uma	
  única.	
  De	
  uma	
  das	
  estradas,	
  vinham	
  os	
  ônibus	
  
(requisitosgrandes)	
  e	
  da	
  outra,	
  vinham	
  as	
  bicicletas	
  (requisitos	
  pequenos).	
  
Em	
  um	
  primeiro	
  olhar,	
  nós	
  pensamos	
  que	
  deveriam	
  deixar	
  que	
  os	
  ônibus	
  
viessem	
  primeiro.	
  Depois,	
  pensando	
  melhor,	
  nós	
  passamos	
  a	
  acreditar	
  que	
  
talvez	
   fosse	
   melhor	
   deixar	
   algumas	
   bicicletas	
   passarem.	
   Para	
   mim,	
   a	
  
mesma	
   ideia	
   se	
   aplica	
   na	
   escolha	
   entre	
   Kaizen	
   (melhoria	
   contínua	
   em	
  
pequenos	
  passos)	
  e	
  Kaikaku	
  (mudança	
  radical	
  em	
  passos	
  maiores).	
  É	
  bom	
  
ter	
  algum	
  tipo	
  de	
  heurística	
  para	
  guiar	
  suas	
  escolhas.	
  	
  
Seja	
  um	
  Pensador	
  da	
  Complexidade	
  
Um sistema social é complexo e adaptativo. Como um agente de mudança, você 
precisa cutucá-lo com ideias e verificar como ele responde às mudanças. Você 
também precisa responder a essas mudanças como se estive dançando com o 
sistema, cuidadosamente guiando-o para a direção certa. 
Isso significa que se você estiver levando a mudança a sério, você precisará se fazer 
algumas perguntas sérias: 
• Qual é a minha meta? 
• Onde está indo bem? 
• Quais são os passos cruciais? 
• Quando e por onde eu começo? 
• Como eu obtenho feedback? 
• Como meço os resultados? 
• Como acelero os resultados?
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  21	
  
Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  
Muitas pessoas são outras pessoas. 
Seus pensamentos são opiniões de outras pessoas, 
suas vidas são uma imitação, 
suas paixões são uma citação. 
 
 
Oscar Wilde, Escritor Irlandês (1854 - 1900) 
Nossa meta para o Stoos Gathering foi conseguir chegar a um entendimento sobre o 
problema de gerenciar organizações ao redor do mundo, um entendimento sobre o 
futuro que desejamos e, ao menos, algumas sugestões de como chegar lá mais 
rápido. 
Os participantes definiram o problema na forma de “um mapa mental de cinquenta 
dimensões”12, como Steve Denning o chamou. Ficou bastante abrangente em termos 
de causas raízes e consequências. Mas foi, intencionalmente, chamado de um 
“trabalho em progresso”. Até porque, como vimos no capítulo anterior, inclusive os 
problemas em si estão sempre evoluindo. 
O grupo definiu um futuro idealizado da seguinte forma: 
“ Organizações	
  podem	
  tornar-­‐se	
  redes	
  de	
  aprendizado	
  de	
  indivíduos	
  
gerando	
  valor,	
  e	
  o	
  papel	
  dos	
  líderes	
  deve	
  incluir	
  a	
  orientação	
  dos	
  
vivos	
  em	
  vez	
  da	
  gestão	
  da	
  máquina.	
  
 
12 Definição de Problema da Comunidade Stoos, http://www.stoosnetwork.org/what-­‐is-­‐the-­‐problem/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  22	
  
