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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Engenharia Campus de Bauru Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EM ÔNIBUS URBANOS E SEUS EFEITOS SOBRE O MOTORISTA LUIZA REIS SIMIONATO Engenheira Civil Bauru/SP Junho de 2018 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Engenharia Campus de Bauru Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EM ÔNIBUS URBANOS E SEUS EFEITOS SOBRE O MOTORISTA LUIZA REIS SIMIONATO Engenheira Civil Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Estadual Paulista para obtenção do título de Engenheira de Segurança do Trabalho. Orientador: Prof. Dr. João Cândido Fernandes Bauru/SP Junho de 2018 3 Simionato, Luiza Reis. Avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbanos e seus efeitos sobre o motorista / Luiza Reis Simionato, 2018 77 f. Orientador: João Cândido Fernandes Monografia (Especialização)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia, Bauru, 2018 1. Ruído em ônibus. 2. Perda de audição. 3. Segurança do trabalho. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia. II. Avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbanos e seus efeitos sobre o motorista. 4 Dedico a todos que me apoiaram e incentivaram, em especial aos meus pais Luiz Carlos e Simone, aos meus irmãos Abrom, Astor e André pelo amor incondicional, e ao meu namorado Fábio pelo companheirismo. 5 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me presenteado com esta oportunidade, sempre me iluminando e dando força e coragem para caminhar com fé e perseverança. Ao meu orientador, Prof. Dr. João Cândido Fernandes, pela presença essencial e determinante na elaboração desse trabalho, sempre levantando discussões e incentivando o melhoramento contínuo do mesmo. Aos membros do Setor de Trânsito da Prefeitura Municipal de Agudos e aos motoristas dos ônibus urbanos municipais pelas informações fornecidas e pela ajuda na obtenção dos dados da pesquisa. A todos os professores do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pelos conhecimentos transmitidos. A todos os colegas de turma e amigos, em especial às minhas amigas, Beatriz Raimundo Zíglio, Isabela Luna Sé, Giovanna Ghirardello, Lívia Mattos de Souza Quitério e Melissa Miyeko Menezes Kishimoto, pelo apoio constante ao longo do curso. 6 “Confie a Javé o que você faz, e seus projetos se realizarão.” Provérbios 16:3 7 SIMIONATO, Luiza Reis. Avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbanos e seus efeitos sobre o motorista. 77 f. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho). Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2018. RESUMO A necessidade de mobilidade urbana decorrente do crescimento das cidades gerou um aumento na utilização do serviço de transporte coletivo. No referido modal, o ônibus é o mais utilizado no Brasil e a falta de atenção e investimentos nesta área causa insatisfação tanto para os usuários quanto para quem neste trabalha. Dentro desse contexto, o objetivo deste estudo foi analisar os níveis de ruído a que estão expostos os motoristas de ônibus urbanos do município de Agudos/SP. Para verificar os níveis de ruído foram realizadas medições com dosímetro acústico em 10 motoristas de ônibus e para avaliar o nível de desconforto sentido por estes foram aplicados questionários. Os resultados revelaram que os níveis de ruído equivalente estavam de acordo com as normas NHO 01 e NR 15, isto é, inferiores a 85 dB(A), não apresentando risco potencial de surdez ocupacional aos trabalhadores. Porém, em 60% dos veículos analisados, os níveis de ruído estavam acima de 65 dB(A), podendo causar perda de concentração e do rendimento, além de tornar o ambiente de trabalho desconfortável. Com relação à dose diária de ruído, todas resultaram inferiores a 100%, estando, inclusive, abaixo do limite de ação. A análise dos questionários mostrou que os efeitos da exposição ao ruído na saúde ocupacional causam estresse ao trabalhador, onde o ruído mais incômodo advém da comunicação dos passageiros. Portanto, são de extrema importância a manutenção dos veículos e a constante avaliação, através de exames de rotina para prevenção de doenças direta ou indiretamente causadas pela exposição ao ruído. Palavras-chave: ruído em ônibus, perda de audição, segurança do trabalho. 8 SIMIONATO, Luiza Reis. Assessment of noise levels in urban buses and their effects on the driver. 77 f. Monograph (Specialization in Engineering Work Security). State University Paulista, Bauru, 2018. ABSTRACT The need for urban mobility due to the development of cities generated an increase in the utilization of collective transportation service. At this modal, the bus is the most used in Brazil and the lack of attention and investments in this area causes dissatisfaction as much for users as for those who work at it. Within this context, the objective of this study was to analyze the noise levels to which are exposed the urban bus drivers of the Agudos/SP city. To verify the noise levels, were made measurements with acoustic dosimeter on 10 bus drivers and to assess the level of discomfort felt by these were applied questionnaires. The results showed that the equivalent noise levels were in accordance with the NHO 01 and NR 15 norms, that is, below 85 dB (A), not exhibiting a potential risk of occupational deafness to the workers. However, in 60% of the analyzed vehicles, the noise levels were above 65 dB (A), which can cause loss of concentration and yield, as well as making the work environment uncomfortable. About the daily dose of noise, all resulted below 100%, being even below of the action limit. The analysis of the questionnaires showed that the effects of exposure to noise in occupational health cause stress to the worker, where the most uncomfortable noise comes from the communication of the passengers. Therefore, are extremely important the maintenance of the vehicles and the constant assessment, through routine tests for the prevention of diseases directly or indirectly caused by exposure to noise. Keywords: noise in buses, audition loss, work security. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Anatomia do ouvido humano. ................................................................... 21 Figura 2 - Ônibus urbano de transporte coletivo estudado. ...................................... 40 Figura 3 - Dosímetro acústico IDAC-100. .................................................................43 Figura 4 - Calibrador acústico ICAL-100................................................................... 43 Figura 5 - CD de instalação do software SoftDac. .................................................... 43 Figura 6 - Telas do software SoftDac. ...................................................................... 44 Figura 7 - Telas do software SoftDac. ...................................................................... 44 Figura 8 - Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano. ...................... 45 Figura 9 - Fixação do dosímetro no motorista. ......................................................... 47 Figura 10 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NHO 01. . 49 Figura 11 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NR 15. .... 50 Figura 12 - Idade dos motoristas. ............................................................................. 55 Figura 13 - Tempo de atuação como motorista. ....................................................... 55 Figura 14 - Efeitos sobre a saúde provocados pelo ruído. ....................................... 56 Figura 15 - Ruído mais incômodo. ............................................................................ 57 Figura 16 - Pressão alta e dificuldade para dormir. .................................................. 57 Figura 17 - Ônibus 1: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 65 Figura 18 - Ônibus 1: Leq (dB). ................................................................................ 66 Figura 19 - Ônibus 1: Lavg (dB). .............................................................................. 66 Figura 20 - Ônibus 2: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 67 Figura 21 - Ônibus 2: Leq (dB). ................................................................................ 67 Figura 22 - Ônibus 2: Lavg (dB). .............................................................................. 68 Figura 23 - Ônibus 3: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 68 Figura 24 - Ônibus 3: Leq (dB). ................................................................................ 69 Figura 25 - Ônibus 3: Lavg (dB). .............................................................................. 