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Código Logístico 59871 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-65-582-1014-6 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 1 4 6 Didática da M atem ática Priscila Kabbaz Alves da Costa Didática da Matemática Priscila Kabbaz Alves da Costa IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Andrew Krasovitckii/Marish/Macrovector/Irina Strelnikova/Mix3r/tele52/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C875d Costa, Priscila Kabbaz Alves da, 1982- Didática da matemática / Priscila Kabbaz Alves da Costa. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021. 126 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-014-6 1. Matemática - Estudo e ensino. 2. Professores de matemática - For- mação. 3. Prática de ensino. I. Título. 21-70064 CDD: 510.71 CDU: 51(07) Priscila Kabbaz Alves da Costa Doutora em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Educação e especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais pela pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduada em Licenciatura em Matemática também pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora no ensino superior. Ministra as disciplinas de Metodologia do Ensino de Matemática nos cursos de Matemática e Pedagogia. Professora do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 A natureza do conhecimento lógico-matemático 9 1.1 A matemática e a Educação Matemática 10 1.2 Matemática, Educação Matemática e ensino de Matemática 13 1.3 Os saberes docentes 15 1.4 Tendências em Educação Matemática 17 1.5 Aprofundando algumas tendências metodológicas 20 2 Resolução de problemas 25 2.1 O surgimento de problemas em nosso cotidiano 26 2.2 Problema matemático 30 2.3 Os objetivos e tipos de problemas 31 2.4 Uma mudança no pensar a resolução de problemas em sala de aula 35 3 Modelagem matemática 44 3.1 Surgimento da modelagem matemática 44 3.2 Modelagem matemática: objetivos e concepções 48 3.3 Modelação matemática 59 4 Atividade investigativa 66 4.1 A origem da investigação matemática 66 4.2 Conhecendo a investigação matemática 70 4.3 Como aplicar a investigação matemática em sala de aula 74 5 Jogos matemáticos 84 5.1 Jogos, brinquedos e brincadeiras 85 5.2 Os jogos no ensino de Matemática 88 5.3 Aplicação de jogos em sala de aula 95 6 Tecnologias educacionais 100 6.1 As tecnologias educacionais no ensino 100 6.2 O uso das tecnologias digitais no ensino de Matemática 108 6.3 Conhecendo as tecnologias digitais 112 Gabarito 120 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! A Didática da Matemática como disciplina acadêmica emerge dos estudos da Educação Matemática e surge da necessidade de compreendermos o seu processo de ensino e aprendizagem nos diferentes contextos escolares. Ela busca responder a questionamentos do tipo: Como ensinar matemática? Como os alunos a aprendem? Quais recursos podem ser utilizados para tornar a aula mais interessante aos alunos? Esses questionamentos fazem parte da prática da docência em matemática, objeto de estudo dessa disciplina. Uma vez que aborda aspectos da didática geral, acaba estabelecendo princípios e normas que regulamentam o trabalho docente, com o intuito de promover a aprendizagem de determinada disciplina. A Didática da Matemática envolve o ato de pensar, para o professor, a prática no contexto de sala de aula, no qual a relação entre teoria e prática é abordada por meio da elaboração de conceitos e teorias que se adéquam ao saber matemático escolar e que são fruto de pesquisas e estudos pensados no aprender, no ensinar e no fazer; esses conceitos são característicos da atuação do professor e dessa disciplina. A docência em Matemática envolve uma série de conhecimentos específicos do professor – estes se diferem do matemático profissional, pois envolvem o conhecimento do conteúdo a ser ensinado, das diversas metodologias que são utilizadas no processo de ensino e aprendizagem e de como a aprendizagem matemática se efetiva para o aluno. Eles envolvem diferentes estudos e pesquisas, que buscam abordar inovações no ensino de Matemática por meio das atuais tendências metodológicas da Educação Matemática. Este material engloba uma discussão sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática partindo das tendências metodológicas da Educação Matemática. Tais tendências abordam práticas pedagógicas resultantes de estudos e pesquisas exitosos sobre diferentes formas de ensino de Matemática. No primeiro capítulo, estudaremos desde a compreensão da Matemática como uma ciência que emerge da necessidade humana até o surgimento da Educação Matemática. Ambas as áreas de conhecimento partilham um objeto de estudo: APRESENTAÇÃOVídeo 8 Didática da Matemática o conhecimento matemático, apesar de abordá-lo de diferentes óticas. A Educação Matemática aborda o ensino e a aprendizagem da Matemática em diferentes contextos escolares. No segundo capítulo, abordaremos a resolução de problemas como uma das mais importâncias tendências metodológicas. Nela, é utilizado um problema matemático como recurso de aprendizagem, no qual o aluno tem a oportunidade de desenvolver o seu conhecimento, bem como a sua capacidade de raciocínio e criação de estratégias. No terceiro capítulo, trabalharemos com a Modelagem Matemática, que utiliza um fato da vida real como um problema a ser resolvido por meio dos conhecimentos matemáticos do aluno. Essa tendência tem duas vertentes. A primeira envolve a construção de um modelo matemático, e a segunda trata o modelo como um processo em desenvolvimento pelo aluno durante a execução da atividade, sem obrigação de abordá-lo. O quarto capítulo contará com a nossa abordagem da investigação matemática. Nessa tendência metodológica, o aluno é levado a resolver um problema matemático tendo como foco o caminho percorrido para a sua resolução. Nela, há o incentivo para que o estudante tenha autonomia, criatividade e que utilize seus conhecimentos sobre o conteúdo matemático para alcançar a resolução. Em seguida, teremos os jogos no ensino de matemática. Será possível perceber, no quinto capítulo, que o jogo como estratégia de ensino e aprendizagem desenvolve a criatividade e o ambiente colaborativo, uma vez que permite ao aluno aplicar seu conhecimento em situações que podem ser divertidas. No último capítulo, apresentaremos as tecnologias digitais como recursos que podem contribuir para o ensino de Matemática. O uso da tecnologia, aliada à internet, contribui para a aprendizagem, pois os alunos estão familiarizados com elas em seu cotidiano. Assim, temos aplicativos, softwares e páginas com muito conteúdo voltado ao ensino da Matemática a serem utilizados pelos professores. Neste livro, você será apresentado a algumas das atuais tendências metodológicas da Educação Matemática.O intuito é fazê-lo refletir sobre a forma de ensinar Matemática e sobre a mudança do papel do professor e do aluno frente a essas novas possibilidades de ensino. Desse modo, apresentaremos uma reflexão sobre as diferentes tendências e o seu uso no contexto escolar. Seja bem-vindo aos estudos da disciplina de Didática da Matemática! A natureza do conhecimento lógico-matemático 9 1 A natureza do conhecimento lógico-matemático A matemática é uma presença constante em nosso cotidiano e em nossa escolarização. Essa ciência vem se desenvolvendo com o passar dos anos, buscando resolver problemas do nosso dia a dia. Nesse contexto, muitas vezes, acreditamos que, por sabermos resolver exercícios de um determinado conteúdo, sabemos mate- mática o suficiente para ensiná-la, pois dominamos seus conceitos, propriedades e linguagens. Mas, na verdade, para ser professor de Matemática, é necessário muito mais que o conhecimento do conteúdo. Neste capítulo, vamos entender que, além do do- mínio do conteúdo, há a necessidade de compreender, também, como se ensina. Esse processo de ensino e aprendizagem está fortemente li- gado ao surgimento da educação matemática e de estudos reali- zados por professores-pesquisadores que buscam novas práticas de ensinar e aprender a matemática. Os tempos e as gerações mudaram; logo, é urgente que se ensine essa disciplina de modo diferenciado, buscando a melhoria da aprendizagem diante dos resultados negativos das avaliações em larga escala, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Neste capítulo, vamos refletir sobre a matemática como uma ciência, bem como sobre o surgimento de uma ampla área de co- nhecimento que é a educação matemática. Esta, apesar de estar relacionada à matemática, por meio do conhecimento matemático, apresenta diferenças de abordagem. Além disso, buscaremos en- tender um pouco sobre a didática da matemática e as tendências metodológicas de ensino. 