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LEGISLAÇÃO-PÁTRIA_COMPLIANCE

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1 
 
 
COMPLIANCE – LEGISLAÇÃO PÁTRIA 
1 
 
 
 
Sumário 
 
NOSSA HISTÓRIA ................................... Erro! Indicador não definido. 
INTRODUÇÃO..........................................................................................3 
LEGISLAÇÃO COMPLIANCE...................................................................6 
INOVAÇÕES DA LEI ANTICORRUPÇÃO...............................................14 
OBJETIVOS............................................................................................24 
COMPLIANCE NO BRASIL.....................................................................26 
REFERÊNCIAS.......................................................................................30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
Com o advento da lei 12.846/13 (conhecida como Lei Anticorrupção), 
que foi regulamentada pelo decreto 8.420/15, os programas 
de compliance ganharam fundamental importância para as empresas brasileiras 
e tiveram a relevância ampliada para as empresas estrangeiras atuantes no 
Brasil que, em razão de determinadas leis às quais estão submetidas em vista 
da origem de suas matrizes (tais como, por exemplo, o Foreign Corrupt Practices 
Act - FCPA e o UK Bribery Act), já possuíam estruturas de compliance instaladas 
e em funcionamento. 
Os programas de compliance (termo em inglês que poderia ser traduzido 
livremente como "conformidade") foram definidos pela legislação brasileira como 
"mecanismos internos de integridade" e estabelecem um conjunto de 
procedimentos internos implementados pelas empresas com o intuito de evitar, 
detectar e sanar a prática de desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos em 
geral por seus administradores, empregados, representantes e, até mesmo, 
fornecedores e prestadores de serviços, contra a administração pública. 
Os sistemas internos de compliance mais completos e eficazes têm 
alcance mais amplo e contemplam o cuidado e fiscalização do atendimento às 
normas em geral, a estrutura de governança e o arcabouço ético da organização, 
ou seja, seus valores fundamentais. 
Nos termos da lei Anticorrupção, as pessoas jurídicas podem ser 
responsabilizadas objetivamente pela ocorrência dos atos lesivos nela previstos, 
os quais incluem, por exemplo, a promessa, o oferecimento ou a concessão de 
vantagem indevida a agente público, ainda que indiretamente, o financiamento 
da prática de atos ilícitos, a utilização de terceiros (os chamados "laranjas") para 
ocultar ou dissimular os reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos 
atos praticados, bem como a atuação de forma a dificultar as investigações ou 
fiscalizações de entidades públicas. 
Em outras palavras, para que a instituição seja responsabilizada, não 
são necessárias a existência ou comprovação de sua culpa na infração, 
bastando que o ato seja praticado em seu interesse ou benefício. 
4 
 
 
A lei Anticorrupção não se restringe somente às organizações que 
participam de licitações e que celebrem ou mantenham contratos com entes 
públicos e se aplica a toda e qualquer sociedade (independentemente de sua 
forma de organização), fundação, associação ou sociedade estrangeira, que 
tenha estabelecimento ou representação no Brasil e que, no âmbito de qualquer 
relação com um ente público, venha a praticar um ato lesivo. 
O ato lesivo, por sua vez, não necessariamente estará relacionado a 
procedimentos licitatórios ou contratos administrativos, e poderá corresponder, 
por exemplo, à concessão ou obtenção de vantagens indevidas para a emissão 
de uma licença ou um alvará, ou, ainda, para evitar uma fiscalização ou autuação 
por um agente público. 
Nesse contexto, a existência de um programa de integridade 
adequadamente estruturado e efetivo pode não somente evitar o cometimento 
de irregularidades, mas também será considerada como um dos critérios para 
fins da aplicação das cominações administrativas previstas na lei Anticorrupção 
caso algum ato lesivo venha a ser efetivamente praticado outros critérios são a 
gravidade do ilícito praticado, a vantagem auferida ou pretendida, a consumação 
ou não da infração e seu efeito negativo, o grau ou perigo de lesão, a situação 
econômica do infrator, a cooperação da empresa para sua apuração (inclusive 
com a celebração dos conhecidos acordos de leniência) e o valor dos contratos 
mantidos pela pessoa jurídica com o órgão ou entidade pública lesados. Assim, 
em que pese não afastar completamente a aplicação da penalidade, o programa 
de integridade pode implicar a sua redução. 
O programa de compliance deve ser estruturado de acordo com as 
características e os riscos da atividade de cada pessoa jurídica em particular, e 
deve contemplar uma série de mecanismos de efetividade, como, por exemplo, 
a realização de auditorias periódicas, a abertura de canais e o incentivo a 
denúncias de irregularidades e a proteção do denunciante, bem como a análise 
recorrente de riscos de forma a manter o programa sempre adequado às 
atividades da organização. 
É importante, ainda, que referido programa contemple uma codificação 
própria de regras e orientações de conduta, prevendo parâmetros e limites para 
5 
 
 
o relacionamento com terceiros (por exemplo, transparência na contratação de 
fornecedores e prestadores de serviços, na realização de doações a partidos 
políticos ou qualquer tipo de contribuição a entes públicos, se e quando 
legalmente possíveis, vedações ao recebimento pelos colaboradores de 
prêmios, presentes ou vantagens indevidas no âmbito das mais diversas 
relações ou da atuação de empregados e administradores em conflito com os 
interesses da empresa, entre outros). 
A empresa deve zelar, ademais, pela confiabilidade de suas 
demonstrações financeiras e de seus registros contábeis, bem como estar 
verdadeiramente comprometida com a aplicação e o aperfeiçoamento de seu 
programa de integridade, monitorando continuamente a sua eficácia. Nesse 
contexto, duas medidas se fazem essenciais: a realização de treinamento 
periódico de profissionais para a compreensão e o cumprimento das disposições 
do programa e a criação de um órgão interno, dotado de total independência e 
autonomia, responsável pela aplicação das regras de compliance e sua 
fiscalização. 
A equipe de profissionais responsável pela área de compliance, dentre 
eles, o compliance officer, deve receber treinamento de alta qualidade e estar 
atualizada e em sintonia com os valores da companhia, sendo imprescindível a 
conscientização quanto à importância do papel que desempenham e à isenção 
com que devem atuar. 
Todos os colaboradores da empresa devem ser orientados com relação 
à relevância do programa de integridade e à necessidade de integração entre as 
áreas e departamentosda empresa para que o sistema de compliance seja 
aplicado com sucesso. 
Por fim, é imprescindível que as empresas brasileiras ou estrangeiras 
que atuem no Brasil criem ou revisem seus programas de integridade e códigos 
de ética e conduta, cuidando para que sejam abrangentes e, principalmente, 
efetivos, bem como revisem seus contratos com fornecedores, clientes e 
terceiros em geral, em conformidade com as disposições da lei Anticorrupção. 
 
