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GESTÃO DE EMPRESA FAMILIAR Vanessa Foletto da Silva Fluxo de caixa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir fluxo de caixa. Explicar por que a aplicação do fluxo de caixa é importante para a seleção e análise de investimentos. Utilizar o fluxo de caixa para avaliar o fluxo de recursos e a disponibi- lidade de capital de giro do negócio. Introdução Diante das constantes transformações no mercado, manter um controle adequado e constante das entradas e saídas do caixa da organização é fundamental para que o negócio possa prosperar. O fluxo de caixa permite ao gestor uma melhor visão da situação financeira e, assim, facilita sua tomada de decisão sobre investimentos. Neste capítulo, você vai estudar sobre o fluxo de caixa e verificar sua importância dentro de uma organização. Você também vai analisar a relação dessa ferramenta com o capital de giro da empresa. Conceitos básicos Diversas ferramentas auxiliam no gerenciamento da organização, sendo o fl uxo de caixa uma das mais importantes para uma boa administração fi nanceira do negócio. Esse instrumento permite a obtenção de informações extremamente úteis para o planejamento fi nanceiro de determinado período. Ainda, permite estabelecer projeções sobre as entradas e saídas e demonstra a real situação fi nanceira da empresa. De forma geral, o fluxo de caixa demonstra a relação entre a despesa resultante das obrigações e a receita resultante da venda de produtos. Por meio de um comparativo entre a entrada e a saída de dinheiro, é possível verificar se o saldo em caixa está positivo ou negativo. Essa análise permite visualizar como o dinheiro da empresa está sendo administrado. Assim, ocorre um melhor gerenciamento dos recursos financeiros, o que evita casos de insolvência e, consequentemente, ameaças à continuidade do negócio. Ainda, esse instru- mento é muito útil para auxiliar o gestor no processo de tomada de decisão. Uma organização com um bom gerenciamento do fluxo de caixa tem co- nhecimento do seu grau de independência financeira, a partir da mensuração da capacidade organizacional de saldar suas dívidas e remunerar seus gesto- res. Gitman (2010) entende que a demonstração dos fluxos de caixa permite distinguir os fluxos de caixa decorrentes das operações, de investimentos e de financiamentos da organização, conciliando-os com as variações do caixa e os títulos do período apurado. Utilizar o fluxo de caixa corretamente traz uma série de benefícios para o gestor, como: verificação da existência de caixa suficiente para as necessidades or- ganizacionais, ou da necessidade de recurso externo; comparação entre os números obtidos e o que foi definido no planeja- mento estratégico; verificação dos números do período, permitindo, assim, identificar folgas ou falta de recursos; antecipação das decisões referentes à sobra ou à falta de recursos; e estimativa do melhor período para a realização de promoção de vendas. Conforme aponta Frezatti (2009), o fluxo de caixa pode servir como instru- mento tático em algumas organizações, enquanto, em outras, pode ser utilizado de forma estratégica. Na abordagem tática, ocorre o acompanhamento do fluxo de caixa, apenas para manter o rumo já definido. Já na abordagem estratégica, o nível de negócios da empresa é afetado no curto e no longo prazo, tendo efeito em questões relacionadas com as decisões estratégicas da empresa. Com um bom gerenciamento, é possível identificar o momento ideal para realizar empréstimos ou financiamentos, pagar dividendos ou, ainda, realizar a distribuição de lucros. A empresa consegue avaliar a sua capacidade de financiar seu capital de giro e identificar a necessidade de buscar recursos externos para manter suas atividades. Além disso, consegue visualizar sua capacidade de expansão, com base em seus recursos disponíveis. Segundo Assaf Neto e Silva (2002), além da área financeira, as demais áreas da empresa devem estar comprometidas com os resultados de caixa. Isso mostra a abrangência que essa ferramenta tem na organização. Por exemplo, se a área de produção altera prazos de fabricação dos produtos, acaba alte- Fluxo de caixa2 rando as necessidades de caixa. No setor de compras, há a necessidade de sintonia entre as compras a serem realizadas com o saldo disponível em caixa, considerando-se os prazos obtidos para pagamento e os prazos estabelecidos para recebimento das vendas. No setor de cobranças, a definição de políticas mais ágeis e eficientes vai permitir a disponibilização de recursos financeiros de forma mais ágil, o que reforça o caixa. Na área de vendas, o controle dos prazos relativos às vendas auxilia na manutenção de um equilíbrio no caixa. Cabe à área financeira avaliar de forma constante o seu perfil de endivi- damento, fazendo com que os gastos necessários ocorram ao mesmo tempo em que ocorrem as entradas de caixa. O fluxo de caixa permite planejar, controlar e analisar as receitas, as despesas e os bens da organização. Com a elaboração de um fluxo de caixa, é possível verificar eventuais faltas de recursos para honrar as obrigações e, também, verificar se há dinheiro parado, sem representar rendimentos para o negócio. Fazer uma análise antecipada dos números financeiros é fundamental, pois, em caso de verificação de falta de recursos para pagar despesas programadas, é possível tomar providências para que haja disponibilidade até o momento do pagamento. Em outras palavras, o fluxo de caixa representa o conjunto de ingressos e desembolsos de numerário ao longo de um período, conforme definido por Zdanowicz (2004). É um importante instrumento para analisar e avaliar a situação da empresa, fazendo uma integração entre todas as contas envolvidas no negócio. A finalidade do fluxo de caixa é controlar a atividade financeira, atingindo todas as operações da empresa; por isso, essa ferramenta acaba controlando a empresa de forma geral. Quando ocorre alguma falta, deve-se analisar todas as operações do negócio, pois estão todas envolvidas no processo. Conforme Hoji (2017), em um fluxo de caixa, é necessário que exista pelo menos uma saída e pelo menos uma entrada. Quando se faz um empréstimo, recebe-se dinheiro, ou seja, ocorre uma entrada no caixa e, depois, quando se devolve o valor do empréstimo, acrescido de juros, ocorre uma saída de caixa. Essa operação com uma entrada e uma saída precisa ser representada no fluxo. A Figura 1 traz uma representação de como funciona o fluxo de caixa. 3Fluxo de caixa Figura 1. Como funciona o fluxo de caixa. Fonte: Sage ([201-], documento on-line). Organize as entradas e saídas em detalhe para ter controle Especifique o que é cada uma das entradas e saídas de dinheiro Fluxo positivo Fluxo negativo Quanto você tem de caixa? VOCÊ ESTÁ AQUI PAGAMENTOS RECUPERAÇÃO INVESTIMENTOS ARRECADAÇÃO COMO ORGANIZAR O FLUXO REGISTRE TODOS OS DIAS AS ENTRADAS E SAÍDAS VENDAS À VISTA VENDAS A PRAZO INÍCIO Fornecedores Funcionários Despesas operacionais Outros Contratação de pessoal Equipamentos Ampliação Publicidade Fundo de reserva No dia da compra Dinheiro em espécie Depósito em conta Na data de entrada do dinheiro Cartão de crédito Carnê Fornecedores - renegociar Funcionários Despesas operacionais Outros Liquidação Empréstimos Renegociar dívidas Novos negócios Promoções Fluxo de caixa e seleção de investimentos O fl uxo de caixa é composto por dados que são obtidos por meio de controles de contas a pagar e a receber e de valores de aplicações, vendas e despesas. Ou seja, ele abrange toda a movimentação dos recursos fi nanceiros da organização. Com um bom gerenciamento, é possível visualizar o futuro do negócio por meio de previsões — embora essas previsões possam sofrer variações. Fluxo de caixa4 Com uma previsão estabelecida, é possível delinear os caminhos dos in- vestimentos futuros do negócio, com base em um planejamento seguro e qualifi cado de longo prazo. Isso porque o fl uxo de caixa permite conhecer a real situação da saúde fi nanceira da organização em um determinado período e tomar decisões mais fundamentadas. Uma forma de fazer esse controle é por meio da implantação de sistemas informatizados, que são capazes de produzir relatórios gerenciais confi áveis e efi cientes, o que é de grande auxílio para a identifi cação dos pontos que precisam de melhorias e a tomada de decisões. Além do registro básico das entradas e saídas, um bom sistema informatizado pode trazer melhorias para o controle dos estoques e do caixa da organização. Tomar uma decisão de investimento é um grande desafio para o gestor. É necessário decidir sobre onde investir, quanto investir e qual é o melhor momento para realizar esse investimento. A aquisição de um equipamento, por exemplo, é cercada de dúvidas sobre depreciação do bem e valor do retorno a ser obtido com a aquisição, entre outras. O gestor precisa estar seguro de suas decisões e, para isso, deve estar munido do maior número de informações possíveis, além de dispor de informações atualizadas sobre o comportamento do mercado em que está inserido e os riscos envolvidos em uma decisão de investimento. A seguir, são destacados os principais benefícios do fluxo de caixa no processo de tomada de decisão. Projeção de todos os lucros e todas as despesas envolvidas no negócio — o fluxo de caixa consegue demonstrar de forma detalhada esses números. A falta de um acompanhamento desses fatores pode fazer o gestor achar que a empresa está obtendo lucros, pois alguns problemas não ficam visíveis quando não se usa um fluxo de caixa constantemente. Verificação da viabilidade do negócio no longo prazo — a análise do fluxo de caixa permite que o gestor verifique se o negócio terá mais despesas do que receitas no longo prazo. Com o conhecimento dessa informação o gestor consegue tomar decisões sobre a viabilidade do negócio no longo prazo, alterando precificações ou fazendo renegocia- ções, se houver necessidade. Identificação da aplicação dos lucros — investir os lucros obtidos é essencial para a promoção do crescimento do negócio. Em bons mo- mentos de faturamento, também pode ser oportuno dar aumento para os colaboradores, realizar a compra de novos equipamentos, entre outras ações. 5Fluxo de caixa Identificação do mínimo de caixa que o negócio precisa ter — a empresa precisa ter uma reserva em caixa para possíveis imprevistos. Gastos que não estavam sendo esperados podem vir a paralisar as operações da empresa, caso não haja recursos para solucionar o problema. Apontamento do momento certo para investir ou captar recursos — por meio do controle do fluxo de caixa, o gestor consegue identificar o momento certo de realizar um investimento ou contrair um emprés- timo. Em momentos de necessidade, é preciso agir com antecedência, buscando recursos externos para atender às demandas organizacionais. Conforme Marion (2015), sem a utilização de um fluxo de caixa, fica praticamente impossível realizar projeções e planejamentos financeiros. Gerar um fluxo de caixa é de fundamental importância desde o início até a extinção do negócio. Com o fluxo alinhado aos demais relatórios contábeis, cria-se um grande potencial para um melhor gerenciamento das decisões. É importante destacar que o fluxo de caixa não deve focar somente na área financeira, devendo abranger informações dos demais setores da empresa. No link abaixo, você confere dicas para melhorar a tomada de decisão sobre investimentos. https://qrgo.page.link/6H6eV Fluxo de caixa e capital de giro Capital de giro é o volume de recursos necessários para que a empresa con- siga realizar as suas operações — ou seja, é a quantidade de dinheiro que a empresa possui para alimentar seu fl uxo de caixa. Grande parte das empresas apresenta um desencontro entre as datas de pagamento e de recebimento. Esse espaço entre as datas é preenchido pelo capital de giro, que se aplica somente nos recursos circulantes, não contemplando investimentos e imobilizações existentes. Fluxo de caixa6 Esses valores do capital de giro permitem que as operações e processos da produção ou os serviços prestados sejam desenvolvidos. Sem esse capital, não seria possível adquirir matéria-prima, manter estoques e realizar pagamentos. Além disso, não seria possível equilibrar e controlar o fluxo de caixa sem capital para pagar as obrigações e realizar investimentos. Quando os gestores antecipam créditos ou usam o caixa frequentemente para suprir a necessidade de produção, acabam por prejudicar as finanças do negócio. Pela avaliação do fluxo de caixa, é possível verificar como o gestor tem feito a gestão do capital de giro da empresa. Assim, apesar de o fluxo de caixa e o capital de giro serem coisas distintas, ambos se complementam. Por meio da utilização do fluxo de caixa, o gestor consegue mapear seus custos fixos e variáveis, obtendo, assim, um controle efetivo das suas finanças e um melhor alinhamento para a tomada de decisões. Devido à importância que essa ferramenta assume no controle das finanças organizacionais, é acon- selhável que o processo decisório seja orientado pelas informações fornecidas pelo fluxo de caixa. Assim, o fluxo deve atuar como um facilitador para a tomada de decisão, possibilitando ao gestor tomar decisões mais acertadas. Revisar constantemente o fluxo de caixa é necessário para produzir dados confiáveis. Zdanowicz (2004) lista como controles essenciais no fluxo de caixa: o controle diário da movimentação bancária, o boletim diário de caixa e de bancos e o controle financeiro diário. Controlar o fluxo de caixa permite à organização a identificação dos valores disponíveis para o pagamento de credores e acionistas e da falta de recursos para despesas ou investimentos. Quando ocorre insuficiência de recursos, pode ser necessário haver cortes de créditos e fazer a suspensão de entrega de produtos. Nesses casos, a organização ainda pode ficar sem crédito perante os clientes e fornecedores. Podemos destacar como principais benefícios da utilização do fluxo de caixa: Fornecimento de um diagnóstico das contas da empresa — muitas vezes, as empresas apresentam um alto faturamento e, mesmo assim, podem estar enfrentando dificuldades financeiras. Somente por meio da mensuração das receitas e despesas é que será possível visualizar se o negócio está apresentando lucro ou prejuízo. Mostra os lucros reais do negócio — um controle efetivo das finanças, com monitoramento constante das entradas e saídas, permite que o gestor tome suas decisões baseadas em números, o que vai melhorar o desempenho do negócio. 7Fluxo de caixa Relacionamento com o ciclo operacional — realizar os pagamentos dos fornecedores após ter recebido os valores das vendas aos clientes é uma forma de reduzir de forma gradativa o ciclo de caixa e, assim, a necessidade de financiamento. Os capitais de longo prazo devem ser captados somente para o crescimento da empresa. Promoção de uma melhor organização financeira — com a utilização de uma projeção do fluxo de caixa, é possível verificar quanto o negócio vai precisar de financiamento durante o período do ciclo de caixa. Nesse momento, é de grande importância ter capital de giro disponível para manter o negócio. Assim, é possível verificar que, para tornar a gestão financeira mais efi- ciente e de acordo com os objetivos da organização, é preciso monitorar não somente o fluxo de caixa, mas todo o ciclo operacional do negócio. Uma forma de alcançar essa eficiência é fazer uso de sistemas informatizados, que forneçam controle de prazos e fluxos, principalmente quando a empresa trabalha com mais de um produto ou serviço simultaneamente. No link a seguir, você pode conferir uma forma de calcular o capital de giro necessário para o desenvolvimento das atividades de um negócio. https://qrgo.page.link/JC8tP Fluxo de caixa8 ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2015. SAGE. O que é fluxo de caixa e como fazer um fluxo de caixa empresarial. Blog Sage, [201-]. Disponível em: https://blog.sage.com.br/o-que-e-fluxo-de-caixa-como-fazer/. Acesso em: 8 ago. 2019. ZDANOWICZ, J. E. Fluxo de caixa: uma decisão de planejamento e controle financeiros. 10. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2004. 9Fluxo de caixa MATEMÁTICA FINANCEIRA Adriana Claudia Schmidt Juros compostos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Distinguir juros simples de juros compostos. � Aplicar as fórmulas utilizadas para cálculos em operações que envol- vem juros compostos. � Calcular taxas de juros compostos na calculadora financeira. Introdução Para diferenciar os sistemas de juros, é importante estruturar alguns conceitos entre juros simples e juros compostos, também chamados de capitalizações simples e compostas. Em qualquer um dos sistemas, o capital, os juros, as taxas e o montante apresentam a mesma definição, e tanto na capitalização simples como na composta, é importante entender os princípios da matemática financeira, os quais podem ser calculados por meio de fórmulas algébricas. Neste capítulo, você entenderá a necessidade que as pessoas têm de conhecer os fundamentos básicos da matemática financeira. Além disso, será possível compreender como um valor aplicado a uma certa taxa de juros se comporta no decorrer do tempo. Após esse entendimento, você terá acesso ao uso da calculadora financeira, uma ferramenta essencial para quem deseja ter agilidade na resolução dos problemas financeiros do cotidiano. Juros simples e juros compostos Existem dois tipos de capitalização: simples e composta. A melhor forma de diferenciar uma capitalização da outra é por meio de um exemplo sucinto. Considere que uma pessoa obteve um empréstimo no valor de R$ 100,00 em um banco X, que opera com uma taxa de juros de 90% ao ano. Qual será sua dívida após 5 anos? No Quadro 1, vemos um exemplo de como esses cálculos ocorrem. Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Por meio da tabela desenvolvida, é possível verificar que, após 5 anos, a diferença entre os dois montantes é de R$ 1.926,10 (2.476,10 – 550,00). Além disso, é possível verificar que o juro simples cresce linearmente ao longo dos 5 anos, ao passo que o juro composto cresce exponencialmente. A Figura 1, a seguir, apresenta um gráfico com a diferença entre os juros simples e composto. Figura 1. Diferença entre juros simples e composto. Ano Dívida Juro simples Montante da dívida Dívida Juro composto Montante da dívida 1 R$ 100,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 190,00 R$ 100,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 190,00 2 R$ 190,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 280,00 R$ 190,00 0,9 x 190 = 171 R$ 361,00 3 R$ 280,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 370,00 R$ 361,00 0,9 x 361 = 324,9 R$ 685,90 4 R$ 370,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 460,00 R$ 685,90 0,9 x 685,9 = 617,31 R$ 1.303,21 5 R$ 460,00 0,9 x 100 = 90,00 R$ 550,00 R$ 1.303,21 0,9 x 1303,21 = 1.172,89 R$ 2.476,10 Quadro 1. Demonstrativo de cálculo de juro simples e juro composto Juros compostos2 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Ao somar os juros ao capital, dá-se o nome de capitalização, por isso podemos chamar o juro simples de capitalização simples e o juro composto de capitalização composta. No regime de capitalização simples, os juros são somados uma única vez ao capital, ou seja, o juro é calculado somente sobre o capital inicial, ao passo que, nos juros compostos, a remuneração se dá a cada período, isto é, juro sobre juro. Conforme Veras (2005, p. 56): [...] os juros simples, pela sua facilidade de cálculo são utilizados comumente em negócios entre pessoas físicas. São utilizados também em operações comerciais como argumento de venda, pois, por esse regime, por meio de artifícios de cálculo, as taxas de lucro poderão parecer maiores e as taxas de juros menores. No mercado financeiro, só é utilizado em aplicações de curto prazo, como open market ou overnight e em descontos de títulos. Para todos os papéis de renda, sistema financeiro de habitação, crediários, utiliza-se o regime de capitalização composta. Nas duas convenções, linear e exponencial, entende-se o seguinte: � Capital é o valor que se tem em mãos hoje, também denominado valor atual, principal ou valor presente. Pode ser representado por C ou PV (PV, neste capítulo). � Juro é o valor da remuneração do capital, representado pela letra J. � Taxa de juros é geralmente representada em porcentagem. Quando substituída em fórmulas, deve ser decimal, ou seja, dividida por 100. É a remuneração paga pelo uso de um capital, sendo representada pela letra i. � Montante é o valor final do capital aplicado, ou seja, é o capital mais os juros, sendo representado pelas letras M, S ou FV, pois também é chamado de valor futuro. � Tempo é o número de períodos que o capital fica aplicado ou emprestado, sendo representado pelas letras n ou t. Para o cálculo das operações financeiras, são utilizadas fórmulas algébricas nas duas convenções, sendo que a simbologia nas duas é a mesma, conforme apresentado no Quadro 2. 3Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Capitalização simples Capitalização composta Juro J = PV ∙ i ∙ n J = PV[(1 + i)n – 1] Taxa de juros Tempo ou número de períodos Capital ou valor principal ou: ou: PV = FV(1 + i)–n Montante ou valor final FV = PV(1 + i ∙ n) FV = PV(1 + i) ∙ n Onde: J = juro; FV = valor final; PV = valor principal; i = taxa de juros; n = número de períodos. Quadro 2. Fórmulas das capitalizações simples e composta Na resolução de muitos problemas de juros simples e compostos, é imperativo que se encontre o montante, o valor principal e o juro por meio das seguintes fórmulas: FV = PV + J PV = FV – J J = FV – PV Juros compostos4 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 É imprescindível estabelecer as relações e as diferenças entre as duas capitalizações, concluindo-se que, em juros simples, apenas o capital inicial rende juros, sendo diretamente proporcional ao tempo e à taxa. Já no juro composto, o juro gerado pela aplicação em um período será incorporado a cada período, gerando juros sobre juros. Capitalização composta e suas aplicações O regime que melhor retrata a realidade nas operações financeiras é o regime de capitalização composta. Conforme Azevedo (2015), os financiamentos (p. ex., empréstimos bancários, aplicações financeiras ou crédito rotativo por meio de cartão de crédito) são permeados atualmente por juros compostos. No regime de juros compostos, diferentemente dos juros simples, os juros incidem no saldo devedor do período anterior, havendo, portanto, uma composição de juros. Assim como na capitalização simples, o capital acrescido de juros compõe o valor futuro: FV = PV + J A fórmula geral da capitalização composta varia de acordo com a quantidade de períodos da capitalização, formando o fator de capitalização (1 + i)n, de modo que, por gerar juros sobre juros, a fórmula do montante é: FV = PV(1 + i)n Por meio da fórmula do valor futuro, tem-se a fórmula do valor principal: ou ainda: PV = FV(1 + i)–n Nos cálculos com a utilização de fórmulas, o período e a taxa devem estar na mesma unidade de tempo. Por exemplo, se o tempo estiver em dias, a taxa deve ser dias; se o tempo estiver em meses, a taxa deve estar em meses, e assim sucessivamente. Lembre-se de que as taxas devem ser decimais (divi- didas por 100). 5Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 O Exemplo 1, a seguir, apresenta a aplicabilidade dessa fórmula. Luiz aplicou um certo capital a uma taxa de juros compostos de 1,2% ao mês, capita- lizado mensalmente, produzindo um montante de R$ 3.500,00 após 10 meses. Qual o valor aplicado por Luiz? PV = ? FV = 3.500 n = 10 meses i = 1,2% a.m. ÷ 100 = 0,012 Por meio da resolução dessa fórmula, é possível concluir que Luiz Aplicou R$ 3.106,44. É importante que você utilize uma calculadora científica para a resolução dos cálculos. Já os juros podem ser calculados pela diferença: J = FV – PV Dessa fórmula, obtém-se: J = PV (1 + i)n – PV E colocando o PV em evidência, tem-se a fórmula do juro composto: J = PV [(1 + i)n – 1] O fator (1 + i)n é encontrado em tabelas financeiras para cada valor de n e i, e pode ser calculado com as calculadoras científicas usuais ou com a calculadora financeira HP 12c. Juros compostos6 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 O Exemplo 2, a seguir, traz uma demonstração da utilização da fórmula do juro composto. Maria fez um empréstimo a uma taxa de juros compostos de 2,8% ao mês, durante 6 meses, e pagou de juros o valor de R$ 7.500,00. Qual o valor que Maria pegou emprestado? PV = ? FV = ? Nessa situação, em que se quer descobrir o valor principal que Maria pegou empres- tado, não é possível utilizar a fórmula do PV, visto que, para calcular por essa fórmula, é necessário ter conhecimento do FV, de modo que, como só conhecemos o juro, teremos de utilizar a fórmula do juro. J = 7.500 n = 6 meses i = 2,8% a.m.÷ 100 = 0,028 Para o cálculo do número de períodos em juros compostos, como o n está sempre no expoente, ao fazermos a substituição das variáveis, caímos em logaritmos. Em concursos, muitas vezes a questão informa o valor do logaritmo, e, nas questões usuais, usa-se a calculadora científica para cálculos com fórmulas ou a calculadora financeira HP 12c. Para o cálculo do tempo, tem-se a seguinte fórmula: 7Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 O Exemplo 3, a seguir, traz uma aplicação para o cálculo do número de períodos. Se a inflação mensal está em torno 1,4%, em quanto tempo uma mercadoria que custa R$ 7.500,00 atingirá o preço de R$ 7.819,43? PV = 7.500 FV = 7.819,43 i = 1,4% a.m. ÷ 100 = 0,014 n = ? Já para o cálculo da taxa no juro composto, faz-se necessário o uso de uma fórmula prática. Conforme Rohloff (2009), deve-se subtrair 1 e multiplicar por 100 o resultado do cálculo exponencial, como segue: Para o cálculo da taxa, é indispensável o uso de calculadoras. Lembre- -se de que a resposta virá sempre na forma decimal, de modo que é preciso multiplicar por 100 para transformar em taxa percentual, como pode ser visualizado no Exemplo 4. Juros compostos8 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Se você realizar um investimento no valor de R$ 32.000,00 em títulos de capitalização que lhe proporcionarão um resgate de R$ 39.753,50 após 150 dias de aplicação, qual será a taxa mensal de juros compostos aplicada ao seu capital? PV = 32.000 FV = 39.753,50 N = 150 dias = 5 meses i = ? Resolução de taxas com a máquina financeira HP 12c Taxas de juros Na capitalização composta, as taxas de juros são definidas de uma maneira especial, diferentemente dos juros simples, em que a taxa de 2% ao mês representa o mesmo que 24% ao ano ou 12% ao semestre, ou seja, a relação é linear. Pode-se dizer, então, que essas taxas são proporcionais. Entretanto, nos juros compostos, a relação não é a mesma. Taxa nominal Conforme Castanheira e Macedo (2010), ao nos dirigirmos a um agente fi- nanceiro e questionarmos sobre o valor da taxa utilizado para empréstimo 9Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 à pessoa física, é comum sermos informados da taxa anual que está sendo praticada naquele momento. Entretanto, o prazo de formação de juros e a sua incorporação ao capital que o produziu costumam ser de periodicidade menor, geralmente mensal. À taxa informada, damos o nome de taxa nominal. A taxa de juros é nominal quando a unidade referencial de tempo não coincide com a unidade de tempo da capitalização. Por exemplo: � 16% ao ano, capitalizada mensalmente; � 18% ao ano, capitalizada trimestralmente; � 22% ao ano, capitalizada semestralmente. Quando essa situação ocorrer em problemas de capitalização composta, deve-se calcular de forma proporcional aos juros simples. Veja: � 16% ao ano, capitalizada mensalmente − = 1,33% a.m.1612 � 18% ao ano, capitalizada trimestralmente � 22% ao ano, capitalizada semestralmente: O Exemplo 5, a seguir, apresenta o desenvolvimento desse cálculo por meio da fórmula e da calculadora financeira HP 12c. Determine o montante de um valor de R$ 3.000,00 que foi aplicado à taxa nominal de 40% ao ano, durante um ano, considerando a capitalização trimestral: i = 40% a.a. = = 10% a.t. ÷ 100 = 0,1 a.t. n = 1 ano = 4 trimestres PV = 3.000 FV = ? FV = PV (1 + i)n FV = 3.000(1 + 0,1)4 FV = 4.392,30 Na calculadora HP 12c: f reg (zera todos os registros) 3.000 CHS PV 10 i 4 n FV Juros compostos10 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Taxas proporcionais, equivalentes e efetivas Para Azevedo (2015, p. 32), as taxas proporcionais estão ligadas a juros simples, ao passo que as taxas equivalentes se associam a juros compostos. Todavia, pode-se dizer também que as taxas equivalentes estão ligadas às duas capita- lizações, e, sempre que solicitadas ao cálculo, é preciso saber qual o tipo de capitalização. As taxas efetivas, por sua vez, estão ligadas somente aos juros compostos. Desse modo, sempre que for dito a taxa efetiva, não será necessário a especificação, visto que a taxa efetiva só é calculada no juro composto. Conforme Assaf Neto (2012), por se tratar de capitalização exponencial, a expressão da taxa equivalente composta é a média geométrica da taxa de juros do período inteiro. Quando solicitado o cálculo da taxa efetiva ou da taxa equivalente em juros compostos, duas fórmulas são usuais para o cálculo: e A primeira é utilizada quando se tem a taxa com o maior período e se quer encontrar a taxa equivalente ao menor período, ao passo que a segunda é utilizada quando se tem a taxa com o menor período e se quer encontrar a taxa com o maior período. Para entender melhor, veja os Exemplos 6 e 7. Determine a taxa de juros compostos mensal equivalente a 21% ao ano: i = 21% ao ano, porém queremos ao mês (temos a.a. e vamos para a.m., da maior para a menor). Quantos meses têm um ano? 12 meses. n = 12 meses Na HP 12c: 100 CHS PV (usa-se como valor principal); 121 FV (valor principal somado à taxa de juros); 12 n (período que buscamos); i (taxa equivalente). 11Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 A taxa de juros compostos de 2,4% ao mês corresponde à qual taxa equivalente ao trimestre? i = 2,4% ao mês, porém queremos ao trimestre (temos a.m. e vamos para a.t., da menor para a maior). Quantos meses têm um trimestre? 3 meses. n = 3 meses Na HP-12c: 100 CHS PV (usa-se como valor principal); 2,4 i (taxa de juros fornecidos); 3 n (período que buscamos); FV (valor futuro); 100 – (subtrai-se o PV inicial para encontrar a taxa de juros). Conforme Castanheira e Macedo (2010), na matemática financeira, independentemente da capitalização em estudo, é comum utilizar nas respostas duas casas após a vírgula, e, para isso, usa-se uma regra de arredondamento: se o terceiro número for 5, 6, 7, 8 ou 9, o segundo número é arredondado para cima, porém se o terceiro número for 4, 3, 2, 1 ou 0, o segundo número fica inalterado. Por exemplo: � 2,23673% = 2,24% � 3,38213% = 3,38% Juros compostos12 Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Neste capítulo, para facilitar o entendimento da capitalização composta, foram utilizados vários problemas envolvendo diferentes cálculos desenvolvidos por meio de fórmulas e pela máquina financeira HP 12c. Para Castanheira e Macedo (2010), pode-se considerar que a essência da capitalização composta está na definição de que ela é caracterizada pela reincidência de juros sobre o capital, ou seja, quando sobre um valor que já tem embutido uma parcela de juro, incide novamente a taxa de juro. Nesse contexto, vários instrumentos de cálculos da área financeira são utilizados, como juros simples, juros compostos e equivalência de taxas. ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012. AZEVEDO, G. H. W. Matemática financeira: princípios e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2015. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. Matemática financeira aplicada. 3. ed. Curitiba: Ibpex, 2010. ROHLOFF, D. B. Matemática financeira: administração. São Paulo: Pearson, 2009. VERAS, L. L. Matemática financeira: uso de calculadoras financeiras, aplicações ao mercado financeiro, introdução à engenharia econômica, 300 exercícios resolvidos e propostos com respostas. São Paulo: Atlas, 2005. 13Juros compostos Identificação interna do documento NXNT8X5PS9-A8NO8B1 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 D136m Dal Zot, Wili. Matemática financeira : fundamentos e aplicações [recurso eletrônico] / Wili Dal Zot, Manuela Longoni de Castro. – Porto Alegre : Bookman, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8260-333-8 1. Matemática financeira. I. Castro, Manuela Longoni de. II. Título. CDU 51 Os autores Wili Dal Zot É professor de Matemática Financeira do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 1984. É bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS, espe- cialista em Finanças pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mes- tre em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) pela mesma instituição. Atualmente, é professor convidado da FGV das disciplinas de Matemática Financeira e Finanças Corporativas em cursos de Pós-Graduação. Tem experiência em cargos de Gerência Financeira e de Controla- doria em empresas de setores da Indústria de Comércio e Serviços. Manuela Longoni de Castro É bacharel em Matemática pela UFRGS, mestre em Matemática Aplicada pela mesma universidade e Ph.D. em Matemática pela University of New Mexico (Estados Unidos). É professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 2006, ministrando a disciplina de Matemática Financeira desde 2007. Tem experiência na área de Matemática Aplicada, atuando nas áreas de Equações Diferenciais Parciais, Aná- lise Numérica e Ecologia Matemática. CAPÍTULO 6 DESCONTOS 6.1 Introdução CONCEITO 6.1 Entende-se por desconto “[…] o abatimento que se obtém ao saldar um compromisso antes de sua data de vencimento e por descontar o ato acima descrito.” (ASSAF NETO, 2009, p. 38; DAL ZOT, 2008, p. 75) Normalmente os compromissos com vencimento no futuro são originários de empréstimos anteriores e são representados por documentos denominados títulos de crédito, que, desem- penhando papel semelhante ao dos contratos, asseguram legalmente os direitos dos credores. Os títulos de crédito possuem regras legais que preveem sua negociação de modo a fa- cilitar a antecipação dos direitos futuros por meio da operação de desconto. Dentre os títulos mais conhecidos, encontram-se duplicatas, notas promissórias, certifi- cados de depósito bancário e letras de câmbio. Uma empresa, ao descontar um título de crédito junto a um banco, recebe um valor in- ferior ao que o título irá valer no seu vencimento. O valor líquido recebido se denomina valor descontado, principal ou valor presente do título. A diferença entre valor líquido recebido e valor nominal do título é o desconto. O valor do título no vencimento é o seu valor de resgate, valor nominal ou valor futuro. Alguns pontos se destacam na operação de desconto do ponto de vista da empresa que se desfaz do título de crédito: • Da parte do possuidor ou credor do título, a operação de desconto significa a antecipa- ção da riqueza nele expressa; em troca, é oferecido um desconto de seu valor nominal (ou de resgate). • A operação de desconto pode ser comparada a um empréstimo, pois existe um princi- pal (valor descontado = valor nominal menos o desconto), um prazo e um valor futuro (montante, valor nominal, valor de resgate do título). Pontos de destaque na operação de desconto do ponto de vista do banco que adquire o título: • Da parte do banco comprador do título, a operação é semelhante a uma aplicação fi- nanceira cujo principal é o valor pago à vista pelos títulos (valor descontado ou valor presente) e o rendimento é o desconto recebido (mesmo que juros). 