10 Didática da Matemática 1.1 A matemática e a Educação Matemática Vídeo A matemática é uma ciência formal e possui uma estrutura base que a edifica; além disso, é composta por um conjunto de elementos estrutu- rantes, que são “as convenções, os axiomas (postulados), as definições, os conceitos, os teoremas (demonstrações)” (LAUDARES, 2013, p. 1). Eles contribuem para se chegar a conclusões, que podem ser tanto práticas como teóricas, e que dimensionam o rigor e o formalismo ca- racterísticos dessa ciência. A matemática provém da construção humana. Dessa forma, os seus conceitos emergiram da necessidade humana de resolver problemas que surgem no cotidiano. O cálculo de área, por exemplo, teve origem na necessidade humana de dividir as terras próximas aos rios, para seu plantio (Figura 1). Figura 1 Aragem na área de plantação no Egito Antigo Ar tM ar i/S hu tte rs to ck Essa ciência está relacionada também ao estudo de padrões, que são tipos de regularidades, podendo ser de formas ou ideias. Assim como esses, as regularidades estão presentes na natureza (Figura 2), por meio da simetria. O estudo desses padrões constitui um campo de exploração e invenção da matemática, permitindo que novidades sejam descobertas diariamente. Ou seja, como ciência, ela está em evo- lução permanente. A natureza do conhecimento lógico-matemático 11 Figura 2 Regularidade presente no brócolis romanesco J_ K/ Sh ut te rs to ck A matemática se manifesta no mundo pelo conhecimento que, con- forme Bicudo e Garnica (2002), acontece de duas formas. A primeira é a prática científica, que busca responder aos critérios de cientificidade e rigor, que são característicos dessa ciência e estão destinados a um grupo fechado de pessoas, estando disponível, então, somente para as pessoas especializadas que conhecem essa ciência e sua linguagem – um exemplo é a utilização das equações diferenciais para definir a equação de calor. A segunda é a prática pedagógica, que, ao contrário da primeira, não se remete ao rigor e ao formalismo, mas sim a uma comunicação aberta e plural, na qual há diferentes formas de intera- ção em “posturas, metodologias, didáticas, textos escritos e falados” (BICUDO; GARNICA, 2002, p. 45). A prática pedagógica vem para mostrar que, no contexto escolar, o conhecimento matemático não pode ser trabalhado apenas da ma- neira científica, com o formalismo e o rigor que lhes são atribuídos. Isso decorre do fato de que o aluno está aprendendo ainda o conteú- do, o qual é trabalhado como um recorte. Esse recorte se aproxima do conhecimento científico e da matemática presente nas práticas sociais, caracterizando-se como um saber construído por educado- res matemáticos (Figura 3), e não meramente transposto aos alunos (FIORENTINI, 2008). 12 Didática da Matemática Figura 3 Educadora matemática em sala de aula Ty le r O ls on /S hu tte rs to ck O conhecimento transposto se origina da ideia do conceito de transposição didática, advindo da Didática da Matemática na perspectiva francesa. Esse conceito ficou conhecido com Yves Chevallard, professor do Institut Universitaire de Formation des Maîtres de l’Académie d’Aix-Marseille. Para ele, a transposição didática se dá quan- do um conteúdo, que deve ser ensinado, passa por um conjunto de transformações que o adaptam para que se torne apto como um objeto de ensino. Chevallard (1991) acredita que a transmissão desse conhecimento se dá por meio de alguém que já possui esse saber para outro que ainda não o possui. Um exemplo é o con- ceito matemático de origem, como a integral que é ensinada em cursos superiores: esse conhecimento passa por essas transformações, sendo trabalhado nos livros didáticos no ensino fundamental e ensinado pelo professor de modos diferentes, no cálculo de área. “A matemática relevante para a prática docente escolar não se reduz, simplesmente, a um corpo científico de conhecimentos, mas abrange um conjunto de saberes que se mobiliza na (e mobiliza a) ação educativa, e isso faz uma enorme diferença” (MOREIRA, 2012, p. 1.145). Ou seja, o professor de Matemática não deve somente conhecer a ma- temática escolar que vai ensinar, sendo necessário que ele tenha co- nhecimento científico, uma vez que este o ajuda a compreender mais sobre o conteúdo; além disso, precisa ter o conhecimento pedagógico do conteúdo, que envolve saber o como, o quando e o porquê de en- sinar. Moreira (2012) coloca que esse corpo de conhecimento está re- lacionado ao domínio da matemática conceitual e procedimental, além O livro Didática da Mate- mática: uma análise da influência francesa, parte da Coleção Tendências em Educação Matemá- tica, apresenta a linha francesa da Didática da Matemática, trazendo a reflexão sobre conceitos como transposição didáti- ca, contrato didático, en- genharia didática e obs- táculos epistemológicos. PAIS, L. C. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. Livro A natureza do conhecimento lógico-matemático 13 dos fundamentos epistemológicos, as diferentes linguagens que permi- tem expressar um conceito matemático e a relação disso com a realida- de, tendo como foco o “desenvolvimento humano, intelectual, cognitivo e crítico de crianças, jovens e adultos” (FIORENTINI, 2005, p. 53). É com a preocupação da ressignificação dos conteúdos e da alte- ração do papel do aluno e do professor no contexto do processo de ensino e aprendizagem que surge a educação matemática. Garnica (1999, p. 60) explica que ao “assumir educação matemática como ’movimento’ implica aceitar que, desde o primeiro instante em que se decidiu ensinar a alguém alguma coisa chamada Matemática, uma ação de educação matemática começou a se manifestar”. Dessa forma, compreende-se que a educação matemática não é uma subdivisão da matemática, mas sim uma área ampla de conhe- cimento que advém de saberes múltiplos e complexos, os quais sur- gem da relação do conhecimento pedagógico e específico. Assim, a educaçãomatemática é uma área que vem se impondo e emerge de estudos sobre o ensino e a aprendizagem, mas que não possui uma única metodologia de investigação e, muito menos, uma única teoria. Para entender essa área, é preciso compreender a didática da matemática, que envolve o estudo do ensino e da aprendizagem. Isso nos mostra que a Matemática e a educação estudam o conhecimento matemático em duas perspectivas diferentes, com questões e caracte- rísticas que são próprias de suas áreas do conhecimento. No vídeo Curso EAE - Aula 1 – Natureza Matemática, do canal Educação Matemática, o professor Ubiratan D’Ambrosio, um dos pioneiros da Educação Matemática no Brasil, discute a natureza da matemática, trazendo pontos importantes de reflexão. Disponível em: https://youtu. be/UI1Kjf54ey0. Acesso em: 18 mar. 2021. Vídeo 1.2 Matemática, Educação Matemática e ensino de Matemática Vídeo A didática da matemática se refere à didática específica da matéria de Matemática, abrangendo a relação de ensino e aprendizagem dos conteúdos relativos a essa disciplina. Mas o que é didática? Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investi- ga os fundamentos, condições e modos de realização da instru- ção e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e mé- todos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. (LIBÂNEO, 2008, p. 25) https://youtu.be/UI1Kjf54ey0 https://youtu.be/UI1Kjf54ey0 14 Didática da Matemática Para Libâneo (2008), a didática auxilia o professor a desenvolver a sua capacidade crítica de realizar análises referentes ao ensino, envol- vendo pontos relativos sobre quatro questões fundamentais, que são: O que ensinar?1 Por que ensinar?2 Como ensinar?3 Para quem ensinar?4 Essas questões devem nortear o trabalho do docente, pois permi- tem que ele reflita sobre a sua disciplina e os objetivos que ele quer que os alunos atinjam, buscando sempre a reflexão e os saberes necessá- rios a um professor. Entre os objetos de estudo da didática, temos não só o processo de ensino e aprendizagem, como também os conteúdos escolares que não se limitam ao ensino de técnicas e meios para a sala de aula. Con- siderada um ponto de partida para a ação de ensinar e aprender, a di- dática envolve uma prática docente alicerçada em referências teóricas que se preocupam com as necessidades atuais da sociedade. Ou seja, o professor precisa compreender o conteúdo que será ensinado e as questões epistemológicas, metodológicas e políticas que o envolvem, a fim de analisar a melhor forma de se trabalhar esse tema com os alunos. O artigo Alguns modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil, escrito por Dario Fiorentini e publicado na Revista Zetetiké, em 1995, traz tópicos sobre a evolução do ensino de Matemática. Nesse artigo, o autor apresenta seis tendências vivenciadas no processo educacional, as quais estão diretamente ligadas à evolução histórica. Acesso em: 18 mar. 2021. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646877 Artigo Um ponto fundamental a ser compreendido é que a didática da ma- temática não busca apresentar aos professores manuais ou receitas prontas sobre a aprendizagem – até mesmo porque na área de ensino cada turma é única e cada aluno é único, reagindo de maneiras dife- rentes e, por isso, é importante respeitar as características de apren- dizagem e o tempo de cada um. O que ela busca, então, é favorecer a https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646877 A natureza do conhecimento lógico-matemático 15 compreensão entre teoria e prática, permitindo que, por meio de estu- dos e pesquisas, sejam indicadas propostas pedagógicas que resultem na melhoria do processo de ensino e aprendizagem. 