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Julia S Crescencio P6 Tumores astrocitários → Mais frequentes O termo astrocitoma, sem outra especificação, designa tumores de crescimento infiltrativo difuso que, conforme seu comportamento biológico, são classificados como astrocitoma ou astrocitoma difuso (grau II), astrocitoma anaplásico (grau III) e glioblastoma (grau IV). Outros tumores astrocitários são astrocitoma pilocítico (grau I), astrocitoma subependimário de células gigantes (grau I) e xantoastrocitoma pleomórfico (grau II). Astrocitoma pilocítico → Grau 1, baixo potencial proliferativo, com crescimento lento e expansivo → Crianças e adolescentes → Nervos ópticos, no quiasma óptico/região hipotalâmica, no tálamo e cerebelo. → Localizações menos comuns são os hemisférios cerebrais (porção medial do lobo temporal), o tronco encefálico e a medula espinhal. → Transformação para astrocitoma pilocítico anaplásico é muito rara, em geral após radioterapia. As manifestações clínicas relacionam-se com as localizações do tumor. No quiasma e nos nervos ópticos, produz diminuição e perda da acuidade visual, papiledema, atrofia do nervo óptico, exoftalmia unilateral e perturbação dos movimentos oculares. O astrocitoma da região quiasmática, pelo acometimento frequente do hipotálamo, determina sinais e sintomas de disfunção hipotalâmica. Os tumores da região hipotalâmica causam diabetes insípido, puberdade precoce, obesidade, hipogonadismo, bulimia, emaciação, sinais e sintomas de hipertensão intracraniana e alterações visuais. No cerebelo, causam manifestações ligadas a compressão do IV ventrículo, do tronco encefálico (hipertensão intracraniana, nistagmo e estrabismo) e das raízes cervicais (rigidez de nuca) e ao comprometimento cerebelar (ataxia). Aspectos morfológicos O tumor tem limites em parte bem definidos, em parte imprecisos. O tecido tumoral possui áreas compactas, mais esbranquiçadas, ao lado de áreas mais frouxas, gelatinosas e acinzentadas. Cistos de dimensões variadas podem ser encontrados. Os tumores císticos são mais frequentes, sendo constituídos por grande cisto solitário preenchido por líquido seroso e contendo nódulo tumoral parietal geralmente pequeno. Quando sólidos, têm superfície de corte acinzentada, homogênea e mole. Tanto as formas sólidas quanto as císticas causam compressão do IV ventrículo. Microscopicamente, o astrocitoma pilocítico tem áreas compactas, sólidas, com células fusiformes e prolongamentos longos, ricos em fibras gliais, e áreas frouxas, formadas por astrócitos protoplasmáticos estrelados, desprovidos de fibras gliais, muitas vezes ao redor de pequenos cistos. Proliferação microvascular, especialmente na parede dos cistos, é relativamente comum, mas não implica transformação maligna. Achado frequente são as fibras de Rosenthal e os corpos granulares eosinófilos. Mitoses são ausentes ou raras, e o índice médio de proliferação celular avaliado pelo Ki-67/MIB-1 é de 1,1%. Astrocitoma pilocítico da região hipotalâmica. Notar a boa delimitação do tumor, cisto gelatinoso, compressão do III ventrículo e hidrocefalia. A hemorragia intratumoral deve-se a biópsia prévia. Notar, ainda, válvula para derivação ventricular. → Muito parecido com o parênquima normal. Percebe-se as fibras de Rosenthal nas áreas tumorais (compridas). Julia S Crescencio P6 Astrocitoma pilocítico. Áreas compactas, fibrilares e frouxas, microcísticas. Astrocitoma pilocítico. Área compacta, fibrilar, com numerosas fibras de Rosenthal (estruturas acidófilas e alargadas). Astrocitoma subependimário de células gigantes → Grau 1 → Associado a esclerose tuberosa. → O tumor aparece mais nas duas primeiras décadas de vida e na maioria dos casos os pacientes apresentam a forma frustra da doença, ou seja, sem história familial e sem os sinais da tríade clínica: retardamento mental, convulsões e angiofibromas da face. O tumor origina-se quase sempre na região anterior da parede medial do assoalho dos ventrículos laterais, formando massa intraventricular que obstrui o forame interventricular e causa hidrocefalia. A lesão é bem delimitada, acinzentada