Alguns diriam que essa grandiosa meta não é mensurável, e estariam certos. Mas os 
21 participantes acharam que a mensagem que emergiu ao final refletiu, 
apropriadamente, suas esperanças e sonhos, e eles acreditavam que outros a 
achariam inspiradora também. 
É claro que, como agentes de mudança, nós sabemos que o verdadeiro progresso é 
feito através de passos pequenos e mensuráveis. Para que isso fosse possível, o 
grupo, em Stoos, também discutiu sobre as partes interessadas, os influenciadores, e 
as estratégias. Nós abordamos a necessidade de responder às perguntas: “O que há 
nisso tudo para mim?” e “Como eu posso fazer isso?” A mudança não vai acontecer 
se as pessoas a enxergarem como algo que não as beneficiará pessoalmente, ou 
como algo que são incapazes de implementar. É por isso que, neste capítulo, nós 
discutiremos como viabilizar a mudança para as pessoas em um nível individual. 
Eliminado	
  as	
  Barreiras	
  
A parte crucial de um sistema social são os indivíduos que pertencem a ele (FIGURA 
8). Como todas as pessoas são diferentes, não existe uma abordagem única que sirva 
para todos, em uma mudança social. Se você precisa que uma organização melhore, 
você precisará trabalhar com as necessidades das pessoas, em um nível individual, e 
lidar com as diversas barreiras que edificam suas mentes. 
 
FIGURA	
  8:	
  Indivíduos	
  em	
  uma	
  rede	
  social	
  
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  23	
  
“ A	
  maioria	
  das	
  organizações	
  pode	
  ser	
  consideravelmente	
  	
  
melhorada	
  apenas	
  no	
  contexto	
  de	
  suas	
  próprias	
  fronteiras.	
  Isso	
  
ocorre	
  porque	
  as	
  barreiras	
  para	
  a	
  mudança,	
  geralmente,	
  estão	
  nas	
  
mentes	
  dos	
  tomadores	
  de	
  decisões	
  e	
  não,	
  na	
  própria	
  organização.	
  
	
  
-­‐	
  Michael	
  C.	
  Jackson,	
  Systems	
  Thinking	
  [Jackson	
  2003]	
  
Se você quer mudar uma organização, no nível dos indivíduos, você pode contratar 
um neurocirurgião. Mas é mais barato e mais eficiente, aplicar o modelo ADKAR, 
criado por Jeff Hiatt [Hiatt 2006]. 
 
FIGURA	
  9:	
  ADKAR	
  (Awareness,	
  Desire,	
  Knowledge,	
  Ability,	
  Reinforcement)	
  
O	
  Modelo	
  ADKAR	
  
ADKAR (FIGURA ) é um modelo de gestão de mudanças orientado a metas, que foi 
desenvolvido para guiar atividades ao longo de um processo de mudanças. O 
modelo pode ser usado para garantir que você não se esqueça de lidar com o aspecto 
das pessoas na sua iniciativa de mudança. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  24	
  
O modelo ADKAR possui as cinco dimensões a seguir: 
• Consciência (Awareness) da necessidade de mudar. 
• Desejo (Desire) de participar da mudança e de apoiá-la. 
• Conhecimento	
  (Knowledge) sobre como mudar (e sobre a mudança). 
• Habilidade (Ability) para realizar a mudança no dia a dia. 
• Incentivo	
  (Reinforcement) para que a mudança seja sustentável. 
O que faz o modelo ADKAR ser tão útil é o fato de que ele lembra você de que 
uma mudança bem-sucedida de pessoas em uma organização, geralmente, requer 
atenção delas em múltiplas áreas. 
• Não basta que as pessoas estejam conscientes da necessidade de mudar. 
Elas precisam querer mudar. 
• Desejar mudar é insuficiente quando as pessoas não têm o conhecimento 
sobre como mudar ou quando não têm a habilidade para mudar. 
• Mesmo que saibam como e estejam habilitadas a mudar, sem o incentivo 
dos bons comportamentos, as pessoas, simplesmente, voltam aos velhos 
hábitos. 
Quando você começa com uma iniciativa de mudança, você pode considerar utilizar 
o modelo ADKAR para abordar a mudança, no nível individual, nessas cinco 
dimensões, e remover as barreiras de dentro das cabeças das pessoas. Eu descreverei 
o modelo, no restante deste capítulo. 
Consciência	
  
Para que as pessoas avancem em seu programa de mudanças, uma simples 
mensagem que diga a elas: “faça as coisas de forma diferente na próxima segunda-
feira”, geralmente é insuficiente, não importa o quão urgente você pense que sua 
mudança seja. 
Como	
  você	
  comunicará?	
  
