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WALDEMAR MARQUES GUIMARÃES NETO Mantenha o Foco Treinamento Autoconsciente Mantenha o Foco: Treinamento Autoconsciente Primeira edição, 2017. _____________________________________ Capa: Alexandre R. Mendonça Fotografias: Gabriela Lutz, Pedro Nossol e Rômulo Cruz Ilustrações: Alexandre R. Mendonça Textos: Waldemar Marques Guimarães Neto Produção Gráfica: Viviane Machado Revisão: Viviane Machado Versão para ePUB: eDOC BRASIL ____________________________________ Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. http://www.edocbrasil.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) G963m Guimarães Neto, Waldemar Marques, 1960- Mantenha o foco [recurso eletrônico] : treinamento auto consciente / Waldemar Marques Guimarães Neto; ilustrações Alexandre R. Mendonça. – Itajaí: Ed. do Autor, 2017. Formato: ePUB Requisitos de sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-923367-0-7 1. Academias de ginástica. 2. Educação física. 3. Musculação. 4.Treinamentos com pesos. I. Mendonça, Alexandre R. II. Título. CDD 796.07 SUMÁRIO Introdução Autoconsciência A subjetividade Autoconsciência e a minha realidade Um ponto de equilíbrio O poder da imaginação Extremos Os mantras Fecha a cara e treina O pré-treino Sua Academia também deveria ser o seu templo O agachamento e a fé Mergulho e catarse Estar autoconsciente O Método Intensidade Total e a voz de comando Otimizando a autoconsciência de todos As diversas escolas Memento “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece” A autoconsciência e os animais Conclusão AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que tiveram a paciência de me ouvir, comentaram e aperfeiçoaram minhas ideias expostas neste livro. Agradecimento especial à minha irmã, a psicóloga Denise Guimarães, pelo carinho e presteza; também à jovem psicóloga Franciele Boettner por suas intercessões valiosas; ao meu amigo Ricardo Estuqui por seus altos esclarecimentos musicais; ao professor de Yoga João Eduardo da Silva pelas suas aulas inspiradoras; à jovem Gabrielli Frozza por sua caprichosa leitura; ao meu amigo Abdallah Achour pelo seu brilho que há décadas me influencia; ao médico anestesista Nestor Ferraro pela sua colaboração química; a todos os autores citados neste livro, que foram inspiração constante e, finalmente, à minha dedicada esposa Francielli Guimarães por sua parceria incondicional. ESPECIAL Este livro foi escrito sob a inspiração e luz do meu filho Gabriel Rezende Marques Guimarães. Em seus últimos anos de vida o Gabriel vinha se ligando cada vez mais nos assuntos da mente e do espírito, fazendo uma parceria energética com a atleta e hoje empresária Larissa Reis, que na época se convertia ao budismo. Na semana em que haviam combinado de ir à reunião do budismo juntos ocorreu o seu falecimento, reforçando a ligação da Larissa com a doutrina. O Gabriel mantinha com ela interações transcendentes, ouço que esta relação se mantém até hoje. A Larissa recomenda o site: www.bsgi.org.br Instagram: @BSGI http://www.bsgi.org.br PREFÁCIO O livro Mantenha o Foco: Treinamento Autoconsciente reflete uma boa parte da vida do professor Waldemar Guimarães, que por necessidade de saúde já na infância serviu-se das técnicas de Yoga e meditação para se recuperar e transpor os obstáculos no seu caminho. Posteriormente, destinou- se em preparar campeões no esporte e na vida, sem jamais abdicar do que aprendeu na infância, mantendo-se treinando de forma autoconsciente. Nesta premissa, sua obra é inovadora, pois mostra inúmeras experiências sobre como conseguir a autoconsciência, fundamental para este momento no qual estamos valorizando mais o ambiente externo, se comparado com o interno – com o halter numa mão e o smartphone noutra. Com uma narrativa linguística original e sem delongas, este livro nos permite realizar uma viagem com o autor que, bem concentrado, descreve, ora no passado, ora no presente, de forma inspiradora e instrutiva, várias dicas para se conseguir a autoconsciência. Através de exemplos reais, guia- nos no intuito de contribuir com uma ação motora centrada no fazer para superar uma sobrecarga elevada e realizar um exercício por maior tempo, como uma “fonte extra de energia”. Como ele bem traz à superfície: “Gostaria que o maior número de pessoas pudesse experimentar o verdadeiro êxtasemental que a concentração pode ocasionar em seu cérebro, comeste a promover atitudes frente aos grandes desafios. ” De forma convicta, o autor mostra que existe muito da sabedoria na concentração, porque modifica o significado do treinar. Todavia, menos de dez por cento das pessoas lê um prefácio. Quem chegou até aqui saberá que as dezoito partes deste livro farão nos interessarmos pela concentração, respiração, meditação e, consequentemente, focarmo-nos no treinamento. Estamos na era de fecharmos a cara e treinar com a mente e músculo em sintonia, ou seja, autoconsciente. Abdallah Achour Junior INTRODUÇÃO Certa vez, um colega de trabalho comentou comigo que um de seus novos alunos não conseguia fazer o supino com um peso de 5 quilogramas de cada lado, a ponto de ter que tirar os parcos 5 kg a fim da barra não travar em cima do peito do inepto, um rapaz com 26 anos aparentemente saudável! Lorraine, uma menina um pouco mais jovem, e também saudável, mostrava-se incapaz de dar continuidade a um simples legpress com uma anilha de 10 kg de cada lado. A infeliz simplesmente travava a plataforma na posição mais abaixo, desistindo completamente do movimento logo no início das repetições. Se não fosse o treinador para ajudar a mover a plataforma, o que uma criança de doze anos faria, ela ficaria pressionada pelo carrinho do equipamento o resto do dia, ou dormiria lá mesmo se duvidasse. Assim, observo vários casos na mesma Academia por onde passam atletas dedicados e com títulos mundiais de diversas modalidades que poderiam servir de exemplo. Mas o que falta para esta parte significativa da juventude? Tenacidade e concentração nas coisas do mundo real, pois “eles” nasceram e foram criados em um mundo altamente virtual, quase holográfico, cercados por todas as tecnologias, que passam pelos jogos eletrônicos até todos os atrativos de um smartphone, tirando-os do mundo real e fazendo-os viver na Matrix desta “eletronicalhada”. Até o sexo desta gente é virtual. Na Academia, travam ao primeiro sintoma de dor ou dificuldade. Nestes casos, o melhor que um treinador pode fazer é “chutar suas bundas” e trazê-los para o mundo da realidade, para o mundo dos viventes e próximos, pois um dos fatores deletérios mais interessantes que as tecnologias vêm promovendo é aproximar quem está longe e afastar quem está próximo de verdade. — A BARRA DO AGACHAMENTO ESTÁ NA SUA CARA. AGORA, OLHE PARA ELA, EMPUNHE CORRETAMENTE E AGACHE A FUNDO, VOLTANDO PARA CIMA COM EXPLOSÃO, OU FIQUE AÍ EMBAIXO ATÉ MOFAR! — SELVA! Muitos viventes falham não somente em seus treinos, mas em coisas importantes da vida, simplesmente porque não conseguem se concentrar. Eles estão abstraídos o tempo todo, com estímulos periféricos que normalmente não importam muito, ainda mais no mundo eletrônico e conectado em que vivemos atualmente. Sugere-se que cada vez que você para de estudar para checar o seu smartphone, levam-se muitos minutos até poder retornar ao nível de concentração anterior nos seus estudos. Se pensarem em um mundo competitivo por recursos naturais, aquele que conseguir se concentrar por mais tempo e obtiver uma rotina saudável de concentração naquilo que faz estará em grande vantagem. O objetivo deste livro é auxiliar a criar uma rotina de concentração, um estado meditativo, estimulando a sua autoconsciência a fim de que você possa obter com mais rapidez, segurança e felicidade o que se propõe. No caso, o resultado específico em seu programa de treino e nas outras coisas do seu cotidiano que virão em sequência ou que estejam diretamente inter- relacionadas.Não é incomum em uma avaliação física observar o nível de comprometimento e até o tipo de personalidade de uma pessoa. Assim, durante o processo de prescrição da atividade física, podemos alertar sobre a importância de aderir seriamente ao treino e se concentrar durante o mesmo, e como este pode auxiliar na melhora da própria concentração para as outras coisas do seu dia a dia. Mas falar para ouvidos relutantes é muitas vezes uma inutilidade, pois na hora do treino a pessoa estará dispersa, somente de corpo presente, irá para a Academia com os pensamentos em outro lugar. Algumas pessoas já parecem predestinadas a Fechar a Cara e Treinar, são sérias e concentradas o suficiente para isso, mas observo que esta ocorrência é cada vez menor neste mundo eletrônico. Já outras, parecem sérias o suficiente em outras faces da vida, mas falham em ter a real determinação para vencer limites e fazer aquelas repetições a mais que fariam toda a diferença entre o anabolismo e a manutenção de um mero estado homeostático. Já trabalhei em campo com uma série de pessoas que falhavam totalmente em se concentrar, mas que simplesmente passavam a funcionar com um comando de alerta mais sério! Comando enérgico: — ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO! — CONCENTRE-SE! — FORÇA, RAPAZ! Comando muito enérgico: — VOCÊ QUER SER DERROTADO PELOS PESOS? VOLTE E DÊ O MELHOR DE SI! — NÃO SEJA UM FRACO, CONFIE EM SI MESMO! — MAIS UMA, ANIMAL! Comando calmo: — Respire corretamente, pense no que está fazendo e volte ao exercício! — Concentre-se, minha amiga! Está faltando determinação, visualize o que está fazendo. — Você pode fazer melhor, só falta se determinar. Vamos lá! Sem a voz de estímulo ou de comando a pessoa pararia muito antes da sua real falha concêntrica, que dirá da falha excêntrica. Muitas vezes, comandei que parassem o treino e dei uma pequena sabatina sobre seriedade e concentração. Ao ouvir, a pessoa simplesmente voltou ao treino e, por algum tempo, conseguiu progredir de forma adequada e com a devida energia. Esta é uma voz