46 Matemática Financeira • Na data de vencimento, o banco que o descontou receberá o valor nominal do título de crédito que equivale ao montante do principal oferecido na sua aquisição. 6.2 Simbologia O objetivo primordial do cálculo financeiro nas operações de descontos é encontrar o principal (valor presente ou valor atual) dos títulos de crédito (principal = valor de resgate − desconto). Símbolos mais utilizados • D = desconto • P = principal, valor descontado, valor atual, valor presente (nas calculadoras financei- ras: ) • S = valor de resgate, valor nominal, valor futuro, montante (nas calculadoras financei- ras: ) 6.3 Desconto bancário simples CONCEITO 6.2 Um dos tipos mais conhecidos de desconto é o desconto bancário sim- ples. Nele, o valor presente (P) de um título de crédito é obtido por: P = S − D (6.1) e D = S·d·n (6.2) onde S = valor de resgate, valor de face, valor nominal ou valor futuro do título a ser descontado d = taxa de desconto bancário simples n = prazo entre o desconto e o vencimento do título 6.4 Cálculo do desconto (D) EXEMPLO 6.1 Calcular o valor do desconto de duplicatas cujo valor nominal é de R$ 23.000,00, descontadas a uma taxa de desconto bancário simples de 5% ao mês, 38 dias antes do vencimento. Capítulo 6 Descontos 47 Dados: D = ? S = 23.000 n = 38 d = m d = 5% (0,05) a.m. Solução: Resposta: R$ 1.456,67. Usando a calculadora. ALG RPN 23000 × 23000 ENTER .05 × .05 × 38 ÷ 38 × 30 = 30 ÷ ⇒1.456,66666667 ⇒1.456,66666667 6.5 Cálculo do valor descontado (P) EXEMPLO 6.2 Uma empresa descontou duplicatas no valor de face de R$ 18.700,00 com 52 dias de antecedência do vencimento, a uma taxa de desconto bancário simples de 4,5% ao mês, e deseja saber o valor líquido recebido na operação. Dados: P = ? S = 18.700 n = 52 d = m d = 4,5% (0,045) a.m. Solução: Como D = S·d·n e P = S – D, pode-se formular: P = S − S·d·n ou P = S(1 − d·n) (6.3) Resposta: R$ 17.241,40. 48 Matemática Financeira Usando a calculadora. ALG RPN 18700 × ( 18700 ENTER 1 − ( 1 ENTER .045 × .045 ENTER 52 ÷ 52 × 30 = 30 ÷ ⇒17.241,40000000 − × ⇒17.241,40000000 6.6 Cálculo da taxa efetiva (i) Calculando a taxa efetiva EXEMPLO 6.3 Calcular a taxa efetiva mensal de uma operação de desconto de duplica- tas no valor de face de R$ 100.000,00, 3 meses antes do vencimento, a uma taxa de descon- to bancário simples de 10% ao mês. Dados: i = ? S = 100.000 n = 3 m d = 10% (0,10) a.m. Solução: Como P = S(1 − d·n) e , ou (6.4) Resposta: 12,62% a.m. Capítulo 6 Descontos 49 Usando a calculadora. ALG RPN 1 ÷ ( 1 ENTER 1 − ( 1 ENTER 0.1 × 0.1 ENTER 3 = yx 3 × 3 1/x − ÷ − 3 1/x yx 1 = 1 − ⇒0,126248 ⇒0,126248 6.7 Tipos de descontos Os tipos conhecidos de descontos são: • Desconto bancário simples (desconto comercial simples ) ou desconto por fora simples • Desconto bancário composto ou desconto por fora composto1 • Desconto racional simples ou desconto por dentro simples • Desconto racional composto ou desconto por dentro composto Tipos de descontos e fórmulas de cálculo do valor presente: Bancário (d) Racional (i) Simples P = S(1 − d·n) Composto P = S(1 − d)n Uma das diferenças entre os descontos racionais e os bancários é que aqueles utilizam taxa de juros (i), enquanto estes, taxas de desconto (d). Os tipos de descontos mais utilizados são: o desconto bancário simples, para operações de desconto de curto prazo, em torno de 30 a 90 dias (duplicatas, notas promissórias, etc.), e o desconto racional composto, para prazos superiores. 1 Embora citado por alguns autores, não se tem conhecimento sobre a utilização do desconto bancário composto. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 D136m Dal Zot, Wili. Matemática financeira : fundamentos e aplicações [recurso eletrônico] / Wili Dal Zot, Manuela Longoni de Castro. – Porto Alegre : Bookman, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8260-333-8 1. Matemática financeira. I. Castro, Manuela Longoni de. II. Título. CDU 51 Os autores Wili Dal Zot É professor de Matemática Financeira do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 1984. É bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS, espe- cialista em Finanças pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mes- tre em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) pela mesma instituição. Atualmente, é professor convidado da FGV das disciplinas de Matemática Financeira e Finanças Corporativas em cursos de Pós-Graduação. Tem experiência em cargos de Gerência Financeira e de Controla- doria em empresas de setores da Indústria de Comércio e Serviços. Manuela Longoni de Castro É bacharel em Matemática pela UFRGS, mestre em Matemática Aplicada pela mesma universidade e Ph.D. em Matemática pela University of New Mexico (Estados Unidos). É professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 2006, ministrando a disciplina de Matemática Financeira desde 2007. Tem experiência na área de Matemática Aplicada, atuando nas áreas de Equações Diferenciais Parciais, Aná- lise Numérica e Ecologia Matemática. CAPÍTULO 5 TAXAS 5.1 Introdução Na prática comercial e bancária, o termo taxa tem sido utilizado com diversos significados e em diferentes situações. Assim, é importante distinguir algumas dessas situações para que se pos- sam aplicar os conceitos e as fórmulas adequadamente. 5.1.1 Diversas abordagens sobre taxas de juros Algumas das abordagens mais frequentes são: • Quanto à comparação entre taxas: � Taxas proporcionais entre si � Taxas equivalentes entre si • Quanto à forma de capitalização: � Taxas de juros simples � Taxas de juros compostos � Taxas efetivas � Taxas nominais • Em ambiente inflacionário: � Taxas aparentes � Taxas de inflação ou de correção monetária � Taxas reais • Em operações de desconto: � Taxas racionais ou taxas por dentro � Taxas de desconto ou taxas por fora 34 Matemática Financeira 5.2 Taxas proporcionais CONCEITO 5.1 Duas taxas de juros são ditas proporcionais entre si quando a relação de seus valores é a mesma que existe entre os tempos representados por elas (DAL ZOT, 2008, p. 32; ASSAF NETO, 2009, p. 8). Por exemplo: 6% ao ano é uma taxa proporcional a 3% ao semestre porque . Outros exemplos de taxas proporcionais entre si: • 12% a.a. e 1% a.m. • 24% a.t. e 8% a.m. Observe que a existência de proporcionalidade entre duas taxas é uma propriedade intrínseca a elas e independe do regime de capitalização dos juros. 5.3 Taxas equivalentes CONCEITO 5.2 Duas taxas de juros são denominadas equivalentes entre si quando, aplicadas sobre um mesmo capital, durante um mesmo período de tempo, reproduzem a mesma quantia de juros ou o mesmo montante (DAL ZOT, 2008, p. 33; ASSAF NETO, 2009, p. 8; SAMANEZ, 2002, p. 49). No caso da equivalência de taxas, devemos considerar as diferenças entre os regimes de juros simples e compostos, uma vez que, nas mesmas condições, eles reproduzem juros diferentes. Assim, duas taxas podem ser equivalentes em um regime (simples ou composto), mas não o serão no outro. 5.3.1 Juros simples Vamos examinar a condição de equivalência (↔) entre as taxas mensal (im) e anual (ia) no regime de juros simples. Para que elas sejam equivalentes, devem reproduzir os mesmos juros, logo, o mesmo montante. Se considerarmos uma aplicação P após o período de 1 ano, teremos as seguintes equações: ia ↔ im se, e somente se, garantirem a igualdade das equações a seguir: S = P(1 + ia·1) e S = P(1 + im·12) ou ia·1 = im·12 Logo, para que ia ↔ im, devemos ter . Verifica-se que a relação entre as taxas equivalentes, ia e im, é o número 12, que é justa- mente a relação de proporcionalidade entre as unidades dos prazos (1 ano tem 12 meses), ou seja, para essas taxas serem equivalentes, também devem ser proporcionais. Em juros simples, duas taxas são equivalentes entre si se, e somente se, forem propor- cionais entre si. Capítulo 5 Taxas 35 Generalizando, as taxas i1 e i2 serão equivalentes entre si, em juros simples, consideran- do-se um prazo medido por n1, na unidade de tempo de i1, e n2, na unidade de tempo de i2, que satisfaça as seguintes equações: S = P(1 + i1·n1) e S = P(1 + i2·n2) Resumindo: Juros simples: i1 ↔ i2 se, e somente se, i1·n1 = i2·n2 EXEMPLO 5.1 Calcular a taxa trimestral equivalente a 13,50% a.a., em juros simples. Dados: ia = 13,50% (0,135) a.a. it = ? Solução: it·4 = ia·1 (1 ano tem 4 trimestres) it = it = = 0, 0337500 = 3,37500% Resposta: 3,38% a.t.1 5.3.2 Juros compostos Considere as equações a seguir: S1 = P(1 + ia)1 S2 = P(1 + im)12 No regime de juros compostos, para que ocorra equivalência entre as taxas mensal e anual, im ↔ ia, é necessário que S1 = S2, ou seja: (1 + ia)1 = (1 + im)12, de onde podemos concluir que: e Observe que, nos juros compostos, a relação entre os prazos encontra-se num expo- ente. Generalizando, as taxas i1 e i2 serão equivalentes entre si, considerando-se um prazo medido por n1, na unidade de tempo de i1, e n2, na unidade de tempo de i2, que satisfaça as equações: S = P(1 + i1)n1 e S = P(1 + i2)n2 1 Note que a resposta foi dada em taxa percentual com duas decimais, sendo essa a forma mais usual e a adotada como padrão neste livro, salvo menção em contrário. 36 Matemática Financeira Logo: se, e somente se,Juros compostos: Taxas proporcionais, em geral, não são equivalentes no regime de juros compostos. EXEMPLO 5.2 Calcular a taxa anual equivalente a 9% ao trimestre em juros compostos. Dados: ia = ? it = 9% (0,09) a.t. n = 1a → n1 = 1a ≡ n2 = 4t (Toma-se o prazo de 1 ano como referência para a compara- ção entre as taxas. Ao utilizarmos a taxa anual, consideramos o tempo em 1 ano e, para a taxa trimestral, 4 trimestres.) Solução: (1 + ia)1 = (1 + it)4 ↔ ia = (1 + it)4 − 1 ia = (1 + 0,09)4 − 1 = 0,411582 Resposta: 41,16% a.a. Usando a calculadora. (1 + 0,09)4 − 1 ALG RPN 1.09 yx 1.09 ENTER 4 − 4 yx 1 = 1 − ⇒0,411582 ⇒0,4115821 EXEMPLO 5.3 Calcular a taxa mensal equivalente a 14% ao semestre em juros compostos. Dados: im = ? is = 14% (0,14) a.s. n = 1s → n1 = 1s ≡ n2 = 6m (Toma-se o prazo de 1 semestre como referência para a comparação entre as taxas. Ao utilizarmos a taxa semestral, consideramos o tempo em 1 semestre e, para a taxa mensal, 6 meses.) Solução: Resposta: 2,21% a.m. Capítulo 5 Taxas 37 Usando a calculadora. ALG RPN 1.14 yx 1.14 ENTER 6 1/x − 6 1/x yx 1 = 1 − ⇒0,022078 ⇒0,022078 Outra maneira de calcular taxas equivalentes em juros compostos é utilizar os recur- sos pré-programados existentes nas calculadoras financeiras. Parte-se do conceito de taxas equivalentes, da escolha de um principal qualquer (R$ 100,00, por exemplo) e de um prazo de duração (normalmente o correspondente à taxa de maior prazo) como referência de com- paração. Os cálculos são feitos em duas etapas: • Primeiro se calcula o montante considerando o principal escolhido, a taxa de juros co- nhecida e o prazo de 1 ano ajustado à unidade de tempo da taxa conhecida. • Depois se calcula a taxa equivalente à taxa informada a partir dos dados anteriores (mesmo principal, mesmo montante e mesmo prazo), ajustando apenas a quantidade do prazo à unidade de tempo da taxa. Calcular as taxas equivalentes nos exemplos anteriores usando o recurso pré-programa- do para juros compostos da calculadora financeira. Exemplo 2 Exemplo 3 clear fin clear fin 100 PV 100 PV 9 i 14 i 4 n 1 n FV ⇒−141,158161 FV ⇒−114,000000 1 n 6 n i ⇒41,158161 i ⇒2,207824 Observe que as respostas em taxas, quando utilizado o recurso pré-programado das calculadoras financeiras, são dadas no formato percentual. 5.4 Taxa nominal Na prática comercial e bancária, há duas maneiras de enunciar problemas em juros compos- tos. Seja o exemplo de um empréstimo de R$ 100,00, durante um ano, podemos enunciá-lo: • Calcular o valor de resgate de um empréstimo de R$ 100,00, após 1 ano, à taxa de juros compostos de 12% ao ano. • Calcular o valor de resgate de um empréstimo de R$ 100,00, após 1 ano, à taxa de juros compostos de 12% ao ano, capitalizados (compostos) mensalmente. 38 Matemática Financeira Para o primeiro caso, usamos como solução a equação conhecida: S = P(1 + ia)1 = 100(1 + 0,12) = 112,00. Observe que o juro calculado foi exatamente o esperado: 12% sobre o capital emprestado. A taxa que reproduz juros correspondentes ao percentual esperado é denominada taxa efetiva (DAL ZOT, 2008, p. 71; PUCCINI, 2009, p. 62). Já na segunda situação temos uma novidade: a simultaneidade de duas unidades de tempo diferentes (ano e mês) na referência da taxa (ao ano, mas capitalizados mensalmente) indica, pela prática secular desse enunciado, que se deve usar uma taxa de juros compostos de 1% ao mês! Assim, teremos S = P(1 + i)n = 100(1 + 0,01)12 = 112, 68. Nesse caso, o resul- tado foi 12,68% sobre o capital emprestado, bem diferente da taxa enunciada. Quando isso ocorre, a taxa do enunciado é denominada taxa nominal (PUCCINI, 2009, p. 73; SAMANEZ, 2002, p. 37). CONCEITO 5.3 Denomina-se taxa nominal (iN) a toda taxa de juros que é apresentada com um período de capitalização diferente da unidade de tempo da taxa. A taxa nominal não expressa adequadamente o rendimento ou custo de um empréstimo ou apli- cação financeira. Logo, quando ela ocorre, deve-se encontrar a taxa efetiva correspondente. O enunciado sugere que uma taxa efetiva é a taxa proporcional da taxa nominal no período de capitalização. Para calcular a taxa efetiva a partir de uma taxa nominal, deve-se seguir os seguintes passos: • Passo 1: encontrar a taxa proporcional à taxa nominal do enunciado: ela é a taxa efetiva do problema na unidade de tempo correspondente ao período de capitalização: no exemplo • Passo 2: por meio da equivalência em juros compostos, encontrar a taxa efetiva na uni- dade de tempo desejada: no exemplo ia = (1 + 0,01)12 1 = 0, 126825 = 12,68% a.a. Observe que, uma vez encontrada uma taxa efetiva a partir de um enunciado contendo taxa nominal, todas as demais taxas equivalentes em juros compostos são taxas efetivas do problema (VIEIRA SOBRINHO, 2000, p. 191). EXEMPLO 5.4 Calcular a taxa efetiva anual de 10% ao ano, compostos mensalmente. Dados: i =? iN = 10% (0,10) a.a. cap. mens.2 Solução: Resposta: 10,47%. 