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PRÁTICA CLÍNICA O sono é indiscutivelmente algo indispensável para a manutenção da saúde de todos os seres humanos. Assim, o primeiro ponto a ser comentado é que o seu conceito central se passa por um estado facilmente reversível de reduzida interação e responsividade com ambiente. Seguindo esse grau de importância, o sono exerce um forte impacto sobre o bem-estar emocional, físico e cognitivo, permitindo uma precisa recuperação do corpo após atividades e garantido o pleno funcionamento subsequente. Muito além do que já se conhece sobre os benefícios do sono, existe, ainda, uma vertente alternativa de teóricos que consideram este estado fisiológico como algo místico. Contudo, entre as várias definições e suposições, o que se tem de concreto no meio científico é que esse é um tema complexo, que ainda não se pode ser explicado por completo. O IMPACTO DA PRIVAÇÃO DE SONO A inclusão do estudo do sono na rotina do profissional nutricionista é algo relativamente recente, mas de extrema importância clínica. De fato, sabe-se que, de 1950 até os dias atuais, foi constatado uma redução de 2 horas na duração do sono. Ainda, a nível mundial, foi observado que aproximadamente 79% das pessoas dormem menos que 7 horas por noite. No Brasil, uma pesquisa da sociedade brasileira de neurofisiologia com 22518 participantes, em 2017, trouxe que 45% da amostra apresentava uma má qualidade de sono e 52% relataram cansaço no período diurno. O consenso da Academia Americana de Medicina do sono e da sociedade de pesquisa do sono trás, em uma recente publicação, que a duração ideal de sono, visando manutenção de todas as requisições fisiológicas, é de 7 a 9 horas de por noite para adultos (18-60 anos). Vale ressaltar que esses valores são baseados de acordo com a idade, o que resulta em uma recomendação variada da duração de sono para diferentes faixas etárias. Seguindo esse parâmetro de duração, dormir 6 horas ou menos por noite já se caracteriza como uma restrição de sono. De maneira geral, na literatura científica o que se descreve é que dormir menos de 6 horas por noite está ligado diretamente e indiretamente ao aumento de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças coronárias e maior mortalidade. AUMENTO DO CONSUMO ALIMENTAR É bem descrito que o o estresse, seja ele induzido por um período de inanição (restrição de alimentos) ou por uma noite mal dormida, provoca uma necessidade momentânea de recompensa cerebral. Na prática clínica, é relativamente comum essa associação de restrição de sono com aumento do consumo alimentar, sobretudo por alimentos altamente palatáveis, como doces ou gordurosos - Alteração do apetite regulado por hormônios -Alteração da recompensa pelo cérebro - Alteração do gasto energético basal ↑Snacking/↑Ingestão ↑Binge Drinking ↓Ingestão de proteína Alteração da ingestão Alteração do sono 1 - Balanço proteico negativo 2 - ↑Resistência insulínica 3 - ↑ Infiltração de gordura IMPACTO IMUNOLÓGICO O contexto de ambiente estressor, provocado pela restrição de sono, gera também repercussões no ambiente imunológico. Dormir menos que o recomendado (restrições severas de 4-5 horas de sono) levam a queda na atividade de células NK, assim como em CD 16+, CD 56+ e CD +57, gerando uma suceptibilidade maior a infecções virais. Além disso, é descrito também uma redução da resposta a vacinas. Resposta a vacina Interferon-gama (INF-γ) Arividade de células NK~30% Células CD16+, CD56+, CD 57+ Expansão clonal Susceptibilidade a infecções virais (EX:gripe) Inflamação 4-5 Horas de sono DISRUPÇÃO CIRCADIANA E IMPACTO METABÓLICO O ciclo circadiano humano atua organizando o metabolismo, fisiologia e comportamento em ritmos de 24 horas, conforme um marcapasso central (núcleo supraquiasmático no cérebro) e seus relógios periféricos, localizados em fígado, músculo e tecido adiposo. Dito isso, é possível