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Humanistica CPIURIS Juliano 2017

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NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E 
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 
 
 
 
JULIANO VIEIRA ALVES 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO ........................................................................................ 5 
A) SOCIOLOGIA DO DIREITO ............................................................................................. 6 
SOCIOLOGIA DO DIREITO .......................................................................................... 6 
Introdução à sociologia da administração judiciária ........................................................ 6 
ÉMILE DURKHEIM ....................................................................................................... 9 
KARL MARX .................................................................................................................. 9 
EUGEN EHRLICH ........................................................................................................ 11 
MAX WEBER ................................................................................................................ 14 
2. RELAÇÕES SOCIAIS E RELAÇÕES JURÍDICAS. CONTROLE SOCIAL E O 
DIREITO: .................................................................................................................................. 30 
CONTROLE SOCIAL E O DIREITO ........................................................................... 30 
PRESSUPOSTO ............................................................................................................. 30 
3. DIREITO, COMUNICAÇÃO SOCIAL E OPINIÃO PÚBLICA: ................................ 43 
SOCIOLOGIA DO DIREITO ........................................................................................ 43 
DIREITO, COMUNICAÇÃO SOCIAL E OPINIÃO PÚBLICA.................................. 43 
4. CONFLITOS SOCIAIS E MECANISMOS DE RESOLUÇÃO. SISTEMAS NÃO 
JUDICIAIS DE COMPOSIÇÃO DE LITÍGIOS: ................................................................ 76 
B) PSICOLOGIA JUDICIÁRIA ............................................................................................ 81 
3. TEORIA DO CONFLITO E OS MECANISMOS AUTOCOMPOSITIVOS. 
TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO. PROCEDIMENTOS, POSTURAS, 
CONDUTAS E MECANISMOS APTOS A OBTER A SOLUÇÃO CONCILIADA DOS 
CONFLITOS: ............................................................................................................................ 99 
4. O PROCESSO PSICOLÓGICO E A OBTENÇÃO DA VERDADE JUDICIAL. O 
COMPORTAMENTO DE PARTES E TESTEMUNHAS: ............................................. 107 
C) ÉTICA E ESTATUTO JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL ............. 122 
3. CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL: ..................................... 122 
CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA .................................................................. 122 
D) FILOSOFIA DO DIREITO ............................................................................................. 131 
JUSTIÇA COMO RETRIBUIÇÃO ............................................................................. 131 
I. SOBRE OS DIFERENTES ENFOQUES ................................................................. 132 
NOÇÃO DE JUSTIÇA EM PLATÃO ......................................................................... 133 
NOÇÃO DE JUSTIÇA EM PLATÃO ......................................................................... 134 
JUSTIÇA DISTRIBUTIVA EM ARISTÓTELES ....................................................... 134 
I. Observações gerais .................................................................................................... 134 
 
3 
 
JUSTIÇA DOS MODERNOS ...................................................................................... 137 
I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 137 
II. CONSIDERAÇÕES INICIAIS (CONTEXTO) ...................................................... 138 
III. Observação sobre Hobbes e Rousseau ................................................................... 140 
IV. Thomas Hobbes ...................................................................................................... 140 
V. John Locke ............................................................................................................... 143 
VI. David Hume ........................................................................................................... 144 
VII. Jean-Jacques Rousseau ......................................................................................... 145 
VIII. EXPLICAÇÃO .................................................................................................... 147 
IX. Immanuel Kant ....................................................................................................... 147 
O PARADIGMA DA JUSTIÇA SOCIAL ................................................................... 150 
I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 150 
II. Jeremy Bentham....................................................................................................... 151 
III. John Stuart Mill ...................................................................................................... 151 
IV. Karl Marx ............................................................................................................... 152 
AS TEORIAS CONTEMPORÂNEAS ........................................................................ 152 
I. HENRY SIDGWICK ............................................................................................... 152 
II. HERBERT HART .................................................................................................. 153 
III. ERMINIO JUVALTA ............................................................................................ 154 
IV. FRIEDRICH AUGUST VON HAYEK ................................................................. 154 
V. HANS KELSEN ...................................................................................................... 155 
VI. NIKLAS LUHMANN ............................................................................................ 155 
IV. JOHN RAWLS ....................................................................................................... 157 
Importância do pensador: ............................................................................................. 157 
2. O CONCEITO DE DIREITO. EQUIDADE. DIREITO E MORAL: ......................... 167 
2 O conceito de Direito. Equidade. Direito e moral. .................................................... 167 
VISÃO GERAL ............................................................................................................ 171 
TESES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE DIREITO MORAL ...................................... 171 
MORAL COMO MÍNIMO ÉTICO ............................................................................. 172 
IDENTIDADE .............................................................................................................. 174 
TEORIA DOS CÍRCULOS SECANTES..................................................................... 174 
A MORAL COMO MÍNÍMO JURÍDICO ................................................................... 174 
O DEBATE ATUAL .................................................................................................... 175 
TESE DA CONEXÃO ................................................................................................. 175 
 
4 
 
TESE DA SEPARAÇÃO ............................................................................................. 176 
3. A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO: ...........................................................................199 
E) TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA .................................................... 209 
1. Direito objetivo e direito subjetivo: ................................................................................. 209 
2. FONTES DO DIREITO OBJETIVO: ............................................................................. 241 
CONCEITUAÇÃO ....................................................................................................... 241 
DIÁLOGO CF X NOVO CPC ...................................................................................... 259 
DISTINÇÃO VALOR X PRINCÍPIO ........................................................................... 261 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 263 
REFLEXOS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ........................................ 310 
NOVO CPC .................................................................................................................. 315 
VALORES QUE JUSTIFICAM ................................................................................... 316 
NATUREZA JURÍDICA DA SÚMULA VINCULANTE ........................................... 318 
REQUISITOS E PROCESSAMENTO ........................................................................ 320 
EFEITOS DA SÚMULA .............................................................................................. 324 
CRÍTICAS GERAIS ..................................................................................................... 325 
CRÍTICAS ESPECÍFICAS .......................................................................................... 332 
MAIOR ABRANGÊNCIA DA LEI 11.417/2006 ........................................................ 338 
PROCEDIMENTO ....................................................................................................... 342 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 343 
3. EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO. CONFLITO DE NORMAS JURÍDICAS NO 
TEMPO E O DIREITO BRASILEIRO: .............................................................................. 344 
ATO JURÍDICO PREFEITO ....................................................................................... 402 
COISA JULGADA ....................................................................................................... 404 
4. O CONCEITO DE POLÍTICA. POLÍTICA E DIREITO: ........................................... 426 
TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA ......................................................... 426 
5. IDEOLOGIAS: ................................................................................................................... 489 
TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA .................................................... 489 
Pressuposto básico ........................................................................................................ 490 
Conceituação inicial e a transformação ........................................................................ 490 
IDEOLOGIA MARXISTA: ......................................................................................... 491 
ANEXO ........................................................................................................................ 507 
6. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (ONU): ............ 511 
TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA .................................................... 511 
 
5 
 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem ONU ............................................... 511 
Declaração Universal dos Direitos Humanos ............................................................... 526 
 
 
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO 
 
Uma introdução necessária. 
 
O intuito do presente material consiste na tentativa de fornecer subsídio para 
o estudante tomar conhecimento de temas periféricos a quem estuda para a magistratura. 
Nesse contexto, estarão de fora do presente material temas como: assédio 
sexual; Regime jurídico da magistratura nacional: carreiras, ingresso, promoções, 
remoções; Direitos e deveres funcionais da magistratura; Código de Ética da Magistratura 
Nacional (mas o código é de leitura obrigatória); Sistemas de controle interno do Poder 
Judiciário: Corregedorias, Ouvidorias, Conselhos Superiores e Conselho Nacional de 
Justiça; Responsabilidade administrativa, civil e criminal dos magistrados (tema muito 
acessível no direito administrativo ou mesmo no constitucional). 
Em relação ao restante, busquei sempre basear os textos na literatura 
especializada e mais atual. 
Espero que seja útil a leitura. 
Boa prova a todos! 
Juliano Vieira Alves 
Junho de 2017 
 
 
 
 
6 
 
A) SOCIOLOGIA DO DIREITO 
1. Introdução à sociologia da administração judiciária 
 
SOCIOLOGIA DO DIREITO 
Introdução à sociologia da administração judiciária 
 
Texto base da aula: SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução à sociologia 
da administração da justiça. Revista Crítica de Ciências sociais, nº 21. Nov. 1986, pp. 11-
37. [online] 
 
Estrutura da aula: 
PARTE I 
Os precursores da sociologia do direito 
Contribuições da sociologia do direito para a compreensão da relação 
existente entre administração da justiça/direito processual/realidade social 
CONDIÇÕES TEÓRICAS 
1. sociologia das organizações 
2. ciência política 
3. antropologia do direito 
 
CONDIÇÕES SOCIAIS 
1. lutas sociais 
2. crise na administração da justiça 
 
PARTE II 
Contribuição da sociologia para a administração da justiça 
 
7 
 
Temas 
1. acesso à justiça 
2. concepção da administração da justiça como instância política 
3. mecanismos de resolução de conflitos sociais 
 