e mole, podendo conter áreas císticas e de calcificação. As células tumorais são grandes, globoides ou de contorno irregular, piramidal ou fusiforme, de onde partem prolongamentos ricos em fibras gliais. O citoplasma é amplo, acidófilo, homogêneo e hialino. O núcleo é excêntrico, grande e vesiculoso e contém nucléolo bem evidente, o que dá certa semelhança com neurônios; contudo, não contém corpos de Nissl ou neurofibrilas. As células neoplásicas exibem fenótipo glioneuronal, sendo imunorreativas para proteínas gliais e neuronais. Agravamento das crises convulsivas e sinais e sintomas de hipertensão intracraniana são as manifestações usuais. O tumor tem crescimento lento e não recidiva quando ressecado totalmente. Caráter vesiculoso dos núcleos Obs.: Os astrócitos gemistocíticos são células com núcleo excêntrico e citoplasma volumoso, róseo e homogêneo (aspecto hialino). Julia S Crescencio P6 Xantoastrocitoma pleomórfico → Grau II → Raro, afeta principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens de ambos os gêneros. → Tem localização superficial, ocupando o córtex cerebral, preferencialmente do lobo temporal, e a partir daí se infiltra na leptomeninge adjacente. Um ou mais cistos com nódulo mural são comumente encontrados. Microscopicamente, é formado por células grandes, com citoplasma amplo, acidófilo e núcleos excêntricos, ao lado de células alongadas arranjadas em fascículos e envoltas por rede de fibras reticulares. Há pleomorfismo e hipercromasia nucleares, multinucleação e poucas figuras de mitose; não há necrose. Pode haver acúmulo de lipídeos no citoplasma das células neoplásicas; essa alteração e o aspecto pleomórfico do tumor levaram à designação xantoastrocitoma pleomórfico. É comum o encontro de glóbulos eosinófilo hialinos e de focos de infiltração linfocitária perivascular. A localização superficial do tumor e o fato de as células serem circundadas por lâmina basal indicam ser o astrócito subpial a célula de origem dessa neoplasia. Crises convulsivas e sinais de hipertensão intracraniana são as manifestações habitualmente encontradas. O comportamento biológico é de tumor de baixa malignidade (grau II), com sobrevida pós-operatória de 10 anos em mais de dois terços dos casos. Alguns casos exibem índice mitótico elevado (cinco ou mais mitoses por 10 campos de grande aumento) e/ou áreas de necrose, sendo designados xantoastrocitoma pleomórfico com aspectos anaplásicos. Recorrência e progressão para maior anaplasia e quadro semelhante ao do astrocitoma anaplásico ou glioblastoma ocorrem em poucos casos. São características do xantoastrocitoma pleomórfico: - celularidade moderada a alta; pode haver arquitetura fusocelular. - moderado pleomorfismo das células neoplásicas: variação de tamanho das células e dos núcleos, hipercromatismo, frequentes células multinucleadas. Estas feições estão em contraste com a escassez dos outros sinais de agressividade: mitoses e necrose. - células xantomatosas de linhagem astrocitária (demonstradas por GFAP). Julia S Crescencio P6 Astrocitoma (astrocitoma difuso) → Grau II Se infiltra difusamente nas estruturas cerebrais adjacentes, constituído predominantemente por astrócitos fibrilares e, menos comumente, por astrócitos gemistocíticos e protoplasmáticos, ou por mistura deles. O astrocitoma difuso acomete preferencialmente os lobos frontais e temporais. É mais comum em adultos, especialmente entre 25 e 45 anos. Aspectos morfológicos Nos hemisférios cerebrais, o astrocitoma difuso tem limites imprecisos e crescimento infiltrativo na substância branca profunda e subcortical, no córtex cerebral ou nos núcleos da base. O tecido tumoral é esbranquiçado após fixação, confundindo-se às vezes com a substância branca cerebral, da qual difere pela maior consistência. Quando invade o córtex ou os núcleos da base, há expansão e distorção dessas estruturas, perda da coloração cinzenta característica e apagamento do limite entre assubstâncias cinzenta e branca. A textura do tumor é homogênea, compacta, mas pode conter pequenos cistos cheios de material seroso ou gelatinoso. No tronco encefálico, o