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IVERSON KECH FERREIRA AS RAÍZES HISTÓRICAS DA CULTURA JURÍDICA BRASILEIRA Na conquista da América, no século XVI, “o Estado e a igreja se lançavam a um colossal empreendimento de submeter toda uma população a um gênero de vida uniforme”, que não o seu, mas sim de seus dominadores. A “destruição dos templos em 1525 no vale do México” e o confisco das imagens utilizadas pelos nativos em rituais cerimoniosos serviram aos propósitos de uma “cruzada da conquista. ” A resposta para isso foi que em idos de 1530 “muitos indígenas mexicanos tomados de pânico, decidiram destruir suas pinturas para escapar da violenta e espetacular perseguição” imposta pelos espanhóis. A população indígena do México, estimada em 25,2 milhões na época da descoberta atinge a marca de 2,6 milhões em 1568, in MALAGUTI Batista, Vera O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro, Revan, 2014. Os motivos da invasão: A expansão da economia europeia mercantil. • O esforço dos Estados Modernos metropolitanos em transformar as colônias em instrumentos de expansão desse poder. Bosi (1993, p. 23-25), na tentativa de mapeamento da formação econômica-social do Brasil-Colônia, descreve como características fundamentais da ordem então estabelecida os seguintes aspectos: 1. A predominância de uma camada de latifundiários com interesses atrelados a grupos mercantis europeus; 2. O trabalho escravo. 3. A estrutura política-jurídica vai sempre representar os interesses dos proprietários locais, os homens bons, mas com poder limitado aos interesses reais. 4. O exercício de cidadania é limitado tanto pelo Estado Absolutista Metropolitano como pelo poder interno 5. A cultura eclesiástica; jesuíta empenhada numa prática missionária supranacional. 6. A formação de uma cultura letrada estamental que não permitia a mobilidade vertical. Tudo isso serviu para definir a cultura brasileira, baseada na servidão ao Europeu. As normas que vieram de Portugal até aqui foram formadas para o homem português, considerado homem de bem, rico, branco e que quisesse contribuir para a exploração do território conquistado. As raízes da cultura brasileira são resultados de uma lógica agrária, latifundiária e escravista, marcada pela troca de favores entre a coroa e a nobreza, na concessão de terras para o plantio e criação de gado. Resumo: As bases históricas do direito brasileiro foram definidas a partir do processo moderno de colonização. • A colonização brasileira teve como sentido promover a acumulação de lucros na metrópole portuguesa, e por esta razão, a ordem política e jurídica nacional foi elaborada a partir desse interesse externo. • A implantação de um modelo de produção na colônia brasileira a partir do século XVI foi sustentada por um modelo político e jurídico específico, inicialmente chamado “direito brasileiro” A ORDEM JURÍDICA COLONIAL BRASILEIRA: No processo de expansão do domínio europeu havia uma grande disputa entre os reinos metropolitanos da época sobre as terras “descobertas” e as “a serem descobertas”, especialmente sobre as riquezas que possuíam. Seguramente, por esta razão, as terras brasileiras já eram alvo de interesse, sobretudo, de Espanha e Portugal, o que explica a existência de Tratados entre tais países mesmo antes da “chegada” de Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500. Destacam-se então os seguintes Tratados: 1. Tratado de Toledo: celebrado em 6 de março de 1480, que dava a Portugal a exclusividade sobre as terras e águas ao sul das Ilhas Canárias. 2. Bula Inter Coetera: de 4 de maio de 1493, expedida pelo Papa Alexandre VI que conferia à Espanha o direito exclusivo sobre todas as terras que estivessem a oeste de uma linha imaginária a 100 léguas de Açores e Cabo Verde. 3. Tratado de Tordesilhas: de 7 de junho de 1494, que estabeleceu um meridiano divisório a 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde, sendo a leste pertencente a Portugal e oeste a Espanha. A “descoberta” do Brasil não foi “mero acaso”, mas parte de um projeto de conquista. Porém, para os portugueses, ávidos por ouro, prata e mercadorias que pudessem alimentar o comércio europeu, encontraram uma população dispersa que vivia de caça e coleta. A ESTRUTURA JURÍDICA DO BRASIL COLÔNIA No primeiro período da colonização, que vai até 1549, a preocupação central era a de garantir a posse da terra, tendo sido adotado um arcaico sistema chamado de Capitanias Hereditárias (sesmarias), constituído pela doação de extensas faixas de terra a nobres portugueses que quiseram, por conta própria, explorar a terra e promover o povoamento. O sistema era feudal e toda administração jurídica e política ficava sob a responsabilidade do donatário. Capitanias