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Profa: Siderly do Carmo Dahle de Almeida DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO Profa: Siderly do Carmo Dahle de Almeida Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Didática e Metodologia do Ensino Siderly do Carmo Dahle de Almeida Paranavaí - PR.: Fatecie, 2016. 185 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site SHUTTERSTOCK.COM PALAVRA DA DIREÇÃO Prezado Acadêmico(a), É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade contemporânea. Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso grupo educanional ao longo de nossa história. Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara para a cidadania de qualidade. Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo, apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná. Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão. Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria, por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação. Seja bem-vindo! Direção Faculdade Fatecie A U T O R Prof. Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida Doutora em Educação e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012) é Mestre em Educação pela PUCPR (2006). Especialista em Gestão da Informação pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (1999) e em Educação a Distância pela Faculdade Educacional da Lapa (2009). É graduada em biblioteconomia pela Universidade Federal do Paraná (1988) e em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (2010). Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de Educação, com ênfase em tecnologias e mídias educacionais, formação de professores, metodologia da pesquisa. Atuou na Prefeitura Municipal de Curitiba com Educação básica por 15 anos, entre 1991 e 2006, tendo neste período trabalhado com Educação Infantil e Primeiros anos do Ensino Fundamental, também implantou e coordenou os Faróis do Saber ? bibliotecas de bairro instaladas nas Escolas Municipais e atuou na Coordenação Pedagógica das Usinas de Conhecimento, programa do governo instalado em alguns municípios do Estado do Paraná. Coordenou por 6 anos o Núcleo de Aprendizagem e Aprimoramento para a Amadurescência da PUCPR e foi coordenadora de estúdio na EADCON, sendo responsável pela capacitação de docentes para atuar na Educação a Distância. Trabalhou na Unicesumar como Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação na área de Educação na modalidade a distância, e foi docente do Programa de Mestrado em Gestão do Conhecimento nas Organizações e Pesquisadora do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI). Atualmente é Coordenadora e docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias da Uninter. APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) acadêmico(a)! Estamos iniciando uma disciplina que nos permitirá um mergulho na profissão docente na contemporaneidade no que diz respeito a didática e as formas de ensinar. O docente é o profissional responsável pela educação formal nas instituições de ensino e é necessário que perceba que atua em um sociedade que é formada por distintos sujeitos. Que sociedade é esta? Que sujeitos são esses? Qual educação podemos oferecer? Para iniciarmos nossa conversa, precisamos definir o contexto educacional onde atuamos e seu papel na sociedade, além de conceituar a educação evidenciando os seus objetivos fundamentais, esclarecendo prioritariamente quem é o sujeito que se pretende formar para a sociedade, tendo a educação como base. Precisamos ainda compreender como ocorre o processo de ensino e de aprendizagem, principalmente no contexto da educação superior, apresentando um perfil docente do profissional que atua na educação superior assim como o perfil do aluno nesta etapa de ensino. Outro aspecto importante neste material é compreender os conteúdos, as experiências e o planejamento na educação como aspectos basilares da organização do trabalho docente, entendendo os objetivos, os recursos e as estratégias de ensino e suas relações com a organização do trabalho pedagógico e ainda considerando o processo de avaliação e suas dimensões no desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Por fim, precisamos analisar a importância da integração de tecnologia ao currículo escolar, entendendo as principais dificuldades dos professores no uso de tecnologias como estratégias didáticas e também a importância da formação para o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação. Seja bem-vindo (a) e bons estudos! ÍNDICE Unidade 1 07 | Concepção de Sociedade, Educação e Sujeito. Unidade 2 16 | Processo de ensino e aprendizagem no Ensino Superior: Ensino, pesquisa e extensão. Unidade 3 25 | Perfil docente e discente. Planejamento e organização do trabalho pedagógico docente. Unidade 4 33 | Metodologias e Estratégias de Ensino. PÁGINA 7 CAPÍTULO 1 CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E SUJEITO Prof. Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida Objetivos de aprendizagem ● Definir sociedade considerando-se o contexto educacional. ● Conceituar educação, evidenciando-se seus objetivos. ● Esclarecer quem é o sujeito que se pretende formar para a sociedade, por meio da educação Plano de estudo ● Concepção de sociedade. ● Concepção de educação. ● Concepção de sujeito. PÁGINA 8 INTRODUÇÃO Na sociedade em que vivemos, a questão educacional se faz cada vez mais presente na pauta de discussões nas mais variadas esferas: políticas, econômicas ou sociais. Você já deve ter observado que em muitas discussões que se tecem a respeito dos problemas enfrentados pela humanidade, a escola aparece como responsável, tanto para o bem, quanto para o mal. Em tempos que não vão longe, idealizadacomo mera transmissão de conteúdo de um sujeito que tudo sabia (o professor) para outro que nada sabia (o aluno), em um ato puramente tecnicista, que separava os saberes em disciplinas estanques e isoladas umas das outras e essas em conteúdos desconectados da realidade, chegamos a uma educação que se faz organizada como um processo de construção permanente que integra conceitos e metodologias, teorias e práticas, tendo como ponto de partida as experiências do cotidiano para a construção de saberes que possibilitem o desenvolvimento social, intelectual e ético dos sujeitos, alocando-os em suas culturas, seus contextos, seus conhecimentos prévios, pois educar exige comprometimento com a realidade do aluno e, portanto, com a sociedade. Nesta sociedade apresentam-se infinitas possibilidades e demandas que partem do âmbito social ao educacional ultrapassando os limites da instituição escolar, permitindo que ela se apresente como representante de um saber vivo, real, legítimo e não desconectado da realidade. Surge a urgência em se proporcionar que nesse espaço, a instituição de ensino, o conhecimento formal busque a integração das tecnologias de informação e comunicação ao currículo (o chamado “e-currículo”), de tal modo que o processo de ensino e aprendizagem adquira, de fato, aderência com a realidade. É considerando este contexto que vamos discutir, nesta nossa primeira unidade sobre quem é o sujeito que, por meio da educação, pretende-se formar para atuar nesta sociedade. CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE Entre as várias definições estabelecidas por Abbagnano (2007, p. 1080) em seu dicionário de filosofia, percebemos que o termo sociedade pode ser entendido No sentido geral e fundamental: 1º. Campo de relações intersubjetivas, ou seja, das relações humanas de comunicação, portanto também: 2º. A totalidade dos indivíduos entre os quais ocorrem estas relações; 3º. Um grupo de indivíduos entre os quais estas relações ocorrem em alguma forma condicionada ou determinada. Vivemos em uma sociedade cujo período histórico é cunhado por Ilya Prigogine como “o fim das certezas” afirmando que a dúvida é salutar para o desenvolvimento humano e que, aquilo que um dia foi caracterizado como PÁGINA 9 absoluto, pode ser questionado, averiguado e até negado, caracterizando a sociedade por sua leveza, liquidez, capilaridade e, para usar uma expressão cunhada por Castells, “em forma de rede” (CASTELLS, 1999) em que o contexto para a ruptura dos paradigmas se organiza em movimentos sociais como o feminismo, os movimentos ecológicos, os preconceitos raciais, enfim, a de defesa dos direitos humanos buscando exaltar a liberdade pessoal e a transformação social. Ainda para Castells estas mudanças relacionam-se profundamente a revolução que se originou nas tecnologias digitais de informação e de comunicação, que agem recompondo as estruturas da sociedade através do conceito de informacionalismo que é uma peculiaridade da “forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se fontes fundamentais de produtividade e poder” (CASTELLS, 2004, p.65). Deste conceito nascem as expressões “sociedade informacional” e “economia informacional” empregados por Castells para identificar, de modo ainda mais rigoroso, as transformações culturais, sociais, políticas e econômicas contemporâneas e também preconizar o papel da informação e, por consequência, do conhecimento em tal sociedade. E o que caracteriza a educação nesta sociedade? CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO Você sabia que a docência ocupa-se da sistematização da educação, da prática e das experiências que se materializam na