2 Observe que é fundamental a identificação do período de capitalização na taxa nominal. Capítulo 5 Taxas 39 Usando a calculadora. ALG RPN FIN .10 ÷ .10 ENTER clear fin 12 + 12 ÷ 10 ENTER 1 yx 1 + 12 ÷ i 12 − 12 yx 100 PV 1 = 1 − 12 n ⇒0,104713 ⇒0,104713 FV 1 n i ⇒10,4713 EXEMPLO 5.5 Calcular a taxa efetiva anual correspondente à taxa de juros de 12% ao semestre, compostos trimestralmente. Dados: i =? iN = 12% (0,12) a.s. cap. trim. Solução: Resposta: 26,25. Usando a calculadora. ALG RPN FIN .12 ÷ .12 ENTER clear fin 2 + 2 ÷ 12 ENTER 1 yx 1 + 2 ÷ i 4 − 4 yx 100 PV 1 = 1 − 4 n ⇒0,262477 ⇒0,262477 FV 1 n i ⇒26,2477 40 Matemática Financeira EXEMPLO 5.6 Calcular o valor de resgate de uma aplicação financeira de R$ 43.000,00 à taxa de 8% ao ano, compostos mensalmente, após 7 meses. Dados: S =? P = 43.000 n = 7 m iN = 8% (0,08) a.a. cap. mens. Solução: S = P(1 + i)n, mas como i é uma taxa efetiva e a taxa conhecida é uma taxa nominal, iN, substitui-se ajustando-se n à unidade do período de capitalização. Passamos de uma taxa anual para uma mensal, dividindo a taxa anual nominal por 12 que é o número de meses que tem um ano. Logo, Resposta: R$ 45.047,25. Usando a calculadora. ALG RPN FIN .08 ÷ .08 ENTER clear fin 12 + 12 ÷ 8 ENTER 1 yx 1 + 12 ÷ i (RPN) 7 × 7 yx 43000 PV 43000 = 43000 × 7 n ⇒45.047,2489. . . ⇒45.047,2489. . . FV⇒-45.047,2489. . . Caso o problema envolva a convenção linear para períodos não inteiros, a fórmula que teremos que substituir, , passa a ser onde k é a parte inteira de n e sua parte fracionária, conforme o Capítulo “Juros Compostos”. EXEMPLO 5.7 Qual é o valor de resgate de uma aplicação de R$ 27.000,00, à taxa de 10% ao ano, compostos trimestralmente, após 285 dias (considerando-se a convenção linear para períodos não inteiros). Dados: S =? P = 27.000 iN = 10% (0,10) a.a. cap. trim. n = 285 d Capítulo 5 Taxas 41 Solução: 1. Transforma-se a taxa nominal em efetiva: a.t. 2. Adequa-se o prazo para trimestres: t t t t 3. Fórmula da convenção linear: Resposta: R$ 29.197,20. Usando a calculadora. ALG RPN FIN .1 ÷ 4 + 1 .1 ENTER 4 ÷ 1 + clear fin yx 3 × ( 3 yx 10 ENTER 4 ÷ i .1 ÷ 4 × .1 ENTER 4 ÷ 285 ENTER 90 ÷ n 15 ÷ 90 + 1 ) 15 × 90 ÷ 1 + 27000 PV × 27000 = × 27000 × FV ⇒29.197,19707. . . ⇒29.197,19707. . . ⇒29.197,19707. . . O recurso financeiro pré-programado para a convenção linear está disponível apenas nas cal- culadoras HP 12c; para usá-lo, é necessário que o visor não tenha a letra C, indicador de con- venção exponencial (para se tirar ou colocar a opção deve-se teclar seguido de ). Onde a taxa nominal é utilizada? • A nível internacional, predomina o uso da taxa nominal; logo, contratos de financia- mento em moeda estrangeira são feitos com taxas nominais. • A poupança no Brasil, durante longos períodos, além de correção monetária, remune- rava a uma taxa de juros juros de 6% a.a., capitalizados mensalmente, que equivale às taxas efetivas de 0,5% a.m. ou 6,17% a.a. • No mercado financeiro, a taxa-over de 3% a.m., de uma determinada aplicação, significa que a taxa diária da referida aplicação foi de . • O BNDES e a maioria do sistema financeiro brasileiro preferem o uso de taxas efetivas. • A Caixa Econômica Federal tem por hábito indicar em seus contratos ambas as taxas, nominal e efetiva, fazendo menção explícita a elas. 5.5 Taxas de inflação Em ambiente de inflação, é importante se desdobrar a taxa efetiva em duas partes, a que cor- responde ao componente meramente inflacionário e a dos juros propriamente ditos. Temos, então, as seguintes taxas: 42 Matemática Financeira • Taxa aparente de juros é a taxa efetiva de juros contendo, porém, o componente da inflação. • Taxa de correção monetária corresponde à atualização da perda de poder aquisitivo do dinheiro pela inflação. • Taxa real de juros é também uma taxa efetiva de juros, mas sem o componente da in- flação. A Matemática Financeira costuma dedicar um tópico específico para o estudo da inflação. Neste livro, a matemática financeira da inflação será examinada no Capítulo “Correção mo- netária”. 5.6 Taxas de desconto Quando partimos de uma quantia futura conhecida, geralmente um direito creditício ou dí- vida, e queremos descobrir quanto essa quantia vale hoje (qual é o seu valor presente ou valor atual), utilizamos as denominadas taxas de desconto. As taxas de desconto podem ser classificadas em: • Taxas de desconto racional ou por dentro: são as taxas de juros, simples ou compostos, já vistas nos tópicos anteriores. • Taxas de desconto bancário: podem ser de juros simples ou compostos, predominando o primeiro e, praticamente, inexistindo o segundo. Este livro dedica o Capítulo “Descontos” para o estudo das taxas de descontos. Capítulo 11 Correção monetária 129 11.3 Fórmula de Fischer 11.3.1 Taxas aparente, de correção monetária e real EXEMPLO 11.7 O proprietário de um imóvel, adquirido em maio de 2009 pelo valor de R$ 270.000,00, deseja vendê-lo em fevereiro de 2013 a 20% acima do valor atualizado monetariamente pelo IGP-M/FGV. Calcular o valor de venda do imóvel. Dados: ireal = 20% Valorvenda=? Valorhistorico=270.000,00 Datacompra=mai09 ⇒ Datavenda = fev13 ⇒ Solução: Valorvenda = Valoratualizado(1 + ireal) Valoratualizado = Valorhistórico(1 + icm) Valorvenda = Valorhistórico(1 + icm)·(1 + ireal) × Valorvenda = 270.000(1 + 0,2619481)·(1 + 0,20) = 408.871,19256. . . Resposta: R$ 408.871,19. CONCEITO 11.4 “A taxa aparente (chamada nominal nas transações financeiras e co- merciais) é aquela que vigora nas operações correntes. A taxa real é calculada depois de serem expurgados os efeitos inflacionários.”(SAMANEZ, 2002. p. 67) Taxas aparente e real se relacionam pela Fórmula de Fischer1: (1 + iaparente) = (1 + icm)·(1 + ireal) (11.1) No exemplo anterior, temos: (1 + iaparente) = (1 + icm)·(1 + ireal) = (1 + 0,2619481).(1 + 0,20) = (1 + 0,51433775 . . . ) Valorvenda = Valorhistórico(1 + iaparente) = Valorvenda = 270.000(1 + 0,51433775 . . . ) = 408.871,19256 . . . Em geral, a Fórmula de Fischer ((1 + iaparente) = (1 + icm)·(1 + ireal )) é aplicada em duas situações: • Quando desejamos calcular uma taxa aparente a partir do conhecimento da taxa de inflação ou correção monetária (icm) e da taxa real de juros (ireal): iaparente = (1 + icm)·(1 + ireal ) − 1. 1 A Fórmula, ou Efeito de Fischer, é atribuída ao economista e estatístico americano Irving Fischer, considerado um dos fundadores da corrente macroeconômica denominada monetarista. 130 Matemática Financeira • Quando se quer conhecer a taxa real de uma operação financeira, conhecidas as taxas aparente e de inflação: . Os contratos de operações de empréstimos, no que diz respeito à correção monetária, são classificados em dois tipos: • Com correção monetária pré-fixada: aqueles em que não há menção explícita de cri- tério de correção. A correção monetária é estimada a priori. Atualmente a maioria das operações de empréstimos de curto prazo (até um ano) são pré-fixadas. • Com correção monetária pós-fixada: aqueles em que os saldos são atualizados mone- tariamente, a posteriori (PUCCINI, 2009, p. 253), por meio de algum índice de preços identificado no contrato. Os valores em reais somente são conhecidos após a publicação do respectivo índice de cada data. EXEMPLO 11.8 Na década de 1970, a poupança rendia 0,5% a.m. sobre o saldo corri- gido pelo IGP-DI. Sabendo-se que, em um determinado mês, a taxa de inflação medida pelo IGP-DI foi de 10%, calcular a taxa de remuneração da poupança naquele mês. Dados: ireal = 0,5% icm = 10% iaparente = ? Solução: iaparente = (1 + icm)·(1 + ireal ) − 1 iaparente = (1 + 0,10)·(1 + 0,005) − 1 = 0,1055 . . . = 10,55 . . . % Resposta: 10,55% a.m. Observe que, para o público em geral, a remuneração ou os rendimentos se referem a taxas aparentes. EXEMPLO 11.9 Na década de 1990, antes do Plano Real lançado pelo Governo Itamar, uma aplicação financeira de $ 1.000,00 se converteu, após um ano, em $ 3.000,00. Saben- do-se que a taxa de inflação média mensal foi de 11% a.m., calcule a taxa real mensal de juros da referida aplicação. Dados: P = 1.000 S = 3.000 n = 12 m ireal = ?% a.m. icm = 11% a.m. Capítulo 11 Correção monetária 131 Solução: Resposta: −1,27% a.m. Em épocas de alta inflação, é muito frequente encontrar situações como a do exemplo em que a taxa real foi negativa, ou seja, a pessoa que aplicou durante um ano recebe um montante com menor poder de compra que o principal investido. O exemplo é tirado de um caso real. EXEMPLO 11.10 O dono de uma loja de vestuário que financia a seus clientes pelo cré- dito direto ao consumidor solicita que você forneça um coeficiente para calcular anuida- des com 3 prestações postecipadas. É exigência do lojista uma remuneração real de 0,5% ao mês. Conside a taxa de inflação média de 1% ao mês. Dados: P = 1 (as anuidades obtidas a partir do principal igual a R$ 1,00 são utilizadas como coeficientes, conforme o Capítulo “Anuidades”) n = 3 p.m. post. ireal = 0, 5% (0,005) a.m. icm = 1% (0,01) a.m. Solução: Observe que a taxa para anuidades não considerava a inflação nela embutida. Assim, ela está sendo agora considerada na taxa aparente. iaparente = (1 + icm)·(1 + ireal) − 1 = (1 + 0,01)·(1 + 0,005) − 1 = 0,01505000 . . . Resposta: 0,3434. 132 Matemática Financeira Usando a calculadora. RPN FIN 1.01 ENTER 1.005 × 1 − iaparente ⇒ 0,01505000. . . 100 × iaparente ⇒ 1,505000. . . % 1.01505 ENTER clear fin END 3 n yx 1 PV .01505 × 3 n 1.01505 ENTER 1.505 i 3 n yx PMT CHS 1 − ÷ Coeficiente⇒ 0,3434166. . . Coeficiente⇒ 0,3434166. . . EXEMPLO 11.11 Um empresário descontou duplicatas no valor de R$ 45.000,00, 60 dias antes do vencimento, a uma taxa de desconto bancário simples de 5% ao mês. Sabendo que a taxa média de inflação é de 2,3% ao mês, calcule a taxa implícita real mensal de juros (taxa efetiva real) da operação. Dados: S = 45.000 n = 60 d = 2 m d = 5% (0,05) a.m. icm = 2,3% (0,023) a.m. Solução: Observe que, nas operações de desconto, a taxa efetiva ou implícita de juros, no capítulo 6, é uma taxa aparente, uma vez que engloba a inflação. P = S·(1 − d·n) = 45.000 × (1 − 0,05 × 2) = 40.500 Resposta: 3,04% a.m. Capítulo 11 Correção monetária 133 Usando a calculadora. RPN FIN 45000 ENTER 1 ENTER .05 ENTER 2 × − × P⇒ 40.500,0000. . . 45000 ENTER clear fin 40500 ÷ 40500 PV 2 1/x yx 45000 CHS FV 1 − 2 n i iaparente ⇒ 0,0540925534. . . iaparente ⇒ 5,40925534. . . % 1.0540925534 ENTER 1.023 ÷ 1 − 100 × ireal ⇒ 3,03935028 . . . % 11.4 Tabelas de preços 11.4.1 Tabela 1 – IGP-DI/FGV: dez-2011 a ago-2013 Ano Mês Índice Var. % a.m. Var.% no ano Var.% em 12 m 2011 dez 465,586 −0,16 5,00 5,00 2012 jan 466,979 0,30 0,30 4,29 fev 467,308 0,07 0,37 3,38 mar 469,910 0,56 0,93 3,32 abr 474,683 1,02 1,95 3,86 mai 479,019 0,91 2,89 4,80 jun 482,311 0,69 3,59 5,66 jul 489,621 1,52 5,16 7,31 ago 495,949 1,29 6,52 8,04 set 500,314 0,88 7,46 8,17 out 498,739 −0,31 7,12 7,41 nov 499,989 0,25 7,39 7,22 dez 503,283 0,66 8,10 8,10 Matemática Financeira Adriana Claudia Schmidt Taxas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os diferentes tipos de taxas. Calcular os diferentes tipos de taxas na calculadora financeira. Analisar as abordagens sobre taxas referentes ao comparativo à forma de capitalização, ao ambiente inflacionário e às operações de desconto. Introdução As taxas de juros sempre são abordadas nos regimes de capitalização simples e composto. No entanto, é preciso fazer um comparativo entre as taxas, por meio de problemas práticos e situações cotidianas, pois nem sempre as condições das unidades de tempo satisfazem os períodos de capitalização. Neste capítulo, você conhecerá os diferentes tipos de taxas, bem como as diferentes denominações utilizadas pelo mercado financeiro, sendo as taxas mais usuais: efetiva, nominal ou proporcional e equivalente ou real. Além disso, aprenderá a adequá-las às categorias padronizadas pela calculadora HP-12c. Por fim, analisará as abordagens sobre taxas quando à capitalização, ao ambiente inflacionário e às operações de desconto. Diferentes enfoques das taxas de juros Taxa efetiva Pode-se dizer que uma taxa é efetiva quando a taxa informada é igual àquela de formação e incorporação dos juros ao capital produzido. Para Puccini e Puccini (2006), taxa efetiva é a taxa de juros em que a unidade referencial do seu tempo coincide com a unidade de tempo dos períodos de capitalização. São exemplos de taxa efetiva: 3% ao mês, capitalizados mensalmente; 4% ao bimestre, capitalizados bimestralmente; 5% ao trimestre, capitalizados trimestralmente; 8% ao ano, capitalizados anualmente. Como as unidades de medida de tempo das taxas de juros e dos períodos de capitalização são as mesmas, é comum simplesmente dizer: 3% ao mês, 4% ao bimestre, 5% ao trimestre e 8% ao ano. Taxa nominal ou proporcional A taxa nominal de juros refere-se a quando a taxa informada não coincide com a capitalização dos juros. Segundo Puccini e Puccini (2006, p. 58), “[...] taxa nominal é a taxa de juros em que a unidade referencial de seu tempo não coincide com a unidade de tempo dos períodos de capitalização”. A taxa nominal vem sempre com a unidade anual, e os períodos de ca- pitalização aparecem em dias, meses, bimestres, trimestres, quadrimestres, semestres ou anos. São exemplos de taxas nominais: 13% ao ano, capitalizados mensalmente; 14% ao ano, capitalizados bimestralmente; 15% ao ano, capitalizados trimestralmente; 18% ao ano, capitalizados semestralmente. Essa taxa é extremamente empregada em negócios financeiros, porém, como não representa a taxa efetiva, seu uso não é indicado em juros compostos. A taxa nominal traz em seu enunciado uma taxa efetiva subentendida, que é a taxa de juros a ser empregado em cada período de capitalização. Essa taxa é calculada de forma proporcional ao regime de juros simples. As taxas efetivas, que estão implícitas nas taxas anuais nominais, são alcançadas em função do número de momentos da capitalização da taxa anual, conforme o número de períodos de capitalização do ano, ou seja: quando capitalizado diariamente, divide-se a taxa por 360, considerando-se que o ano comercial tem 30 dias; quando capitalizado mensalmente, divide-se a taxa por 12, pois o ano tem 12 meses; quando capitalizado trimestralmente, divide-se a taxa por 4, pois o ano tem 4 trimestres, e assim sucessivamente. Conforme Assaf Neto (2012, p. 8): Taxas2 [...] essa transformação é processada pela denominada taxa proporcional de juros também denominada de taxa linear ou nominal. Essa taxa proporcional é obtida da divisão entre a taxa de juros considerada na operação e o número de vezes em que ocorrerão os juros (quantidade de períodos de capitalização). Observe os exemplos: 18% ao ano, capitalizados mensalmente: 20% ao ano, capitalizados trimestralmente: 22% ao ano, capitalizados semestralmente: 36% ao ano, capitalizados diariamente: Pode-se verificar que as taxas nominais não serão utilizadas nos cálculos financeiros do regime composto, e sim as taxas efetivas correspondentes, ou seja, 1,50% ao mês, 5% ao trimestre, 11% ao semestre, 0,10 % ao dia. Para Dalzot e Castro (2015, p. 34), “[...] a existência da proporcionalidade entre duas taxas é uma propriedade intrínseca a elas e independe do regime de capitalização dos juros”. 3Taxas No regime de capitalização simples, taxa proporcional, linear ou nominal e taxas equivalentes são a mesma coisa, de modo que é indiferente a classificação das duas taxas de juros como proporcional ou equivalente. Taxa equivalente ou real Na equivalência de taxas, é preciso considerar os diferentes regimes de capi- talização — simples e compostos —, visto que, nas mesmas condições, eles reproduzem juros diferentes. Para Assaf neto (2012, p. 8), “[...] as taxas de juros se dizem equivalentes quando, aplicadas a um mesmo capital e pelo mesmo intervalo de tempo, produzem o mesmo volume linear de juros”. Simbologia para o período das taxas: a.d.: ao dia; a.b.: ao bimestre; a.t.: ao trimestre; a.q.: ao quadrimestre; a.s.: ao semestre; a.a.: ao ano. Calculando taxas com a HP-12c A calculadora fi nanceira HP-12c tem maior aplicabilidade no regime de juros compostos. A seguir, será demonstrado o cálculo das taxas equivalentes, efetivas e nominais somente com o uso da calculadora HP-12c na capitalização composta. Para o cálculo da taxa equivalente a juros compostos com a calculadora finan- ceira, observe alguns exemplos. O Exemplo 1 traz a resolução da taxa equivalente. Taxas4 Exemplo 1 A taxa de 14% a.a. equivale a que taxa mensal? STO EEX (liga o estado c — capitalização) 100 CHS PV (valor presente) 114 FV (valor futuro — dado pela soma do PV com a taxa de juros) 12 n (período — um ano tem 12 meses) i (taxa mensal) 1,0978% Arredondando o valor e trabalhando com duas casas decimais, a taxa equivalente a 14% ao ano em juros compostos é igual a 1,10% ao mês. O Exemplo 2 apresenta o cálculo da taxa mensal para anual, com regime de capitalização composta. Exemplo 2 A taxa de 1,10% a.m. equivale a que taxa anual? 100 CHS PV (valor presente) 1,10 i (taxa mensal) 12 n (período — um ano tem 12 meses) FV (valor futuro) RCL PV + 14,0286% (taxa anual) Arredondando o valor para inteiro, tem-se que 1,10% a.m. é equivalente a 14% ao ano. 5Taxas Para melhor compreensão dos cálculos equivalentes com a calculadora financeira, acompanhe os Exemplos 3 e 4, a seguir. Exemplo 3 Em juros compostos, qual a taxa bimestral equivalente a 20% ao ano? Sempre verifique se o estado c está ligado. 100 CHS PV (valor presente) 120 FV (valor futuro — dado pela soma do PV com a taxa de juros) 6 n (período — um ano tem 6 bimestres) i (taxa bimestral) 3,0853% Arredondando o valor e trabalhando com duas casas decimais, a taxa equivalente a 20% ao ano em juros compostos é igual a 3,09% ao bimestre. Exemplo 4 A taxa de 4% ao trimestre equivale a que taxa semestral? 100 CHS PV (valor presente) 4 i (taxa trimestral) 2 n (período — um semestre tem 2 trimestres) FV (valor futuro) RCL PV + 8,16% (taxa semestral) Taxas6 Por meio dos exemplos trabalhados, é possível verificar que, conforme o cálculo da taxa equivalente, o modo de resolução na calculadora financeira difere. Lembre-se de que taxa efetiva é aquela em que o período de capitalização é igual ao período da taxa, ao passo que taxa nominal é aquela cujo período difere do período de capitalização. Observe a resolução do Exemplo 5. Exemplo 5 Calcule a taxa nominal anual, considerando que a taxa efetiva é de 19,38%, capitalizada mensalmente. 