que o grande fator motivador do debate sobre a qualidade, tempo e horário correto do sono é a presença deste tipo de ciclo biológico (ciclo circadiano) nos sistemas orgânicos. A alteração no tempo e qualidade do sono induzem uma desregulação do padrão considerado normal para as células e tecidos. Neste sentido, é observado uma resposta, sobretudo, a nível hormonal. No fígado, ocorrem alterações no metabolismo lipídico e glicídico, estimulado também pela redução na secreção de insulina e glucagon pelas células alfa e beta da porção endócrina do pâncreas. Zeitgeber Alteração da cronologia ↓Duração do sono ↓Qualidade do sono Homeostase do cérebro Sinais endócrinos Sistema nervoso autônomo Metabolismo lipídico e glicídico ↓Sinais de saciedade ↓Secreção hormonal em células alfa e beta ↑Eixo do estresse ↓Sensibilidade insulincia ↑Atividade muscular ↑Ingestão alimentar ↓Gasto energético O considerado “dormir menos” também é descrito como um potente efeito estressor, resultando em aumento da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, estimulando a secreção de cortisol, que em níveis elevados, trás consequências danosas ao ambiente metabólico e imunológico. INVESTIGAÇÃO DO SONO: PRÁTICA CLÍNICA Compreendido o grau de importância da qualidade e da duração adequada do sono, é fundamental que o profissional nutricionista tenha a sua disposição todo um referencial teórico e prático para investigar, identificar e tratar do sono do seu paciente, através de uma conduta nutricional assertiva, além de orientações práticas de higiene do sono. FISIOLOGIA DO SONO O sono humano pode ser dividido em fases, quanto a sua frequência de ondas, que são mensuradas através de medidas eletrofisiológicas, como a eletroencefalografia (EEG) e eletromiografia (EMG), além da eletro-oculografia. Os estágios e fases do sono ocorrem de maneira cíclica durante todo o período em que o indivíduo se encontra dormindo. Seguindo as recomendações mencionadas anteriormente, o padrão fisiológico de 8 horas de sono representa 5 ciclos completos S1 S2 S3 S4 REM 24 1 2 3 4 5 6 7 Despertar Es tá gi o do s on o Tempo (em horas) É valido comentar que as fases do sono, formam uma processo cíclico, onde cerca de 75% das 8 horas de sono é composto pelo sono não REM (que é dividido em 4 fases) e 25% em sono REM. Transição entre sono e vigília. Alguns indivíduos tem dificuldades de entrar nessa fase, devido ao grau de ansiedade. Fase 1 Descrita como um sono de conexão, onde é observado um relaxamento muscular, diminuição da temperatura corporal e presença de bradicardia Fase 2 Classificado como sono de ondas lentas, onde é descrito uma liberação de alguns hormônios, como a secreção de GH e leptina. Fase 3 Sono profundo, consolidação da memória e transição para o sono REM Fase 4 Atividade cerebral semelhante a vigília Fase de ocorrência dos sonhos Humor, criatividade e sexualidade Benzodiazepínicos e apnéia reduzem significativamente essa fase O cérebro passa a funcionar semelhantemente ao seu estado acordado, havendo uma elevação da respiração e da pressão sanguínea Sono REM O sono e vigília ditam boa parte o ritmo interno de funcionamento de uma região anatômica cerebral chamada de hipotálamo, que tem no seu núcleo supraquiasmático uma grande responsividade ao que consideramos como claro (luz) ou escuro (ausência de luz). SONO NREM SONO REM Estágios do sono O PAPEL DA MELATONINA Luz/Dia Noite/ausência de luz Trato retino- hipotalâmico Inibição Estimulação Núcleo supraquiasmático Glândula pineal Triptofano 5-Hidroxitriptofano 5-Hidroxi- indolacetaldeido 5-Metoxitriptofol Ácido 5-metoxi- indolacético N-acetilserotonina Melatonina Triptofano- hidroxilase NATSerotonina Luz/Dia Noite/ausência de luz Glândula pineal Descarboxilase MAO B HIOMT Síntese e liberação de melatonina Conhecida como o sinalizador central da indução do sono, a melatonina é um hormônio que, em conjunto com o