astrocitoma prefere a ponte, configurando o quadro de “hipertrofia difusa”, caracterizada por aumento volumétrico difuso da ponte. A superfície ventral da ponte aparece deformada por nódulos esbranquiçados grosseiros, simétricos, poupando o sulco da artéria basilar, que fica mais evidente. A ponte, o mesencéfalo, o bulbo e os pedúnculos cerebelares médios aparecem infiltrados, sem limites nítidos, pela neoplasia. O IV ventrículo é obliterado pela infiltração e expansão do seu assoalho. Histologicamente, o astrocitoma fibrilar é constituído por astrócitos estrelados ou triangulares, bem diferenciados, sem arranjo preferencial, com produção de grande quantidade de fibras gliais, o que lhe confere consistência firme. As células expressam GFAP. A densidade celular é moderada ou baixa e os núcleos, arredondados, ovalados, alongados ou irregulares, não mostram atipias acentuadas. Figuras de mitose são raras ou inexistentes, sendo o índice de proliferação celular menor do que 4%. Ao lado dos astrócitos fibrilares, pode haver número variado de astrócitos de aspecto “pilocítico-símile” (especialmente nos astrocitomas do tronco encefálico e da medula espinhal), gemistocíticos ou protoplasmáticos. Os capilares são delicados, revestidos por camada simples de endotélio plano. Microcistos são frequentes; quando confluentes e grandes, são responsáveis pelos cistos identificados macroscopicamente. Em seu crescimento infiltrativo e expansivo, o tumor dissemina-se através do espaço de Virchow Robin (ao redor dos vasos) e sob a forma de células isoladas, preservando as estruturas nervosas preexistentes (neurônios, fibras nervosas). No astrocitoma gemistocítico, as células são grandes, globosas ou piriformes; o citoplasma é amplo, eosinófilo, hialino e homogêneo; o núcleo em geral é hipercromático e excêntrico; os prolongamentos celulares são escassos e grosseiros. Há expressão de GFAP no citoplasma e nos prolongamentos celulares. Há número variável de astrócitos fibrilares. O diagnóstico de astrocitoma gemistocítico é feito quando os astrócitos Julia S Crescencio P6 gemistocíticos representam mais de 20% das células neoplásicas. Astrocitoma difuso envolvendo córtex e substância branca cerebral. Notar crescimento infiltrativo, limites imprecisos e cistos gelatinosos. Astrocitoma fibrilar. Proliferação de astrócitos estrelados e sem atipias significativas, em meio a matriz fibrilar eosinófila. Notar capilar revestido por camada simples de endotélio plano. Astrocitoma gemistocítico. Proliferação de astrócitos volumosos, com citoplasma acidófilo e homogêneo e núcleo excêntrico, em meio a matriz fibrilar grosseira. O quadro clínico varia conforme a localização. Nos hemisférios cerebrais, o tumor pode produzir crise convulsiva focal,déficit motor ou sensitivo, transtornos psiquiátricos e sintomas de hipertensão intracraniana. No tronco encefálico, as manifestações são múltiplas e variadas, consequentes ao envolvimento das vias sensitivas, piramidais e cerebelares e dos núcleos dos nervos cranianos. Observam-se ataxia, distúrbios dos movimentos oculares, sinais de acometimento do V, VII, IX e X nervos cranianos e tetraparesia. Na medula espinhal, o astrocitoma provoca dor, alterações motoras e, mais raramente, distúrbios sensitivos e disfunções vesical e anal. Independentemente da localização, sinais e sintomas em geral se iniciam e progridem lentamente, por vários meses ou alguns anos. Metade dos pacientes sobrevive cinco anos após o diagnóstico. Com o passar dos anos, há tendência à anaplasia e progressão para formas mais malignas (astrocitoma anaplásico e glioblastoma, ver adiante), resultando em aceleração e agravamento dos sinais e sintomas clínicos, processo mais comum nos astrocitomas dos hemisférios cerebrais ou do tronco encefálico. Astrocitoma anaplásico → Grau III → Pode originar-se de um astrocitoma de baixo grau (grau II) ou como lesão com características histológicas de malignidade desde o seu início (de novo). → 30-50 anos → Cerca de 1\3 dos pacientes sobrevivem 5 anos após o diagnóstico. Estudos de neuroimagem do astrocitoma anaplásico mostram aspectos