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Paternalidade Socioafetiva no Direito de Família

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SUPERINTENSIVO CARREIRAS JURÍDICAS 
ONLINE 
Direito Civil 
 Com o Professor Pablo Stolze 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DE FAMILIA 
PATERNIDADE E FILIAÇÃO 
Paternidade IV 
 
 
 
Prof.: Pablo Stolze Gagliano 
pablostolze@terra.com.br 
 
 
mailto:pablostolze@terra.com.br
1.4 Paternidade Socioafetiva 
 
 
Em um primeiro momento, vivia-se, no Brasil, a fase da paternidade legal 
ou jurídica, calcada simplesmente em uma presunção (é “filho” do 
marido aquele “concebido por sua esposa”). 
 
Tal presunção ainda é presente (art. 1597, CC), posto não goze mais do 
mesmo prestigio, não sendo absoluta, especialmente por conta do 
surgimento do exame de DNA. 
 
Com o exame de DNA, passamos a viver a fase da paternidade científica 
ou biológica (pai seria aquele reconhecido como doador do material 
genético pela ciência). 
 
 
Mas será que, ser pai ou mãe é, simplesmente, gerar ou conceber? 
 
Admite-se, pois, nessa linha de evolução, nos dias de hoje, a 
paternidade do coração, denominada socioafetiva, construída ao 
longo dos anos, e calcada em valores e sentimentos (paternidade ou 
maternidade de criação). 
 
Fala se fala em “desbiologização do direito de família” (JOÃO BATISTA 
VILELA). 
 
Trata-se, pois, de uma das mais belas teses desenvolvidas pelo Direito 
de Família nos últimos anos, e que já começa a ganhar força até 
mesmo no STJ: 
 
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. INTERESSE DO MENOR. 
 
O registro espontâneo e consciente da paternidade – mesmo havendo 
sérias dúvidas sobre a ascendência genética – gera a paternidade 
socioafetiva, que não pode ser desconstituída posteriormente, em 
atenção à primazia do interesse do menor. A Min. Relatora consignou que, 
no caso, apesar de lamentável a falta de convivência entre o pai e a 
criança, tal situação não é suficiente para rediscutir o registro realizado 
de forma consciente e espontânea. Ressaltou, ainda, que o 
reconhecimento de inexistência de vínculo genético não pode prevalecer 
sobre o status da criança (gerado pelo próprio pai registral há mais de 10 
anos), em atenção à primazia do interesse do menor. Ademais, a 
prevalência da filiação socioafetiva em detrimento da verdade biológica, 
no caso, tão somente dá vigência à cláusula geral de tutela da 
personalidade humana, que salvaguarda a filiação como elemento 
fundamental na formação da identidade do ser humano. Precedente 
citado: REsp 1.259.460-SP, DJe 29/6/12. REsp 1.244.957-SC, Rel. Min. 
Nancy Andrighi, julgado em 7/8/2012. 
 
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp+1244957
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp+1244957
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp+1244957
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp+1244957
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp+1244957
FILIAÇÃO. ANULAÇÃO OU REFORMA DE REGISTRO. FILHOS HAVIDOS ANTES 
DO CASAMENTO, REGISTRADOS PELO PAI COMO SE FOSSE DE SUA MULHER. 
SITUAÇÃO DE FATO CONSOLIDADA HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS, COM O 
ASSENTIMENTO TÁCITO DO CÔNJUGE FALECIDO, QUE SEMPRE OS TRATOU 
COMO FILHOS, E DOS IRMÃOS. FUNDAMENTO DE FATO CONSTANTE DO 
ACÓRDÃO, SUFICIENTE, POR SI SÓ, A JUSTIFICAR A MANUTENÇÃO DO 
JULGADO. 
- Acórdão que, a par de reputar existente no caso uma “adoção 
simulada”, reporta-se à situação de fato ocorrente na família e na 
sociedade, consolidada há mais de quarenta anos. Status de filhos. 
Fundamento de fato, por si só suficiente, a justificar a manutenção do 
julgado. 
Recurso especial não conhecido. 
(RESP 119346/GO, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, 
julgado em 01.04.2003, DJ 23.06.2003 p. 371) 
 
