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������������� ��� �������� ��� ����� � ����� ���� ��� ���� �������� ����� ��� 2 BASSEDAS, HUGUET & SOLÉ B318a Bassedas, Eulàlia Aprender e ensinar na educação infantil / Eulàlia Bassedas, Teresa Huguet & Isabel Solé; trad. Cristina Maria de Oliveira. – Porto Alegre : Artmed, 1999. ISBN 978-85-7307-517-5 1. Educação infantil – Aprender – Ensinar. I. Huguet, Teresa. II. Solé, Isabel. III. Título. CDU 37.0152:372.3/.4 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023 102 BASSEDAS, HUGUET & SOLÉ Quadro 3.1 Roteiro para analisar a jornada da escola Sugerimos fazer um quadro de entrada dupla; à esquerda, situar as diferentes atividades ou situações que se realizaram durante o dia e o tempo que foi dedicado a elas; na linha superior, situar certas perguntas que devem ser feitas: 1. Onde realizamos a atividade? na sala/ no pátio/ outros 2. Que grau de autonomia e de liberdade houve nesta jornada para os pequenos? livre/ dirigida/ auto-selecionada a partir de diversas opções 3. Que grau de atenção e de esforço ou cansaço (intelectual e físico) foi necessário? bastante/pouco/ nada 4. Como agrupamos as crianças? em grande grupo/em pequeno grupo/individualmente 5. Que capacidades mais trabalhamos? de movimento/de linguagem/cognitivas/ de relação/ de cuidado de si mesmo e/ou de hábitos de autonomia A jornada escolar Os diferentes momentos do dia que se suce- dem na escola seguem, em linhas gerais, uma mesma ordem, a qual, em parte, é imposta pe- las necessidades fisiológicas das crianças, espe- cialmente as do primeiro ciclo. Na jornada da escola, precisa-se favorecer que a menina ou o menino tenham experiências diferentes e desen- volvam todas as suas capacidades. Em qualquer dia da escola, deveríamos po- der encontrar: • Momentos livres (de jogo, de descanso, de passeio, etc.). • Momentos curtos (segundo o interesse das crianças) com atividades coletivas (canção, conto, fantoches, marionetes, rodinhas, etc.) conduzida por pessoas adultas. • Momentos de jogos motores e de motri- cidade global (livre, com material ou similares para pátio e internos). • Momentos de atividades dirigidas ou pro- postas pela pessoa adulta (individuais ou em pequenos grupos/ nos cantinhos ou para todo o grupo) para trabalhar deter- minados conteúdos (habilidades mani- pulativas, linguagem, conteúdos da área de contexto, etc.). • Momentos tranqüilos, mais individuali- zados (quando chegam, quando vão des- pertando, quando jogam, etc.) nos quais procuramos sistematicamente ter em conta todas as crianças da classe. A seguir, abordaremos brevemente os dife- rentes momentos que, em geral, sucedem-se na escola e alguns critérios que precisamos consi- derar ao planejar e colocá-los em prática. Em termos gerais, esses momentos são: a acolhida, o reencontro do grupo, o pátio, os jogos ao ar livre, o meio dia e a tarde. Evidentemente, à margem desses momentos mais habituais, cada escola programa outros mais ou menos cotidi- anos e mais ou menos livres, segundo o seu pro- jeto curricular e a idade de seu alunado. A acolhida Na chegada da criança à escola, o fato de distanciar-se do familiar que a acompanhou e de iniciar sua jornada no centro é um momen- to que tem grande influência em seu projeto de adaptação: cada criança e família o vê de uma maneira diferente, com mais ou menos preo- esaito Retângulo APRENDER E ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 103 cupação. Portanto, devemos ter um cuidado es- pecial, sobretudo com as crianças menores, ao iniciar qualquer processo de escolarização nes- sa etapa. Nesses momentos, e de maneira clara e tan- gível, a criança vê a relação que há entre a es- cola (sua educadora) e a família (o pai, a mãe ou o familiar que a acompanha). É preciso pre- parar as condições para poder estar tranqüila e atender a cada criança e familiar quando che- garem. Se a entrada for gradual e houver uma cer- ta flexibilidade de horário (de 15 a 30 minu- tos), evitam-se as aglomerações; os pais e as mães podem fazer as recomendações que lhes preocupam (se é preciso tomar algum medica- mento, se a virão buscar antes, se é preciso que a criança se proteja ao ar livre, etc.); e a criança verá que há uma boa relação e uma continui- dade entre os dois contextos. Convém aguçar as capacidades de observa- ção para conhecer os estilos e as diferentes ma- neiras de agir de cada família e para tentar adaptar-se ao seu caráter. A mãe que leva o Er- nesto nos braços, porque ainda está meio ador- mecido, irá sentir-se mais tranqüila