semelhantes aos do astrocitoma difuso, mas, diferentemente deste, podem exibir captação parcial de contraste e efeito de massa exercidos pelo tumor e pelo edema peritumoral. Aspectos morfológicos Macroscopicamente, o astrocitoma anaplásico pode assemelhar-se ao astrocitoma difuso ou pode aparecer mais bem delimitado em relação ao tecido nervoso adjacente. O tumor e o edema peritumoral podem causar desvio das estruturas da linha média para o lado oposto. O tumor é brancacento ou cinza-escuro e granuloso. Ao microscópio, mostra densidade celular moderada/elevada, atipias nucleares, número variável de células gigantes uni e multinucleadas e figuras de mitose, com índice de proliferação celular variando entre 5 e 10%. Algumas áreas contêm células pequenas, com citoplasma Julia S Crescencio P6 escasso, indicando células menos diferenciadas. Os capilares são delicados e revestidos por camada única de endotélio. A expressão de GFAP é menos regular do que no astrocitoma fibrilar. Astrocitoma anaplásico do hemisfério cerebral direito. Notar crescimento infiltrativo difuso da lesão, limites imprecisos, cistos diminutos e desvio das estruturas da linha média (efeito de massa) Astrocitoma anaplásico. Hipercelularidade, pleomorfismo e hipercromasia nucleares. Glioblastoma → Grau IV → Incide mais entre 45 e 70 anos e é mais comum em homens (3:2). Na maioria dos casos, o glioblastoma é supratentorial, com predileção pela substância branca dos hemisférios cerebrais e tendência à invasão rápida das estruturas vizinhas. Os lobos frontais são a sede mais frequente, seguindo-se os lobos temporais e parietais. O tumor pode originar-se em outras regiões, como porções anterior e posterior do corpo caloso, núcleos da base, tálamo e tronco encefálico; as duas últimas são sedes especialmente em crianças. O tumor é raro na medula espinhal e no cerebelo. Tumores múltiplos são encontrados em aproximadamente 2,5 a 5,0% dos casos. Aspectos morfológicos O glioblastoma geralmente ocupa o centro branco medular, pode atingir mais de um lobo e provoca quase sempre assimetria dos hemisférios, alargamento dos giros correspondentes, distorção do sistema ventricular e desvio das estruturas da linha média. As estruturas nervosas preexistentes não são mais identificadas. O tecido neoplásico é friável, sem brilho, granuloso, acinzentado ou róseo-acinzentado, com extensa área amarelada de necrose misturada ou não com focos de hemorragia. Podem ser encontrados pequenos cistos contendo material seroso, hemorrágico ou necrótico. Nos hemisférios cerebrais, invade o corpo caloso, podendo estender-se ao hemisfério oposto, o que confere ao conjunto, em corte frontal, imagem semelhante à de uma borboleta. Edema cerebral é precoce e mais intenso no hemisfério ocupado pelo tumor. O aspecto histológico peculiar do glioblastoma é sua hipercelularidade e grande variabilidade celular (por isso o antigo nome glioblastoma “multiforme”, em desuso), traduzidas pela proliferação de células pequenas, arredondadas, com citoplasma escasso, pouco diferenciadas, ao lado de células fusiformes exibindo prolongamentos celulares e fibras gliais ou, ainda, células polimórficas e atípicas. Não são raras células gigantes, uni ou multinucleadas. As mitoses, típicas e atípicas, são frequentes, e o índice de proliferação celular varia de 15 a 20%. São características da neoplasia a variabilidade do quadro histológico e áreas de necrose em faixa irregular ou serpiginosas, rodeadas por células tumorais dispostas em pseudopaliçada. A expressão de GFAP é bastante variável, sendo habitualmente negativa nas células pouco diferenciadas. A vascularização é muito abundante e representada por capilares e vasos de pequeno calibre revestidos por uma oumais camadas de endotélio hipertrófico ou cuboide, podendo adquirir aspecto glomeruloide. A proliferação microvascular depende de fatores mitogênicos para endotélio (sobretudo VEGF), células musculares lisas e de pericitos originados pelas próprias células neoplásicas. Trombose é comum nas áreas de proliferação microvascular, sendo responsável pela necrose. Julia S Crescencio P6 Glioblastoma