 
Também merece referência outra notícia do STJ: 
 
Adoção à brasileira não pode ser desconstituída após vínculo de 
socioafetividade 
14/07/2009 
 
Em se tratando de adoção à brasileira (em que se assume paternidade 
sem o devido processo legal), a melhor solução consiste em só permitir 
que o pai adotante busque a nulidade do registro de nascimento quando 
ainda não tiver sido constituído o vínculo de socioafetividade com o 
adotado. A decisão é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça 
(STJ), que, seguindo o voto do relator, ministro Massami Uyeda, rejeitou 
o recurso de uma mulher que pedia a declaração de nulidade do registro 
civil de sua ex-enteada. 
A mulher ajuizou ação declaratória de nulidade de registro civil 
argumentando que seu ex-marido declarou falsamente a paternidade da 
ex-enteada, sendo, portanto, de rigor o reconhecimento da nulidade do 
ato. 
 
Em primeira instância, o pedido foi julgado improcedente. O Tribunal de 
Justiça da Paraíba (TJPB) manteve a sentença ao fundamento de 
inexistência de provas acerca da vontade do ex-marido em proceder à 
desconstituição da adoção. Para o TJ, o reconhecimento espontâneo da 
paternidade daquele que, mesmo sabendo não ser o pai biológico, 
registra como seu filho de outrem tipifica verdadeira adoção, 
irrevogável, descabendo, portanto, posteriormente, a pretensão de 
anular o registro de nascimento. 
Inconformada, a mulher recorreu ao STJ, sustentando que o registro 
civil de nascimento de sua ex-enteada é nulo, pois foi levado a efeito 
mediante declaração falsa de paternidade, fato este que o impede de 
ser convalidado pelo transcurso de tempo. Argumentou, ainda, que seu 
ex-marido manifestou, ainda em vida, a vontade de desconstituir a 
adoção, em tese, ilegalmente efetuada. 
 
Em sua decisão, o ministro Massami Uyeda destacou que quem adota à 
moda brasileira não labora em equívoco, ao contrário, tem pleno 
conhecimento das circunstâncias que gravitam em torno de seu gesto e, 
ainda assim, ultima o ato. Para ele, nessas circunstâncias, nem mesmo 
o pai, por arrependimento posterior, pode valer-se de eventual ação 
anulatória postulando descobrir o registro, afinal a ninguém é dado 
alegar a própria torpeza em seu proveito. 
 
“De um lado, há de considerar que a adoção à brasileira é reputada pelo 
ordenamento jurídico como ilegal e, eventualmente, até mesmo 
criminosa. Por outro lado, não se pode ignorar o fato de que este ato 
gera efeitos decisivos na vida da criança adotada, como a futura 
formação da paternidade socioafetiva”, acrescentou. 
 
Por fim, o ministro Massami Uyeda ressaltou que, após firmado o vínculo 
socioafetivo, não poderá o pai adotante desconstituir a posse do estado 
de filho que já foi confirmada pelo véu da paternidade socioafetiva. 
 
Fonte: 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estil
o=&tmp.area=398&tmp.texto=92848 acessado em 25 de julho de 2008. 
 
 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=92848
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=92848
E também: 
 
STJ não permite anulação de registro de nascimento sob a alegação de 
falsidade ideológica 
19/11/2009 
 
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou improcedente 
a ação proposta por uma inventariante e a filha do falecido objetivando 
anular um registro de nascimento sob a alegação de falsidade ideológica. 
No caso, o reconhecimento da paternidade foi baseado no caráter 
socioafetivo da convivência entre o falecido e o filho de sua 
companheira. 
 
L.V.A.A, por meio de escritura pública lavrada em 12/6/1989, reconheceu 
a paternidade de L.G.A.A aos oito anos de idade, como se filho fosse, 
tendo em vista a convivência com sua mãe em união estável e motivado 
pela estima que tinha pelo menor, dando ensejo, na mesma data, ao 
registro do nascimento. 
Com o falecimento do pai registral, em 16/11/1995 e diante da 
habilitação do filho, na qualidadede herdeiro, em processo de 
inventário, a inventariante e a filha legítima do falecido, ingressaram 
com uma ação de negativa de paternidade, objetivando anular o registro 
de nascimento sob a alegação de falsidade ideológica. 
 