1.3 Os saberes docentes Vídeo O professor é alguém que detém um conhecimento específico sobre sua área de formação e que deve auxiliar e mediar outros no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, não se pode negar que o do- cente possui um saber anterior a sua formação, um saber social, afinal, ele convive com a matemática em sua vida e, durante muitos anos, teve contato com ela na escola, na perspectiva de aluno. Durante a formação inicial, o professor passa a ter contato com os saberes docentes, que, segundo Tardif (2014), são definidos como um saber plural, que envolve outros mais e é formado pelos saberes da formação profissional, disci- plinar, pedagógica, curricular e experiencial. Quando iniciamos um curso de formação inicial, no caso da docência, buscamos adquirir conhecimentos profissionais que envolvam os saberes transmitidos por instituições, tendo como objetivo de estudo o professor e o ensino. Isso envolve a compreensão do papel do professor, do aluno e do ensino no processo. Aqui, o docente passa a ter um outro olhar sobre os saberes disciplinares e curriculares, com os quais teve contato em sua trajetória acadêmica, e acaba, por muitas vezes, os ressignificando. O saber disciplinar da matemática corresponde ao conhecimento sob a forma de disciplina; já o saber curricular se refere aos conteúdos, objetivos, discursos e métodos que a instituição escolar categoriza, de modo a apresentar os saberes sociais selecionados e redefinidos nos modelos da cultura erudita (ALMEIDA; BIAJONE, 2007). O saber pedagógico, segundo Tardif (2014), envolve a prática docente e as diferentes concepções que estão relacionadas às ciências da educação; estas não envolvem somente a produção de conhecimentos, mas também o modo de incorporá-los na prática do professor, originando concepções. Por outro lado, o saber experiencial ou prático abrange os saberes que são oriundos da experiência na profissão, e que podem ser for- mados por meio das vivências individuais e coletivas dos professores. “Os saberes sociais, transformados em saberes escolares através dos saberes disciplinares e dos saberes curriculares, os saberes oriundos 16 Didática da Matemática das ciências da educação, os saberes pedagógicos e os saberes expe- rienciais” (TARDIF, 2014, p. 39). Quando pensamos nas questões relativas ao ensino, observamos uma ligação direta com os saberes docentes. Ensinar envolve os saberes cur- riculares, pois o professor deve conhecer o currículo e os documentos oficiais. O porquê de ensinar envolve o saber disciplinar, uma vez que a Ma- temática, enquanto disciplina, advém de conhecimentos produzidos por pesquisadores dessa área de conhecimento, e são eles quem determinam conceitos e métodos relativos. Assim, fica a cargo do professor saber por que ensinar um determinado conteúdo é importante ao aluno, afinal, na Matemática, há muitos conteúdos que são pré-requisitos para outros. O como ensinar se refere aos saberes pedagógicos e às teorias re- lativas às ciências da educação, pois é nesse momento que o professor articula teoria e prática, envolvendo os métodos de ensino. Cabe, en- tão, ao docente determinar como será a aula, bem como se o conteúdo será abordado de modo a despertar o interesse do aluno. O para quem ensinar se relaciona ao saber experiencial do professor, que precisa conhecer os estudantes, compreender como eles aprendem e saber quais conhecimentos prévios os acompanham. Além disso, o do- cente deve ter a capacidade de interagir com seu aluno, reconhecendo as dimensões afetivas, emocionais e sociais que fazem parte desse processo. Na dy aE ug en e/ Sh ut te rs to ck O professor em sua prática pedagógica utiliza seus saberes docentes. A escolha de um material didático envolve o conhecimento do conteúdo e do material. Além disso, o professor precisa saber como abordar o conteúdo de uma maneira mais interessante, para que o aluno compreenda. Na imagem, vemos o docente e os alunos construindo sólidos geométricos com jujubas. O livro Saberes docentes e formaçãoprofissional apresenta uma reflexão e uma discussão sobre os saberes no contexto educacional, os quais servem de base para os professores realizarem o trabalho em sala de aula. TARDIF, M. Petrópolis: Vozes, 2014. Livro A natureza do conhecimento lógico-matemático 17 O artigo Jujubas: um recurso didático para o ensino de poliedros, escrito por Fabia- na Andrade, Leide M. Leão, Geovane André Teles Oliveira e Vanessa Leal Lessa de Sá Pinto, publicado no Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM), em 2016, apresenta um relato de experiência de uma prática na qual se pode montar diferentes sólidos geométricos utilizando palitos de dente e jujubas. Acesso em: 18 mar. 2021. http://www.sbembrasil.org.br/enem2016/anais/pdf/4987_2316_ID.pdf. Artigo Portanto, é importante compreender que esses saberes não de- correm de modo estanque na atuação profissional do professor, mas sim de uma manifestação plural de ações que vão constituindo a ação docente. Esses saberes são desenvolvidos ao longo da vida do pro- fessor, uma vez que se (re)constroem por meio das experiências viven- ciadas durante sua trajetória profissional. 1.4 Tendências em Educação Matemática Vídeo As tendências metodológicas na educação matemática são uma forma de trabalho que emerge das inquietações de professores-pesquisadores na busca de soluções para o ensino e a aprendizagem da Matemática no contexto escolar. Elas estão ligadas a caminhos para se ensinar a Ma- temática na sala de aula. “O termo tendência tem sua origem no latim, particularmente, no termo tendentia, plural de tendens e, num sentido mais literal, refere-se à ideia de uma força interna que ‘direciona para’ ou ‘inclina para’” (CAVALCANTI, 2009, p. 2). O surgimento de uma tendência está diretamente ligado às práticas, adotadas pelos professores, que apresentem resultados positivos, sen- do consideradas experiências bem-sucedidas, e que sejam validadas pela comunidade acadêmica, de modo a influenciar outros professores a adotarem-na em sua prática. O valor teórico que cada tendência traz sobre o conhecimento ma- temático a ser ensinado e sobre a preocupação com a melhoria da qualidade de ensino potencializa a criação de uma metodologia de en- sino da Matemática. Esse conhecimento acumulado em cada tendência pode tornar a disciplina mais agradável e fácil de ser aprendida pelo aluno, pois rompe com os modelos de ensino tradicionais, em que o aluno é passivo e o professor é o detentor de conhecimento. Sabemos http://www.sbembrasil.org.br/enem2016/anais/pdf/4987_2316_ID.pdf 18 Didática da Matemática que as gerações se modificam, assim como os costumes e as práticas sociais que se refletem no contexto escolar. Desse modo, não há por- que não investigar as novas formas de ensinar a Matemática. Essas tendências metodológicas são pautadas em estudos de professores-pesquisadores em todo o mundo, os quais buscam mo- dificar não só o papel do docente, como também o do aluno, envol- vendo-os nesse processo de ensino e aprendizagem da Matemática, potencializando-o. Mas é preciso compreender que aquilo que é hoje uma tendência (Fi- gura 4), pode não ser mais daqui a dois ou três anos. Essa temporalidade, com relação ao fato de que algo que não é tendência hoje pode já ter sido no passado, nos mostra que há uma forte ligação dessas mudanças com o que vem sendo pesquisado na área da educação matemática, mos- trando que o pensar e investigar o ensino de Matemática tem uma certa pluralidade. Figura 4 Aula de Matemática com recursos materiais e digitais para o ensino da geometria Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck As atuais tendências da educação matemática são: • Resolução de problemas: vem de um problema matemático que deve ser resolvido, buscando desenvolver estratégias de re- solução. Como exemplo, podemos procurar saber quantas balas duas crianças possuem no total. • Etnomatemática: tem como objetivo descrever as práticas que envolvem a matemática oriunda de grupos culturais, consideran- do a identidade própria desse grupo, além de buscar compreender o desenvolvimento do conhecimento matemático. Um exemplo A natureza do conhecimento lógico-matemático 19 é a matemática produzida pelos indígenas, afrodescentes, entre outros grupos sociais. • Investigação matemática: surge de um problema aberto, que permite a investigação e enfatiza o caminho percorrido pelo aluno para a solução desse problema. Por exemplo, analisar os custos para a criação de um terrário na escola. • Matemática crítica: tem como objeto de discussão os aspectos políticos que estão ligados às relações de poder na educação ma- temática. Promove uma reflexão sobre questões relacionadas à democracia, bem como aos aspectos políticos, sociais e econômi- cos. Um exemplo é a reflexão quanto às promoções de produtos no contexto financeiro e de necessidade do sujeito. • História da Matemática: objetiva abordar aspectos da histó- ria da Matemática como fator de inspiração e de compreensão da evolução pela qual essa disciplina passou ao longo dos anos. Uma atividade que pode ser realizada é mostrar a importância de se conhecer como surgem as funções e qual a importância delas. • Tecnologias educacionais: envolvem aparatos tecnológicos e di- gitais, que são utilizados para a aprendizagem de conteúdos ma- temáticos. São muito presentes no cotidiano do aluno e começam a ter lugar no contexto escolar. Um exemplo é o uso de tablets e redes sociais, em sala de aula, em uma perspectiva educacional. • Modelagem matemática: tem como objetivo resolver um pro- blema do cotidiano, fazendo uso de hipóteses e aproximações matemáticas que permitem construir um modelo e interpretá-lo. Por exemplo, pode-se buscar a melhor forma para se cobrir uma quadra de esportes. • Jogos: utiliza jogos com o intuito de estimular o desenvolvimento de estratégias que propiciem a criatividade e o interesse do aluno em aprender o conteúdo. Um exemplo é o uno das potências. Essas tendências devem ser empregadas em sala de aula de ma- neira alternada, pois, quando os professores estabelecem um dia para se trabalhar com determinadas tendências, como os jogos, acabam por desestimular o aluno, tornando aquele momento obrigatório. O ideal é que o docente proponha diferentes tendências, de modo a ir alternando-as, desde que elas se relacionem com o conteúdo a ser ensinado pelo professor. 