69 Figura 26 - Ônibus 4: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 70 Figura 27 - Ônibus 4: Leq (dB). ................................................................................ 70 Figura 28 - Ônibus 4: Lavg (dB). .............................................................................. 71 Figura 29 - Ônibus 5: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 71 Figura 30 - Ônibus 5: Leq (dB). ................................................................................ 72 Figura 31 - Ônibus 6: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 72 10 Figura 32 - Ônibus 6: Leq (dB). ................................................................................ 73 Figura 33 - Ônibus 7: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 73 Figura 34 - Ônibus 7: Leq (dB). ................................................................................ 74 Figura 35 - Ônibus 8: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 74 Figura 36 - Ônibus 8: Leq (dB). ................................................................................ 75 Figura 37 - Ônibus 9: Nível de Pressão Sonora (dB). .............................................. 75 Figura 38 - Ônibus 9: Leq (dB). ................................................................................ 76 Figura 39 - Ônibus 10: Nível de Pressão Sonora (dB).............................................. 76 Figura 40 - Ônibus 10: Leq (dB). .............................................................................. 77 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Considerações técnicas e a situação recomendada em função da dose diária ou do NEN. ...................................................................................................... 28 Quadro 2 - Tempo máximo diário de exposição permissível em função do nível de ruído. ......................................................................................................................... 29 Quadro 3 - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente. ..................... 31 Quadro 4 - Níveis de ruído para conforto acústico dos ambientes. .......................... 32 Quadro 5 - Níveis limites de ruído segundo a OMS. ................................................ 33 Quadro 6 - Valores de orientação para o ruído da comunidade em ambientes específicos. ............................................................................................................... 34 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NHO 01. ... 48 Tabela 2 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NR 15. ...... 50 Tabela 3 - Níveis limites de ruído segundo a OMS correlacionados com as medições realizadas. ................................................................................................................. 51 Tabela 4 - Medições de ônibus diferentes em trajetos iguais segundo NHO 01. ...... 52 Tabela 5 - Medições de ônibus diferentes em trajetos iguais segundo NR 15.......... 52 Tabela 6 - Medições de ônibus iguais em trajetos diferentes segundo NHO 01. ...... 53 Tabela 7 - Medições de ônibus iguais em trajetos diferentes segundo NR 15. ......... 53 Tabela 8 - Medições de ônibus iguais em trajetos iguais segundo NHO 01. ............ 54 Tabela 9 - Medições de ônibus iguais em trajetos iguais segundo NR 15. ............... 54 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas dB: Decibel EPI: Equipamento de Proteção Individual Hz: Hertz IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LAeq: Nível Sonoro Equivalente Lavg: Nível Médio Equivalente LE: Limite de Exposição Leq: Nível Contínuo Equivalente MTE: Ministério do Trabalho e Emprego NBR: Norma Brasileira NE: Nível de Exposição NEN: Nível de Exposição Normalizado Neq: Nível Equivalente NHO: Norma de Higiene Ocupacional NPS: Níveis de Pressão Sonora NR: Norma Regulamentadora OMS: Organização Mundial da Saúde PAINPSE: Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados PAIR: Perda Auditiva Induzida por Ruído SI: Sistema Internacional de Unidades 14 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 16 1.1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................... 16 1.2. OBJETIVOS ................................................................................................... 18 1.2.1. Geral .............................................................................................. 18 1.2.2. Específicos .................................................................................... 18 1.3. CONTRIBUIÇÃO ESPERADA .............................................................................19 1.4. CONDIÇÕES DE CONTORNO ........................................................................... 19 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 20 2.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO SOM .............................................................. 20 2.1.1. Frequência ..................................................................................... 20 2.1.2. Intensidade .................................................................................... 20 2.1.3. Duração ......................................................................................... 21 2.2. DEFINIÇÃO DE RUÍDO..................................................................................... 21 2.3. APARELHO AUDITIVO E SISTEMA DE AUDIÇÃO ................................................... 21 2.4. PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO (PAIR)................................................. 23 2.5. EFEITOS DO RUÍDO SOBRE O CORPO HUMANO ................................................. 23 2.6. RUÍDO CONTÍNUO, INTERMITENTE OU DE IMPACTO ........................................... 24 2.7. LEGISLAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DO RUÍDO......................................................... 25 2.7.1. NHO 01: Avaliação da exposição ocupacional ao ruído ................ 25 2.7.2. NR 15: Atividades e operações insalubres .................................... 30 2.7.3. NBR 10.152 (1987): Níveis de ruído para conforto acústico .......... 32 2.7.4. NR 17: Ergonomia ......................................................................... 33 2.7.5. Organização Mundial da Saúde ..................................................... 33 2.8. DEFINIÇÃO DE NÍVEIS DE RUÍDO E DOSE DE RUÍDO ............................................ 34 2.9. ANÁLISE DO RUÍDO EM ÔNIBUS URBANOS ........................................................ 35 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 40 3.1. MATERIAIS ................................................................................................... 41 3.2. MÉTODOS .................................................................................................... 45 15 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 48 4.1. AVALIAÇÃO OBJETIVA .................................................................................... 48 4.1.1. Comparação entre ônibus diferentes em trajetos diferentes.......... 48 4.1.2. Comparação entre ônibus diferentes em trajetos iguais ................ 52 4.1.3. Comparação entre ônibus iguais em trajetos diferentes ................ 52 4.1.4. Comparação entre ônibus iguais em trajetos iguais ...................... 53 4.2. AVALIAÇÃO SUBJETIVA .................................................................................. 54 4.2.1. Idade .............................................................................................. 54 4.2.2. Tempo de atuação como motorista ............................................... 55 4.2.3. Efeitos sobre a saúde provocados pelo ruído ................................ 56 4.2.4. Ruído mais incômodo .................................................................... 56 4.2.5. Pressão alta e dificuldade para dormir .......................................... 57 5. CONCLUSÕES ................................................................................................ 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 60 APÊNDICE ................................................................................................................ 