100 CHS PV (valor presente) 119,38 FV (valor futuro — dado pela soma do PV com a taxa de juros) 12 n (período — um ano tem 12 meses) i (taxa mensal) 1,4871% (taxa nominal mensal) RCL n x 17,8455% (taxa nominal anual) Arredondando o valor e trabalhando com duas casas decimais, a taxa nominal efetiva é de 19,38% a.a., e a taxa nominal anual é de 17,85% a.a. Até agora, foram realizados os cálculos das taxas com o uso da calculadora financeira. A seguir, serão demonstrados os cálculos por meio do uso de fórmulas. Interpretações das taxas no regime de juros simples e compostos Taxas proporcionais no juro simples Duas taxas são ditas proporcionais quando há uma proporção entre as grandezas em que se expressam e as durações dos períodos a que se referem (VERAS, 2005). 7Taxas Consideremos as taxas de 2% a.m. e 8% a.q. Essas taxas são proporcionais, pois 2 é a quarta parte de 8, assim como o mês é a quarta parte do quadri- mestre. Imagine que dois capitais foram aplicados por um ano às taxas de 2% a.m. e 8% a.q., respectivamente. O primeiro deles ficará aplicado durante 12 períodos, iguais a um mês, e o segundo ficará aplicado durante 3 períodos, iguais a um quadrimestre. Nesse caso, a proporção entre as taxas e os números de períodos de tempo correspondentes será inversa: Para Veras (2005), se dois capitais forem aplicados pelo mesmo prazo de tempo com taxas proporcionais i1 e i2, respectivamente, e se n1 e n2 são os números respectivos de períodos que perfazem esse prazo de tempo para cada uma dessas aplicações, tem-se: Acompanhe o Exemplo 6, para o cálculo de taxas proporcionais. Exemplo 6 Dada a taxa de 60% a.t., determine as taxas proporcionais mensal e anual. Solução: Tomando o ano como prazo total da aplicação e substituindo na fórmula, tem-se: Mensal: i1n1 = i2n2 Anual: i1n1 = i2n2 0,60.4 = im. 12 0,60.4 = ia. 1 im = 0,20 . 100 ia = 2,4 . 100 im = 20% a.m. ia = 240% a.a. Outra forma de solução é: Mensal: 60% ÷ 3 = 20% a.m. (dividimos por 3 porque o trimestre tem 3 meses). Anual: 60% . 4 = 240% a.a. (multiplicamos por 4 porque o ano tem 4 trimestres). Taxas8 Taxas equivalentes no juro simples Quando capitais iguais produzem juros e montantes iguais, em tempos iguais, são chamados de taxas equivalentes. Segundo Veras (2005, p. 70), “[...] no regime de juros simples, as taxas proporcionais são equivalentes”. Então, pode-se dizer que 40% a.a. é equivalente a 20% a.s. (40% ÷ 2, pois o ano tem 2 semestres) e 10% a.m. é equivalente a 30% a.t. (10% . 3, pois um trimestre tem 3 meses). Para o cálculo da taxa, i, em juros simples, pode-se utilizar a seguinte fórmula: onde: J = juro; PV = valor principal (capital); n = tempo. O Exemplo 7, a seguir, demonstra a equivalência entre as taxas. Exemplo 7 Um capital de R$ 25.000,00 foi aplicado pelo prazo de 18 dias, tendo produzido um montante de R$ 26.200,00. A que taxa mensal esteve aplicado esse capital? Ao retirar as informações do problema, tem-se: PV = 25.000 FV = 26.200 J = FV – PV J = 26.200 – 25.000 J = 1.200 n = 18 dias 9Taxas Taxa nominal no juro simples A taxa de juros é nominal quando o período de capitalização é diferente da unidade de tempo da taxa. Todavia, para Veras (2005, p. 71): [...] a taxa nominal nem sempre é igual a efetiva, que é a taxa de rendimento que a operação financeira proporciona efetivamente. Isso acontece em razão de existirem obrigações, taxas, impostos ou comissões que comprometem os rendimentos ou oneram os pagamentos de juros. Critérios diferentes para o cálculo de juros também fazem a taxa nominal diferir da efetiva, como, por exemplo, juros cobrados antecipadamente ou calculados sobre um total que, na realidade, é pago em parcelas. Esses e outros artifícios são usados cons- cientemente para mascarar a taxa efetiva e fazer os juros parecerem maiores ou menores, conforme a conveniência. Observe o Exemplo 8 para entender como isso ocorre na prática. O capital esteve aplicado a uma taxa de 8,00% a.m. Taxas10 Taxas proporcionais e equivalentes no juro composto Os conceitos de equivalência e proporcionalidade das taxas no regime de capi- talização simples e composta são os mesmos. No entanto, enquanto nos juros simples o cálculo das taxas equivalentes e proporcionais é o mesmo, em juros compostos, eles se diferem, pois as taxas proporcionais não são equivalentes, visto que fazem os mesmos capitais, em tempos iguais, produzirem montantes diferentes. Observe o Exemplo 9. Exemplo 8 Uma agência bancária faz empréstimos e cobra 6% a.m. de juros simples, que devem ser pagos antecipadamente pelo devedor. Qual é a taxa efetiva que o devedor paga pelo empréstimo de R$ 40.000,00 por 5 meses? Primeiramente, calcula-se os juros retidos na data do empréstimo: J = PV ∙ i ∙ n J = 40.000 ∙ 0,06 ∙ 5 J = 12.000,00 Empréstimo efetivo: 40.000 – 12.000 = 28.000 Então, R$ 28.000,00 é o PV efetivo. Pagamento final: 40.000 (FV efetivo). Taxa efetiva: Portanto, o devedor está pagando uma taxa efetiva de 8,57% a.m. 11Taxas No Exemplo 9, verificou-se que as taxas são proporcionais e os capitais são iguais e aplicados em prazos iguais, gerando montantes diferentes, observando que, quanto maior o número de capitalizações, maior o montante. Logo, o cálculo Exemplo 9 Antônio, Tiago e Gean tinham cada um R$ 20.000,00 para aplicar a juros compostos. Antônio aplicou a 12% a.a., Tiago aplicou a 6% a.s. e Gean aplicou a 1 % a.m. Quais os montantes de cada um depois de decorrido um ano? Calcule o montante de cada um conforme as afirmações, primeiro transformando as taxas percentuais e decimais e, depois, o tempo de 1 ano, conforme a capitalização. Antônio: PV = 20.000 i = 12% a.a ÷ 100 = 0,12 n = 1 ano FV = PV (1 + i)n FV = 20.000(1+0,12)1 FV = 22.400,00 Tiago: PV = 20.000 i = 6% a.s. ÷ 100 = 0,0,6 n = 1 ano = 2 semestres FV = PV (1 + i)n FV = 20.000(1+0,06)2 FV = 22.472,00 Gean: PV = 20.000 i = 1% a.m. ÷ 100 = 0,01 n = 1 ano = 12 meses FV = PV (1 + i)n FV = 20.000(1+0,01)12 FV = 22.536,50 Os montantes de Antônio, Tiago e Gean são, respectivamente, R$ 22.400,00, R$ 22.472,00 e R$ 22.536,50. Taxas12 das taxas equivalentes, no regime de juros compostos, não se resume a uma simples proporção, como no juro simples. Para o cálculo da taxa, i, em juros compostos, pode-se utilizar a seguinte fórmula: onde: FV = valor final ou montante; PV = valor principal ou capital; n = número de períodos (tempo). Para Veras (2005), deve haver a seguinte relação entre duas taxas para que sejam equivalentes no regime de juros compostos: Generalizando essa fórmula, pode-se utilizar para o cálculo da taxa equi- valente as seguintes fórmulas: O seguinte esquema — não é regra para o uso dessas fórmulas — pode ser utilizado quando se tem o tempo de capitalização menor e se deseja encontrar a maior capitalização: E, quando se tem o tempo de capitalização maior e se deseja encontrar a menor, utiliza-se: Pode-se verificar essa relação por meio dos Exemplos 10 e 11. 13Taxas Exemplo 10 Qual a taxa trimestral equivalente a 30% a.s.? Como se tem a maior capitalização (semestral) e se deseja encontrar a menor (tri- mestral), utiliza-se a seguinte fórmula: Como o semestre tem dois trimestres, n = 2: A taxa é de 14,02% a.t. Exemplo 11 Qual a taxa anual equivalente a uma inflação de 4,50% a.t.? Como se tem a menor capitalização (trimestral) e se deseja encontrar a maior (anual), utiliza-se a seguinte fórmula: Como o ano tem quatro trimestres, n = 4: A taxa é de 19,25% a.a. Taxas14 Taxa nominal e taxa efetiva no juro composto Os conceitos de taxa nominal e efetiva do juro simples são semelhantes aos dos juros compostos, visto que, no juro composto, as taxas nominal e efetiva também são diferentes. Em juros compostos, é comum a taxa vir com perí- odos de capitalização e de tempo diferentes, por exemplo: uma taxa de 33% ao ano, com capitalização bimestral; ou uma taxa de 20% ao semestre com capitalização mensal, e assim sucessivamente. Para Veras (2005), essa forma de expressar a taxa, largamente utilizada no mercado fi nanceiro, também é responsável por divergências entre as taxas nominal e efetiva. Convencionou-se, então, que, quando o período mencionado na taxa não corresponde ao período de capitalização, prevalece este último, devendo-se tomar a taxa proporcional correspondente como taxa efetiva e considerar a taxa dada como nominal. O Exemplo 12 traz uma situação comum das taxas de juros. Exemplo 12 A caderneta de poupança, além da atualização monetária, paga juros de aproximada- mente 5% a.a., capitalizados mensalmente. Determine a taxa nominal de juros pagos pela caderneta de poupança, a taxa efetiva mensal e a taxa efetiva anual. Solução: A taxa nominal corresponde a 5% a.a. A taxa efetiva mensal é 5% ÷ 12 = 0,42% a.m. A taxa efetiva anual é calculada pela seguinte fórmula: Taxa de inflação Em momentos de instabilidade fi nanceira, o ambiente infl acionário é de suma importância para o entendimento correto das taxas de atualização monetária. Conforme Assaf Neto (2012), diante de cenários econômicos de reduzida taxa 15Taxas de infl ação, o conhecimento do juro real permanece muito importante para a matemática fi nanceira. Nessas condições, mesmo pequenas oscilações nos índices de preços produzem impacto relevante sobre as taxas de juros ao longo do tempo, alterando a competitividade dos ativos negociados no mercado. Para Veras (2012), a taxa de atualização monetária para n períodos, taxa total de atualização monetária ou, ainda, taxa acumulada de atualização monetária, iac, pode ser calculada da seguinte forma: Acompanhe o cálculo da taxa acumulada no Exemplo 13. Exemplo 13 A taxa mensal de inflação de um trimestre atinge, respectivamente, 2,5%, 3,1% e 5,2%. Determine a taxa de inflação acumulada do período: Para Assaf Neto (2012), de maneira simplista, o processo inflacionário de uma economia pode ser entendido pela elevação generalizada dos preços dos vários bens e serviços. Em sentido contrário, diante de uma baixa pre- dominante dos preços de mercado dos bens e serviços, tem-se o fenômeno definido como deflação. Acompanhe no Exemplo 14 a variação dos preços. Taxas16 Exemplo 14 Determinado semestre apresenta as seguintes taxas mensais de variações nos preços gerais da economia: 6,9%, 3,8%, – 1,1% (deflação), 3,2%, 2% e – 0,9% (deflação). Determine a taxa de inflação acumulada do semestre: Taxa de desvalorização da moeda Em decorrência da infl ação, em que ocorre um aumento nos níveis de preços, a taxa de desvalorização da moeda (TDM) mede a queda no poder de compra da moeda, causada pelos acréscimos de preços. Para Assaf Neto (2012), se, em determinado período, os preços em geral dobram (infl ação de 100%), conclui-se que a capacidade de compra das pessoas foi reduzida em 50%, ou seja, somente podem adquirir a metade do que costumavam consumir no passado. Diz-se, em outras palavras, que a capacidade aquisitiva da moeda diminui em 50%. A taxa de desvalorização da moeda pode ser calculada pela seguinte fórmula: onde ii é a taxa de infl ação do período. O Exemplo 15 traz uma demonstração de como se calcula a desvalorização da moeda. 17Taxas Exemplo 15 Em um determinado período, a taxa de inflação alcançou 12%. A queda na capacidade de compra nesse período registra a marca de quantos por cento? A inflação de 12% determina a redução do poder de compra, ou seja, as pessoas adquirem 10,71% a menos de bens e serviços do que costumam consumir. Taxa nominal e taxa real Para Puccini e Puccini (2006), essas duas denominações estão diretamente ligadas ao fenômeno da infl ação. Costuma-se denominar taxa real a taxa de juros obtida após se eliminar o efeito da infl ação, e taxa nominal a taxa de juros que inclui a infl ação. Assim, a taxa nominal, também chamada de aparente, é sempre maior que a taxa real. De maneira geral, a fórmula de apuração da taxa real é: onde: ir = taxa real; in = taxa nominal; ii = taxa de inflação. Acompanhe o Exemplo 16 para compreender o cálculo da taxa real. Taxas18 Exemplo 16 Determine a taxa semestral de rendimento real de uma aplicação cuja taxa nominal foi de 16% ao semestre, em um semestre em que a inflação foi de 4,85%. Taxa de desconto Segundo Dalzot e Castro (2015), quando se parte de uma quantia futura conhe- cida, geralmente um direito creditício ou dívida, e se deseja descobrir quanto essa quantia vale hoje (qual o seu valor presente ou valor atual), utiliza-se as denominadas taxas de desconto. Pode-se entender que desconto é a diferença entre valor futuro (nominal) e valor atual (valor presente). As taxas de desconto podem ser simples ou com- postas, classificadas em racional (por dento) e comercial ou bancário (por fora). A taxa de desconto racional simples é dada pela seguinte fórmula: onde: i = taxa de desconto por dentro; N = valor futuro ou nominal; n = tempo. Taxa de desconto comercial simples ou por fora: nesse tipo de desconto, a taxa incide sobre o valor nominal: 19Taxas Outra fórmula que pode ser utilizada nesse tipo de desconto é a seguinte: A taxa de desconto racional composto é dada pela seguinte fórmula: O Exemplo 17 apresenta o cálculo para os descontos racionais simples e composto. Exemplo 17 Calcule o valor dos descontos racionais simples e composto de um título de R$ 40.000,00, um ano antes do vencimento, à taxa de 10% ao semestre. Solução: N = 40.000 n = 1 ano = 2 semestres i = 10% a.s. ÷ 100 = 0,10 Desconto racional simples: Taxas20 A taxa de desconto comercial composto também incide sobre o valor nominal, e um desconto para um período anterior ao do nominal deve ser entendido como o produto do valor nominal pela taxa de desconto, conforme segue: D = N . i. Assim, pode-se concluir que: E que: Para Azevedo (2015), o desconto nada mais é do que a diferença entre o valor nominal (montante) e o valor atual (principal). O desconto racional composto e os juros compostos possuem o mesmo modus operandi. Em suma, no mercado financeiro, em muitos problemas práticos e situações cotidianas, utiliza-se das taxas de desconto, bem como do cálculo das taxas de juros. Desconto racional composto: 21Taxas ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012. AZEVEDO, G. H. W. Matemática financeira: princípio e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2015. DALZOT, W.; CASTRO, M. L. Matemática financeira: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. PUCCINI, A. L.; PUCCINI, A. Matemática financeira: objetiva e aplicada. São Paulo: Sa- raiva, 2006. VERAS, L. L. Matemática financeira: uso de calculadoras financeiras, aplicações ao mercado financeiro, introdução a engenharia econômica, 300 exercícios resolvidos e propostos com respostas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. Taxas22 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 D136m Dal Zot, Wili. Matemática financeira : fundamentos e aplicações [recurso eletrônico] / Wili Dal Zot, Manuela Longoni de Castro. – Porto Alegre : Bookman, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8260-333-8 1. Matemática financeira. I. Castro, Manuela Longoni de. II. Título. CDU 51 Os autores Wili Dal Zot É professor de Matemática Financeira do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 1984. É bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS, espe- cialista em Finanças pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mes- tre em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) pela mesma instituição. Atualmente, é professor convidado da FGV das disciplinas de Matemática Financeira e Finanças Corporativas em cursos de Pós-Graduação. Tem experiência em cargos de Gerência Financeira e de Controla- doria em empresas de setores da Indústria de Comércio e Serviços. Manuela Longoni de Castro É bacharel em Matemática pela UFRGS, mestre em Matemática Aplicada pela mesma universidade e Ph.D. em Matemática pela University of New Mexico (Estados Unidos). É professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 2006, ministrando a disciplina de Matemática Financeira desde 2007. Tem experiência na área de Matemática Aplicada, atuando nas áreas de Equações Diferenciais Parciais, Aná- lise Numérica e Ecologia Matemática. CAPÍTULO 8 EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS 8.1 Conceito de equivalência de capitais CONCEITO 8.1 Dois ou mais fluxos de caixa (capitais) são ditos equivalentes a uma determinada taxa de juros se seus valores presentes (valores atuais), em uma determi- nada data focal, forem iguais. Se os fluxos de caixa, a uma determinada taxa de juros, tiverem o mesmo valor presente (valor atual), então seus valores futuros, em qualquer n, a essa mesma taxa, serão iguais. Fluxos equivalentes a uma determinada taxa de juros necessariamente deixam de ser equiva- lentes em outras taxas. O conceito de equivalência de capitais constitui um elemento-chave nas aplicações da Matemática Financeira. Esse conceito pode ser considerado aplicável apenas do ponto de vista dos juros compostos, conforme Puccini (2009) ou apresentar-se também quanto à possi- bilidade de se calcular por meio de juros simples (VIEIRA SOBRINHO, 2000; ASSAF NETO, 2009). Neste livro, abordaremos a equivalência de capitais pela ótica dos juros compostos. Quando se usa a equivalência de capitais? O conceito de equivalência de capitais é uti- lizado pelas instituições financeiras, empresas e pessoas, especialmente na administração dos fluxos de caixa, isto é, na compatibilização das entradas e saídas do dinheiro ao longo do tempo. O ideal para qualquer agente econômico é que os pagamentos e recebimentos coinci- dam em valor e vencimentos de modo a não faltar nem ter excessos de caixa. Quando ocor- re uma falta de sintonia nos prazos e valores entre pagamentos e recebimentos os agentes tendem a realizar ações no sentido de minimizar esse desajuste. As situações mais frequen- tes são: • Renegociação de prazos ou condições de pagamento de uma dívida: um devedor pode solicitar o adiamento do vencimento de uma dívida, se tiver dificuldade em pagar na- quela data ou, ao contrário, pagar antecipadamente reduzindo juros caso tiver excesso de caixa no referido vencimento. 