Hereditárias; divididas em 14 grandes lotes de terra e doadas aos importantes figurões da Corte, para que as protegessem contra os invasores inimigos e cultivassem as riquezas do solo. Em 1549, na tentativa de resgatar o controle é instaurado pela coroa o Governo Geral, que assume amplas responsabilidades burocráticas e fiscais, tendo no comando o Governador Geral, possibilitando a formação de uma tímida justiça colonial administrada por um pequeno grupo de burocratas que vieram a serviço do governador. Durante todo o período colonial vigorava o sistema jurídico metropolitano, ou seja, as Ordenações Reais, compostas pelas seguintes Ordenações: 1 . Ordenações Afonsinas: concluídas em1446, foram elaboradas por ordem de D. João I da Dinastia de Avis e eram divididas em cinco livros: Livro I: relativo aos regimentos dos cargos públicos (régios e municipais), compreendendo governo, fazenda, justiça e exército. Livro II: Direito eclesiástico, jurisdição e privilégio dos donatários, prerrogativa da nobreza e estatuto dos mouros e judeus. Livro III: Processo civil.o Livro IV: Direito Civil. Livro V: Direito e Processo Penal. 2. Ordenações Manuelinas: concluídas em 1521, trataram de incorporar as modificações advindas do processo de expansão colonial e as novas leis que continuaram a ser editadas. Também eram compostas por cinco Livros, tratando mais diretamente de direito marítimo, contratos e mercadores, sem mudanças no direito e sistema penal, que permanecia um sistema de torturas e horrores medievais, com aplicação de tortura e penas corporais como a pena de morte. 3. Ordenações Filipinas: de 1603, representa a unificação das Ordenações anteriores com pequenas inclusões de leis extravagantes. A estrutura administrativa do Brasil Colônia teve como característica a criação de um aparato político e jurídico capaz de garantir os interesses metropolitanos. • As bases das instituições jurídicas brasileiras estão intimamente ligadas: a um passado escravocrata e patrimonialista, marcado pela dominação de uma elite agrária local e submissa aos interesses econômicos metropolitanos. • O Direito brasileiro, em sua origem colonial, mais se aproxima de arbítrio e favoritismo do que propriamente a realização de justiça. Com a Reforma do Marquês de Pombal, como já considerado, na segunda metade do século XVII, quando os jesuítas são expulsos da metrópole e da colônia, e seus reflexos na tentativa de emergência de uma cultura moderna, o que irá marcar a transição para o século XIX e a busca de superação da herança colonial. Em síntese, compreender o direito e a gestão da justiça no Brasil Colônia é a possibilidade de compreender as origens de nossa profunda desigualdade social e negação de cidadania que até os dias atuais procuramos nos livrar. Não é difícil perceber as razões que fazem de nosso direito um instrumento elitizado e distante ainda de interesses nacionais. Entre 1750 e 1777, Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal, estabeleceu uma série de reformas modernizantes com o objetivo de melhorar a administração do Império português e aumentar as rendas obtidas através da exploração colonial. O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIAE A CONSTRUÇÃO DO DIREITO NACIONAL Bacharelismo: A Carta de Lei de 11 de agosto de 1827, que implanta os primeiros cursos jurídicos do Brasil de São Paulo e Recife, reflete, segundo Wolkmer (2007, p. 80), “a exigência da elite que veio a suceder a dominação colonial preocupada com a estrutura de poder e a preparação de uma camada burocrática administrativa capaz de assumir o gerenciamento nacional”. • O passado histórico acabou por criar uma brutal realidade social no Brasil contemporâneo, que tem exigido respostas nem sempre possíveis de serem dadas com rapidez e eficiência. • Mesmo com a ordem jurídica democrática implantada pela Constituição de 1988, não conseguimos ser democráticos na prática, imperando um crescente e aterrorizante fascismo social. • Temos muitos desafios diante de nós e precisamos reinventar nossas práticas jurídicas, buscando procedimentos mais eficientes e adequados a esse novo e difícil tempo. OS DESAFIOS DO DIREITO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Direito como ferramenta de igualdade A humanização do direito ESTADO FRACO: Despolitização Enfraquecimento dos direitos dos Trabalhadores Fortalecimento do Direito Penal e do exercício de Polícia Segurança Pública como atividade de primeira essência Alto Investimento no amplo capitalismo e baixo investimento em políticas públicas de inclusão. PRÓXIMA AULA: FILOSOFIA DO DIREITO PÁG. 61 até 105 PRÓXIMA AULA: Fundamentos Filosóficos do Direito PÁG. 01 A 59.
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