6 
 
 
LEGISLAÇÃO COMPLIANCE 
Breve relato da influência internacional na adoção de práticas 
anticorrupção 
O setor empresarial, desde os seus primórdios, revela-se como um ramo 
dinâmico e de constante evolução, o que sempre contribuiu para a sua 
considerável complexidade. Ademais, em posição ainda mais relevante quando 
se leva em conta o caráter complexo do ramo, encontra-se o amplo conjunto de 
elementos que o compõe, como as relações interpessoais estabelecidas, as 
constantes e por vezes volumosas transações financeiras realizadas e, em 
especial, a diversidade de particulares nos mais diferentes cargos e funções e 
com variáveis graus de responsabilidade e capacidade de alteração dos cenários 
em que se encontram. 
Está-se diante, portanto, de um setor cujo grau de susceptibilidade aos 
desvios de conduta, dos quais o homem jamais estará imune, demonstra-se 
elevadíssimo. Isto porque as relações empresariais estão sempre intimamente 
ligadas a pessoas físicas e tratam-se, em última instância, de relações 
interpessoais, não raro embasadas em emoções, anseios e fraquezas inerentes 
ao ser humano. 
Assim, ao longo do tempo percebeu-se que tais desvios de conduta eram 
capazes de causar significativos prejuízos às empresas e ao setor empresarial 
como um todo, haja vista que além de representarem infrações legais (como 
corrupção e suborno), as penalizações dali decorrentes prejudicavam financeira 
e estruturalmente os envolvidos. 
Diante desse contexto, os ordenamentos jurídicos ao redor do mundo, 
buscando combater as situações acima descritas, construíram conjuntos 
normativos visando à proibição e, em especial, a penalização das condutas 
infratoras cometidas no meio empresarial, em especial os atos de corrupção e 
suborno. 
Nesse cenário, o primeiro conjunto de normas a abordar direta e 
especificadamente o tema e a positivar as prescrições legais a serem adotadas 
nesses casos data de 1970 e consiste no FCPA – Foreign Corrupt Protection 
7 
 
 
Act, legislação dos Estados Unidos da América que visa a coibir e punir práticas 
de corrupção cometidas por pessoas jurídicas naquele país. 
O FCPA surgiu após um escândalo provocado por inúmeras 
investigações realizadas na década de 1970 pela U.S. Securities and Exchange 
Commission (SEC) o equivalente, nos Estados Unidos, à Comissão de Valores 
Mobiliários brasileira (CVM) sobre pagamentos questionáveis efetuados por 
inúmeras empresas americanas a funcionários públicos, políticos e partidos 
políticos nacionais e estrangeiros. Dessa investigação, constatou-se a 
participação de mais 400 companhias americanas em esquemas de pagamentos 
ilegais ou duvidosos na ordem de U$$ 300 milhões (trezentos milhões de 
dólares), utilizados para obter “favores” e benefícios. 
A escancarada vulnerabilidade dos EUA aos desvios praticados por 
aquelas empresas, bem como a insuficiente penalização a ser aplicada, aliadas 
à pressão popular, levaram o então presidente Jimmy Carter a assinar o FCPA, 
em 19 de dezembro de 1977. O referido ato foi ainda complementado pela 
ratificação, pelos EUA, do International Anti-Bribery and Fair Competition Act, de 
1998, assinado por membros da comunidade internacional na Convenção para 
Combate do Suborno dos Agentes Públicos Estrangeiros nas Transações 
Negociais Internacionais, promovida pela OCDE – Organização para 
Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 
Em paralelo e mais recentemente, mas também de considerável 
importância para a construção das políticas de combate à corrupção ao redor do 
mundo, surge no Reino Unido o Bribery Act 2010, de origem semelhante à 
legislação americana, ou seja, originada a partir de denúncias de atos de 
corrupção cometidos por empresas britânicas. 
O combate às práticas de corrupção na história da legislação 
brasileira 
Volta-se, agora, os olhos para o cenário brasileiro, onde o combate às 
práticas em questão ganha força a partir da abertura comercial no início da 
década de 1990, mormente quando o país passa a ocupar uma posição de 
destaque no cenário internacional e, dessa forma, passa a sofrer pressões da 
comunidade internacional para desenvolver uma política que atenda ao padrão 
8 
 