do lobo temporal esquerdo. Notar área amarelada escavada de necrose parenquimatosa e tecido neoplásico brancacento (setas). Glioblastoma. Hipercelularidade, pleomorfismo nuclear e células gigantes uni e multinucleadas. Glioblastoma. Necrose em pseudopaliçada. → Muita atipia e mitose → Necrose central com células em paliçada ao redor; Proliferação vascular com aspecto glomeruloide. O glioblastoma é um dos tumores humanos mais letais. Por causa do seu crescimento rápido, da destruição de extensas áreas de tecido nervoso e do edema intenso que provoca, o prognóstico é sombrio: a grande maioria dos pacientes não sobrevive 1 ano e 6 meses após o diagnóstico. O prognóstico é pior em idosos. O acompanhamento dos pacientes tratados com cirurgia, radioterapia e quimioterapia mostra que a maioria apresenta recidiva da neoplasia, formando geralmente novo tumor ou implantes no espaço subaracnóideo e nos ventrículos. Apesar do alto grau de malignidade, as metástases ocorrem apenas no próprio SNC, pela via liquórica. O tumor causa manifestações clínicas de hipertensão intracraniana e sinais e sintomas focais conforme a sua sede, iniciados em geral 6 meses antes de o diagnóstico ser estabelecido. Quando se origina de um astrocitoma de baixo grau de malignidade ou de um astrocitoma anaplásico, a história clínica revela sintomas de duração mais prolongada, com aceleração e/ou mudança das manifestações clínicas nas últimas semanas ou meses. Julia S Crescencio P6 Tumores oligodendrogliais Oligodendroglioma → Grau II → Incide igualmente em ambos os gêneros, a maioria entre 30 e 60 anos de idade. → É pouco frequente na infância e na adolescência. O tumor tem crescimento lento e sua evolução é longa, muitas vezes produzindo apenas manifestações de acometimento focal do encéfalo (p. ex., epilepsia). No entanto, pode ocorrer hemorragia maciça na intimidade do tumor capaz de levar o paciente ao óbito. Quase dois terços dos pacientes sobrevivem 5 anos após o diagnóstico. Aspectos morfológicos As sedes mais comuns do oligodendroglioma são o córtex e a substância branca dos lobos frontal, temporal e parietal. Raramente, situa-se no lobo occipital, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal. É um tumor sólido, que alarga o giro afetado e apaga o limite córtex-substância branca. A superfície de corte é granular ou homogênea, brancacenta ou róseo-acinzentada, pouco consistente. Às vezes, apresenta cistos contendo material gelatinoso e, com frequência, áreas de calcificação, que constituem sinal valioso para o diagnóstico neurorradiológico. Não são raras grandes hemorragias na intimidade do tumor, capazes de causar o óbito. As células tumorais reproduzem o aspecto de oligodendrócitos da substância branca cerebral observado em material fixado em formol e incluído em parafina, lembrando “ovo frito” (vacuolização do citoplasma por tumefação aguda). As células são ovoides ou arredondadas, com membrana citoplasmática nítida, citoplasma com vacúolo único em cujo centro se localiza o núcleo, arredondado e hipercromático, de aspecto uniforme, contendo pequeno nucléolo. Mitoses são raras, e o índice de proliferação celular é menor que 5%. Alguns tumores contêm ainda células com características de astrócitos gemistocíticos pequenos, GFAP-positivas, denominadas formas minigemistocíticas. As células se dispõem em agrupamentos compactos, sem arranjo característico. Os oligodendrócitos neoplásicos infiltram-se na região subpial e nos espaços perineuronais e perivasculares, adquirindo aspecto de células satélites (satelitose perineuronal e perivascular). É característica da neoplasia a riqueza em capilares delicados arqueados e com ramificação em “tela de galinheiro”, podendo circunscrever ilhotas de células tumorais. Calcificação é frequente, como concreções pequenas, ora grosseiras, na parede dos vasos sanguíneos, especialmente na periferia do tumor e no tecido nervoso adjacente. → Calcificação → Aspecto em ovo frito com calcificações (mielina que calcifica) Oligodendroglioma. Proliferação de células com núcleo arredondado e halo claro perinuclear. Notar ainda capilares arqueados