65 16 1. INTRODUÇÃO 1.1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA Os sistemas de transportes são compostos pelos veículos, vias, terminais e plano de operação. O transporte de uma forma geral é um meio para que outras atividades produtivas possam efetivar-se cabendo, portanto, ao poder público o dever de bem provê-lo para atender o direito dos cidadãos de consumar os seus deslocamentos. Os principais atributos relacionados ao transporte público e ponderados pelo usuário são: a confiabilidade, o tempo de deslocamento, a acessibilidade, o conforto, a conveniência, a segurança e o custo (tarifas). A necessidade de locomoção entre distâncias maiores, em menor tempo e a um custo relativamente acessível provocou um aumento na demanda pelo serviço de transporte público coletivo. Em muitos países o transporte coletivo não tem recebido atenção e investimentos necessários para o adequado funcionamento. A falta de conforto, de segurança e de fiscalização, a má conservação dos veículos e das vias, o barulho, a lotação, entre outros, tem causado insatisfação tanto para os usuários quanto para aqueles que trabalham com o transporte. O constante crescimento da frota de veículos é um dos principais fatores contribuintes para a emissão do ruído nas áreas urbanas. Os autores Álvares e Souza (1992) levantaram dados sobre o ruído de uma forma geral na cidade de Belo Horizonte e concluíram que o trânsito é o maior contribuinte para a poluição sonora na cidade. O som é um fenômeno físico caracterizado por perturbações sonoras que se propagam no meio ambiente, sendo capaz de ser detectado pelo ouvido humano. O ruído, no entanto, é definido como um som indesejável que pode causar danos à saúde como: perda de audição, aumento da pressão arterial, incômodos, por exemplo, perturbação do sono, estresse, tensão, queda do desempenho, irritação, entre outros danos (BISTAFA, 2011). Exposição a níveis sonoros elevados pode conduzir à diminuição permanente da capacidade auditiva por traumatismo a nível do ouvido interno. O 17 risco de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) aumenta com o nível sonoro e com o tempo de exposição, mas depende também das características do som. Fatores relacionados à condição de trabalho tais como o ruído, influenciam diretamente no desempenho das funções do trabalhador. Os motoristas de ônibus estão expostos a ruídos que se originam não somente pelo motor, mas também a outros ruídos oriundos do trânsito como campainhas, buzinas e abertura de portas. A pavimentação inadequada e a comunicação dos passageiros também geram ruído aos condutores. O ruído é ainda produzido pela irradiação direta de várias fontes, como sistema de exaustão, sistema de admissão, sistema de refrigeração, bandagem dos pneus, transporte de cargas soltas, frenagens violentas, partidas bruscas e entrada ou saída em curvas com alta velocidade (ALVES FILHO, 1997). O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através da Portaria n.º 340/2000, enquadra a atividade de condutores de veículos de transporte coletivo de passageiros como um posto de trabalho idêntico ao industrial, com aplicação de toda a legislação trabalhista, inclusive o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) (BRASIL, 2000). No entanto, o uso de EPI acaba gerando confronto com os órgãos de fiscalização de trânsito. O Brasil possui normas e legislações que impõe controles nas emissões de ruído como a Portaria n.º 3.214/1978 do MTE, que estabelece no Anexo I da Norma Regulamentadora 15 (NR 15: Atividades e operações insalubres) os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente. Há também a Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO 01) da Fundacentro que tem por objetivo estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional ao ruído, que implique risco potencial de surdezocupacional. (BRASIL, 1978; FUNDACENTRO, 2001). Em relação ao conforto acústico pode-se citar a Norma Brasileira 10.152/1987 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que estabelece os níveis de ruído para conforto acústico, a Norma Regulamentadora 17 (NR 17: Ergonomia) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomenda níveis máximos de ruído para ambientes de convivência humana (ABNT NBR 10.152, 1987; BRASIL, 1978). 18 Este estudo foi conduzido no município de Agudos, localizado na região centro-oeste do estado de São Paulo, que abriga uma população estimada de 36.880 habitantes (IBGE, 2017). Em agosto de 2017 a Prefeitura Municipal de Agudos adquiriu uma frota de 20 ônibus seminovos, todos do ano/modelo 2006, com motor traseiro e movidos a diesel. Na ocasião, o sistema de transporte coletivo no município empregava 19 motoristas que trabalhavam numa jornada de 8 horas por dia. A frota de ônibus transportava diariamente centenas de pessoas e seu diferencial era ser inteiramente gratuita. Dentro desse contexto, surgiu a necessidade de verificar os níveis de ruído a que estavam expostos os motoristas de tais ônibus, visando subsidiar os gestores do transporte público coletivo do município na tomada de decisão quanto à saúde e segurança de seus funcionários. Para avaliar a exposição ao ruído foi utilizado um dosímetro acústico da marca Incon, modelo IDAC-100, configurado de acordo com as especificações das normas NHO 01 e NR 15. Os dados foram armazenados e posteriormente descarregados e analisados no programa computacional específico, SoftDAC. 1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Geral Avaliar os níveis de ruído a que estão expostos os motoristas de ônibus urbanos do município de Agudos. 1.2.2. Específicos • Medir, por meio de um dosímetro acústico, o nível contínuo equivalente (Leq) no interior dos ônibus e a dose de ruído que o motorista recebe durante a jornada de trabalho. • Comparar o Leq e a dose diária com os limites de exposição ocupacional fixados nas normas vigentes tais como: NHO 01 e NR 15. 19 • Comparar o Leq com níveis de conforto recomendados pela NBR 10.152/1987, NR 17 e OMS. • Avaliar subjetivamente o nível de desconforto causado pelo ruído aos motoristas. 1.3. CONTRIBUIÇÃO ESPERADA Este estudo permitirá conhecer os níveis de ruído no interior dos ônibus urbanos de transporte coletivo do município de Agudos e a dose de ruído a que estão expostos seus condutores. Também possibilitará levantar os eventuais efeitos do ruído sobre a saúde destes. Dessa forma, poderá nortear os órgãos responsáveis pelo transporte público coletivo na tomada de decisão quanto à saúde ocupacional e segurança do trabalhador, implicando assim em uma redução nos custos relacionados à insalubridade e afastamento para tratamento de saúde de seus funcionários. 1.4. CONDIÇÕES DE CONTORNO O presente trabalho se restringiu à investigação do nível contínuo equivalente e da dose de ruído presente apenas nos ônibus da Prefeitura Municipal de Agudos. No estudo foram incluídos os ônibus urbanos de transporte regular de passageiros, escolares e de deslocamento para o trabalho, excluindo outros veículos similares, como interurbanos. Para realização das medições, o dosímetro foi fixado próximo ao ombro direito do motorista, há aproximadamente 10 cm de seu ouvido. Tais medições foram realizadas durante a jornada de trabalho do motorista por um período aproximado de 60 minutos, suficiente para se completar um ciclo de corrida e posteriormente extrapoladas para a jornada de trabalho de 8 horas. O instrumento foi acionado a partir do início da viagem e interrompido em seu final, perfazendo um ciclo completo de trajeto. As medições foram efetuadas com a janela do ônibus aberta, a fim de se obter o nível contínuo equivalente e a dose de ruído real a que o motorista está exposto. 20 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO SOM O som é originado por uma vibração mecânica que se propaga longitudinalmente no ar e atinge o ouvido. Quando essa vibração estimula o aparelho auditivo, ela é chamada de vibração sonora. Assim, o som é definido como qualquer vibração ou conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas (SALIBA, 2014). Iida (2005) define som como movimentos mecânicos bruscos no ambiente que produzem flutuações da pressão atmosférica, se propagam em forma de ondas e, ao atingir o ouvido, produzem a sensação sonora. Um som é caracterizado por três variáveis: frequência, intensidade e duração. 2.1.1. Frequência A frequência do som é o número de oscilações por segundo do movimento vibratório, subjetivamente percebida como altura do som. A unidade de frequência (SI) é dada em ciclos por segundo ou Hertz (Hz). O ouvido humano é capaz de perceber sons na frequência de 20 a 20.000 Hz. Os sons de baixa frequência (abaixo de 1.000 Hz) são chamados de graves e aqueles de alta frequência (acima de 3.000 Hz) são chamados de agudos. Os sons com menos de 20 Hz são chamados de infrassons e os sons com mais de 20.000 Hz são chamados de ultrassons. Esta faixa de frequência entre 20 e 20kHz é definida como faixa audível de frequência ou banda audível (IIDA, 2005). 2.1.2. Intensidade A intensidade do som depende da energia das oscilações e é definida em termos de potência por unidade de área. A gama das intensidades de sons audíveis é muito grande. Assim, convencionou-se medi-las por uma unidade logarítmica chamada decibel (dB). O ouvido humano é capaz de perceber sons de 20 a 140 dB. Os sons normalmente encontrados no lar, tráfego, escritórios e fábricas estão na faixa de 50 dB a 100 dB. Sons acima de 120 dB causam desconforto e, quando atingem 140 dB, a sensação torna-se dolorosa (IIDA, 2005). 