sociedade, como um conjunto de processos que tem por finalidade intervir no desenvolvimento dos indivíduos e em suas condições sociais, visando à redistribuição do poder e das oportunidades para romper o ciclo de pobreza e desigualdade instaurado, possibilitando que aqueles que se encontram em situação de pobreza possam assumir o comando de suas vidas, expressando e partilhando preocupações e esperanças. SAIBA MAIS É verdade que a educação não atua como a grande alavanca da transformação social, pois sua ação é mediada pelas referências simbólicas. Mas a transformação da sociedade também não se dará sem mudanças na esfera simbólica. Por isso, a educação ocupa lugar importante no conjunto desse processo. Fonte: SEVERINO, 2001, p. 75 Na educação, objetiva-se um desenvolvimento que mantenha estreita relação com o desempenho da prática educativa. No Brasil, essa questão chega impulsionada pelas políticas públicas pensadas para a educação no início da década 1990, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN, 9394/1996, Parâmetros Curriculares Nacionais – (PCNs), Diretrizes Curriculares, dentre outros. PÁGINA 10 Dessa forma, podemos considerar que as recomendações da nova lei tornam necessária a implementação de investimentos com o objetivo de melhorar a ação pedagógica. A partir dessa perspectiva, é possível constatar a necessidade de refletir sobre as práticas da formação de professores para que se torne possível oportunizar conhecimentos teóricos, práticos e desenvolvimento de competências docentes que garantam uma melhor compreensão da organização da prática. É papel do professor intermediar os saberes institucionalizados aos saberes vividos, contextualizados, conectados ao dia a dia dos alunos, independentemente do nível de ensino em que estes se encontram. A temática da formação de professores sempre vem à baila quando são feitas análises e projeções a respeito da instituição escolar e do processo de escolarização. Via de regra, aos mestres são tributadas muitas das mazelas do ensino formal. Na esteira das críticas, quase sempre, podemos encontrar as denúncias a respeito de sua formação. (MELO; ARAÚJO, 2016, p. 33) Você já deve ter percebido que é ao professor que cabe a tarefa de sistematizar uma práxis empenhada com a transformação social e cultural, que coopere para perpetuar a aproximação necessária entre o saber da experiência e o saber formal, valorizando por igual esses saberes. Percebemos, assim, que o papel que cabe ao professor não é tão simples, considerando o arco de opções que a profissão oferece em uma sociedade que se encontra em permanente processo de mudança. Considerando o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional como aspectos fundamentais no processo de viabilização de uma formação contínua de qualidade, Nóvoa (1995, p. 25) enfatiza que [...] a formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de auto formação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vistas à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional. Esse processo de formação contínua estimula o amadurecimento teórico e prático do professor, possibilitando assim o aperfeiçoamento de sua prática educativa. REFLITA A educação gera um processo de conscientização e este é um compromisso histórico que permite ao sujeito assumir uma posição de transformador do mundo. Dentro desta concepção histórica, vamos entender quem é este sujeito responsável pela transformação do mundo? PÁGINA 11 CONCEPÇÃO DE SUJEITO Considerando-se o universo da subjetividade podemos dizer que a educação edifica o próprio sujeito. Essa é a concepção historicamente mais perceptível da educação. Desde o momento em que a humanidade começa a refletir sobre a educação, consideram-na essencialmente conectada ao espírito. Severino (2001, p. 80) dirá que “Educar-se é apreender-se e se construir cada vez mais como sujeito. A educação é aprendizagem e vivência da cultura simbólica, é experiência de auto-realização. Ela deve ser processo intencional de personalização.” O eu, enquanto uma unidadeinterna e ordenada, se atualiza à proporção que o sujeito se esforça para crescer. As experiências adquiridas nos processos de aprendizagem passam por uma autoavaliação que permite ou não que tais aprendizagens sejam incorporadas ao sujeito. A educação, vista por este aspecto, pode ser considerada um processo de autorrealização do sujeito ou o despertar de suas potencialidades, até talvez, adormecidas. Construir conhecimento exige um processo social e, com isso, o diálogo torna-se mediador do ato de conhecer, sendo um elemento-chave para que educador e educando sejam sujeitos social e politicamente atuantes. Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros ‘isto’, em que não reconheço outros eu? Como posso dialogar, se me sinto participante em um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são ‘essa gente’, ou são nativos inferiores’? Como posso dialogar se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é deterioração que devo evitar? Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela? Como posso dialogar se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho? (FREIRE, 2011, p. 93). Ao professor que atua na educação superior cabe realizar uma reflexão rigorosa e conjunta sobre a realidade na qual se vive e de onde surgirá o projeto de ação. A educação é, pois, um ato político e assim o é porque tem sempre uma intencionalidade. Os fundamentos da pedagogia freireana permitem, portanto, a aplicação dos conceitos em uma concepção libertadora de educação. Paulo Freire liga-se a uma das tendências da moderna concepção progressista, segundo a qual, descoberto o caráter político da educação, é necessário torná-la acessível às camadas populares. Ainda mais, torná-la o espaço da discussão e da problematização que visa a transformar a realidade social (ARANHA, 2006, p. 341). Com isso, Freire observa que a educação escolar é essencialmente uma política pública em todas as suas etapas e modalidades, tendo em vista PÁGINA 12 considerar um conjunto de ações coletivas que precisariam se preocupar com a garantia de direitos, encerrando um compromisso público que deveria dar conta da demanda social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade verificamos que a educação ao longo da história foi se tornando cada vez mais importante no contexto da sociedade, afinal, é preciso pensar como formar os sujeitos para que estes possam construir a sociedade em que vivem e, portanto, é imprescindível que haja afinidade entre o que se ensina nas instituições escolares e o que acontece na sociedade. A educação deve, necessariamente, acompanhar as questões políticas, sociais, culturais, econômicas, tal qual um espelho da sociedade, sendo assim, um reflexo da mesma ou ainda, sendo a sociedade um reflexo da educação por meio dos currículos sistematizados e trabalhados pelas instituições de ensino. Observamos as concepções do termo sociedade e ainda verificamos que, com as tecnologias digitais de informação e comunicação, nos encontramos conectados a outros sujeitos, como que em uma teia, formando uma “sociedade informacional”, em que a educação ocupa um papel central, considerando-se a formação dos sujeitos. O principal objetivo desta primeira unidade foi compreender o papel da educação na formação dos sujeitos e suas contribuições no desenvolvimento da sociedade e os saberes necessários para promover a democratização do acesso à educação na chamada sociedade do conhecimento. Observamos que o século XX caracterizou-se por um intenso fluxo de mudanças de todas as ordens, sejam elas sociais, políticas ou econômicas, alcançando os modos de percepção e intervindo nos processos de interpretação dos signos culturais que fazem parte do cotidiano dos sujeitos. Nessa nova ordem mundial, tendo em vista os processos de globalização, novas conformações marcam a educação de modo geral e, mais especificamente, as políticas educacionais, a instituição escolar, o trabalho docente e o sujeito sensibilizado por esta educação. PÁGINA 13 LEITURA COMPLEMENTAR Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico Prof. Dr. Antonio Joaquim Severino A humanidade vive, hoje, um momento de sua história marcado por grandes transformações, decorrentes sobretudo do avanço tecnológico, nas diversas esferas de sua existência: na produção econômica dos bens naturais; nas relações políticas da vida social; e na construção cultural. Esta nova condição exige um redimensionamento de todas as práticas mediadoras de sua realidade histórica, quais sejam, o trabalho, a sociabilidade e a cultura simbólica. Espera-se, pois, da educação, como mediação dessas práticas, que se torne, para enfrentar o grande desafio do 3o milênio, investimento sistemático nas forças construtivas dessas práticas, de modo a contribuir mais eficazmente na construção da cidadania, tornando-se fundamentalmente educação do homem social. A educação, como processo pedagógico sistematizado de intervenção na dinâmica da vida social, é considerada hoje objeto priorizado de estudos científicos com vistas à definição de políticas estratégicas para o desenvolvimento integral das sociedades. Ela é entendida como mediação básica da vida social de todas as comunidades humanas. Esta reavaliação, que levou à sua revalorização, não pode, no entanto, fundar-se apenas na sua operacionalidade para a eficácia funcional do sistema