externa do treinador. Infelizmente, muitos atletas e alunos são totalmente dependentes da voz incentivadora e comandos do treinador. Mas, na realidade, deveriam ser orientados para que desenvolvam esta voz interna, sem a necessidade de ficar levando nenhum tipo de alerta ou bronca o tempo todo. Irei dar algumas diretrizes para tal. Isso poderá fazer toda a diferença em seus resultados, principalmente libertando aqueles que depositam suas esperanças unicamente em suplementos e drogas. Você poderá acessar o link: www.waldemarguimaraes.com.br/mantenha-o-foco Através dele traremos diversos vídeos com partes de treinos e até entrevistas sobre a manutenção do foco e da autoconsciência. Durante a leitura haverá momentos onde farei a recomendação para buscarem os vídeos novamente. http://www.waldemarguimaraes.com.br/mantenha-o-foco 1) Autoconsciência: “Se fosse possível ampliar o cérebro até ficar do tamanho de um moinho e andar lá por dentro, não encontraríamos aconsciência.” Gottfried Leibniz Existe pouco consenso entre psicólogos e filósofos sobre a consciência, que dirá sobre autoconsciência, são milhares de artigos sobre o assunto. Autoconsciência para o filósofo alemão do século XVIII, Immanuel Kant, o primário divulgador do conceito, é a consciência do eu como agente do pensamento e do conhecimento da realidade. O dicionário Caldas Aulete ainda traz como a consciência, o conhecimento que se tem de si mesmo, das próprias motivações, dos próprios conflitos interiores. O psicólogo Steven Pinker diz que nunca conseguiremos entender na verdade o que é a consciência. Já a psicologia comportamental de Pavlov, Watson e Skinner coloca em cheque a consciência. Alguns dizem que ignoram a consciência, outros que o behaviorismo radical tem outra interpretação, no qual a consciência é o próprio comportamento. Discutir este assunto não cabe a mim, o que deixo para os filósofos e psicólogos, vou apenas colocar a minha impressão. Sinto a autoconsciência como a consciência da consciência. Em uma visão reducionista, quando seu corpo reage automaticamente ao martelinho do médico ao atingir o seu tendão patelar, provocando a leve extensão do seu joelho, ocorre uma reação proprioceptiva independente da sua vontade, ou quando alguém o empurra subitamente e você se equilibra para não cair, esta reação é reflexa e inconsciente. Já a combinação de todos os seus órgãos do sentido, tal como a visão, tato, olfato, audição e outros é primordial para a cinestesia ou a percepção consciente do seu corpo no espaço-tempo. Somos regulados por neuro-proprioceptores presentes nos músculos, tendões, pele e articulações. Quando um motorista experiente troca as marchas do seu carro, e ao mesmo tempo lida com os pedais do acelerador, embreagem e freio, age inconscientemente. Porém, em um determinado ponto o experiente motorista teve que se acostumar àquilo, ter treinado “conscientemente” para dirigir o seu carro, ter prestado muita atenção durante um bom tempo. Por isso, motoristas novos no mundo inteiro deveriam utilizar uma placa de aprendiz por um ano, como no Reino Unido, para somente depois terem a capacidade de conversar ou cantar uma música de seus aparelhos de som enquanto dirigem a fim de diminuir a chance de causar um acidente. Agora, você estará autoconsciente se estiver cantando enquanto dirige, mas altamente conhecedor de sua responsabilidade de dirigir caso algum imprevisto aconteça, tal como se aparecer uma criança atravessando a sua frente correndo atrás de uma bola a fim de frear eficientemente, alerta para se “antecipar” a qualquer imprevisto do trânsito. Não vejo como dirigir apenas inconscientemente e não gerar um acidente. Observe o trabalho de um goleiro de futebol, a velocidade de seu arco reflexo parece ser inata, reflexa, mas também é treinável, tornando-se o que chamamos de “velocidade de reação”, cada vez mais eficiente para agarrar uma bola e evitar o gol. Agora, se este goleiro tiver o treinamento mental correto para estar devidamente focado o tempo todo, caso seja acionado para manter a sua velocidade de reação otimizada, então estará autoconsciente. Ele estará beneficiado a ponto de acionar a sua velocidade de reação treinada conscientemente e ativada pelo seu inconsciente arco reflexo. Se o goleiro estiver controlando os adversários e sua defesa, se souber quem são os principais artilheiros e suas características, se conhecer o tipo de cobranças de falta que preferem e outras estratégias somadas a todo o seu treinamento e otimização de seu arco reflexo, ele estará ainda mais autoconsciente. Um lutador profissional de MMA ao receber um jeb, esquiva-se automaticamente e aplica um direto. Este atleta terá este ato grafado em seu subconsciente, que, treinado, promoverá uma velocidade incrível de reação. Ele terá conscientemente automatizado este ato através de treinamento repetitivo e intenso. O lutador estará agindo de forma autoconsciente se souber como dar prosseguimento em forma de uma queda e finalização frente a um adversário que previamente sabe não ter um bom jiu-jítsu, ou uma sequência de chutes e socos em outro adversário que tem um boxe ou muaythai precário, como estudado, praticado e interiorizado. Se você é um triatleta experiente e tiver treinado as melhores técnicas nas três provas, além do condicionamento dos sistemas musculoesquelético e cardiorrespiratório, aprendeu a mecânica mais eficiente e energeticamente econômica de cada modalidade envolvida. Você não terá que pensar na melhor técnica para as passadas da corrida ou das braçadas da natação, mas deve estar consciente de todo o ambiente que o cerca para não se acidentar, por exemplo. Você estará autoconsciente se tiver uma visão longitudinal de toda a prova e administrar onde deve e pode dar mais intensidade, e onde deve se poupar, por exemplo, por saber toda a estratégia da prova para conseguir chegar à melhor colocação possível ao final da mesma. Enquanto você estiver treinando com uma carga extraordinária,caso o peso seja muito superior a sua capacidade em um dado momento, simplesmente o seu Orgão Tendinoso de Golgi (OTG), que é um receptor sensorial neuroproprioceptivo presente na junção tendo-muscular, será ativado, provocando imediato bloqueio da contração excessiva da sua musculatura, que tenderá a soltar o peso no solo a fim de que seus músculos não se rompam, ou logo antes disso. Ou seja, é um mecanismo automático de proteção, isso não depende em nada de sua consciência, é anterior a sua inconsciência inclusive! Caso você seja um atleta experiente com anos de treinamento, a técnica de execução de um determinado exercício estará automatizada, tal como dirigir do exemplo anterior, a ponto de você poder tagarelar com um companheiro (não recomendado), caso o peso não seja total para o exercício, assim, a realização do movimento é praticamente inconsciente. Mas se você acabou de aprender o movimento, ele não poderá ser inconsciente, ele deverá ser consciente. Você necessitará prestar muita atenção para não realizá-lo incorretamente, o que poderá machucá-lo. Você pode ter anos de experiência, conseguindo realizar o seu exercício em “modo automático”. Porém, se mesmo assim estiver prestando atenção em cada repetição que realizar, dominando totalmente a mais elevada técnica de contração muscular a cada milímetro cúbico do movimento do seu sistema musculoesquelético, utilizando a eficiente aceleração compensatória, independente da carga que usa, sentindo cada contração e como esta irá beneficiá-lo, tornando seus músculos e sua mente mais fortes e potentes, aí você estará produzindo um treino autoconsciente! “Ter consciência é bom, mas estar autoconsciente é melhor!” Deepak Chopra Muitas foram as pessoas que aprenderam às duras custas a serem autoconscientes, mas existem outras que, na verdade, nunca aprenderam. Quantos atletas negligenciaram coisas como um aquecimento breve e a utilização de cargas progressivas em seu exercício, e acabaram por se lesionar seriamente com rupturas parciais e totais de tecido muscular e tendinoso! Depois do ocorrido, e de muita dor e longo período de restabelecimento, o atleta tem tempo de ponderar sobre o que ocorreu e voltar ao treino de forma muito mais cuidadosa, aplicando progressivamente as cargas, utilizando o aquecimento, exercícios de alongamento leve prévio e após o treino, maiores e cuidadosos períodos de repouso, bem como mais cuidado na alimentação e suplementação, seções de massagem recuperativas, etc. Este atleta passará a estar autoconsciente de seu treino. Mas, como dito, existem aqueles infelizes que parecem nunca aprender, ou que esquecem rapidamente o ocorrido lastimável, até se lesionar de novo e de novo. Esta forma de visualizar o inconsciente, consciente e autoconsciente não será uma unanimidade, e talvez seja até rechaçado, debochado e debatido por especialistas em diversas áreas. Mas como eu disse logo no início, é apenas a minha forma de sentir e, didaticamente, colocar algo que poderá ser útil para um número grande de pessoas que desejam grandes resultados no que fazem para alcançar seus objetivos. É importante relatar que as propostas que se seguirão já surtiram resultados sólidos em forma de títulos mundiais em esportes diversos e na vida em geral. Quem tiver uma proposta melhor que a apresente. 