PARTE III 
Linhas de pesquisa com possíveis impactos na nova política judiciária 
 
RESUMO: O texto analisa “os antecedentes e as condições da contribuição da sociologia 
do direito para o aprofundamento das complexas interacções entre o direito processual 
e a administração da justiça, por um lado, e a realidade social e econômica em que 
operam” (SANTOS, 1986, p. 17). 
Na segunda parte do trabalho, com base nas contribuições noticiadas, ele aponta: 
- as linhas de investigação mais promissoras e 
- o perfil de uma nova política judiciária 
 
 
PARTE I 
PRECURSORES DA SOCIOLOGIA DO DIREITO 
 
A sociologia do direito somente se constituiu enquanto ciência após a 2ª Guerra Mundial 
A partir desse marco 
Passou a usar técnicas e métodos de investigação empírica 
Teorizou sobre esses dados 
Construiu sobre o direito um objeto teórico específico 
Ganhou autonomia em relação à Dogmática política 
 
8 
 
Filosofia do direito 
Antes disso, houve grande produção científica orientada pela perspectiva sociológica do 
direito: “...a sociologia do direito é, sem dúvida, de todos os ramos dos sociólogos aquele 
em que o peso dos precursores, das suas orientações teóricas, das suas preferências de 
investigação, das suas criações conceituais, mais fortemente se tem feito sentir” 
(SANTOS, 1986, p. 11) 
“O direito será sempre uma área de interesse da sociologia. Por isso, faz parte da 
análise já dos fundadores da sociologia”. (FREITAS; COSTA, 2013, p. 649). 
 
OBJETO DA SOCIOLOGIA DO DIREITO: “...uma perspectiva que explicitamente 
tematiza as articulações do direito com as condições e as estruturas sociais em que 
opera...” (SANTOS, 1986, p. 12) 
 
Primeiro debate 
Um dos debates polarizadores consiste no debate acerca da visão do direito enquanto 
VARIÁVEL DEPENDENTE VARIÁVEL INDEPENDENTE 
“...o direito se deve limitar a acompanhar 
e a incorporar os valoressociais e os 
padrões de conduta espontânea e 
paulatinamente constituídos na 
sociedade” (SANTOS, 1986, p. 12) 
“...o direito deve ser um activo promotor 
de mudança sociais tanto no domínio 
material como no da cultura e das 
mentalidades” (SANTOS, 1986, p. 12) 
De um lado, Savigny (1840) e Bentham (1823) 
 
Segundo debate: 
Há consenso de que o direito reflete as condições prevalecentes e também atua 
conformadoramente sobre elas 
A polaridade se dá nos seguintes termos 
 
9 
 
ÉMILE DURKHEIM 
 “...o direito como o indicador privilegiado dos padrões de solidariedade social, garante 
da composição harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integração social 
e realiza o bem comum” (SANTOS, 1986, p. 12). 
...Émile Durkheim definia o objeto da sociologia de maneira mais voltada 
para a coletividade do que Weber. Assim, definiu a sociologia como a ciência "das 
instituições, da sua gênese e do seu funcionamento", ou seja, "de toda crença, todo o 
comportamento instituído pela coletividade". Seu objeto próprio, para ele, são os fatos 
sociais - "[...] toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo 
uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral no âmbito de uma dada sociedade, 
tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações 
individuais". 
O direito seria, portanto, uma das expressões desses fatos sociais. Segundo 
ele, "[...] além dos atos individuais que suscitam, os hábitos coletivos exprimem-se sob 
formas definidas, regras jurídicas, morais, ditados populares, fatos de estrutura social, 
etc.". E prossegue afirmando que "[...] uma regra do direito é o que é, e não há duas 
maneiras de percebê-la. [...] estas práticas não são senão vida social consolidada [...]". A 
conexão entre vida social e direito, para Durkheim, é inequívoca, como se o direito 
germinasse espontaneamente da vida social. 
A centralidade do direito, em sua obra, está presente na sua teoria da 
consciência coletiva e das solidariedades sociais. Assim, para Durkheim, o tipo de direito 
que rege uma sociedade varia conforme o tipo de solidariedade (mecânica ou orgânica) 
que constitui a organização social. Em sociedades nas quais a solidariedade é mecânica, 
o tipo de direito praticado é o repressivo. E, naquelas em que a solidariedade é orgânica, 
característica do direito moderno, o tipo de direito é o restitutivo (FREITAS; COSTA, 
2013, p. 643). 
 
KARL MARX 
 “...o direito como expressão última de interesses de classe, um instrumento de 
dominação econômica e política que por via de sua forma enunciativa (geral e abstracta) 
 
10 
 
opera a transformação ideológica dos interesses particularísticos da classe dominante 
em interesse coletivo universal” (SANTOS, 1986, p. 12/13) 
 
A ideologia tem um papel fundamental na análise filosófica e científica de 
Marx e Engels. O conceito de ideologia como maneira enviesada ou enganosa de observar 
o mundo, é central na construção do materialismo histórico; "[...] assim como o Estado é 
o Estado da classe dominante, as ideias da classe dominante são ideias dominantes em 
cada época". 
Na nossa sociedade, devido à ordem jurídica, a sensação que temos é de que 
os cidadãos são iguais perante a lei, com a ideia de que o pressuposto jurídico do contrato 
social beneficia a todas as partes livres. Nesse sentido, o direito cria ilusões de que há 
uma igualdade jurídica entre todos os cidadãos. 
Não se trata de má-fé, assinalaram Marx e Engels, uma vez que a má-fé 
pressupõe uma distorção consciente e voluntária; a ideologia é cegueira parcial da 
inteligência entorpecida pela propaganda dos que a forjaram. O "discurso competente", 
em que a ciência se corrompe a fim de servir à dominação, mantém ligação inextricável 
com o discurso conveniente, mediante o qual as classes privilegiadas substituem a 
realidade pela imagem que lhes é mais favorável, e tratam de impô-la aos demais, com 
todos os recursos de que dispõem (órgãos de comunicação de massa, ensino, instrumentos 
especiais de controle social de que participam e, claro, como forma destacada, as próprias 
leis). 
Sendo assim, o Estado, para Marx, é uma instituição de poder que tem por 
função assegurar os conflitos entres as classes sociais no âmbito de uma ordem 
convencionada. O direito, por sua vez, é fruto das relações sociais na sociedade capitalista 
e institucionalizada na esfera político-jurídica, e é sempre conduzido, na análise 
marxiana, como um paralogismo que designa apenas as normas da classe dominante: "[...] 
o Estado se impõe na condição de comunidade dos homens. Mas é uma comunidade 
ilusória, pois o Estado, por baixo das aparências ideológicas de que, necessariamente, se 
reveste está sempre vinculado à classe dominante e constitui seu órgão de dominação". 
 
11 
 
Para Marx, mesmo quando o Estado consegue se desvencilhar de certos 
aspectos da ideologia dominante, essa desvinculação não é senão ilusória. Assim, o 
Estado elimina, à sua maneira, as distinções estabelecidas por nascimento, posição social, 
educação e profissão, ao decretar que o nascimento, a posição social, a educação e a 
profissão são distinções não políticas; ao proclamar, sem olhar tais distinções, que todo o 
membro do povo é igual parceiro na soberania popular e ao tratar do ponto de vista do 
Estado todos os elementos que compõem a vida real da nação. No entanto, o Estado 
permite que a propriedade privada, a educação e a profissão atuem à sua maneira, isto é, 
como propriedade privada, como educação e profissão, e manifestem a sua natureza 
particular. (FREITAS; COSTA, 2013, pp. 647-8). 
Ainda no ótica normativista substantivista do direito – 1º quartel do século 
XX 
EUGEN EHRLICH 
 “para alguns o fundador da sociologia do direito” (SANTOS, 2000, p. 163) 
“Durante uma conferência que ele fez em Viena, em 1903, cujo título era 
Freie Rechtsfindung und freie Rechtwissenschaft, Ehrlich afirmava que o direito era uma 
‘realidade sociológica que o jurista deve pesquisar’. Ele definiu, por conseguinte, a 
existência de um ‘direito social’, ‘vivo ou real’, ‘fora do estado’, que vive completamente 
à margem do direito do estado” (ARNAUD, DULCE, 2000, pp. 72/73). 
"Em 1913, o jurista Eugen Ehrlich (1862-1922) apresenta na Alemanha a sua 
obra Fundamentos da sociologia do direito, que terá grande repercussão entre os 
estudiosos do direito. Ehrlich sustenta que existem vários ordenamentos jurídicos na 
mesma sociedade (direito da comunidade, direito do Estado, direito dos juristas) e 
apresenta os métodos de pesquisa que a sociologia jurídica deve empregar para analisar 
tais ordenamentos" (SABADELL, 2013, p. 48). 
O DIREITO VIVO 
direito oficialmente instituído e formalmente vigente 
contraposto à 
normatividade emergente das relações sociais pelas quais se regem os 
comportamentos e se previne e resolve a esmagadora maioria dos conflitos 
 
12 
 
CRIAÇÃO JUDICIÁRIA DO DIREITO 
normatividade abstrata da lei 
contraposta à 
normatividade concreta e conformadora da decisão do juiz 
 