A maioria das pessoas não é muito boa em comunicar suas ideias. Barack Obama 
não se tornou o presidente dos Estados Unidos enquanto resmungava, 
silenciosamente, utilizando palavras incompreensíveis, olhando para baixo, e 
matando sua audiência de tédio com dezenas de tópicos de apresentação. Seus 
partidários também não utilizaram posters com letras minúsculas, má caligrafia, com 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  25	
  
tinta falhando, escrito em papel de pão. Por mais incrível que possa parecer, eu 
tenho visto agentes de mudança tentarem transmitir suas mensagens, exatamente, da 
forma que acabei de descrever. 
Você precisará repetir sua mensagem, constantemente, e em diversas formas 
diferentes. Eu aprendi que um pequeno investimento em habilidades de 
comunicação é muito recompensador. Por exemplo, o livro Made	
  to	
  Stick nos ensina 
a transmitir uma mensagem de forma simples, inesperada, concreta e plausível 
através de estórias emotivas [Heath 2007]. 
• Todos	
  os	
  maçosde	
  cigarros,	
  no	
  meu	
  país,	
  gritam	
  “fumar	
  mata”,	
  mas	
  
isso	
  não	
  faz	
  surtir	
  o	
  menor	
  efeito	
  na	
  grande	
  maioria	
  das	
  pessoas	
  
(FIGURA	
  10).	
  Isso	
  ocorre	
  porque	
  a	
  comunicação	
  é	
  apenas	
  o	
  primeiro	
  
passo	
  em	
  direção	
  à	
  mudança.	
  É	
  insuficiente,	
  mas	
  é	
  um	
  começo.	
  Você	
  
precisa	
  aprender	
  a	
  tocar	
  as	
  mentes	
  das	
  pessoas	
  com	
  muita	
  cautela	
  e	
  
precisão,	
  e	
  você	
  	
  também	
  deve	
  ter	
  boas	
  estórias	
  e	
  imagens	
  para	
  
suportar	
  suas	
  ideias.	
  
 
FIGURA	
  10:	
  Isto	
  te	
  convence	
  a	
  parar	
  de	
  fumar?13	
  
 
13 © Shahbaz Majeed, “Fumar Mata”, Licença Creative Commons Attribution 2.0 Generic (CC BY 
2.0), http://www.flickr.com/photos/ajnabee/18211729/ 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  26	
  
“ Quando	
  se	
  diz	
  a	
  um	
  fumante	
  para	
  que	
  deixe	
  de	
  fumar,	
  o	
  resultado	
  
típico	
  é	
  que	
  ele	
  continue	
  a	
  fumar	
  ou	
  que	
  aumente	
  a	
  frequência.	
  
	
  
-­‐	
  W.	
  Warner	
  Burke,	
  Organization	
  Change:	
  Theory	
  and	
  Practice	
  
[Burke	
  2010]	
  
Como	
  você	
  dará	
  o	
  exemplo?	
  
Ver é crer. Não há motivador maior do que um líder que está liderando pelo 
exemplo. Para muitas pessoas, o que você de fato faz é muito mais importante do 
que aquilo que você diz. Portanto, você não deve apenas conscientizar as pessoas do 
que você quer. Você deve também mostrar a elas como sua visão pode se tornar 
realidade praticando aquilo que você está pregando. 
• Eu	
  me	
  tornei	
  mais	
  capaz	
  de	
  ajudar	
  minha	
  organização	
  a	
  se	
  tornar	
  mais	
  
ágil	
  depois	
  que	
  eu	
  mesmo	
  comecei	
  a	
  adotar	
  práticas	
  ágeis	
  no	
  dia	
  a	
  dia	
  
do	
  meu	
  trabalho.	
  As	
  outras	
  pessoas	
  ficaram	
  mais	
  conscientes	
  da	
  
necessidade	
  de	
  mudança	
  quando	
  viram	
  o	
  que	
  eu	
  estava	
  fazendo.	
  