2) A subjetividade: “Artistas subjetivos são caolhos, mas os objetivos são cegos.” Georges Rouault As interpretações subjetivas ainda parecem ter um delimitador geográfico, mesmo na era da massificação da informação. Pessoas do mundo ocidental tendem a ver o homem como um corpo sem alma, já pessoas do mundo oriental tendem a ver o homem como uma alma sem corpo. Assim, fica claramente difícil para o homem da ciência ocidental enxergar-nos como elemento pensante e consciente, sem o invólucro do corpo obedecendo às leis da biologia, atados à crosta terrestre sob as leis da gravidade. Apesar da ciência da computação e da engenharia genética cogitar a possibilidade futura de fazer um download de todo o nosso cérebro e preservá-lo em um futurístico chip superpoderoso, quem sabe ativado por um feixe de laser, tudo muito material, porém, mais palpável para o homem ocidental. O homem místico oriental consegue facilmente imaginar ou sentir outra forma de vida, ou continuação desta, como uma energia mais sutil, talvez “quântica”, como preferimos referenciar, para uma espécie de “conforto científico” rudimentar. No entanto, estes às vezes nos enxergam apenas como fantasmas sem corpo. Assim, que tal imaginar a nossa consciência como energia “conscienciotron”, verdadeiros pacotes de energia invisível a nós, deslocando-se livremente no espaço-tempo? Como assim? Ora, como imagina que chegam até você todas as informações que obtém em seu smartphone, se não como tal? Assim, talvez fique mais fácil entender o poder do pensamento para o seu bem ou para o seu mal, e quem sabe a sua continuidade em forma mais sutil de energia, mesmo sem o invólucro físico, palpável, mesmo que seja condensado em um chip de computador ou livre pelo espaço-tempo. Enquanto estivermos por aqui, provavelmente é melhor pensar numa associação, nem robô, nem fantasma, mas uma síntese de corpo e alma, de soma e energia, de shape and vibe. 3) Autoconsciência e a minha realidade: “Eu sou o maioral, disse a mim mesmo sem saber quem eu era.” Muhammad Ali “Porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.” Marcos 11:23-24 O meu nascimento foi muito difícil, tendo vindo “a este mundo conhecido” com alguns problemas, tal como paratireoidismo, atelectasia grave, fratura das duas clavículas em função da ação do fórceps, dentre outros males. Por isso, recebi o batismo de uma freira como recém-nascido, pois não deveria sobreviver até o outro dia. Meus pais já haviam perdido um bebê nas mesmas condições. Desolado, meu pai foi embora para casa, deixando-me internado. Ele pensou que voltaria ao hospital apenas para sacramentar o sepultamento, como ocorrera um ano antes, mas lá estava eu praticamente ressuscitado dos mortos, vívido e preparado para incomodar durante anos a seguir, não antes de passar muito tempo numa UTI. Na infância, eu tinha somente um amigo de cada vez, e me concentrava totalmente na leitura de alguns livros adultos da biblioteca do meu pai e em plastimodelismo. Não admitia usar roupas esportivas, meu vestuário era clássico. Imagine eu um menino usando terninho, gravata borboleta e sobretudo de veludo, tudo por detrás de óculos de armação preta e pesada. Meus pais conseguiram, por influência de uma amiga professora, matricular- me no notório colégio Dante Aligheire, em São Paulo, mas minha adaptação no mesmo foi impossível. Alguns anos depois, tive que ser encaminhado para uma escola especial chamada Escola Sorriso que adotava o método Piaget de ensino, que seria mais adaptado aos meus problemas de nascimento e suas consequências, sendo provavelmente um deles a dislexia. A escola de Piaget promove um constante desafio a seus alunos para a construção de ideias próprias e tomadas de decisões. “A descoberta e construção do conhecimento, o que é propiciado pelas informações advindas do meio, procura resolver as interrogações que o mundo provoca.” No método, a criança aprende pelas suas próprias ações, e não espera que o conhecimento lhe venha pronto, pasteurizado, nunca desvinculando a autonomia do aprendizado à capacidade de promover relações em grupo. Surpreendentemente, a atividade física proposta pela escola era a Hata Yoga. Eu já praticava Yoga aos doze anos de idade, mas também tínhamos a, hoje condenada, bola queimada. Ensino aos meus atletas fragmentos da Yoga, principalmente as respirações, a fim de controlarem as emoções e auxiliar a organizar os pensamentos. Entre atletas de lutas que adentram no Octagon ou Ring com a tarefade eliminar o adversário para não serem eliminados, entre bodybuilders para vencerem os pesos e as repetições extremas antes de serem derrotados por elas, entre triatletas para administrarem as sucessivas provas com inteligência, estratégia e energia, entre não atletas para adquirirem das práticas das Academias o exemplo de superação que pode ser aplicado as suas outras atividades do cotidiano. Lembro-me da professora de Yoga no dia em que fomos a um canal de televisão em São Paulo, a extinta TV Tupi, fazer uma exibição ao vivo. Ela comentou sobre a dificuldade de manter seus alunos concentrados em atividade meditativa, porque passavam muitos aviões a baixa altitude. A escolinha ficava na linha de pouso do aeroporto de Congonhas, do lado de fora parecia que poderíamos tocar os aviões Electra, naquela época, inclusive o poderoso Concord, único avião supersônico comercial que jamais houve, que também pousava em Congonhas, fazia a rota Paris-São Paulo. Não durou muito, a vibração supersônica era tão estrondosa que quebrava janelas, por isso, devido a protestos, inclusive a possíveis danos para a saúde, logo os pousos e decolagens do poderoso e mítico avião foram proibidos. Na época não havia Guarulhos! Naquele dia, estreava a minha interferência pública, aos quatorze anos de idade, na televisão. Eu falei espontaneamente para a apresentadora do programa que nem o Concord poderia atrapalhar a minha concentração ao meditar. Meu pai era médico e sempre procurou me influenciar para que eu também fosse um, mas sempre desejei seguir a carreira dos meus avós e ser militar. Desejo que foi reforçado pela minha passagem pelo escotismo, no grupo João XXIII ao qual pertencia. Assim, coloquei na mente que frequentaria a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) para ser um oficial do Exército. Desta forma, uma das coisas que eu mais desejava na década de 1970 era passar no concurso para a EsPCEx, que me daria acesso à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), um difícil concurso na época. Pelas minhas dificuldades de nascimento e sequelas, meus pais consideraram impossível que eu obtivesse êxito num concurso tão difícil, e, na verdade, preparavam-me para uma desaprovação no exame mais do que incentivavam. Resolvi estudar concentradamente, utilizando as técnicas de meditação tão praticadas nas aulas de Yoga da Escola Sorriso e aperfeiçoadas com a leitura de livros. Criei meus próprios “mantras”. Nas aulas, passei a ter mais consciência da minha deficiência em lidar com a língua portuguesa, porém, acabei por criar uma sistemática vencedora para suplantar o problema. Minha única distração era o cinema. Assistia a filmes do circuito europeu e, principalmente, às porno chanchadas nacionais, além de alguns livros de Nelson Rodrigues. Aquilo se somava ao comportamento de colegas estrangeiros que estudavam na Escola Sorriso, particularmente de uma colega de classe, a Marie, uma aluna sueca, minha primeira paixão. Os suecos são muito liberais quanto aos pensamentos e assuntos sobre sexo, nessa escola já tínhamos aulas de educação sexual, atípico para a época. Em Londrina, descobri o treino de musculação com aquele que foi o meu primeiro mestre, Odir Mattano, mas só treinava quando ia a Londrina visitar a família nos feriados. Em Campinas, onde fui estudar para o concurso das escolas militares, no cursinho Menna Barreto, para não perder tempo, apenas treinava os elementos pedidos no teste de aptidão física para a escola militar, no bosque dos Jequitibás, na dita cidade, que era bem perto da pensão onde eu morava. E minha mente, no silêncio de um quarto de pensão na Rua Barão de Jaquara, além de estudar bastante diariamente, de uma a três vezes por dia, por alguns minutos apenas, deitado em posição confortável numa cama de beliche, ou sentado em minha escrivaninha, fechava os olhos lentamente, agradecendo a oportunidade de estar comigo mesmo. Eu sentia progressivamente o meu corpo magrinho totalmente relaxado de encontro com o colchão no qual relaxava, sentindo-o cada vez mais pesado, como se estivesse afundando suavemente sobre nuvens. A partir daí, procurava sentir as fases da respiração de forma mais profunda, sentindo o ar que nos mantém vivos abastecendo todo o corpo. Já em estado bem relaxado e desperto, visualizava-me devidamente uniformizado, cumprindo deveres militares, e dizia a mim mesmo: “Eu quero e eu posso!”. Estes pequenos exercícios de meditação, associados a um “mantra”, certamente criaram em minha mente um estado subconsciente e consciente de caminhos diários. No restante do dia, quando você deve fazer escolhas, entre estudar ou assistir televisão, ou permanecer muito tempo falando sobre o cotidiano dos outros, você simplesmente cria um desejo maior e focalização para aquilo que realmente importa no momento. Assim, acredito que cheguei até a exagerar na época, tendo avaliado que não teria sido necessário estudar tanto como eu estudei, porém, já como militar, fui aprender que é melhor errar para mais do que errar para menos. A minha aprovação foi uma grande surpresa para os familiares, menos para mim, pois naquele momento eu sabia, tinha autoconsciência de onde estava e o porquê, mas a surpresa mesmo foi a de verificar que obtivera a nota máxima em português, mesmo com dislexia! Já admitido na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, continuava o meu interesse pelo treino com pesos. Lá havia um daqueles tradicionais gladiadores da Righetto, e mais uma montoeira de pesos livres. Era necessária autorização para utilizar o equipamento ou aproveitar uma deixa da vigilância da seção de Ed. Física para utilizá-los. Eu sempre ficava de olho, mas em poucas oportunidades consegui utilizar os velhos equipamentos. Porém, sempre que eu ia nos feriados ou férias a Londrina, treinava regularmente sob a orientação do Mestre Odir Mattano. Mas na escola militar quase nada eram flores, era praticamente uma guerra. Muito embora o treinamento para a guerra seja ridículo frente à própria guerra, como mencionado por um general da Primeira Guerra Mundial, no mesmo o objetivo é pressionar o “estagiário” a fim de que o militar aprenda a agir e raciocinar sob pressão. Daí vale-se de toda ordem de artifícios: simulacros de granada, gás vomitivo, pressão psicológica através de humilhação verbal e até castigos físicos. Os incapazes que peçam para sair! Esta estratégia transpõe o ambiente do treinamento específico para a guerra e, às vezes, é mal aplicada em situações acadêmicas e até médicas. Foi assim que me senti humilhado pela primeira vez por ter minha “secreta” dislexia, ou seja, por algo que não escolhi ter. Ao preencher uma ficha médica, o capitão médico observou que eu escrevera meu sobrenome assim: “Quimarães”. — Porra, cadete, não sabe nem escrever o nome! Como entrou aqui, seu incompetente? Juro que, com dezessete anos, fiquei bem desconcertado, mas pensei comigo: “Memorizei todas as imagens das palavras que escrevi em uma cartolina, seu palhaço! Você nunca conseguiria isso!”