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Objetivo Geral Iniciar o estudante na metodologia do Ensino Superior, suas peculiaridades, seu histórico e desafios enfrentados pelas Instituições de Ensino Superior quanto à formação continuada dos docentes e a escolha de metodologias ativas que incentivem a autonomia do estudante. SUMÁRIO UNIDADE 1 EDUCAÇÃO E METODOLOGIA NO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO ...................................................................................................................... 03 1.1 Educação, Didática e Metodologia no pensamento pedagógico brasileiro ..................... 04 1.2 O ensino superior brasileiro limites e possibilidades .................................................. 10 1.3 Finalidades do ensino superior ...................................................................................... 12 UNIDADE 2 A METODOLOGIA COMO ATO POLÍTICO ................................................ 15 2.1 A intencionalidade do ato de educar .............................................................................. 15 2.2 A metodologia como opção política: reprodução ou transformação? ............................. 17 UNIDADE 3 VISÃO HISTÓRICA DA METODOLOGIA DE ENSINO NA UNIVERSIDADE ................................................................................................................. 23 3.1 Trajetória ....................................................................................................................... 23 3.2 Tendências atuais ......................................................................................................... 31 UNIDADE 4 PLANO E PLANEJAMENTO DE ENSINO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO .... 35 4.1 Diferenças entre plano e planejamento .......................................................................... 35 4.2 As implicações políticas do ato de planejar ................................................................... 37 4.3 Etapas de um plano ....................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 61 UNIDADE 1 - EDUCAÇÃO E METODOLOGIA NO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO Essa unidade tem por finalidade discutir os conceitos básicos para a compreensão da educação, enquanto fenômeno próprio da prática social, como também a função da metodologia no processo educativo, em especial na educação escolar. Para tanto, o referencial será as atuais condições do ensino superior e suas relações com o contexto sócio-político brasileiro. O estudo e aprofundamento desses conceitos são indispensáveis para o entendimento dos princípios, métodos e metodologia que dão suporte à prática educativa no ambiente escolar e que influenciam o processo de ensino aprendizagem, uma vez que perpassam a relação professor-aluno. A partir da própria experiência, é comum o aluno afirmar que um determinado professor sabe o conteúdo, mas não tem didática para ensinar. Queixa-se que não consegue aprender com aquele professor, apesar de assistir as aulas, fazer as atividades, etc. Mas, onde estaria o problema? No professor que não se comunica bem com o aluno? Ou no aluno, que não consegue entender o professor? Vamos refletir um pouco... Será que falta didática ao professor? Ou sua dificuldade está justamente em fazer pontes, ou seja, relacionar as experiências e o conhecimento já construído pelo aluno e o conteúdo a ser trabalhado em sala de aula? São questões que ajudam o professor a pensar sua prática e, de acordo com Zabala (1998, p.13), mediante o conhecimento e a experiência. Por isso, a melhora da atuação de qualquer profissional passa pelo conhecimento e pelo controle das variáveis que intervêm nela. Conhecer essas variáveis permitirá ao professor, previamente, planejar o processo educativo, e, posteriormente, realizar a avaliação do que aconteceu. Portanto, em um modelo de percepção da realidade da aula estão estreitamente vinculados o planejamento, a aplicação e a avaliação. Depois desta reflexão, podemos discutir os conceitos básicos para compreensão e distinção entre os termos didática e metodologia. 1.1 Educação, Didática e Metodologia no pensamento pedagógico brasileiro A educação é um processo que acompanha o ser humano desde o seu nascimento até o fim da sua vida em todos os tempos e tipos de sociedade. Toda pessoa tem educação, independente do grau de instrução, condição econômica, faixa etária, classe social, etc. A educação sempre foi necessária como elemento de coesão entre os grupos e indispensável para a própria sobrevivência humana. Em cada época a educação assumiu finalidades e concepções adequadas às necessidades históricas próprias do momento vivido. Mais que isto, como afirma Brandão (1995): A educação está em todos os lugares e no ensino de todos os saberes. Assim não existe modelo de educação, a escola não é o único lugar onde ela ocorre e nem muito menos o professor é seu único agente. Existem inúmeras educações e cada uma atende a sociedade em que ocorre, pois é a forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, portanto, a educação de uma sociedade tem identidade própria. Justamente por ser um processo dinâmico, esse autor afirma também que não encontramos um sentido unívoco para esse termo, pois educação é algo muito abrangente. Num sentido mais amplo, todos somos educadores e educandos. Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e- ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (BRANDÃO, 1995) Mas o que é educação? Como conceituá-la? Se procurarmos, então, o conceito de educação nos diversos livros que tentam explicar tal fenômeno, perceberemos que este vem se constituindo ao longo dos tempos com diferentes enfoques, mas, de um modo geral, polarizado entre duas tendências. Ou seja, ora mais preocupado com a adequação das pessoas à sociedade, ora como promoção da pessoa enquanto ser de múltiplas possibilidades. Não podemos perder de vista que o enfoque em uma ou outra tendência só se explica no conjunto das relações sociopolítico e econômico de uma sociedade em um determinado momento histórico, uma vez que a educação tem o papel de transmitir o conhecimento, crenças e valores socialmente produzidos e historicamente acumulados que são necessários para a convivência e manutenção do grupo. Desse modo, a educação se coloca como um fenômeno social, coletivo que exige responsabilidade e compromisso pelo conjunto da sociedade, se caracterizando como tarefa de todos seus membros. Outro aspecto relevante e que se deve destacar é que em qualquer dos polos ou tendências a educação não é neutra, pois tem uma intencionalidade e está a serviço da sociedade, como afirma Veiga (2003). [...] não sendo neutras, a teoria e a prática de uma forma de ensino articulam as finalidades individuais de educação do homem a um modelo de sociedade, por meio da atividade de quem ensina, de quem aprende, de como se ensina e dos meios utilizados, e contribuem para a manutenção-superação da prática social mais ampla. As tendências consideradas mais conservadoraspartem do princípio que o conhecimento é inquestionável, duradouro e eterno. Portanto, devem ser aceitos e acatados, de modo incontestável e sem crítica. A visão de mundo subjacente a esta tendência é a hierarquização da sociedade, espaço em que cada pessoa tem um papel para desempenhar e deve fazê-lo com aceitação para que todos vivam bem. Logicamente, esse ideário de educação, assumido pelo seio familiar, também estava na educação escolar. As tendências consideradas mais avançadas concebem a educação na segunda vertente, ou seja, como processo de formação e desenvolvimento das capacidades humanas de modo a humanizar cada vez mais as pessoas. O ponto de partida é outro e neste contexto, o conhecimento é sempre provisório, passível de crítica e constantes modificações de modo a explicar o movimento dialético da vida, da sociedade e do mundo. Neste sentido, à medida que a ciência avança, o conhecimento e a tecnologia avançam também, tornando possível novas descobertas, questionando e refinando o conhecimento já construído. Dentre estas tendências destacamos as chamadas progressistas ou críticas, que também se dividem em interacionista, sócio-construtivista, histórico-crítica, dentre outras. O que elas têm em comum é o fato de concordarem que o ser humano é um ser histórico e socialmente situado e que aprende por meio das relações sociais que estabelece entre seus pares como também a partir das experiências sociais que desenvolve sempre que se depara com um conflito cognitivo, isto é, a partir do confronto com algo novo e desconhecido para o qual não tem respostas e nem conhecimento suficiente para responder. Neste momento, a pessoa procura estabelecer alguma relação entre o novo e suas estruturas