“A discussão entre Sociologia Jurídica e Dogmática Jurídica trazida por 
Weber no seio de Economia e sociedade remonta, em realidade, à celeuma engendrada 
por dois antecessores seus, Herman Kantorowicz e Eugen Erlich, precursores da 
chamada "Escola do Direito Livre" e do "Movimento Sociológico do Direito", até então 
com relativa influência nas academias jurídicas alemãs. Pregavam estes dois autores, 
em suma e basicamente, a idéia de que a lei não poderia criar efetivamente o Direito, 
visto que tal tarefa era destinada ao órgão vivo, ao elemento subjetivo do Direito, o juiz 
(giurisprudenzia). Deste modo,qualquer ciência que fosse válida deveria pautar-se nos 
acontecimentos da realidade, nos elementos empiricamente constatáveis. Com tais 
formulações, criticavam severamente a ciência jurídica dos juristas que somente se 
atinham às leis formalmente criadas pelo legislador. Além do mais, tais pensadores 
reivindicavam a função judicial como a verdadeira fonte de Direito, visto que se tratava 
de efetivamente aplicar uma norma abstrata ao mundo fático, função esta 
materializadora do Direito e que alcançava, portanto, fins práticos. Propunham, assim, 
a livre criação do Direito por parte do magistrado, além de defenderem a idéia de que 
a Sociologia do Direito seria a única e verdadeira ciência de estudo do Direito, por ser 
a única que se voltava a atingir ao escopo do próprio Direito, que é a transformação do 
mundo fático” (SILVEIRA, Daniel Barile da. Max Weber e Hans Kelsen: a sociologia 
e a dogmática jurídicas. Revista de Sociologia e Política. Curitiba. n. 27, pp. 171-179, 
nov. 2006, p. 172). 
Para Ehrlich, a primeira e mais importante tarefa da Sociologia do Direito é 
"estabelecer uma distinção entre as componentes do direito que regulam, ordenam e 
determinam a sociedade, demonstrando a sua natureza organizatória, e aquelas que são 
puras normas de decisão". Pois, o Direito "é a ordem da vida estatal, social, espiritual 
e econômica, mas não é sua ordem exclusiva; além do direito há outras ordens de 
importância equivalente e possivelmente mais eficientes". 
 
13 
 
Considera que a principal questão que a Sociologia do Direito deve 
resolver é "com que fenômenos o sociólogo deve preocupar-se e de que modo ele deve 
coletar os fatos para conhecê-los e interpretá-los". Pois os fenômenos sociais que 
"interessam ao conhecimento científico do Direito são, sobretudo, os próprios fatos do 
Direito: o hábito que dentro das associações humanas determina a cada um sua posição 
e suas tarefas, as relações de dominação e de posse, os contratos, estatutos, declarações 
de última vontade e outras disposições além do processo hereditário". 
Para Ehrlich, se existe uma regularidade nos fenômenos da vida 
jurídica, que a sociologia deveria descobrir e apresentar, ela só pode ser encontrada no 
condicionamento determinado pela realidade social e econômica; se existe uma 
"evolução do direito que obedece a uma regularidade ela só pode ser conhecida e 
apresentada no contexto de toda a evolução social e econômica". Desse modo, "a 
Sociologia do Direito buscará seu material não no antiquário jurídico, mas na história 
social e econômica". 
Para Ehrlich, a Sociologia do Direito deve prescrever o que de fato 
acontece e não o que a lei prescreve. E ao descrever como de fato se processa a vida 
jurídica, a sociologia descreve o direito vivo, diferente do direito vigente. 
Para ele, ‘Este, portanto, é o direito vivo em contraposição ao apenas 
vigente diante de tribunais e órgãos estatais. O direito vivo é aquele que, apesar de 
não fixado em prescrições jurídicas, domina a vida. As fontes para conhecê-lo são 
sobretudo os documentos modernos, mas também a observação direta do dia-a-dia do 
comércio, dos costumes e usos e também das associações, tanto as legalmente 
reconhecidas quanto as ignoradas e até ilegais’. 
No entanto, a análise sociológica do Direito, afirma Ehrlich, "terá de 
comparar com a realidade não só as prescrições jurídicas, mas também os documentos, 
ela também neste particular terá de distinguir entre direito vigente e direito vivo". Deve-
se observar, no entanto, que o "Direito vigente (norma de decisão) parece ser o 
conteúdo decisivo do documento, pois em caso de processo é que ele conta; mas ele só 
é direito vivo na medida em que as partes o observam, mesmo que não pensem em 
processo". 
 
14 
 
Considerava Ehrlich que, como o Direito é um fenómeno social, a 
Sociologia do Direito é a doutrina científica do Direito (DIAS, 2009, pp.40-41) 
 
 
Esses deslocamentos criaram as condições teóricas para uma nova visão 
sociológica 
O direito passou a ser estudado nas suas dimensões 
Processuais 
Institucionais 
Organizacionais 
 
MAX WEBER 
Preocupa-se na definição da especificidade e o lugar privilegiado do direito 
diante das demais fontes de normatividade em circulação nas relações sociais 
Centrou sua análise na burocracia especializada encarregada da aplicação das 
normas jurídicas 
O que distingue o direito moderno do anterior é o tipo ideal de burocracia: 
“monopólio estatal administrado por funcionários especializados segundo critérios 
dotados de racionalidade formal, assente em normas gerais e abstratas aplicadas a casos 
concretos por via de processos lógicos controláveis, uma administração em tudo 
integrável no tipo ideal de burocracia por ele elaborado” (SANTOS, 2000, p. 163). 
 
“O sociólogo alemão Max Weber contribui decisivamente para a formação 
de uma sociologia jurídica ou do direito. Segundo Weber, ‘A lei existe quando há uma 
probabilidade de que uma ordem seja mantida por um quadro específico de homens que 
se utilizarão de compulsão física ou psíquica com a intenção de obter conformidade em 
relação à ordem ou de aplicar sanções à sua violação’. Para ele, a assertiva vale para todas 
as ordens legais, não se restringindo somente às do Estado. Além disso, a estrutura da 
 
15 
 
ordem legal tem influência direta na distribuição de poder dentro de uma comunidade…” 
(FREITAS; COSTA, 2013, p. 640). 
“A abordagem weberiana utiliza-se do processo de racionalização em todas 
as esferas da vida social do Estado moderno. O Estado moderno, o direito e os fenômenos 
sociais oriundos dessa relação - ordem, processo de mudança social, burocracia, 
racionalidade e o princípio da ação social - são ligados aos aspectos subjetivos e objetivos 
da realidade social. (...) , vale lembrar que ele atribui ao direito uma importância 
fundamental para o Estado moderno, pois define as regras que serão preestabelecidas no 
campo judiciário. Talvez a maior contribuição da sociologia jurídica de Weber seja a 
questão da profissionalização do direito. Segundo ele, o direito precisa ser uma instituição 
que analise as contradições internas da sociedade e crie leis que contemplem os cidadãos, 
e também que seja capaz de reduzir os conflitos sociais” (FREITAS; COSTA, 2013, p. 
649-650). 
Essa tradição intelectual influenciou decisivamente na constituição do objeto 
da sociologia do pós-guerra 
GRANDES TEMAS 
1 – discrepância entre o direito formalmente vigente e o socialmente eficaz – Law in 
books/Law in action 
2 – relação entre o direito e o desenvolvimento – papel do direito na transformação 
modernizadora das sociedades tradicionais 
Ainda assim negligenciam-se questões 
Processuais 
Institucionais 
Organizacionais 
 
A partir do final da década de 50 o quadro se modifica 
RAZÕES TEÓRICAS DA MUDANÇA 
PRIMEIRA RAZÃO TEÓRICA 
 
16 
 
Surge a sociologia das organizações 
Inspirada em Weber 
Estrutura/forma das organizações 
SEGUNDA RAZÃO 
A ciência política volta seu interesse para os tribunais 
O juiz passa a ser objeto de estudo enquanto instância de decisão e poder político 
Estuda o juiz pela sua orientação política 
TERCEIRA CONDIÇÃO TEÓRICA 
Desenvolve-se a antropologia jurídica 
A antropologia sai das “sociedades simples” 
Centra-se no litígio e nos mecanismos de prevenção e resolução 
Desvia a atenção das normas para os processos e instituições 
CONDIÇÕES SOCIAIS DA MUDANÇA 
PRIMEIRA CONDIÇÃO 
Lutas sociais protagonizadas por 
Negros 
Estudantes 
Buscam novos direitos 
Segurança social 
Habitação 
Educação 
Transportes 
Meio ambiente 
Qualidade de vida 
Queriam aprofundara conteúdo democrático dos regimes pós-guerra 
 