. Logicamente só pensei, pois se falasse pararia na cadeia. É assim, existem aqueles que me corrigem, o que eu não me importo. Apesar de ser inútil, mas com objetivo educacional, portanto correto. Outros por pedantismo gramatical. E uma terceira categoria apenas por ter “achado” que “acharam” uma brecha a fim de debocharem, pois só assim se sentem melhor em sua pequenez. Hoje é fácil para eu diferenciar estes tipos. Um dos problemas possivelmente associado à minha dificuldade no nascimento pode ter sido a dislexia, que me acompanha desde então. Eu nunca soube diferenciar letras em determinadas palavras, não sei, por exemplo, onde é “q” ou “g”, “x” ou “s”, nada adianta, não há o que me faça aprender. Com números também me confundo constantemente. Assim, tornou-se difícil que alguém acreditasse no meu sucesso para passar em um difícil exame, minha própria família desacreditava. Eu era antecipadamente prevenido pelo meu cauteloso pai quanto a um possível fracasso, mas imbuído pela minha certeza de sucesso, impulsionadapela minha disciplina fomentada pelos meus “mantras”, nada poderia me derrotar. Mas como eu consegui isso com dislexia? Simples, decorei toda a Gramática recomendada, no caso a do Segala, de forma que havia memorizado inclusive a página de uma determinada regra gramatical importante. Desenvolvi resumos pessoais de outras disciplinas, os quais guardei e forneci cópias para outras pessoas que queriam estudar para o mesmo concurso e de outras áreas, alguns obtiveram êxito também. Mas e quanto à escrita das palavras? Mais simples ainda, escrevi as principais palavras em uma grande cartolina que colei na parece do meu quarto de pensão e grafei na minha mente a imagem de cada uma delas. Quanto à dificuldade com os números, acabei por me adaptar a eles, percebendo que era algo treinável. A natureza parece ser alheia aos números, mesmo porque durante milhares de anos de nossa evolução não usamos números para nada. Os números são uma invenção recente, pós-agrícola, e começaram a ser utilizados para contabilizar o rebanho dos novos pastores, ou seja, a habilidade de utilizar números não nos é inata, e sim treinável. Basta você se afastar dos mesmos por algum tempo e perderá a habilidade anterior, caso utilize muito os números. Aliás, segundo pesquisadores, esta habilidade vem decaindo desde a popularização das calculadoras eletrônicas, no fim da década de 1970. Hoje em dia, qualquer smartphone tem uma calculadora científica acoplada. Logo no primeiro ano de AMAN, apareceu um cadete mais antigo vendendo um livro de física que já vinha passando de cadete por cadete ao longo dos anos, isso é uma tradição na Academia. Era um livro repleto de problemas resolvidos. Assim, passei a estudá-los e a aprender a resolução dos mesmos, ao invés de ficar fazendo contas, o que tomava muito tempo. Desta forma, eu me preocupava com o raciocínio do problema, já que as operações básicas todos já devem saber. Enquanto a maioria gastava horas resolvendo problemas e se estressando com contas, eu estudava o raciocínio de inúmeros problemas resolvidos. Ao final do primeiro ano da Academia Militar, somente eu, Edson Diehl, o zero um da turma, Ivan Neiva e outros poucos é que passamos direto em física tridimensional. Assim, saímos de férias mais cedo, o restante dos cadetes ficou mais uma semana na Academia para uma nova prova da difícil disciplina. Eu passei o livro para o “bicho” no início do outro ano. Neiva e Diehl construíram uma brilhante carreira militar e são generais. A persistência e a concentração me fizeram vencedor em algo importante pela primeira vez. Não é necessário um estudo para perceber que a maioria das pessoas não está realmente prestando atenção no que está fazendo, muito embora estes estudos existam, como o de Daniel Gilbert, da Harvard University, ele menciona que muitas pessoas falham em suas atribuições diárias, simplesmente porque não conseguem se concentrar no que deveriam, o pensamento sempre está voando por diversos outros caminhos, a mente está vagando por imagens, histórias e desejos que não têm absolutamente nada a ver com o que deveriam se concentrar naquele momento. Na verdade, pode parecer fácil se isolar em condições ideais, em um ambiente bucólico de sua preferência, como no alto de uma colina no meio da natureza, de frente para o mar, em uma temperatura agradável de 21 graus, estando suficientemente alimentado e hidratado, com roupas confortáveis, ou nu se preferir, com uma leve brisa massageando suavemente o seu corpo, livre de qualquer poluição, onde exatamente ninguém ou nada possa desviar a sua atenção. Ali, na posição mais confortável possível, voltar-se para dentro de si mesmo, sentir o ar límpido entrando pelas suas narinas e abastecendo o seu pulmão de vida, enquanto você possa vislumbrar o lindo ambiente que o circunda. Mais ou menos assim vivem os eremitas, sem cobradores de impostos, pessoas estressadas desejando seus serviços, sem os buzinassos das ruas ou o ar pesado de poluição de uma cidade grande. Mas a maioria de nós mortais temos que buscar a introspecção, a atenção plena no que fazemos em condições adversas, é assim que somos obrigados a conduzir nossas vidas na maior parte do tempo, focalizando no que devemos fazer, estando ciente do entorno pernicioso que muitas vezes nos circundam. Para isso, é necessário treinar a sua mente para se concentrar de qualquer forma! Nas Forças Armadas, somos treinados a raciocinar e tomar decisões em condições adversas, também somos estimulados a sermos autodidatas, pesquisar e encontrar respostas rápidas e eficientes. Um comandante militar não pode esperar chegar ao seu posto de comando com o ar condicionado ligado e um copo de chá com biscoitos para que possa decidir por onde o seu pelotão deve se deslocar, por onde e como avançar em um campo de batalha, a decisão deve ser imediata e certeira. O pelotão será dizimado por bombardeio inimigo se ficar parado, o deslocamento será a diferença entre a vitória ou a derrota no combate, a diferença entre a vida e a morte! Você é treinado a tomar decisões em condição de extremo estresse, com barulho, gritaria, fogos inimigos e o cheiro da morte, esta é a realidade das guerras. Isso parece ser extremo, e é mesmo. Milhões de pessoas pereceram nas guerras e ainda morrem, somos filhos das mesmas. Tenha ciência plena que muitas situações emergenciais do cotidiano também podem aparecer para qualquer vivente, como, por exemplo, em um acidente mais grave em uma estrada distante onde irá demorar muito para chegar o resgate. E daí? Você acha que está livre desse infortúnio, ou acha que só os outros quebram o braço, cortam-se ou são atropelados? Qualquer um poderá se acidentar ou se deparar com a necessidade de prestar ajuda. E daí, como você agiria? Certa vez, passava pelo Vale Verde, em Londrina, no Paraná, onde tive minha primeira Academia, a Acrópolis, em meados da década de 1980, percorria o mesmo caminho diário a pé. Naquele dia, percebi um grande barulho ao largo e logo depois uma movimentação. Ao me aproximar, vi fumaça, forte cheiro de diesel e um caminhão velho que se desgovernara e descera vale abaixo. Eu estava no auge de minha instrução militar e fui o primeiro a descer pelo meio da vegetação e árvores, que estavam muito destruídas pelo caminhão. Dentro do mesmo jaziam três pessoas presas dentro da boleia retorcida, um homem já sem vida, outro em condição lastimável e um terceiro também muito machucado. Por sorte, um jardineiro desceu para auxiliar, e foi o único. Enquanto isso, lá em cima do vale avolumava-se um número de curiosos que só opinavam e se barbarizavam. Naquela época, o serviço de resgate era muito lento, demorou quase uma hora para chegar. Neste interim, procurei acalmar os sobreviventes e fazer os primeiros socorros. Eu fui obrigado a utilizar uma mentira branca para acalmar um dos acidentados presos na boleia do caminhão, pois ele perguntava como estava o pai ao lado que, na realidade, já havia falecido, disse que estávamos fazendo o melhor para resgatá-lo. Por fim, eu e o jardineiro conseguimos liberar os sobreviventes das ferragens, fazer torniquetes com as próprias camisetas que vestíamos na perna e no braço de onde jorrava sangue arterial. Quando o bombeiro chegou, eu me apresentei ao oficial como militar da reserva de primeira categoria e continuei no local a auxiliar no resgate. Para me manter útil, decidi, em posição de transporte de feridos em combate, levar o corpo do falecido para cima, onde já se encontravam os veículos do resgate. Em um determinado momento em que eu estava subindo o barranco, o corpo escorregou das minhas costas e bateu no solo. Nisso, uma mulher histérica que estava morro acima, apavorada com a cena, gritou: — Mais cuidado com o ferido, rapaz! Eu respondi seriamente: — Minha senhora, ocorre que este ferido já está morto. Se não for para auxiliar, volte já para sua casa e vá rezar, mas não atrapalhe! Todos os pequenos ferimentos que tive em função do resgate inflamaram, tenho algumas cicatrizes que, às vezes, fazem-melembrar do triste acidente com o humilde e enferrujado caminhão. Pouco tempo após, estávamos eu e a mãe da minha filha, a digna Professora Doutora Bárbara