78 Matemática Financeira • Negociação ou troca de fluxos de caixa: para um banco, tanto os excessos de caixa como as faltas são dificuldades a serem evitadas; no primeiro caso, a existência de caixa signi- fica dinheiro a ser remunerado a aplicadores sem receita correspondente, e no segundo caso, o banco deve recorrer a empréstimos para honrar os compromissos. 8.2 Valor atual ou valor presente de um fluxo de caixa Considere um fluxo de caixa com termos R0, R1, R2, . . . , Rn−1, Rn vencendo nas datas focais, respectivamente, n0, n1, n2, . . . , nn−1, nn. Uma representação gráfica podria ser dada por: R0 R1 R2 Rn−1 Rn . . . O valor atual na data focal zero, VA0, é dado pela soma do valor atual de cada um de seus termos, como visto nas Equações (7.1) e (7.2): ou 12 EXEMPLO 8.1 A partir do fluxo de caixa a seguir, deseja-se calcular1 o valor atual na data focal 0 (VA0), a uma taxa de juros2 de 10% ao ano: Ano Valor corrente 0 −1.000,00 1 400,00 2 800,00 3 900,00 Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0) pela substituição dos dados de cada um dos termos na fórmula: 1 Como veremos, existe mais de uma maneira de calcular o valor atual de um fluxo de caixa, a determinadas taxa e data focal. 2 Quando não houver referência ao regime de juros nesse tipo de problema, deve-se considerar o uso de juros com- postos. Capítulo 8 Equivalência de capitais 79 Usando a calculadora. Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 −1.000,00 −1.000,00 ⇒−1.000,00 1 400,00 400,00 (1 + 0,10 ) 400, 00 ENTER 1.1 ÷ ⇒ 363,63636 2 800,00 800,00 (1 + 0,10 )2 800,00 ENTER 1.1 ENTER 2 yx ÷ ⇒ 661,15702 3 900,00 900,00 (1 + 0,10 )3 900,00 ENTER 1.1 ENTER 3 yx ÷ ⇒ 676,18332 VA0 = ∑⇒ 700,9767. . . Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0) pelo uso do recurso financeiro da calculado- ra em cada um dos termos na fórmula: Antes do uso dos recursos abaixo, acionar as seguintes teclas: e . Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 −1.000,00 −1.000,00 ⇒−1.000,0000 . . . 1 400,00 400,00 (1 + 0,10 ) 400 CHS FV 1 n PV ⇒ 363,63636 . . . 2 800,00 800,00 (1 + 0,10 )2 800 CHS FV 2 n PV ⇒ 661,1570 . . . 3 900,00 900,00 (1 + 0,10 )3 900 CHS FV 3 n PV ⇒ 676,18332 . . . VA0 = ∑⇒ 700,9767. . . Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0) usando o recurso pré-programado para fluxos de caixa (cash-flow). HP 12c clear reg ( f CLX ) 1000 CHS C f0 ( g PV ) 400 C fj ( g PMT ) 800 C fj 900 C fj 10 i NPV ( f PV )⇒ 700,9767092. . . 80 Matemática Financeira EXEMPLO 8.2 A partir do fluxo de caixa a seguir, deseja-se calcular o valor atual na data focal 2 (VA2), a uma taxa de juros compostos de 10% ao ano: Ano Valor corrente 0 −1.000,00 1 400,00 2 800,00 3 900,00 REGRA DE OURO 8.1 Sempre que possível, deve-se reduzir os valores de um fluxo de caixa para o valor atual em uma data focal. A partir do valor atual nessa data focal se chega ao valor atual em outras datas focais. No exemplo anterior, já aplicamos a regra mencionada com o cálculo de VA0 = 700, 9767092 . . ., logo VA2 = VA0(1 + i)2 = 700,9767092 . . . × (1 + 0,10)2 ⇒ 848,18181818 . . . Usando a calculadora. 700,9767092 . . . × (1 + 0,10)2 RPN ALG FIN 700,9767092. . . ENTER 700,9767092. . . × clearfin ( f X≷Y ) 1.1 ENTER ( 1.1 700,9767092. . . PV 2 yx yx 10 i × 2 = 2 n ⇒ 848,18181818. . . ⇒ 848,18181818. . . FV⇒−848,18181818. . . 8.3 Verificação de equivalência Objetivo do exemplo: demonstrar quando dois fluxos de caixa são equivalentes entre si. EXEMPLO 8.3 Verificar se os fluxos de caixa a seguir são equivalentes, a uma taxa de juros compostos de 10% ao ano: Ano Fluxo A Fluxo B 0 200,00 1 110,00 2 121,00 363,00 3 532,40 133,10 Capítulo 8 Equivalência de capitais 81 Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0 A) pela substituição dos dados de cada um dos termos na fórmula: Usando a calculadora. Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 0 0 ⇒ 0,00 . . . 1 110,00 110,00 (1 + 0,10) 110,00 ENTER 1.1 ÷ ⇒ 100,00 . . . 2 121,00 121,00 (1 + 0,10)2 121,00 ENTER 1.1 ENTER 2 yx ÷ ⇒ 100,00 . . . 3 532,40 532,40 (1 + 0,10)3 532,40 ENTER 1.1 ENTER 3 yx ÷ ⇒ 400,00 . . . VAA0 = ∑⇒ 600,00 . . . Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0 B) pela substituição dos dados de cada um dos termos na fórmula: Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 200,00 200,00 ⇒ 200,00 . . . 1 0 0 0,00 . . . 2 363,00 363,00 (1 + 0,10)2 363,00 ENTER 1.1 ENTER 2 yx ÷ ⇒ 300,00 . . . 3 133,10 133,10 (1 + 0,10)3 133,10 ENTER 1.1 ENTER 3 yx ÷ ⇒ 100,00 . . . VAB0 = ∑⇒ 600,00 . . . Fluxo A Fluxo B clear reg clear reg 0 C f0 200 C f0 110 C fj 0 C fj 121 C fj 363 C fj 532.4 C fj 133.1 C fj 10 i 10 i NPV ⇒ 600,00000 NPV ⇒ 600,00000 Por apresentarem os mesmos valores atuais em 0 (VA0 A = VA0 B = 600,00000), dizemos que os fluxos A e B, à taxa de juros de 10% ao ano, são equivalentes entre si.3 3 Nem sempre os valores são exatamente iguais. Algumas vezes apresentam uma pequena diferença que, pela sua insignificância, considera-se nula. Para efeitos didáticos, consideraremos diferenças inferiores a R$ 1,00 como nulas ou iguais a zero. 82 Matemática Financeira Objetivo do exemplo: demonstrar que dois fluxos de caixa, equivalentes a uma determi- nada taxa, não o são a outra taxa. EXEMPLO 8.4 Verificar se os fluxos de caixa a seguir são equivalentes, a uma taxa de juros compostos de 20% ao ano: Ano Fluxo A Fluxo B 0 200,00 1 110,00 2 121,00 363,00 3 532,40 133,10 Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0 A) pela substituição dos dados de cada um dos termos na fórmula: Usando a calculadora. Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 0,00 ⇒ 0,000000000 . . . 1 110,00 110,00 (1 + 0,20) 110,00 ENTER 1.2 ÷ ⇒ 91,666666666 . . . 2 121,00 121,00 (1 + 0,20)2 121, 00 ENTER 1.2 ENTER 2 yx ÷ ⇒ 84,027777777 . . . 3 532,40 532,40 (1 + 0,20)3 532,40 ENTER 1.2 ENTER 3 yx ÷ ⇒ 308,101851852 . . . VAA0 = ∑⇒ 483,796296297 . . . Cálculo do valor atual na data focal 0 (VA0 B) pela substituição dos dados de cada um dos termos na fórmula: Capítulo 8 Equivalência de capitais 83 Usando a calculadora. Valores Valores Ano correntes Fórmulas atuais 0 200,00 200,00 ⇒ 200,000000000 . . . 1 0 0 ⇒ 0,000000000 . . . 2 363,00 363,00 (1 + 0,20)2 363,00 ENTER 1.2 ENTER 2 yx ÷ ⇒ 252,083333333 . . . 3 133,10 133,10 (1 + 0,20)3 133,10 ENTER 1.2 ENTER 3 yx ÷ ⇒ 77,025462963 . . . VAB0 = ∑⇒ 529,108796296 . . . Usando a calculadora. Fluxo A Fluxo B clear reg clear reg 0 C f0 200 C f0 110 C fj 0 C fj 121 C fj 363 C fj 532.4 C fj 133.1 C fj 20 i 20 i NPV ⇒ 483,796296296 NPV ⇒ 529,108796296 Por apresentarem valores atuais diferentes em 0 ( ), dizemos que os fluxos A e B, à taxa de juros de 20% ao ano, não são equivalentes entre si. 8.4 Tornando dois fluxos equivalentes entre si Frequentemente os agentes econômicos se encontram em situações de desajuste de fluxos de caixa, ora concentrando pagamentos no curto prazo e recebimentos no longo prazo, ora o contrário. O ideal é que os prazos médios de recebimentos coincidam com os dos pagamen- tos, mas isso é muito raro acontecer. Uma das formas usuais de atenuar os desajustes de caixa é a negociação de fluxos de caixa, que ajuda a modificar a data de concentração (prazo médio) dos recebimentos ou pa- gamentos (conforme o caso). Como isso é feito? Os fluxos de caixa, quando negociados, devem ser equivalentes entre si. A primeira etapa da negociação é a definição do preço do dinheiro, ou seja, a taxa de ju- ros. Uma vez definida a taxa de juros, calcula-se o valor atual de cada um dos fluxos de caixa. Quando dois fluxos de caixa não são equivalentes a uma determinada taxa de juros, obtém-se a equivalência somando a diferença dos valores atuais dos fluxos ao valor corrente na data focal zero do fluxo de menor valor atual. 84 Matemática Financeira A diferença DIF também pode ser somada em outras datas desde que considerada a capitalização dos juros, ou seja, caso a data focal escolhida seja 2, o valor a ser somado será DIF2 = DIF(1 + i)2. Objetivo do exercício: ajustar diferenças entre fluxos de caixa de modo a torná-los equi- valentes entre si. Exercício 1: Verificar se os fluxos de caixa dos Bancos ITAI e HSBX a seguir são equivalentes, a uma taxa de juros compostos de 20% ao ano. Se não houver equivalência, indicar qual é o fluxo que o banco com valor atual inferior deve apresentar, alterando a parcela na data focal zero. Ano Banco ITAI Banco HSBX 0 200,00 1 110,00 2 121,00 363,00 3 532,40 133,10 Como já conhecemos os resultados dos fluxos de caixa do Banco ITAI e do Banco HSBX (são idênticos e calculados à mesma taxa que os Fluxos A e B do exemplo anterior) temos que logo, a diferença entre os fluxos, a ser acrescentada na data focal zero do Banco ITAI, é dada por: A troca entre os bancos deverá ser feita por Ano Banco ITAI novo fluxo Banco HSBX 0 0 + 45,31 = 45,31 200,00 1 110,00 2 121,00 363,00 3 532,40 133,10 Caso desejarmos tornar os fluxos equivalentes alterando, porém, o valor da data focal do ano 2, do Banco ITAI, devemos acrescentar àquele valor DIF2 = DIF0(1 + i)2 = 45, 3125 . . . (1 + 0,20)2 = 65,25 . . . A troca entre os bancos deverá ser feita por Ano Banco ITAI novo fluxo Banco HSBX 0 200,00 1 110,00 2 121,00 + 65,25 = 186,25 363,00 3 532,40 133,10 Tanto o exemplo anterior como este mostram situações de equivalência de capitais cujo valor atual, nos fluxos dos Bancos ITAI e HSBX, são iguais a 529,11. Capítulo 8 Equivalência de capitais 85 Desafio: faça você mesmo a prova de verificação Exercício 2: Considerando os fluxos de caixa dos Bancos NORTE e SUL, encontrar o valor de X para que os referidos fluxos sejam equivalentes a uma taxa de juros compostos de 25% ao ano. (Resposta: R$ 12.200,00.) Ano Banco NORTE Banco SUL 0 1 12.000,00 16.000,00 2 14.000,00 X 3 16.000,00 12.000,00 8.5 Cálculo do fluxo equivalente Objetivo dos exemplos: dado um fluxo conhecido, encontrar um outro equivalente com de- terminadas características. Pode-se dividir as soluções de acordo com diferentes combina- ções de fluxos: • Fluxos 1 × 1: tanto o fluxo que se tem como o que se deseja obter são fluxos de apenas um vencimento. • Fluxos n × 1: o fluxo conhecido tem mais de um vencimento, mas o que se deseja obter tem apenas um vencimento. • Fluxos n × n: ambos os fluxos têm mais de um vencimento. 8.5.1 Fluxos 1 � 1 EXEMPLO 8.5 Um empresário deseja substituir uma dívida de R$ 3.500,00, que vence daqui a 6 meses, por outra com vencimento em 18 meses. Sabendo-se que o banco credor da dívida trabalha com uma taxa de juros de 3% ao mês, qual será o valor da dívida no novo vencimento proposto? Dados: S1 = 3.500,00 im = 3% (0, 03) a.m. S2 =? Solução: Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. MATEMÁTICA FINANCEIRA Rodolfo Vieira Nunes Séries uniformes de pagamentos: aplicações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os tipos de séries uniformes. � Desenvolver séries antecipadas. � Analisar séries postecipadas. Introdução De acordo com Assaf Neto (2016), uma série uniforme de pagamentos é vista como uma sucessão de recebimentos, desembolsos ou presta- ções de mesmo montante, representadas pelo valor da parcela (PMT) e divididas regularmente num período de tempo. Em essência, uma série de capitais pode ser caracterizada como uma sequência de pagamentos ou recebimentos periódicos e consecutivos que apresentem alguma lei de formação. Uma série de pagamentos se caracteriza pela definição dos critérios de quanto e quando deve ser paga cada parcela, como valor futuro, taxa de juros e número de períodos. Há basicamente cinco principais séries de pagamentos: antecipadas, postecipadas, infinitas, diferidas e variáveis. Essas modalidades diferem entre si pelo modo como o devedor pagará a dívida: à vista ou a prazo. Em essência, o pagamento poderá contar ou não com prazo de carência, além do valor do pagamento ou recebimento da série. Neste capítulo, você vai entender alguns conceitos sobre as séries de pagamentos e estudar quais são os principais tipos de séries de paga- mentos, bem como as diferenças existentes entre elas. Além disso, vai aprender ainda sobre as séries antecipadas e postecipadas. Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 Tipos de séries uniformes Antes de se aprofundar nos estudos sobre as séries uniformes, veja alguns aspectos importantes para a classificação das séries de pagamento, de acordo com Hoji (2016): � Quanto ao tempo: ■ temporária – quando há um número limitado de pagamentos; ■ infinita – quando há um número infinito de pagamentos. � Quanto à periodicidade: ■ periódica – quando os pagamentos ocorrem em intervalos de tempo iguais; ■ não periódica – quando os pagamentos ocorrem em intervalos de tempo variáveis. � Quanto ao valor de pagamento: ■ uniforme – quando todos os pagamentos são iguais; ■ variável – quando os valores dos pagamentos variam. � Quanto ao vencimento do primeiro pagamento: ■ imediata – quando o primeiro pagamento ocorre exatamente no primeiro período da série; ■ diferida – quando o primeiro pagamento não ocorre no primeiro período da série, ou seja, ocorrerá em períodos subsequentes. � Quanto ao momento do pagamento: ■ antecipada – quando o primeiro pagamento ocorre no momento “0” da série de pagamentos (ato do negócio); ■ postecipada – quando o primeiro pagamento ocorre após o momento de fechamento do negócio. A compreensão sobre esses conceitos servirá como um pilar de apoio para esclarecer ou facilitar o seu entendimento sobre o assunto deste capítulo. Assim, entender os conceitos básicos é crucial para conhecer a temática estudada, de modo a ser capaz de explicar esses elementos. � Present value – PV (valor presente): é o capital inicial sobre o qual os juros, prazos e amortizações serão aplicados. Em outras palavras, é o valor de um fluxo de renda esperado, determinado a partir da data de avaliação. Séries uniformes de pagamentos: aplicações2 Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 � Future value – FV (valor futuro): é o montante final resultante da soma dos juros acumulados com o capital inicial, descontados os pagamentos (se houver). Mede a soma nominal futura do dinheiro que determinada quantia de dinheiro é "válida" em um período especificado no futuro. Também pode ser visto como o valor presente multiplicado pela função de acumulação. � Número de períodos – (n): indica o prazo que deve ser considerado nas transações. Pode ser dado em dias, meses, trimestres, anos, desde que esteja de acordo com a taxa de juros. � Taxa de juros do período – (i): indica a taxa de juros usada no trabalho com o capital, ou seja, na remuneração do dinheiro. Deve estar de acordo, na mesma ordem de valor, com o indicador de tempo. � Payment - PMT (valor da parcela): é o valor de uma parcela que pode ser adicionada ou subtraída do montante a cada período. Desse modo, são pagamentos de mesmo valor, ou seja, registrados pelo fluxo de caixa (pessoal ou empresarial) de forma recorrente. O foco deste capítulo é explicar e demonstrar as diferenças entre as séries de pagamento uniformes: antecipadas e postecipadas com carência. Não vamos abordar o modelo de séries de pagamento infinitas e diferidas. No caso da série variável, ela faz parte do estudo das séries não uniformes de pagamento. Desenvolvimento de séries antecipadas Séries antecipadas de pagamentos são aquelas que exigem um depósito inicial ou uma entrada, sendo mais utilizadas em investimentos (SILVA, 2012). Trata-se daquelas séries em que o primeiro pagamento ocorre na data focal zero. Esse tipo de sistema de pagamento também é chamado de sistema de pagamento com entrada (1 + n). No entanto, atente para o fato de que nem todas as operações que possuem entrada são séries antecipadas. Para que isso ocorra, é necessário que o valor da entrada seja o mesmo que o valor das demais prestações. Veja o compor- tamento descrito na Figura 1. 