mentais já consolidadas de modo a tentar compreender e mesmo dar uma resposta que a satisfaça. Porém, nem sempre é possível achar tal resposta em seus conhecimentos já adquiridos sendo necessário pesquisar, perguntar, comparar, ler, refletir e, assim, chegar a uma resposta que de fato lhe satisfaça. Quando isto ocorre dizemos que a aprendizagem foi significativa e a pessoa conseguiu um salto de qualidade no aspecto intelectual, pois ampliou suas estruturas mentais, uma vez que incorporou a elas novas informações que lhe serão importantes para aquisição de outras aprendizagens que se realizarão no futuro. Portanto, podemos afirmar que a aprendizagem é um processo sempre cumulativo e cada aprendizagem é básica para outras que se seguirão ao longo da nossa vida. Para concluir essa ideia, citamos Pimenta e Anastasiou (2005, p. 16), que afirmam [...] é preciso levar em conta que todo conteúdo de saber é resultado de um processo de construção de conhecimento. Por isso, dominar conhecimentos não quer dizer apenas apropriação de dados objetivos pré-elaborados, produtos prontos do saber acumulado. Mais do que dominar os produtos, interessa aos alunos compreender que esses são resultantes da investigação humana. Assim trabalhar o conhecimento no processo formativo dos alunos significa proceder à mediação entre os significados do saber no mundo atual e aqueles dos contextos nos quais foram produzidos. Significa explicitar os nexos entre a atividade de pesquisa e seus resultados, portanto instrumentalizar os alunos no próprio processo de pesquisar. É evidente que este processo de aquisição de conhecimento é muito mais sofisticado quando se refere à educação formal, que é a educação desenvolvida na escola, espaço socialmente reconhecido como responsável pela educação das pessoas nos mais diversos níveis. É na escola que se espera que ocorra a formação da pessoa em todas suas fases de desenvolvimento, auxiliada pela família, outra instância responsável por este processo. Por isso, no espaço escolar é fundamentalmente importante refletir sobre a didática e a metodologia empregadas de modo intencional, pelo professor, para possibilitar que a aprendizagem seja significativa para o aluno e a aluna. Embora tenham sido empregadas como sinônimas por um bom tempo, é preciso ressaltar que didática e metodologia se completam, mas possuem estatuto próprio, identidade própria, o que as tornam diferentes e não sinônimas. A didática, que na Grécia antiga significava a arte ou a técnica de ensinar, teve em Comenius, maior educador do século XVII, seu expoente máximo, com a obra Didática Magna - Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, com uma proposta inovadora e arrojada para o contexto daquela época. No pequeno trecho retirado desta obra, abaixo, evidencia a crítica de Comenius (2001, p.45) sobre a educação de cunho escolástico da época. Fonte: http://migre.me/2aOyG 3. Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera. Enfim, demonstraremos todas estas coisas a priori, isto é, derivando-as da própria natureza imutável das coisas, como de uma fonte viva que produz eternos arroios que vão, de novo, reunir-se num único rio; assim estabelecemos um método universal de fundar escolas universais. A educação de uma nação se constituiu em um dos grandes desafios desde cedo na história da humanidade. Assim que o homem percebeu sua importância para a manutenção do grupo e da ordem social, buscou-se pensar a educação que melhor servisse aos propósitos dos dirigentes que ocupavam o poder e, portanto detinham também o poder de decisão. A didática teve desde então papel fundamental na história da educação. Assumindo diferentes funções, a didática, ao longo dos tempos, serviu de apoio aos projetos educacionais tanto de governos democráticos, quanto autoritário, uma vez que sua finalidade é a organização dos processos de aprendizagem, que por sua vez, podem assumir caráter centralizador, mais tradicional, como mais aberto, crítico. Dessa forma, a didática é responsável pela organização dos processos que serão desenvolvidos junto ao aprendiz de modo a facilitar a aprendizagem, ou seja, ela prevê o caminho a ser feito para a apresentação, discussão, reflexão e compreensão de um conteúdo. Portanto, a didática implica o planejamento da ação pedagógica. Por isso, ela envolve reflexão sobre a função social do ensino, os determinantes sócio-econômico-políticos, a relação com os outros campos do saber, enfim, compreender a realidade vivida e os desafios postos para a educação no contexto histórico-social em que se insere a escola, os alunos, os professores, etc. Para Luckesi (1987), a didática deve assumir um papel significativo na formação do educador e, dessa forma, não pode reduzir-se e dedicar-se somente ao ensino de meios e mecanismos para se desenvolver o processo de ensino- aprendizagem, e sim, deve ser um modo crítico de desenvolver uma prática educativa forjadora de um projeto histórico, que não será feito tão somente pelo educador, mas, por ele conjuntamente com o educando e outros membros dos diversos setores da sociedade. A didática é uma das áreas mais importantes da Pedagogia, pois Ela investiga os fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação mediante o ensino. Sendo este uma ação historicamente situada, a Didática vai constituindo-se como teoria do ensino. Não para criar regras e métodos válidos para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensão das demandas que a atividade de ensinar produz,com base nos saberes acumulados sobre essa questão. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p. 66). Concluindo, podemos afirmar que na prática docente exige-se do professor não só o domínio de conhecimento na sua área, mas também conhecimento na área didático-metodológica. A metodologia, por sua vez, possibilita o estabelecimento de relações entre o novo conhecimento e os que o aprendiz já possui. Possibilita a abordagem do conteúdo a partir de uma referência filosófica e metodológica propriamente dita, valorizando a construção do conhecimento e as relações entre professor e aluno, os objetivos e fins da educação, sem perder de vista o contexto socioeconômico e político. Portanto, a metodologia não pode ser confundida com as técnicas de ensino, pois é muito mais do que isso. Ela supõe o uso das técnicas, mas não se resume só a isso. A opção por uma metodologia tradicional e autoritária ou crítica e questionadora revela a postura política do educador, isto é, a sua visão de mundo, de sociedade, seus valores, enfim como concebe o seu trabalho como professor e cidadão e a serviço de quem e para quê coloca o seu trabalho. Embora seja tão importante tal opção nem sempre é/está consciente ou clara para o profissional da educação. Não se pode perder de vista que, aparadas as arestas e as diferenças de enfoque, a educação sempre fez parte do projeto político de um povo, de uma nação, respondendo às necessidades históricas do momento, a partir do contexto social, político e econômico vivido. O problema que se apresenta é que se a educação sempre foi peça fundamental no projeto de desenvolvimento de uma nação, nem sempre foi pensada e planejada a partir dos reais interesses de todos, mas sim dos interesses do poder político constituído e das relações estabelecidas por este no cenário mundial. Exercício 1 1 A educação está presente em todas as sociedades e em todos os tempos com a finalidade de manter a coesão necessária para a sobrevivência do grupo. Por isso, é correto afirmar que: a) A educação, independentemente das características e diferenças do grupo, sempre se manteve igual ao longo da história da humanidade. b) A educação não atinge todas as pessoas em uma determinada sociedade, ou seja, é possível afirmar que nem todas as pessoas são educadas. c) A educação assume finalidades e concepções adequadas às necessidades históricas próprias do momento vivido. d) A educação está em todos os lugares e, por isso, só existe um modelo de educação e a escola é o único lugar onde ela ocorre. 2 O conceito de educação, de acordo com as tendências mais avançadas, pode ser definido como: a) Adequação do indivíduo à sociedade de modo a torná-lo mais obediente. b) Processo de formação e desenvolvimento das capacidades humanas de modo a humanizar cada vez mais as pessoas. c) Processo de transmissão e reprodução do conhecimento da geração mais velha para as mais novas. d) Adequação do indivíduo à organização escolar de modo a garantir a transmissão de conhecimentos. 