Laffranchi, transitando pela Avenida Juscelino Kubitscheck, na mesma cidade, quando vimos um grave acidente com capotamento logo à nossa frente. O carro capotado finalmente parara com o condutor dentro do mesmo, freamos o nosso carro imediatamente e saímos para prestar alguma ajuda. Avaliei a situação e vi que o carro lentamente se achatava com o condutor meio desacordado preso ao banco com o volante à frente, seu pescoço estava totalmente flexionado, em contato com a capota do carro, de cabeça para baixo. Não deu outra, ergui o carro sozinho, pois, como sempre, ninguém mais parou para auxiliar, apenas para xeretar, sendo que a Bárbara, com todo o cuidado possível, retirou o motorista de dentro do carro antes do total colapso do mesmo. Na verdade, tratava-se de um aluno da Academia Acrópolis. Ele se identificou com dificuldade e me chamou pelo nome. Eu não pude reconhecê-lo, pois estava muito traumatizado no rosto, apenas parei uma caminhoneta e segui com ele até a emergência do Hospital Evangélico de Londrina, onde passou por diversas cirurgias de reconstituição da face. Este camarada advogado por anos sempre nos agradecia ao nos encontrar. Saliento que naquela época não existia telefone celular, nem SIATE ou SAMU. Hoje em dia, se você não for devidamente habilitado, espere o resgate operacional chegar. Paramédicos, enfermeiros, médicos e bombeiros vivem diariamente estas situações, e são verdadeiros anjos da guarda de todos nós. Felizmente ou infelizmente, já fui colocado em diversas outras situações de extremo estresse nas quais pude ser útil graças ao meu treinamento militar, mas certamente as lições de Hata Yoga foram decisivas. O controle de suas emoções é importantíssimo, iniciamos com o controle da respiração, além das posturas da Yoga, por isso damos muita importância aos exercícios respiratórios. Você pode e deve estar apto a se concentrar no que faz em qualquer tipo de ambiente. Logicamente que existe a condição ideal, mas não podemos adiar muitas coisas na vida. As decisões devem ser imediatas para que você não perca o trem de sua própria história e nem oportunidades! O mundo vem sendo cada vez mais ágil, rápido e muito estressante para a maioria que não estiver preparada para abraçar as oportunidades que se apresentam. É possível se beneficiar e abraçá-las. Certa vez, o finado sogro, pai da Dra. Bárbara, disse-me: — A oportunidade é como um careca que passa à sua frente, você o agarra pelos cabelos! O Dr. Marco Antonio, avô da minha filha, construiu um império aproveitando e criando oportunidades. Você também pode construir um império, não somente de acúmulo de bens, mas principalmente um império sensorial de experiências enriquecedoras de vida com valores culturais, morais, éticos e espirituais. 4) Um ponto de equilíbrio: “É necessário encontrar o equilíbrio certo entre o controleda experiência espacial e uma liberdade para permitir que ascoisas aconteçam.” Álvaro Siza Quando garoto, eu era muito inquieto e bastante agressivo. Por recomendação, meu pai me colocou no judô tradicional quando eu tinha oito anos de idade. Meus mestres eram nada menos que Shigueto Yamasaki e Catalano Calleja, duas lenda do judô. A disciplina da arte marcial foi fundamental para que eu aperfeiçoasse o respeito e a concentração, que logo se somou à Hata Yoga da Escola Sorriso, quando tive o primeiro contato com a meditação e os exercícios respiratórios, além das posições iogues, as Ásanas. Porém, eu cresci muito no estirão do crescimento e comecei a cair mais fácil no Judô, fiquei desengonçado. Quando menor, era muito troncudo, forte e dificílimo de derrubar, mas virei uma vareta, alto e magro, mudando para uma nova arte marcial, o Taekwondo, que apenas aportava no Brasil. Depois, migrei para o Caratê quando já estava no Exército. A minha aparência não era a mais atraente na adolescência, mas eu tinha um trunfo excepcional, lia muito, hábito aprendido com o meu pai, o médico ortopedista Lafayette Guimarães. Quando eu e meus irmãos éramos crianças, nós passávamos horas em livrarias e sebos de livros. Enquanto o nosso pai procurava livros, nós líamos livros infantis e gibis sentados no chão. Dele mesmo herdei o hábito de ler e, depois de sua morte, mais de dois mil livros, que foram na maioria doados. Obtive conhecimento por conta própria através da leitura e com isso um atrativo pessoal diferenciado num mundo superficial, evasivo e de pouca letra. Isso atraiu algumas jovens no âmbito pessoal, todas do tipo intelectual e de óculos, até que um acidente na Academia Militar em uma pista de infiltração, a famosa e temida pista Rondon, uma espécie de cross training militar, fez com que me deparasse pela primeira vez com uma máquina séria de legpress com anilhas, como parte de um tratamento fisioterápico para os ligamentos cruzados do joelho comprometido. Antes, só utilizava máquinas de legpress de aglomerados ou gladiador. Assim, minhas pernas começaram a crescer e eu me entusiasmei. Saindo do Exército, coloquei mais esforços na musculação e desta vez vi todo o meu corpo se modificar e com ele a apreciação de um número maior de meninas sem óculos. Mas à medida que cresciam meus músculos, parece que os homens eram mais curiosos e inquisitivos quanto à nova forma do meu corpo, sendo que a partir de certo nível de desenvolvimento muitas meninas passaram a achar um exagero, inclusive as com óculos. Somente as igualmente mais treinadas é que se aproximavam, a maioria atletas de musculação, pretendentes a atletas e praticantes de outros esportes. Possivelmente, até nisso podemos encontrar um ponto de equilíbrio entre o que existe na mente e a ponderação quanto ao nível do desenvolvimento do seu físico, mas nada pode ser mais importante que o seu caráter. Equalizando seus objetivos e comportamento, nenhum preconceito ou crítica advinda de quem nunca alcançou nada podem desencorajá-lo de alcançar o que deseja, desde que você tenha uma relação saudável com seus objetivos. 5) O poder da imaginação: “O homem que não tem imaginação, não tem asas.” Muhammad Ali Certa vez, em uma conversa com o Professor Edmilson Amorelli, concluímos que a preparação física durante todo um período anual pode ser arruinada por uma má preparação psicoemocional. Na época em que Edmilson preparava o maior tenista brasileiro de todos os tempos, Gustavo Kuerten, o Guga, ele relatou que um dia aquecia o atleta antes de uma partida, realizando exercícios com muita movimentação. No espaço ao lado Pete Sampras, na época o número um do mundo, realizava na penumbra apenas movimentos leves, porém, altamente concentrado em frente a um espelho! Ali o Edmilson percebeu a importância da preparação mental. Prévio a uma das mais fantásticas lutas de MMA, observei o nível de concentração que o Maurício Shogun realizava logo antes da histórica luta contra o incrível Evangelista Cyborg, em Petrópolis. Ele focalizava sua estratégia de luta com um fone de ouvido, sentado em um cantinho. Este combate está disponível no Youtube. Já em um campeonato estadual de fisiculturismo muito disputado, observei o atleta Nikolas Fourier agitado momentos antes de subir no palco, ele me relatou que se sentia hidricamente retido. Ao observar o exímio Nikolas em estado de estresse, recomendei que ele deitasse e realizasse exercícios respiratórios, o que ele fez. Se não fosse esta simples estratégia, provavelmente teria sido carcomido pelo cortisol e entraria realmente retido Rodrigo Vieira Aqui no Campeonato Sul Brasileiro que ele acabou vencendo. Não deixo de incluir exercício de respiração e meditação no programa de treinamento dos atletas que já treinei com sucesso. Afinal, a mesma “imaginação” que pode garantir a você sucesso e vitória, também pode arruiná-lo. Muitas pessoas têm “vontade” de conquistar um físico impressionante, passar em um concurso importante ou no vestibularpara um curso muito concorrido. Elas têm vontade de ter um automóvel do último tipo ou de serem donas da melhor Academia. Você pode ter “vontade”, mas se não tiver “imaginação”, terá que contar com a sorte ou o acaso. Não consegue entender? Certa vez, o mestre Ciro, em Resende, no Rio de Janeiro, mencionou: “Imagine uma tábua de 20 centímetros de largura e 15 metros de comprimento entre dois edifícios de 20 andares, agora você terá que atravessá-la. Você poderá corajosamente ter uma imagem positiva que conseguirá atravessar com segurança e determinado a isso, ou poderá imaginar um vento se abatendo sobre você enquanto estiver na travessia, que a tábua poderá quebrar ou que você poderá se desequilibrar. Agora, coloque a mesma tábua sobre três tijolos na areia da praia, qual será a dificuldade em atravessá-la?” Veja por onde passa a “imaginação”, que pode ser totalmente influenciada por um set mental. Você poderá definitivamente ajustar sua determinação com exercícios mentais bem elaborados. Se você fez o “dever de casa”, imagine-se um vencedor, dominando todas as estratégias que bem treinou e estudou, isso vai funcionar bem em todos os setores da sua vida. Você deve se imaginar como um vencedor, colocar seriamente em sua mente o seu objetivo, mas que este seja factível, realista, mesmo que muito difícil. Avalie as reais possibilidades, você também poderá pedir a opinião de um especialista sincero, alguém que possa realmente dizer a verdade para você, e não apenas dizer algo para agradá-lo, alguém que realmente entenda da matéria, que tenha real experiência vencedora e com vencedores, não um curioso que acha que sabe de algo que na verdade nunca experimentou. Tenha cuidado para não ficar dando murro em ponta de faca, seja razoável. Nem todos podem ser cientistas do CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), vencedor do Ironman ou o Mister Olympia. Não, você não pode tudo, como muitos imaginam! Um novo tipo de educação lábil vem fazendo jovens acreditarem que tudo podem. Existem condições razoáveis e realistas para tudo, por isso, também existem pessoas especializadas em faces diferentes do conhecimento. O que é possível, sim, é que cada um faça o seu melhor. Costumo dizer que a perfeição não existe, que nem Deus é perfeito, pois se fosse o próprio universo não estaria em constante modificação, como observado primeiramente pelo astrônomo Edwin Hubble. A perfeição é uma busca contínua e incessante, de forma que cada um deve buscar o seu constante aperfeiçoamento. Eu vi o Mister Olympia Dorian Yates crescer e se aperfeiçoar a cada dia, eu estava lá e testemunhei. A cada competição ele aparecia maior, mais denso e definido, até que se finalizou o seu ciclo e abriram-se as portas para outro atleta que faria o mesmo nos anos seguintes. Agora, na maioria dos esportes apenas um é o melhor dentre tantos outros profissionais, mas cada um deles merece o respeito pela sua dedicação e conquistas pessoais. Ocorre que os profissionais dispõem de uma genética apropriada associada a muito esforço, técnica e conhecimento aplicado, ou seja, é multifatorial. Mas todo o processo inicia sem dúvida na mente, com o “desejo” bem estipulado e todas as demais condições potencializadas. Com um artista, um músico ou cientista de grande destaque não é diferente. Porém, as conquistas não vêm de graça, como diz o velho ditado: “A prática leva à perfeição!”