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Yahanna Estrela Medicina – UFCG FARMACOLOGIA ANTIVIRAIS VÍRUS ESTRUTURA DOS VÍRUS ✓ Agentes infecciosos pequenos incapazes de se reproduzir fora da célula de seu hospedeiro; ✓ Partícula viral de vidra livre: vírion – ácido nucleico + capa proteica; ✓ Alguns vírus possuem um envelope lipoproteico externo extra, outros, enzimas que iniciam sua replicação na célula do hospedeiro. ✓ São geralmente caracterizados como vírus de DNA ou RNA, dependendo da natureza de seu conteúdo de ácido nucleico; ✓ Exemplos de vírus patogênicos: o Vírus de DNA: poxvírus (varíola), herpesvírus (catapora, herpes-zoster, herpes labial, febre glandular), adenovírus (dor de garganta, conjuntivite) e papilomavírus (verrugas); O herpesvírus é muito comum. Acredita-se que uma grande porcentagem da população tenha o vírus. Ele fica latente, ou seja, uma vez que se tem herpes, terá para sempre. Ele fica “adormecido” e quando há algum fator desencadeante, ele é reativado. o Vírus de RNA: ortomixovírus (gripe), paramixovírus (sarampo, caxumba, infecções do trato respiratório), vírus da rubéola (rubéola), rabdovírus (raiva), picornavírus (resfriado, meningite, poliomielite), retrovírus (AIDS, leucemia de células T), arenavírus (meningite, febre Lassa), hepadnavírus (hepatite sérica) e arbovírus (várias doenças transmitidas por artrópodes, como encefalites e febre amarela). CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS ✓ Vírus não contam com sistema metabólico próprio → apropriam-se do metabolismo da célula do hospedeiro; ✓ Precisam ligar-se e penetrar na célula do hospedeiro vivo; ✓ Sequestro dos processos metabólicos do hospedeiro para a replicação; ✓ Após a ligação o complexo vírus-receptor entra na célula (endocitose). ✓ Ligação específica do tipo chave-fechadura. ✓ Uma vez na célula do hospedeiro, o ácido nucleico viral usa, então, o sistema da própria célula do hospedeiro para a síntese dos ácidos nucleicos e das proteínas, que são montados como novas partículas virais. Estrutura celular do hospedeiro Vírus Glicoproteína dos linfócitos T- helper CD4 HIV (causando AIDS) Receptor CCR5 para quimiocinas MCP-1 e RANTES HIV (causando AIDS) Receptor da quimiocina CXCR4 para a citocina SDF-1 HIV (causando AIDS) Receptor de acetilcolina no músculo esquelético Vírus da raiva Receptor de linfócito B do complemento C3d Vírus da febre glandular Receptor de interleucina-2 do linfócito T Vírus da leucemia de cél. T Beta-adrenoceptores Vírus da diarreia infantil Moléculas MHC Adenovírus (causando dores de garganta e conjuntivite), vírus da leucemia de células T. Tem-se o vírion, que se liga à membrana da célula hospedeira (A); tem-se o processo de penetração e fusão (b), ele adentra a célula hospedeira; dentro da célula, ele será desnudado, o material genético passará pelo processo de replicação e transcrição (c); haverá síntese e montagem de nucleocapsídeos (d); vírus se funde com a membrana para se exteriorizar (e). Após isso, haverá infecção de outras células. Por isso a replicação viral é muito alta. A patogênese está relacionada a carga viral e a capacidade de replicação. REPLICAÇÃO DO VÍRUS DE DNA ✓ DNA gera fita de RNAm pela RNA-polimerase; ✓ RNAm → proteínas virais específicas →mais DNA viral; →proteínas estruturais: capa e envelope; ✓ Após montagem da capa em torno do DNA viral: vírions completos → estruturas prontas para infectar outras células e repetir o ciclo. ✓ Lise ou brotamento. REPLICAÇÃO DO VÍRUS DE RNA ✓ Enzimas dentro do vírion sintetizam seu RNAm a partir do próprio RNA viral; ✓ Após isso, é traduzido pela célula do hospedeiro em várias enzimas e proteínas do vírion. REPLICAÇÃO NOS