20 Didática da Matemática 1.5 Aprofundando algumas tendências metodológicas Vídeo O trabalho com as tendências metodológicas atuais no ensino de Matemática envolve o desejo do professor de propor uma prática dife- renciada, que permita abordar o conteúdo a ser ensinado de maneira mais interessante e envolvente para o aluno. Para escolhermos qual tendência utilizar em nossa prática, precisamos conhecê-las. Aqui va- mos aprofundar três delas. História da Matemática (HM) Essa tendência aborda os fatos históricos e a com- preensão do surgimento de fórmulas e cálculos que se originam de um movimento de abstração e generaliza- ção (MIGUEL; MIORIM, 2019). Além disso, permite o en- tendimento do sujeito sobre como surge a Matemática, mostrando o movimento histórico pelo qual o conhecimento vem passando ao longo dos anos. A utilização da História da Matemática em sala de aula pode acontecer de diversas formas, perspectivas e enfoques, mas é preciso cui- dar, visto que somente a história, segundo Miguel e Miorim (2019), não se constitui como elemento motivador do ensino. Um exemplo de História da Matemática na sala de aula é usar his- tórias em quadrinhos (HQ) que abordem um conteúdo e seus fatos históricos – pode ser uma produzida pelo professor ou encontrada na internet. Essa história pode ser empregada como atividade inicial da aula ou indicada como atividade de fixação. Outra proposta é pedir aos alunos que pesquisem sobre um conteúdo e depois montem a sua própria história em quadrinhos, que pode ser desenhada à mão ou elaborada por meio de aplicativos específicos.Matemática Crítica Nessa tendência, pretende-se trabalhar uma si- tuação crítica, na qual se busquem instrumentos que auxiliem na resolução da situação. Ensinar Matemática Be rt Fl in t/S hu tte rsto ck Em 2011, a Editora Maurício de Souza lançou, no gibi de número 45, em maio de 2011, uma edição “Saiba Mais” sobre a História da Matemática. Curiosidade Be rt Fl in t/S hu tte rsto ck A natureza do conhecimento lógico-matemático 21 em uma perspectiva crítica leva o aluno a refletir sobre uma determinada situação. Nessa perspectiva, o estudante é instigado a formular questões com base em uma situação e a procurar justificativas que auxiliem na re- solução de projetos, fugindo da tradicional prática de resolver exercícios. Essa tendência se baseia nas ideias de Paulo Freire (2009), pois estimu- la a formação de um cidadão flexível e inquieto, que questione e não aceite passivamente as questões, adotando uma postura reflexiva. Skovsmose (2007, p. 176) explica que: eu estou interessado no possível papel da educação matemá- tica como um porteiro, responsável pela entrada de pessoas, e como ela estratifica as pessoas. Eu estou preocupado com todo discurso que possa tentar eliminar os aspectos sociopolíticos da educação matemática e definir obstáculos de aprendizagem, politicamente determinados, como falhas pessoais. Eu estou preocupado a respeito de como o racismo, sexismo, elitismo po- deriam operar na educação matemática. Eu estou preocupado com a relação entre a educação matemática e a democracia. Essa perspectiva busca trabalhar questões que façam o aluno refletir e questionar por que, como e quando utilizar um determinado conheci- mento matemático, buscando intervir na realidade para transformá-la. Evita-se, com isso, a reprodução de conteúdos e práticas, buscando le- var o aluno a pensar e questionar o mundo a sua volta. Um exemplo da utilização da matemática crítica é envolvendo a matemática financeira. Podemos, por exemplo, realizar a análise de promoções de produtos no supermercado, o que pode aconte- cer com a simulação de um mercado na escola ou com a análise de panfletos de ofertas. Digamos que um determinado produto está na promoção “leve 3, pague 2”. Vamos utilizar como exemplo a caixa de sabão em pó. Para uma família com seis pessoas, a promoção é muita vantajo- sa, uma vez que, durante o mês, são necessárias duas caixas; já para uma pessoa que mora sozinha, a promoção não é vantajosa, pois uma caixa de sabão em pó costuma durar dois meses, o que significa que três caixas de sabão em pó durariam seis meses, ou seja, no caso de o produto estar com a validade próxima, a pessoa que mora sozinha não faria economia. Pensar e refletir questões como essas nos mostram a importância da matemática crítica em nosso cotidiano. O video traz a palestra Aspectos Epistemológicos da Educação Matemá- tica Crítica, do canal PPGECEM UNIOESTE, que tem como palestran- te principal o professor Ole Skovsmose. É uma ótima maneira de saber um pouco mais sobre a Matemática Crítica e sua utilização em sala de aula. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=micofSQHvAs&ab_ channel=PPGECEMUNIOESTE. Acesso em: 18 mar. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=micofSQHvAs&ab_channel=PPGECEMUNIOESTE https://www.youtube.com/watch?v=micofSQHvAs&ab_channel=PPGECEMUNIOESTE https://www.youtube.com/watch?v=micofSQHvAs&ab_channel=PPGECEMUNIOESTE https://www.youtube.com/watch?v=micofSQHvAs&ab_channel=PPGECEMUNIOESTE 22 Didática da Matemática Etnomatemática A etnomatemática surgiu na década de 1970, com o intuito de explicar a matemática em um contexto cultural próprio do aluno, mostrando as relações in- terculturais que aparecem. Essas relações interligam a matemática à cultura do aluno, respeitando e não se impondo a esta. É o caso da cultura indígena, na qual existe uma matemática própria dos indígenas, que difere da matemática formal. Ou seja, a etnoma- temática estabelece relações entre a cultura do aluno e a matemática formal (D’AMBROSIO, 2001). Nessa perspectiva, respeitar as diferenças culturais envolve tra- balhar com os conceitos matemáticos que são produzidos pelos grupos sociais, podendo ser questões relativas a uma prática ma- temática característica de uma região ou da cultura negra, indígena, latino-americana, entre outras. A etnomatemática apresenta uma perspectiva de ensino na qual os alunos descobrem a matemática de seu cotidiano, assim como de seus pais e amigos. No entanto, é preciso compreender que ela não substitui a matemática acadêmica; pelo contrário, é estabelecida uma relação entre ambas. Um exemplo de utilização da etnomatemática no contexto do ensino é a matemática empregada pelos pedreiros para a constru- ção de uma casa. Ao conversar com um pedreiro, percebe-se que ele sabe muito bem como deve ser a angulação de um telhado para que ele feche e tenha caimento de água. Muitas vezes, esse conhecimen- to não tem relação com os cálculos matemáticos da maneira que co- nhecemos. Ao ouvir a explicação de um pedreiro, podemos perceber que essas questões envolvem muita matemática, que nem sempre é a matemática formal. É aí que o professor entra em ação; com base no que foi aprendido, por exemplo, com o pedreiro, o docente pode mostrar, por meio das relações e propriedades do triângulo, como ocorre o caimento da água. Be rt Fl in t/S hu tte rsto ck O livro Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade apresenta ótimas reflexões sobre a Etnomatemática, bem como mais informações sobre essa tendência metodológica no ensino. D’AMBRÓSIO U. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. Livro A natureza do conhecimento lógico-matemático 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS A matemática, enquanto uma ciência que desenvolve um corpo de co- nhecimento conforme a evolução dos homens, sem um rigor e formalismo característicos, se faz presente no cotidiano do matemático profissional. A matemática escolar, apesar de fazer uso desse corpo de conhecimento, é diferente, pois o conteúdo a ser ensinado nas escolas traz, com ele, uma gama de saberes e um conjunto de práticas oriundas do contexto escolar. Devido à necessidade de se pensar a matemática escolar é que surge a educação matemática, como uma área que se preocupa com o pro- cesso de ensino e aprendizagem da Matemática, buscando trazer dife- rentes tendências metodológicas que possam contribuir para a melhoria da qualidade de ensino. Essas diferentes tendências metodológicas são fundamentadas em autores e práticas de ensino e aprendizagem e au- xiliam o professor a diversificar as metodologias de ensino, buscan- do promover atividades que desenvolvam a criatividade e o interesse do aluno em aprender. Este capítulo abordou a matemática como uma ciência e a origem da educação matemática, da didática da matemática e das tendências me- todológicas da educação matemática. Além disso, também apresentou a importância de o professor de Matemática possuir os conhecimentos re- lativos ao conteúdo e à forma de ensiná-lo. ATIVIDADES 1. Ao pensarmos em conhecimento matemático, enquanto objeto de estudo, avaliamos o conhecimento do matemático profissional e o do professor de Matemática. Tendo isso em vista, diferencie como cada profissional aborda o conhecimento. 2. Ao pensar em uma aula, o professor de Matemática deve considerar alguns elementos. Quais são esses elementos e que relação eles possuem entre si? 3. A aula com exposição de conceito, fórmulas e regras, seguida da repetição de exercícios, é uma tendência metodológica atual de educação matemática? Explique. 24 Didática da Matemática REFERÊNCIAS ALMEIDA, P. A. BIAJONE, J. Saberes docentes e formação inicial de professores: implicações e desafios para as propostas de formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 281-295, maio/ago. 2007. BICUDO, M. A. V.; GARNICA, V. M. Filosofia da Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. CAVALCANTI, D. As tendências contemporâneasno ensino de Matemática e na pesquisa em Educação Matemática: questões para o debate. Conferência. Vitória da Conquista: UESB, 2009. Disponível em: http://www2.uesb.br/cursos/matematica/matematicavca/wp- content/uploads/dilson.pdf. Acesso em: 18 mar. 2021. CHEVALLARD, Y. La transposition didactique: du savoir savant au savoir enseigné. Paris: La Pensee Sauvage, 1991. D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FIORENTINI, D. A formação matemática e didático-pedagógica nas disciplinas da Licenciatura em Matemática. Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, PUC, n. 18, p. 107-115, jun. 2005. FIORENTINI, D. A pesquisa e as práticas de formação de professores de Matemática em face das Políticas Públicas no Brasil. Boema, Rio Claro, v. 21, n. 29, p. 43-70, 2008. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2912/291221870004.pdf. Acesso em: 18 mar. 2021. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. GARNICA, A. V. M. Filosofia da Educação Matemática: algumas ressignificações de uma proposta de pesquisa. In: BICUDO, M. A. (org.). Pesquisa em educação matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: UNESP, 1999. LAUDARES, J.B. O conceito e a definição em matemática: aprendizagem e compreensão. In: 11º ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Anais [...] Curitiba: SBEM, 2013. Disponível em: http://sbem.iuri0094.hospedagemdesites.ws/anais/XIENEM/ pdf/1358_609_ID.pdf. Acesso em: 18 mar. 2021. LIBÂNEO, J. C. Didática. 28. ed. São Paulo: Cortez, 2008. MIGUEL, A.; MIORIM, M. A. História na Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. (Coleção Tendências em Educação Matemática). MOREIRA, P. C. 3+1 e suas (in)variantes: reflexões sobre as possibilidades de uma nova estrutura curricular na licenciatura em Matemática. Bolema, Rio Claro, v. 26, n. 44, p. 1.137-1.150, dez. 2012. SKOVSMOSE, O. Educação Crítica: incerteza, matemática, responsabilidade. São Paulo: Cortez, 2007. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. http://www2.uesb.br/cursos/matematica/matematicavca/wp-content/uploads/dilson.pdf http://www2.uesb.br/cursos/matematica/matematicavca/wp-content/uploads/dilson.pdf https://www.redalyc.org/pdf/2912/291221870004.pdf http://sbem.iuri0094.hospedagemdesites.ws/anais/XIENEM/pdf/1358_609_ID.pdf http://sbem.iuri0094.hospedagemdesites.ws/anais/XIENEM/pdf/1358_609_ID.pdf Resolução de problemas 25 2 Resolução de problemas Uma das mais importantes tendências para o ensino de Matemática é a resolução de problemas. Ela permi- te que o aluno desenvolva competências e habilidades matemáticas por meio da criação de estratégias de re- solução e que ele faça uso dos seus conhecimentos do conteúdo matemático para resolver esses problemas. Ela envolve, também, muito mais do que simplesmente re- solver um problema matemático que apresenta em seu enunciado, de forma clara, os dados e a operação a ser resolvida. Com os alunos que temos hoje, esses proble- mas matemáticos não fazem mais tanto sentido. A necessi- dade de levar o aluno a refletir, desafiando-o, faz com que os professores busquem problemas diferenciados e que abordem a realidade do aluno. Este capítulo tem como objetivo compreender como deve ser o trabalho com a resolução de problemas em uma aula de Matemática. Dessa forma, abordaremos o surgimento dos problemas desde a antiguidade até os dias atuais, mostrando que em nosso cotidiano nos de- paramos com muitos deles. Compreenderemos, também, o que são problemas e problemas matemáticos, e quais são os objetivos e tipos de problemas possíveis de serem ensinados em uma aula de Matemática. Por fim, trabalha- remos como abordar a resolução de problemas na pers- pectiva da Educação Matemática. 26 Didática da Matemática 2.1 O surgimento de problemas em nosso cotidiano Você é um bom resolvedor de problemas? Em nosso cotidiano, vivenciamos diversas situações que exigem essa postura. Isso não é diferente nas situações de ensino e aprendizagem de matemática. Na história da matemática há muitos problemas que surgiram da necessidade humana, isso ocorre desde os egípcios, chineses e gre- gos. Um dos documentos mais antigos da humanidade é o Papiro de Rhind (Figura 1), nele constam 75 problemas matemáticos egípcios da época. Figura 1 Papiro de Rhind Lu es tli ng ~c om m on sw ik i/W ik im ed ia Co m m on s Os problemas geométricos surgiram da necessidade de os egíp- cios demarcarem suas terras, devido às inundações do Rio Nilo, que as apagavam. Tal fato exigiu a criação dos mensuradores, estirado- res de corda e técnicos em medição. Ávila e Groenwald (2004, p. 17), em seu estudo, apontaram diversos problemas matemáticos Você sabia que o papiro de Rhind ou de Ahmes, datado de 1650 a.C., é uma das fontes de problemas matemáticos mais antiga já conhecida? Há especulações de que ele tenha sido um guia sobre a matemática egípcia. Para conhecer mais sobre a história do Papiro de Rhind, acesse o link a seguir. Disponível em: https://publicacao. uniasselvi.com.br/index.php/ MAD_EaD/article/view/1798/892. Acesso em: 8 jan. 2020. Curiosidade Vídeo https://publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/MAD_EaD/article/view/1798/892 https://publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/MAD_EaD/article/view/1798/892 https://publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/MAD_EaD/article/view/1798/892 Resolução de problemas 27 que fazem parte da evolução do conhecimento matemático, como a divisão da presa, a construção de vasos para medida e o en- curtamento do caminho de um rio. Ao longo da evolução da humanidade, esses proble- mas vão se aperfeiçoando, assim como a matemática. Todos nós já nos deparamos com algum problema matemático em nosso cotidiano, seja no cálculo de juros a serem pagos, no valor do parcelas de um carro, na quantidade de lã necessária para o casaquinho a tricotar ou na quan- tidade de açúcar necessário para glaçar os doces da festa. O mesmo ocorre nos livros didáticos de Matemática durante a escolarização. Isso porque a resolução de problemas no contexto do ensino e aprendizagem é uma tendência em Educação Matemática, que busca soluções para os problemas matemáticos. A resolução de problemas começou a ganhar espaço no contexto escolar na década de 1970, mas foi apenas na década de 1980 que o Conselho Nacio- nal de Professores de Matemática (National Council of Teachers of Mathematics – NCTM), nos Estados Unidos da América, recomendou que o foco do ensino da matemática escolar fosse a resolução de problemas (ONUCHIC, 1999; MENEGHELLI, 2018). É nessa época, então, que surge uma gama de recursos voltados à resolução de problemas, com o intuito de auxiliar os professores a trabalhar nessa perspectiva, como coleções de problemas, suges- tões de atividades, listas de estratégias e orientações sobre como avaliar o desempenho do aluno. No começo, a visão que se tinha era de que os problemas matemáticos eram muito limitados para a aprendizagem matemática. Segundo Onuchic (2013), professores apresentavam um problema superficial e usavam uma técnica para sua resolução. Durante muito tempo os problemas matemáticos se restringiam a apresentar situações e incluir uma técnica de resolu- ção, o que gerou muitos resolvedores de problemas que não sabiam matemática. Você sabia que pode- mos conhecer alguns problemas matemáticos antigos? No livro História da Matemática, de Boyer, é possível consultar problemas antigos que fazem parte da história da matemática. BOYER, C. B. GOMIDE, E.F. São Paulo: Editora Blucher Ltda., 2012. Livro Figura 2 O esquadro de cordas Os antigos egípcios utilizavam as cordas com nós como medida, elas continham 3,4 e 5 partes e ligando as pontas formavam um triângulo retângulo, que era utilizado para medida de terreno. NoPainNo Gain/Shut terstock 28 Didática da Matemática Figura 3 Problema retirado do livro Mil problemas 1. Ada tinha duas balas eganhou uma; com quantas ficou? Solução – número de balas com que ficou: 2 + 1 = 3. Resposta: 3 balas. Fonte: Capanema, 1938, p. 11. Os problemas, muitas vezes, simplesmente abordavam a aplicação de um conteúdo matemático, como podemos observar no problema representado na Figura 2. Isso foi se modificando com a evolução da matemática e dos processos de ensino e aprendizagem e com os Pa- râmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998), que buscavam apontar diferentes tendências de ensino. O documento buscou desen- volver a comunicação, o raciocínio matemático e as conexões entre os temas matemáticos aprendidos para resolver ou criar um problema, questionando a forma como a resolução de problemas era usada. Para a grande maioria dos alunos, resolver um problema significa fazer cálculos com os números do enunciado ou aplicar algo que aprenderam nas aulas. Desse modo, o que o professor explora na atividade matemática não é mais a atividade, ela mesma, mas seus resultados, definições, técnicas e demonstrações. (BRASIL, 1998, p. 40) Essa crítica também é feita por Onuchic (2013) alguns anos depois, pois, segundo a autora, a forma como os livros didáticos atuais trazem problemas nos mostra uma relação com a vida real, com desenhos co- loridos, mas ainda com uma abordagem na qual o professor resolve o problema com o aluno e depois elabora uma lista de outros problemas parecidos para que esse aluno resolva. O problema a seguir foi retirado do livro didático A conquista de Ma- temática, voltado ao 6º ano do ensino fundamental, escrito por José Ruy Giovanni, José Ruy Giovanni Júnior e Benedicto Castrucci e publicado no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). A National Council of Teachers of Mathematics (NCTM) é uma organiza- ção profissional para pro- fessores de Matemática, sem fins lucrativos, que busca fornecer orienta- ções e recursos para a implementação de ensino de alta qualidade, a partir de pesquisas que apoiam a aprendizagem em um ambiente equitativo. A NCTM tem atuado em diversos países do mun- do e traça orientações relevantes. Disponível em: https://www.nctm. org/. Acesso em: 1 fev. 2021. Site O Programa Nacional do Livro e do Material Di- dático (PNLD) tem como objetivo principal a avalia- ção e disponibilização de livros didáticos-pedagó- gicos, além de materiais didáticos, continuamente para as escolas públicas de educação básica em todo o Brasil. Para saber mais sobre o programa, acesse o link a seguir. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/busca-geral/318- programas-e-acoes-1921564125/ pnld-439702797/12391-pnld. Acesso em: 1 fev. 2021. Saiba mais https://www.nctm.org/ https://www.nctm.org/ http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld Resolução de problemas 29 O governo organiza periodicamente campanhas de vacinação contra a paralisia infantil. Em uma dessas campanhas, em determinado município foram vacinadas 11.296 crianças do centro urbano e 1.649 crianças da área rural. Quantas crianças foram vacinadas nesse município? 12.945 crianças. • A poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil, é uma doença que, em sua forma mais grave, causa a atrofia dos músculos atingi- dos. O médico Albert Sabin dedicou muitos anos de sua vida ao estudo da poliomielite. Em 1959, ele conseguiu descobrir uma vacina eficiente contra o vírus causador da doença: a vacina da “gotinha”. Fonte: Giovanni Jr.; Castrucci, 2018.,p.39. O problema foi retirado do livro didático e é possível verificarmos que há uma preocupação dos autores em mostrar dados da vida real, inclusive ligando com as informações sobre a doença. Mas esse proble- ma é muito direto, ele apresenta os dados de vacinação na zona rural e urbana, e pede o total de vacinados. O contexto do problema é muito rico e poderia ser muito mais abordado pelo professor, inclusive levan- tando outras reflexões sobre a doença e a matemática. Esse problema vai de encontro ao que Onuchic (2013) explica sobre a abordagem de problemas nos livros didáticos. Mas, então, o que a autora espera de uma aula utilizando a resolu- ção de problemas? Onuchic (1999) esclarece que a resolução de proble- mas, com essa evolução, passou a ser pensada como uma metodologia de ensino na qual os problemas passam a ser o ponto de partida ou o meio de se ensinar Matemática, ou seja, no processo de ensino e aprendizagem do aluno, o problema é um elemento importante na construção do seu conhecimento matemático. Recentemente a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também tem sugerido a resolução de problemas como uma aliada no desenvol- vimento de competências e habilidades matemáticas do aluno para o letramento matemático. O artigo Um estudo sobre letramento matemático no ensino fundamental: utilização da resolução de problemas, de Silva e Victer, publicado na revista UNIABEU, é um ótimo aliado para compreender melhor o letramento mate- mático e a resolução de problemas. Acesso em: 20 nov. 2020. https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RU/article/view/3987 Artigo Você já ouviu o termo letramento matemático? O letramento matemático (Mathematical Literacy) é, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Programme for International Student Assess- ment – PISA), “a capacidade de um indivíduo para identificar e entender o papel que a matemá- tica representa no mundo, fazer julgamentos matemáticos bem fundamentados e empregar a matemática de formas que sa- tisfaçam as necessidades gerais do indivíduo e de sua vida futura como um cidadão construtivo, preocupado e reflexivo” (OECD/ PISA, 2000, p. 41). Curiosidade https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RU/article/view/3987 30 Didática da Matemática A BNCC (BRASIL, 2018) incentiva uma nova postura em relação à re- solução de problemas no ensino e aprendizagem da Matemática na qual não há mais espaço para resolvedores de problemas somente, e sim a preocupação de formar alunos alfabetizados matematicamente que fa- zem uso de diversas estratégias para resolver problemas de seu cotidiano. Para entendermos como a resolução de problemas deve ser tra- balhada em sala de aula, vamos primeiro compreender o que é um problema e como utilizar essa tendência no processo de ensino e aprendizagem da matemática. 2.2 Problema matemático Vídeo Um problema é qualquer situação que exija que o indivíduo reflita e encontre uma solução, mas você já se perguntou o que é um problema matemático? Van de Walle (2009) define um problema matemático como uma tarefa ou atividade na qual os alunos não te- nham um método ou regra específico para a resolução. Para Dante (2003), um problema matemático é uma situa- ção na qual se utiliza o conhecimento matemático para resolver esse problema. Segundo os PNC (BRASIL, 1998, p. 44), “um problema matemático é uma situação que demanda a realização de uma sequência de ações ou operações para obter um resulta- do. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto é possível construí-la”. Mas é preciso compreender que a resolu- ção de problemas abrange muito mais do que somente a resposta, ela envolve a formulação de hipóteses ou procedimentos para chegar à resolução e a comparação e discussão dos resultados encontrados pelos alunos, com o objetivo de conhecer as diferentes estratégias utilizadas. Na Educação Matemática, um problema, mesmo que simples, pode desafiar o aluno, incentivar a sua curiosidade e até levá-lo a gostar da descoberta. Quando se trabalha com a resolução de pro- blemas nessa perspectiva, os procedimentos adotados para se che- gar à solução são mais importantes que as respostas em si. Mas é precisotomar cuidado, uma vez que o termo problema no contexto A utilização de problemas em sala de aula pode envolver situações do cotidiano do aluno, como neste caso o espaço da feira de produtos. Sahan a M S/S hut ters toc k Resolução de problemas 31 escolar, segundo Meneghelli et al. (2018) e Vila e Callejo (2006), tor- nou-se sinônimo de resolver qualquer atividade ou questão mate- mática, banalizando a palavra. Por isso, tome muito cuidado com os termos, pois um problema matemático exige que o aluno faça uso dos seus conhecimentos, de- senvolva habilidades e estratégias para a sua resolução, colocando seu conhecimento matemático em uso. Para isso, é importante que professo- res escolham problemas que ofertem diferentes estratégias de reso- lução, pois só é um problema se os alunos percebem a dificuldade e o obstáculo a serem resolvidos. A escolha do problema deve considerar o conhecimento do aluno e sua compreensão sobre o tema que abranja o problema. Aliado a isso, um problema deve ser envolvente de forma a dar significado à matemática a ser aprendida, permitindo, assim, que o aluno procure justificativas e explicações para as estratégias e os caminhos adotados em sua resolução (WALLE, 2009). Todos esses aspectos tornam o papel do professor muito importante, pois é ele quem define qual problema matemático será adotado em sua aula e com qual finalidade. Para você, existe distinção entre tarefa, atividade, problema e exercício? João Pedro da Ponte organizou um e-book, em 2014, denominado Práticas profissionais dos profes- sores de Matemática. O Capítulo 1, de sua autoria, discute a distinção entre tarefa, atividade, problema e exercício. O material está disponível no link a seguir. Disponível em: http://www. ie.ulisboa.pt/publicacoes/ebooks/ praticas-profissionais-dos- professores-de-matematica. Acesso em: 1 fev. 2021. Livro 2.3 Os objetivos e tipos de problemas Vídeo O objetivo de se trabalhar a resolução de problemas na Educa- ção Matemática, segundo Dante (2003), envolve fazer o aluno pen- sar por meio do desafio e da motivação para resolvê-los. A resolução de problemas aplicada ao conhecimento matemático do cotidiano faz com que o aluno desenvolva a iniciativa e a criatividade na bus- ca de uma solução. Essa prática, segundo Dante (2003), faz com que as aulas sejam mais interessantes e de- safiadoras, fugindo do modelo de aula de explicação e repetição. Para isso, a seleção de um bom problema pode despertar o in- teresse do aluno, dependendo do desafio que oferece, oportunizando que o aluno crie estratégias para a resolução dos pro- blemas, ofertando, para tal, uma variedade de situações. M ill aF /S hu tte rs to ck O aluno deve ser incentivado a refletir http://www.ie.ulisboa.pt/publicacoes/ebooks/praticas-profissionais-dos-professores-de-matematica http://www.ie.ulisboa.pt/publicacoes/ebooks/praticas-profissionais-dos-professores-de-matematica http://www.ie.ulisboa.pt/publicacoes/ebooks/praticas-profissionais-dos-professores-de-matematica http://www.ie.ulisboa.pt/publicacoes/ebooks/praticas-profissionais-dos-professores-de-matematica 32 Didática da Matemática Essa variedade de situações que Dante (2003) aborda envolve a ação do professor de escolher entre diferentes tipos de problemas. Em seu livro, ele apresenta seis classificações diferentes de problemas, que reproduziremos a seguir: 1. Exercícios de reconhecimento: têm o propósito de fazer com que o aluno (re)lembre um conceito, propriedade ou definição. Exemplo: dados os números 2, 5, 10, 103, 156 e 207, quais deles são pares? 2. Exercícios de algoritmos: envolvem a execução de algoritmos com o intuito de reforçar um conhecimento já aprendido. Exemplo: calcule o valor de [(3 . 4) = 2] ÷ 7. 3. Problemas-padrão simples: são diretos e envolvem somente uma operação, geralmente são trabalhados para a fixação de um conteúdo. Exemplo: um gato tem 4 patas. Quantas patas têm 3 gatos? 