21 2.1.3. Duração Os sons podem apresentar curta duração, isto é, menos de 0,1 segundo ou longa duração, acima de 1 segundo (IIDA, 2005). 2.2. DEFINIÇÃO DE RUÍDO Enquanto o som é definido como a sensação produzida no sistema auditivo, o ruído ou barulho é definido como um som indesejável, em geral de conotação negativa, isto é, como um som sem harmonia (BISTAFA, 2011). Para Iida (2005) o ruído é um estímulo desagradável ou indesejável, que pode atrapalhar a percepção do sinal. 2.3. APARELHO AUDITIVO E SISTEMA DE AUDIÇÃO Na Figura 1 é apresentada a anatomia do ouvido humano. Figura 1 - Anatomia do ouvido humano. Fonte: Gozzi (2018). No aparelho auditivo encontram-se três partes: • parte periférica (receptor externo): ouvido; • parte intermediária ou transmissora: nervo auditivo e • parte central (receptor interno): representada pela corticalidade cerebral. 22 O ouvido, órgão periférico da audição, consta de três outras partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. De acordo com Iida (2005) o ouvido externo é constituído pela orelha e pelo conduto auditivo externo, o qual termina na membrana do tímpano. Nesta membrana são provocadas as ondas sonoras. A pressão exercida nas duas faces desta membrana é controlada pelo tubo de Eustáquio, um canal que liga o ouvido médio com a garganta. No ouvido médio, segundo Iida (2005), o som é transmitido através de três pequenos ossos denominados martelo, bigorna e estribo. Esses ossículos absorvem as vibrações do tímpano e as transmitem para outra membrana fina najanela oval, a qual separa o ouvido médio do ouvido interno. Logo que as vibrações chegam ao ouvido interno são convertidas em pressões hidráulicas dentro da cóclea. No interior da cóclea existem células sensíveis que captam as diferenças de pressão e as transformam em sinais elétricos, os quais são transmitidos para o cérebro através do nervo auditivo. No cérebro estes sinais sonoros são transformados em sensações sonoras (IIDA, 2005). Segundo Freitas & Nakamura (2003) o som é o resultado da transmissão de energia nas partículas de ar que se encontram em vibração e se distanciam da fonte sonora. Quando o fluxo de energia sonora incide na membrana timpânica, faz com que essa vibre, saindo de sua posição de equilíbrio e ocorrendo a movimentação da cadeia ossicular localizada no ouvido médio, composto por três ossículos denominados martelo, bigorna e estribo. Essa vibração da cadeia ossicular é transmitida pela platina do estribo sobre a janela oval, que está em contato com líquidos da orelha interna, onde ocorre o deslocamento de ondas mecânicas, fazendo com que haja uma movimentação de todo o ducto coclear. No órgão de Corti, localizam-se as células ciliadas que, quando saem de sua posição de repouso, provocam uma mudança na carga elétrica endocelular e disparam um impulso nervoso, conduzido pelas fibras do nervo coclear por meio do sistema auditivo periférico e central, para que, posteriormente, o estímulo sonoro possa ser analisado, interpretado e respondido (FREITAS & NAKAMURA, 2003). 23 2.4. PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO (PAIR) PAIR é a perda provocada pela exposição por tempo prolongado ao ruído. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial, geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído (BRASIL, 2006). A PAIR pode também ser designada por perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de origem ocupacional. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85 dB(A) durante 8 horas por dia, ocorrem alterações estruturais no ouvido interno, que determinam a ocorrência da PAIR. Além dos sintomas auditivos como dificuldade de compreensão de fala, zumbido e intolerância a sons intensos, o trabalhador portador de PAIR também apresenta queixas, como cefaleia, tontura, irritabilidade, problemas digestivos, entre outros (BRASIL, 2006). Existe consenso na literatura de que o tempo de exposição ao ruído está associado ao aparecimento da PAIR. No estudo realizado por Corrêa Filho (2002) que objetivou estimar as prevalências de PAIR em condutores de ônibus urbanos de Campinas/SP, foi observada tal prevalência em 32,7% dos condutores examinados. Fernandes, Marinho e Fernandes (2004), em seu estudo sobre os níveis de ruído e a perda auditiva em motoristas de ônibus na cidade de São Paulo/SP, perceberam que, em relação ao tempo de exposição ao ruído na empresa, havia predominância de traçados sugestivos de PAIR para os motoristas com tempo de 2 a 5 anos de exposição ao ruído. 2.5. EFEITOS DO RUÍDO SOBRE O CORPO HUMANO A energia acústica atua normalmente como estímulo sensorial sobre o sistema nervoso central e autônomo, entretanto quando os níveis sonoros excedem determinados limites, além de prejuízos ao sistema auditivo, também podem ser provocados outros efeitos patológicos (BRESSANE & SALVADOR, 2009). 24 Segundo Souza (1992) o ruído (Leq) até 50 dB(A) pode perturbar, mas é adaptável. A partir de 55 dB(A) provoca estresse leve, levando a durável desconforto. O estresse degradativo do organismo começa a cerca de 65 dB(A) com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de infarto, derrame cerebral, infecções, osteoporose etc. Estudos demonstraram que o excesso de ruído ambiental altera a condutividade elétrica no cérebro, além de provocar uma queda na atividade motora em geral, levando o indivíduo mais rapidamente à fadiga física e intelectual, diminuindo a capacidade de concentração e desempenho na realização de tarefas que exigem atenção e aumentando a probabilidade de erros e acidentes. Normalmente um indivíduo precisa gastar em média 20% de energia extra para realizar uma tarefa, quando exposto a poluição sonora (MEDEIROS, 1999). Antes de atingir o córtex cerebral e ser redirecionado às demais partes do sistema nervoso, o estímulo sonoro passa por inúmeras estações subcorticais, em particular das funções vegetativas. Conforme a intensidade sonora, podem ocorrer respostas tanto psicológicas (tensão, irritabilidade e baixa concentração), quanto químicas (secreção anormal de substâncias hormonais) e físico-somáticas decorrentes, consideradas por alguns autores tão expressivamente relevantes quanto a própria surdez, pois podem contribuir para ocorrência ou piora de doenças graves (COSTA & KITAMURA, 1995). Bistafa (2011) complementa que na maioria das vezes os ruídos geram diversos efeitos indesejáveis e em níveis suficientemente elevados, podem causar efeitos fisiológicos (perda de audição e aumento da pressão arterial), efeitos psicológicos (incômodos, perturbação do sono, estresse, tensão, queda do desempenho, interferências com a comunicação oral, que por sua vez provoca irritação) e efeitos mecânicos (danos e falhas estruturais no ouvido). 2.6. RUÍDO CONTÍNUO, INTERMITENTE OU DE IMPACTO A legislação vigente não diferencia ruído contínuo de ruído intermitente para fins de avaliação quantitativa. Segundo Saliba (2014), a diferença do ponto de vista técnico entre os dois tipos de ruído é o período de exposição: o contínuo é por um período superior a 15 minutos e o intermitente menor do que 15 minutos e maior do que 0,2 segundos. 25 Segundo a NHO 01 e a NR 15, ruído contínuo ou intermitente é todo e qualquer ruído que não está classificado como ruído de impacto ou impulsivo. E ruído de impacto ou impulsivo é o ruído que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo (FUNDACENTRO, 2001; BRASIL, 1978). 2.7. LEGISLAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DO RUÍDO O Brasil possui normas e legislações que impõe controles nas emissões de ruído como a NHO 01 da Fundacentro e o Anexo I da NR 15 da Portaria n.º 3.214/1978 do MTE (FUNDACENTRO, 2001; BRASIL, 1978). Em relação ao conforto acústico pode-se citar a NBR 10.152/1987 da ABNT, a NR 17 da Portaria n.º 3.214/1978 do MTE e a Organização Mundial da Saúde (ABNT NBR 10.152, 1987; BRASIL, 1978). 