 
de transparência e combate à corrupção no setor empresarial nos moldes da 
adotada pelos ordenamentos jurídicos estrangeiros, em especial o americano, 
que serviu de modelo para diversos países. 
No entanto, sabe-se que o combate à corrupção, no Brasil, data de um 
período bem mais remoto, sendo possível encontrar referências ao tema já na 
Constituição Política do Império do Brazil, datada de 1824, a qual trouxe consigo, 
em seu art. 157, o instituto da ação popular – emais tarde tratado de forma 
autônoma na Lei 4.717/1965 -, meio de atuação do Poder Judiciário através do 
qual este buscaria combater o suborno, a peita, o peculato e a concussão. Nesse 
ponto, ao tratar de Constituições Federais, cabe ressaltar que todas as Cartas 
Magnas brasileiras sempre contemplaram a preservação da probidade da 
Administração Pública, bem como a devida gestão do tesouro público, 
condenando assim, ainda que rasa e implicitamente, os atos de corrupção. 
Em seguida, tem-se a positivação do combate à corrupção em conjuntos 
normativos próprios, quais sejam, o Código Criminal do Império, de 1830, e o 
Código Penal dos Estados Unidos do Brazil, datado de 1890, os quais também 
se limitavam a tratar das figuras do peculato, suborno, peita e concussão. 
Mais adiante, a legislação penal ganhou nova roupagem com a entrada 
em vigor do Código Penal de 1942, o qual tipificou uma séria de condutas lesivas 
à Administração Pública e estabeleceu um conjunto punitivo mais completo e 
abrangente do que os seus antecessores. 
Há ainda a Lei do Impeachment (Lei 1.079/1950), o Código Eleitoral (Lei 
4.737/1965) e o Decreto-lei 201/1967 (define os crimes funcionais de prefeitos 
municipais ou “crimes de responsabilidade”), conjuntos de disposições 
normativas que trouxeram importantes inovações legais ao tratamento conferido 
ao combate à corrupção no ordenamento jurídico pátrio. 
Ademais, embora todas a disposições legais acima citadas possuam 
cunho penal, a Constituição de 1988, além de afastá-las, alterá-las ou ratificá-
las, deu margem a outras inovações jurídicas, dessa vez não somente no âmbito 
direito penal, mas também e principalmente na esfera jurídico-administrativa. 
9 
 
 
Nesse cenário, emerge a Lei 8.112/1990, que regulamenta o regime 
jurídico dos servidores públicos da União, evidenciando a preocupação do 
legislador com a probidade na Administração Pública Federal. Em seguida, 
surge a Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), trazendo um 
extenso e severo rol de sanções administrativas aos que praticarem os atos 
lesivos à Administração ali dispostos. 
Na sequência, há a promulgação da Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações), 
conjunto de normas que visa assegurar os princípios inerentes à Administração 
Pública na aquisição de produtos serviços e na formalização dos contratos 
administrativos, bem como a garantir a concorrência leal entre os particulares 
que pretendem disputar entre si a possibilidade de contratar com a 
Administração. 
Há, ademais, outros textos legais que tratam da corrupção strictu sensu, 
tais como a Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/1998), a Lei de 
Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000) e a Lei da Ficha Limpa 
(Lei Complementar 135/2010), das quais não convém tratar aqui por nãoguardarem estreita relação com o assunto estudado. 
Por último, antes de chegar ao objeto principal desta obra, cabe lançar 
um breve olhar sobre a conjuntura fático-jurídica que precedeu a promulgação 
da Lei 12.846/2013, mormente no cenário jurídico internacional. 
Em 1996, em Caracas, ocorreu a Convenção Interamericana contra a 
Corrupção, da qual o Brasil foi signatário, embora somente tenha internalizado 
os seus termos cerca de seis anos depois, através do Decreto 4.410/2002. Em 
seguida, em 1997 teve lugar, em Paris, a Convenção da OCDE, também 
chamada de Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários 
Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, a qual 
repercutiu no ordenamento brasileiro na medida em que desencadeou a 
promulgação da Lei 10.467/2002, a qual inseriu no Código Penal três novos 
artigos, que tratam de crimes contra corrupção ativa e tráfico de influência em 
transação comercial internacional. 
Na sequência, teve vez a Convenção das Nações Unidas contra a 
Corrupção, ocorrida em 2003, na qual o Brasil comprometeu-se a promover a 
10 
 
 
transparência e o controle social da Administração Pública, bem como a 
criminalizar a corrupção (interna e transnacional), inclusive no setor privado, 
obrigando-se ainda a estabelecer meios de punição das pessoas jurídicas nas 
esferas administrativa, civil e/ou penal por atos de corrupção. 
Pois bem. Diante da sequência histórica acima, surge, em 2013, a Lei 
12.846/2013, criada a partir da necessidade premente de se estabelecerem 
sanções civis e administrativas às pessoas jurídicas por atos de corrupção 
praticados em seu favor ou benefício. Trata-se de um conjunto de inovações 
originadas, em primeiro lugar, das legislações anteriores sobre o assunto, cujas 
condutas abarcadas permaneceram contempladas, mas inserindo-se novas 
formas de responsabilização e penalização; em seguida, a Lei Anticorrupção 
deriva das Convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil, cujos teores ainda 
restavam distante da realidade por ausência de positivação na legislação 
nacional. 
A LEI 12.846/2013: CARACTERÍSTICAS E INOVAÇÕES 
 Características da Lei Anticorrupção 
Inicialmente, a Lei Anticorrupção estabelece um conjunto de condutas 
lesivas à Administração Pública (nacional ou estrangeira) e suas respectivas 
sanções civis e administrativas, conjuntura embasada na quebra da imunidade 
das empresas por atos ilegais praticados por seus funcionários ou 
colaboradores, independentemente de dolo ou culpa. Dessa forma, tem-se a 
instituição da responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas por determinados 
atos de seus membros e terceiros colaboradores. 
Sobre a responsabilidade objetiva, será aplicada tanto no âmbito civil 
quanto no administrativo, de forma que a responsabilização da pessoa jurídica 
não dependerá da responsabilidade dos indivíduos envolvidos, bem como 
também não será necessária a comprovação da intenção do corpo diretivo da 
empresa em lesar a Administração. 
Em contrapartida, a responsabilização da pessoa jurídica não será 
excludente da responsabilização individual dos seus dirigentes ou 
administradores e dos demais envolvidos no ato ilícito. 
11 
 