4. Problemas-padrão compostos: são problemas que são diretos e envolvem duas ou mais operações, geralmente são trabalhados para a fixação de um conteúdo. Exemplo: Luís tem 7 anos a mais do que o triplo da idade de Felipe. Os dois juntos têm 55 anos. Qual é a idade de cada um? 5. Problemas-processo heurístico: envolvem operações que não estão explícitas no enunciado, exigindo que o aluno pense e trace uma estratégia para a resolução. Não costumam ter a aplicação direta de um algoritmo. Exemplo: em uma reunião de equipe há 6 alunos. Se cada um trocar um aperto de mão com todos os outros, quantos apertos de mão teremos ao todo? 6. Problemas de aplicação ou situações-problema: envolvem o cotidiano e procuram problematizar uma situação real. Exemplo: para fazer seu relatório, um diretor de escola precisa sa- ber qual é o gasto mensal, por aluno, que ele tem com a merenda escolar. Vamos ajudá-lo a fazer esses cálculos? Resolução de problemas 33 7. Problemas quebra-cabeça: envolvem a matemática recreativa e sua solução abrange sorte ou facilidade em perceber truques que ajudam na solução. Exemplo: com 24 palitos de fósforo, forme 9 quadradinhos, como mostra a figura a seguir. Como fazer para tirar apenas 4 palitos e deixar 5 quadradinhos? Essa classificação nos mostra que a resolução de problemas deve ser organizada de modo a ofertar diferentes tipos de problemas, de maneira contínua e durante todo o ano letivo, assim se desenvolvem as habilidades necessárias para aprimorar o conhecimento matemático do aluno. Smole e Diniz (2001) classificam os problemas em convencionais e não convencionais. Os problemas convencionais, comumente encon- trados nos livros didáticos, caracterizam-se, segundo as autoras, por textos em forma de frases que apresentam todos os dados que o aluno necessita para resolver os problemas. Muitas vezes, envolvem a apli- cação direta de um conteúdo, algoritmo ou definição. Já os problemas não convencionais são totalmente contrários a isso, apresentam dife- rentes tipos de textos para lidar com os dados apresentados, exigindo do aluno a leitura e interpretação dos dados. As autoras apresentam diferentes tipos de problemas não convencionais, que são: 1. Problemas com mais de uma solução: não há uma única forma de resolução, nem mesmo uma única resposta, o que exige do aluno um processo de investigação e reflexão. Exemplo: dados seis quadrados iguais, construa uma planificação para o cubo. Ao pensarmos na planificação de um cubo, sabemos que há onze formas diferentes de planificá-lo. Por isso, ao propor um problema assim, o professor deve explorar as diferentes respostas possíveis, com cuida- do para que não limite o aluno à mais conhecida. Você conhece as onze formas de planificação de um cubo? No vídeo Planificações do Cubo, de Lucas Caitano, podemos ver todas e como elas fecham se transformando em um cubo. Disponível em: https://youtu. be/8v_LGTcyKTM. Acesso em: 1 fev. 2021. Vídeo https://youtu.be/8v_LGTcyKTM https://youtu.be/8v_LGTcyKTM 34 Didática da Matemática 2. Problemas com excesso de dados: buscam romper com a crença de que todos os dados contidos no enunciado são necessários para a resolução do problema e que um enunciado não pode criar dúvidas para o aluno. Exemplo: Caio tinha 2 dúzias de bolinhas de gude. No final do jogo, Caio perdeu um quarto de suas bolinhas, e Júnior ficou com o triplo de bolinhas de Caio. Quantas bolinhas Júnior tinha no iní- cio do jogo? Esse tipo de problema exige que o aluno aprenda a selecionar os dados relevantes para a resolução do problema. 3. Problemas de lógica: envolvem resoluções que não são numéricas. Desenvolvem o pensamento matemático e o raciocínio dedutivo e muitas vezes envolvem estratégias não convencionais, que permitem analisar, interpretar e propor uma resolução. Exemplo: Alice, Bernardo, Cecília, Otávio e Rodrigo são irmãos. Sabemos que: • Alice não é a mais velha; • Cecília não é a mais nova; • Alice é mais velha que Cecília; • Bernardo é maisvelho que Otávio; • Rodrigo é mais velho que Cecília e mais moço que Alice. Você consegue descobrir a ordem em que nasceram esses 5 irmãos? Os problemas de lógica muitas vezes não fazem uso de algoritmos, mas sim da lógica matemática para resolvê-los. São muito usados em concursos e desenvolvem habilidades do pensamento matemático. 4. Problemas sem solução: mostram que nem todos os dados do enunciado devem ser usados e que nem sempre há uma solução. Exemplo: um menino possui 3 carrinhos com 4 rodas em cada um. Qual é a idade desse menino? O professor deve ter cuidado ao propor esse tipo de problema, até mesmo explicando à equipe pedagógica e aos pais o objetivo de se trabalhar com ele. Lembre-se de que esse modelo é recente, ou Resolução de problemas 35 seja, muitas pessoas não tiveram contato com ele. Além do mais, você, professor, deve cuidar, pois os alunos menores, ao lerem esse problema, irão tentar resolvê-lo. É importante que eles compreen- dam e reconheçam que esse tipo de problema não tem solução. 5. Problemas de estratégia: requerem que se combinem as informações do texto para chegar a uma resolução. Exemplo: um homem precisa levar uma raposa, uma galinha e um cesto de milho até a outra margem do rio. A questão é que essas coisas devem ser levadas uma de cada vez. Caso leve o ces- to de milho, a raposa comeria a galinha, por exemplo; se ele levar a raposa, a galinha come o milho, e assim por diante. Como você faria para resolver essa situação? O problema de estratégia requer do aluno não só conhecimentos matemáticos, mas também de lógica, o que desenvolve muitas capa- cidades e habilidades. Esses tipos de problemas não são comuns nos livros didáticos, mas são de grande importância para o aluno e o desenvolvimento de suas ca- pacidades e habilidades matemáticas. É fundamental que o professor de Matemática conheça os diferentes tipos de problemas para que, ao pro- por o trabalho pedagógico, consiga associá-los às competências e às ha- bilidades necessárias ao aluno no ensino e aprendizagem da Matemática (BRASIL, 2018). Você, como futuro professor, deve pensar com que finalidade es- colhe um problema-padrão ou um problema sem solução para seus alunos, analisando que conhecimentos são necessários para que o aluno resolva o problema proposto, qual é o objetivo de trabalhar esse conteúdo e como irá avaliar as capacidades desenvolvidas pelo aluno diante dessa nova forma de ensinar. O e-book intitulado Avaliação em Matemática: contribuições do feedback trata da temática da avaliação e do feedback dado aos alunos pelo professor. Os artigos que o compõem abordam práticas desde as séries iniciais do ensino fun- damental até o ensino superior. Para consultar o material, acesse o link a seguir. GONTIJO, C. H. et al. Universidade de Brasília. Brasília, 2020. Disponível em: https://livros.unb.br/index. php/portal/catalog/book/61. Acesso em: 1 fev. 2021. Livro 2.4 Uma mudança no pensar a resolução de problemas em sala de aula Vídeo As constantes evoluções que temos vivido em nosso cotidiano têm mos- trado que apenas ensinar conceitos e algoritmos não vem atendendo às ne- cessidades dos alunos (DANTE, 2003; SMOLE; DINIZ, 2001). A resolução de https://livros.unb.br/index.php/portal/catalog/book/61 https://livros.unb.br/index.php/portal/catalog/book/61 36 Didática da Matemática MillaF/Shutterstock problemas vem sendo discutida há muito tempo como uma prática para o ensino e aprendizagem da Matemática, e Van de Walle (2009) coloca que durante muitos anos ela foi trabalhada na perspectiva de “ensinar-então-praticar”, na qual o professor é o centro do processo de aprendizagem e todos os alunos devem resolver os problemas da maneira como o professor ensinou. Mas, na perspectiva da educação matemática, a resolução de problemas tem como centro do processo de aprendizagem o alu- no e o desenvolvimento de suas capacidades de resolução, fazendo com que o professor assuma o papel de mediador da aprendizagem. Essa mudança acontece no final do século XX, quando a resolução de problemas passa a ser utilizada como uma tendência metodoló- gica no ensino de Matemática. Essa mudança teve influência de George Polya, pionei- ro nos estudos sobre resolução de problemas, autor do livro How to Solve It (A arte de resolver problemas) 1 , publicado em 1945, que ainda serve de referência aos estudiosos do tema, apontando para no- vos rumos para o ensino e aprendizagem em Matemática. O autor con- sidera que a resolução de problemas é uma competência prática que deve ser desenvolvida pelo aluno. Em seus estudos, Polya (1945) se preocupa não somente com os problemas escolhidos, mas com as técnicas e estratégias adotadas na resolução dos problemas, que envolvem princípios heurísticos para chegar à resolução. Em seu livro, o autor propõe quatro fases que podem auxiliar o aluno a compreender o problema. Mas é im- portante entendermos que essas fases não são estan- ques, elas podem acontecer ao mesmo tempo. A primeira fase, denominada compreender o problema, envolve primeiramente o inte- resse do aluno em resolver o problema e a compreensão do que o enunciado pede, des- tacando os dados, condicionantes, a incógnita e até mesmo desenhando se for necessário. Klüber (2016, p. 43) explica que há três maneiras de com- preendermos os modelos, sendo elas: “1) modelos já prontos; 2) modelos matemáticos construídos para a resolução dos problemas; e 3) modelos não matemáticos”. Saiba mais Resolução de problemas 37 A segunda fase, denominada estabelecimento de um plano, envolve compreender o problema e separar os dados. O aluno faz uso de seu conhecimento matemático já adquirido para traçar um caminho para a resolução. O autor explica que o professor pode, por meio de indaga- ções e sugestões, auxiliar o aluno a ter uma ideia que o ajude a montar seu plano. Já a terceira fase, denominada execução do plano, envolve o passo a passo para a resolução, auxiliando o aluno a entender o que está corre- to e o professor a indicar o que precisa ser retomado no conteúdo para a compreensão do aluno. Por fim, a quarta fase, denominada reflexão, envolve a apresenta- ção dos planos adotados pelos alunos, no sentido de reconsiderar e reexaminar o caminho, apresentando aos colegas novas estratégias, estabelecendo conexões com outros conteúdos e problemas. Paiva e Rego (2009, p. 15) ressaltam que é importante compreen- dermos que cada pessoa vai traçar um procedimento para a resolução, que varia conforme o nível de dificuldade do problema e das estruturas que ele propõe. Para compreender como as fases acontecem, vamos ver um exemplo de resolução de um aluno, adaptado de Costa e Brandalise (2011): Problema: um grupo de crianças e seus cachorros passeiam em uma praça. Se existem 46 pernas visíveis, quantas crianças podem estar na praça, se cada criança tem no máximo um cachorro e existe pelo menos um cachorro na praça? É possível encontrar o número máximo de ca- chorros que poderiam estar na praça? 