3 As tendências progressistas ou críticas partem do princípio que todo ser humano é um ser histórico e social, por isso: a) Aprende por meio das relações sociais que estabelece entre seus pares e a partir das experiências sociais que desenvolve sempre que se depara com um conflito cognitivo. b) Aprende melhor e com mais qualidade quando o processo ensino aprendizagem se dá informalmente e por meio da experiência. c) Aprende por meio da imitação, memorização e exercício, precisando, portanto, de modelos. d) Aprende por meio dos trabalhos e atividades escolares, independentemente da metodologia empregada pelo professor. 4 A didática organiza o processo de ensino de modo a facilitar a aprendizagem,prevendo o caminho a ser feito para a apresentação, discussão, reflexão e compreensão de um conteúdo. Portanto, a didática: a) Limita-se a indicar as técnicas de ensino. b) Estabelece os objetivos da unidade. c) Preocupa-se com a avaliação final. d) Preocupa-se com o planejamento da ação pedagógica. 1.2 O ensino superior brasileiro - limites e possibilidades O ensino superior brasileiro teve início com a chegada da família real, em 1808, quando foram criados os primeiros cursos superiores com a finalidade de atender as necessidades da Corte portuguesa e das camadas mais ricas que aqui viviam. As colônias espanholas tiveram seus primeiros cursos superiores mais cedo, já no período colonial, enquanto o Brasil só teve esta oportunidade com a vinda da família real. Antes disso, os portugueses estabelecidos aqui mandavam seus filhos para estudar na Universidade de Coimbra, pois havia um decreto real que proibia a criação deste ensino nas colônias portuguesas. Fonte: http://migre.me/2aPB3 Estes cursos foram organizados tendo como referência o modelo francês- napoleônico, ou seja, criando-se escolas isoladas e de caráter profissionalizante, voltados para a formação da elite. Assim foram criados os cursos de anatomia, cirurgia e medicina e os cursos jurídicos, que mais tarde deram origem à Faculdade de Medicina da Bahia e às Faculdades de Direito em São Paulo e no Recife. Novos cursos foram criados e até 1900, de acordo com Luckesi (1998), o Brasil já havia consolidado seu ensino superior em forma de Faculdade ou Escola Superior, embora a Constituição de 1891 tenha se omitido em relação a este aspecto. Algumas iniciativas para a criação de uma universidade são bem pontuais e de pouca duração, como é o caso da instituição criada em 1912, no Paraná, que durou apenas 3 anos. Em 1920 foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunindo a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito, por meio do Decreto n. 14.343, de 7 de setembro de 1920. Mas a criação da primeira universidade brasileira de modelo diferenciado se deu em São Paulo, após a Revolução Constitucionalista de 1932, a Universidade de São Paulo, no governo Vargas, por meio da reforma proposta por Francisco Campos. Esta universidade foi inovadora porque reuniu seus cursos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras considerada como base comum para o ingresso em qualquer curso profissionalizante. A ela outras se seguiram, como a de Minas Gerais, por exemplo, fundada em 1933. Até 1960, o ensino superior se estruturou por meio do agrupamento de escolas e faculdades, quando foi criada a Universidade de Brasília em novos moldes, graças aos esforços de Darcy Ribeiro, discípulo do educador baiano Anísio Teixeira, um dos representantes do Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, em 1932. Vale dizer que em 1935, Teixeira já havia pensado em uma universidade como centro de pesquisa e de debates, mas foi impedido pela ditadura do Estado Novo, implantada por Vargas em 1937. A universidade brasileira surgiu com a finalidade de atender aos interesses do governo e das camadas sociais mais altas formando os profissionais que ocupariam os quadros administrativos. Somente por volta da década de 1960 é que as camadas médias passam a ter acesso ao ensino superior e o movimento estudantil de 1968 revela a pressão por mais vagas no ensino superior público. A luta dos estudantes e professores por uma universidade pública de qualidade e mais democrática teve como resposta a Lei n° 5540/68, editada em um momento histórico marcado pela repressão do regime militar, cerceando mais ainda os direitos humanos. A expansão do ensino superior se fez pelo incentivo à criação de instituições particulares. Dentre as medidas adotadas por esta Lei ficou evidente o descaso com a formação acadêmica, quando se desvinculou o ensino da pesquisa. Diferentemente do movimento estudantil francês, que lutava contra a tradicional sociedadeburguesa, reivindicando melhores condições de ensino, o movimento brasileiro teve motivações políticas bem evidentes: a luta contra a ditadura militar que havia se instalado desde 1964. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº. 9394/96 não retomou a questão da pesquisa e do ensino no viés da luta empreendida no Brasil ao longo dos anos 60. Embora conste de suas finalidades e se configure como uma das funções da universidade, ao lado do ensino e extensão, nas suas finalidades, a LDB recomenda que a pesquisa seja incentivada, como veremos a seguir. 1.3 Finalidades do ensino superior As finalidades do ensino superior, de acordo com o artigo 43, da atual LDB são: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. Exercício 2 1 No que se refere ao ensino superior brasileiro, podemos afirmar que iniciou com: a) A Reforma Francisco Campos em 1932. b) A vinda da família real em 1808. c) A Reforma proposta por Anísio Teixeira em 1960. d) A Reforma Darcy Ribeiro, em 1962. 2 Os primeiros cursos superiores criados no Brasil adotaram o modelo: a) Francês-napoleônico. b) Luso-brasileiro. c) Francês-alemão. d) Napoleônico. 3 Em relação à universidade brasileira é correto afirmar que: a) Foi criada para atender as camadas altas e populares. b) As camadas médias tiveram acesso ao ensino superior público a partir de 1930. c) Em 1968 o movimento estudantil reivindicava a oportunidade de estudo para as camadas populares. d) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº. 9394/96 não retomou a questão da pesquisa e do ensino no viés da luta empreendida no Brasil ao longo dos anos 60. 4 Dentre as finalidades do ensino superior, de acordo com o artigo 43, da atual LDB, destacam-se: a) O incentivo ao trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura. b) A extensão como forma de tornar a população mais culta e diminuir o número de analfabetos. c) Estímulo ao conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, mas sem a prestação de serviços especializados à comunidade. d) Promover a divulgação de conhecimentos populares, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade no interior da universidade, apenas para seus alunos. Dica de Aprofundamento É interessante conhecer diferentes visões sobre o ensino superior, então o convidamos a fazer a leitura abaixo: COSTA, João Vasconcelos. A Pedagogia no Ensino Superior e o Insucesso Escolar. Disponível em < http://joaojosefonseca1.blogspot.com/2008/02/pedagogia-no-ensino-superior-e- o.html >. Acesso em: 08 maio 2019. UNIDADE 2 - A METODOLOGIA COMO ATO POLÍTICO A metodologia está intimamente relacionada com as finalidades da educação, ou seja, com o que se busca alcançar por meio da ação pedagógica. Isto quer dizer que toda e qualquer ação metodológica traz consigo um conjunto de valores, crenças e intenções por parte da pessoa que planeja e/ou executa, mesmo quando esta não tem consciência da extensão e consequências da sua prática. O objetivo desta unidade é refletir sobre as relações existentes entre a opção metodológica do professor e as implicações políticas do ato de ensinar, compreendendo que esta não é uma prática neutra, pois traz, em si, intencionalidades. 