2.7.1. NHO 01: Avaliação da exposição ocupacional ao ruído A Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO 01) da Fundacentro tem por objetivo estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional ao ruído, que implique risco potencial de surdez ocupacional (FUNDACENTRO, 2001). A referida norma aplica-se à exposição ocupacional a ruído contínuo ou intermitente e a ruído de impacto, em quaisquer situações de trabalho, contudo não está voltada para a caracterização das condições de conforto acústico. Tal norma ainda traz as seguintes definições: • Dose: parâmetro utilizado para a caracterização da exposição ocupacional ao ruído, expresso em porcentagem de energia sonora. • Dose diária: dose referente à jornada diária de trabalho. • Limite de Exposição (LE): parâmetro de exposição ocupacional que representacondições sob as quais acredita-se que a maioria dos trabalhadores possa estar exposta, repetidamente, sem sofrer 26 efeitos adversos à sua capacidade de ouvir e entender uma conversação normal. • Nível de Ação: valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições ao ruído causem prejuízos à audição do trabalhador e evitar que o limite de exposição seja ultrapassado. • Nível Equivalente (Neq): nível médio baseado na equivalência de energia, conhecido como LEQ. • Nível de Exposição (NE): nível médio representativo da exposição diária do trabalhador avaliado. • Nível de Exposição Normalizado (NEN): nível de exposição, convertido para uma jornada padrão de 8 horas diárias, para fins de comparação com o limite de exposição. 2.7.1.1. Critérios de avaliação da exposição ocupacional ao ruído A avaliação da exposição ocupacional ao ruído contínuo ou intermitente deve ser feita por meio da determinação da dose diária de ruído ou do nível de exposição. a) Avaliação da exposição de um trabalhador ao ruído contínuo ou intermitente por meio da dose diária utilizando medidor integrador de uso pessoal Para a avaliação por meio de dose diária, o limite de exposição ocupacional diária no ruído contínuo ou intermitente corresponde à dose diária igual a 100%. O nível de ação para a exposição ocupacional ao ruído é de dose diária igual a 50%. Exposições a níveis inferiores a 80 dB(A) não são considerados no cálculo da dose. Portanto, sempre que a dose diária de exposição ao ruído determinada for superior a 100%, o limite de exposição estará excedido e exigirá a adoção imediata de medidas de controle. Se a dose diária estiver entre 50% e 100% a exposição deve ser considerada acima do nível de ação, devendo ser adotadas medidas preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições aos ruídos 27 causem prejuízos à audição do trabalhador e evitar que o limite de exposição seja ultrapassado. A norma não permite, em nenhum momento da jornada de trabalho, exposição a níveis de ruído contínuo ou intermitente acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam protegidos, independentemente dos valores obtidos para dose diária ou para o nível de exposição. b) Avaliação da exposição de um trabalhador ao ruído contínuo ou intermitente por meio do nível de exposição utilizando medidor integrador de uso pessoal Para a avaliação por meio de nível de exposição, o limite de exposição ocupacional diária ao ruído corresponde a NEN igual a 85 dB(A), e o limite de exposição valor teto para ruído contínuo ou intermitente é de 115 dB(A). Para este critério considera-se como nível de ação o NEN igual a 82 dB(A). Portanto, sempre que o NEN for superior a 85 dB(A), o limite de exposição estará excedido e exigirá a adoção imediata de medidas de controle. Se o NEN estiver entre 82 dB(A) e 85 dB(A) a exposição deve ser considerada acima do nível de ação, devendo ser adotadas medidas preventivas a fim de minimizar a probabilidade de que as exposições causem prejuízos à audição do trabalhador e evitar que o limite de exposição seja ultrapassado. 2.7.1.2. Critério de julgamento e tomada de decisão O Quadro 1 apresenta considerações técnicas e a situação recomendada em função da dose diária ou do NEN encontrados na condição de exposição avaliada. 28 Quadro 1 - Considerações técnicas e a situação recomendada em função da dose diária ou do NEN. Dose Diária (%) NEN dB(A) Consideração técnica Atuação recomendada 0 a 50 até 82 aceitável no mínimo manutenção da condição existente 50 a 80 82 a 84 acima do nível de ação adoção de medidas preventivas 80 a 100 84 a 85 região de incerteza adoção de medidas preventivas e corretivas visando a redução da dose diária acima de 100 > 85 acima do limite de exposição adoção imediata de medidas corretivas Fonte: Fundacentro (2001). No Quadro 2 é apresentado o tempo máximo diário de exposição permissível em função do nível de ruído. 29 Quadro 2 - Tempo máximo diário de exposição permissível em função do nível de ruído. Nível de ruído dB(A) Tempo máximo diário permissível (Tn) (minutos) 80 1.523,90 81 1.209,52 82 960,00 83 761,95 84 604,76 85 480,00 86 380,97 87 302,38 88 240,00 89 190,48 90 151,19 91 120,00 92 95,24 93 75,59 94 60,00 95 47,62 96 37,79 97 30,00 98 23,81 99 18,89 100 15,00 101 11,90 102 9,44 103 7,50 104 5,95 105 4,72 106 3,75 107 2,97 108 2,36 109 1,87 110 1,48 111 1,18 112 0,93 113 0,74 114 0,59 115 0,46 Fonte: Fundacentro (2001). Os critérios estabelecidos na NHO 01 estão baseados em conceitos e parâmetros técnico-científicos modernos, seguindo tendências internacionais atuais, não havendo um compromisso de equivalência com o critério legal. Desta forma, os 30 resultados obtidos e sua interpretação podem diferir daqueles obtidos na caracterização da insalubridade pela aplicação do disposto na NR 15, Anexo I, da Portaria 3.214/1978. 2.7.2. NR 15: Atividades e operações insalubres De acordo com a NR 15, que dispõe sobre atividades e operações insalubres, "Limite de Tolerância" é a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral (BRASIL, 1978). A referida norma dispõe ainda que o exercício de trabalho em condições de insalubridade assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário mínimo da região, equivalente a: • 40% para insalubridade de grau máximo; • 20% para insalubridade de grau médio; • 10% para insalubridade de grau mínimo. A eliminação ou neutralização da insalubridade causa a cessação do pagamento do adicional respectivo. Tal eliminação ou neutralização pode ocorrer com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância ou com a utilização de EPI. O Anexo I da NR 15 estabelece os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente e o Anexo II estabelece os limites de tolerância para ruído de impacto. O tipo de ruído abordado neste estudo se classifica como ruído contínuo ou intermitente. 2.7.2.1. Anexo I - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente O tempo de exposição aos níveis de ruído não deve exceder os limites de tolerância fixados no Quadro 3. 31 Quadro 3 - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente. Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos Fonte: Brasil (1978). As atividades ou operações que exponham o trabalhador a níveis de ruído continuo ou intermitente superiores aos limites de tolerância fixados no Quadro 3 configuram insalubridade de grau médio. Na NR 15 é explicado quepara os valores encontrados de nível de ruído intermediário será considerada a máxima exposição diária permissível relativa ao nível imediatamente mais elevado. A exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) não é permitida para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, oferecem risco grave e iminente. 32 2.7.3. NBR 10.152/1987: Níveis de ruído para conforto acústico A NBR 10.152 (1987) fixa os níveis de ruído compatíveis com o conforto acústico em ambientes diversos, conforme apresentado no Quadro 4. Quadro 4 - Níveis de ruído para conforto acústico dos ambientes. Locais dB (A) Hospitais Apartamentos, Enfermarias, Berçários, Centros cirúrgicos 35-45 Laboratórios, Área para uso do público 40-50 Serviços 45-55 Escolas Bibliotecas, Salas de música, Salas de desenho 35-45 Salas de aula, Laboratórios 40-50 Circulação 45-55 Hotéis Apartamentos 35-45 Restaurantes, Salas de estar 40-50 Portaria, Recepção, Circulação 45-55 Residências Dormitórios 35-45 Salas de estar 40-50 Auditórios Salas de concertos, Teatros 30-40 Salas de conferências, Cinemas, Salas de uso múltiplo 35-45 Restaurantes 40-50 Escritórios Salas de reunião 30-40 Salas de gerência, Salas de projetos e de administração 35-45 Salas de computadores 45-65 Salas de mecanografia 50-60 Igrejas e Tempos (Cultos meditativos) 40-50 Locais para esporte Pavilhões fechados para espetáculos e atividades esportivas 45-60 Fonte: NBR 10.152 (1987). 33 2.7.4. NR 17: Ergonomia A NR 17 estabelece que nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, recomenda-se níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10.152 (1987) (BRASIL, 1978). A referida norma determina ainda que para as atividades que não apresentem equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10.152 (1987), o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A). 2.7.5. Organização Mundial da Saúde Os níveis máximos de ruído recomendados pela Organização Mundial da Saúde para ambientes de convivência humana estão apresentados no Quadro 5. Quadro 5 - Níveis limites de ruído segundo a OMS. Locais Nível de ruído Limite - dB(A) Risco de perda auditiva - a pessoa exposta pode contrair PAIR para exposições de 8 horas diárias. 