17 
 
“Foi neste contexto que as desigualdades sociais foram sendo recodificadas no 
imaginário social e político e passaram a constituir uma ameaça à legitimidade dos 
regimes políticos assentes na igualdade de direitos. A igualdade dos cidadãos perante 
a lei passou a ser confrontada com a desigualdade da lei perante os cidadãos, uma 
confrontação que em breve se transformou num vasto campo de análise sociológica e 
de inovação social centrado na questão do acesso diferencial ao direito e à justiça por 
parte das diferentes classes e estratos sociais” (SANTOS, 1986, p. 16 – grifei) 
SEGUNDA CONDIÇÃO 
A crise da administração da justiça, na década de 60 
As lutas sociais (noticiadas na primeira condição) aceleraram uma modificação estatal 
– saiu-se do Estado Liberal para o Estado providência: “um Estado activamente 
envolvido na gestão dos conflitos e consertação entre classes e grupos sociais, e 
apostado na minimização possível das desigualdades sociais no âmbito do modo de 
produção capitalista dominante nas relações econômicas” (SANTOS, 1986, p. 16) 
Conflitos emergentes 
Relação de trabalho 
Segurança social 
Habitação 
Bens de consumo doradouros 
A integração da mulher no mercado de trabalho 
Essas condições geraram uma explosão de litigiosidade 
Com o fim da expansão econômica (década de 70) e o início da recessão 
(provavelmente, ele está falando da Europa), o problema ganha um caráter estrutural. 
• - redução de recursos financeiros do Estado 
• - crescente incapacidade do Estado em cumprir os compromissos 
assistenciais e providenciais assumidos com a sociedade na década anterior 
“A preocupação em reinserir a mão-de-obra deixada para trás nunca foi um 
empreendimento do capital. A novidade agora é que os contribuintes não mais se 
interessam por isso. Não se trata simplesmente de uma desconsideração do outro ou em 
 
18 
 
razão da crescente perda dos sentimentos sociais de solidariedade. A capacidade de 
financiamento do Estado está esgotada, segundo Habermas, em razão do seguinte círculo 
vicioso: ‘...desemprego crescente, sistema de segurança social saturado e contribuições 
se reduzindo’ (HABERMAS, 2001, p. 100)” (ALVES, 2010, p. 21). 
Essa crise financeira impediu o Estado de adequar a oferta da justiça à 
demanda. 
Tais fatores inspiraram estudos sociológicos sobre: 
• Administração da justiça 
• Organização de tribunais 
• Formação e recrutamento dos magistrados 
• Motivação das sentenças 
• Ideologias políticas e profissionais – tese sobre a escola da USP 
• Custo da justiça - A esse respeito: “147 dias e R$ 947,34. Estes são 
o prazo e o custo médios de um processo judicial que tramita na 2ª Instância do 
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Os valores foram 
calculados a partir da conclusão do Projeto de Definição do Tempo e Custo 
Médios de Tramitação dos Processos no Segundo Grau - PROTEC. O projeto, de 
continuidade administrativa da gestão 2008-2010, foi recepcionado pelo Plano 
de Gestão do Biênio 2010-2012.[...] Foram desenvolvidas as fórmulas de cálculo 
do tempo e custo médio de duração de dez tipos de processos: mandado de 
segurança, habeas corpus, apelação criminal, apelação cível, ação rescisória, 
embargos infringentes cíveis e criminais, recurso em sentido estrito, agravo de 
instrumento, medidas cautelares. Os cálculos revelaram que o processo com 
tramitação mais cara é o Mandado de Segurança (R$ 2103,80), e o de menor 
custo é o Habeas Corpus (R$ 267,90)”1. 
• Bloqueamento de processos 
• Ritmo e andamento nas mais diversas fases 
 
 
1 Assessoria de Comunicação Social do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios: “TJDFT 
conclui projeto que mede tempo e custo médios de tramitação de processos da 2ª Instância”. Notícias ACS 
- 15/7/2011 online 
 
19 
 
 
PARTE II 
Contribuição da sociologia para a administração da justiça 
 
Análise, de modo sistemático, o âmbito diversificado das contribuições da 
sociologia do direito para a administração da justiça 
Acesso à justiça 
É o tema que demonstra mais 
claramente as relações entre 
Processo civil/justiça social 
Igualdade jurídico-
formal/desigualdade sócio-econômica 
A justiça cível é o lugar para tratar do tema, pois a esfera “penal há, por assim 
dizer, uma procura forçada da justiça, nomeadamente por parte do réu” – e o caso da 
ação penal privada? 
A esse respeito: “...o extraordinário número de processos pode estar 
concentrado em uma fatia específica da população, enquanto a maior parte desconhece 
por completo a existência do Judiciário, a não ser quando é compelida a usá-lo, como 
acontece em questões criminais. Desta forma, a instituição seria muito procurada 
exatamente por aqueles que sabem tirar vantagens de sua utilização” (SADEK, LIMA e 
ARAÚJO, 2001, p. 40). 
Nada obstante a consagração constitucional dos novos direitos econômicos e 
sociais, o Estado ficou destituído de mecanismos para implementar essas previsões 
normativas: “passariam a meras declarações políticas, de conteúdo e função 
mistificadores” (SANTOS, 1986, p. 18). 
Partindo dessas constatações, a tramitação dos processos deixou de ser 
analisado como tecnicamente/socialmente neutro 
A organização da justiça passou a ser investigada de outro modo: Qual a sua 
função social? 
 
20 
 
Com essa opção, aparentemente técnica, pode veicular: “opções a favor ou 
contra interesses sociais divergentes/antagônicos”: patrões/empregados, proprietários de 
imóveis/inquilinos, instituições financeiras/consumidores, etc 
A sociologia passou a investigar os entraves que impediam as classes 
populares de acessar o judiciário 
Em outros termos, passou a estudar a discriminação social no acesso à justiça 
Estudos demonstram que a justiça civil é mais cara para os pobres, 
proporcionalmente: 
As pesquisas apresentadas por Boaventura demonstraram que os cidadãos de 
baixa renda são “os protagonistas e os interessados nas acções de menor valor e é nessas 
acções que a Justiça é proporcionalmente mais cara” (SANTOS, 1986, p. 19). 
Custo do processo no Distrito Federal 
Ao lado da reforma do processo, deve-se analisar “a organização judiciária 
e a racionalidade ou irracionalidade dos critérios de distribuição territorial dos 
magistrados” (SANTOS, 1986, p. 20) – JUIZADO ITINERANTE 
A distância do cidadão à administração da justiça é maior para os pobres 
Essa distância também é devida a fatores sociais e culturais 
1º (tese de Boaventura) – pobres não conhecem seus direitos, portanto têm 
“mais dificuldade em reconhecer um problema que os afeta como sendo um problema 
jurídico” (SANTOS, 1986, p.21) 
2º após reconhecer o problema como jurídico, é necessário ter disposição para 
propor uma ação judicial: “Os dados mostram que os indivíduos das classes baixas 
hesitam muito mais que os outros em recorrer aos tribunais, mesmo quando reconhecem 
estar perante um problema legal” (SANTOS, 1986, p. 21) 
Fatores que explicam a desconfiança 
• experiência anterior 
• medo de represálias (justiça do trabalho) 
 
21 
 
A esse respeito: “...sabe-se que cresce a probabilidade de se buscar direitos 
quando aumentam os graus de escolaridade e de renda; e, inversamente, baixos níveis 
de renda e de escolaridade tendem a operar como fatores que inibem a realização de 
direitos e, em decorrência, o uso de tribunais” (Desasso, 2001, p. 77). 
Não existem dados disponíveis a esse respeito: “Essa hipótese que contempla 
o alto uso dos serviços do Judiciário por uma parcela restrita da população mereceria 
ser melhor trabalhada.Faltam, entretanto, dados mais específicos para a sua discussão. 
Seria imprescindível qualificar os autores e os réus dos processos, sobretudo na área 
cível. Somente assim seria possível saber se, de fato, a utilização do judiciário está 
estreitamente correlacionada a um grupo específico da sociedade, exatamente aquele 
que dispõe de mais recursos econômicos, sociais e intelectuais” (SADEK, LIMA e 
ARAÚJO, 2001, p. 40). 
A JUSTIÇA EM NÚMEROS NÃO SUPRE ESSE DÉFICT 
3º quanto mais baixo o estrato social do cidadão: 
• é menos provável que conheça um advogado 
• operadores do mundo do direito não fazem parte do seu círculo de conhecidos 
• maior é a distância geográfica entre seu local de trabalho/residência e os serviços 
advocatícios gratuitos 
 
Em razão dessas conclusões, os tribunais se mobilizaram e desenvolveram 
inovações institucionais oraganizacionais para tentar minimizar essa discriminação social 
no acesso à justiça 
- Justiça itinerante – 125, §7º, CF/88 – EC 45 
- Justiça Federal – 108, §3º, CF/88 
- Câmaras Regionais – 125, §6º, CF/88 
 
 
 
22 
 
Administração da justiça como instituição política 
Esse segundo passo é um tema amplo que contém diversos objetos e formas 
de análise 
Os cientistas políticos passaram a enxergar os tribunais como um sub-sistema 
do sistema político global 
Logo, processam inputs externos 
Estímulos 
Pressões 
Exigências sociais 
Exigências políticas 
Pelos mecanismos de conversão, produzem outputs – decisões 
Essas decisões produzem impacto social e político nos demais subsistemas 
 
DUAS CONSEQÜÊNCIAS IMPORTANTES DESSA ÓTICA 
A) o juiz foi colocado no centro do campo analítico 
Que relação existe entre a decisão judicial e 
Origem de classe do juiz 
Formação profissional 
Idade 
Ideologia política e social 
B) desmentiu-se a concepção de que a justiça é “uma função neutra e protagonizada por 
um juiz apostando apenas em fazer justiça acima e eqüidistante dos interesses das partes” 
(SANTOS, 1986, p. 24). 
 