2.1 A intencionalidade do ato de educar O ato de educar não é neutro, como já vimos anteriormente. Ele é todo permeado de intencionalidades porque se preocupa com a formação humana, ou seja, quem educa tem um objetivo, uma intenção. De acordo com Pimenta e visa à formação humana por meio de conteúdos e habilidades, de pensamento e portanto, um ato político que exige do educador a tomada de decisão sobre o que ensinar, como ensinar e, neste processo, se torna evidente sua própria opção política, visão de mundo, valores, crenças, etc. O papel atribuído à educação muda no decorrer do tempo, de acordo com os desafios de cada época. Da mesma forma, a visão de mundo do educador se constrói no interior dessas mudanças, por meio da sua participação nos movimentos sociais, nas diversas práticas sociais, nos conflitos e contradições próprias da sua época. Este movimento é processual e contínuo. Aprende-se com ele e por meio dele, numa relação dialética. Tal aprendizagem influi diretamente o modo de ser do profissional, cidadão, ser humano, enfim, da pessoa que somos, mesmo quando não temos consciência desse processo. A cada nova experiência se aprende, se reflete, se questiona, modificando a forma de ser e pensar o mundo. Se o ato de educar tem uma intencionalidade, o educador não pode ser ingênuo e, por isso deve refletir sobre os pressupostos éticos, filosóficos, políticos e teóricos que subjazem a sua prática docente, tendo em vista o cidadão que pretende formar, ou ao menos, colaborar com sua formação e também a sociedade que buscamos agora e para as gerações futuras. Será que estamos satisfeitos com a sociedade que temos? A violência urbana não é problema nosso? Os valores que exercitamos são boas referências para nossos filhos, alunos, companheiros, amigos? Outro parâmetro que devemos adotar nesta reflexão é a análise das políticas educacionais do nosso País, questionando suas finalidades e resultados, no sentido de se garantir educação de qualidade para todos, assegurando igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, independente de sua condição social e econômica. Se o discurso político é pela educação de qualidade, quais são os instrumentos que garantem sua efetivação? Quais entraves impedem sua realização? As políticas educacionais devem ser analisadas à luz do modelo de Estado moderno que temos e que se propõe a buscar a cidadania pela educação. São as respostas a esses questionamentos que podem nos guiar nesta caminhada quando se trata da necessária reflexão sobre as finalidades da educação brasileira. Para concluir, é importante refletir sobre os desafios da educação enquanto prática histórica, que, de acordocom Pimenta e Anastasiou (2005, p.98), são três: a) sociedade da informação e sociedade do conhecimento; b) sociedade da esgarçadura das condições humanas, trazidas na violência, na concentração de renda na mão de minorias, na destruição da vida pelas drogas, pela destruição do meio ambiente, pela destruição da relação interpessoal, etc.; c) sociedade do não- emprego e das novas configurações do trabalho. É no interior deste novo contexto social que se gestam, dialeticamente, as condições materiais e a educação que deverá ser capaz de responder às necessidades históricas do século XXI. A compreensão e a leitura desse momento histórico apontam para as múltiplas possibilidades de atendimento a um número maior de brasileiros que ainda não tiveram acesso ao ensino superior. As tecnologias respondem a essas necessidades, por permitir uma educação mais flexível no que se refere ao planejamento e organização curricular. 2.2 A metodologia como opção política: reprodução ou transformação? Para que você entenda melhor a relação existente entre a concepção de mundo e a opção metodológica do professor, enunciamos, a seguir, diferentes pontos de vista de educadores a partir da sua vinculação a uma das tendências pedagógicas citadas anteriormente: tradicional ou crítica. Nas tendências tradicionais, o centro do processo de ensino-aprendizagem é o professor. O aluno se torna um simples receptor das informações veiculadas pelo professor, reproduzindo o conhecimento mesmo quando não tem a compreensão do mesmo e a sua aplicabilidade. A esse respeito, Saviani (2018, p.12) afirma que o papel da escola é [...] difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. O mestre-escola será o artífice dessa grande obra. A escola se organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o qual transmite segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos. Paulo Freire (1987, p.66), ilustre educador, afirma a esse respeito que: Em lugar de comunicar- depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Para Libâneo (1993, p.24), nesta tendência, na relação professor-aluno: Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio. Em todos esses exemplos, a visão de mundo que está posta é bastante reveladas, incontestáveis e inquestionáveis. Ao aluno, não cabe a tarefa de refletir, propor, criticar. Tudo já está pronto e organizado por um profissional que sabe mais qui, se configura como um conjunto de métodos e técnicas de caráter neutro e, portanto desvinculado do contexto histórico e da prática social do aluno. Esta tendência serviu e serve ainda hoje muito bem aos anseios de uma sociedade mais fechada, autoritária, que por meio de uma educação que se impõe sem dar espaço para a reflexão e a crítica. É o tipo de educação que não busca a emancipação humana, a autonomia intelectual. A aprendizagem, nesta tendência, não é significativa, pois o aluno não percebe as relações entre o conteúdo e a prática. Por isso, sua base é em uma metodologia que estimula a memorização de informações, de modo mecânico, para que o aluno dê as respostas que o professor espera em cada avaliação, alcance uma média para ser aprovado e todos fiquem satisfeitos com os resultados. Pensar a educação a partir desse parâmetro é menosprezar a capacidade criativa e crítica do ser humano, é negar a chance de crescimento intelectual e retardar o processo de mudanças necessárias para o avanço científico, tecnológico, social e cultural. Vejamos agora as tendências consideradas como mais progressistas ou críticas. O ponto de partida é outro! O conhecimento não é fechado, e, portanto não se esgota em si mesmo. É sempre referência para a construção de novos conhecimentos a partir da análise crítica e do ponto de vista do sujeito que tenta dele se apropriar. O papel da metodologia é fazer a mediação entre a prática social do aluno e o novo conhecimento. Portanto, estimula a busca pelo conhecimento de modo crítico, criativo, reflexivo e contextualizado, por meio da pesquisa e estudo, desenvolvendo a autonomia intelectual do aluno. Observe o quadro abaixo, elaborado a partir das ideias de Saviani, a síntese do movimento metodológico realizado pelo professor e aluno na construção do conhecimento. Quadro 1 Etapas da Abordagem Metodológica PONTO DE PARTIDA X PONTO DE CHEGADA PRÁTICA TEORIZAÇÃO DA PRÁTICA RETORNO À PRÁTICA CONCRETA ABSTRATA CONCRETO PENSADO ANALISE DA REALIDADE ENTENDIMENTO DA SUA LÓGICA E MOVIMENTO TRANSFORMAÇÃO TESE ANTÍTESE SÍNTESE Fonte: Elaboração própria Esta tendência investe na produção de conhecimento, colaborando para o avanço da ciência e da tecnologia, levando o aluno a perceber a relação entre o saber e a realidade vivida. Agora vamos analisar o que os mesmos autores falam a respeito desta tendência, enfocando a questão da metodologia. Saviani (2018, p.79) afirma que: [...] serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. Freire (1987, p. 80) diz que Assim é que, enquanto a prática bancária, como enfatizamos, implica numa espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica num constante ato de desvelamento da realidade. Libâneo (1993, p. 40) diz que Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não partem, então, de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora. O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor, momento em que se dará a Para Vasconcelos (1994, p. 97 apud CANDAU, 1994), A metodologia tem um sentido mais amplo, como uma estratégia geral de abordagem do fenômeno educativo. Isto é, como instrumental teórico-prático que permite o conhecimento mais real possível e a prática mais segura e clara, possibilitando o saber e o fazer a um só tempo, encarados como realidade total e, por isso mesmo impossível de serem separados. A escolha por uma dessas opções depende da história de vida do professor, da sua leitura de mundo, das experiências vividas nos diferentes grupos, ou seja, a prática social. É preciso lembrar que a opção passa pelo filtro dos valores e crenças e muitas vezes o professor nãotem consciência da dimensão política que perpassa o ato de ensinar. É isso mesmo, educar tem uma forte conotação política e, portanto como professor é possível optar por uma tendência que se pauta na simples memorização cópias, imitação de modelos, sem questionar a validade e aplicabilidade do conhecimento. Neste sentido, quantas vezes já nos perguntamos por que estudamos determinada disciplina ou conteúdo, por não vermos significado nele. Muitas vezes não nos lembramos nem do professor! Gramsci (1989) afirma que o primeiro passo para mudança é o exercício de conhecer a si mesmo, reconhecendo as possibilidades, mas principalmente as limitações. O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que somos - processo histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços recebidos sem benefício no inventário. Deve-se fazer, inicialmente, este inventário. Para ele, criticar a própria concepção de mundo, portanto, significa torná-la unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais elevado. Significa, portanto, criticar também a própria filosofia até hoje existente, na medida em que ela deixou estratificações consolidadas na filosofia popular. Todo profissional busca se tornar cada vez mais competente na sua função. De acordo com Zabala (1998), isto geralmente é possível por meio do conhecimento das