 
Os atos ilícitos encontram-se previstos no art. 5º do texto legal, o qual 
prevê, em seu caput, que serão ali penalizadas as condutas que atentem contra 
o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração 
pública ou contra compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. No 
entanto, o mesmo artigo elenca incisos em que define os atos considerados 
ilícitos, os quais consistem, em resumo, em atos de corrupção e fraude a 
licitações. 
Nesse ponto, cabe realizar um adendo sobre o rol de atos ilícitos 
previstos no artigo citado no parágrafo anterior. Em virtude da recentíssima 
promulgação da lei em comento, a doutrina pátria ainda diverge quanto ao 
caráter, se taxativo ou exemplificativo, do elenco de condutas contidas no 
referido dispositivo. 
Em seguida, quanto às penalidades, estas podem ser administrativas 
e/ou judiciais. As penalidades administrativas podem ser aplicadas isolada ou 
cumulativamente e consistem em 
(i) multas variáveis de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por 
cento) do faturamento bruto anual da empresa no exercício 
anterior ao da instauração do processo administrativo (art. 6º, I), 
ou de até R$ 60 milhões quando não for possível a realização do 
cálculo acima (art. 6º, § 4º), e 
(ii) publicação extraordinária da decisão condenatória em veículo de 
comunicação de grande circulação (art. 6º, §5º). 
Na esfera judicial, as penalidades, que também podem ser aplicadas 
isolada ou cumulativamente, 
(i) são o perdimento de bens, direitos e valores obtidos a partir do ato 
lesivo (art. 19, I), 
(ii) a suspensão ou interdição parcial das atividades (art. 19, II), 
(iii) a proibição de receber incentivos, subvenções, doações ou 
empréstimos públicos pelo prazo de 1 (um) a 5 (cinco) anos (art. 19, IV) e, em 
casos extremos, 
12 
 
 
(iv) a dissolução compulsória da pessoa jurídica (art. 19, III), que 
somente ocorrerá quando a empresa tenha sido utilizada, de forma habitual, para 
facilitar ou promover a prática de ilícitos (art. 19, §1º, I) e/ou tiver sido constituída 
com o propósito de ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a identidade dos 
beneficiários dos atos lesivos (art. 19 §1º, II). 
A vigência da referida lei recairá sobre todas as esferas de poder 
(Executivo, Legislativo e Judiciário), além do Ministério Público, nos três níveis 
da Federação (União, Estados e Municípios). Sua aplicação no plano federal 
será, geralmente, de competência da Controladoria-Geral da União, a qual 
utilizará este novo comando legal no desempenho do seu papel de órgão de 
controle da Administração Pública Federal, bem como do Ministério Público 
Federal, no âmbito de suas competências originárias. 
Nos demais planos federativos, os Estados e Municípios deverão baixar 
regulamentos próprios para adequar a aplicação da lei a suas esferas jurídicas, 
sempre em consonância, é claro, com a legislação federal. 
Acerca da competência para aplicação da lei, importa fazer referência à 
não criação de órgãos administrativos específicos para apurar e julgar as 
infrações cometidas, de forma que restou adotada uma competência difusa para 
instauração e julgamento dos processos administrativos, o que, acredita parte 
da doutrina, pode desencadear decisões administrativas conflitantes ou com 
frágil fundamentação jurídica, bem como provocar uma aplicação 
desproporcional de sanções em casos semelhantes, mas julgados por órgãos 
distintos. 
Por último, ressalta-se que o art. 28 prevê que também serão 
penalizadas pelos termos daquela lei as condutas, de pessoas jurídicas 
brasileiras, lesivas à Administração Pública estrangeira, ainda que praticadas no 
exterior. 
 
 
 
13 
 
 
INOVAÇÕES DA LEI ANTICORRUPÇÃO 
 
Responsabilizações civil e administrativa em detrimento da 
responsabilização penal 
O primeiro elemento inovador da Lei Anticorrupção não é, propriamente, 
uma inovação. Isto porque o referido diploma legal não traz consigo, nesse 
ponto, nenhuma novidade quanto as responsabilidades decorrentes dos ilícitos 
que penaliza; pelo contrário: inova ao diferir das legislações antecessoras e 
deixar de fora do texto normativo qualquer menção de responsabilidade penal, 
afastando essa seara do Direito de sua competência e deixando ao Direito Penal 
que, caso venha a se aplicar nos casos ali tratados, faça-o de forma autônoma, 
independente. 
Dessa forma, cabe buscar compreender a razão pela escolha das 
responsabilizações civil e administrativa em detrimento da penal. Vejamos. 
Em primeiro lugar, sabe-se que escolher a responsabilização penal 
implicaria adentrar em terreno polêmico e turbulento do cenário jurídico, onde 
figuram vastas discussões doutrinárias e jurisprudenciaise, por vezes, reina a 
dúvida, e não a certeza. Assim, o legislador compreendeu que inserir a 
responsabilidade penal no texto da lei implicaria em um desgaste político-
legislativo desnecessário e amplamente prejudicial, o qual, se não inviabilizasse 
por completo a aprovação da lei, por certo prolongaria o processo legislativo e 
iria de total encontro ao caráter iminente da normatização dos dispositivos ali 
contidos. Prezou-se, portanto, pela celeridade, pelo pragmatismo e por 
corresponder à urgente necessidade de criação do conjunto normativo previsto 
na Lei Anticorrupção. 
Nessa linha, de pragmatismo e urgência na concretização da lei, emerge 
a segunda justificativa: a incompatibilidade do Direito Penal (em especial, o 
brasileiro) com a celeridade processual. Enquanto os processos administrativo e 
civil (este último, com ressalvas) demonstram certa agilidade na apreciação de 
demandas, um requisito básico para a efetividade do julgamento, o Direito Penal 
essencialmente caminha em sentido oposto – e não iremos adentar aqui na 
14 
 