3Séries uniformes de pagamentos: aplicações Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 Figura 1. Séries de parcelas iguais e consecutivas com entrada, ou seja, a primeira parcela é paga ou aplicada na data zero. Veja as principais fórmulas utilizadas para encontrar o PV, o FV e o PMT das séries antecipadas. Veja esse sistema aplicado a um exemplo. Você está em uma loja comprando a sua tão sonhada TV de plasma, quando recebe a seguinte oferta: R$ 12.000 à vista ou 10 suaves parcelas mensais de R$ 1.300, com entrada, com juros de 1%. Nessa situação, precisamos fazer o seguinte cálculo: Séries uniformes de pagamentos: aplicações4 Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 Por meio dessa metodologia, a série uniforme de pagamento antecipada é definida como sendo a sucessão de pagamentos iguais (PMT) efetuada em intervalos regulares e constantes, cujo primeiro pagamento ocorra na data da operação financeira que lhe deu origem (ASSAF NETO, 2016). Ao analisarmos o resultado do exemplo acima e compararmos com o valor original (à vista), temos um montante maior: R$ 12.435,83. Assim, note que, em uma série de pagamento antecipada, haverá um aumento no valor final do produto ou serviço (HOJI, 2016). Em síntese, o método de pagamento antecipado se refere a operações em que os pagamentos ou recebimentos começam no início do primeiro período, ou seja, no ato do fechamento do negócio. No mercado, é comum ver essa situação em ofertas de pagamentos com entrada mais “n” parcelas, ou 30% de entrada e o saldo restante em 30, 60 e 90 dias. 5Séries uniformes de pagamentos: aplicações Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 Uma série de pagamentos é dita diferida quando a primeira prestação ocorrer após o primeiro período. O processo de calcular o valor presente, o valor futuro e a prestação de uma operação financeira em que o primeiro pagamento é diferido é comum no comércio varejista. Qualquer tipo de série pode ser considerada diferida, seja ela uma série uniforme, uma série gradiente ou mesmo uma sequência qualquer de pagamentos, já que, em termos financeiros, diferir significa adiar a data do primeiro pagamento. Análise de séries postecipadas Por definição, uma série de pagamento postecipada é aquela que não exige um depósito inicial, isto é, não existe uma entrada. Esse costuma ser o caso de empréstimos e financiamentos (CARVALHO; ELIA; DECOTELLI, 2009), sendo caracterizados por séries cujo primeiro pagamento ocorre no momento 1. Esse sistema também é denominado sistema de pagamento ou recebimento sem entrada (0 + n). A Figura 2 descreve o comportamento dessa série de pagamento. Figura 2. Série de pagamento postecipada. Assim, a Figura 2 demonstra que, quando ocorre uma sucessão de pagamen- tos iguais (PMT), efetuados em intervalos regulares e constantes, o primeiro pagamento é realizado concomitantemente ao primeiro período posterior à data da operação financeira que lhes deu origem (GIMENES, 2006). Séries uniformes de pagamentos: aplicações6 Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 Veja a seguir as principais fórmulas utilizadas para encontrar o PV, o FV e o PMT das séries postecipadas. Portanto, retomando o exemplo anterior da compra da TV de plasma, você recebe a mesma oferta: R$ 12.000 à vista ou 10 suaves parcelas mensais de R$ 1.300, sem entrada. Veja a seguir a fórmula e o cálculo da série de pagamento postecipada. Note que o valor presente também ficou distante do valor da TV à vista. Porém, se comparado ao fluxo antecipado, o valor presente pelo método do f luxo postecipado é mais barato (HOJI, 2016). Em resumo, as operações postecipadas caracterizam-se como sendo aquelas em que o vencimento da primeira prestação é no final do período. Um termo de mercado, por exemplo, para essa operação são as ofertas com o primeiro pagamento só em 30 dias. 7Séries uniformes de pagamentos: aplicações Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 O vídeo do Mundo Financeiro, disponível no link a seguir, trata de dois conceitos essenciais da matemática financeira, partindo da compreensão de fluxo de caixa e da noção do valor do dinheiro no tempo. Assista ao material e entenda as principais diferenças entre valor presente e valor futuro. https://qrgo.page.link/XRqqL Se você tem R$ 1.500,00 aplicados na poupança e for colocando R$ 100,00 todos os meses durante 10 anos (120 meses), quanto dinheiro você vai ter no final desse período? A taxa anual nominal da poupança é de 6% ao ano, mas é capitalizada mensalmente. Assim, a taxa mensal é de 0,5% (ao mês), que, capitalizada (composta) em 12 meses, resulta em 6,1678% ao ano. Para fazer esse cálculo em uma calculadora HP 12C, você deverá digitar os valores e apertar os botões indicados: 1500 <CHS> <PV> 100 <CHS> <PMT> 0.5 < i> 120 <n> <FV> O resultado (FV) será de R$ 19.117,03 Séries uniformes de pagamentos: aplicações8 Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 13. ed. São Paulo: Atlas. 2016. CARVALHO, L. C. S.; ELIA, B. S.; DECOTELLI, C. A. Matemática financeira aplicada. Rio de Janeiro: FGV, 2009. GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12c e Excel: uma abordagem descompli- cada. São Paulo: Pearson, 2006. HOJI, M. Matemática financeira: didática, objetiva e prática. São Paulo: Atlas, 2016. Leitura recomendada BREALEY, R.; MYERS, S.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018. GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2009. ROSS, S. A. et al. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 13. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. 9Séries uniformes de pagamentos: aplicações Identificação interna do documento FHG9QH68TU-AV8YWJ1 MATEMÁTICA FINANCEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Explicar os principais conceitos do sistema de amortização. > Identificar os principais tipos de sistemas de amortização em uso no Brasil. > Utilizar planos financeiros para demonstrar cálculos, semelhanças e dife- renças entre os sistemas de amortização. Introdução Ao escolher uma modalidade de crédito (empréstimo e/ou financiamento), a instituição financeira emitirá um contrato com os detalhes da operação, incluindo as taxas cobradas, o sistema de amortização adotado e o período utilizado para quitar a dívida. Em posse dessas informações, o tomador poderá calcular o valor da parcela e o montante que será pago durante todo o período. Os contratos também podem prever uma carência para o início do pagamento das prestações e a possibilidade de liquidação antecipada, total ou parcial, do principal da dívida. No momento da contratação dos serviços, o tomador precisará decidir qual será o método para a amortização da dívida. É fundamental, portanto, conhecer as vantagens e os riscos de cada sistema de amortização. Neste capítulo, vamos definir sistemas de amortização, as características que envolvem cada um deles e os principais tipos utilizados pelo mercado no Brasil. Além disso, explicaremos como calcular as parcelas em cada sistema de amortização. Sistemas de amortização Flávia Monaco Vieira Sistemas de amortização: conceitos gerais Amortização, segundo Merchede (2009, p. 59), “[...] é a maneira pela qual uma dívida é gradativamente suprimida, mediante pagamento de presta- ções”, ou seja, é o pagamento da dívida de forma parcelada, em um prazo preestabelecido. Apesar de haver diferentes sistemas de amortização, o seu objetivo é único: o pagamento do principal, isto é, de um determinado valor contraído em empréstimo ou financiamento. Nesse sentido, Puccini (2007, p. 158) entende que “[...] um sistema de amortização nada mais é do que um plano de pagamento de uma dívida contraída”. Os diferentes sistemas de amortização de um empréstimo produzem fluxos de pagamentos equivalentes entre si. Por essa razão, o valor presente dos fluxos de pagamentos, na data focal zero, é igual ao principal do empréstimo (ZOT; CASTRO, 2015). Assim, a escolha do sistema de amortização influenciará o fluxo de caixa das partes envolvidas (credor e devedor). O devedor, então, precisa considerar sua capacidade de pagamento na escolha do sistema de amortização, pois o pagamento afetará suas finanças pessoais. No financiamento, o valor liberado tem uma finalidade específica — por exemplo, para a compra de imóvel ou automóvel, ou para importação. Já o empréstimo é um recurso concedido sem a necessidade de vinculá-lo a alguma finalidade — por exemplo, conta garantida, cheque especial, desconto de duplicata, etc. (HOJI, 2016). O plano financeiro, também conhecido como memória de cálculo, de- monstra, ao longo do tempo, a ocorrência dos principais eventos que vão modificando o saldo de um empréstimo. Para a realização de um plano de pagamento, é necessário demonstrar os seguintes dados (ZOT; CASTRO, 2015). � Saldo inicial = saldo final anterior (na primeira linha corresponde ao principal). � Juros calculados = saldo inicial × taxa unitária. � Saldo após juros = saldo inicial + juros calculados. � Pagamento = amortização do principal + juros a serem pagos. � Amortização = parcela do pagamento referente ao principal. � Juros a serem pagos = parcela do pagamento referente aos juros. � Saldo final = saldo inicial + juros calculados – pagamento. Sistemas de amortização2 Para a plena compreensão do conteúdo deste capítulo, lembre-se dos seguintes conceitos de operações de empréstimo e financiamento. � Valor principal: soma do capital emprestado. � Carência: deferimento no pagamento da primeira prestação. � Taxas de juros: remuneração paga pelo tomador de crédito à instituição financeira. Principais tipos de sistemas de amortização utilizados no Brasil Os sistemas de amortização mais difundidos no mercado são o sistema de prestação constante (SPC), ou amortização Price, e o sistema de amortização constante (SAC) (BATISTA JÚNIOR, 2014). Além desses, Zot e Castro (2015) apon- tam o sistema americano e o sistema misto como as principais modalidades em uso no Brasil. Sistema de prestação constante (SPC), ou amortização Price O SPC, também conhecido como sistema francês de amortização ou amorti- zação Price, é muito utilizado em operações de crédito direto ao consumidor e em financiamentos habitacionais (PUCCINI, 2007). Esse modelo consiste no pagamento da dívida por meio de prestações (PMT), sucessivas, periódicas e iguais, em que os juros gerados a cada período são pagos primeiramente (ZOT; CASTRO, 2015). Os juros, por incidirem sobre o saldo devedor, são decrescentes, e as parcelas de amortização assumem valores crescentes. Ou seja, os juros diminuem, enquanto a amortização aumenta, permanecendo o valor das prestações igual ao longo do tempo. Veja, na Figura 1, a dinâmica do SPC. Sistemas de amortização 3 Figura 1. Comportamento de juros e amortização. Fonte: Adaptada de Puccini (2007). $ 0 1 2 3 Tempo (períodos) PMT = A1 + J1 = A2 + J2 = A3 + J3 = A4 + J4 4 J1 J2 J3 J4 A1 A2 A3 A4 Veja, a seguir, as expressões de cálculo do SPC. Prestação (PTM) O valor das prestações é obtido pelo cálculo de uma prestação postecipada: PTM = VP × [i × (1 + i)n]/[(1 + i)n – 1] onde VP é o valor presente (valor do empréstimo), i é a taxa de juros e n é o número de períodos ou parcelas. Vejamos um exemplo para fixar os conceitos. Considerando, por exemplo, um empréstimo no valor de R$ 6.000,00 (VP), a ser pago em seis prestações anuais (n), com juros de 10% a.a. (i), calcule o valor da prestação (PMT). Manualmente, resolve-se o problema da seguinte maneira: PTM = VP × [i × (1 + i)n]/[(1 + i)n – 1] PTM = 6.000 × [0,10 × (1 + 0,10)6]/[(1 + 0,10)6 – 1] PTM = 1.377,64 Na HP 12C, temos o seguinte: 6000 CHS PV 10 i 6 n g END (para informar que a série é postergada) PMT Sistemas de amortização4 Juros ( J) Os juros incidem sobre o saldo devedor apurado no início de cada período (ou ao final de cada período imediatamente anterior). A expressão de cálculo de juros, um momento t qualquer, é a seguinte: Jt = SDt–1 × i onde SD é o saldo devedor, i é a taxa de juros e t é o tempo. Vejamos um exemplo. Após a ocorrência dos juros do primeiro ano (J1) no valor de R$ 600,00* e o pagamento da primeira prestação (PTM1) no valor de R$ 1.377,64, o saldo devedor (SD1) ficou em R$ 5.222,36. Com base nessas informações, calcule os juros do segundo ano (J2): Jt = SDt – 1 × i J2 = SD2–1 × i J2 = SD1 × i J2 = 5.222,36 × 0,10 J2 = 522,24 *O J1 é calculado pelo VP × i (R$ 6.000,00 × 10%). Amortização (A) A amortização é obtida pela diferença entre o valor da prestação (PMT) e o dos juros (J): A1 = PMT – J1, A1 = PMT – (PV × i) At = A1 × (1 + i)t–1 onde i é a taxa de juros e t é o tempo. Vejamos um exemplo para facilitar a compreensão. Sabendo que o valor da amortização do ano 1 (A1) é de R$ 777,64, calcule o valor amortizado no terceiro ano (A3): At = A1 × (1 + i)t–1 A3 = 777,64 × (1 + 0,10)3–1 A3 = 777,64 × (1,1)2 Sistemas de amortização 5 A3 = 940,95 Veja, no Quadro 1, o demonstrativo simplificado do plano financeiro do SPC. Quadro 1. Demonstrativo simplificado do plano financeiro do SPC n Prestação Juros Amortização Saldo devedor 0 — — — SD0 = VP 1 PMT J1 = PV × i A1 = PMT – J1 SD1 = SD0 – A1 2 PMT J2 = SD1 × i A2 = PMT – J2 SD2 = SD1 – A2 ... ... ... ... ... n PMT Jn = SDn–1 × i An = PMT – Jn SDn = SDn–1 – An Veja, no Quadro 2, o preenchimento do plano financeiro do SPC nas se- guintes condições. � Valor do empréstimo: R$ 6.000,00. � Número de prestações (anuais): 6. � Juros: 10% a.a. Sistemas de amortização6 Q ua dr o 2. P la no fi na nc ei ro d o SP C Sa ld o in ic ia l Ju ro s ca lc ul ad os Sa ld o ap ós ju ro s Pr es ta çã o Am or ti za çã o Ju ro s pa go s Sa ld o fi na l n S n –1 J ( 10 % ) S n –1 + J PM T A (P M T – J) J SF 1 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 1. 37 7,6 4 77 7,6 4 60 0, 00 5. 22 2, 36 2 5. 22 2, 36 52 2, 24 5. 74 4, 59 1. 37 7,6 4 85 5, 41 52 2, 24 4. 36 6, 95 3 4. 36 6, 95 43 6, 69 4. 80 3, 64 1. 37 7,6 4 94 0, 95 43 6, 69 3. 42 6, 00 4 3. 42 6, 00 34 2, 60 3. 76 8, 60 1. 37 7,6 4 1. 03 5, 04 34 2, 60 2. 39 0, 95 5 2. 39 0, 95 23 9, 10 2. 63 0, 05 1. 37 7,6 4 1.1 38 ,5 5 23 9, 10 1. 25 2, 40 6 1. 25 2, 40 12 5, 24 1. 37 7,6 4 1. 37 7,6 4 1. 25 2, 40 12 5, 24 — To ta is 2. 26 5, 87 — 8. 26 5, 87 6. 00 0, 00 2. 26 5, 87 — Sistemas de amortização 7 Observe que todas as prestações são iguais e que a amortização é calculada após o cálculo dos juros, que corresponde à diferença entre a prestação e os juros. Sistema de amortização constante (SAC) Diferentemente do sistema Price, em que as prestações é que devem ser iguais, no SAC, as amortizações do principal devem ser sempre iguais (ou constantes) em todo o prazo da operação. Veja, na Figura 2, a dinâmica do SAC. Figura 2. Comportamento da dinâmica do SAC. Fonte: Adaptada de Puccini (2007). (PV = SDi1) 0 1 2 3 n Tempo (períodos) PMT1 = A + J1 PMT3 = A + J3 PMT2 = A + J2 PMTn = A + Jn Veja as expressões de cálculo a seguir. Amortização (A) A amortização é obtida mediante a divisão do capital emprestado pelo número de prestações. É representada por: A = VP/n onde VP é o valor presente (valor do financiamento) e n é o número de prestações. Sistemas de amortização8 Por exemplo, considerando o empréstimo no valor de R$ 6.000,00 (VP), a ser pago em seis prestações anuais (n), tem-se: A = VP/n A = 6.000,00/6 A = 1.000,00 Juros ( J) Pela redução constante do saldo devedor, os juros diminuem linearmente ao longo do tempo, comportando-se como uma progressão aritmética de- crescente. A expressão de cálculo dos juros para um período qualquer t é: Jt = (VP/n) × (n – t + 1) × i onde VP é o valor presente (valor do financiamento), n é o número de pres- tações, i é a taxa de juros e t é o tempo. Por exemplo, considerando o empréstimo no valor de R$ 6.000,00 (VP), a ser pago em seis prestações anuais (n), o valor dos juros no 5º ano será (J5): Jt = (VP/n) × (n – t + 1) × i J5 = (6.000,00/6) × (6 – 5 + 1) × 0,10 J5 = 1.000,00 × 2 × 0,10 J5 = 200,00 Prestação (PMT) A prestação é obtida pela soma da amortização (A) com os juros (J), sendo a amortização representada por (VP/n). A expressão de cálculo da prestação para um período qualquer t é: PMT = (VP/n) × [1 + (n – t + 1) × i] onde VP é o valor presente (valor do financiamento), n é o número de pres- tações, i é a taxa de juros e t é o tempo. Sistemas de amortização 9 Por exemplo, considerando o empréstimo no valor de R$ 6.000,00 (VP), a ser pago em seis prestações anuais (n) com juros anuais de 10% a.a. (i), o valor da prestação no segundo ano (PMT2) é: PMT = (VP/n) × [1 + (n – t + 1) × i] PMT2 = (6.000/6) × [1 + (6 – 2 + 1) × 0,10] PMT2 = 1.000,00 × [1 + (5 × 0,10)] PMT2 = 1.000,00 × 1,5 PMT2 = 1.500,00 Veja, no Quadro 3, o demonstrativo simplificado do plano financeiro do SAC. Quadro 3. Demonstrativo do SAC n Prestação Juros Amortização Saldo devedor 0 — — — SD0 = VP 1 PMT1 = A + J1 J1 = SD0 × i A SD1 = SD0 – A 2 PMT2 = A + J2 J2 = SD1 × i A SD2 = SD1 – A ... ... ... ... ... n PMTn = A + Jn Jn = SDn–1 × i A SDn = SDn–1 – An Fonte: Adaptado de Camargos (2013). Agora veja, no Quadro 4, o preenchimento do plano financeiro do SAC nas seguintes condições. � Valor do empréstimo: R$ 6.000,00. � Número de prestações (anuais): 6. � Juros: 10% a.a. Sistemas de amortização10 Q ua dr o 4. P la no fi na nc ei ro d o SA C Sa ld o in ic ia l Ju ro s ca lc ul ad os Sa ld o ap ós ju ro s Pr es ta çã o Am or ti za çã o Ju ro s pa go s Sa ld o fi na l n S n –1 J ( 10 % ) S n– 1 + J PM T (A + J) A J SF 1 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 1. 60 0, 00 1. 00 0, 00 60 0, 00 5. 00 0, 00 2 5. 00 0, 00 50 0, 00 5. 50 0, 00 1. 50 0, 00 1. 00 0, 00 50 0, 00 4. 00 0, 00 3 4. 00 0, 00 40 0, 00 4. 40 0, 00 1. 40 0, 00 1. 00 0, 00 40 0, 00 3. 00 0, 00 4 3. 