e confiante ao ver que seus costumes sejam respeitados, ou seja, se pegarem o menino nos braços quando o receberem e depois, gradualmente, colocarem- no no solo para que possa mover-se livremente. Quando chega o pai com vontade de jogar um pouco com Helena e fazer brincadeiras com os outros pequenos, podemos afastar-nos ligeira- mente e deixar que se aproxime mais da sua filha e jogue com ela. Quando se recebe as crianças na sala, é con- veniente oferecer diferentes possibilidades de jogo ou atividades tranqüilas (contos, jogos, cantinhos, etc.), para que os pequenos possam incorporar-se livremente à atividade que quei- ram. A organização aberta e flexível favorece a participação dos pais nesse momento do dia. Se o espaço estiver organizado em cantinhos e as crianças puderem brincar nesses espaços quando chegam, facilita sua adaptação à esco- la, ao seu ritmo, sem pressa nem imposições. Cada criança escolhe o que quer fazer e estabe- lece-se um momento de separação mais grada- tivo do mundo familiar. Progressivamente, à medida que a criança sentir-se segura e tran- qüila na escola, já não necessitará que os fami- liares fiquem, nem que a ajudem a integrar-se aos jogos da sala. Às vezes, é necessário explicitar algumas ques- tões de relacionamento... Há certos familiares que, por terem pouca confiança, não sabem ain- da o que fazer no momento da chegada; então, comportam-se de maneira pouco adequada. Às vezes, permanecem muito tempo com a crian- ça nos braços e não sabem como se despedir, se saem precipitadamente ou às escondidas para que a criança não chore ou mostre-se inquieta, negativa ou desorientada. É preciso explicar para as mães e os pais (na reunião de início de curso) os objetivos educa- tivos desse momento e dar a eles algumas estra- tégias de atuação, para a situação ficar mais fácil para todos, o que ajuda a criar segurança para a criança. Quando se percebe que isso se torna difícil para a família, é preciso conversar com os seus membros e ajudá-los a sentirem-se mais cômodos na escola, especialmente se ve- mos que isso provoca desconcerto ou agonia na criança. Decisões institucionais com relação à acolhi- da. Em nível de escola, é preciso tomar decisões claras e comuns para os diferentes grupos, fa- vorecendo a coerência e a boa qualidade de ação do centro. Especialmente na creche, às vezes, é preciso fazer revezamento de pessoal ou troca de turno e não é a educadora que recebe a criança de manhã cedo. Nesse caso, é preciso explicar com antecedência aos pais e às mães e esperar um pouco antes de começar esses turnos. No caso em que não seja possível, é preciso preparar um pequeno processo de adaptação de familiares e crianças para com essa outra pessoa de referên- 104 BASSEDAS, HUGUET & SOLÉ cia que deverá dispor de tempo para coordenar- se e trocar informações com a educadora do grupo. Nos centros de 3 a 12 anos, é preciso decidir quanto tempo será dedicdo para a acolhida e em que horário será a entrada na escola; onde se realizará; quem o fará; como se realizará: ti- pos de intervenção, tipos de organização da tur- ma, informação e orientações aos pais e às mães; se será usado algum tipo de instrumento para fazer as comunicações escritas com os familia- res (quadro de notas, caderneta de comunica- ções pessoais família-escola, folhas para notas, agendas, etc.), quando necessitamos deixar al- guma informação ou comunicação importan- te. Em qualquer caso, são questões que preci- samos tratar no projeto do centro e sobre os quais se precisachegar a um acordo e tomada de de- cisões. O reencontro do grupo e a rodinha Quando já chegaram todas as crianças, é o momento do reencontro com todo o grupo; é o momento que muitos professores dedicam para fazer a rodinha, para ver se estão todas; em caso de faltar alguma, verificar o que ocorreu e como pode explicar isso ao grupo. Com essas atividades, a criança vai toman- do consciência de grupo, vai conhecendo os companheiros e as companheiras e vê que na escola também ocorrem as experiências que existem fora dela. Dependendo do dia e da atenção que dedi- camos aos pequenos, esse é o momento para apresentar um conto infantil, algum aconteci- mento escolar ou pessoal e de estabelecer rela- ções entre fenômenos, situações ou pessoas. Nesse momento, também podemos retomar e compartilhar com o grupo pequenas informa- ções ou acontecimentos extra-escolares que os pais proporcionaram ao trazê-los ou escreveram na caderneta de comunicação família-escola. No grupo dos maiores, também é o momento de repartir ou de