. Mas como se concentrar na prática, muitas vezes repetitiva, da mesma lição, dia após dia, mês após mês e ano após ano? Através do poder de se focalizar no que realmente “deseja”. Não adianta apenas desejar e ficar esperando algo acontecer. A neurociência é clara quanto à plasticidade do cérebro e sua capacidade de aprender novas habilidades mesmo em idade avançada. Sendo que a prática, a repetição, muda de fato as estruturas do cérebro, não exatamente pelo número de neurônios, mas pela natureza das conexões neurais. A neurociência continua a avançar em passos rápidos no entendimento do que era somente místico ou incompreensível. A prática não modifica apenas a sua estrutura muscular, mas a estrutura neurológica e psicológica. O psicólogo Anders Ericsson e seus colaboradores estudaram violinistas da conceituada Academia de Música de Berlim e concluíram que os melhores músicos tinham completado dez mil horas de prática aos 20 anos de idade, os alunos que eram muito bons tinham completado oito mil horas, ou menos, e futuros professores de música tinham apenas quatro mil horas de prática. Isso explica o ditado: “Quem sabe faz, quem não sabe ensina!”. Em função desse estudo, criou-se a concepção de que seriam necessárias dez mil horas de prática para se obter maestria em qualquer área, seja na música, na ciência, nos esportes ou onde quer que seja. Logicamente que a prática é importante e serve de um grande alerta, mas definitivamente o somatório das dez mil horas de dedicação pode ser assustador e afastar a tentativa em tarefas mais simples. Na verdade, você deve mesmo é persistir e procurar se aperfeiçoar, criando uma visão melhor de si mesmo a cada dia. Se você desejar ser um piloto de caça, ou mesmo ter a possibilidade de ser um astronauta, se você deseja passar no vestibular mais concorrido do país, ou ser um atleta de destaque internacional, primeiro analise criticamente as suas possibilidades. A partir daí avance sem temer e faça o seu melhor, ou trace outro plano realista sem se subestimar ou superestimar. É grande o número de pessoas que se subestimam. Muitos aparecem no meu consultório com um objetivo muito mais modesto do que sua real capacidade. Mas ao avaliar a pessoa, a direciono e a incentivo, alertando da modéstia de seu primeiro objetivo, dizendo onde realmente poderia chegar, fundamentado em anamnese e dados morfológicos e funcionais. Outros tantos chegam com uma opinião elevada a seu próprio respeito, convencidos de que podem alcançar o Olimpo. Normalmente, estes foram estimulados pelos pais mal orientados, que não passaram de babás para os próprios filhos, sempre reforçaram a ideia de que seu filho poderia tudo na vida, que nada estaria fora de seu alcance, que todos os obstáculos seriam removidos, que a vontade de seu filho não poderia ter limites. Porém, ao avaliar a única coisa que eu poderia falar de forma direta ao mimado, seria algo do tipo: — Meu amigo/amiga, se você deseja competir nesta categoria e ter sucesso, você deverá nascer de novo! O mundo sem obstáculos cai! Muitos não se conformarão, indo direto buscar outra orientação de alguém que reforce o “nada é impossível” implantado pela má-educação. As redes sociais costumam colocar na mente de jovens que eles podem tudo a fim de venderem serviços, produtos e obter likes. É LÓGICO que nem todos têm a devida genética para ser a Miss Bumbum ou o Mister Olympia, ter a mesma habilidade do Pelé ou do Mickel Jordan, tampouco ser um físico brilhante, como Albert Eisntein. Como diz a gíria das ruas: “Cada um no seu quadrado!”. A problemática pode ser grande para posicionar o cidadão no mundo real e fazê-lo perceber que o mundo não irá conspirar contra ele mesmo que não consiga o seu notório objetivo. A questão é estar ligado à realidade e as reais possibilidades. Algumas pessoas podem ter a devida genética para ser campeãs do Ironman, mas podem não ter as condições ambientais favoráveis. Isso envolve a cultura para tal, o que inclui a informação técnica-científica e a possibilidade intelectual de absorvê-la, também envolve a condição socioeconômica, afinal, uma preparação é muito cara. Assim, é melhor que estas necessidades se encontrem em um determinado ponto, sendo que uma delas é completamente imutável, a genética. Embora tenha outra que Einstein considerava também imutável, a estupidez humana. Você concorda com Einstein? Não há “mantra” que o torne um cientista do CERN, nem o campeão do UFC, se você não tiver as condições ideais para tal. Entretanto, um mantra poderá abrir um caminho em seu cérebro para que você seja o melhor possível no que bem desejar! 6)Extremos: “É fácil ser radical, difícil é achar o equilíbrio.” Nestes dias de extremos, o comportamento radical parece ser incentivado para beneficiar grupos e vender produtos. Desta forma, o mundo, cansado das experiências desastrosas dos partidos de esquerda, tende para o outro lado da moeda, as tendências de direita. Nos treinos das Academias parece que passamos pelo mesmo processo. O atleta treina muito intenso e rápido ou realiza um treino de baixa intensidade e interminável. A hipertrofia é sarcoplasmática ou miofibrilar. Treina fibras oxidavas ou glicolíticas. Treina para hipertrofia ou para definição. Realiza uma dieta cheia de calorias provenientes de carboidratos ou adota uma dieta cetogênica. Nunca parece haver um ponto de equilíbrio. Quando sintetizei a minha visão do treino de Alta Intensidade, o MIT, considerei a hipótese de em um só treino ativar o maior número possível de fibras musculares. Afinal, se quero hipertrofia, força e potência, que estas venham da maior quantidade de fibras musculares possíveis, não importa a via elétrica pela qual são ativadas, mas que se faça a melhor ativação em um só treino. Assim, migramos de pouca carga e muitas repetições com uma aceleração elevada para muita carga com menor número de repetições e menor aceleração, mas sempre mantendo o fator intensidade elevado. E assim ocorre, através de um entendimento autoconsciente do MIT obtemos ótimos resultados em curto intervalo de tempo. Esta visão autoconsciente vem sendo muito “dificultada” pelos sistemas educacionais, principalmente em países como o Brasil, onde não se ensina disciplinas passíveis de colaborar com uma visão extradimensional dos aspectos do cotidiano, tal como a geometria descritiva, cálculo, filosofia, moral, civismo e teorias musicais, no primeiro e segundo grau, reduzindo as pessoas a uma visão cartesiana no mundo multidimensional no qual na verdade estão inseridas. Além das disciplinas supracitadas, a prática da concentração e meditação auxilia muito na abertura do pensamento, à medida que o coloca mais próximo de tomar decisões sábias e, portanto, equilibradas. A minha esposa, Francielli Guimarães, obteve ganhos desde que iniciou os seus treinos de musculação, mesmo lutando contra uma genética muito ectomorfa. Ela já havia ganhado 12 quilogramas ao longo de doze meses quando, então, resolveu estrear na singela categoria Bikini, a qual já se transformava em uma modalidade bastante competitiva. Ela participou apenas de três campeonatos, mas como considerou que o perfil não se enquadrava em seus anseios, pois não queria ser mais magrela, decidiu amplificar o desafio e se preparar para o fitness coreográfico, já que a Francielli havia sido bailarina por muitos anos, tendo treinado ginástica olímpica e participado no bailado e tecido do Le Cirque. Eu a incentivei a tal, mas nunca deixando de alertar sobre as grandes dificuldades da periodização, pois já havia preparado as excepcionais Janaina Matos e Luana Mutoni na mesma categoria difícil e pouco prestigiada. No transcorrer do treino da difícil modalidade, que envolve a manipulação da musculação, ginástica olímpica, balé clássico e elementos coreográficos, a Francielli percebeu que ao longo dos meses algumas lesões antigas voltaram a aparecer, mesmo com todo o cuidado. As horas diárias de dedicação passaram a concorrer com o bom desempenho na faculdade e a administração dos nossos negócios. Assim, deixei que ela percebesse a má relação custo-benefício entre o treinamento e seus afazeres, tendo concluído ela mesma que seria melhor abandonar o projeto de competir no fitness coreográfico, passando a treinar para fazer trabalhos de modelo fotográfico. Desta forma, completou o curso de Educação Física com a nota 10 no seu TCC. Ela foi convidada recentemente para fazer um mestrado na universidade da Paraíba em Ergonomia do Movimento Aplicada a Idosos. O jovem aluno de Educação Física, Gil Melo, estagiário na minha antiga Academia, Ironworks, em Londrina, certa vez me procurou dizendo que desejava treinar para ser atleta, o que denotaria muito esforço, tempo e investimento para sua condição naquele momento, no meio de sua faculdade. Eu, percebendo a situação e sabendo o que envolvia a preparação de um atleta para competir, numa época na qual não existiam categorias intermediárias, portanto, mais fáceis. Recomendei que ele terminasse sua graduação, arrumasse um emprego e se estabilizasse financeiramente, para depois se preparar para uma competição. Porém, que não deixasse de treinar. Ainda dei ao mesmo dois livros para que se instruísse melhor. Gil Mello fez melhor, formou-se, voltou à sua cidade de origem, Cuiabá, montou uma Academia muito bem-sucedida, a AFC, inspirado no mesmo estilo da Ironworks, casou-se e teve dois filhos maravilhosos. Somente alguns anos após isso foi atrás de seu sonho de competir, mas desta vez na modalidade Classic Physique. Se Gil tivesse caído na obsessão de se preparar para competir, teria ele obtido sucesso como empresário e pai de família? Eventualmente mudar de plano ou estratégia, ou mesmo adiar algum projeto, não é demérito para ninguém, contudo, a escolha deve ser autoconsciente. 