75 Perda da concentração e do rendimento em tarefas que exijam capacidade de cálculo. 60 Estresse leve com excitação do sistema nervoso e produção de desconforto acústico. 55 Interferência na comunicação - torna difícil a conversa entre duas pessoas, ou dificulta falar no telefone, ou ouvir rádio ou televisão. 50 Perturbação do sono - a pessoa não relaxa totalmente durante o sono, não atingindo os estágios mais profundos do sono e reduzindo o tempo. 30 Fonte: Berglund, Lindvall e Schwela (1999). Tratando-se de áreas de tráfego, a OMS recomenda um nível contínuo equivalente de até 70 dB(A) para uma exposição de 24 horas, conforme apresentando no Quadro 6. 34 Quadro 6 - Valores de orientação para o ruído da comunidade em ambientes específicos. Ambiente específico Efeito crítico para a saúde LAeq [dB(A)] Tempo de exposição [horas] LAmax [dB] Área industrial, comercial e de tráfego, internas e externas Perda auditiva 70 24 110 Fonte: Berglund, Lindvall e Schwela (1999). 2.8. DEFINIÇÃO DE NÍVEIS DE RUÍDO E DOSE DE RUÍDO O nível contínuo equivalente - Leq (dB), bem como o nível médio equivalente - Lavg (dB) é um valor expresso em dB, que contém a mesma energia sonora que o som variando no tempo, ou seja, é o valor único que representa o mesmo dano auditivo produzido por um som variável ao longo de determinado período. O termo Leq tem o mesmo significado que o Lavg, porém o Leq é assim apresentado quando se utiliza o fator duplicativo de dose (q) igual a 3 dB, enquanto que o Lavg é apresentado quando o fator duplicativo de dose é 4, 5 ou 6 dB. Se for realizada, por exemplo, uma dosimetria de 1 hora, este fator duplicativo de dose considera nos cálculos que isso se estendeu para o período todo da jornada de trabalho. O nível equivalente normalizado - NEN (dB) é o nível médio de exposição, convertido para uma jornada padrão de 8 horas diárias, para fins de comparação com o limite de exposição. É um parâmetro definido pela Fundacentro, que é equivalente ao Leq, quando utilizado o fator duplicativo. A Portaria 2.314/1978 utiliza em sua NR 15 o termo nível de ruído contínuo ou intermitente, que é equivalente ao Lavg. A dose é um parâmetro utilizado para a caracterização da exposição ocupacional ao ruído, expresso em porcentagem de energia sonora. Já a dose projetada (%) significa uma dose projetada para uma jornada de 8 horas, considerando-se a dose acumulada medida. 35 2.9. ANÁLISE DO RUÍDO EM ÔNIBUS URBANOS A perda auditiva induzida por ruído pode atingir o indivíduo que estiver exposto a Níveis de Pressão Sonora (NPS) elevados. Os motoristas de ônibus fazem parte desta população, uma vez que estes profissionais desempenham sua função expostos a diferentes fontes e tipos de ruído. No ambiente de trabalho, que se configura no interior do ônibus, o controle deste agente agressor é difícil e a indicação do uso de protetor auditivo não é uma rotina nas empresas devido à necessidade destes profissionais estarem atentos aos sinais de alerta (DIDONÉ, 2004). Dentro deste contexto Didoné (2004) analisou as audiometrias dos motoristas com o intuito de identificar resultados sugestivos de PAIR e avaliou a exposição sonora em 25 ônibus fundamentada na legislação brasileira da NR 15. Didoné (2004) observou que a exposição aos NPS do motorista de ônibus ultrapassou o recomendado pela referida norma. Esta hipótese foi confirmada em parte, sendo que os ônibus com motor traseiro, com menos de 5 anos de uso não apresentaram níveis superiores aos estabelecidos em norma. A autora observou também que a dose de ruído era maior no lado esquerdo justificando a perda auditiva deste lado, o que remete à uma contribuição do ruído externo vindo pela janela do ônibus. Giuliani (2011) analisou o nível de ruído em ônibus urbano próximo ao motorista. Sua análise foi realizada através de parâmetros de nível sonoro equivalente (LAeq), obtidos através de medições realizadas pelo autor, na cidade de Porto Alegre/RS. Seus resultados mostraram que os motoristas de ônibus urbanos trabalham em ambientes com elevados níveis de ruído. Silva & Correia (2012), por meio de dosimetria, avaliaram os níveis de exposição sonora no interior de 15 ônibus de transporte urbano na cidade de Itajubá/MG, contemplando conforto e risco à saúde, segundo os critérios de incômodo e de perda auditiva estabelecidos pela OMS. O nível sonoro variou de 78 a 84 dB(A), com média aritmética de 81 ± 0,9 dB(A). Os autores concluíram que os ônibus avaliados não ofereceram conforto adequado no que concerne aos parâmetros acústicos, havendo a necessidade de oferecer veículos mais bem projetados de modo a reduzir o nível de ruído emitido pelo veículo.36 Em seu estudo Cunha (2014) analisou os níveis de ruído produzidos durante a jornada de trabalho de motoristas que conduziam ônibus equipados com motor dianteiro em uma empresa na região metropolitana de Curitiba/PR. Para verificar os níveis de ruído a que os motoristas estavam expostos, foram realizadas medições com dosímetro e avaliado, através de questionários, os impactos causados pelo ruído durante a jornada de trabalho. Todos os níveis de ruído equivalente medidos, total de 20, resultaram inferior a 85 dB(A), destes, apenas 7 ficaram entre o nível de ação e o limite de tolerância. O questionário, aplicado a 49 motoristas, mostrou que os efeitos da exposição do ruído na saúde ocupacional aumentam em motoristas com maior tempo de serviço. Freitas & Nakamura (2003) estudaram a incidência da perda auditiva induzida por ruído em motoristas de ônibus de motores dianteiros verificando o perfil audiológico dessa população em função do local da fonte sonora. O estudo constituiu-se de 104 motoristas, na faixa etária de 21 a 63 anos, de duas empresas de transporte coletivo urbano da cidade de Campinas/SP. Os dados de audiometria e da anamnese foram coletados de um banco de dados de exames audiométricos de uma clínica que realizava audiometrias ocupacionais. As autoras detectaram perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados (PAINPSE) nos audiogramas analisados, sendo 12% na orelha direita e 15% na orelha esquerda. A pequena diferença encontrada não pode estar relacionada com a localização do motor no ônibus, uma vez que o mesmo está localizado do lado direito do motorista. Esta diferença remete ao agravante do ruído externo vindo pela janela. Guardiano, Chagas e Slomp Junior (2014) investigaram a prevalência da perda auditiva e as características audiométricas em motoristas de ônibus de passageiros. Foram selecionados os exames audiométricos realizados no período de 2010 e 2011, de 122 motoristas de ônibus de passageiros da região metropolitana de Curitiba/PR. Os resultados mostraram que 31,15% dos motoristas apresentaram problemas auditivos, sendo 24,59% sugestivos de PAINPSE. Em seu estudo, Machado (2003) avaliou a exposição ao ruído de forma subjetiva em questionamento aos usuários do sistema de transporte coletivo público da cidade de Curitiba/PR e através da medida do nível de pressão sonora. O questionário foi distribuído de modo a observar o que pensam e o grau de 37 desconforto dos ocupantes com relação ao ruído. Seus resultados mostraram que os níveis de ruído no habitáculo dos ônibus estudados, ligeirinho e biarticulado, com motores central ou traseiro, atenderam as normas de ruído ocupacional, com valores médios de 76 dB(A), mas geraram um grau de insatisfação em 62% dos usuários do transporte coletivo. Martins et al. (2001) avaliaram a audição de motoristas e cobradores de ônibus de uma empresa de Bauru/SP. As medições foram realizadas com a utilização do dosímetro, com o objetivo de verificar o nível de ruído ao qual os trabalhadores ficavam expostos durante um dia normal de trabalho. Além disso, foi realizada uma audiometria tonal limiar. Os resultados mostraram que a ocorrência de PAINPSE foi maior no grupo de motoristas (39%), quando comparado ao grupo de cobradores (12%). Além disso, o nível de ruído constatado para a posição do motorista está acima do considerado não prejudicial à saúde do trabalhador. A principal queixa auditiva observada nos indivíduos com PAINPSE foi o zumbido. Pesquisas de Pedrosa (2016) desenvolvidas numa empresa de transporte público de passageiros portuguesa, onde foram monitorados quatro percursos distintos (A, B, C e D) e quatro tipos de ônibus (Mini Bus, de 2 Pisos, Articulado e Standard), mostraram que as características do percurso e o tipo de pavimento influenciam no nível de ruído. A autora observou que o LAeq mais elevado ocorreu no percurso B com o ônibus Mini Bus e o mais baixo no percurso C com o ônibus do tipo Articulado. Os percursos monitorados apresentavam características de pavimento bastante distintas, variando entre asfalto, empedrado e piso misto, verificando-se a presença de