cortisol, acopla o que conhecemos como ciclo sono e vigília. A ausência de luz é o principal motivador da síntese e secreção de melatonina pela glândula pineal. AVALIANDOA QUALIDADE DO SONO Uma forma interessante para realizar essa avaliação é aplicando o questionário de Pittsburgh para avaliar a qualidade do sono. Contudo, antes disso, é requisitado conhecer o tempo de latência do sono do indivíduo. LATÊNCIA DE SONO A latência do sono é referente ao tempo total de transição entre o sono e a vigília. Quanto menor esse valor, mais tempo o indivíduo passa dormindo. Uma latência maior que 30 minutos por mais de 6 meses é um dos critérios para o diagnóstico de insônia primária. EFICIÊNCIA DO SONO A eficiência do sono pode ser calculada através da quantidade de tempo gasto dormindo (minutos) sobre a quantidade total de tempo na cama (min) x 100. Uma noite de sono eficiente é superior a 80%. QTDE de tempo gasto dormindo (min) QTDE de tempo na cama (min) x 100 DESPERTARES NOTURNOS Esse termo representa a vigília após o início do sono, ou seja, acordar durante a noite. Cabe ressaltar que o número de despertares noturnos aumenta com o passar da idade, reduzindo o tempo total de sono. DESPERTARES NOTURNOS O tipo mais frequentemente observado em estudos é a privação parcial é descrita como a redução nas horas de sono, que se mantem por algum período. Existe ainda a privação total (ausência total de sono) e a privação seletiva, onde alguma fase do sono foi prejudicada ou abolida. CONDUTA NUTRICIONAL Entre os micronutrientes, a oferta de ferro, cobre, vitamina D, zinco, magnésio e vitamina B12 merecem um destaque especial. Entre os macronutrientes, as proteínas da dieta atuam fornecendo triptofano e outros aminoácidos essenciais ao organismo. Conforme mencionado anteriormente, o triptofano é o aminoácido base para a síntese do neurotransmissor serotonina, que pode ser convertida em melatonina. Tendo em vista que o nutricionista não pode prescrever a suplementação de melatonina, a principal estratégia a ser adotada neste tipo de caso é a oferta de todos os nutrientes que favorecem a produção endógena de melatonina. Após a absorção a nível intestinal, o triptofano necessita de um transportador para ultrapassar a barreira hematoencefálica. A elevação de insulina, proporcionada pela ingestão de carboidratos, facilita esse tipo de transporte. No ambiente cerebral, o triptofano pode ser direcionado para a síntese de niacina (vitamina B3), o que pode representar prejuízos na produção de serotonina e melatonina. Assim, um ponto interessante é ofertar no plano alimentar a niacina em condições ideais, reduzindo a necessidade fisiologica de obter essa vitamina através do triptofano. Além disso, a via de síntese de melatonina requer, ainda, a presença de folato (para transformar o triptofano em 5-HTP), Vitamina B6 (atuando na conversão de 5-HTP para serotonina) e magnésio para favorecer a conversão de serotonina em melatonina. FAVORECENDO A SÍNTESE DE MELATONINA Indiretamente, o ômega 3 também se torna um grande aliado para a síntese de melatonina, por meio da potencialização da ação da enzima AANAT (aralquilamina N-acetiltransferase). Essa enzima atua na conversão de serotonina em N-acetil-serotonina, uma intermediária da síntese de melatonina. sugestão de jantar 454 mg de triptofano 2,37 mg de Zinco 37,16 mg de magnésio Omelete de frango e aveia fornece: Ofertando nutrientes adequados para a síntese de melatonina Sugestão 1 Sugestão 2 103,4 mg de triptofano 1,29 mg de Zinco 71,13 mg de magnésio Vitamina de abacate com aveia e cacau fornece: Um ponto que se deve levar em consideração é o elevado consumo de estimulantes. Sabe-se que a cafeína, por exemplo, possui como mecanismo de ação o antagonismo aos receptores de adenosina, além da ligação a outros tipos de receptores de adenosina que possuem um caráter mais estimulatório no sistema nervoso central. Portanto, para