variáveis que interferem na prática e da nossa experiência e dos outros professores. O conhecimento, segundo o autor, é adquirido por meio da investigação, das experiências dos outros, dos modelos, exemplos e propostas e, neste contexto, a avaliação de nossas ações passa pela análise do que fazemos, de nossa prática e do contraste com outras práticas. Exercício 3 1 O ato de educar implica em opções políticas que dependem da visão de mundo do educador. Isto porque o ato de ensinar é permeado pela neutralidade. a) Verdadeiro b) Falso 2 A tendência tradicional de ensino concebe o professor como o centro do processo educativo e o aluno como mero receptor de informações descontextualizadas. a) Verdadeiro b) Falso 3 A metodologia aplicada nas tendências tradicionais se pauta na memorização, decoração e imitação de modelos, por isso estimula o crescimento intelectual do aluno. a) Verdadeiro b) Falso 4 Nas tendências críticas de ensino o conhecimento não se esgota em si mesmo, pois é sempre referência para novas aprendizagens, de modo contínuo e dialético. a) Verdadeiro b) Falso 5 A metodologia aplicada nas tendências críticas se pauta em métodos que estimulam a atividade e iniciativa do aluno, mas não dispensa a orientação e acompanhamento do Professor. a) Verdadeiro b) Falso 6 A opção política por uma das tendências de ensino depende da formação do professor, bem como da sua visão de mundo, sociedade, etc. a) Verdadeiro b) Falso 7 O professor não precisa refletir sobre sua prática uma vez que sua opção por uma das tendências de ensino depende apenas da sua prática e experiência docente. a) Verdadeiro b) Falso 8 De acordo com Gramsci, o professor deve fazer o exercício de autoconhecimento para refletir sobre suas possibilidades e limitações. a) Verdadeiro b) Falso UNIDADE 3 - VISÃO HISTÓRICA DA METODOLOGIA DE ENSINO NA UNIVERSIDADE O objetivo desta unidade é analisar a trajetória histórica da metodologia no ensino superior e suas principais tendências. Você se encontra no ambiente universitário, vivenciando uma série de experiência de ensino e aprendizagem. Já lhe passou pela cabeça a ideia de que o ensino superior vem sendo construído a partir da produção do conhecimento e do avanço da tecnologia? Mas como será que tudo começou? Para auxiliar a nossa trajetória ao longo da história do ensino superior enfocaremos a questão da metodologia, fio condutor dessa discussão. Vamos lá! 3.1 Trajetória A análise da história do ensino superior brasileiro revela que este sofreu influência de alguns modelos europeus, como o jesuítico, o francês e o alemão, que tiveram predominância em diferentes momentos históricos e que até hoje ainda estão presentes na nossa universidade. Vamos estudar cada um deles tendo como referência o contexto sócio-econômico-político em que foram gerados. 3.1.1 Modelo jesuítico Este modelo usado em diversos países europeus era de fundo cristão e foi adotado no Brasil, nas escolas de primeiras letras fundadas após a chegada dos jesuítas. O currículo era formado pelo Trivium, abrangendo Gramática, Retórica e Dialética e o Quadrivium, com Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. O método adotado era o escolástico que visava à colocação exata e analítica dos temas a serem estudados e o conhecimento era posto de forma inquestionável, pronto e acabado, hierarquicamente organizado e com base na memorização. A esse respeito, Pimenta e Anastasiou (205, p.145) afirmam que: Para construir o método de ensino, os jesuítas tomaram como referência o método escolástico, existente desde o século XII, e o modus parisiensis, como era chamado o método em vigor na Universidade de Paris, local onde Inácio de Loyola e os demais jesuítas fundadores da Companhia de Jesus realizaram seus estudos. Neste contexto, as aulas eram realizadas por meio da leitura do texto e sua interpretação pelo professor seguido de perguntas feitas por ele para os alunos e vice-versa. O aluno deveria anotar e copiar tudo, pois na época não havia livros e este processo era importante para a realização dos exercícios de fixação e memorização do conteúdo. Também para ajudar no trabalho de memorização, todas as aulas eram iniciadas com a verificação da aula anterior e semanalmente a matéria era recapitulada. A sequência didática das aulas obedecia à seguinte ordem: Exposição, argumentos a favor, Argumentos contrários e Solução do mestre. O rigor e disciplina exigidos em sala de aula e nos momentos de estudo, o sistema rígido de avaliação e a postura do mestre são coerentes com o objetivo da educação daquela época, ou seja, salvar as almas e aproximar as pessoas de Deus. É preciso não perder de vista o contexto histórico do século XVI, principalmente no que se refere ao embate entre a Reforma, movimento liderado pelo monge alemão Martino Lutero e a reação da Igreja Católica, a Contra-Reforma. A Igreja procurou reafirmar seus dogmas, condenar as novas religiões e impedir o avanço das novas ideias por meio do Concílio de Trento, realizado em 1545. Neste momento, a Companhia de Jesus teve papel fundamental, pois assumiu o comando da educação e catequese imprimindo nas escolas cristãs o rigor militar próprio da formação de Inácio de Loyola, ex-soldado, agora a serviço de Deus. Outro aspecto interessante de se ressaltar é o fato de que o aluno não era estimulado a refletir, criar, construir seu conhecimento a partir da compreensão, pois era educado para a obediência e não podia questionar o conhecimento imposto. A base da metodologia imposta nas escolas era a memorização, reforçada pelas cópias, exercícios de fixação, repetição das lições. Isto justifica as repetições realizadas ao meio-dia e no final da tarde nas escolas jesuíticas. Observando a foto abaixo se percebe a clara relação entre a educação e o cristianismo, pois o colégio era construído anexo a uma igreja e os mestres eram padres jesuítas. Colégio em São Paulo fundado pela Companhia de Jesus em 1554 Fonte: https://goo.gl/dz1Ush3.1.2 Modelo francês-napoleônico O modelo francês-napoleônico foi adotado no Brasil Colônia a partir de 1808, com a vinda da família real, quando iniciou o ensino superior, com a criação das escolas isoladas. Antes dessa data, as famílias abastadas, que aqui viviam, mandavam seus filhos para Europa, geralmente para Portugal, a fim de completar seus estudos. Esse modelo caracterizava-se por uma organização não-universitária, mas profissionalizante, centrada nos cursos ou faculdades com a finalidade de formar os burocratas que atuariam nos quadros administrativos do Estado. O ensino superior foi criado para servir a elite, única parcela da população que tinha condições econômicas para financiar os estudos de seus filhos. Assim foram criados os cursos de anatomia, cirurgia e medicina, bem como os cursos jurídicos, que mais tarde deram origem à Faculdade de Medicina da Bahia e as Faculdades de Direito em São Paulo e Recife. No que se refere à sala de aula, podemos afirmar que esse modelo não altera as características próprias do modelo jesuítico, ou seja, continuou a mesma relação professor-aluno-conhecimento. Desse modo, o professor continuou com seu papel central no processo ensino-aprendizagem, enquanto o aluno manteve a atitude passiva, obediente e a metodologia se manteve com base na memorização e na repetição. Neste sentido é interessante a posição de Pimenta e Anastasiou (2005, p. 150), que afirmam: O professor é o transmissor do conhecimento e, no estudo das obras clássicas, a aceitação passiva das atividades propostas, a importância da memorização do conteúdo pelo aluno como sua obrigação primordial, a força da avaliação como elemento essencialmente classificatório são características do ensino na universidade. Reforçam-se aí, elementos do ensino jesuítico, que refletem aquele conjunto de valores e atendem aos objetivos é preservado com uma metodologia tradicional, com uma pedagogia de manutenção, não havendo intencionalidade para a criação do conhecimento. O modelo francês-napoleônico surgiu em maio de 1806, na França, quando Napoleão Bonaparte criou a Universidade Imperial, uma corporação estatal de docentes chefiada por um Grão-Mestre, destinada a manter o ensino secundário e superior exclusivamente público do Império. Este modelo seguiu nitidamente os moldes das organizações religiosas e, Estado, que juravam obediência aos estatutos e às ordens do Imperador, que a esse respeito se Eu quero um corpo que esteja ao abrigo das pequenas febres apud ROSSATO, l998. p. 127). Em outras palavras, um corpo obediente e disposto a servir o Imperador, por meio do Estado enquanto instrumento de dominação política. Universidade de Paris Fonte: https://goo.gl/YqpDpF De acordo com Rossato (1998, p.83-84), o modelo napoleônico se caracteriza pelo monopólio estatal, a manutenção da laicização