socioeconômico, como muitas vezes tendem a vê-la as organizações oficiais, grandes economistas e outros especialistas que focam a questão sob a perspectiva da teoria do capital humano. Sem dúvida, a existência real dos homens é profundamente marcada pelos aspectos econômicos, até porque esta dimensão econômica, devidamente entendida, constitui mesmo uma referência condicionante para as outras dimensões da vida humana, uma vez que ela se liga à própria sobrevivência da vida material. Porém, a significação dos processos sociais e, no seu âmbito, dos processos educacionais não se restringe a essa sua funcionalidade operatória. Se, de um lado, é a realidade dos fatos que permite que a educação tenha alguma incidência social, de outro, essa eficácia só ganha legitimidade humana se se referir a significações que ultrapassem sua mera facticidade e seu desempenho operacional. Buscar explicitar esses valores e significações é o que cabe a uma abordagem filosófica da educação e tal é o objetivo deste texto, ainda que nos restritos limites de espaço de que dispõe. Refletir filosoficamente sobre a educação não é dispensar os dados e análises que as ciências especializadas podem trazer e fazer; ao contrário, uma abordagem filosófico-educacional precisa levar em consideração esse retrato de corpo inteiro que a ciência faz da educação nos dias de hoje. O pensar filosófico não parte de referências abstratas e idealizadas, aprioristicamente colocadas, mas sim da própria realidade de seu objeto. Assim ela toma em conta as conclusões das ciências, procurando clarear os objetivos e finalidades que PÁGINA 14 precisam ser selecionados e privilegiados, até mesmo na definição dos meios, para que elas possam subsidiar as políticas sociais. É neste plano das finalidades que se estabelece o diálogo entre as perspectivas científica, filosófica e política, sendo esta última perspectiva entendida como o planejamento e a execução de ações que interferem diretamente na dinâmica social. Portanto, o objetivo do presente texto é aduzir algumas considerações sobre a significação da educação, como mediação concreta da existência real da sociedade brasileira, no quadrante histórico atual. Para tanto, parte de uma configuração da situaçãoem que se encontram as relações entre educação e sociedade, desenvolvendo em seguida considerações sobre o necessário redimensionamento de seu papel, em face das exigências postas pela significação da condição humana, fundada na iminente dignidade dos seres humanos como pessoas. Fonte: SEVERINO, ANTÔNIO J.. (2000). Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico. São Paulo em Perspectiva, 14(2), 6571. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/ S0102-88392000000200010 MATERIAL COMPLEMENTAR GREEN, Duncan. Da pobreza ao poder: como cidadãos ativos e estados efetivos podem mudar o mundo. São Paulo: Cortez, 2009. A obra de Green aponta para a questão da tecnologia como recurso de empoderamento. O autor é físico, formado pela Universidade de Oxford, viveu e trabalhou em muitos países latinos, acompanhando como jornalista as dificuldades econômicas, políticas e sociais pelas quais passavam tais países no período entre 1980 e 1990. PÁGINA 15 REFERENCIAS ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 1ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2007. ARANHA, M. L. de A. História da Educação. São Paulo: Ed. Moderna, 2006. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 11 ago. 2017. CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. FONSECA, Nelma Marçal Lacerda. Formação docente na UFMG: História e memória. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016. FREIRE, P.; FREIRE, A. M. A. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. MELO, Cleide Maria Maciel de; ARAÚJO, Thaís Stefanne de. A formação de professores na Faculdade de Filosofia de Minas Gerais – Belo Horizonte, MG (1935-1948). In: FARIA Fo., Luciano Mendes de; SOUZA, João Valdir Alves de; NÓVOA, A. Profissão professor. 2. ed. Porto: Porto Editora, 1995. PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas. São Paulo: Unesp, 1996. SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo; Olho d’agua, 2001. PÁGINA 16 CAPÍTULO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: PERFIL DOCENTE E DISCENTE 2 Prof. Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida Objetivos de aprendizagem ● Compreender o processo de ensino e de aprendizagem na educação superior. ● Apresentar um perfil docente do profissional que atua na educação superior ● Apresentar o perfil do aluno da educação superior Plano de estudo ● Processo de ensino e de aprendizagem na educação superior ● O papel do professor na educação superior ● O papel do aluno na educação superior PÁGINA 17 INTRODUÇÃO Nesta unidade temos por tema fundante os protagonistas que atuam no cenário da educação, considerando-se as modalidades presencial e a distância. A unidade tem por objetivo analisar o atual cenário da educação e como se desenvolve o trabalho dos professores e dos alunos na contemporaneidade. Saber o conteúdo a ser trabalhado em uma aula e um quadro de giz bastavam para o professor desempenhar seu papel docente. Por séculos foi assim. Muitas vezes, por comodismo, o professor utilizava o mesmo material do ano passado, quando não de cinco, dez anos atrás. Quem não lembra de algum professor seu que se dizia muito organizado e que contava com um caderninho velho, cheio de anotações, exercícios, textos que ele utilizava para “aplicar” seu conteúdo desde que iniciou suas atividades como docente? Ser aluno também exigia uma postura mais simples do que se espera hoje. Ao aluno cabia ouvir, decorar, repetir os conteúdos dados pelos professores. Com a utilização de metodologias ativas, este papel precisa mudar e ao aluno, novas tarefas são designadas. Como precisa ser o perfil deste aluno? Ou o professor se coloca na condição de aprendiz e experimenta novas metodologias, novos conceitos, novos horizontes, ou permanecerá com seu velho caderninho, num modelo tradicional de ensino, como transmissor de conhecimento, numa concepção bancária de ensino, como salienta Paulo Freire (1996), ao lembrar da impossibilidade de depositarmos o conhecimento na cabeça do aluno, como se este fosse mero receptor de informações. Para dar conta de suas tarefas no atual cenário da educação, professores e alunos precisam ser agentes autônomos, criativos, críticos e reflexivos. Vamos conhecer alguns autores contemporâneos que se debruçam sobre o tema e suas principais contribuições acerca do assunto: O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR As Universidades fundam-se sobre três pilares: o ensino, a pesquisa e a extensão e, para ser professor universitário, tanto na modalidade presencial quanto na EAD, é preciso agir nestas três frentes e é isso que, basicamente, os diferencia dos professores que atuam em outros níveis de ensino. Ou seja, além de ensinar, é preciso constantemente pesquisar e publicar suas pesquisas (pesquisa) e estar envolvido com as práticas profissionais dos cursos em que atua (extensão universitária). Aos alunos cabem papéis que se assemelham aos de seus professores. Não basta sentar e ouvir as aulas, anotar o conteúdo e realizar as provas e atividades propostas. É preciso pesquisar e pesquisar no sentido de ler, interpretar, reescrever, atribuindo novos significados àquilo que se aprendeu com o que foi lido. Não a pesquisa cópia, mas a pesquisa descoberta de sentido. Com relação a extensão, as universidades devem promover a prática profissional do estudante, preferencialmente desde o início do curso, e ainda, PÁGINA 18 aplicar e expandir esse conhecimento na sociedade. Para Saviani “Cabe à universidade socializar seus conhecimentos, difundindo-os à comunidade e se convertendo, assim, numa força viva capaz de elevar o nível cultural geral da sociedade” (1987, p. 48). A Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 207 explicita que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988). Quando comparadas, essas funções fundamentais e básicas devem ser tratadas de forma igual por parte das instituições de educação superior, que, de modo contrário, violam o preceito legal. SAIBA MAIS A LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em seus artigos 43 a 57, aponta que a educação superior tem por objetivo estimular a aprendizagem, formar profissionais aptos a ingressarem no mercado de trabalho em distintas áreas, fomentar a pesquisa e a iniciação científica, e ainda o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, provocando a vontade de aprimorar- se e aperfeiçoar-se profissionalmente. Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 259) analisam que a educação superior tem por finalidade formar profissionais nas diferentes áreas do saber, promovendo a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos e comunicando-os por meio do ensino. Objetiva-se estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, incentivando o trabalho de pesquisa e a investigação científica e promovendo a extensão. A busca de destaque para o conhecimento produzido e disseminado pela instituição de educação superior tanto no ensino quanto na pesquisa se ancora seguramente nas atividades de extensão. O objetivo da extensão é estabelecer o elo entre a universidade e a sociedade. A repercussão das atividades de ensino e de pesquisa, acontece na extensão, reafirmando assim o compromisso social da universidade, repercutindo na promoção e na garantia do desenvolvimento social. O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A tarefa de ser docente em instituições de educação superior em nosso país compreendediversos tipos de profissionais e é preciso salientar que alguns não tem formação didático-pedagógica alguma. Nesta lista estão bacharéis e tecnólogos que atuam como profissionais liberais em outras instituições e decidem entrar também para a docência. A formação mínima para atuar em cursos superiores é exigida por lei. A LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, indica que “far- PÁGINA 19 se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. (BRASIL, 1996, p. 25). O que se verifica na prática em muitos casos, é que muitos são os professores que nunca tiveram disciplinas que os preparassem para a carreira docente. Considerando a análise de Behrens (2002), os docentes que se encontram no primeiro agrupamento são os que mais se comprometem com os seus alunos e ainda os que mais se destacam com suas pesquisas, publicando mais em periódicos científicos. Por outro lado, estes profissionais acabam distanciando- se da prática e não vivenciam aquilo que ensinam. De acordo com Zabalza O exercício da profissão e seu domínio não ocorrem por uma transferência direta de sabedoria divina. Não se pode supor que um jovem que ingressa como professor na universidade esteja preparado (mesmo que seja doutor e competente em pesquisa) para enfrentar a docência. (2014, p. 141) Deste modo, percebemos que, assim como em qualquer profissão se faz necessário formação específica, o docente necessita de uma formação que contemple as questões que envolvem o ato de ensinar. Isto envolve conhecer metodologias de ensino, entender conceitos de didática, a relevância do planejamento, do currículo, da avaliação. REFLITA É importante compreender que o docente não está sozinho no processo de ensino, pois quem ensina, ensina algo a alguém. Este algo é o conteúdo e a escolha deste, exige critérios e responsabilidade social. Quanto ao “alguém”, este alguém é o aluno. Vamos entender o papel do aluno no processo de ensino e de aprendizagem? O PAPEL DO ALUNO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Em um período histórico da educação, denominado tradicional, os alunos eram vistos como indivíduos que iriam conhecer o mundo por meio de informações úteis e importantes, as quais gradativamente lhe seriam fornecidas por seus professores. Eles atuavam como receptores passivos até o ponto em que, repletos das informações necessárias, poderiam repeti-las aos outros que ainda não as possuíam. O mundo era externo ao sujeito, e este deveria compreender seu meio a partir dos modelos prontos que lhe eram apresentados. Assim o passado era o modelo a ser imitado como eterna lição para o futuro. O aluno deveria receber tudo passivamente, sem questionamentos, e manter extrema obediência em realizar as tarefas propostas. De acordo com Vasconcellos: PÁGINA 20 O aluno recebe tudo pronto, não problematiza, não é solicitado a fazer relação com aquilo que já conhece ou a questionar a lógica interna do que está recebendo e acaba se acomodando. A prática tradicional é caracterizada pelo ensino do blá-blá-blante, salivante, sem sentido para o educando, meramente transmissora, passiva, acrítica, desvinculada da realidade, desconectada. (2012, p. 21) Neste paradigma os conhecimentos e valores sociais eram transmitidos ao educando como verdade única, absoluta e inquestionável, com currículos que pretendiam, ilusoriamente, dar conta de preparar o aluno para a vida. O método baseava-se quase que unicamente na exposição oral dos conteúdos com ênfase em exercícios repetitivos, na memorização de textos e fórmulas e na autoridade absoluta do professor. E o que mudou, considerando o papel do aluno, desta época para agora? Saímos de uma educação desconexa e fragmentada e, considerando os chamados paradigmas emergentes da educação, começamos a pensar no todo, em cada ser humano como ser único e completo. Abreu e Lima e Mill (2013) sugere algumas atividades e saberes docentes que em muito podem contribuir para a formação do aluno: · Atender as demandas dos alunos, ajudando-os na aquisição de uma metodologia autônoma de estudo e aprendizagem. · Auxiliar os alunos na compreensão do material didático do curso, estimulando o aprofundamento dos conteúdos das disciplinas. · Promover situações de estímulo a prática reflexiva e a participação crítica auxiliando-os na construção dos seus conhecimentos · Estimular os alunos a buscar informações pertinentes em bibliotecas virtuais, auxiliando-os na familiarização como o hábito da pesquisa bibliográfica · Promover a construção coletiva de vínculos afetivos, orientando os alunos na construção de identidade com o o curso, instituição e com a comunidade virtual de aprendizagem. (ABREU E LIMA; MILL, 2013, p. 39) Nesse novo espírito, os educadores passam a considerar o aluno como um sujeito autônomo, que organiza sua própria experiência e constrói conhecimento em interação com o mundo e com o outro. É crítico e ativo, autoconfiante, de ação reflexiva. PÁGINA 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade observamos que as Instituições de Educação Superior se estabelecem sobre três fundamentais pilares que são o ensino, a pesquisa e a extensão. Neste cenário, definimos o que é cada um desses pilares e como ocorrem estes processos na instituição que atua com educação superior. Observamos que, para ser docente universitário e aluno deste nível de ensino é preciso ensinar/aprender; pesquisar; e estar envolvido com a extensão universitária. Neste aspecto, conhecemos que dizem os documentos oficiais, considerando tanto a Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 207 quanto a LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em seus artigos 43 a 57, que evidencia que a educação superior tem por objetivo estimular a aprendizagem, formar profissionais aptos a ingressarem no mercado de trabalho em distintas áreas, fomentar a pesquisa e a iniciação científica, e ainda o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, provocando a vontade de aprimorar-se e aperfeiçoar-se profissionalmente. Verificamos qual o perfil necessário ao profissional que deseja atuar na docência universitária, salientando que muitos que hoje trabalham neste nível de ensino não tem preparo didático-pedagógico em sua formação. Compreendemos que, assim como em qualquer profissão se faz necessário formação específica, o docente necessita de uma formação que contemple as questões que envolvem o ato de ensinar. Por último, observamos como deve ser o aluno, o que mudou (ou precisa mudar!) em seu perfil e como este precisa se posicionar enquanto aluno na educação superior. LEITURA COMPLEMENTAR Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação Filomena Maria Gonçalves da Silva Cordeiro Moita Fernando Cézar Bezerra de Andrade De acordo com a legislação, o tripé formado pelo ensino, pela pesquisa e pela extensão constitui o eixo fundamental da Universidade brasileira e não pode ser compartimentado. O artigo 207 da Constituição Brasileira de 1988 dispõe que “as universidades [...] obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Equiparadas, essas funções básicas merecem igualdade em tratamento por parte das instituições de ensino superior, que, do contrário, violarão o preceito legal. Este texto dedica-se a discutir a indissociabilidade em que se assenta a universidade, o que exige, no nível mais abrangente de análise, sempre uma perspectiva ternária que inclua as atividades de ensino, pesquisa e extensão, PÁGINA 22 entre as quais, como numa “santíssima trindade”, há igual importância e íntima unidade. A indissociabilidade é um princípio orientador da qualidade da produção universitária, porque afirma como necessária a tridimensionalidade do fazer universitário autônomo, competente e ético. Ora, a universidade tem sido palco de análises e debates que têm dado destaque seja ao ensino,seja à pesquisa, seja ainda à extensão. Assim, se considerados apenas em relações duais, a articulação entre o ensino e a extensão aponta para uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea, mas carece da pesquisa, responsável pela produção do conhecimento científico. Por sua vez, se associados o ensino e a pesquisa, ganha-se terreno em frentes como a tecnologia, por exemplo, mas se incorre no risco de perder a compreensão ético-político-social conferida quando se pensa no destinatário final desse saber científico (a sociedade). Enfim, quando a (com frequência esquecida) articulação entre extensão e pesquisa exclui o ensino, perde-se a dimensão formativa que dá sentido à universidade. Embora se reconheça a importância dessas articulações duais, o que aqui se defende é um princípio que, se posto em ação, impede os reducionismos que se verificam na prática universitária: ou se enfatiza a produção do novo saber, ou a intervenção nos processos sociais, ou ainda a transmissão de conhecimentos na formação profissional. Foi com essa compreensão que, como doutorandos em educação da Universidade Federal da Paraíba matriculados nas disciplinas de estágio de docência I e estágio de docência II, realizamos um exercício da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Ele é apresentado neste texto como a experiência de um diálogo interdisciplinar que buscou relacionar saberes, o científico e o de educadores e educandos de uma escola pública, com vistas à produção de conhecimento acerca da articulação entre relações de gênero, violência e jogos eletrônicos. Envolvidos nessa experiência, pudemos refletir um pouco acerca das práticas universitárias, muitas delas isoladas ou, no máximo, duais. Defendemos assim, duas ideias centrais: a primeira delas é de que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão ainda não é levada em conta na prática de muitos docentes, seja porque na graduação a ênfase recai sobre o ensino, ou porque na pós-graduação acentua-se a pesquisa. A segunda ideia, decorrente de nossa experiência, é de que o estágio de docência na pós-graduação é uma excelente oportunidade de praticar a indissociabilidade defendida. A apresentação de nossa experiência pretende demonstrar esse argumento. Fonte: MOITA, Filomena Maria Gonçalves da Silva Cordeiro; ANDRADE, Fernando Cézar Bezerra de. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 41, maio/ago. 2009. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/ v14n41a06.pdf Acesso em 03 set. 2017. PÁGINA 23 MATERIAL COMPLEMENTAR MASETTO, M. (Org.). Docência na universidade. Campinas: Papirus, 2001. A obra foi muito bem-escrita e enfoca um tema de grande relevância no meio acadêmico, pois, em certos meios e em certas áreas, ainda há ausência de um maior profissionalismo docente, seja pela falta de preparo do professor, seja mesmo pelo fato de as instituições, apressadas em preencher lacunas de turmas e disciplinas, muitas vezes designarem docentes que atuam profissionalmente em suas áreas, mas que não são profissionais enquanto são docentes. REFERENCIAS ABREU E LIMA, Denise; MILL, Daniel. Reflexões sobre autonomia e limitações nas relações polidocentes na educação a distância. Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 16, n. 1, p. 33-46, jan./abr. 2013. Disponível em http://periodicos. uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/viewFile/23757/pdf_3 Acesso em 19 ago. 2017. BEHRENS, M. A. A formação pedagógica e os desafios do mundo moderno. In: MASETTO, M. (Org.). Docência na universidade. Campinas: Papirus, 2001. p. 57-68 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 dez. 1996. Disponível em: . Acesso em: 08 abr. 2010. LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira e TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 10ª. Ed., São Paulo: PÁGINA 24 Cortez, 2012. MOITA, Filomena Maria Gonçalves da Silva Cordeiro; ANDRADE, Fernando Cézar Bezerra de. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 41, maio/ago. 2009. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/v14n41a06.pdf Acesso em 03 set. 2017. SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Autores Associados, 2008. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. 14. ed. São Paulo: Libertad, 2005. PÁGINA 25 CAPÍTULO PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO DOCENTE 3 Prof. Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida Objetivos de aprendizagem ● Compreender os conteúdos, as experiências e o planejamento como aspectos fundantes da organização do trabalho docente. ● Entender os objetivos, os recursos e as estratégias de ensino e suas relações com a organização do trabalho pedagógico ● Considerar o processo de avaliação e suas dimensões no desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Plano de estudo ● Aspectos da organização do trabalho docente ● Os objetivos, os recursos e as estratégias de ensino ● O processo de avaliação PÁGINA 26 INTRODUÇÃO Quando nos referimos ao planejamento e organização do trabalho pedagógico docente, necessariamente precisamos nos ater a algumas importantes questões: Que conteúdo deve ser priorizado para ser ensinado? Estes conteúdos guardam relações entre si? Deve existir alguma afinidade entre o que ensinamos e o que acontece na sociedade? Mais precisamente, o que os alunos precisam saber quando encerram um período letivo, um ciclo de estudos ou um curso? Que formação precisamos dar ao cidadão que vamos colocar no mercado de trabalho para que ele tenha sucesso em seus objetivos e em sua escolha profissional? Há muito tempo os estudiosos buscam refletir sobre as questões postas, enfatizando que o que se ensina deve acompanhar as questões políticas, sociais, culturais, econômicas, tal qual um espelho da sociedade, sendo assim, um reflexo da mesma ou ainda, sendo a sociedade um reflexo do currículo estabelecido, sistematizado e trabalhado pelas instituições de ensino. O planejamento pedagógico surge da necessidade de se organizar o conteúdo a ser trabalhado pelos professores, sempre considerando os impactos que propiciaria ao desenvolvimento da sociedade. Esta organização não é algo inerte, estagnada ou ainda, concluída. Ao contrário, trata-se de um processo em constante evolução que acompanha as transformações que acontecem na sociedade, influenciando e sendo influenciado pelas mesmas. A organização do trabalho pedagógico docente envolve os conteúdos a serem trabalhados, as experiências de aprendizagem praticadas pelos alunos; a organização dos planos pedagógicos, os objetivos que se buscam conquistar; os recursos que serão utilizados, a estratégia a ser empregada e, por fim, como será realizada a avaliação do processo como um todo, este conjunto de elementos que se interrelacionam e se potencializam mutuamente teria, por finalidade última, que garantir que o aluno iria ter condições, de fato, de construir conhecimento ao final de todo o processo de escolarização. Vamos compreender como todo este processo se desenvolve? ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE O planejamento se caracteriza como um processo de sistematização e de organização do trabalho docente. É nesta organização que se configuram as articulações entre os conteúdos que se ensinam com o contexto em que se vive. Desde modo, comecemos por compreender o elemento conteúdos. Para Gimeno Sacristán (2000) a concepção de currículo se apresenta como “um projeto seletivo de cultura, condicionado cultural, social, política e administrativamente, que preenche a atividade escolar e que setorna realidade dentro das condições da escola tal como se acha configurada.” (2000, p. 173). Ou seja, o conteúdo não é meramente uma lista de temas dentro de uma disciplina, mas muito mais do que isso. Em outra obra, Gimeno Sacristán e Gómez (1998, p. 120) afirmam que “sem conteúdo não há ensino” e alertam que “a seleção considerada como PÁGINA 27 apropriada depende das forças dominantes em cada momento e dos valores que historicamente foram delineando o que se acredita que é valioso para ser ensinado ou transmitido, assim como aqueles valores nos quais se pretende introduzir os alunos.” (GIMENO SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998, p. 154). Assim, o que chamamos de conteúdo escolar vai além do ensino da soma, da subtração, da multiplicação ou da divisão em matemática, apenas para citar um exemplo, avançando para outros aspectos que poderíamos aqui chamar de particularidades transcendentes a estes. REFLITA Neste caso, por que o aluno precisa aprender a somar, subtrair, multiplicar e dividir? Em que situações ele precisará utilizar deste conhecimento? Que novas experiências podem ser construídas a partir da aquisição destes conhecimentos? As aulas são pensadas considerando-se os conteúdos e estes precisam considerar as experiências. Quando nos referimos às experiências, é preciso ter em mente não apenas as experiências de aprendizagem nas quais queremos envolver nossos alunos, mas compreender que estes já trazem experiências vividas dentro e fora da escola e que estas devem ser consideradas como ponto de partida para a construção de novos conhecimentos. Por isso a prática de avaliação diagnóstica, sobre a qual em breve falaremos, se faz tão importante. É preciso que saibamos, na construção do currículo, de onde podemos partir, considerando por quais experiências o aluno já passou, para que possamos ajudá-lo a construir seu percurso até a conquista daquele objetivo que estamos propondo no currículo. Isso nos exige planejamento e organização curricular. O planejamento tem relação com a proposta pedagógica institucional, o projeto político pedagógico e o plano de trabalho docente, devendo considerar em suas estruturas as necessidades que envolvem a instituição de ensino e seu entorno (leia-se a comunidade em que está inserida), tendo em vista as políticas preconizadas pelo Ministério da Educação e pelo Conselho Nacional de Educação (órgão regulador do MEC). Planejar significa antes de tudo, conhecer e fazer valer a missão institucional, o público alvo e as relações com a comunidade, os recursos financeiros disponíveis (ou não), as diretrizes e parâmetros nacionais, as leis e regulamentos e a intencionalidade e orientações curriculares do sistema ao qual a instituição está submetida. O planejamento é então, uma tomada de decisão e envolve a educação, o aluno, o processo de ensino e de aprendizagem, o professor, as disciplinas, os métodos e estratégias de ensino, e envolve, inclusive a organização administrativa da escola. O planejamento global de uma instituição de ensino relaciona-se as ações que envolvem as funções administrativas e pedagógicas da escola, e precisa estar amparado e fundamentado na comunidade a qual a instituição