 
discussão do porquê isto ocorre e se é correto ou não -, prezando pela máxima 
segurança jurídica, pela incontestabilidade das provas e pela inocência do 
acusado em caso de dúvida, em detrimento da celeridade processual. Ademais, 
tem-se como empecilho o processo penal brasileiro, excessivamente garantivista 
e recheado de recursos protelatórios. 
Em seguida, e ainda sobre a essência do Direito Penal, sabe-se que a 
medida sancionatória mais característica dessa seara do Direito é a restrição de 
liberdade, inaplicável a pessoas jurídicas. Todas as demais penalidades 
previstas no âmbito penal são, sem exceção, passíveis de aplicação nos âmbitos 
administrativo e civil. 
De mais a mais, é cediço que uma das principais características dessa 
seara do Direito é a subsidiariedade, segundo a qual somente se justifica a 
aplicação do Direito Penal quando os demais ramos do Direito não forem 
capazes de proteger o bem jurídico em questão. Assim, se o único diferencial 
trazido pelo Direto Penal, que é a restrição da liberdade, não pode ser aplicado 
nesse caso, não há razão para prever sua aplicação quando as esferas 
administrativa e civil são capazes de esgotar a penalização dos sujeitos 
envolvidos. 
Dessa forma, além da preocupação com a celeridade (legislativa e 
processual), a exclusão da responsabilidade penal do presente regramento legal 
ocorreu também em nome da eficácia, vez que as responsabilizações civil e 
administrativa, na prática, surtiriam o mesmo efeito que a penal, sem que fosse 
preciso, no entanto, suportar as “dificuldades” trazidas pelo Direito Penal. 
As penalidades administrativas: multa e publicação extraordinária 
da decisão condenatória 
Em seguida, surgem os primeiros indícios de novidades jurídicas 
trazidas pela Lei 12.846/2013 ao ordenamento pátrio, consubstanciada nas 
penalidades administrativas ali previstas. 
Como visto anteriormente, a penalização administrativa da Lei 
Anticorrupção se resume a multa, em valores limitados mínima e maximamente, 
calculada sobre o faturamento do exercício anterior ao da instauração do 
15 
 
 
processo administrativo, e publicação da decisão condenatória em veículo de 
comunicação de grande circulação. 
Nesse ponto, chama a atenção, em primeiro lugar, a aplicação da multa 
e, em especial, a forma como será calculada. Para melhor compreender a 
questão, traz-se ao lume trecho do artigo 6º da lei: 
Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas 
consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta Lei as seguintes 
sanções: 
I - Multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) 
do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do processo 
administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior à vantagem 
auferida, quando for possível sua estimação; e 
II - Publicação extraordinária da decisão condenatória 
Como depreende-se da leitura do dispositivo acima, a Lei Anticorrupção 
inova ao atrelar o valor da multa aplicada à realidade da pessoa jurídica infratora, 
estabelecendo relação quantitativa direta entre o quantum penalizador - que 
jamais poderá ser inferior à vantagem auferida através do ato ilícito – e as 
condições financeiras da empresa. 
Ademais, o artigo 7º ainda estabelece um rol de fatores que devem ser 
considerados no momento da fixação do valor da multa, tais como a gravidade 
da infração, a vantagem auferida, o efeito negativo produzido pela infração, a 
situação econômica do infrator, a cooperação da pessoa jurídica para a apuração 
das infrações e a existência de um programa de compliance no âmbito da 
pessoa jurídica (estes dois últimos serão melhor detalhados mais adiante). 
A presente “novidade jurídica” tem origem no já citado FCPA americano, 
o qual também prevê a possibilidade de aplicação de multas elevadas e que 
possuam um efetivo poder coercitivo e dissuasivo. As multas previstas no FCPA, 
embora restritas ao valor de U$$ 25 milhões (vinte e cinco milhões de Dólares), 
têm sido, na prática, por vezes muito além desse patamar, haja vista os recentes 
acordos celebrados entre o Poder Público americano e as empresas envolvidas 
16 
 
 
para encerrar o processo de responsabilização e a utilização de normas 
correlatas para a determinação de multas. 
Em paralelo, há também a previsão de publicação da decisão 
condenatória (embora o acredite-se que o termo mais adequado seria decisão 
administrativa, vez que “condenatória” remete ao processo judicial), como forma 
de publicização da confirmação do ilícito cometido e da penalidade aplicada, e 
objetivando o reforço da penalização e o afastamento de potencial reincidência. 
A penalização do suborno transnacional 
O artigo 9º da Lei 12.846/2013 prevê que compete à Controladoria-Geral 
da União – a apuração, o processo e o julgamento dos atos ilícitos cometidos 
contra a Administração Pública estrangeira, em consonância com o artigo 4ºda 
Convenção da OCDE (1997), promulgada pelo Decreto nº 3.678/2000. 
Aqui, cabe destacar que as disposições contidas na referida Convenção 
e reiteradas pela Lei Anticorrupção preveem regra específica para os casos em 
que dois Estados possuam jurisdição sobre determinado ato ilícito, devendo as 
partes, nesses casos, deliberarem sobre a jurisdição mais adequada à 
instauração do processo. 
A vigência dessas disposições é de suma importância para a eficácia e 
para a segurança jurídica da aplicação da Lei Anticorrupção no que se refere aos 
atos praticados no exterior, uma vez que que estabelecem um arcabouço jurídico 
capaz de permitir a atuação das determinações legais fora do âmbito nacional. 
Em paralelo, relevante também quando se leva em conta que as 
legislações de combate à corrupção nos ordenamentos jurídicos estrangeiros 
são, por vezes, bastante abrangentes, como é o caso do FCPA americano, que 
se estende a fatos ocorridos em outros países e que envolvam cidadãos e 
empresas de nacionalidade não americana, e do Bribery Act britânico, que se 
aplica a qualquer organização comercial que venha a realizar negócio no 
território do Reino Unido, independentemente do país onde tenha sido registrada 
ou incorporada. 
 