Estudos sobre ideologia da magistratura – Itália 
1- tendência “estrutural funcionalista” 
 
23 
 
ênfase nos valores da ordem, equilíbrio, segurança social e certeza do direito 
agrupa juízes conservadores ou moderados 
defendem a divisão de poderes 
são adeptos de soluções tradicionais 
 
2 - tendência “conflitivismo pluralista” 
prevalecem ideias de mudança social 
defende o reformismo da organização judiciária e da sociedade 
têm como objetivo o aprofundamento da democracia dentro do marco jurídico-
constitucional do Estado de direito 
 
3 - tendência do “conflitismo dicotômico de tipo marxista” 
os juízes apostam no uso alternativo do direito 
acreditam na função criadora da magistratura 
contribuem, pelo direito, na construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária 
 
“Todos estes estudos têm vindo a chamar a atenção para um ponto 
tradicionalmente neglicenciado: a importância crucial dos sistemas de formação e de 
recrutamento dos magistrados e a necessidade urgente de os dotar de conhecimentos 
culturais, sociológicos e econômicos que os esclareçam sobre as suas próprias opções 
pessoais e sobre o significado político do corpo profissional a que pertencem, com vista 
a possibilitar-lhes um certo distanciamento crítico e uma atitude de prudente vigilância 
pessoal no exercício das suas funções numa sociedade cada vez mais complexa e 
dinâmica” (SANTOS, 1986, p. 26). 
 
 
 
24 
 
Conflitos sociais e os mecanismos da sua resolução 
Essa é a terceira contribuição da sociologia para a administração da justiça: 
os litígios sociais e mecanismos da sua resolução. 
As contribuições da antropologia são decisivas 
A antropologia, ao investigar as sociedades simples, mostrar formas de direito 
e padrões de vida jurídica totalmente diferentes dos existentes nas sociedades complexas 
exemplos: 
a. direitos com baixo grau de abstração e apenas discerníveis na solução concreta de 
litígios; 
b. direitos com pouca especialização em relação às restantes atividades sociais; 
c. mecanismos de resolução de litígios caracterizados pela informalidade, rapidez, 
participação da comunidade, conciliação ou mediação entre as partes por meio de 
discurso jurídico retórico e persuasivo, assente na linguagem comum; e 
d. existência, na mesma sociedade, de uma pluralidade de direitos convivendo e 
interagindo de diferentes formas. 
Partindo-se da abordagem inaugurada pelas pesquisas etnográficas, 
seguiram-se abordagens sociológicas, tendo por unidade de análise os litígios e não a 
norma 
orientação teórica: pluralismo jurídico. 
Foram analisados mecanismos de resolução jurídica informal de conflitos 
existentes nas sociedades contemporâneas e operando à margem do Direito estatal e dos 
Tribunais oficiais. 
Segundo Boaventura, os estudos sociológicos sobre conflitos sociais e 
mecanismos de solução permitiram concluir: 
a. o Estado moderno ou contemporâneo não tem o monopólio da produção e distribuição 
do Direito, posto que o Direito estatal coexiste com outros Direitos que com ele se 
articulam de modos diversos; 
 
25 
 
b. o relativo declínio da litigiosidade civil não significa a diminuição dos conflitos sociais 
e jurídicos, mas resulta do desvio desses conflitos para outros mecanismos de resolução, 
informais e mais baratos, existentes na sociedade. 
 
Algumas reformas de administração da Justiça que se seguiram influenciadas por 
estas pesquisas sociológicas: 
A. Reformas no interior da Justiça civil tradicional: 
essas reformas atuaram no seguinte sentido: 
a) reforço dos poderes do Juiz na apreciação da prova e na condução do processo segundo 
os princípios da oralidade, da concentração e da imediação; 
b) criação de um novo tipo de relacionamento entre os participantes do processo, mais 
informal, mais horizontal, visando ao processamento mais inteligível e à participação 
mais ativa das partes e testemunhas; e 
c) ampliação e incentivo do uso de conciliação entre as partes sob o controle do Juiz. 
 
B. Reformas para a criação de mecanismos informais de resolução de litígios: 
a) os centros de justiça de bairros nos EUA; 
b) os conciliadores na França; 
c) a arbitragem; e 
d) os mecanismos conhecidos como “Alternative Dispute Resolution” (ADR). 
 
PARTE III 
PARA UMA NOVA POLÍTICA JUDICIÁRIA 
Em que consiste essa nova política judiciária? 
1 – democratização da justiça 
 
26 
 
Um compromisso do judiciário, em sua forma de administrar a justiça com os 
valores de democratização da vida social, econômica e política. 
A democratização tem duas vertentes: 
 
A. Constituição interna do processo – essa vertente inclui as seguintes orientações: 
a) maior envolvimento e participação dos cidadãos na administração da Justiça; 
b) simplificação dos atos processuais e o incentivo à conciliação das partes; 
c) aumento dos poderes do Juiz; e 
d) ampliação dos conceitos de legitimidade das partes e do interesse de agir. 
 
B. Democratização do acesso à Justiça - orientações: 
a) criação de um sistema de serviços jurídico-sociais, gerido pelo Estado, com a 
colaboração das organizações profissionais e sociais e que garanta a igualdade do acesso 
à Justiça a todos os cidadãos; e 
b) esse serviço deve eliminar não apenas os obstáculos econômicos, mas, também, os 
sociais e culturais: esclarecer os cidadãos sobre os seus direitos, sobretudo os de recente 
aquisição, através de consultas individuais e coletivas e das ações educativas nos meios 
de comunicação, nos locais de trabalho, nas escolas etc. 
A democratização possui limites, pois “a desigualdade da protecção dos 
interesses sociaisdos diferentes grupos sociais está cristalizada no próprio direito 
substantivo, pelo que a democratização da administração da justiça, mesmo se 
plenamente realizada, não conseguirá mais do que igualizar os mecanismos de 
reprodução da desigualdade” (SANTOS, 1986, p. 29). 
Portanto, além da democratização da administração da Justiça, são 
necessárias reformas no Direito substantivo 
Lembrar da ideia de antinomia de avaliação - incriminação da pobreza, crimes 
tributários, etc 
 
27 
 
Exemplos: 
1 - Damásio de Jesus diz que, no plano da tipicidade, o art. 216-A do Código Penal - 
assédio sexual - é “confuso”, “peca pela limitação da incriminação (parágrafo único 
vetado) e exagero punitivo (em quantidade, a pena mínima é a mesma do aborto 
consentido)” (JESUS, Damásio. Código Penal anotado. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, 
p. 756). 
2 - “...é mais fácil sonegar tributos que furtar botijões de gás; do mesmo modo, tipos 
penais como casa de prostituição, dano, furto qualificado – cuja pena é semelhante à 
lavagem de dinheiro e superior à sonegação de tributos” (STRECK, Lenio Luiz. O que 
é isto – decido conforme minha consciência? 2ª ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado Editora, 2010, p. 133, nota 117). 
A esse respeito: “Convém [...] apresentar a tese do sociólogo polonês Zygmunt Bauman 
(1998) explanada em uma conferência proferida em maio de 1995. Para ele, na ordem 
mundial já existem provas inequívocas da existência de uma vinculação muito próxima 
‘...da tendência universal para uma radical liberdade do mercado ao progressivo 
desmantelamento do estado de bem-estar’. Além disso, essa íntima vinculação, estaria 
presente também ‘...entre a desintegração do estado do bem-estar social e a tendência a 
incriminar a pobreza’” (ALVES, 2010, p. 19). 
 
RESUMO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA PARA A 
DEMOCRATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 
Reforma de direito material ou processual não têm muito significado se 
também não forem reformados: 
1. a organização judiciária para uma justiça democrática internamente: a esse respeito, 
ver o texto “O Judiciário e a prestação de justiça”, citado nas referências. 
2. racionalização da divisão de trabalho: idem 
3. nova gestão dos recursos de tempo e de capacidade técnica 
4. reforma da formação e dos processos de recrutamento dos juízes – sobre esse aspecto: 
“As novas gerações de juízes e magistrados deverão ser equipadas com 
conhecimentos vastos e diversificados (econômicos, sociológicos, políticos) sobre a 
 
28 
 
sociedade em geral e sobre a administração da justiça em particular. Esses 
conhecimentos têm de ser tornados disponíveis e, sobretudo no que respeita aos 
conhecimentos sobre administração da justiça...” (SANTOS, 1986, p. 32) – Outro 
autor José Eduardo Faria, “...em matéria de ensino jurídico e de formação dos 
operadores do direito, não há mais como se confinar sua cultura técnico-profissional 
aos rígidos limites formalistas de uma estrutura curricular excessivamente 
dogmática, na qual a autoridade do professor representa simbolicamente a 
autoridade da lei e o tom da aula magistral permite ao aluno adaptar-se à linguagem 
da autoridade”2 
 
REFERÊNCIAS 
ALVES, Juliano Vieira. Por uma jurisdição republicana: o ideal da soberania popular no 
processo judicial. Monografia de Pós-graduação Lato Sensu, em Processo Civil. 
UniCEUB/ICPD, Brasília, 2010. 
ARNAUD, André-Jean; DULCE, Maria José Fariñas Introdução à análise sociológica 
dos sistemas jurídicos; tradução feita por Eduardo Pellew Wilson. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2000. 
DESASSO, Alcir. Juizado especial cível: um estudo de caso. In: Maria Tereza Sadek 
(org.) Acesso à justiça. Série pesquisas n. 23. São Paulo: Konrad Adenauer Stiftung, 2001. 
FREITAS, Amílcar Cardoso Vilaça de; COSTA, Elizardo Scarpati. O direito moderno 
sob a ótica dos clássicos da sociologia: análises e questionamentos. Caderno CRH. 
Salvador. vol.26, n.69, pp. 639-653. Set. dez., 2013. 
DIAS, Reinaldo. Sociologia do Direito: a abordagem do fenômeno jurídico como fato 
social. São Paulo: Atlas, 2009. 
SABADELL, Ana Lúcia. Manual de sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa 
do direito. 6ª ed. rev. atu. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. 
SADEK, Maria Tereza; LIMA, Fernão Dias de; ARAÚJO, José Renato de Campos. O 
judiciário e a prestação de justiça. In: Maria Tereza Sadek (org.) Acesso à justiça. Série 
pesquisas n. 23. São Paulo: Konrad Adenauer Stiftung, 2001. 
SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução à sociologia da administração da justiça. 
Revista Crítica de Ciências sociais, nº 21. Nov. 1986, PP. 11-37. 
 