recordar alguma tarefa (bus- car os babeiros, organizar a pequena cozinha, regar as plantas, etc.) e de explicar o que será feito durante o dia. Isso é especialmente impor- tante para que participem e entendam mais a vida escolar, para favorecer sua orientação e para potencializar sua capacidade de antecipar e pre- ver as diferentes situações. Embora consideremos um momento inte- ressante e aconselhável no decorrer de toda a etapa, é preciso cuidar para que não seja muito prolongado e as crianças percam a motivação, nem que se converta em uma atividade rotinei- ra e pouco interessante. A atividade proposta É habitual propor, como continuidade, uma atividade coletiva, individual ou em pequenos grupos, de acordo com a idade das crianças, para trabalhar determinados conteúdos. É o momen- to em que se propõe atividades que requerem uma certa atenção e concentração e, nas últi- mas turmas da creche, as crianças começam a perceber como “de trabalho”. Aqui se deve esta- belecer algumas combinações necessárias ao desenvolvimento da atividade, as quais devem ser entendidas, observadas e cumpridas; essas requerem um certo grau de esforço e apresen- tam uma certa dificuldade, sempre resolvidas com a ajuda necessária. Na creche, esse momento deve ser mais fle- xível e adaptar-se ao estado de ânimo dos pe- quenos ou a outros fatores circunstanciais. O momento do pátio e dos jogos ao ar livre A estada fora da sala não se realiza sempre exatamente na mesma hora e com a mesma duração. É preciso ser receptivo e flexível para saber propor cada atividade no momento ade- quado, quando as crianças mostrarem-se ne- APRENDER E ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 105 gativas por estar em um espaço fechado, com ruído e com requerimento de atenção; também quando se percebe que o grupo necessita mo- ver-se com mais liberdade, gritar ou passear ao ar livre. Cada grupo sai para o pátio, procurando os seus cantinhos, jogos e brinquedos preferidos; aos poucos, começam a dominar aquele espaço exterior. Convém evitar, sempre que possível, a aglomeração de muitos meninos e meninas no pátio. Os turnos, a distribuição dos grupos e, in- clusive, a possibilidade de reservar um espaço para os menores (como é feito em muitas esco- las) contribuem para a qualidade desse momen- to. Mesmo que o ar livre, provavelmente, seja uma atração comum nessas idades, pode ocor- rer que os menores apresentem uma certa ago- nia ao dirigirem-se para fora e, nesse caso, ne- cessitarão de preparação. Isso se dá, sobretudo, no início do ano e com as turmas de maternais; convém criar espaços acolhedores, para que cada grupo brinque tranqüilo, sob a vigilância de sua educadora. À medida que vão aprenden- do e que se tornam mais autônomos nos deslo- camentos dentro da escola, sabendo localizar a sua educadora e aceitando também a atenção de outras pessoas, já podem ocupar outros es- paços do pátio e não necessitam de um específi- co para eles. As dificuldades de adaptação das crianças maiores da creche, provavelmente, não ultra- passarão um pequeno processo de adaptação, depois do qual elas sairão contentes, com von- tade de correr e brincar livremente. Para os maiores, que já começam a estabe- lecer separações entre brinquedo, jogo e traba- lho, e dos quais se começa a exigir mais esforço e maior atenção, esse momento representa um momento esperado, em que podem descansar depois de ter trabalhado e jogar ou brincar com seus companheiros e com suas companheiras, escolhendo a atividade a seu gosto. Do ponto de vista organizacional, como dis- semos, é muito recomendável que os centros – especialmente os de educação infantil e primá- ria – tomem decisões para evitar grandes aglo- merações de crianças no pátio, como também a convivência de crianças muito pequenas com outras muito grandes, no mesmo espaço. O momento do meio-dia Esse momento abrange desde a preparação para o almoço até o final do “soninho” ou do descanso (para os mais grandinhos). Trata-se de um momento muito importante, no qual aprendem muitas coisas e desenvolvem a sua autonomia. Nessa etapa, convém que o ambi- ente seja na mesma sala ou em um outro espa- ço próprio e isolado. Nas escolas de 3 a 12 anos, não é recomen- dável que permaneçam todos juntos no almo- ço, com muitos grupos diferentes, uma vez que os pequenos necessitam de um ambiente mais familiar, que lhes proporcione tranqüilidade e segurança. Esse momento deve estar bem inte- grado à jornada do dia, para que a criança o perceba como uma continuidade das ativida- des anteriores. No