pertence. O planejamento deve estar contido no PPP – Projeto Político Pedagógico e também PÁGINA 28 no PDI – Projeto de Desenvolvimento Institucional. O planejamento curricular é a organização de toda a dinâmica da instituição, sistematizando todas as ações que se referem a escola: desde o espaço físico perpassando o planejamento dos conteúdos até a avaliação da aprendizagem. Vasconcellos (1995) analisa que o planejamento curricular é o [...] processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. Portanto, essa modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, através dos diversos componentes curriculares.” (VASCONCELLOS, 1995, p. 56). O planejamento do processo de ensino e de aprendizagem envolve os professores, administradores e alunos na reflexão e elaboração da proposta a ser delineada para o ano letivo. O planejamento da aula é o documento em que se articula o que será necessário fazer em cada aula para que se concretize o planejamento global, o planejamento curricular e o planejamento do processo de ensino e de aprendizagem. OS OBJETIVOS, OS RECURSOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO A intencionalidade de um planejamento se expressa pelo estabelecimento de seus objetivos. Segundo Gimeno Sacristan e Gómez (1998, p. 198) “em todo tipo de práticas dirigidas explicitamente para fins desejados são feitos planos prévios para racionalizar a ação, guiá-la adequadamente e economizar recursos, tempo, e alcançar resultados de acordo com as finalidades estabelecidas”. Assim como delinear objetivos nos ajuda em todas as ações que nos propomos a realizar em nossa vida, traçar objetivos torna-se também fundante para a plena realização de um bom planejamento. Os recursos referem-se aos materiais ou equipamentos didáticos a serem utilizados pelo docente, lembrando que, para uso de recursos, deve sempre haver uma intencionalidade docente. De modo contrário, o uso de recursos pode levar a uma mera maquiagem que busca dissimular a falta de conteúdo ou de objetivo, ou ainda, de vontade do docente, fazendo-se valer, por exemplo, do uso de tecnologia quando o que lhe falta é metodologia. Entre estes recursos, sobressai-se a questão da tecnologia, pois o uso das mesmas “permite estabelecer relacionamentos e conexões entre distintos contextos de práticas sociais, aninhados em diversos suportes digitais (textos, imagens, vídeos, áudios, hipertextos, representações tridimensionais...) interativos.” (ALMEIDA; SILVA, 2011, p. 6) As estratégias de ensino relacionam-se com a maneira como se sistematiza o saber pedagógico, apresentando distintas técnicas e/ou recursos que oportunizem o alcance dos objetivos preestabelecidos para a atividade. PÁGINA 29 Expressa a racionalização e o uso dos recursos adequados para a dinâmica das aulas, assim como a concepção das relações entre a didática e as metodologias previstas para o ensino. Díaz Bordenave e Pereira (1998) conceituam as estratégias de ensino como um caminho eleito ou concebido pelo docente para conduzir o aluno ao conhecimento, lembrando que este caminho é marcado por uma teorização a ser ministrada em sua prática pedagógica. As estratégias se organizam em torno dos procedimentos didáticos, que por sua vez são os passos, as atividades a serem desenvolvidas e as ações, docentes e discentes durante o desenvolvimento da estratégia escolhida de modo a contribuir no desenvolvimento de todo o processo de ensino e de aprendizagem. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO Quanto ao processo de avaliação, Luckesi argumenta que “a questão central da prática da avaliação não está nos instrumentos, mas sim na postura pedagógica e, consequentemente, na prática da avaliação”. (LUCKESI, 2005, p. 4) Para o autor, o que se pratica nas instituições de ensino é uma “avaliação da culpa” pois a classificação dos alunos é baseada nas notas por eles obtidas. Compara-se, deste modo, o desempenho do educando naquela prova e não aos objetivos que o processo de ensino e de aprendizagem deveria permitir ao aluno, atingir. Neste caso, avalia-se mais o que o aluno não sabe, mas não há uma preocupação com o que ele não aprendeu. O conceito de avaliação enquanto constatação de um determinado nível de aprendizagem do aluno que o classifica como um bom ou um mau aluno, deve ser trocado por práticas menos inibidoras e mais proveitosas no sentido de avaliar se houve aprendizagem ou não e ainda, se não houve, o que falhou. As atividades devem, portanto, ser desenvolvidas e avaliadas de modo processual e contínuo, considerando o processo como um todo. SAIBAMAIS O processo de avaliação está na construção de uma relação entre o significado daquilo que existe e o significado daquilo que era esperado. O critério comparece nesta relação justamente como o ponto de apoio para a seleção do significado que se vai adotar e os critérios se modificam ao mesmo tempo em que as ações ocorrem. (WACHOWICZ; ROMANOSKI, 2002, p. 90). Assim, é possível estabelecer critérios, porém, não é possível considerá- los fixos a princípio, tendo em vista que a cognição é um processo sistêmico, no qual todas as partes que compõem o todo são importantes e nenhuma parte pode ser deixada de lado. Quanto à avaliação da aprendizagem, se esta for aplicada à representação discreta do tempo, determinamos o indeterminável, fixamos o movimento, representamos a continuidade em uma expressão. O máximo que se pode dizer de cada estudante é “aprendeu” ou “não aprendeu ainda”. PÁGINA 30 Por meio das disciplinas ofertadas pela escola, pretende-se que ela possa dar conta do que os sujeitos devem saber, para que possam intervir e atuar no contexto em que vivem. Cabe aqui observar a comparação que Apple (2006, p. 61) estabelece entre a escola e uma caixa preta. Ele aborda que economistas, sociólogos e historiadores veem a escola como uma caixa preta em que se mede, por meio das avaliações, a forma como os alunos entram na instituição (o que o autor chama input) e como esses se comportam durante o processo de escolarização, ou ainda, como saem dela e entram para o mundo do trabalho (output, para o autor). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, verificamos que as escolhas que fazemos acerca de qual conteúdo priorizar, qual método utilizar para desenvolver as atividades de ensino e aprendizagem, qual instrumento de avaliação utilizar, não são neutras. Assim, sempre estão sendo conduzidas por determinados valores, por determinadas concepções epistemológicas que, traduzidas didaticamente, fazem avançar, retardar ou até impedir o processo de construção do conhecimento. Todavia, a concepção de avaliação está inserida em uma concepção que a determina, isto é, na concepção de educação e esta, por sua vez, influencia e sofre influências da realidade social, política e econômica do contexto ao qual pertence. A avaliação vista em uma perspectiva tradicional demonstra que o prazer de aprender desaparece, pois, o aluno sente-se obrigado a estudar para realizar uma prova e, na maioria das vezes, a memorizar as respostas que o professor escolheu e apontou como corretas. Dessa maneira, a meta da educação recai em aprovar ou reprovar o aluno e não em verificar se o mesmo construiu conhecimento ou não e, ainda mais especialmente, por quais motivos não conseguiu fazê-lo. Por acreditarmos que em conformidade com as relações existentes em uma sociedade é que se objetiva um tipo de educação, isto é, por acreditarmos que as formas que a educação assume correspondem às necessidades e às possibilidades dos homens em uma época, é que nos dispomos a refletir com você, caro(a) aluno(a), o quanto a concepção de conhecimento, e por consequência a prática avaliativa, corresponde às necessidades existentes no contexto social. LEITURA COMPLEMENTAR O Desafio da Qualidade da Educação Celso dos S. Vasconcellos Refletir sobre a qualidade da educação é uma tarefa apaixonante, mas extremamente desafiadora dada a relevância e a complexidade envolvida. Implica desde o conceito de qualidade (existiria uma essência da qualidade?) até a questão política (a quem, de fato, interessa um ensino de qualidade?), passando PÁGINA 31 por questões como o grau de percepção da sociedade e dos professores em relação ao problema da baixa qualidade, os vícios —ingênuos ou ideológicos— de culpabilizar (busca de bodes expiatórios) e, sobretudo, os caminhos para se conseguir uma melhor qualidade da educação em nossas instituições de ensino. Há o perigo da fadiga: denúncias são feitas há décadas e iniciativas substanciais não são tomadas, o que acaba levando à descrença, ao desânimo. Ou são tomadas iniciativas equivocadas: “Vamos, então, fazer mais uma avaliação...”; os modismos (ondas salvadoras: material didático, tecnologia educacional, construtivismo, projeto político-pedagógico, gestão, letramento, participação da comunidade, PDE, etc.). A divulgação de resultados de avaliações (SAEB, IDEB, PISA, ENEM, ENADE) tem trazido dados preocupantes sobre a qualidade do ensino no país. Comumente, quando são divulgados estes índices, há algumas reações, mais ou menos inflamadas, mas são apenas espasmos: logo depois, tudo parece voltar ao “normal”. Aos poucos, no entanto, parcelas cada vez maiores da sociedade vão tomando consciência de que não deve ser assim: a preocupação com a qualidade da educação deve ser uma constante. A não- aprendizagem dos alunos nos angustia profundamente, pois significa a negação do direito fundamental do ser humano de acesso a determinados elementos da cultura, saberes elaborados, categoriais, que dificilmente terá acesso fora da escola, pelo menos não de forma intencional, sistemática, crítica, coletiva e mediada, como acontece —ou deveria acontecer— na escola. O fracasso escolar é uma outra forma de exclusão: a exclusão dos incluídos, já que formalmente os alunos estão no sistema, mas não estão aprendendo, tendo portanto boa parte de seu desenvolvimento comprometido. Fonte: VASCONCELLOS, Celso dos Santos. O Desafio da Qualidade da Educação. Disponível em http://www.celsovasconcellos.com.br/Download/CSV- Desafio_da_Qualidade.pdf Acesso em 07 set. 2017. MATERIAL COMPLEMENTAR GIMENO SACRISTAN, J. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000. Apresenta uma descrição dos processos, ressaltando a importância da cultura e do momento histórico em que se cria e se aplica o currículo, a necessidade de conscientização da filosofia e das crenças que embasam a política curricular e as práticas no cotidiano escolar. PÁGINA 32 REFERENCIAS ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; SILVA, Maria da Graça Moreira da. Currículo, tecnologia e cultura digital: espaços e tempos de web currículo. Revista e-curriculum, São Paulo, v.7 n.1 Abril/2011 Disponível em: https://revistas. pucsp.br/index.php/curriculum/article/viewFile/5676/4002 Acesso em 23 ago. 2017. APPLE, M. W. Ideologia e Currículo. 3. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. DÍAZ BORDENAVE, Juan E.; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino- aprendizagem. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. GIMENO SACRISTÁN, J. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000. GIMENO SACRISTÁN, J.; PÉREZ GOMES, A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2005. VASCONCELLOS, Celso S. Planejamento: Projeto de Ensino Aprendizagem e Projeto Politico Pedagógico. São Paulo: Libertad, 1995. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. O Desafio da Qualidade da Educação. Disponível em http://www.celsovasconcellos.com.br/Download/CSV-Desafio_ da_Qualidade.pdf Acesso em 07 set. 2017. WACHOWICZ, Lílian Anna e ROMANOWSKI, Joana Paulin. Avaliação: que realidade é essa? In: Avaliação. Revista da rede de avaliação institucional da educação superior. Campinas: Ano 7 - v. 7 n. 2 junho de 2002. PÁGINA 33 CAPÍTULO METODOLOGIAS E ESTRATÉGIAS DE ENSINO CONSIDERANDO O USO DE TECNOLOGIAS 4 Prof. Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida Objetivos de aprendizagem ● Analisar a importância da integração de tecnologia ao currículo escolar ● Conhecer as principais dificuldades dos professores no uso de tecnologias como estratégias didáticas ● Compreender a importância da formação para o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação Plano de estudo ● A integração de tecnologia ao currículo escolar ● Dificuldades dos professores no uso de tecnologias como estratégias didáticas. ● Formação para o uso das tecnologiasPÁGINA 34 INTRODUÇÃO Há alguns anos estamos ouvindo falar no uso de tecnologias na educação, afinal, elas se fazem tão presentes em nossa rotina, que nem nos lembramos como era nosso dia-a-dia antes delas. Neste caso, estamos nos referindo mais especificamente as tecnologias digitais de informação e comunicação que surgiram junto com a Internet. Com tanta facilidade, porque ainda não conseguimos efetivamente incorporar o uso da tecnologia ao currículo escolar? O que nos falta? Será que esperamos demais das tecnologias? O conteúdo ainda é um elemento chave no processo de ensino e de aprendizagem? Depois de mais de 20 anos de internet, o que efetivamente mudou na educação? O que era sonho e se tornou realidade e o que se tornou um pesadelo? A efetiva integração da tecnologia ao currículo vai muito além da inserção de ferramentas ou de recursos advindos das tecnologias. Essa integração exige diferentes estratégias pedagógicas que efetivamente sejam capazes de incrementar a interatividade na educação, transformando a maneira como os professores pensam e realizam seu fazer diário, oferecendo a estes, modelos distintos, novas ideias e recursos que possibilitem atingir todos os alunos, considerando as potencialidades que as tecnologias oferecem. Os professores que atuam com educação básica compreendem que aliar tecnologia ao currículo permite diversificadas formas de interação: professor – aluno, aluno – professor, aluno – aluno; oferece informações variadas, superficiais ou aprofundadas, sobre todos os assuntos; torna a aula mais agradável e com maior interesse por parte dos alunos; expande a aprendizagem para além da sala de aula e da escola; favorece a socialização dos saberes; auxilia na inclusão digital tanto de alunos como dos próprios professores. Vamos analisar de que modo as tecnologias digitais de informação e de comunicação podem contribuir com as metodologias e estratégias desenvolvidas pelos professores para a promoção da construção do conhecimento? A INTEGRAÇÃO DE TECNOLOGIA AO CURRÍCULO ESCOLAR Em virtude das transformações advindas do uso das tecnologias na educação, propositadamente há de se pensar na necessidade de que haja uma evolução no que diz respeito às políticas de implementação de tais tecnologias ao currículo que se interconectam às diversas instâncias que envolvem o sistema educativo. Neste aspecto, todos os atores dos distintos cenários educacionais (educação básica, educação superior, educação profissional etc) precisam, obrigatoriamente, estar envolvidos e dispostos a realizar mudança. Tendo em vista que a Didática é “uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 2008, p.16) ela deve, junto às tecnologias digitais de informação e de comunicação, PÁGINA 35 buscar diferentes estratégias para o processo de ensino e de aprendizagem, aprimorando-o e tornando-o mais efetivo. Kenski (1996) analisa que Embora a escola não tenha mudado, culturalmente, essas pessoas que aí estão mudaram. E como! Para esses alunos, por exemplo, o professor não é mais a única, nem a principal fonte de saber. Eles aprendem, e aprendem sempre, em múltiplas e variadas situações. Já chegam à escola sabendo muitas coisas. [...] Suas formas de raciocínio não são mais tão lineares – introdução, desenvolvimento, e conclusão, mas envolvem aspectos globais em que se encontram o lado efetivo, o cognitivo, o intuitivo. Aprendem fazendo uso de ambos os hemisférios cerebrais, o que significa que elaboram processos mentais em que estão em ação tanto o lado lógico e analítico, quanto os aspectos emocionais, intuitivos e criativos. Possuem comportamentos de aprendizagem mais abrangente e qualitativamente diferentes ao da lógica racional que prevalece nas estruturas das disciplinas que a escola deseja que aprendam. (KENSKI, 1996, p.133) Almeida e Valente salientam ainda que é substancial proporcionar que todos os envolvidos no processo educativo – gestores, professores, alunos, equipe pedagógica, membros do conselho da escola – se mobilizem e elaborem um plano que articule “infraestrutura, recursos físicos, financeiros e de infraestrutura, tempo e espaço da escola” (2016, p. 37), propiciando e encadeando o diálogo entre todos, cabendo aos gestores liderar a implantação das tecnologias digitais no currículo escolar, com objetivos analisados, discutidos, avaliados e aprovados por todos que pertencem a comunidade escolar. De acordo com Almeida e Valente (2016, p. 37) Devem ser oferecidas oportunidades aos professores para a apropriação pedagógica das mídias e TIC, de modo que eles possam integrá-las aos processos de ensino, aprendizagem, desenvolvimento do currículo, avaliação e pesquisa sobre a própria prática, utilizando-as para atender às necessidades dos alunos. Com tais competências, os professores se tornam capazes de analisar por quê, para quê, com o quê, como e quando integrar esse conhecimento à prática pedagógica. Além de zelar pela inclusão de informações nas bases do sistema de ensino, o gestor e sua equipe devem analisar e utilizar as informações estabelecidas por essas bases e aplicá-las para o diagnóstico da instituição, assim como, promover a tomada de decisões compartilhadas, organizando e estabelecendo o necessário diálogo com a comunidade, utilizando diferentes canais, inclusive as redes sociais. SAIBA MAIS Integrar tecnologia ao currículo escolar constitui não apenas ensinar competências essenciais de informática ou empregar o computador em sala de aula. A integração, para se concretizar, precisa acontecer em todo o currículo de modo a permitir que a tecnologia contribua para um melhor aproveitamento nos processos de ensino e de aprendizagem em sala de aula, aprofundando e reforçando esses PÁGINA 36 processos. Essa integração é obtida quando o uso da tecnologia é rotineira e transparente, quando suporta objetivos curriculares. (ALMEIDA, 2012, p. 74) Almeida e Valente (2016, p. 39) analisam que “Os conteúdos e recursos digitais que adentram os espaços escolares e interferem nas práticas de sala de aula se expandem por meio das tecnologias móveis com conexão sem fio à internet.” Os autores salientam que essas tecnologias já fazem parte da vida destes alunos e é isso que suscita a necessidade de se repensar de que modo podemos integrar as tecnologias aos currículos, produzindo e compartilhando as informações veiculadas nas redes, e, consequentemente, construindo