O juízo de Direito da 2ª Vara de Família de Campo Grande (MS) julgou 
procedente a ação, determinando a retificação do registro de nascimento 
de L.G.A.A para que se efetivasse a exclusão dos termos de filiação 
paterna e de avós paternos. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul 
confirmou a sentença entendendo que, “havendo prova robusta de 
falsidade, feita por quem não é verdadeiramente o pai, o registro de 
nascimento deve ser retificado, a fim de se manter a segurança e eficácia 
dos atos jurídicos”. 
No STJ, o relator, ministro João Otávio de Noronha, destacou que reconhecida 
espontaneamente a paternidade por aquele que, mesmo sabendo não ser o pai 
biológico, admite como seu filho de sua companheira, é totalmente descabida a 
pretensão anulatória do registro de nascimento, já transcorridos mais de seis anos 
de tal ato, quando não apresentados elementos suficientes para legitimar a 
desconstituição do assentamento público, e não se tratar de nenhum vício de 
vontade. 
 
“Em casos como o presente, o termo de nascimento fundado numa paternidade 
socioafetiva, sob autêntica posse de estado de filho, com proteção em recentes 
reformas do direito contemporâneo, por denotar uma verdadeira filiação registral, 
portanto, jurídica, conquanto respaldada pela livre e consciente intenção do 
reconhecimento voluntário, não se mostra capaz de afetar o ato de registro da 
filiação, dar ensejo a sua revogação, por força do que dispõem os artigos 1609 e 
1610 do Código Civil de 2002”, afirmou o ministro. 
 
Fonte: 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.a
rea=398&tmp.texto=94711 acessado em 12 de dezembro de 2009. 
Trata-se, todavia, de matéria que ainda rende acesos debates. 
Por isso, você deve acompanhar, de perto, a jurisprudência, pois as decisões 
podem variar em face das peculiaridades do caso concreto! 
 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94711
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94711
2. Fique por Dentro 
 
Já se fala hoje, doutrinariamente, em uma nova modalidade 
de vínculo paterno-filial: a paternidade alimentar. 
 
Trata-se de uma construção relativamente nova que, sem 
menoscabar a socioafetividade, visa a permitir a mantença da 
obrigação alimentar em face do pai biológico (genitor) caso o 
pai afetivo não disponha de condições financeiras adequadas. 
 
Sobre o tema, escreve ROLF MADALENO: 
 
“Em tempos de verdade afetiva e de supremacia dos interesses da prole, 
que não pode ser discriminada e que tampouco admite romper o registro 
civil da sua filiação social já consolidada, não transparece nada 
contraditório estabelecer nos dias de hoje a paternidade meramente 
alimentar. Nela, o pai biológico pode ser convocado a prestar sustento 
integral ao seu filho de sangue, sem que a obrigação material importe em 
qualquer possibilidade de retorno à sua família natural, mas que apenas 
garanta o provincial efeito material de assegurar ao filho rejeitado vida 
digna, como nas gerações passadas, em que ele só podia pedir alimentos do 
seu pai que era casado e o rejeitara. A grande diferença e o maior avanço é 
que hoje ele tem um pai de afeto, de quem é filho do coração, mas nem 
por isso libera o seu procriador da responsabilidade de lhe dar o adequado 
sustento no lugar do amor. É a dignidade em suas duas versões” (Revista 
Brasileira de Direito de Família – n. 37, 2006, pág. 148) 
 
Outra importante questão, na Filiação, diz respeito ao chamado “parto 
anônimo”, que traduz o direito de a mulher não assumir a maternidade 
do filho que gerou, entregando-o a instituição autorizada, para se evitar, 
com isso, o abandono. Trata-se de delicada e polêmica matéria, que 
ainda carece de regulamentação específica. 
 
 
Segue ainda outra decisão de interesse do Direito de Familia: 
 
DECISÃO 17/10/2013 - 08h43 
 
Paternidade socioafetiva não afasta direito ao reconhecimento do 
vínculo biológico 
 
A existência de vínculo socioafetivo com pai registral não pode impedir o 
reconhecimento da paternidade biológica, com suas consequências de 
cunho patrimonial. O entendimento é da Terceira Turma do Superior 
Tribunal de Justiça (STJ). 
 