introduzida pela Revolução Francesa, a divisão em faculdades compartimentalizadas, a importância atribuída à colação de grau e ao Diploma como requisito para o exercício da profissão e a forte conotação ideológica que colocava a educação a serviço exclusivo do Estado Imperial. Desta forma, fica evidente o atrelamento da universidade aos interesses do Estado, inclusive na preparação de seus quadros, os quais devem seguir rigorosamente a orientação do governo, do poder instituído, deixando em segundo plano, os interesses da sociedade, da nação e dos segmentos médios e pobres da população, uma vez que só as elites tinham acesso a este nível de ensino. A universidade se revestia dos mesmos ideais autoritários impostos pelo governante à sociedade civil, que, por sua vez, não tinha clara consciência da situação, até porque a educação não estimulava a crítica, pelo contrário, servia mais como doutrinação, mantendo os interesses do governo e das elites. Casamento perfeito para a época! As fotos abaixo das primeiras universidades brasileiras ilustram a arquitetura da época, com forte influência europeia. Faculdade de Direito de Recife Fonte: http://migre.me/2bUQX Faculdade de Direito do Largo São Francisco Fonte: http://migre.me/2bURJ 3.1.3 Modelo alemão Modelo alemão ou humboldtiano foi criado na Alemanha no final do século XIX, num momento histórico em que este país busca a sua edificação nacional, uma vez que perdeu espaço na Revolução Industrial diante do avanço deste processo na França e Inglaterra. Com a finalidade de se tornar autônoma e renovar seu aparato tecnológico, o modelo alemão propõe uma universidade comprometida com a resolução de suas questões nacionais, por meio da pesquisa. Paula (2009, p. 01) afirma que A criação da Universidade de Berlim, em 1810, representou um marco fundamental para a concepção moderna de universidade. Foi precedida por uma reflexão teórica da qual fizeram parte filósofos, como Fitche, Schelling e Schleiermacher e filólogos, com Wolf e Guillermo de Humboldt, o verdadeiro fundador da Universidade de Berlim. Em seu texto de 1810, intitulado Sobre a organização interna e externa dos estabelecimentos científicos superiores em Berlim, Humboldt (1959) destaca a importância da pesquisa como função primordial da universidade, ao lado do ensino, concebendo a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da formação como característica essencial da Universidade, ao lado da universalidade de campos de conhecimento, garantida pela centralidade do papel desempenhado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras como órgão articulador, por excelência, dos diversos campos do saber. Além disto, Humboldt, em seus escritos, concebe o trabalho científico como livre de quaisquer tipos de injunções e pressões, tais como do Estado, da Igreja e de outras demandas externas ao campo acadêmico universitário. Desse modo, a universidade proposta se preocupou com a resolução dos problemas nacionais por meio da ciência, unindo os professores entre si e aos alunos pela pesquisa, atuando em dois espaços, nos institutos e nos centros de pesquisa. Os institutos tinham por objetivo a formação dos profissionais enquanto os centros buscavam a atividade científica como processo cooperativo entre docentes e alunos, estabelecendo uma relação de parceria na busca de solução para os problemas nacionais e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Como podemos observar, esse modelo, diferentemente do francês napoleônico, propõe a autonomia da universidade em relação ao Estado e à sociedade civil, se preocupando em buscar a verdade como caminho do autodesenvolvimento. O professor assume um novo papel, assim como o aluno, ambos buscam a construção do conhecimento de um modo ativo, por meio da pesquisa, reflexão e crítica, superando a concepção do conhecimento como algo estático, pronto e acabado. Ambos entendem o conhecimento como transitório, em constante movimento e transformação. Esta nova concepção de ensino é perfeitamente compreensível à luz do contexto sócio-econômico-político vivido pela Alemanha naquele momento histórico, marcado pelo atraso no desenvolvimento científico e tecnológico causado pelos seus conflitos internos e organização do Estado. Esse modelo se expandiu para outros países e no caso do Brasil, chegou por meio dos acordos MEC/USAID, firmados na década de 1960, com a finalidade de reformar a educação brasileira. Por este acordo, o Brasil era obrigado a contratar assessoria de técnicos norte-americanos e a adotar a línguainglesa a partir da 1ª série do então ensino de 1º grau. A reforma se concretizou por meio da Lei nº 5540/68, relativa ao ensino superior e Lei nº 5692/71, referente aos ensinos de 1º e 2º graus. Sala de aula tradicional Fonte: https://goo.gl/4x79J1 A Lei nº 5540/68 foi a resposta que o regime militar da época deu ao movimento estudantil de 1968. Esta reforma, que faz uma leitura equivocada do modelo alemão, traz sérias consequências na formação intelectual das gerações mais jovens, ao mesmo tempo em que propõe um ensino desvinculado da realidade brasileira. -se aí a pesquisa do ensino, deixando à graduação a responsabilidade de formação dos quadros profissionais - o que reforça o caráter profissionalizante do modelo napoleônico e destinando à pós- Enquanto o modelo alemão propunha exatamente a parceria entre docentes e discentes na produção do conhecimento, a reforma brasileira entrou na contramão da história fazendo a cisão entre ambos. Como afirmam Pelegrini e Azevedo (2006, p. 1): Em suma, a política educacional instituída precisou adaptar o sistema educacional ao atendimento dos interesses da estrutura de poder edificada, propagando seu ideário, reprimindo seus opositores e reestruturando uma tripla função: a reprodução da força de trabalho, a conservação das relações de classes e a eliminação de um dos principais focos de dissenso político. No período que antecedeu ao golpe militar ocorreu no ensino superior latino americano um forte movimento em busca de uma educação mais crítica, com base na ciência, na pesquisa e na criatividade. Esta tendência concebia o conhecimento como provisório, passível de mudança e novas abordagens. Com a implantação do regime militar nos diversos países da América Latina no decorrer dos anos 60, cerceou este movimento, trazendo, consequentemente, a estagnação do pensamento crítico, da pesquisa e da relação de parceria entre professor e aluno. Dessa forma, o ensino pautou-se na reprodução do conhecimento, com ênfase na figura do professor como mero transmissor de conteúdo, impedindo a construção da autonomia intelectual dos alunos. Disciplinas voltadas para o desenvolvimento do pensamento crítico como a filosofia e a sociologia foram banidas do currículo ou receberam outro tratamento pedagógico, destituído da crítica. 3.2 Tendências atuais Apesar de todos os avanços tecnológicos ainda se percebe na universidade brasileira resquícios dos modelos jesuítico, francês-napoleônico e alemão adequados segundo os interesses do acordo MEC/USAID. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, sancionada em dezembro de 1996, em seu Título V Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino estabelece as competências da universidade brasileira e busca superar a dicotomia entre pesquisa e ensino, bem como normatiza, nos artigos 52, incisos I, II e III e 53, questões relativas à Universidade, tais como: o seu conceito, atribuições e autonomia. Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional. O ensino, aqui é entendido como a construção de conhecimentos, troca de informações ou de esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação que, na Universidade, objetiva a formação de profissionais de nível superior para atuarem no mercado de trabalho de acordo com a área específica de estudos. A pesquisa é a atividade voltada para a solução de problemas e a busca da verdade que, na Universidade visa a investigar cientificamente a realidade criando novos conhecimentos, desencadeando novas descobertas e tecnologias a serviço da sociedade, e como consequência, o desenvolvimento sócio-econômico e cultural da Região e do País. A extensão é a atividade que coloca a Universidade em contato com a comunidade para beneficiá-la com o conhecimento produzido, devolvendo-lhe o referencial básico para a pesquisa e ensino com fatos relevantes em nível social e científico. Embora as funções estejam claras no texto legal, o ensino superior brasileiro ainda apresenta aspectos que comprometem seu papel social, quando, por exemplo, uma parcela significativa dos docentes exerce a função de ensinar de forma desvinculada da pesquisas, o investimento na formação continuada ainda é tímido e as salas de aula ainda guardam grande semelhança com os modelos