empedrado, em maior percentagem nos percursos A e B. Ao observar isoladamente o percurso D, os níveis sonoros médios de LAeq para os tipos de ônibus 2 Pisos, Articulado e Standard resultaram respetivamente, 71,4 dB(A), 71,2 dB(A) e 71,7 dB(A), indicando que os níveis de LAeq de ônibus variam para um mesmo percurso (PEDROSA, 2016). O estudo de Portela (2008) avaliou objetiva e subjetivamente a exposição ao ruído em motoristas de ônibus urbanos na cidade de Curitiba/PR. As avaliações subjetivas constaram de um questionário contendo questões referentes à sensação de incômodo ao ruído em uma amostra de 200 motoristas. A exposição ao ruído foi 38 avaliada em 80 veículos de quatro modelos diferentes: convencionais, ligeirinhos, micro-ônibus e articulados. Os resultados para as medições objetivas revelaram que os veículos estavam de acordo com as normas NHO 01 e NR 15. Porém, alguns veículos apresentaram níveis de ruído muito próximos do limite das normas e acima de 65 dB(A), o que poderia tornar o ambiente de trabalho desconfortável e, também, propiciar o início de distúrbios na saúde relacionados à exposição ao ruído (PORTELA, 2008). Os modelos de ônibus convencionais apresentaram maiores níveis de ruído, seguidos pelos micro-ônibus, articulados e, por último, os modelos ligeirinhos. Os veículos com motor dianteiro apresentaram maiores níveis de pressão sonora equivalente do que os modelos com motor traseiro. Além disso, o autor também observou que não houve correlação relevante entre o ano de fabricação dos veículos e o LAeq. O questionamento sobre hipertensão revelou que 15,5% da amostra relataram possuir pressão alta. Sobre a qualidade do sono, houve uma satisfação média de 88,8% na amostra de motoristas. Em geral, a análise do incômodo sentido pelos motoristas em relação ao ruído emitido pelo ônibus mostrou que existia uma frequência de incômodo de 36% na amostra (PORTELA, 2008). Siviero et al. (2005) investigaram a prevalência de perda auditiva e as características audiométricas em motoristas de ônibus da cidade de Maringá/PR. Foi estudado um grupo de 50 motoristas de ônibus, com tempo de exposição ao ruído superior a cinco anos, por meio de questionário, meatoscopia e exame audiométrico. Os autores detectaram traçados auditivos sugestivos de PAINSPE em 28% da amostra estudada, que apontam a necessidade da adoção de medidas preventivas à perda auditiva. Fernandes, Marinho e Fernandes (2004) avaliaram os níveis de ruído e a perda auditiva em motoristas de ônibus na cidade de São Paulo/SP, onde analisaram uma amostra de 6 ônibus com motor na posição dianteira. Os resultados mostraram que o nível de exposição semanal para uma das linhas foi de 85 dB(A), e para as demais linhas o valor foi superior a 85 dB(A) chegando a 93 dB(A). As audiometrias mostraram que 49,1% dos ouvidos direitos e 62,8% dos ouvidos esquerdos dos motoristas apresentaram audiogramas com configuração de PAIR. 39 Ao avaliar os níveis de ruído em 10 veículos de transporte coletivo de Bauru, Fernandes et al. (2001) concluíram que a atividade de motorista e de cobrador de ônibus no caso em questão caracterizava-se como insalubre, tendo em vista os níveis de ruído e o tempo de exposição, com níveis médios de ruído de 90 dB(A) para o motorista e 87 dB(A) para o cobrador. Para estes níveis de ruído, a NR 15 permite uma exposição (sem proteção) de, respectivamente,4 horas e 6 horas diárias. Como a exposição diária destes trabalhadores é de mais de 8 horas, o trabalho de motorista e de cobrador de ônibus se caracteriza como uma atividade insalubre, indicando que existe risco destes funcionários contraírem PAIR. Do ponto de vista auditivo, dentre os fatores que tornam o trabalho dos motoristas de ônibus arriscado, pode-se citar: a localização do motor na posição dianteira, grande potência desse motor, o alto nível de ruído do ambiente urbano, o tempo de exposição ao ruído e a falta de manutenção dos veículos (FERNANDES et al., 2001). A caracterização das atividades dos motoristas e cobradores de ônibus como insalubres obriga as empresas ao pagamento do adicional de insalubridade aos empregados (BRASIL, 1978). No caso de ruído, a insalubridade é de grau médio, correspondendo a um adicional de 20% do salário mínimo vigente no país. 40 3. MATERIAIS E MÉTODOS Este capítulo aborda os materiais e métodos utilizados no desenvolvimento desta pesquisa. O estudo foi composto por duas avaliações. A primeira consistiu em uma avaliação objetiva da exposição ocupacional ao ruído contínuo ou intermitente feita por meio da determinação do nível contínuo equivalente e da dose de ruído representativos da exposição diária do trabalhador. A segunda avaliação foi de caráter subjetivo, onde foi aplicado um questionário a fim de levantar o nível de desconforto sentido pelos condutores em relação ao ruído presente no interior dos veículos. A pesquisa foi realizada com uma amostra da frota de ônibus urbanos do município de Agudos. Na Figura 2 é apresentado o modelo de ônibus em estudo. Figura 2 - Ônibus urbano de transporte coletivo estudado. Fonte: Arquivo pessoal. Todos os ônibus medidos apresentavam as mesmas características: • Ano de fabricação: 2006; • Posição do motor: traseira; • Combustível: diesel e • Estado de conservação: bom. 41 3.1. MATERIAIS • Dosímetro acústico: marca Incon, modelo IDAC-100; • Calibrador acústico: marca Incon, modelo ICAL-100; • Notebook: marca Dell, modelo Vostro; • Software SoftDac; • Câmera fotográfica: marca Canon, modelo EOS 1100D; • Ficha de avaliação. Características técnicas gerais dos materiais Com base no Guia de Utilização (2017) disponível no site do fabricante, são apresentadas as informações técnicas do dosímetro utilizado e de seu calibrador. Dosímetro IDAC-100: • Normas: IEC 60651:1979, IEC 60804:1985, IEC 61252:1997 e IEC 61260:1995; • Referências: NR 15 (Anexo 1) e Instrução Normativa da Fundacentro (NHO 01); • Ponderações em frequência: A, C e Z (linear); • Ponderações no tempo: fast e slow; • Parâmetros medidos: SPL, E, SEL, LAVG, LEQ, TWA, Dose, Dproj8h, DprojT, MAX e NEN; • Microfone: condensador 1/4", classe 1; • Faixa de medição: 60 a 140 dB; • Faixa de frequência: 25 Hz a 20 KHz; • Separação em bandas de oitava: 31,5 Hz, 63 Hz, 125 Hz, 250 Hz, 500 Hz, 1 kHz, 2 kHz, 4 kHz, 8 kHz e 16 kHz; • Intervalo de Aquisição: configurável de 30 s a 600 s, com intervalos de 30 s; • Resolução SPL e SEL: 0,1 dB; • Resolução LAVG, LEQ, TWA e NEN: 0,1 dB; 42 • Resolução do cálculo de dose e dose projetada: 0,01%; • Resolução da exposição sonora: 0,01 Pa2h; • Critério de referência: configurável 70 a 90 dB, com incremento de 1 dB; • Threshold: configurável 70 a 90 dB, com incremento de 1 dB; • Nível máximo: configurável por software, default em 115 dB; • Taxa de dobra (incremento de duplicação de dose): configurável 3, 4, 5 ou 6 dB; • Medição de 2 normas simultaneamente: NHO 01 e NR 15 ou NHO 01 e Norma editável; • Display: 128 x 64 pixels OLED; • Memória: interna 2 MBytes; • Interface: USB (para carregamento da bateria e transferência de dados); • Nível de referência: 94 ou 114 dB em 1 kHz; • Alimentação: Bateria interna Lítio-Polímero (Li-Po) recarregável; • Autonomia: aproximadamente 25 h. Calibrador acústico ICAL-100: • Norma: IEC 60942:2003; • Nível de pressão sonora (SPL): 94 e 114 dB (selecionável); • Frequência: 1 kHz; • Alimentação: Bateria interna 9 V não recarregável; • Indicação de Low-Bat (bateria fraca); • Desligamento automático por bateria fraca; • Entrada para microfone: ½” com adaptador incluso para 1/4". Software SoftDac: Este software foi concebido para permitir a conexão do equipamento IDAC-100 a um computador, utilizando para tanto uma porta USB. O software busca constantemente as informações do processo, indicadas pelo IDAC-100, de maneira a reproduzir fielmente no computador as medidas de campo. Permite, também, visualizar e trabalhar com as informações de dosimetria geradas pelo IDAC-100. 43 A Figura 3 refere-se ao dosímetro IDAC-100 utilizado nas medições e a Figura 4 refere-se ao calibrador ICAL-100. Na Figura 5 é apresentado uma imagem do CD de instalação do software SotfDac e nas Figuras 6 e 7 são apresentadas as telas do sistema. Figura 3 - Dosímetro acústico IDAC-100. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 4 - Calibrador acústico ICAL-100. Fonte: Catálogo de Especificação (2018). Figura 5 - CD de instalação do software SoftDac. Fonte: Arquivo pessoal. 44 Figura 6 - Telas do software SoftDac. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 7 - Telas do software SoftDac. Fonte: Arquivo pessoal. 