2 FARIA, José Eduardo. “Introdução: o judiciário e o desenvolvimento sócio-econômico”. In: Jose Eduardo 
Faria (org.). Direitos Humanos, direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 26. 
 
29 
 
 
 
 
 
 
30 
 
2. RELAÇÕES SOCIAIS E RELAÇÕES JURÍDICAS. CONTROLE 
SOCIAL E O DIREITO: 
CONTROLE SOCIAL E O DIREITO 
PRESSUPOSTO 
"Todas as sociedades, sem exceção, são governadas por normas" (SCURO 
NETO, Pedro. Sociologia geral e jurídica: introdução ao estudo do Direito, instituições 
jurídicas, evolução e controle social. 7ª ed. 2ª tir. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 245). 
 
CONCEITO DE CONTROLE SOCIAL 
“'conjunto dos recursos materiais e simbólicos de que uma sociedade dispõe 
para assegurar a conformidade do comportamento de seus membros a um conjunto de 
regras e princípios prescritos e sancionados' (Boudon; Bourricaud, 1993:101)" 
(ALVAREZ, Marcos César. Controle social: notas em torno de uma noção polêmica. São 
Paulo em Perspectiva. 2004, vol.18, n.1. São Paulo, jan./mar. pp. 168-176, 2004, p. 169) 
"Outra definição: 'esse conceito descreve a capacidade da sociedade de se 
auto-regular, bem como os meios que ela utiliza para induzir a submissão a seus próprios 
padrões' (Zedner, 1996:138)" (ALVAREZ, Marcos César. Controle social: notas em torno 
de uma noção polêmica. São Paulo em Perspectiva. 2004, vol.18, n.1. São Paulo, jan./mar. 
pp. 168-176, 2004, p. 175, nota nº 3). 
"...um conjunto de sanções positivas e negativas, especificadas durante o 
processo de socialização e seus mecanismos, que agem desde cedo para incutir na 
personalidade valores, normas e modelos normativos, conformando a capacidade 
individual de estabelecer juízos morais" (SCURO NETO, Pedro. Sociologia geral e 
jurídica: introdução ao estudo do Direito, instituições jurídicas, evolução e controle 
social. 7ª ed. 2ª tir. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 244). 
"...mecanismo utilizado pela sociedade e pelos grupos sociais para que seus 
membros adotem comportamentos previsíveis e aceitos pela maioria de seus integrantes, 
evitando-se as condutas desviantes e que podem prejudicar a convivência coletiva" 
 
31 
 
(DIAS, Reinaldo. Sociologia do direito: a abordagem do fenômeno jurídico como fato 
social. São Paulo : Atlas, 2009, p. 172) 
Georges Gurvitch "conjunto de modelos culturais, símbolos sociais, 
significados espirituais coletivos, valores, ideias e ideais, assim como também as ações e 
os processos diretamente relacionados com eles, mediante os quais toda sociedade, todo 
grupo particular e todo membro individual componente vencem as tensões e os conflitos 
interiores próprios e restabelecem um equilíbrio interno temporário, o que lhes dá a 
possibilidade de seguir adiante com novos esforços de criação coletiva" (apud DIAS, 
Reinaldo. Sociologia do direito: a abordagem do fenômeno jurídico como fato social. São 
Paulo: Atlas, 2009, p. 172). 
Um mecanismo de controle social pode ser considerado "um processo 
motivacional em um ou maisatores individuais que tende a neutralizar uma tendência 
para o desvio do cumprimento das expectativas do papel no próprio ator ou em um ou 
mais alters. E um mecanismo de reequilíbrio"- NOTA: (Parsons (1970), p. 206 [da 
coletânea de textos organizada por Castro e Dias, 1992, à p. 231-232].) 
 
_________________________ 
INSTITUIÇÃO ATUANTES 
Família e outras formadas por laços de parentesco e afetividade. 
Organizações formais (escola, igreja etc.), por intermédio de seus agentes, 
profissionais especializados na criação, aplicação e transmissão de padrões sociais. 
Estado: A ele compete (de acordo com o preâmbulo da Constituição Federal 
brasileira, por exemplo) garantir aos sujeitos o "exercício dos direitos sociais e 
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a 
justiça". Para sustentar a ordem normativa o Estado regulamenta os atos que dela desviam 
ou possam colocar em risco a sua estabilidade. Faz isso tendo por base o conceito de 
justiça e os conflitos sociais, selecionando determinados valores e interesses em 
detrimento de outros. Para minimizar os atritos que inevitavelmente resultam dessa 
seleção criteriosa em termos, o Estado (isto é, a ordem jurídica nacional) propõe soluções 
de compromisso cuja expectativa de existência tem de ser duradoura" (SCURO NETO, 
 
32 
 
Pedro. Sociologia geral e jurídica: introdução ao estudo do Direito, instituições jurídicas, 
evolução e controle social. 7ª ed. 2ª tir. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 245). 
_________________________ 
SOCIEDADES SIMPLES 
"Nas simples ou primitivas, costumes, moralidade e Direito articulavam-se 
em uma unidade objetiva, formavam um só contexto homogêneo. Impregnado de 
moralidade e costumes, o Direito era aplicado como se fosse uma vontade grupal — era 
um "estado da consciência coletiva", em quase nada divergindo do conjunto de crenças e 
sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade. Nesse contexto 
tradicional a conduta humana era coagida por normas que "no geral e por definição" 
correspondiam à "maneira de pensar e de sentir" de cada um, às regras a que todos 
estavam “acostumados a obedecer" e com as quais "não sofriam", praticamente do mesmo 
modo que "não sofremos com certas coerções físicas , como as da lei da gravidade 
(LÉVY-BRUHL, 1988:20). 
 
SOCIEDADES COMPLEXAS 
Por sua vez, em sociedades como a nossa, o Direito passou a ser codificado 
visando a autonomia individual que, no entanto, se move dentro de limites estreitos, 
precisamente para dar ênfase à liberdade individual, integridade física, igualdade jurídica 
e garantia patrimonial. Dessa maneira, no mundo moderno a noção tradicional de 
codificação adquiriu o caráter de reação contra multiplicidade, obscuridade e dubiedade. 
A intenção é facilitar o conhecimento e a aplicação prática do sistema normativo, 
garantindo as tão desejadas convicção do Direito e a segurança da justiça: um Direito que 
se estende relativamente impermeável a movimentos e mudanças pêlos diversos recantos 
da vida social é tão importante quanto uma moeda forte, uma vez que aumenta a coesão 
social e torna os indivíduos e as instituições mais interdependentes. 
Contudo, malgrado seu dinamismo e foco no indivíduo os quadros sociais do 
mundo moderno parecem opor-se "a qualquer solução original, a qualquer inovação 
importante", delimitando a autonomia individual (LEVY-BRUHL, 1988: 21). Com 
efeito, quanto mais o Direito e o sistema de justiça se transformam em órgãos de 
 
33 
 
integração social, gerando subordinação recíproca e opondo-se à alteração das regras, 
mais grave e generalizado tende a ser o impacto das perturbações e dos deslocamentos de 
interesses que as mudanças costumam trazer em seu âmago. Seu objetivo primordial é a 
preservação da ordem num contexto tão amplo e variado que não pode ser inteiramente 
controlado (nem mesmo pela ditadura mais sistemática e violenta) ou subvertido (nem 
mesmo pela revolução mais radical). 
Razões de ordem prática e metodológica, porém, impõem restrição (ou 
condicionamento) da perspectiva estrita (jurídica) e referência direta ao sistema de 
governo. O controle social assume, portanto, a fisionomia de um subsistema de normas 
(o Direito) sustentado pela autoridade de outro (o Estado), cujos agentes e equipamentos 
aplicam a lei, e, ao fazê-lo, criam Direito. As funções de investigar e acusar, por exemplo, 
ficam a cargo de pessoas especializadas, funcionários públicos dotados de recursos e 
autoridade para tanto. Dependendo das circunstâncias, a tradição jurídica pode admitir — 
e a legislação confirmar — o privilégio do cidadão ou corpo privado de segurança de dar 
voz de prisão, investigar uma infração e apresentar o caso diante de um tribunal, tendo 
por base suas próprias evidências. Personagens famosas, como o detetive Sherlock 
Holmes, surgiram graças a tal ordem jurídica" (SCURO NETO, Pedro. Sociologia geral 
e jurídica: introdução ao estudo do Direito, instituições jurídicas, evolução e controle 
social. 7ª ed. 2ª tir. São Paulo: Saraiva, 2011, pp. 246-247). 
 