tradicionais de ensino, sem a infraestrutura necessária e possível diante de tanto aparato tecnológico que hoje temos disponível no mercado. Este quadro comprova o nível de atenção e cuidado que os governantes brasileiros têm dado à educação, embora é preciso ressaltar, como bem afirmam Pimenta e Anastasiou (2005, p. 154-155), que existem esforços no sentido de superar esses entraves. No entanto, experiências com novas formas de enfrentamento dos quadros teórico-práticos dos cursos de graduação vêm sendo feitas, ainda que sejam numericamente minoritárias. Essas experiências incluem a construção coletiva de projetos pedagógicos institucionais e de cursos, revisões metodológicas na direção de um projeto dialético de construção do conhecimento, evidenciando atividades de ensino com pesquisa, ensino por projetos, etc., nos quais professores e alunos assumem o papel de sujeitos-parceiros, condutores do processo de fazer da universidade um espaço de construção de cidadania, de resolução das questões nacionais, de formação profissional qualificada e atualizada. Quando pensamos no atual aparato tecnológico disponível na sociedade, sentimos o descompasso entre o avanço da ciência e o espaço escolar. Hoje o professor tem a possibilidade de trabalhar com seus alunos não só no espaço presencial, mas também a distância, por meio de uma ação sistemática de uso de tecnologias, incluindo hipertexto e redes de comunicação interativa, para o estudo e realização de tarefas e atividades sem limitação de tempo ou lugar (anytime, anyplace). Sala de aula com suporte tecnológico Fonte: http://migre.me/2bVFs Isso implica na mudança de estratégias didático-metodológicas que usamos no ensino presencial, além de novas aprendizagens no que se refere ao uso de ferramentas possíveis de serem utilizadas pelos professores e de que modo, com que intensidade, finalidade. Além disso, é preciso refletir sobre como a inserção de uma mídia eletrônica interfere no planejamento da disciplina como um todo e de cada aula especificamente, como ocorre a comunicação do professor com os alunos no ambiente virtual. Mas tudo isso não pode ser ignorado, pois a tecnologia está aí e faz parte da nossa vida, da nossa realidade. Temos que aprender a usá-la a nosso favor, na busca da educação de qualidade que tanto queremos. Exercício 4 1 Analise os enunciados a seguir: I. No modelo jesuítico de ensino superior a metodologia privilegiava aulas realizadas por meio da leitura de texto e sua interpretação pelo professor seguido de perguntas feitas por ele para os alunos e vice-versa. Por isso, os alunos deveriam anotar e copiar tudo para depois fazer os exercícios de fixação e memorizar o conteúdo. II. O modelo francês-napoleônico é considerado avançado porque propunha o ensino por meio da pesquisa, estabelecendo a parceria entre professor e aluno. a) Apenas o enunciado I está correto. b) Apenaso enunciado II está correto. c) Os dois enunciados estão corretos. d) Nenhum enunciado está correto. 2 Analise os enunciados a seguir: I. O modelo alemão organizava as universidades em centros e institutos. Os institutos tinham por objetivo a formação dos profissionais enquanto os centros buscavam a atividade científica como processo cooperativo entre docentes e alunos, estabelecendo uma relação de parceria na busca de solução para os problemas nacionais e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. II. Na década de 1960, com a implantação da Lei nº 5540/68 percebe-se que o ensino superior brasileiro optou por uma metodologia reprodutivista, de acordo com as orientações de técnicos norte-americanos, apesar da pressão e reivindicação dos estudantes. a) Apenas o enunciado I está correto. b) Apenas o enunciado II está correto. c) Os dois enunciados estão corretos. d) Nenhum enunciado está correto. 3 Analise os enunciados a seguir: I. As tendências atuais se preocupam em concretizar a função proposta pela universidade, ou seja, a pesquisa, o ensino e a extensão. A metodologia que se busca é de parceria entre professor e alunos, para promover a autonomia intelectual do aluno e possibilitar a memorização dos conteúdos. II. Podemos afirmar que apesar de todos os avanços tecnológicos ainda se percebe na universidade brasileira resquícios dos modelos jesuítico, francês-napoleônico e alemão adequado segundo os interesses do acordo MEC/USAID. a) Apenas o enunciado I está correto. b) Apenas o enunciado II está correto. c) Os dois enunciados estão corretos. d) Nenhum enunciado está correto. Dica de Aprofundamento Para aprofundamento neste tema, sugerimos a leitura do artigo a seguir: FIGUEIREDO, Erika S. A. de. Reforma do ensino superior no Brasil: um olhar a partir da história. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/revistaufg/article/view/48780>. Acesso em: 08 fev. 2018. UNIDADE 4 - PLANO E PLANEJAMENTO DE ENSINO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO Vamos discutir agora a organização do trabalho pedagógico do professor. Nesta unidade, trataremos do plano e do planejamento, instrumentos indispensáveis para a organização da prática docente. O ato de planejar faz parte do cotidiano do ser humano. Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que, no momento histórico que estamos vivendo atualmente, o planejamento se torna indispensável diante de tantas atividades que temos de assumir. Sem o planejamento podemos nos perder, nos desviar de nossos objetivos e ainda, trabalhar muito e em vão... Agora, vamos transportar nossa reflexão para o ambiente escolar, espaço socialmente reconhecido como promotor da formação do ser humano. Aqui, o planejamento adquire maior importância, pois a tarefa de formação é muito complexa, dinâmica porque é perpassada por diversas variáveis tanto no interior da escola como na sociedade, de um modo geral. No ambiente escolar se fala muito em planejamento e plano. Mas trata-se da mesma coisa? São palavras sinônimas? Vamos ver. 4.1 Diferenças entre plano e planejamento Neste contexto, a partir da definição de planejamento e de plano podemos perceber as diferenças que há entre os dois conceitos. Para Fusari (1995, p. 45), o planejamento caracteriza-se pela reflexão contínua sobre a práxis pedagógica e o plano é a formalização dos diferentes momentos desse processo, que é todo permeado de desafios e contradições. Fonte: http://migre.me/TzzE O sentido individual e coletivo do processo de planejamento precisa ser explicitado, isto é, o planejamento como processo que articula dinamicamente a ação-reflexão-ação tem um caráter mais coletivo, pois o grupo de educadores identifica os problemas de ensino e aprendizagem, pesquisa suas raízes e propõe formas para a sua superação. Assim, planejamento é processo. O plano, por sua vez, tem caráter mais individualizado ou de pequeno grupo e ocorre quando o educador ou educadores, a partir da reflexão coletiva documenta aquilo que pretende realizar e as observações do desenvolvimento do trabalho. O que se pretende é uma interdependência entre a dimensão individual e a coletiva do planejamento. O plano é documento. Fonte: http://migre.me/2bWGA Rays (1996, p.39) diz que planejar o ensino revela sempre uma intenção (consciente e/ou inconsciente) da prática educativa que requer desenvolvimento para um grupo de pessoas educandos ou educandas matriculados (as) em uma disciplina, situados (as) num determinado momento histórico, no tempo e no espaço. Assim, o ato de planejar o ensino é sempre um ato pedagógico (este, em sua essência, é sempre intencional) que reflete a visão (verdadeira ou falsa) que o educador possui sobre o mundo social e o mundo educacional. Neste sentido, podemos afirmar que o ato de planejar o ensino é sempre um ato político. Ainda a esse respeito, Vasconcellos (1999) afirma: O planejamento, enquanto construção-transformação de representações, é uma mediação teórico-metodológica para a ação, que, em função de tal mediação, passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretiza Portanto, podemos afirmar que: Planejamento processo de reflexão, tomada de decisão do grupo de educadores. Plano documento, registro das decisões para subsidiar a ação. objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo (o que vem primeiro, o que vem em seguida), no espaço (onde vai ser feita), as condições materiais (que recursos, materiais, equipamentos serão necessários) e políticas (relação de poder, negociações, estruturas), bem como a disposição interior (desejo, mobilização), para que aconteça. (grifo do autor). Dessa forma, podemos concluir, afirmando que: 4.2 As implicações políticas do ato de planejar como esta sempre esteve preocupada em formar um determinado tipo de homem (pessoa). Tais tipos mudam, variam de acordo com as diferentes exigências das Vasconcelos (1998, p.101) afirma que a prática