45 Os resultados das avaliações, objetiva e subjetiva, foram registrados na ficha de avaliação, apresentada na Figura 8, elaborada especificamente para esta pesquisa. Figura 8 - Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano. Ficha de avaliação dos níveis de ruído em ônibus urbano Nº ônibus (1-20): Trajeto: Data: _____/_____/_____ Hora: _____h_____ Dados sobre o ônibus Ano de fabricação: Posição do motor: Combustível: Conservação: ( )Bom( )Médio( )Ruim Nível sonoro equivalente (LAeq) - dB(A) Ônibus trafegando: Avaliação dos motoristas Nome (Iniciais): Idade (anos): Tempo de atuação como motorista: Carga horária diária: Efeitos sobre a saúde provocados pelo ruído: ( ) Dificuldade de comunicação oral ( ) Diminuição da audição ( ) Estresse ( ) Zumbido nos ouvidos ( ) Dificuldade de concentração ( ) Dor de cabeça ( ) Irritação ( ) Nenhum Ruído mais incômodo: ( ) Abertura das portas ( ) Motor ( ) Tráfego nas vias urbanas ( ) Nenhum ( ) Campainha ( ) Passageiros ( ) Conjunto Apresenta pressão alta? ( ) Sim ( ) Não Apresenta dificuldade para dormir? ( ) Sim ( ) Não Observações Fonte: Arquivo pessoal. 3.2. MÉTODOS O município possui, atualmente, uma frota de 20 ônibus e o quadro de funcionários conta com 19 motoristas, sendo 18 homens e 1 mulher. As medições contemplaram uma amostra de 10 ônibus e os questionários foram respondidos por 10 motoristas individualmente. 46 Para a realização da medição do Leq e da dose de ruído foi utilizado um medidor integrado de uso pessoal, também denominado dosímetro de ruído ou acústico. Durante as medições o dosímetro estava dotado de microfone com espuma para atenuação do efeito do vento sobre o ruído. Anteriormente às medições, o dosímetro foi devidamentecalibrado. De acordo como os procedimentos de avaliação da Fundacentro (2001), o critério de referência que embasa os limites de exposição diária adotada para ruído contínuo ou intermitente corresponde a uma dose de 100% para exposição de 8 horas ao nível de 85 dB(A). O incremento de duplicação de dose (q) é igual a 3 e o nível limiar de integração igual a 80 dB (A). Os medidores devem estar ajustados de forma a operar no circuito de ponderação “A”, circuito de resposta lenta (slow) e cobrir uma faixa de medição mínima de 80 a 115 dB(A). A NR 15 estabelece que os níveis de ruído contínuo ou intermitente sejam medidos em decibels (dB) com medidor operando no circuito de compensação "A" e circuito de resposta lenta (slow) (BRASIL, 1978). No medidor utilizado havia a possibilidade de escolher duas normas pré- configuradas, NHO 01 (CR = 85 dB, TR = 80 dB e q = 3 dB) e NR 15 (CR = 85 dB, TR = 80 dB e q = 5 dB) ou ainda editar os próprios valores de critério de referência (CR), Threshold (TR) e fator de dobra (q). Dessa forma, optou-se pela utilização das normas NHO 01 e NR 15 previamente configuradas no medidor, de forma a atender os seguintes parâmetros: • circuito de ponderação - “A”; • circuito de resposta - lenta (slow); • critério de referência - 85 dB(A), que corresponde a dose de 100% para uma exposição de 8 horas; • nível limiar de integração - 80 dB(A); • faixa de medição mínima - 80 a 115 dB(A); • incremento de duplicação de dose (q) - 3 dB (NHO 01) / 5 dB (NR 15); • indicação da ocorrência de níveis superiores a 115 dB(A). 47 Como o dosímetro foi posicionado na resposta “lenta” (ruído contínuo) e utilizou-se o circuito de compensação “A”, os valores medidos, em dB(A), representam o nível de pressão sonora equalizado de acordo com a curva “A” do aparelho. Essa curva é usada nas medições de ruído onde existe uma preocupação com a audição humana. A curva de equalização “A” se aproxima bastante das curvas de audibilidade subjetiva do som, ou seja, é pouco sensível a baixas frequências, bastante sensível entre 2 e 5 kHz, perdendo a sensibilidade em altas frequências (FERNANDES, 1991). Por determinação da NR 15, as leituras foram feitas próximas à zona auditiva do trabalhador, conforme apresentado na Figura 9. Figura 9 - Fixação do dosímetro no motorista. Fonte: Arquivo Pessoal. A amostra foi medida durante por um período aproximado de 60 minutos e os dados coletados foram armazenados no dosímetro acústico. Depois de realizadas as medições nos ônibus, os dados foram descarregados no software SoftDac, para posterior análise. A avaliação objetiva resultou no valor do Leq emitido no interior do ônibus e da dose diária de ruído a que estão expostos os condutores. 48 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. AVALIAÇÃO OBJETIVA 4.1.1. Comparação entre ônibus diferentes em trajetos diferentes A partir das medições realizadas, foi possível elaborar a Tabela 1 que se refere à medição realizada com base nos parâmetros de avalição estabelecidos na NHO 01. Nela são apresentados o tempo de duração da medição, o valor máximo de ruído captado, o Leq, a dose de ruído para o tempo de duração da medição e a dose projetada para a jornada de trabalho de 8 horas. Tabela 1 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NHO 01. NHO 01 Nº Ônibus Trajeto Tempo de Exposição (h) Valor máximo dB(A) Leq dB(A) Dose (%) Dose Projetada 8h (%) 1 C A 1:03:00 93,70 70,40 0,45 3,44 2 C B 0:51:30 83,20 60,50 0,03 0,34 3 C A 1:17:30 85,70 65,40 0,17 1,10 4 E C 1:10:00 91,40 75,20 1,53 10,52 5 C D 1:03:30 83,60 62,20 0,06 0,52 6 C B 1:07:00 88,60 58,00 0,02 0,19 7 C D 1:00:30 90,50 63,20 0,08 0,65 8 E E 0:49:00 99,40 80,10 3,28 32,28 9 E F 0:47:30 91,50 69,80 0,29 3,02 10 C A 0:28:00 95,60 71,60 0,26 4,55 Notas: a) C = Ônibus convencional. b) E = Ônibus escolar. Fonte: Arquivo Pessoal. Ao comparar os resultados das medições observou-se que em nenhum dos ônibus analisados o ruído provocou efeitos insalubres sobre os motoristas, uma vez que nenhuma dose projetada para 8 horas resultou superior a 100%. Além disso, pode-se observar que todos os valores de dose projetada se apresentaram abaixo do nível de ação (50%). Os ônibus que apresentaram valores mais prejudiciais foram o 8E com dose projetada de 32,28% e o 4E com 10,52%, ambos escolares. O ônibus 8E conduzia adolescentes, enquanto que o ônibus 4E conduzia crianças. Além dos 49 ônibus 4E e 8E, o ônibus 9E também era escolar. Todos os demais eram ônibus urbanos de transporte regular de passageiros, aqui denominados de convencionais. Tomando como base os resultados expostos na Tabela 1, foi elaborado o gráfico apresentado na Figura 10. Figura 10 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NHO 01. Fonte: Arquivo Pessoal. Na Figura 10 a reta vermelha indica o limite de exposição, a reta amarela indica o nível de ação e a reta verde indica o nível de desconforto acústico. Ao observar a Figura 10 verificou-se que o Leq variou de 58,00 a 80,10 dB(A), sendo a média aritmética dos valores igual a 67,64 dB(A). De acordo com a NHO 01, o Leq resultante está abaixo do limite de exposição (85 dB(A)) e, inclusive, abaixo do nível de ação (82 dB(A)). De acordo com a NR 17 que configura desconforto acústico o ruído acima de 65 dB(A), foi observado que em 60% dos ônibus os níveis de ruído não atenderam tal quesito. Confrontando os resultados da Tabela 1 com os níveis limites de ruído recomendados pela OMS para ambientes de convivência humana expostos na Tabela 3, notou-se que em 70% dos ônibus os motoristas estão sujeitos a perda da concentração e do rendimento em tarefas que exijam capacidade de cálculo. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Leq dB(A) 70,40 60,50 65,40 75,20 62,20 58,00 63,20 80,10 69,80 71,60 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 Le q (d B (A )) Ônibus Nível Contínuo Equivalente (Leq) - NHO 01 Limite de exposição Nível de desconforto acústico Nível de ação 50 Ainda de acordo com as especificações da OMS, quatro ônibus medidos, 1C, 4E, 8E e 10C, apresentaram níveis de ruído superiores aos valores recomendados para área de tráfego. Também foram realizadas medições com uma amostra reduzida, usando os parâmetros de avaliação da NR 15 para fins de comparação dos resultados. A partir destes resultados foram elaborados a Tabela 2 e o gráfico apresentado na Figura 11. Tabela 2 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NR 15. NR 15 Nº Ônibus Trajeto Tempo de Exposição (h) Valor máximo dB(A) Lavg dB(A) Dose (%) Dose Projetada 8h (%) 1 C A 1:03:00 93,70 60,90 0,46 3,56 2 C B 0:51:30 83,20 46,50 0,05 0,48 3 C A 1:17:30 85,70 54,60 0,23 1,48 4 E C 1:10:00 91,40 69,20 1,63 11,21 Notas: a) C = Ônibus convencional. b) E = Ônibus escolar. Fonte: Arquivo Pessoal. Figura 11 - Resultado das medições executadas com os parâmetros da NR 15. Fonte: Arquivo Pessoal. 1 2 3 4 Lavg dB(A) 60,90 46,50 54,60 69,20 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 La vg (d B (A )) Ônibus Nível Médio Equivalente (Lavg) - NR 15 Limite de exposição Nível de desconforto acústico Nível de ação 51 Os resultados mostraram que em nenhum dos ônibus analisados os níveis de ruído provocaram efeitos insalubres sobre
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