conhecimentos. DIFICULDADES DOS PROFESSORES NO USO DE TECNOLOGIAS COMO ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS Seymour Papert, docente do Massachusetts Institute of Technology – MIT, que havia trabalhado com Jean Piaget, liderou um movimento que propunha transformações substanciais nas abordagens educativas com uso de computadores nos currículos escolares. Em parceria com Marvin Minsky, especialista em inteligência artificial, desenvolveu, em 1967, a linguagem de programação “Logo” que permitia ao usuário elaborar e executar os seus programas de modo lúdico e simples. Do ponto de vista educacional, é uma linguagem simples, porque possui características que torna acessível o seu uso por sujeitos de diversas áreas e de diferentes níveis de escolaridade. Computacionalmente, Logo é considerada uma linguagem bastante sofisticada, por possuir características pertencentes a três paradigmas computacionais distintos: procedural, orientado a objetos e funcional. Entretanto, Logo é mais conhecido pelo paradigma procedural, especialmente, o Logo Gráfico. Logo Gráfico caracteriza-se pela presença de um cursor, representado pela figura de uma Tartaruga, que pode ser deslocada no espaço da tela por meio de alguns comandos primitivos. (PRADO, 1999, p.1) O controle da tartaruga possibilita que o aluno trabalhe com as questões que se referem ao espaço topológico, aprendendo importantes conceitos matemáticos referentesa geometria, que se tornaram conhecidos por “Geometria da tartaruga”. Essa abordagem, fundamentada no construtivismo de Piaget que recebeu o nome de construcionista e que tinha por objetivo provocar uma intensa mudança nos processos de ensino e de aprendizagem, foi fortemente utilizada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – que atuavam no Laboratório de Estudos Cognitivos e que estavam preocupados com as dificuldades que os alunos do ensino fundamental e médio apresentavam com relação aos conteúdos do currículo para o ensino da matemática nas escolas públicas, contudo, os professores apontavam inúmeras PÁGINA 37 dificuldades para trabalhar com as tecnologias. A falta de conhecimento para uso das máquinas é uma questão simples de se resolver, basta oferecer um bom curso de formação e haver interesse por parte dos professores, entretanto, os problemas técnicos que naturalmente os equipamentos apresentam, necessitam de pessoal especializado para manutenção. O terceiro tópico está estritamente relacionado a formação docente. Quanto mais cursos fizer, quanto mais se dispuser a acessar mais e diferentes softwares, mais o professor se sentirá preparado para atuar com tecnologia na escola. REFLITA Não basta querer utilizar diferentes softwares para o ensino do conteúdo. É preciso saber relacionar estes softwares àquilo que se deseja ensinar. Para utilizar os softwares educacionais como estratégias de ensino, no momento da organização do currículo, é preciso estabelecer os objetivos que se pretende alcançar às tecnologias disponíveis e acessíveis aos alunos, fazendo pesquisas, experimentando os recursos, verificando se atendem ao objetivo a que nos propomos. Por fim, com relação a cópia, precisamos lembrar que, mesmo antes das tecnologias digitais se fazerem presentes na escola, a maioria das pesquisas realizadas também se baseavam em cópias. Os textos de enciclopédias, livros, revistas, eram literalmente copiados e entregues aos professores. A única diferença é que havia a necessidade de se fazer o exercício de copiar, desenhar as palavras no papel, porém, isso não significa que o aluno aprendia com aquilo. Muitas vezes, se copiava a mesma palavra duas vezes, a mesma frase e até o mesmo parágrafo, denotando-se o mero exercício de reproduzir traços. A pesquisa, para se efetivar, pode partir de problemas levantados ou sugeridos pelos docentes para que os alunos localizem soluções, respostas adequadas a estes problemas. Essa busca por respostas em diferentes meios – internet, livros, revistas – caracteriza-se como pesquisa. A forma como colocamos no papel essas respostas também precisam ser trabalhadas e este é o momento de aprender a socializar o conhecimento que se construiu nas leituras realizadas, nas comparações entre o que os diferentes autores falam a respeito do mesmo assunto, nos insights obtidos. FORMAÇÃO PARA O USO DAS TECNOLOGIAS Para que as potencialidades das tecnologias digitais possam contribuir com o processo de ensino e de aprendizagem, é necessário que haja qualificação docente, lembrando que as mudanças neste contexto acontecem rapidamente. Assim, um professor que fez um curso de informática há 5 anos atrás e que, por PÁGINA 38 algum motivo distanciou-se da docência, ao retornar, sentirá a necessidade de buscar novo aprimoramento, pois aquilo que aprendeu antes, já não tem mais sentido. Brunner (2004) considera que “o problema para a educação na atualidade não está onde encontrar a informação, mas como oferecer acesso a ela sem exclusões e, ao mesmo tempo, aprender e ensinar a selecioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la e usá-la”. (p. 24) Uma adequada formação de professores para a inserção da tecnologia ao currículo deve prever um conjunto de fatores, entre eles: ● um bom embasamento teórico sobre a qualidade da educação quando se combina tecnologia ao conteúdo do currículo; ● a experimentação da tecnologia em si, com um passo-a-passo de como se organizam e funcionam; ● a orientação do uso do software já relacionando-o aos conteúdos do currículo; ● discussões entre os participantes que se estendam após o curso (considerando o momento em que tais tecnologias efetivamente estarão sendo utilizadas, pois é neste momento em que as dúvidas vão surgir); ● análise e discussão dos desafios, dos limites e das possibilidades de distintas tecnologias na educação; A aliança entre tecnologia e processo de ensino e de aprendizagem adequadamente pensada e proposta na formação docente, contribui para que a escola e os atores que nela contracenam possam avançar no que diz respeito a construção de conhecimento e a socialização de saberes, objetivo primeiro do ensino formal, sistematizado e organizado no currículo escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pudemos perceber as políticas públicas voltadas para o uso das tecnologias educativas considerando os programas governamentais implantados para dar conta de sua execução nas escolas e também a necessária formação docente para atender a esta demanda, tendo em vista que as instituições de ensino passaram a utilizar o computador como um instrumento de aprendizagem. Verificamos que a inclusão da tecnologia ao currículo precisa deixar alinhado os conceitos de ensino e de aprendizagem, além de favorecer a seleção da tecnologia adequada, tendo como ponto de partida os objetivos e a intencionalidade das atividades propostas, assim como o conteúdo a ser ensinado. Por fim, apresentamos o contexto do uso das tecnologias da educação e a questão da formação de professores, lembrando que a integração de tecnologia ao dia a dia escolar exige distintas estratégias pedagógicas e que os professores precisam se apropriar das mesmas para darem conta de sua tarefa. Além de desejar fazer uso de diferentes mídias no ensino dos conteúdos é preciso saber como relacionar adequadamente estas mídias ao conteúdo que se quer ensinar. Deste modo, buscamos inferir conceitos, objetivos, métodos, estratégias PÁGINA 39 e técnicas que tornam o fazer pedagógico mais enriquecido e dinâmico e o processo de aprendizagem mais proveitoso. É possível dizer que trabalhar a didática aliada às tecnologias digitais de informação e de comunicação significa delinear novas maneiras de tecer a educação e de construir conhecimento: significa selecionar e organizar novas estratégias de ensino considerando o desenvolvimento e a capacidade intelectual dos alunos; por fim, significa transformar, não apenas o modo como a informação é levada ao aluno, mas a maneira como o aluno compreende e constrói um conhecimento a partir de tais informações. LEITURA COMPLEMENTAR Políticas de tecnologia na Educação Brasileira: histórico, lições aprendidas e recomendações Maria Elizabeth B. de Almeida; José Armando Valente As iniciativas brasileiras para a inserção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na educação básica deram seus primeiros passos na década de 1980, período em que diversos países direcionaram esforços para definir políticas públicas voltadas para seu uso no contexto educacional. Desde essa época, a educação é considerada um dos pilares das políticas de inclusão digital, por meio de fomento a investigação, formação profissional e programas de inserção de aparatos tecnológicos, implantação de infraestrutura nas escolas, conexão à internet e preparação de professores. Contudo, o ímpeto observado no processo de apropriação das TIC nos setores produtivos e de telecomunicações e na evolução da ciência não encontra o mesmo dinamismo nos sistemas educativos de distintos níveis, tampouco nas escolas. Até os dias de hoje, a educação brasileira se depara com dilemas básicos no que concerne a essa apropriação. De um lado, as atividades realizadas pela esfera administrativa se desenvolvem por meio de sistemas de gestão de logística, distribuição de tempos e espaços, locação de professores e controle acadêmico; de outro lado, as atividades
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