 
17 
 
 
 A responsabilidade objetiva 
Dentre as inovações trazidas pela Lei Anticorrupção, esta é, sem dúvida, 
a que merece maior destaque. Isto porque, ao afastar a responsabilidade 
subjetiva, condicionada à demonstração de dolo ou culpa, e atrelar a aplicação 
das penalidades ali previstas somente à conjunção dos fatores (i) cometimento 
do ato lesivo e (ii) beneficiamento da pessoa jurídica, este novo diploma legal 
estabelece-se como um marco na história jurídica nacional, a tal ponto de 
receber a alcunha de ‘Lei Anticorrupção’. 
Esta alteração no cenário jurídico tem origem, sobretudo, na percepção, 
pelo legislador, de que manter uma relação de subjetividadeentre a 
responsabilidade de determinada empresa e as condutas de seus funcionários 
significaria fechar os olhos à realidade atual do setor empresarial. Mais ainda: 
seria ir de encontro à própria essência do ramo, vez que não se revela razoável 
a dissociação de responsabilidades a tal ponto. Vejamos. 
O setor empresarial é, como qualquer subsetor da sociedade, regido por 
um conjunto mínimo de princípios, de forma que compete às empresas prezarem 
pela preservação dessa base principiológica para “sobreviverem”. Nessa linha, 
é de inteira responsabilidade de cada empresa garantir que ela própria (e aí 
estão inclusos cada um de seus membros) subsista dentro dos padrões mínimos 
aceitáveis, sejam eles morais, éticos ou legais. 
Assim, surge a inferência lógica que a empresa é responsável por seus 
funcionários, sendo-lhe atribuída a responsabilidade por tudo aquilo que seus 
membros praticam em função de suas atribuições na empresa, inclusive os 
ilícitos por aqueles cometidos. Ora, isto parece muito claro quando se leva em 
conta que a empresa, ao contratar determinada pessoa, atesta perante o 
mercado (e a sociedade) a sua confiança naquele futuro membro do seu quadro 
de funcionários, assumindo, pois, os eventuais prejuízos que possam ser 
causados, em razão da função, a terceiros e à sociedade, desde meros 
equívocos por vezes irrelevantes até graves desvios de conduta passíveis de 
punição legal. 
 
18 
 
 
Dessa forma, como dito, não seria razoável estabelecer uma relação de 
responsabilidade subjetiva entre a empresa e seus membros, haja vista que o 
simples fato de alguém integrar uma empresa ou atuar em nome dela já é 
suficiente para configurar a necessidade daquela pessoa jurídica em responder, 
nas devidas proporções, pelos atos cometidos por seus funcionários ou terceiros 
a ela ligados, desde, é claro, que a referida empresa tenha auferido vantagem 
ou benefício. 
Pois bem. Sendo assim, em que pese a responsabilidade objetiva no 
Brasil estar relacionada, sobretudo, à responsabilidade do Estado, com a adoção 
da Teoria do Risco Administrativo, também prevista em determinadas situações 
pela legislação consumerista, o legislador, na Lei Anticorrupção, percebeu a 
realidade supra exposta e decidiu aplicar, àquela conjuntura fático-jurídica, 
também a figura da responsabilidade objetiva, protagonizando, reprise-se, 
significativa revolução no cenário jurídico brasileiro. 
Em paralelo, não é demais ressaltar que a adoção da responsabilidade 
objetiva não significa, em nenhuma hipótese, o afastamento da 
responsabilização do particular, sendo isto, inclusive, o que dispõe o art. 3º da 
referida lei. Pelo contrário: as responsabilizações das pessoas jurídica e física 
são completamente independentes entre si, ainda que uma possa contribuir para 
a apuração da outra. 
Isto porque, na imensa maioria dos casos, somente será possível atribuir 
responsabilidade a determinada pessoa jurídica quando se tem conhecimento 
da pessoa física que praticou o ato ilícito. No entanto, a concretização da 
responsabilização da pessoa física depende da comprovação de dolo ou culpa, 
podendo, na ausência desses elementos, ser afastada. Por essa razão, portanto, 
não cabe atrelar uma responsabilização à configuração da outra, vez que a 
pessoa jurídica pode ser responsabilizada, enquanto a pessoa física, absolvida 
de qualquer responsabilidade. 
Em seguida, o presente assunto enseja, no meio empresarial, a dúvida 
de se as empresas, com a instituição da responsabilidade objetiva, não estariam 
demasiadamente vulneráveis a penalizações supostamente injustas e 
19 
 
 
susceptíveis aos “imprevisíveis” desvios de condutas de seus funcionários ou 
colaboradores. 
Pois bem. Em que pese o reduzido e pouco aprofundado estudo sobre 
o tema, em virtude da recentíssima promulgação da lei em debate, a doutrina 
tem interpretado positivamente a opção do legislador pela responsabilidade 
objetiva também sob o prisma do aconselhamento ético às empresas, do 
norteamento organizacional e, especialmente, operacional do setor empresarial. 
Explica-se. 
A instituição da responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas nesse 
caso é, em última instância, uma forma de compelir as empresas a reforçarem a 
atenção na contratação, formação e fiscalização do seu pessoal, reiterando ou 
reformulando por completo seu modus operandi, de forma a, direta ou 
indiretamente, transformar a sua maneira de subsistir, no mercado e na 
sociedade, e adequá-la não só à legislação vigente, mas a princípios éticos e 
morais. 
Assim, a responsabilidade objetiva, ao invés de significar 
vulnerabilidade, significa, na verdade, a valorização das empresas que agem, ou 
ao menos se esforçam para agir, de maneira correta, conferindo-lhes vantagem 
e perspectivas positivas porque, dessa forma, tendem a, diretamente, afastar a 
possibilidade de eventuais penalidades e, indiretamente, a crescer 
sustentavelmente e dentro dos padrões principiológicos vigentes. 
Nesse ponto, e seguindo a linha das influências estrangeiras, cabe fazer 
uma referência ao já citado Bribery Act britânico, o qual também adota a 
responsabilidade objetiva em contextos semelhantes ao aqui tratado, dispondo 
que devem ser punidas as pessoas jurídicas que falharem em prevenir os atos 
de corrupção praticados por pessoas físicas a ela associados e que visem à 
obtenção de vantagem ou benefício à referida empresa. 
Retornando-se à Lei 12.846/2013, mister destacar que há, sim, certa 
carga de onerosidade às pessoas jurídicas com a responsabilização objetiva. No 
entanto, como dito linhas acima, é uma responsabilidade que as empresas 
obrigatoriamente devem assumir, mormente quando se atenta para a realidade 
20 
 