Conscientizar as pessoas da necessidade de mudar envolve boa comunicação, que é 
algo que você pode aprender, e também dar o exemplo certo para que os outros 
possam seguir. 
Desejo	
  
Conscientizar é o primeiro passo em direção a mudança. Mas como um agente de 
mudança, você precisa compreender que não basta conscientizar as pessoas sobre 
suas ideias. Suas mensagens racionais precisam ser complementadas com gatilhos 
emocionais para que a mudança aconteça. 
Como	
  você	
  torna	
  urgente?	
  
Muitas vezes, as pessoas ignoram aquilo que é importante e focam apenas naquilo 
que é urgente [Covey 2004]. Lamentavelmente, muitos problemas não se 
manifestam de forma urgente e, então, pouco acontece. As pessoas podem 
reconhecer a importância da sua ideia, mas podem não sentir que é algo urgente. 
Para que as pessoa mudem, você precisa tentar fazer que elas sintam a crise, e 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  27	
  
permitir que experimentem suas ideias como algo que também é urgente e não 
somente importante. 
• Meu	
  pai	
  sabia	
  que	
  era	
  importante	
  consumir	
  alimentos	
  saudáveis,	
  mas	
  
para	
  ele,	
  isso	
  nunca	
  foi	
  algo	
  urgente.	
  Isso	
  mudou	
  uma	
  vez	
  que	
  ele	
  foi	
  
ver	
  seu	
  médico	
  porque	
  não	
  estava	
  se	
  sentindo	
  muito	
  bem.	
  O	
  médico	
  
diagnosticou	
  sérios	
  problemas	
  cardiovasculares,	
  e	
  deu	
  ao	
  meu	
  pai	
  
apenas	
  alguns	
  poucos	
  meses	
  de	
  vida,	
  a	
  menos	
  que,	
  imediatamente,	
  
mudasse	
  sua	
  dieta	
  de	
  modo	
  radical.	
  Foi,	
  então,	
  que	
  ele	
  sentiu	
  que	
  
aquilo	
  era	
  urgente!	
  E	
  foi,	
  assim,	
  que	
  ele	
  mudou.	
  
Como	
  você	
  torna	
  atraente?	
  
As pessoas não mudam apenas quando sentem a urgência da sua ideia. Elas também 
mudam seus comportamentos, quando a mudança as faz sentirem-se bem. Portanto, 
se você quer que as pessoas mudem, você deve tentar atingir os desejos intrínsecos 
delas (FIGURA). Procure atingir as necessidades das pessoas por status, ordem, 
honra, propósito, ou curiosidade. Explore seus desejos por sentirem-se 
competentes, independentes, aceitas, poderosas, e socialmente 
reconhecidas.14 As mães sabem como utilizar colheres cheias de mel para ajudar 
seus filhos a tomarem remédios. Assim como agentes de mudança sabem que 
colheres cheias de efeitos irresistíveis podem ajudar as pessoas a se alimentarem de 
boas ideias. (Ocorre que para algumas pessoas, deixar as coisas como estão é o efeito 
mais desejado. Em casos assim, você realmente precisará ser criativo!) 
 