caso de ter ajuda de outros profissionais ou de pessoas específicas, a mu- dança deve ser gradual; é preciso garantir o tem- po necessário e dividir bem as tarefas que ca- bem a cada um. É importante, também, pro- gramar reuniões de coordenação e fazer uma programação, segundo referências apresentadas no item 3.3. deste capítulo. É importante prever a seqüência que será seguida para poder identificar os conteúdos que devem ser trabalhados e os aspectos específicos correspondentes a cada momento: a prepara- ção do momento da refeição, o momento de comer, junto à mesa, depois da comida, o des- canso ou o “soninho”, o momento de acordar e de iniciar outras atividades. A tarde O período da tarde costuma ser tranqüilo. As crianças vão levantando e costumam estar relaxadas, após terem descansado. 106 BASSEDAS, HUGUET & SOLÉ Às vezes, a creche não dá a devida impor- tância a esse momento, talvez por estar acostu- mada a fazer atividades menos planejadas, de acordo com o tempo que resta e conforme estão as crianças pequenas. Porém, trata-se de um período que permite uma relação mais indivi- dualizada e tranqüila com as crianças e com os familiares que começam a vir buscá-las. Nesse momento, pode-se realizar atividades descentralizadas e deixar que joguem com os joguinhos e os objetos que estão ao seu alcan- ce. Às vezes, podem sair ao pátio até o momento da merenda. No jardim da infância, após terem dormido ou descansado, precisam calçar os sapatos, la- var o rosto e, então, passam a realizar as ativi- dades previstas para esse momento. Pode-se pro- por uma atividade que não seja muito extensa e, à medida que a concluem, comecem a brin- car nos diferentes “cantinhos” da sala. Depois podem sair um pouco para o pátio até a hora da merenda. Aos poucos, se a hora da saída tam- bém for flexível, as mães e os pais vão chegan- do e seus filhos podem mostrar-lhes o que fize- ram durante o dia ou como colaborar para guar- dar os joguinhos que foram utilizados. Os momentos de transição Os momentos de mudança de atividade e os momentos de transição entre um período e ou- tro, nessa idade, envolvem muito tempo, no qual é preciso trabalhar o domínio dos hábitos mais básicos de autonomia. É preciso planejar com cuidado tais momentos, para que não se tornem momentos de longa espera e aborrecidos, nos quais facilmente o grupo se descontrola e fica ansioso. Pode-se recorrer a técnicas diversas ao agru- par as crianças, como, por exemplo, quandoé preciso que se desloquem e realizem diferentes atividades: as de três anos podem ir ao banhei- ro em grupos, enquanto as demais ficam na sala jogando; para buscar o lanche, pode ser por me- sas, enquanto as outras colocam as toalhinhas ou distribuem os guardanapos. É evidente que, quanto mais adequadamente estiverem distri- buídos os espaços, de acordo com as necessida- des correspondentes às idades, mais fácil será de evitar as esperas que podem ser muito exten- sas e pesadas (p. ex., se tiver lavabo acoplado à sala, instalar uma divisória de separação, etc.). A organização do espaço Cada escola é diferente em sua estrutura fí- sica, o que, naturalmente, não foi decisão dos professores: as medidas, os espaços e as deter- minadas distribuições são fixas. O que é possí- vel é adaptar os espaços às necessidades educa- tivas do centro. Se nos fosse perguntado se o espaço condi- ciona o tipo de intervenção educativa e a rela- ção que se estabelece na escola, com certeza, a maioria de nós responderia que, ainda que não seja uma condição determinante, o espaço e a sua organização têm grande influência no bem- estar dos profissionais e, ainda mais, das crian- ças pequenas. As crianças necessitam de espa- ços abertos e com o mínimo de condições higi- ênicas e físicas (luz, ventilação, amplitude, etc.) para sentirem-se à vontade. Se o espaço for muito pequeno, pouco iluminado e não-aco- lhedor provavelmente vai gerar apatia, agressi- vidade, nervosismo e uma sensação de incômo- do nas crianças. É preciso decorar e organizar o espaço de maneira que fique acolhedor, seguro, amplo e funcional para os deslocamentos. Um espaço acolhedor, harmonioso e funcional, mesmo que não garanta um comportamento adequado, é uma condição básica para consegui-lo. Espaços e necessidades Ao considerarmos as pessoas que utilizam os espaços da escola, devemos lembrar das cri- anças, dos profissionais, do pessoal que traba- lha indiretamente com as crianças, dos pais que trazem seus filhos: cada um tem diferentes ne- cessidades, relacionadas com a função que de- esaito Retângulo