RETROVÍRUS ✓ O vírion no retrovírus contém a enzima transcriptase reversa, que faz uma cópia de DNA do RNA viral; ✓ Essa cópia de DNA é integrada ao genoma da célula hospedeira pela enzima integrase: provírus. Essa enzima é um dos alvos farmacológicos. ✓ Vírus completos são liberados por brotamento; ✓ Muitos retrovírus podem replicar-se sem destruir a célula do hospedeiro. HIV ✓ Retrovírus; ✓ HIV-1 – AIDS humana; ✓ Pode permanecer sem gerar sintomas por até 10 anos, o que faz com que, quando for descoberto, já tenha uma carga viral alta. ✓ A interação do HIV com o sistema imunológico do hospedeiro é complexa; ✓ Envolve, principalmente, os linfócitos T citotóxicos (LTCs, células T CD8+) e os linfócitos T helper CD4+ (células CD4+) e outras células imunológicas, como os macrófagos, as células dendríticas e as células NK; ✓ O hospedeiro produz anticorpos contra vários componentes do HIV, porém é a ação dos LTCs e das células CD4+ que inicialmente impede sua difusão. ✓ O vírion do HIV, engenhosamente, liga-se a proteínas na superfície da célula do hospedeiro para entrar nas células; ✓ Os alvos principais são as CD4 e o CCR5 (um correceptor para algumas quimiocinas); ✓ As células CD4+ normalmente orquestram a resposta imunológica aos vírus, porém, ao entrar nessas células e usá-las como fábricas de vírions, o HIV virtualmente desfigura essa parte da resposta imunológica; ✓ Essas células ativadas e infectadas no tecido linfoide formam a principal fonte de produção de HIV nos indivíduos infectados por HIV; os macrófagos infectados são outra fonte. ✓ Quando a vigilância imunológica entre em colapso, surgem outras cepas de HIV que reconhecem outras moléculas de superfície de células do hospedeiro, tais como CD4 e CXCR4; ✓ Mutações ocorrem diariamente no genoma do HIV – escapa do reconhecimento pelos linfócitos citotóxicos. Mutação é um fator que interfere no tratamento ou na prevenção (vacina) de muitas doenças virais. ✓ Sugere-se que sequências após sequências de linfócitos citotóxicos atuem contra os novos mutantes à medida que vão surgindo, esgotando, gradualmente, o repertório de células T, já seriamente comprometido pela perda das células T CD4+ helper, até que, finalmente, o sistema imunológico falha por completo. Isso ocorre em pacientes não tratados ou tratados de forma incorreta. FÁRMACOS ANTIVIRAIS ✓ Alvos úteis para os fármacos: enzimas específicas dos vírus; ✓ A maioria dos agentes antivirais disponíveis é efetiva apenas quando o vírus está se replicando. ✓ Ou seja, serão mais efetivos quando o vírus estiver dentro da célula do hospedeiro. ✓ Muitos antivirais deixaram de ser utilizados devido a quantidade de efeitos colaterais. Outros são pouco usados devido a quantidade de interações. INIBIDORES DA TRANSCRIPTASE REVERSA ✓ São classificados em: o Inibidores nucleosídicos da TR; o Inibidores não nucleosídicos da TR. INIBIDORES NUCLEOSÍDICOS DA TR ✓ Análogos de nucleosídeos, que são fosforilados gerando o derivado 5’-trifosfato; ✓ Precisam ser transformados em seus metabólitos para inibir a Transcriptase Reversa do HIV e, consequentemente, impedir a formação do DNA viral. ✓ Exemplos: zidovudina (AZT), didanosina, zalcitabina, lamivudina, estavudina, abacavir. ZIDOVUDINA (AZT) ✓ Análogo da Timidina ✓ Prolonga a vida dos infectados; ✓ Diminui a demência; ✓ Reduz em 20% a transmissão mãe-bebê: ▪ As mulheres portadoras de HVI que engravidam precisam fazer tratamento/acompanhamento até a hora do parto para que não seja transmitido para o bebê. ✓ Via oral ou IV; ✓ Metabolização hepática – conjug. glicuronídeo; ✓ Efeitos adversos: mielossupressão, alterações no TGI (náuseas, diarréia, vômitos, etc), hiperpigmentação das