7) Os mantras: “Om mani pad me hum” Mantra Budista O “mantra” é uma fórmula mística e ritual recitada ou cantada repetidamente pelos fiéis de certas correntes budistas e hinduístas. O termo é uma palavra em sânscrito que significa instrumento para conduzir a mente. O mantra é repetido de forma a auxiliar a concentração durante a meditação. Segundo o pesquisador britânico e escritor John Blofeld, que estudou as culturas indiana e chinesa, não importa o que exatamente se diga, a pronuncia, nem o significado para que o mesmo surta efeito quando são utilizadas palavras de origem desconhecida para a maioria, como as de origem indianas ou mesmo chinesas. Alguns psicólogos ocidentais defendem que o “mantra” possui uma energia sonora que movimenta outras energias que envolvem quem o entoa. A repetição é uma estratégia de ensino que acaba por grafar no seu subconsciente o ensinamento ou o seu objetivo desejado. Esta estratégia é muito utilizada pelo filósofo metafísico, teólogo e universalista catarinense Humberto Rhoden, contemporâneo de Albert Einstein com o qual conviveu na Universidade de Princeton, nos EUA. A estratégia também é utilizada no seriado de grande sucesso voltado para crianças pré-escolares, os Teletubbies, inventado por uma pedagoga inglesa, Anne Wood. Acreditem, eu passei no primeiro exame do IELTS que prestei, que autoriza a frequentar uma universidade de língua inglesa, com nota excelente. Uma das minhas estratégias era justamente assistir todos os dias o seriado Teletubbies e ouvir repetidamente a mesma coisa, do tipo “de novo”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Misticismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Medita%C3%A7%C3%A3o Melhorou muito o meu inglês! O meu teletubbie favorito era o Po, como eu já tinha experiência vencedora com os mantras, logo fiz a ligação com o seriado para bebezinhos. Os lendários Beatles aprenderam a meditar e utilizaram mantras com o iogue Maharishi Mahesh, na década de 1960, na Índia. A música Across de Universe possui uma frase que se repete quatro vezes, como em um mantra: “Nothingś gonna change my world”. Já em sua carreira solo o Beatle George Harrison, altamente influenciado pelo seu guru, o músico indiano Ravi Shankar, pai de Noras Jones, repete várias vezes os versos na sua maravilhosa canção My Sweet Lord, como em um mantra. Os músicos John McLaughlin e Carlos Santana, da Mahavishinu Orchestra, inspiraram-se em mantras para compor as músicas do álbum Love Devotion Surrender. A icônica Madonna se inspirou fortemente no Yoga e na cabala, o lado místico da Torá, livro judaico consagrado no seu trabalho Ray of Light. Para algumas escolas, especificamente as de fundamentação técnica, mantra pode ser qualquer som, sílaba, palavra, frase ou texto que detenha um poder específico. Porém, é fundamental que pertença a uma língua morta, na qual os significados eas pronúncias não sofram a erosão dos regionalismos por causa da evolução da língua. Segundo a filosofia iogue, existem mantras para facilitar a concentração e meditação, para energizar, para adormecer ou despertar, para desenvolver chackras, que são centros energéticos que distribuem energia dentro do corpo, ou vibrar canais energéticos a fim de desobstruí-los. Os repetitivos mantras me parecem ter o mesmo objetivo das rezas dos https://pt.wikipedia.org/wiki/Love_Devotion_Surrender https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_morta https://pt.wikipedia.org/wiki/Pron%C3%BAncia https://pt.wikipedia.org/wiki/Varia%C3%A7%C3%A3o_lingu%C3%ADstica católicos baseadas em terços. Eu criava “mantras” desde criança, baseado em frases repetitivas que aprendi em função da leitura que fazia de um conjunto de romances escritos por um controverso escritor inglês que utilizava o pseudônimo de Lobsang Rampa, alegando ter sido um Lama Tibetano. A leitura foi divertida e útil, sendo os relatos do escritor verdadeiros ou não. Um “mantra” pode ser um som, uma sílaba, uma frase ou mesmo um texto que detenha o poder de garantir a você um foco específico no que Realmente Deseja e Importa. Com base em um mantra, que no caso era uma frase, consegui alguns feitos que eram considerados impossíveis para mim, um garoto cheio de problemas que fora praticamente um natimorto. Na verdade, você permanece repetindo para si mesmo o que Realmente Deseja e Importa. Assim, este profundo desejo sempre estará em voga e influenciará suas decisões definitivamente ao selecionar atos diários, como dormir exageradamente, estudar, ler um livro, fuçar a vida alheia na internet, vencer o agachamento ou pular os exercícios, permanecendo um sabirila para sempre. Repetir o seu mantra pessoal é muito indicado durante os seus exercícios de meditação e respiração em um momento diário escolhido, não perca esta oportunidade! Nada o impede de criar o seu próprio mantra! “Quem mantra seus males espanta.” 8) Fecha a cara e treina: “Com o poder da sua mente, sua determinação, seu instintoe a experiência também, você pode voar muito alto.” Ayrton Senna Em qualquer Academia que se vá, você encontrará pessoas mais preocupadas em desenvolver relacionamento pessoal, conversar sobre o cotidiano e sobre outras pessoas, especialmente sobre suas fraquezas, do que em treinar sérias e concentradas. Mas também encontraremos pessoas treinando sozinhas, muito focadas em seu objetivo, com o seu headphone e sua seleção predileta de músicas. Aliás, usar um headphone em alguns ambientes pode ser muito útil para sinalizar que você não deseja conversar, e sim realizar a “atividade-fim”, além de estimular o seu sistema nervoso para vencer limites. A “atividade- fim” em uma Academia é TREINAR! Também encontraremos parceiros de treino igualmente focados, um auxiliando o outro com energia e convicção. Infelizmente, também iremos nos deparar com treinadores que mais parecem comadres bem pagas. Muitas vezes os treinandos desejam isso mesmo, mais conversar do que treinar. Neste caso, acredito que deveriam mesmo é procurar um psicólogo, um clérigo qualquer, ou o mais eminente fofoqueiro local, pior quando este é o próprio treinador! Muitos atletas revelam que tiveram grande sucesso em seus treinos e competições devido ao forte poder mental desprendido como fator chave em seu sucesso. Em fisiculturismo, este poder é onde o atleta deve colocar a maior potência possível em cada milímetro cubico de seus músculos, com o objetivo de vencer cargas extraordinárias em exercícios para todos os grupamentos musculares. Ele foi e é mencionado por atletas de hoje e do passado, tal como Arnold Schwarzenegger, Frank Zane, Tom Plats e Dorian Yates. Eles não haveriam de ter construído carreiras monumentais sem o poder de vencer a barreira da dor e da incerteza com convicção e foco total. Tomemos como outro exemplo a minha filha Jordana, que monta diariamente seus cavalos de alto desempenho, um total de cinco. Em cima de um gigantesco e garboso animal, prepara-se para saltar obstáculos de seis à sete dias da semana. Em dias de prova, em uma pista predefinida momentos antes, não se passa mais nada em sua mente. Neste momento, existe uma completa simbiose entre a amazona e o cavalo e um desejo mútuo: vencer a prova! Se algo a mais cruzar sua mente, a simbiose poderá ser interrompida e a missão falhar. Pior, uma queda poderá ocorrer para ambos. Quando nos procura, independente do objetivo, o que a pessoa deseja é resultado. Para nós é importante que este venha o mais rápido possível, mas com técnica e segurança, não adianta um plano enlouquecido e acabar por expor a segurança e a saúde da pessoa. A análise de um programa de treinamento deve ser o mais completo possível. Por isso, em uma avaliação física prévia (que não deve ser somente física), sugerimos que ao menos um tipo geral de personalidade possa ser diagnosticado para que possamos ter uma visão do que pode estar por vir. Na bela Praia Brava, em Santa Catarina, no verão de 2006, nascia uma nova campeã internacional do bodyfitness, Gal Ferreira. Ao observar a bela estrutura genética, já associada ao trabalho de base muito bem feito, convidei a personaltrainer para competir na prestigiada categoria da IFBB, prontificando-me a depurar o seu físico com as melhores técnicas, e ainda lancei naquele dia que ela seria campeã mundial! Gal Ferreira rapidamente obteve um importante patrocínio. Em poucas semanas, ela estava no interior da mítica Ironworks Gym, dando início a uma trajetória de sucesso linear jamais observado em nenhuma outra atleta do bodyfitness no mundo até então. Fruto de sua genética, Foco Total e acurada sistematização de todas as técnicas que envolvem a alta performance baseadas em avaliação cineantropométrica, Gal venceu em sequência o Campeonato Brasileiro, o Campeonato Sul-Americano, o overall do mesmo, e o Campeonato Mundial da Espanha em seu primeiro ano competitivo. No ano seguinte, eu a apresentava em Ohio, nos EUA, para nada menos que o britânico Mister Olympia Dorian Yates. Em pouco tempo, ela se transformou