melhorar a qualidade do sono é importante reduzir a quantidade de cafeína, principalmente a partir do final da tarde e para indivíduos que são metabolizadores lentos de cafeína. MELHORANDO O TEMPO DE LATÊNCIA DO SONO Doses menores do que 1 g de triptofano, estão relacionadas ao aumento do tempo total de sono, do tempo de latência do sono e da melhora de outros fatores subjetivos relacionados. No que se refere a eficiência do sono, a L-theanina (em uma dose de 200mg) é interessante devido ao seu efeito de atuante sobre os receptores de glutamato, reduzindo o influxo de cálcio para dentro do neurônio e diminuindo, principalmente, a resposta do glutamato, uma resposta excitatória, portanto, atua na modulação parassimpática do Sistema Nervoso Central, com ação relaxante. Outro ponto interessante é que a L-theanina, em geral, não causa efeito rebote sobre testes cognitivos no dia seguinte, diferentemente dos moduladores de gaba, como passiflora e mellisa, que podem ocasionar em um efeito de sonolência no dia seguinte. O consumo de 2 kiwis 1 hora antes de dormir, por semanas, foi eficaz para melhorar a qualidade do sono, houve redução de 28% dos despertares noturnos, de 35% do tempo de latência do sono, além disso, aumentou em 13% o tempo total de sono e em 5,4% a eficiência do sono, visto que o kiwi é rico em fitomelatonina, magnésio e outras vitaminas e minerais que atuam na síntese de melatonina. Menos comum no Brasil, o suco de cereja também é um forte aliado. MELHORA NA EFICIÊNCIA DO SONO Os neurotransmissores com características mais inibitórias como o GABA, que normalmente possuem entrada de cloreto, um íon negativo para dentro do neurônio, reduzindo a propagação elétrica. O glutamato liga-se abrindo os canais de sódio, com características mais positiva, deixando o neurônio com característica mais responsiva. Glutamato - excitatório. GABA - inibitório. Algumas ervas podem ser suplementadas para reduzir os sintomas de ansiedade, aumentando o GABA e reduzindo o glutamato. A camomila (Matricaria recutita) e a Melissa officinalis ligam-se a receptores gabaérgicos, principalmente em sua subunidade alfa. ESTRATÉGIAS PARA CONTROLE DA ANSIEDADE ANSIEDADE ANTES DE DORMIR Passiflora incarnata --------------------------------------------------------- 300mg (extrato seco, 7% de vitexina) Melissa officinalis ------------------------------------------------------------ 200mg (extrato seco, 5% de ácido rosmarínico) Modo de Uso: sachê , 1 dose 30 minutos antes de dormir. ANSIOLÍTICO SEDATIVO Passiflora incarnata --------------------------------------------------------- 200mg Melissa Officinalis ----------------------------------------------------------- 150mg Matricaria recutita ---------------------------------------------------------- 150mg L-Teanina ----------------------------------------------------------------------- 200mg Modo de uso: sachê, 1 dose 1 hora antes de dormir. SUGESTÕES DE FÓRMULAS LATÊNCIA E EFICIÊNCIA DO SONO L-Triptofano ------------------------------------------------------------------ 500 mg L - Teanina -------------------------------------------------------------------- 200 mg Modo de uso: capsula entérica, 1 dose as 21:00 SINTESE DE MELATONINA Zinco glycinato quelato ----------------------------------------------------- 20 mg Cobre quelato -------------------------------------------------------------------- 2mg Magnésio Glycil Glutamina Quelato ------------------------------------ 50mg Niacina ---------------------------------------------------------------------------- 10mg MB12 ------------------------------------------------------------------------------ 0,3mg Ácido fólico -------------------------------------------------------------------- 400mg Piridoxina ------------------------------------------------------------------------ 50mg Modo de uso: capsula, 1 dose as 21:00
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