O colegiado, de forma unânime, seguiu o entendimento da relatora do 
caso, ministra Nancy Andrighi, para quem o reconhecimento do estado 
de filiação constitui direito personalíssimo, indisponível e 
imprescritível, que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma 
restrição, contra os pais ou seus herdeiros. 
 
“Se é o próprio filho quem busca o reconhecimento do vínculo 
biológico com outrem, porque durante toda a sua vida foi induzido a 
acreditar em uma verdade que lhe foi imposta por aqueles que o 
registraram, não é razoável que se lhe imponha a prevalência da 
paternidade socioafetiva, a fim de impedir sua pretensão”, assinalou a 
ministra. 
 
Vínculo prevalente 
 
Na ação de investigação de paternidade, a filha, que foi registrada pelo 
marido de sua mãe, pretendia o reconhecimento da paternidade 
biológica, a alteração de seu nome e sua inclusão, como herdeira 
universal, no inventário do pai biológico. 
 
A família do pai biológico contestou o pedido, sustentando a 
inexistência de relacionamento entre ele e a mãe da autora da ação; a 
falta de contribuição da autora na construção do patrimônio familiar e 
a prevalência da paternidade socioafetiva em relação à biológica. 
 
Em primeiro grau, o magistrado declarou a paternidade, com 
fundamento no exame positivo de DNA, e determinou a retificação do 
registro de nascimento. Além disso, declarou a autora legítima herdeira 
necessária do pai biológico, fazendo jus, portanto, à sua parte na 
herança, no mesmo percentual dos demais filhos. O Tribunal de Justiça 
de Santa Catarina manteve a sentença. 
 
No recurso especial ao STJ, a família do pai biológico voltou a sustentar a 
prevalência do vínculo socioafetivo em relação ao biológico, para 
declaração da paternidade com todas suas consequências registrais e 
patrimoniais. Segundo a família, houve, na realidade, uma “adoção à 
brasileira” pelo marido da mãe da autora, quando declarou no registro de 
nascimento da criança que ela era sua filha. 
 
Melhor interesse 
 
Em seu voto, a ministra Andrighi mencionou que a prevalência da 
paternidade/maternidade socioafetiva frente à biológica tem como 
principal fundamento o interesse do próprio menor, ou seja, visa garantir 
direitos aos filhos face às pretensões negatórias de paternidade. 
Entretanto, a ministra afirmou que a paternidade socioafetiva não pode 
ser imposta contra a pretensão de um filho, quando é ele próprio quem 
busca o reconhecimento do vínculo biológico. 
 
“É importante frisar que, conquanto tenha a recorrida usufruído de uma 
relação socioafetiva com seu pai registrário, nada lhe retira o direito, 
em havendo sua insurgência, ao tomar conhecimento de sua real 
história, de ter acesso à verdade biológica que lhe foi usurpada, desde o 
nascimento até a idade madura”, disse a relatora. 
 
O número deste processo não é divulgado em razão de sigilo judicial. 
 
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Coordenadoria de Editoria e Imprensa 
Fonte: 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398
&tmp.texto=111773 acessada em 20 de outubro de 2013. 
 
 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=111773
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=111773
Finalmente, meus queridos amigos, outro tema que 
merece a nossa atenção, é a “multiparentalidade”, a 
“situação emque um indivíduo tem mais de um pai 
e/ou de uma mãe, simultaneamente, produzindo-se 
efeitos jurídicos em relação a todos eles” (Gagliano, 
Pablo Stolze e Pamplona Filho. Novo Curso de Direito 
Civil – Direito de Família – As Famílias em Perspectiva 
Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014, pág. 
648). 
 
Fiquem muito atentos a esses avanços! 
Foi uma alegria tê-los como alunos, e, especialmente, 
ter a certeza de tê-los como amigos do coração... 
Um grande abraço! 
Fiquem com Deus! 
O amigo, 
Pablo. 
www.pablostolze.com.br 
 
http://www.pablostolze.com.br/

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