e ramificados. Oligodendroglioma anaplásico → Grau III Densidade celular elevada, atipias nucleares, frequentes figuras de mitose, proliferação Julia S Crescencio P6 microvascular e áreas de necrose (oligodendroglioma grau III). Proliferação microvascular é particularmente importante e deve ser correlacionada com o achado radiológico de captação de contraste. Esta alteração radiológica é identificada quase somente nos casos em que há proliferação microvascular. Oligoastrocitoma|Oligoastrocitoma anaplásico Esta denominação engloba tumores infiltrativos difusos do SN formados por oligodendrócitos e astrócitos (gliomas mistos). Admite-se que sejam tumores monoclonais com diversidade fenotípica, nos quais a célula inicialmente transformada é precursora dos tipos celulares encontrados no tumor. O oligoastrocitoma ocorre nos hemisférios cerebrais de adultos, especialmente no lobo frontal. Histologicamente, é constituído por mistura de oligodendrócitos e astrócitos fibrilares e gemistocíticos de permeio ou em áreas distintas; cada tipo celular deve ter visibilidade suficiente para permitir o diagnóstico de glioma misto. Os oligoastrocitomas são neoplasias de crescimento infiltrativo, de baixo grau de malignidade (grau II), constituindo 10 a 20% dos gliomas supratentoriais de baixo grau. Crises convulsivas, déficit neurológico focal, transtornos comportamentais e sintomas de hipertensão intracraniana são as manifestações clínicas usuais. A sobrevida de 5 anos ocupa posição intermediária entre o astrocitoma difuso e o oligodendroglioma. O oligoastrocitoma anaplásico (grau III) tem alta densidade celular, pleomorfismo e hipercromasia nucleares, figuras de mitose e proliferação microvascular, em geral evidentes nos dois componentes celulares. A sobrevida dos pacientes tratados por cirurgia, radio e quimioterapia é muito inferior à dos pacientes com oligoastrocitoma grau II. Tumores ependimários Subependimoma → Grau I → Localiza-se preferencialmente no assoalho do IV ventrículo e nos ventrículos laterais; raramente, situa-se no III ventrículo e na medula espinhal. No IV ventrículo, pode ser único ou múltiplo, com diâmetro de poucos milímetros ou superior a 1 a 2 cm. → NOS VENTRÍCULOS (não tem no parênquima, apenas nas cavidades) O tumor tem consistência firme, superfície externa nodular brancacenta e limites nítidos. É constituído por pequenos ninhos de células ependimárias uniformes separados por matriz densa de fibras gliais. Algumas áreas podem exibir rosetas e pseudorrosetas perivasculares e degeneração microcística. O subependimoma cresce lentamente e de forma expansiva. Frequentemente, é assintomático, representando mero achado de necrópsia; nesses casos, ocorre mais em adultos de Julia S Crescencio P6 meia-idade e em idosos. Quando sintomático, causa manifestações por bloqueio do liquor (hipertensão intracraniana) e compressão de estruturas adjacentes. Ao contrário das pseudorosetas, as rosetas verdadeiras não têm um vaso no centro, mas sim uma luz que pode conter microvilos ou cílios (só bem visíveis em microscopia eletrônica). Ependimoma mixopapilar → Grau I → Se origina sobretudo no cone medular, no filum terminale ou na cauda equina; poucas vezes, situa-se em outros locais do SNC e no tecido subcutâneo da região sacrococcígea. → Incide mais em crianças e adultos jovens. O tumor tem crescimento lento e pode atingir grande volume. As manifestações clínicas surgem insidiosamente (dor lombar baixa, distúrbio do controle esfincterianovesical e anal, anestesia perianal) ou mais abruptamente (dor intensa na região lombossacra, ascendente, resultando em rigidez de nuca); neste caso, os sinais e sintomas resultam de hemorragia subaracnóidea a partir do tumor. Raramente, a neoplasia se infiltra localmente na dura-máter e no sacro. Aspectos morfológicos Macroscopicamente, é tumor sólido, lobulado e acinzentado. Histologicamente, é constituído por papilas com eixo de tecido fibroso acelular hialino ricamente vascularizado e revestido por células ependimárias cúbicas ou cilíndricas baixas. Com certa frequência, o estroma sofre transformação mucoide, a