educativa é um ato político porque implica na visão de mundo, sociedade, educação, ser humano, dentre outras. Esta prática não é neutra, pois é sempre condicionada por uma tendência que pode ser crítica (transformadora) ou não-crítica (reprodutora). Para se posicionar é necessário que o educador tenha consciência da sua própria prática social e de seus alunos. Concluindo, podemos afirmar que a metodologia é, portanto uma opção política do professor que envolve valores, crenças, atitudes, conhecimento, ética, etc. O grande desafio é articular o saber escolar com as condições do aluno de modo a garantir a apropriação crítica do conhecimento que permita a leitura da realidade. O ato de planejar o ensino é um ato pedagógico; o ato pedagógico é um ato político; por conseguinte o ato de planejar o ensino não pode deixar de ser (conter) também um ato político. Exercício 5 1 Analise os enunciados a seguir: I. O planejamento é uma atividade presente e importante na vida do ser humano, principalmente nos dias de hoje, diante dos vários compromissos que assumimos e da dinâmica da vida na sociedade tecnológica. No que se refere ao ambiente escolar, o planejamento é indispensável porque trata da formação humana, que é uma tarefa complexa e desafiadora. II. O plano caracteriza-se pela reflexão contínua sobre a práxis pedagógica, enquanto planejamento é a formalizaçãodos diferentes momentos desse processo, que é todo permeado de desafios e contradições. a) Apenas o enunciado I está correto. b) Apenas o enunciado II está correto. c) Os dois enunciados estão corretos. d) Nenhum enunciado está correto. 2. Analise os enunciados a seguir: I. Podemos afirmar que nem sempre o educador tem consciência da dimensão política do ato de planejar, pois não percebe sua intencionalidade. Neste caso, podemos afirmar que o planejamento perde sua função política. II. A prática educativa revela a visão de mundo, sociedade, educação, ser humano, dentre outras, do educador, portanto, esta prática não é neutra. III. A prática educativa é sempre condicionada por uma tendência que pode ser crítica (transformadora) ou não-crítica (reprodutora). a) Apenas o enunciado II está correto. b) Apenas os enunciados II e III estão corretos. c) Todos os enunciados estão corretos. d) Nenhum enunciado está correto. 4.3 Etapas de um plano No que se refere às etapas de um plano, podemos destacar dois grandes momentos, que são o diagnóstico da realidade e a elaboração do plano, propriamente dita, o que significa dizer, a definição de cada um dos seus elementos. 4.3.1 Conhecendo a realidade Para planejar um curso ou uma disciplina, é preciso conhecer a realidade onde se inserem a instituição, o professor e os alunos (as), por meio de uma análise que permita perceber sua dinamicidade, suas relações internas e externas para que se possa pensar e propor ações de intervenção necessárias, bem como buscar os recursos para sua concretização. Nesta fase é importante que se conheça: a) Comunidade: destacando as informações importantes para a contextualização do curso na realidade social, como, por exemplo: Principais atividades econômicas e as possibilidades do mercado de trabalho na área do curso; Principais instituições públicas de caráter social, tais como bibliotecas, museus, teatros, cinemas, dentre outros que possibilitam a formação cultural/geral do aluno/a; Instituições de ensino superior que oferecem o mesmo curso; Instituições comerciais voltadas para a área educacional; Outros dados relevantes. b) Instituição: o professor deve conhecer seu local de trabalho para saber se situar e participar ativamente. Para tanto, se faz necessário o conhecimento dos: Objetivos; Organograma; Sistema de avaliação; Direitos e deveres do professor; Recursos disponíveis e possibilidades de utilização; Calendários; Horários de funcionamento; Programas e projetos especiais; Prioridades para o ano letivo. c) Curso: tão importante quanto conhecer a organização da instituição é o conhecimento específico do curso, ou seja: Objetivos; Perfil do profissional que se pretende formar; Grade curricular; Problemas, necessidades, perspectivas, experiências positivas; Contribuição das disciplinas para a formação do profissional; Possibilidades de integração entre as disciplinas; Análise das ementas, conteúdo programáticos e objetivos; Propostas de atividades como seminários, semanas, projetos, dentre outros. d) Alunos: as informações sobre os alunos são importantes para o planejamento das aulas, em especial, das atividades, tendo em vista suas possibilidades. Por exemplo: Número de alunos: novos, repetentes, em dependência, trabalhadores etc.; Nível sócio-econômico, faixa etária, atividade profissional; Expectativas em relação ao curso, à disciplina e aos professores; Nível de conhecimento, leitura, dificuldades especiais; Disponibilidade para estudo e realização de tarefas. e) Professor: além de refletir sobre suas condições de trabalho, é preciso que o professor reflita sobre sua formação e condições para assumir a docência, considerando: Nível de conhecimento na área de formação; Nível de conhecimento na disciplina que se dispõe a trabalhar; Experiência no magistério; Disponibilidade para estudar, planejar, se reunir, refletir sobre sua prática e trocar experiências com os colegas; Alternativas disponíveis para solucionar dúvidas quanto à sua metodologia, conteúdo e avaliação; Entendimento sobre a relação professor-aluno; Concepção de mundo, sociedade, homem/mulher, educação, educador/a. LEIS DE DIRETRIZES E BASES DIRETRIZES DO CURSO PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL REGIMENTO DA INSTITUIÇÃO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO PLANO: CURSO UNIDADE AULA OBJETIVOS CONTEÚDOS METODOLOGIA RECURSOS AVALIAÇÃO Figura 1 Fluxo do Planejamento Fonte: Elaboração própria 4.3.2 Elementos constitutivos de um plano Os dados de um plano de ensino, assim como sua formatação/apresentação varriam de uma instituição para outra. De um modo geral, os planos trazem os seguintes elementos: a) Dados de Identificação: de um modo geral, constam o nome da escola, do professor, a disciplina, o semestre ou ano, a turma, a carga horária, número de créditos, dentre outros. b) Definição de objetivos. Entende-se por objetivos a indicação concisa do que se espera em termos de domínio de fatos, conceitos, princípios, leis e teorias, desenvolvimento de atitudes, valores e execução de procedimentos discentes após a orientação do docente. Para Masetto (1990), os objetivos são metas definidas com precisão, com resultados previamente determinados. Eles expressam o conhecimento ou as atitudes ou as habilidades que se espera que o aluno atinja. Os objetivos são importantes também porque orientam o professor na seleção do conteúdo, abordagem metodológica, técnicas de ensino, recursos e avaliação, tornando sua ação mais clara, facilitando a comunicação sobre a disciplina. Por isso, são considerados como ponto de partida para a análise da prática docente e para avaliar o que acontece na aula. (ZABALA, 1998). Os objetivos devem contemplar os aspectos cognitivos (conhecimento de conceitos, princípios, leis e fatos, ou seja, aprender a aprender), psicomotores/procedimentais (habilidades, técnicas, procedimentos, aplicação prática, enfim saber fazer) e afetivos/atitudinais (atitudes, valores, normas, aprender a ser, viver em sociedade). Para os alunos, a definição dos objetivos é importante porque os orienta o que fazer nas aulas, aumentando a sua confiança no professor. Representam critérios para o aluno se autoavaliar (feedback). Por isso, a sua seleção exige do professor criatividade, habilidade, conhecimento e paciência. É um trabalho de aula, mas se concretiza nela, onde surgem as críticas, os desafios e as contradições. Muitas vezes o planejamento ocorre antes dos primeiros contatos do professor com os alunos e, neste caso, quando iniciam as aulas o plano já está pronto! O que fazer se os objetivos não estão adequados ao nível dos alunos? É preciso lembrar que o professor é livre para rever seu plano durante todo o processo, adequando-o às necessidades, ao ritmo e progresso da turma. O plano não é um documento fechado, pelo contrário, é uma proposta que se refaz continuamente sempre que a realidade assim o exigir. Ainda sobre os objetivos, Masetto (1990) aponta: Quadro 2 Objetivos do Plano CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS ABRANGÊNCIA - Conhecimento - Habilidades - Atitudes - Reais - Atingíveis - Condizentes com as necessidades dos alunos e da comunidade. - Gerais - Intermediários - Específicos - São trabalhadas ao mesmo tempo - Estão sempre presentes na ação docente. - Devem aparecer no plano de modo equilibrado. - São operacionalizados em
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