CONTROLE SOCIAL: CLASSIFICAÇÃO 
Pedro Scuro Neto descreve os mecanismos de controle social 
A) IDENTIFICAÇÃO ARTIFICIAL DOS INTERESSES 
Para compensar problemas de socialização, de personalidade, de valores ou 
de apatia, a tendência usual é as instituições manipularem facilidades e dificuldades, 
alocando papéis e recompensas para fins específicos. Quando querem motivar os sujeitos 
as instituições são descaradamente "behavioristas, empiristas e realistas — ou seja, 
tentam controlar estímulos e reações, oferecendo ou ameaçando remover objetos e 
oportunidades com significado físico e emocional para o indivíduo (processo que os 
psicanalistas chamam de "investimento", ou catexe). Essa identificação artificial de 
 
34 
 
interesses depende de consenso entre diversos tipos de afores e abrange diferentes 
situações e áreas de um sistema social. Por exemplo, professores e estudantes 
universitários podem ser motivados por objetos catécticos (salário/ diploma) cujo 
significado físico e emocional pode inibir, por exemplo, a disposição individual de lutar 
por melhores e mais dispendiosas condições de ensino. Mesmo se o consenso em relação 
a esses objetos diminui, a orientação original é mantida com a ameaça ou o receio de 
desemprego, possibilidade de dificuldades ainda maiores para obter um diploma se o 
ensino ficar mais rigoroso etc. 
B) INSULAMENTO 
Outro mecanismo de controle social é insulamento — isolar o comportamento 
desviante, interromper o contato do indivíduo com a instituição e com isso restringir suas 
atividades transgressoras. No exemplo acima, aos professores descontentes restam a 
demissão e a Justiça do Trabalho, ao passo que aos estudantes insatisfeitos sobram a 
renúncia à condição acadêmica e o rebaixamento ao papel de simples "consumidor de 
serviços educacionais"— e ir reclamar ao Procon, ao Ministério Público, aos Juizados 
Especiais etc. O mesmo tipo de mecanismo é aplicado também a sujeitos submetidos a 
internação (encarceramento e/ou hospitalização), e no processo de segregação de 
minorias raciais, étnicas ou religiosas. Isolado, o indivíduo deve vivenciar a própria 
impotência diante da férrea objetividade dos mecanismos de controle aplicados — é 
compelido a experimentar uma sensação física e moral, profunda e "peculiar, uma 
dualidade, um sentimento de estar sempre olhando para si mesmo através dos olhos dos 
outros e medindo a própria alma com a fita métrica do mundo que o encara atemorizado, 
com desprezo ou piedade" (SCURO, 2004: 284; DuBOIS, 1903). 
C) REINTEGRAÇÃO 
...intimamente relacionado com o insulamento, focalizado na puniçãoproporcional à seriedade da falta cometida pelo infrator, ou seja, à gravidade da conduta 
passada. A reintegração, por sua vez, orienta-se ao futuro, tem como objetivo a prevenção 
do crime, não apenas a incapacitação, mas a sua reabilitação" — que, do ponto de vista 
jurídico-penal, quer dizer: (l) colocação no status anterior à condenação; (2) suspensão da 
pena devido a "bom comportamento" durante o período de cumprimento da pena; e (3) 
extinção total ou parcial da incapacitação e interdição decorrentes da sentença. 
 
35 
 
 
OUTRA CLASSIFICAÇÃO 
PERSUASÃO: "...é realizada ao longo do tempo, através do processo de 
socialização, no qual o indivíduo internaliza as normas e as aceita, gerando, portanto, uma 
conduta coerente e esperada. Desse modo, obtém-se o consenso social como resultado da 
persuasão". 
COERÇÃO: "...é um recurso utilizado quando ocorre um desvio de conduta 
prejudicial à estabilidade social. Nesse caso, o controle social coercitivo tem como 
objetivo corrigir o comportamento daqueles membros da sociedade que divergem da 
normatividade vigente. Pode ser adotada a violência moral, e às vezes o recurso à 
violência física, para enquadrar o comportamento dentro dos padrões socialmente aceitos, 
utilizando-se para tanto, métodos e recursos de intensidade variável, como, por exemplo, 
a sanção penal" (DIAS, Reinaldo. Sociologia do direito: a abordagem do fenômeno 
jurídico como fato social. São Paulo: Atlas, 2009, p. 171). 
Três características da modalidade de controle social nas sociedades 
complexas - direito. As normas de conduta são: 
a) explícitas, indicando à população de forma exata e clara aquilo que não deve fazer; 
b) protegidas pelo uso de sanções; 
c) interpretadas e aplicadas por agentes oficiais Sabadell, Ana Lucia. Manual de 
sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa do direito. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2013, p. 139. 
"Quando David Garland (2008) conceituou o fenômeno do encarceramento 
em massa, chamou a atenção para a focalização sobre grupos sociais específicos, tal como 
ocorre em São Paulo com a população jovem, negra e residente nos bairros de periferia" 
(SINHORETTO, Jacqueline; SILVESTRE, Giane; MELO, Felipe Athayde Lins de. O 
encarceramento em massa em São Paulo. Tempo Social. Departamento de Sociologia da 
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. v. 25, 
n. 1, jun. 2013). 
 
 
36 
 
 
 
37 
 
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E DIREITO: 
 
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E DIREITO 
 
Na análise da relação entre o direito e mudança social, a pergunta que se faz 
é a seguinte: 
 
"O contexto social (sistema de produção, cultura, interesses, ideologias, 
forças políticas) determina o direito ou é o direito que determina a evolução social?" 
 
"Uma parte dos estudiosos entende que o direito, como manifestação social, 
é determinado pelo contexto sociocultural: a sociedade produz o direito que lhe convém. 
Dentro desta perspectiva, os autores mais críticos sustentam que existe apenas uma 
imposição de interesses por parte dos grupos que exercem o poder. 
Estes conseguem impor aos sujeitos mais fracos as regras de conduta que 
permitem reproduzir, em nível normativo, a dominação social. 
Em uma posição contrária, situam-se os autores que entendem que o direito é 
um fator determinante dos processos sociais. Os autores que adotam esta perspectiva 
entendem que o direito possui a capacidade de determinar o contexto social, de atuar 
sobre a realidade e de mudá-la. Por exemplo, uma lei sobre um novo problema social, ou 
uma mudança nas normas promovida por um novo governo, poderá conseguir impor aos 
membros de uma comunidade novos tipos de comportamento. 
A primeira posição é considerada como realista; a segunda posição tem um 
caráter idealista, porque se fundamenta na hipótese de que uma vontade exprimida por 
meio de um mandamento ("dever ser", norma jurídica) pode mudar a realidade. 
Porém, com relação a este tema entendemos ser possível sustentar uma 
terceira posição que nos permite conciliar as duas supracitadas. O direito é, em geral, 
configurado por interesses e necessidades sociais, ou seja, é produto de um contexto 
sociocultural. Isto não impede que o mesmo possa influir sobre a situação social, 
assumindo um papel dinâmico. 
Em outras palavras, o direito exerce um duplo papel dentro da sociedade: 
ativo e passivo. Ele atua como um fator determinante da realidade social e, ao mesmo 
 
38 
 
tempo como um elemento determinado por esta realidade. Dentro deste contexto, 
identificam-se as pressões dos grupos de Poder que Podem induzir tanto para que se de a 
elaboração de determinadas regras bem como para que as regras em vigor não sejam 
cumpridas, levando a um processo de anomia generalizado. Esta análise permite superar 
"os modelos de relação causal simples" entre direito e sociedade" (SABADELL, 2013, p. 
88) 
 
"Soriano (1997 pp. 311-312) afirma que a relação entre direito e mudança 
social se concretiza da seguinte forma: 
a) O direito é uma variável dependente, ou seja, um fenómeno social que 
muda historicamente em função de outros fenómenos. A relação entre os grupos e as 
classes sociais, definida principalmente pelo fator económico, determina as estruturas 
jurídicas. O direito pode ser, então, considerado como um produto de interesses sociais, 
que dependem das relações de dominação em cada sociedade. 
Porém, a determinação social do direito não significa que este seja produto de 
um único fator social ou da vontade de uma classe. Além dos interesses económicos, o 
direito é influenciado por elementos de ordem física, tais como as invenções e as 
tecnologias, e também por valores éticos-culturais assumidos pelos povos de várias 
regiões do mundo (pensem na diferença do direito entre países de tradição cristã e de 
tradição muçulmana). 
Um peso particular possui, finalmente, a tradição jurídica de cada País' que 
não muda de um dia para o outro com base nas mudanças sociais. Assim se explica a 
defasagem entre a evolução da moral social e a imobilidade do sistema jurídico que já 
constatamos no caso dos delitos sexuais. A importância da tradição jurídica explica 
também o fato de que países com semelhantes estruturas política e econômica possuem 
sistemas jurídicos totalmente diferentes, como mostra o exemplo do direito francês 
(fundamentado na lei escrita) confrontado com o direito inglês (fundamentado no caráter 
vinculante da jurisprudência)" (SABADELL, 2013, pp. 91-92). 
"De conformidade com a tendência predominante em sociologia, Parsons 
toma como ponto de partida a hipótese de que todas as sociedades existem normalmente 
em um estado de equilíbrio imutável, que é homeostaticamente preservado. Elas mudam, 
supõe ele, quando esse estado normal de equilíbrio social é perturbado, por exemplo, pela 
violação de normas sociais. Pela quebra da conformidade. A mudança social surge, assim, 
 
39 
 
como um fenómeno resultante da disfunção acidental, externamente motivada, de um 
sistema social normalmente bem equilibrado. Além do mais, a sociedade assim 
perturbada se esforça, na opinião de Parsons, para voltar ao estado de repouso. Mais cedo 
ou mais tarde, segundo ele, um "sistema" diferente, com um equilíbrio diferente, é 
estabelecido, que mais uma vez se mantém mais ou menos automaticamente, a despeito 
de oscilações, no estado dado. Em uma palavra, o conceito de mudança social refere-se 
aqui a um estado transitório entre dois estados normais de imutabilidade, provocado por 
uma disfunção" (ELIAS, 2004, pp. 221-222). 
 