na Senhora Gal Yates para uma superparceria de sucesso e paz. A atleta e empresária Alice Matos se transformou em um ícone no mundo fitness mundial a partir do dia em que resolveu, com o apoio do marido, ser a principal modelo da própria marca. De um treino descompromissado e submáximo levado às duras custas, no dia seguinte passou a treinar totalmente focada em seu objetivo, sem esmorecer, em um estado quase hipnótico, baseada em um programa devidamente periodizado que criamos para ela. Em pouco tempo, já se destacava em competições e desafios variados e como modelo da excelente Labellamafia, que em poucos anos viria a abraçar o mundo. “Sempre que começo a treinar é como se entrasse em umestado meditativo, não ouço e não vejo mais nada na minhafrente, exceto máquinas, barras e uma imensa vontade devencer tudo aquilo.” Alice Matos A periodização do treino é uma ciência sensível e altamente mutável, para isso é necessário estar autoconsciente do seu treino e de suas reações a cada momento. O seu treinador poderá auxiliar, mas só você está dentro do seu próprio corpo sendo o seu melhor termômetro. Coletamos medidas milimétricas, predizemos dados matemáticos, cinéticos e antropométricos, mas tem algo que não é nada calculável, a sua intuição, a percepção do seu treinador e o timing do mestre! Carl Jung distingue bem oito tipos de personalidade. Já de acordo com Linda Shelton do American College of Sports Medicines Health and Fitness, são cinco as personalidades de quem pratica atividade física. Em cineantropometria recomenda-se ao menos duas classificações gerais, extrovertido e introvertido, classificações também de Jung. Acredito, no entanto, que apenas um teste conduzido por um psicólogo treinado poderia classificar com mais exatidão o tipo de personalidade de cada um, e como isso pode influenciar no seu desempenho na prática das atividades físicas. No mínimo, poderemos ter sinalizado que aspessoas não são absolutamente iguais em seu poder de concentração, e que isso deve ser respeitado e compreendido antes de rotularmos as pessoas com um tipo Y ou X de personalidade. Esse tipo de análise me parece reducionista. É o trabalho mecânico dos exercícios fazendo movimentar músculos atados a ossos de acordo com alavancas mecânicas das três classes existentes, produzindo o deslizamento de fibras musculares de actina, miosina, dentre infinitos processos, ativando as células de nosso corpo e, com elas, uma série de reações químicas feitas por moléculas compostas de átomos, prótons, nêutrons e até elementos quânticos de natureza ainda muito menor, conhecidos e desconhecidos. Nada disso seria possível se não houvesse um estímulo de origem cerebral em situações reflexas do nosso cotidiano. Mas para vencer limites mentais, vencer o limite da dor, da inércia e da incerteza é necessário um set mental, o qual é ligado à consciência, sendo este muito provavelmente algum tipo de matéria que poderíamos chamar de “conscienciotron”, como mencionado no início deste livro, tão invisível como os fótons, a partícula da luz, que sabemos da existência, mas que é impossível de fotografar com a atual tecnologia, pois qualquer equipamento que viajasse a mesma velocidade para captar sua imagem teria a sua massa infinitizada. Assim, pensando no treinamento como algo integrativo, do estímulo mecânico ao pensamento do pensamento, a meu ver fica difícil classificar o comportamento das pessoas sem vieses incríveis e momentâneos, mas apenas tendências genéricas e mutáveis, ou seja, um direcionamento geral. A frase que introduzi no mundo do treino com pesos, Fecha a Cara e Treina, tem origem militar. Quando o militar está em forma, mesmo que o “xerife” do grupamento diga algo que possa se parecer engraçado, o militar que está em forma deve permanecer sério. Mas se o “bisonho” realça algum sorriso ou se abre, como costumamos falar, o “xerife” pode proferir: “Fecha a Cara, militar!”. Para que o mesmo permaneça sério e focado em forma, sem esboçar reações que o destoe do grupo. Para isso, você deve estar focado, nem uma piada incisiva pode afetá-lo enquanto treina ou se concentra em algo importante. As crianças têm um alto poder de se concentrar, já perceberam como ficam totalmente focadas com seus brinquedos sentadas em uma sala? Ocorre que as mesmas tem um poder que com o tempo vai se perdendo, elas vivem intensamente o presente, pelo simples motivo que têm pouca preocupação com o futuro e com o que passou. Assim, devemos resgatar um pouco da criança que fomos para podermos realmente buscar o foco pleno no que fazemos no “momento presente”, como gostam de mencionar as escolas de meditação e mindfulness. 9) O pré-treino: “A diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem.” Paracelso A competitividade que nos é inerente exige que as pessoas sejam mais rápidas, eficientes e produtivas a cada dia. Desta forma, qualquer substância estimulante que prometa tornar as pessoas mais alertas e competitivas acaba por ter um enorme atrativo por parte do público em geral. Mas algumas considerações passam a ser importantes, tais como a legalidade das mesmas e como estas substâncias agem no organismo acelerando as suas funções vitais. As mais comuns são a cafeína e a nicotina, que se encontram na legalidade, e as restritas pela lei, tal como a cocaína. Todas as anteriores obtidas de plantas e anfetaminas sintetizadas em laboratório. A cafeína presente no café, alguns chás, no pó de guaraná, em chocolates e assim por diante, estimula o sistema nervoso, causando um estado de alerta, aumentando também a concentração. Mas ela também pode causar sintomas de abstinência, trazendo sensações desagradáveis, como dor de cabeça (já que a mesma tem um poder de controle da vasodilatação cerebral), irritabilidade, ansiedade, arritmias cardíacas, além de ter a capacidade de passar para o leite materno, o que deve ser um alerta caso alguém esteja amamentando. A cafeína é o estimulante com efeito moderado mais utilizado em todo o mundo, não causa dependência por não acionar o mecanismo de recompensa. Uma xícara tem por volta 100 mg de cafeína. A nicotina também é um estimulante que aumenta a frequência cardíaca, ativando o mecanismo de recompensa no cérebro, enviando a falsa mensagem que o organismo necessita da mesma para sobreviver. Os efeitos adversos são amplamente conhecidos, estando estampados nos maços de cigarro neste país. A cocaína, que foi o primeiro anestésico local verdadeiro usado na raquianestesia, tem poder estimulante, aumentando a atividade motora em decorrência da sua atividade simpaticomimética, ou seja, ativa o sistema que prepara o corpo para as situações de “luta e fuga”. Resumindo, aumenta a secreção de adrenalina, ocasionando aumento da pressão arterial, frequência cardíaca, podendo levar à arritmia cardíaca e infarto agudo do miocárdio. A euforia e verborreia desatada são devidas às interferências da dopamina e serotonina, sensação esta de curta duração e, geralmente, seguida de depressão. O uso pode ocasionar dependência química e intoxicação, levando pessoas prematuramente para outra vida, várias por overdose. Hoje em dia, ela ainda é usada como pomada para anestesia tópica pelo seu efeito vasoconstritor. As anfetaminas aumentam as atividades do sistema nervoso simpático com efeito anorexígeno. Por isso, vêm atraindo tantas pessoas com excesso de peso ao longo da história. Ouso pode causar dependência severa e patologias cardiovasculares. Acredito que o melhor pré-treino esteja em sua mente, muito embora considere o uso de estimulantes leves admissível em ocasiões especiais. Por exemplo, quando o dia for realmente mais estafante ou tiver uma noite de sono não otimamente dormida. Mas não para casos de fadiga sistêmica ou extrema, pois nestes casos o melhor seria adiar o seu treino e se recuperar fisiologicamente. Acredito que muitas pessoas possam adquirir uma dependência psicológica de pré-treinos. E o dia em que o mesmo faltar? Você não irá treinar? O que será de você se ficar sem eletricidade por alguns dias e não puder consultar o seu smartphone? Entende onde quero chegar? Na antiga Temple Gym, em Birmingham, na década de 1990, tínhamos o hábito de tomar café preto antes do treino, algumas pessoas misturavam Coca-Cola e café (um lixo)! Em uma das vezes em que estive no Brasil, resolvi levar de presente para o Mister Olympia o nosso guaraná em pó do Amazonas, que possui uma considerável concentração de cafeína. Ele adorou, toda vez que vinha para o Brasil ele me pedia: — Bring me Guaraná, Wal… Nestes dias, infelizmente, algumas pessoas acabam por se viciar em drogas químicas presentes até em produtos veterinários para poder treinar, os efeitos podem ser devastadores, causando resistência e dependência. Nunca presenciei fato similar, mesmo na Academia mais hardcore de toda a história mundial, a Temple Gym, muito embora a cafeína e derivados da éfedra fossem utilizados algumas vezes. Mas nunca me deparei com tamanha dependência, como ouço relatos em “terras brasilis”. Gostaria que o maior número de pessoas pudesse experimentar o verdadeiro êxtase mental que a concentração e que o foco de verdade podem ocasionar em seu cérebro, com este a promover atitudes frente aos grandes desafios. Um dos maiores exemplos de concentração, foco e determinação com o qual convivi foi o do fantástico Wanderley Silva, que auxiliei a preparar durante alguns anos no auge de sua carreira no extinto PRIDE. O “cachorro louco” entrava no ring com tamanha concentração que parecia estar em transe, mas não pensem que ocorria apenas durante e antes dos seus combates, em qualquer treino ele se focava totalmente, como se fosse o último treino de sua vida! Outros lutadores da antiga escola disciplinar, ao comando do ilustre mestre Rafael Cordeiro, tinham a mesma disciplina mental, daí um dos segredos de seu sucesso. 10) Sua Academia também deveria ser o seu templo: “Nunca permita que pessoas com falta de autoconfiança,
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