 
atual, onde os desvios de conduta são cada vez mais frequentes e, restando 
impunes, ensejam uma corrupção crescente e escancarada. 
Por outro lado, a Lei Anticorrupção não é injusta com as empresas, haja 
vista que a responsabilização ali prevista, ainda que objetiva, é cuidadosamente 
atrelada a determinados fatores, já mencionados anteriormente, inclusive 
restando inversamente proporcional à cooperação das pessoas jurídicas com a 
apuração das irregularidades e, principalmente, com a prevenção destas, 
através de mecanismos de estímulo e fiscalização da integridade empresarial 
(compliance), inovação que será melhor detalhada mais adiante. 
 O acordo de leniência 
Na sequência, e seguido a linha do parágrafo anterior, a Lei 
Anticorrupção confere especial relevância à cooperação das pessoas jurídicas 
na apuração do ilícito prático, bem como à adoção de práticas de compliance. 
Dessa forma, tratar-se-á, primeiramente, da cooperação com as investigações, 
mais especificamente da celebração do Acordo de Leniência, previsto no 
Capítulo V da referida lei. 
O Acordo de Leniência tem origem na legislação americana, e define-se 
como o ajuste entre o infrator e órgão responsável pela apuração do ato ilegal 
para que aquele confesse sua responsabilidade sobre o ato e contribua com as 
investigações no respectivo caso. No Brasil, essa figura surgiu primeiramente no 
âmbito do Direito da Concorrência, sendo atualmente previsto na Lei Federal nº 
12.529/2011. 
Assim, tendo em vista a experiência positiva dos programas de leniência 
tanto no âmbito do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, como nas 
legislações anticorrupção estrangeiras, o legislador resolveu adotar essa prática 
no contexto da Lei Anticorrupção brasileira, estabelecendo consideráveis 
incentivos às empresas que decidirem pela celebração do Acordo de Leniência 
nos casos previstos no novel diploma legal. 
Dessa forma, percebe-se que o Acordo de Leniência não é uma 
inovação propriamente dita no ordenamento pátrio, mas é assim encarada, nesta 
obra, tendo em vista a sua escassa previsão na legislação brasileira, vez que 
21 
 
 
limita-se a restritas situações, bem como por tratar-sea Lei Anticorrupção de 
significativa alteração no cenário jurídico brasileiro e, como tal, merece ter suas 
disposições relevantes estudadas como verdadeiras inovações. 
Pois bem. Retornando-se à análise do Acordo de Leniência no âmbito 
da referida legislação, o Capítulo V, que trata do assunto, estabelece as 
condições para celebração do acordo, determinando que a competência para 
tanto é da Controladoria-Geral da União (no âmbito federal), bem como que a 
proposta do acordo seja realizada, primeiramente, pela pessoa jurídica 
envolvida, a qual deve admitir a sua participação no ilícito, cessar completamente 
a sua participação no ato (caso continuado) e, a partir de então, cooperar 
integralmente com as investigações e com o processo administrativo. 
Diante da conjuntura acima, surge o questionamento acerca do caráter 
benéfico do Acordo, ou seja, por qual motivo as empresas celebrariam Acordo 
de Leniência com o poder público se, dada a soma de elementos acima, o ônus 
aparenta ser maior que os benefícios ofertados? 
Em primeiro lugar, a tendência à cooperação pelas empresas é 
considerável, haja vista que as multas previstas nos artigos antecedentes podem 
ser demasiadamente elevadas, de forma que uma redução de 2/3 do valor da 
multa não só é extremamente relevante para as empresas, como pode vir a ser 
o diferencial entre a manutenção e o encerramento das atividades daquela 
pessoa jurídica. 
De mais a mais, há ainda que se lembrar que dentre os benefícios do 
Acordo de Leniência bem sucedido encontra-se o afastamento da proibição de 
receber incentivos fiscais, prevista no art. 19, IV da lei. Destarte, sobressalta 
outro elemento relevante na celebração do acordo, visto que, a depender da 
parcela do faturamento da empresa que seja fruto de financiamento público, a 
referida proibição pode vir a ser por demais prejudicial à saúde financeira 
daquela pessoa jurídica. 
Por último, importa registrar que, ainda que determinada empresa 
envolvida na prática de ilícitos combatidos pela Lei Anticorrupção não venha a 
celebrar Acordo de Leniência, isto não impede que uma eventual penalidade seja 
reduzida, uma vez que a simples cooperação o Poder Público, nesses casos, já 
22 
 
 
é fator a ser considerado na dosimetria da penalidade, tal qual previsto no art. 
7º, VII da lei. 
OBJETIVOS 
 
Os Objetivos na elaboração e implementação do compliance tem o 
intuito de estabelecer compromissos de contenção de riscos e adotar 
mecanismos organizativos adequados e buscar a capacitação e os 
conhecimentos adequados para implementação de modo estratégico de 
prevenção, repressão e até mesmo combate à corrupção corporativa. 
Neste ponto, a área de compliance é essencial para promoção de ações 
que objetivam prevenir e reprimir possíveis vazamentos de informações, 
devendo adotar instrumentos de análises, monitoramento e desenvolvimento de 
soluções que visam identificar e corrigir ocorrências de vazamento de 
informações sigilosas. Por consequência, as empresas devem investir e instituir 
métodos de avaliações e soluções para a proteção de informações críticas e 
redução do risco de violação de dados com foco na segurança digital. 
O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que 
significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou 
um pedido, vez que deve estar em “compliance”, devendo estar em 
conformidade com as leis e regulamentos externos e internos. Vislumbra-se que 
a implementação do compliance como instrumento de combate à corrupção tem 
como medida o apoio à Governança Corporativa, podendo ser um meio de 
controle capaz de entender e buscar possíveis soluções para abrandar os riscos 
de imagem e legal das empresas, os chamados “riscos de compliance”, a que 
se sujeitam as instituições no curso de suas atividades (Compliance 360°). 
Portanto, estar em conformidade com as regras e os princípios éticos, 
em submissão ao regramento normativo da organização, estabelecendo um 
conjunto de medidas pelas quais as instituições, públicas ou privadas, buscam 
assegurar que as regras vigentes sejam cumpridas por elas próprias e por seus 
empregados ou funcionários com intuito de prevenir, apurar e punir infrações às 
suas próprias regras, normas administrativas e penais. 
23 
 