14 Os 10 desejos intrínsecos conforme descritos em [Appelo 2011a], página 136 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  28	
  
 
FIGURA	
  11:	
  Os	
  10	
  desejos	
  intrínsecos	
  (com	
  mnemônico	
  “champfrogs”)	
  
• Quando	
  eu	
  introduzi	
  Scrum	
  em	
  uma	
  organização	
  em	
  que	
  eu	
  
trabalhava,	
  pouco	
  tempo	
  atrás,	
  quase	
  todos	
  gostaram.	
  A	
  equipe	
  de	
  
desenvolvimento	
  gostou	
  porque	
  Scrum	
  trouxe	
  ordem	
  para	
  nosso	
  
ambiente	
  caótico.	
  Os	
  gestores	
  gostaram	
  porque	
  ganharam	
  o	
  status	
  
de	
  líderes	
  de	
  uma	
  organização	
  moderna	
  e	
  badalada.	
  E	
  os	
  clientes	
  
gostaram	
  porque	
  isso	
  deu	
  a	
  eles	
  mais	
  poder	
  sobre	
  o	
  backlog	
  e	
  suas	
  
constantes	
  mudanças	
  semanais.	
  
Perceba que os efeitos desejáveis de suas ideias não precisam ser racionais. Se as 
pessoas gostam mais de sua ideia se ela for azul, grande e fofinha, você já sabe que 
deverá pintá-la da cabeça aos pés, forra-la de espuma, e cobri-la de penas. 
Como	
  Mudar	
  o	
  Mundo	
  ♦	
  Compreenda	
  as	
  Pessoas	
  ♦	
  29	
  
“ É	
  o	
  desejo	
  de	
  ser	
  aceito,	
  respeitado,	
  e	
  de	
  ser	
  relacionar	
  que,	
  
realmente,	
  move	
  o	
  coração	
  das	
  pessoas.	
  Quanto	
  ao	
  resto	
  de	
  nós	
  –	
  
gestores,	
  pais	
  e	
  coaches	
  –	
  se	
  aprendermos	
  a	
  utilizar	
  esse	
  
esplêndido	
  poder,	
  poderemos	
  mudar	
  qualquer	
  coisa.	
  
	
  
-­‐	
  Kerry	
  Patterson,	
  Influencer	
  [Patterson	
  2008]	
  
Para certas pessoas, a mudança é indesejável pelos efeitos que pode causar a 
algumas delas. Como um agente de mudança, você precisa descobrir de que forma a 
mudança está afetando os desejos intrínsecos das pessoas. Talvez você possa fazer 
alguma coisa para aliviar o medo que sentem. 
• Um	
  desenvolvedor	
  de	
  software	
  resistiu	
  à	
  adoção	
  de	
  Scrum	
  porque	
  era	
  
preciso	
  que	
  ele	
  compartilhasse	
  seu	
  código	
  com	
  outros	
  
desenvolvedores.	
  Ele	
  não	
  gostava	
  disso	
  porque	
  seu	
  código	
  era	
  de	
  alta	
  
qualidade	
  e	
  ele	
  não	
  queria	
  que	
  os	
  outros	
  estragassem	
  seu	
  trabalho.	
  Eu	
  
descobri	
  que	
  a	
  competência	
  e	
  o	
  status	
  eram	
  coisas	
  muito	
  importantes	
  
para	
  ele	
  e,	
  então,	
  lhe	
  ofereci	
  uma	
  posição	
  informal	
  de	
  coordenador	
  
das	
  práticas	
  de	
  qualidade,	
  em	
  diversos	
  times	
  de	
  Scrum.	
  Ele,	
  
ansiosamente,	
  abraçou	
  a	
  ideia	
  e,	
  desde	
  então,	
  foi	
  um	
  forte	
  defensor	
  
de	
  Scrum.	
  
Quando você quer que as pessoas mudem, não basta, simplesmente, enviar um e-
mail para elas com uma explicação racional a respeito da mudança. É preciso que 
você as faça sentir que a mudança é urgente e atraente. 
Conhecimento	
  
Então, as pessoas já estão cientes da necessidade de mudança e querem fazer algo a 
respeito. E agora? Será que elas entenderam, de imediato, o que deverá ser feito? 
Será que farão a mudança acontecer, exatamente, como você havia planejado? 
Quem	
  ensinará?

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