VERSÃO TEÓRICA 
Igor Suzano Machado: Professor da Universidade Federal de Viçosa, MinasGerais, Brasil 
MACHADO, Igor Suzano. Jurisdição, hegemonia e integridade: uma Visão 
pós-estruturalista sobre o direito e sua relação com a sociedade e a política no Brasil. 
Dados. 2013, vol.56, n.4, pp. 943-974. 
 
DIREITO E SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO NO NÍVEL MACRO: REFLEXÕES 
SOBRE AS INSTITUIÇÕES JUDICIAIS 
Em 1978, Philippe Nonet e Philip Selznick escreveram um profícuo livro 
chamado Law and Society in Transition: Toward Responsive Law (2010). Neste livro os 
autores desenvolvem uma interessante reflexão sociológica sobre a situação do direito e 
das instituições jurídicas dos Estados Unidos naquele momento. Como os Estados Unidos 
têm espalhado a sua influência política em todo o mundo, as questões tratadas no livro se 
tornaram referências importantes para um grande número de países que organizaram suas 
instituições políticas e jurídicas influenciados de alguma maneira pelo sistema norte-
americano, de que é exemplo, inclusive, o Brasil. Fundamentalmente, Nonet e Selznick 
argumentam em seu livro que podemos classificar as instituições judiciais como 
instituições de um direito repressivo, autônomo ou responsivo. 
Estas definições do direito correspondem a três tipos ideais que poderiam ser 
usados para classificar sistemas judiciais específicos, na medida em que suas 
características sejam identificadas em maior medida com o modelo repressivo, autônomo 
ou responsivo23. Estas características seriam reações ao ambiente sociopolítico em que 
as instituições judiciais estariam inseridas. No caso do Direito repressivo, o Judiciário 
 
40 
 
estaria inserido em um contexto de consolidação da instância política. Portanto, suas 
instituições procurariam impor e manter uma ordem desejada pelas elites políticas e não 
por toda a comunidade (Nonet e Selznick, 2010:75). 
Como a coerção e a manutenção da ordem são características de qualquer 
sistema judicial, o direito repressivo guarda semelhanças com qualquer sistema jurídico. 
Apesar disto, deve-se ter em mente que o Direito não se limita ao uso da coerção, mas, 
sim, combina este uso com uma reivindicação de legitimidade do poder político. E no que 
diz respeito à dimensão de ser uma instância de legitimação do poder político, o direito 
repressivo é, em grande medida, deficiente. É por isto que Nonet e Selznick apresentam, 
como uma evolução do direito repressivo, o direito autônomo, que tem como objetivo 
fornecer uma base mais sólida para a legitimidade do poder político em uma sociedade 
dotada de maior complexidade e diversidade (Nonet e Selznick, 2010:100). 
O objetivo do direito autônomo, como uma evolução do modelo repressivo, 
seria estabelecer um governo das leis, em vez de um governo dos homens. No modelo 
autônomo, todos, governantes e governados, estão sujeitos à mesma ordem jurídica e 
sistema judicial. Esta natureza universal do seu "modelo de regras" proporciona ao direito 
autônomo os recursos necessários para a manutenção da legitimidade política em uma 
sociedade complexa. Ainda assim, a sua justiça estritamente for mal e processual se 
mostrou incapaz de enfrentar algumas injustiças substantivas já fortemente sedimentadas. 
Focando seus procedimentos e estando vinculado à obediência estrita às 
regras prescritas pelo legislador, um sistema judicial autônomo torna- se insensível às 
demandas sociais por justiça substantiva e sua autonomia degenera em isolamento. E se, 
por um lado, o direito repressivo, no seu desejo de manter a ordem, foi insensível à 
dimensão exigida pelo Direito de promover a legitimidade, por outro lado, o direito 
autônomo, com o objetivo de superar os problemas do direito repressivo, acabou 
negligenciando uma outra dimensão essencial para o Direito: a promoção da justiça. Neste 
contexto, há uma demanda por um novo tipo de direito. Nonet e Selznick chamam este 
novo tipo de direito de direito responsivo. A transição do direito autônomo ao direito 
responsivo implica uma abertura das instituições judiciais ao seu meio ambiente, 
entendido como uma fonte de auto correção. O modelo de regras é enfraquecido, a 
equidade não é mais cega para as desigualdades sociais e a desobediência nem sempre é 
considerada uma ofensa ao sistema jurídico (Nonet e Selznick, 2010:127). 
 
41 
 
A transformação e evolução sociológica do Direito, descrita por Nonet e 
Selznick como a transição do direito repressivo para o direito autônomo e do direito 
autônomo para o direito responsivo - lembrando que os três modelos são tipos ideais que 
não refletem as realidades empíricas com exatidão - possui consequências nas reflexões 
da teoria jurídica. Por exemplo, a transição entre o direito autônomo e o direito responsivo 
resultou na passagem de uma teoria jurídica positivista - focada no aspecto formal para a 
compreensão da identidade da norma jurídica - a uma teoria jurídica que tenta ir além do 
positivismo - seja num positivismo inclusivo, que busca ascrescentar às regras de 
reconhecimento da norma jurídica uma dimensão moral, seja numa versão mais 
abertamente antipositivista, como na teoria de Dworkin. Assim como argumentei que esta 
transformação da teoria jurídica pode ser entendida no âmbito de uma teoria do discurso, 
defendo que a transformação das instituições judiciais também pode. E o trabalho de 
Nonet e Selznick se apresenta como uma reflexão na qual isto pode ser observado. 
Tendo isto em vista, acredito que as transições entre o direito repressivo, o 
direito autônomo e o direito responsivo podem ser descritas como uma rearticulação de 
elementos discursivos em novas cadeias de significado. Conforme foi dito, para Nonet e 
Selznick as noções de direito repressivo, autônomo e responsivo seriam reações do 
Direito ao ambiente sociopolítico em que as instituições judiciais estariam inseridas. 
Desta forma, a mudança e transição entre os modelos podem ser consideradas repostas a 
momentos de deslocamento, que, assim, são tentativas de reconstrução hegemônica, 
dotando o sistema de unidade por meio da elevação do que seria apenas um de seus 
elementos particulares como sendo a característica determinante da estrutura como um 
todo. 
Isto é visto claramente na cadeia discursiva unificada sob o significante vazio 
"ordem" (no direito repressivo), que é subvertida por uma cadeia discursiva unificada sob 
o significante vazio "legitimidade" (no direito autônomo), destacando que o caminho 
reverso também pode ser feito, como é subentendido na noção de hegemonia de Laclau e 
Mouffe, e posto em destaque também por Nonet e Selznick, quando, apesar de sua postura 
abertamente evolucionista, no epílogo do seu livro destacam as formas como o "direito 
pode morrer" (Nonet e Selznick, 2010). É menos claro, no entanto, na transição entre o 
direito autônomo e o responsivo - talvez pelo sistema judicial responsivo ser mais do que 
o sistema judicial contemporâneo, sendo uma promessa ainda a ser alcançada. Mesmo 
assim, penso que isto se deve mais à abertura típica do direito responsivo que, em vez de 
 
42 
 
dar ao Direito um novo princípio de fechamento, destaca a contingência deste princípio. 
De acordo com o pensamento de Claude Lefort, posto em destaque no início do artigo, 
assim como a política democrática, o direito responsivo explicitaria, em alguma medida, 
o caráter hegemônico - e contingente - da articulação de seu conteúdo. 
 
 
 
 
43 
 
3. DIREITO, COMUNICAÇÃO SOCIAL E OPINIÃO PÚBLICA: 
 
SOCIOLOGIA DO DIREITO 
DIREITO, COMUNICAÇÃO SOCIAL E OPINIÃO PÚBLICA 
 
TEXTO BASE DA AULA: SANTOS, Boaventura de Sousa, “Os tribunais e as novas 
tecnologias de comunicação e de informação”, Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 13, 
jan/jun 2005, p. 82-109. 
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