unhas, hepatotoxicidade. LAMIVUDINA ✓ Análogo a citosina; ✓ Boa absorção oral; ✓ Meia vida de 2,5h; ✓ Excreção renal; ✓ 20% da concentração no LCR → importante considerar efeitos adversos a nível SNC; ✓ Também trata Hepatite B; ✓ Efeitos adversos: cefaleia, insônia, fadiga.ABACAVIR ✓ Análogo da guanosina; ✓ Mais efetivo da classe ✓ Boa absorção oral, T 1⁄2 = 1,5h; ✓ 33% da concentração no LCR; ✓ Metabolismo hepático, excreção renal; ✓ Efeitos adversos: hipersensibilidade grave (fatal), pancreatite, alterações no TGI, cefaleia. INIBIDORES NÃO NUCLEOSÍDICOS DA TR ✓ Compostos quimicamente diversos, que se ligam à enzima transcriptase reversa nas proximidades do local catalítico, inativando-a; ✓ Maioria dos inibidores não nucleosídicos da transcriptase reversa são também indutores, substratos ou inibidores, em graus variados, das enzimas hepáticas do grupo citocromo P450. ✓ Isso implica dizer que se pode ter interações importantes, por isso deve-se ter cuidado na sua prescrição. ✓ Exemplos: neviparina, efavirenz. NEVIPARINA ✓ Boa absorção oral; ✓ 45% da concentração no LCR; ✓ Metabolismo hepático e excreção renal; ✓ Resistência: rápida com monoterapia → deve ser utilizada em associação. ✓ Redução da transmissão mãe-bebê ✓ Efeitos adversos: dermatológicos (Stevens Johnson), hepatite fulminante (atuação no fígado, interferindo no CYP450). EFAVIRENZ ✓ Boa absorção oral, T 1⁄2 = 40-55h; ✓ Metabolismo hepático. ✓ Não concentra no LCR (1%): o Vantajoso pois diminui efeitos a nível de SNC e aumenta a disponibilidade para o restante do corpo. ✓ Resistência: rápida com monoterapia → utilizar em associação; ✓ Efeitos adversos: SNC (tontura, insônia, cefaleia, depressão), dermatológicos (rash), teratogenicidade. INIBIDORES DA PROTEASE ✓ A enzima viral, protease, é responsável pelo processamento das poliproteínas, levando à formação de proteínas funcionais e estruturais que irão formar uma nova estrutura do vírus; ✓ Os inibidores da protease do HIV interferem no último estágio da replicação viral, prevenindo a formação de novos vírus. ✓ Exemplos: saquinavir, ritonavir, indinavir, nelfinavir, amprenavir. RITONAVIR ✓ Absorção oral boa. Deve-se consumir com alimento para diminuir efeitos colaterais gástricos. Porém, é importante saber que a presença de alimento diminui a absorção do fármaco; ✓ T 1⁄2 = 3-5h; ✓ Metabolismo hepático, LCR↓, excreção fecal (80%); ✓ Atualmente, é prescrito junto com inibidores da transcriptase reversa; ✓ Interações limitam uso; ✓ Resistência: rápida com monoterapia → associação, porém deve-se ter cuidado com as interações; ✓ Efeitos adversos: TGI, parestesias, hipertrigliceridemia. ✓ O uso de ritonavir é contraindicado em combinação com as seguintes substâncias: antagonistas alfa-1-adrenoreceptores (cloridrato de alfuzosina), antianginal (ranolazina), antiarrítmicos (amiodarona, bepridila, dronedarona, flecainida, propafenona, quinidina e encainida), antibióticos (ácido fusídico), antifúngicos (voriconazol), agentes antigotosos (colchicina), antihistamínicos (astemizol, terfenadina), antipsicóticos (blonanserina, lurasidona e pimozida), derivados de ergot (di- hidroergotamina, ergonovina, ergotamina, metilergonovina), agentes de motilidade gastrintestinal (cisaprida), produtos fitoterápicos (erva-de-São-João Hypericum perforatum), inibidores da HMG-CoA redutase (lovastatina, sinvastatina), agonistas beta-adrenérgicos de ação prolongada (salmeterol), inibidores da PDE5 (sildenafila - apenas quando utilizada para o tratamento de hipertensão arterial pulmonar), sedativos/hipnóticos (midazolam, triazolam). INIBIDORES DA DNA-POLIMERASE ✓ Representante: Aciclovir; ✓ Terapêutica do Herpesvírus, tanto oral quanto genital; ✓ Na recidiva, é comum o paciente sentir parestesias, seguido do surgimento das bolhas. Na fase bolhosa é que ocorre transmissão, caso se tenha contato com o líquido da bolha. ✓ O aciclovir é um derivado da guanosina, convertido a monofosfato pela timidina quinase viral (enzima viral), desse modo é ativado somente em células infectadas; ✓ As quinases convertem, então, o monofosfato em trifosfato, forma ativa que inibe a DNA-polimerase viral. ✓ Mecanismo de Resistência: o Alteração da timidina quinase o Alteração da DNA polimerase viral. ✓ Farmacocinética: o Oral, EV e tópica; o Boa difusão tecidual; o LCR: 50% dos níveis séricos; o Depuração renal: ajuste de dose para IR → se não ajustar, pode ocorrer acúmulo e toxicidade; o Meia-vida de 3-4h → 5x por dia, pois libera a tomada de madrugada. ✓ Usos Clínicos: o Herpes genital e labial: 200 à 400mg, 5 vezes ao dia; o Encefalite por Herpes simples ou infecção neonatal: 10mg/kg a cada 8 horas, EV; o Varicela Zoster: doses maiores e início precoce → 800mg, 5 vezes ao dia. o PROFILAXIA ✓ Efeitos colaterais: o Náuseas, diarreia e cefaleia; o SNC ▪ Infusão EV. VALACICLOVIR ✓ Convertido à aciclovir após administração oral: o Níveis séricos maiores ✓ Usos Clínicos: o Herpes genital primária ou recorrente: 1g, 2x ao dia por 10 dias; 500mg, 2x ao dia por 5 dias; o Zoster: 1g, 3x ao dia por 7 dias; o Profilaxia de recidivas do H. genital: 500- 1000mg, 1x ao dia por 12 meses. FANCICLOVIR ✓ Pró-fármaco (penciclovir); ✓ Mecanismo semelhante ao aciclovir; ✓ Atividade in vitro também para hepatite B. INIBIDORES DA NEUROMINIDSE E INIBIDORES DE DESMONTAGEM DO CAPSÍDEO VIRAL ✓ Neuraminidase viral é uma das três proteínas transmembrana codificadas pelo genoma do vírus influenza; ✓ A infecção por esses vírus RNA se inicia com: o Ligação da hemaglutinina viral aos resíduos do ácido siálico nas células do hospedeiro. o A partícula viral, então, entra na célula por endocitose. o O endossomo é acidificado após o influxo de H+ através de outra proteína viral, o canal iônico M2. o Isso facilita a desmontagem da estrutura viral, permitindo que o RNA entre no núcleo do hospedeiro, iniciando, assim, a etapa de replicação viral. ✓ Os vírions recém-replicados escapam da célula do hospedeiro por brotamento através da membrana celular; ✓ Isso é promovido pela neuraminidase viral através da ruptura das ligações entre a capa e o ácido siálico do hospedeiro; ✓ A neuraminidase viral faz isso pela alteração das ligações entre a capa viral e o ácido siálico do hospedeiro. ✓ ✓ Dessa forma, os alvos farmacológicos são o canal iônico M2, que permite a desmontagem do capsídeo viral, e a neuraminidase viral. OSELTAMIVIR ✓ Influenza A e B (associação com amantadina) ✓ Mecanismo de ação: o Inibição da neuraminidase. Inibição da liberação do vírus das céls infectadas ✓ Efeitos Adversos: TGI ZANAMIVIR ✓ Influenza A e B; ✓ Utilizado principalmente quando há resistência à amantadina; ✓ Disponível em pó para inalação: o Via de administração interessante para profilaxia. ✓ Mecanismo de ação: Inibidor da neuraminidases → inibe a liberação do vírus das células infectadas, para que não infectem outras células. ✓ Efeitos adversos: Sibilos e broncoespasmos AMANTADINA E RIMANTADINA ✓ Mecanismo de ação: Interferem na replicação viral; ✓ Bloqueia de modo efetivo os canais iônicos M2, inibindo a reorganização viral → não tem acidificação e o vírus não consegue se desmontar para que haja replicação viral. ✓ Usos clínicos: Influenza A H1N1 o Profilaxia de surtos sazonais e hospitalares; o Redução da doença para 1 dia. ✓ Efeitos adversos: GI e SNC o Nervosismo, tontura, insônia, náuseas.
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