1. Compreendendo o problema: Criança = 2 pernas Cachorro = 4 pernas Total de pernas = 46 38 Didática da Matemática Máximo de cachorros = ? 2. Elaborando o plano: Para traçar o plano, um aluno faz uso da tentativa e erro. Crianças (2 pernas) Cachorros (4 pernas) Total de pernas 21 x 2 = 42 1 x 4 = 4 46 19 x 2 = 38 2 x 4 = 8 46 17 x 2 = 34 3 x 4 = 12 46 15 x 2 = 30 4 x 4 = 16 46 13 x 2 = 26 5 x 4 = 20 46 11 x 2 = 22 6 x 4 = 24 46 9 x 2 = 18 7 x 4 = 28 46 7 x 2 = 14 8 x 4 = 32 46 5 x 2 = 10 9 x 4 = 36 46 3 x 2 = 6 10 x 4 = 40 46 1 x 2 = 2 11 x 4 = 44 46 3. Executando o plano: Para o máximo de crianças, temos 21 crianças com no mínimo um cachorro, totalizando 46 pernas. Para o máximo de 11 cachor- ros e uma criança, totalizando 46 pernas. De outra forma, pode representar as crianças pela letra x e os cachorros pela letra y. Assim temos: Para uma criança: x = 1 e y = ? 2 . 1 + 4 . y = 46 4y = 46 – 2 y = =44 4 11 Paraum cachorro: x = ? e y = 1 2 . x + 4 . 1 = 46 2x = 46 – 4 y = =42 2 21 Resolução de problemas 39 MillaF/Shutterstock 4. Reflexão: considerando 21 como o máximo de crianças, com apenas um cachorro, teremos 46 pernas no total. Agora, considerando o mínimo de uma criança e máximo de 11 cachorros, teremos o mesmo total de pernas. Nesse exemplo foi possível especificar cada uma das fases de Polya, lembrando que na quarta fase faltou somente a socialização dos resultados, isso aconteceria em sala de aula com o intermédio do professor. Assim, o processo de ensino e aprendiza- gem envolve a construção de conceitos matemáticos e estratégias diferenciadas que contribuem para a resolução de problemas, uma vez que se utilizam da criatividade, autonomia, reflexão e tomada de decisões. Essa percepção da resolução de problemas é mais complicada que o ensino mecânico, segundo Dante (2003). Resolver problemas desenvolve conceitos, habilidades e algoritmos matemáticos. Para isso, o professor deve saber escolher um problema, cuidando para que a linguagem usada em seu enunciado seja condizente com a série do aluno e que as informações sejam expressas de forma clara para que os alunos consigam entender. Outro cuidado é abordar frases curtas, pois as frases longas e complexas fazem com que os alunos se percam na compreensão. Além disso, o professor deve ter cuidado com a linguagem mate- mática e seus termos específicos, pois, muitas vezes, os alunos pre- cisam de ajuda quando estão aprendendo sobre isso. Além de propor a resolução de problemas, o professor pode também oportunizar aos alunos que formulem os próprios proble- mas, isso faz com que pensem nos dados, na pergunta e sua reso- lução como um todo. Essa proposta de trabalho envolve o desafio e a motivação no fazer matemático (SMOLE; DINIZ, 2003). Essas propostas de utilização da resolução de problemas po- dem ser empregadas em qualquer faixa etária, mas é claro que a escolha do problema vai depender do que se quer trabalhar e como se quer trabalhar. Onuchic e Allevato (2011) identificam três formas de se trabalhar a resolução de problemas em sala de aula: Ao passar pelas fases de Polya, o aluno compreende melhor o problema e traça estratégias para a resolução. Já ouviu falar de proble- moteca? A problemoteca é uma coleção de pro- blemas convencionais e não convencionais. Smole e Diniz (2001) sugerem o uso da problemoteca como um auxílio ao pro- fessor, visto que é difícil encontrar problemas não convencionais. A problemoteca pode ser física ou mesmo virtual, depende do professor e dos problemas que ele vai acrescentando. No link a seguir é possível visualizar um exemplo de problemoteca. Disponível em: https:// problemoteca.wixsite.com/ problemoteca. Acesso em: 1 fev. 2021. Curiosidade https://problemoteca.wixsite.com/problemoteca https://problemoteca.wixsite.com/problemoteca https://problemoteca.wixsite.com/problemoteca Mi lles St udi o/S hutt ersto ck Figura 4 Pensar a matemática e a resolução de problemas 1) Ensino sobre resolução de problemas: nessa perspectiva, a resolução de problemas é trabalhada como um novo conteúdo que deve ser ensinado, por meio da adoção e domínio de estra- tégias. Mas é importante observar que o domínio não envolve a repetição. 2) Ensino para a resolução de problemas: nessa perspectiva, a Matemática tem papel fundamental uma vez que a resolução de problemas é um complemento ao processo de ensino e apren- dizagem do aluno. Primeiro, o professor explica o conteúdo e somente depois introduz os problemas em sua prática, como forma de aplicação deles. 3) Ensino através da resolução de problemas: nessa perspecti- va, adota-se a resolução de problemas como forma de ensinar conteúdos matemáticos aos alunos. “O problema é visto como ponto de partida para a construção de novos conceitos e novos conteúdos; os alunos sendo coconstrutores de seu próprio co- nhecimento e, os professores, os responsáveis por conduzir esse processo”. (ONUCHIC; ALLEVATO, 2011, p. 80) A escolha de como será trabalhada a resolução de problemas é do professor com base na finalidade com que ele deseja aplicá-la em sua aula. Agora que já entendemos um pouquinho da resolução de problemas, vamos tentar entender se há diferença entre os diferen- tes níveis de ensino. A resolução de problemas como tendência no ensino de Mate- mática pode ser trabalhada nos diversos níveis de ensino, como também nas diferentes modalidades de ensino – o que irá diferir é o problema em si. Por exemplo, no ensino médio, um problema quebra-cabeças pode não ser interessante ao aluno, por isso o pro- blema deve estar adequado ao ano e ao conteúdo que se deseja abordar. Um problema trabalhado no 6° ano do ensino fundamental pode ser desinteressante a um aluno do 1° ano do ensino médio, por exemplo. É possível usar a resolução de problemas no ensino médio? A resolução de problemas vem sendo indi- cada, em diversos documentos oficiais, especial- mente na BNCC (BRASIL, 2018), como uma maneira de se ensinar a Matemática. Um exemplo disso é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que abor- da diversos problemas em sua prova. Ou seja, o proble- O livro da Coleção Ma- themoteca, Resolução de Problemas para as aulas de Matemática: o recurso problemoteca, apesar de voltado para os anos iniciais do ensino funda- mental pode contribuir também para os alunos finais do ensino funda- mental, afinal, os alunos chegam no 6° ano com muitas dificuldades. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (org.). Porto Alegre: Penso, 2016. Livro 4040 Didática da MatemáticaDidática da Matemática Resolução de problemas 41 ma deve estar voltado ao nível de conhecimento do aluno. A mesma situação acontece quando falamos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Educação do Campo ou da Educação Inclusiva. O artigo de Cidimar Andreatta e Norma Suely Gomes Allevato, intitulado Educação do campo e resolução de problemas em uma escola comunitária rural, publicado na revista Kiri-Kerê: pesquisa em ensino, é um ótimo material para saber mais sobre a resolução de problemas na Educação do Campo. Acesso em: 1 fev. 2021. https://periodicos.ufes.br/kirikere/article/view/31497 Artigo Pensar a resolução de problemas em um contexto inclusivo requer do professor que ele tenha em mente que a inclusão busca aceitar a diversidade presente em sala de aula, ou seja, é propor uma atividade que possa ser resolvida por todos os alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A resolução de problemas faz parte de nosso cotidiano desde os tempos mais longínquos. Ser um bom resolvedor de problemas não garante que seremos conhecedores da matemática. Por isso, é im- portante que o professor de Matemática, ao optar por trabalhar com essa tendência, busque outros tipos de problemas que não só os convencionais, mas que desenvolvam diferentes competências e ha- bilidades matemáticas em seus alunos. Além disso, a resolução de problemas é muito indicada para o ensino de Matemática atualmente, desde que a perspectiva de traba- lho adotada busque incentivar e desafiar os alunos a resolverem um problema matemático. Buscar novos caminhos, resoluções e estraté- gias são uma nova maneira de se ensinar por meio de problemas de matemática. Não tenha medo de trabalhar com a resolução de problemas em suas aulas. Incentivamos você a tentar romper com esse modelo mais convencional que estamos acostumados. Este capítulo nos propor- cionou uma ideia de como o trabalho com a resolução de problemas deve ser bem pensado pelo professor, focando o seu objetivo em trabalhar os problemas e no que espera de seus alunos. https://periodicos.ufes.br/kirikere/article/view/31497 42 Didática da Matemática ATIVIDADES Observe a seguir um problema proposto por Costa e Brandalise (2011): Redija um problema que possa ser resolvido por meio da operação 943 ÷ 23 = 41 Aluno 1 - Comprei uma moto que deve ser paga em 23 parcelas mensais iguais. Sendo que o valor à vista da moto
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