 
Por isso, é essencial ainda manter um compliance destinado a prevenir 
a ocorrência de crimes, ou auxiliar na apuração e punição deles. Conclui-se que 
as organizações ou empresas devem implementar programas de compliance 
para acompanharem e prevenirem os riscos das instituições e garantirem a 
independência do compliance em termos de organização, orçamento e meios 
materiais, bem como garantirem a faculdade de inspeção e a obtenção de 
informações adotando programas de cumprimento, integridade, prevenção e 
repressão. 
Faz-se imprescindível o exercício das funções principais dos programas 
de compliance para promoção de uma cultura positiva e ética na empresa, a fim 
de protege-la dos riscos de imagem, bem como garantir o respeito aos seus 
princípios e diretrizes éticas regulamentadoras, além de estender a devida 
proteção de forma sensata e adequada das pessoas físicas que são 
responsáveis diretas para o crescimento das empresas. 
 
COMPLIANCE NO BRASIL 
Podemos ter diversas empresas de grande porte no Brasil que aderiram 
às normas de compliance, promovem ações de conscientização, colocam 
mensagens em seus sites, porém, em muitos casos, trata-se de “lei para inglês 
ver”. 
Claro, podemos ainda nos retratar a casos famosos, referência da 
aplicação eficiente de compliance, como o caso da Siemens, que, por meio da 
implementação do programa de compliance em sua filial no Brasil em 2008, foi 
descoberto o envolvimento da empresa na formação de cartel e fraude em 
processos licitatórios para metrôs e trens no Estado de São Paulo. 
Entretanto, de acordo com os níveis de maturidade estabelecidos pela 
KPMG em estudo divulgado em 2018, o Brasil ainda está no nível de 
infraestrutura mínima (sustentável) de compliance. 
 É possível acreditar no poder do compliance e na força que este 
instrumento traz no combate a corrupção, porém, temos que parar de ver a 
24 
 
 
corrupção como algo que somente os políticos fazem quando recebem propina 
de empreiteiras. 
Temos que ver que o “jeitinho brasileiro” é uma forma de corrupção do 
sistema que está enraizada em todo brasileiro, porém, por algum motivo, não é 
visto como corrupção. Como podemos exigir que os empregados, servidores, ou 
chefes de empresas sigam a certos padrões éticos, morais e legais, se nós não 
conseguimos atingir o mesmo patamar? 
Na forma que estamos configurados hoje, acredito serem raros os casos 
em que a empresa que opta por estar em conformidade, em seu todo, desde sua 
base até o topo da pirâmide. 
Contudo, acredito que com o desenvolvimento e a implementação em 
diversos setores, além da criação de uma política de conscientização, que não 
parta somente do poder público, mas também do setor privado, podemos ter uma 
mudança em nosso cenário atual. 
Mas, para que isso seja possível, não basta que o cidadão cobre ações 
do Estado, tendo a sociedade um dever de cobrar de si mesmos a mudança que 
queremos ver. 
25 
 
 
 
 
Como já mencionado, caso sejam constatadas fraudes ou corrupção, a 
responsabilidade da empresa será objetiva. Ou seja, a condenação independe 
da comprovação de culpa do agente que praticou o ato ou da própria pessoa 
jurídica. 
Assim, as possibilidades de responsabilização ocorrem em duas 
esferas: a administrativa e a jurídica. Na esfera administrativa, a empresa pode 
ser multada em até 20% do faturamento bruto. No entanto, se não for possível 
calcular tal faturamento por motivos de fraude contábil, a multa pode ser de até 
60 milhões de reais. 
A lei, no entanto, estabelece critérios para eventuais gradações da multa. 
Ela pode variar, por exemplo,de acordo com a: 
 gravidade da infração; 
 vantagem ilícita auferida ou pretendida pelo infrator; 
26 
 
 
 consumação ou não do ilícito; 
 situação econômica da empresa; 
 cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações 
(acordo de leniência); 
 existência de programas de compliance com mecanismos e 
procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à 
denúncia de irregularidades; 
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa 
jurídica. 
Já a esfera judicial pode determinar sanções variadas. É o caso, por 
exemplo, da: 
 decretação de perdimentos de bens; 
 suspensão das atividades empresariais; 
 proibição de recebimento de incentivos, subsídios, doações ou 
empréstimo de instituição financeiras públicas; 
 dissolução compulsória da empresa. 
Com tudo isso, pode-se afirmar que a Lei Anticorrupção representa 
importante avanço à legislação brasileira. Além de atender a compromissos 
internacionais assumidos pelo Brasil, a lei resolve uma lacuna no ordenamento 
jurídico do país ao tratar diretamente da conduta dos corruptores. 
Isso porque, na maioria das vezes, eles escondiam atos praticados pela 
pessoa física atrás de suas empresas. Isso tornava viável a continuidade ao ciclo 
vicioso formado pela corrupção. 
A cultura do compliance e da implementação de programas de 
integridade, portanto, faz com que o Poder Público possa exigir, cada vez mais, 
a responsabilidade e ética em suas relações públicas e privadas. 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
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