qual, juntamente com a formação de papilas, justifica o termo mixopapilar. As células neoplásicas podem também formar agrupamentos sólidos, mas sem atipias nem mitoses. Figura 26.132 Ependimoma mixopapilar. Papilas com eixo de tecido hialino, vascularizado e revestido pelas células tumorais. Ependimoma → Grau II (o mais comum dos tumores ependimários). Origina-se nos ventrículos ou no canal da medula espinhal. É mais comum na linha mediana do IV ventrículo, onde ocorre preferencialmente em crianças abaixo de 10 anos. O ependimoma é o glioma mais comum da medula espinhal, em qualquer segmento medular; nesta localização, ocorre sobretudo em adultos de meia-idade. As manifestações clínicas variam conforme a localização. No IV ventrículo, pode preencher e ocluir a cavidade, determinando sinais e sintomas de hipertensão intracraniana. Além de hidrocefalia e hipertensão intracraniana, os ependimomas do III ventrículo provocam distúrbios endócrinos por compressão do hipotálamo, diretamente pelo tumor ou indiretamente por dilatação do III ventrículo. Os tumores da medula espinhal causam distúrbios motores e sensitivos por compressão dos tratos descendentes e ascendentes. Aproximadamente dois terços dos pacientes sobrevivem cinco anos. Aspectos morfológicos O ependimoma tumor sólido, firme, homogêneo, acinzentado, de aspecto granuloso e limites nítidos. Julia S Crescencio P6 Histologicamente, o ependimoma é formado por células justapostas, uniformes, que se arranjam em rosetas ou em pseudorrosetas perivasculares. O achado mais frequente são pseudorrosetas perivasculares, nas quais as células tumorais colocam-se radialmente em volta de vasos sanguíneos; os núcleos ficam separados da adventícia por processos fibrilares. Em meio aos aglomerados celulares perivasculares, encontram-se áreas acelulares ou paucicelulares, constituídas por astrócitos que produzem grande quantidade de fibras gliais. Figura 26.134 Ependimoma. As células tumorais arranjam-se de modo característico em torno de vasos (pseudorrosetas perivasculares). Ependimoma anaplásico → Grau III Ocorre principalmente nos hemisférios cerebrais de crianças e adultos. Microscopicamente, apresenta aspecto epitelioide, densidade celular elevada, atipias nucleares, figuras de mitose, células gigantes uni e multinucleadas, proliferação microvascular e focos de necrose. Algumas áreas, contudo, conservam aspectos cito e histológicos de ependimoma, embora com pseudorrosetas perivasculares contendo zona fibrilar perivascular mais estreita. Meningioma → Geralmente benigno, com sintomas apenas compressivos. Os meningiomas representam o tumor primário mais frequente do SNC. Mulheres são mais acometidas do que homens. Os meningiomas são tumores próprios da idade adulta, mas podem aparecer ocasionalmente na infância e na adolescência. Em idosos, constituem, com frequência, mero achado de necrópsia; nestes casos, ambos os gêneros são igualmente afetados. Meningiomas múltiplos ocorrem esporadicamente em 10% dos casos ou no contexto da neurofibromatose tipo 2. A grande maioria dos meningiomas tem comportamento benigno (grau I), existindo, entretanto, tumores de comportamento mais agressivo, de baixo grau de malignidade (grau II) ou malignos (grau III). Por seu crescimento lento, os meningiomas apresentam manifestações clínicas de início e progressão insidiosos, em geral com mais de 2 anos antes do diagnóstico. Os sinais e sintomas clínicos, além daqueles relacionados com hipertensão intracraniana, diferem conforme a sede do tumor, sendo os mais frequentes: convulsões focais, déficit motor ou sensitivo (meningiomas da convexidade cerebral), exoftalmia unilateral (pela penetração do tumor na órbita), paralisia do nervo oculomotor, cegueira unilateral, anosmia, distúrbios psíquicos, crises convulsivas psicomotoras (meningiomas da crista esfenoidal), hemianopsia bitemporal, diabetes insípido, hipogonadismo (meningiomas do tubérculo da sela e região parasselar), anosmia homo ou bilateral, cegueira homo ou bilateral e transtornos mentais (meningiomas do sulco olfatório). Julia S Crescencio P6 → Núcleos com aspectos claros,