00 0, 00 30 0, 00 3. 30 0, 00 1. 30 0, 00 1. 00 0, 00 30 0, 00 2. 00 0, 00 5 2. 00 0, 00 20 0, 00 2. 20 0, 00 1. 20 0, 00 1. 00 0, 00 20 0, 00 1. 00 0, 00 6 1. 00 0, 00 10 0, 00 1.1 00 ,0 0 1.1 00 ,0 0 1. 00 0, 00 10 0, 00 — To ta is 2. 10 0, 00 — — 6. 00 0, 00 2. 10 0, 00 — Sistemas de amortização 11 Observe que o valor da amortização é constante durante todo o período. Sistema de amortização americano (SAA) O SAA se caracteriza por pagar todo o principal na última prestação, com pagamento periódico de juros. Como não há capitalização de juros, o saldo devedor não se altera ao longo do tempo. Nesse caso, os juros devidos em cada período são constantes. No vencimento da operação, são pagos o principal e a última parcela dos juros. Veja, na Figura 3, a dinâmica SAA. Figura 3. Comportamento da dinâmica do SAA. Fonte: Adaptada de Puccini (2007). PMT1 = PMT2 = PMT3 = PMTn = SDi + Jn J1 J2 J3 (PV = SDi1) 0 1 2 3 n Tempo (períodos) Veja a expressão de cálculo a seguir. Última prestação (PMT): PMT = VP (1 + i) onde VP é o valor presente (valor do empréstimo) e i são os juros. Por exemplo, vamos calcular a última prestação considerando o emprés- timo no valor de R$ 6.000,00 (VP) com pagamento de juros periódicos de 10% a.a. (i). PMT = VP (1 + i) PMT = 6.000,00 (1 + 0,10) PMT = 6.000 × 1,10 PMT = 6.600,00* *O valor da prestação (PMT) corresponde ao valor da amortização (R$ 6.000,00) + os juros do período (R$ 600,00). Sistemas de amortização12 Veja, no Quadro 5, o demonstrativo simplificado do plano financeiro do SAA. Quadro 5. Demonstrativo do SAA n Prestação Juros Amortização Saldo devedor 0 — — — SD0 = VP 1 PMT1 = VP × i J1 = VP × i — SD1 = VP 2 PMT2 = VP × i J2 = VP × i — SD2 = VP ... ... ... ... ... n PMTn = VP + (VP × i) Jn = PV × i An = VP SDn = SDn–1 – An Fonte: Adaptado de Camargos (2013). Agora, veja, no Quadro 6, o preenchimento do plano financeiro do SAA nas seguintes condições. � Valor do empréstimo: R$ 6.000,00. � Número de prestações (anuais): 6. � Juros: 10% a.a. Sistemas de amortização 13 Q ua dr o 6. P la no fi na nc ei ro d o SA A Sa ld o in ic ia l Ju ro s ca lc ul ad os Sa ld o ap ós ju ro s Pr es ta çã o Am or ti za çã o Ju ro s pa go s Sa ld o fi na l n S n –1 J ( 10 % ) S n –1 + J PM T (A + J) A J SF 1 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 60 0, 00 — 60 0, 00 6. 00 0, 00 2 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 60 0, 00 — 60 0, 00 6. 00 0, 00 3 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 60 0, 00 — 60 0, 00 6. 00 0, 00 4 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 60 0, 00 — 60 0, 00 6. 00 0, 00 5 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 60 0, 00 — 60 0, 00 6. 00 0, 00 6 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 6. 60 0, 00 6. 00 0, 00 60 0, 00 0, 00 To ta is 3. 60 0, 00 — 9. 60 0, 00 6. 00 0, 00 3. 60 0, 00 — Sistemas de amortização14 Observe que, periodicamente, os juros de R$ 600,00 foram pagos, perma- necendo o valor do empréstimo como saldo devedor. Sistema de amortização montante ou único O sistema de amortização montante é caracterizado pelo fato de o montante e os juros do período serem pagos de uma só vez, ao final. Veja, na Figura 4, a dinâmica do sistema montante. Figura 4. Dinâmica do sistema montante. Fonte: Adaptada de Puccini (2007). PV = SDi1 FV = SDi1 + J 0 1 2 n Tempo (períodos) Empréstimo a i% ap n – 1 Veja as expressões de cálculo a seguir. Prestação única (PMT) Os cálculos se resumem à aplicação da fórmula do valor futuro (VF): VF = VP (1 + i)n onde VP é o valor presente (valor do financiamento), i é a taxa de juros e n é o número de prestações. Sistemas de amortização 15 Por exemplo, vamos calcular o valor da prestação (PMT) considerando o empréstimo no valor de R$ 6.000,00 (VP) com juros anuais de 10% a.a. (i) que serão pagos ao final de seis anos (n): PMT = VP (1 + i)n PMT = 6.000,00 (1 + 0,1)6 PMT = 6.000 × 1,77156 PMT = R$ 10.629,37* *O saldo devedor corresponde ao valor amortizado (R$ 6.000,00) + o valor dos juros (R$ 4.629,37). Juros ( J) Os juros podem ser obtidos pela equação: J = VP [(1 + i)n – 1] onde VP é o valor presente (valor do financiamento), i é a taxa de juros e n é o número de prestações. Veja, no Quadro 7, o preenchimento do plano financeiro do sistema misto nas seguintes condições. � Valor do empréstimo: R$ 6.000,00. � Número de prestações (anuais): 6. � Juros: 10% a.a. Sistemas de amortização16 Q ua dr o 7. Pl an o fin an ce iro d o si st em a m on ta nt e Sa ld o in ic ia l Ju ro s ca lc ul ad os Sa ld o ap ós ju ro s Pr es ta çã o Am or ti za çã o Ju ro s pa go s Sa ld o fi na l n S n –1 J ( 10 % ) S n –1 + J PM T (A + J) A J SF 1 6. 00 0, 00 60 0, 00 6. 60 0, 00 — — — 6. 60 0, 00 2 6. 60 0, 00 66 0, 00 7.2 60 ,0 0 — — — 7.2 60 ,0 0 3 7.2 60 ,0 0 72 6, 00 7.9 86 ,0 0 — — — 7.9 86 ,0 0 4 7.9 86 ,0 0 79 8, 60 8. 78 4, 60 — — — 8. 78 4, 60 5 8. 78 4, 60 87 8, 46 9. 66 3, 06 — — — 9. 66 3, 06 6 9. 66 3, 06 96 6, 31 10 .6 29 ,3 7 10 .6 29 ,3 7 6. 00 0, 00 4. 62 9, 37 — To ta is 4. 62 9, 37 — 10 .6 29 ,3 7 6. 00 0, 00 4. 62 9, 37 — Sistemas de amortização 17 Comparação entre os sistemas de amortização A fim de análise, será elaborado um plano financeiro para os sistemas SPC, SAC e SAA com base nos seguintes dados: � Valor do empréstimo: R$ 20.000,00. � Número de prestações mensais: 24. � Taxa dos juros: 20% a.a. = 1,5309% a.m. Veja, no Quadro 8, o plano financeiro comparativo entre os sistemas. Sistemas de amortização18 Q ua dr o 8. P la no fi na nc ei ro c om pa ra tiv o en tr e os s is te m as d e am or tiz aç ão SP C SA C SA A SD A J PM T SD A J PM T SD A J PM T 1 20 .0 00 ,0 0 69 5, 89 30 6, 18 1. 00 2, 07 20 .0 00 ,0 0 83 3, 33 30 6, 18 1.1 39 ,5 1 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 2 19 .3 04 ,11 70 6, 54 29 5, 53 1. 00 2, 07 19 .16 6, 67 83 3, 33 29 3, 42 1.1 26 ,7 6 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 3 18 .5 97 ,5 7 71 7, 36 28 4, 71 1. 00 2, 07 18 .3 33 ,3 3 83 3, 33 28 0, 67 1.1 14 ,0 0 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 4 17 .8 80 ,2 1 72 8, 34 27 3, 73 1. 00 2, 07 17 .5 00 ,0 0 83 3, 33 26 7,9 1 1.1 01 ,2 4 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 5 17 .15 1, 87 73 9, 49 26 2, 58 1. 00 2, 07 16 .6 66 ,6 7 83 3, 33 25 5, 15 1. 08 8, 48 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 6 16 .4 12 ,3 8 75 0, 81 25 1, 26 1. 00 2, 07 15 .8 33 ,3 3 83 3, 33 24 2, 39 1. 07 5, 73 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 7 15 .6 61 ,5 7 76 2, 31 23 9, 76 1. 00 2, 07 15 .0 00 ,0 0 83 3, 33 22 9, 64 1. 06 2, 97 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 8 14 .8 99 ,2 6 77 3, 98 22 8, 09 1. 00 2, 07 14 .16 6, 67 83 3, 33 21 6, 88 1. 05 0, 21 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 9 14 .12 5, 28 78 5, 82 21 6, 24 1. 00 2, 07 13 .3 33 ,3 3 83 3, 33 20 4, 12 1. 03 7,4 5 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 10 13 .3 39 ,4 6 79 7,8 6 20 4, 21 1. 00 2, 07 12 .5 00 ,0 0 83 3, 33 19 1, 36 1. 02 4, 70 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 11 12 .5 41 ,6 0 81 0, 07 19 2, 00 1. 00 2, 07 11 .6 66 ,6 7 83 3, 33 17 8, 61 1. 01 1, 94 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 12 11 .7 31 ,5 3 82 2, 47 17 9, 60 1. 00 2, 07 10 .8 33 ,3 3 83 3, 33 16 5, 85 99 9, 18 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 (C on tin ua ) Sistemas de amortização 19 SP C SA C SA A 13 10 .9 09 ,0 6 83 5, 06 16 7,0 1 1. 00 2, 07 10 .0 00 ,0 0 83 3, 33 15 3, 09 98 6, 42 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 14 10 .0 74 ,0 0 84 7,8 5 15 4, 22 1. 00 2, 07 9. 16 6, 67 83 3, 33 14 0, 33 97 3, 67 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 15 9. 22 6, 16 86 0, 83 14 1, 24 1. 00 2, 07 8. 33 3, 33 83 3, 33 12 7, 58 96 0, 91 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 16 8. 36 5, 33 87 4, 00 12 8, 06 1. 00 2, 07 7.5 00 ,0 0 83 3, 33 11 4, 82 94 8, 15 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 17 7.4 91 ,3 3 88 7, 38 11 4, 68 1. 00 2, 07 6. 66 6, 67 83 3, 33 10 2, 06 93 5, 39 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 18 6. 60 3, 94 90 0, 97 10 1,1 0 1. 00 2, 07 5. 83 3, 33 83 3, 33 89 ,3 0 92 2, 64 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 19 5. 70 2, 97 91 4, 76 87 ,3 1 1. 00 2, 07 5. 00 0, 00 83 3, 33 76 ,5 5 90 9, 88 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 20 4. 78 8, 21 92 8, 77 73 ,3 0 1. 00 2, 07 4. 16 6, 67 83 3, 33 63 ,7 9 89 7,1 2 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 21 3. 85 9, 44 94 2, 98 59 ,0 8 1. 00 2, 07 3. 33 3, 33 83 3, 33 51 ,0 3 88 4, 36 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 22 2. 91 6, 46 95 7,4 2 44 ,6 5 1. 00 2, 07 2. 50 0, 00 83 3, 33 38 ,2 7 87 1, 61 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 23 1. 95 9, 04 97 2, 08 29 ,9 9 1. 00 2, 07 1. 66 6, 67 83 3, 33 25 ,5 2 85 8, 85 20 .0 00 ,0 0 — 30 6, 18 30 6, 18 24 98 6, 96 98 6, 96 15 ,11 1. 00 2, 07 83 3, 33 83 3, 33 12 ,7 6 84 6, 09 20 .0 00 ,0 0 20 .0 00 ,0 0 30 6, 18 20 .3 06 ,18 To ta is 20 .0 00 ,0 0 4. 04 9, 66 24 .0 49 ,6 6 20 .0 00 ,0 0 3. 82 7, 25 23 .8 27 ,2 5 20 .0 00 ,0 0 7. 34 8, 32 27 .3 48 ,3 2 (C on tin ua çã o) Sistemas de amortização20 Pode-se observar, no Quadro 8, que o valor amortizado dos sistemas correspondem ao valor do empréstimo (R$ 20.00,00). Porém, os juros no SAA são superiores, por não haver amortização do principal ao longo do contrato. Por sua vez, os juros no SAC são menores, pois o valor amortizado ao longo do contrato permanece inalterado da primeira à última prestação. Analisar os planos de financiamento somente pelo total pago é equívoco, uma vez que se estaria desconsiderando o princípio básico da matemática financeira do valor do dinheiro no tempo. Dessa forma, Camargos (2013) descreve que a comparação correta entre os planos de financiamento deve ser feita com os valores de cada um em um mesmo momento focal, ou seja, deve-se calcular o valor presente (VP) ou o valor futuro (VF) de cada um. Considerando que todos os sistemas apresentam o mesmo valor presente (R$ 20.000), devem também ter o mesmo valor futuro para serem equivalentes. De fato, capitalizando as prestações de cada plano pela taxa de 20% a.a., ao final de dois anos (24 meses), chega-se ao mesmo valor futuro de R$ 28.800,00, demonstrando, assim, que os seus fluxos de caixa são equivalentes. Veja a capitalização do empréstimo, pelo cálculo do valor futuro, no valor de R$ 20.000,00, com a taxa de 20%, no período de 2 anos: VF = VP × (1 + i)n VF = 20.000,00 × (1 + 0,20)2 VF = 20.000,00 × (1,20) 2 VF = 20.000,00 × 1,44 VF = 28.800,00 Por fim, veja, no Quadro 9, o resumo das características dos sistemas estudados. Sistemas de amortização 21 Quadro 9. Características dos sistemas de amortização Sistema Prestações Juros Amortização SPC Constantes Decrescentes exponencialmente Crescente exponencialmente SAC Decrescentes linearmente Decrescentes linearmente Constante SAA Somente dos juros Constantes Não há Montante Não há Cumulativo Não há Fonte: Adaptado de Camargos (2013). Assim, em resumo, pode-se inferir que o melhor sistema é aquele que atende à capacidade de pagamento do tomador do empréstimo. Referências BATISTA JÚNIOR, R. I. Matemática financeira contextualizada em sistemas de amortização e impostos de renda. 2014. 65 f. Dissertação (Mestrado em Matemática) — Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, 2014. CAMARGOS, M. A. Matemática financeira: aplicada a produtos financeiros e à análise de investimentos. São Paulo: Saraiva, 2013. HOJI, M. Matemática Financeira: didática, objetiva e prática. São Paulo: Atlas, 2016. MERCHEDE, A. HP-12C: cálculos e aplicações financeiras. São Paulo: Atlas, 2009. PUCCINI, E. C. Matemática financeira. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. ZOT, W. D; CASTRO, M. L. Matemática financeira: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. Leitura recomendada ASSAF NETO, A. Matemática financeira. São Paulo: Atlas, 2017. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Sistemas de amortização22 MATEMÁTICA FINANCEIRA Rodolfo Vieira Nunes Sistemas de amortização Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os principais conceitos dos sistemas de amortização. Identificar os principais tipos de sistemas de amortização em uso no Brasil. Utilizar planos financeiros para demonstrar os cálculos, as semelhanças e as diferenças entre os sistemas de amortização. Introdução Um empréstimo financeiro é uma operação atrelada a um contrato entre um cliente (tomador) e uma instituição financeira (emprestador). Por meio do empréstimo, o cliente recebe uma quantia em dinheiro, que deve ser devolvida em prazo determinado e acrescida dos juros definidos por ambas as partes. Um empréstimo que deve ser restituído em quantias periódicas iguais (mensal, trimestral ou anualmente) é chamado de “empréstimo amortizado”. A palavra “amortização” vem do termo latino mors, que significa “morte”. Assim, um empréstimo amortizado é aquele empréstimo liquidado com o passar do tempo. Um sistema de amortização se caracteriza pela definição de critérios que estabelecem quanto deve ser pago em cada parcela. Tal pagamento se divide em: principal (amortização) e encargos (juros, remuneração). Há basicamente três sistemas de amortização: Sistema de Amortização Constante (SAC), sistema francês ou tabela Price e Sistema de Amortização Americano (SAA). Neste capítulo, você vai conhecer alguns conceitos relacionados aos sistemas de amortização. Além disso, vai se familiarizar com as principais características desses sistemas e verificar as diferenças existentes entre eles. Principais conceitos A seguir, você vai conhecer alguns conceitos importantes para o seu apren- dizado ao longo deste capítulo. Como você sabe, estudar os conceitos básicos de uma área é fundamental para compreendê-la (ASSAF NETO, 2016; CARVALHO; ELIA; DECOTELI, 2009; GIMENES, 2006; HOJI, 2016; SILVA, 2012). Amortização: são os pagamentos do principal da dívida, ou seja, do montante emprestado. Não confunda a amortização com a parcela desembolsada total, que pode incluir juros. Os juros não fazem parte da amortização do principal. Carência: um fluxo de caixa com carência (ou f luxo diferido) é aquele em que os pagamentos da dívida começam a ocorrer em um período posterior ao término da carência. Assim, por exemplo, um fluxo de caixa com carência de dois períodos é aquele em que os pagamentos começam a ocorrer no terceiro período. Alguns autores usam um conceito diferente de carência, porém esse que você acabou de ver é o mais utilizado no mercado e o mais comum nos exames de certificação. Juros: são uma espécie de “aluguel” pago pelo uso do dinheiro, ou seja, uma forma de remunerar o capital que foi emprestado. Do ponto de vista de quem toma um empréstimo, os juros são o custo de captar o valor. De uma perspectiva mais financeira, os juros são o resultado da aplicação da taxa de juros sobre o saldo devedor. Prestação: é uma forma de pagamento a prazo em que o montante total é dividido e pago periodicamente pelo devedor como meio de quitar uma parte da dívida. A composição da prestação pode ser advinda da amortização e dos juros do empréstimo. Saldo devedor: é a diferença entre o valor do empréstimo atualizado e a soma das amortizações, ou seja, é o que já foi pago de juros e principal. Em uma visão simplificada, o saldo devedor é o total do principal da dívida em determinado momento. Todas as definições que você viu aqui estão relacionadas a uma abordagem financeira. Podem existir outras explicações e entendimentos sobre esses conceitos, porém com uma abordagem ou explicação não financeira. Sistemas de amortização2 Sistemas de amortização em uso no Brasil SAC No SAC, o pagamento do empréstimo ocorre por meio de um conjunto de prestações em que as amortizações do saldo devedor são constantes ao longo de todo o período do contrato (HOJI, 2016). Nesse sistema, as parcelas da amortização são sempre iguais entre si. Já os juros são calculados sobre o saldo devedor do período anterior. Na Figura 1, veja a composição das prestações no SAC. Figura 1. Composição das prestações no SAC. A Figura 1 mostra que as prestações são decrescentes ao longo do período, pois os juros incidem com um valor cada vez menor sobre o montante das prestações. A amortização do principal, como o próprio nome do sistema indica, é constante no tempo. Para compreender melhor, considere um exemplo: existe um empréstimo no valor de R$ 300.000,00 a ser pago em 5 parcelas anuais com carência no primeiro ano. A amortização estipulada em contrato deve ser de R$ 60.000,00 por ano. Esse empréstimo está condicionado a juros de 12% ao ano. Agora veja o Quadro 1, a seguir. 3Sistemas de amortização Final do ano Amortização (a) Juros SDp – 1 × 12% (b) Prestação (a) + (b) Saldo devedor (SD) Hoje 300.000,00 1 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 2 60.000,00 36.000,00 96.000,00 240.000,00 3 60.000,00 28.800,00 88.800,00 180.000,00 4 60.000,00 21.600,00 81.600,00 120.000,00 5 60.000,00 14.400,00 74.400,00 60.000,00 6 60.000,00 7.200,00 67.200,00 0,00 Total 300.000,00 144.000,00 444.000,00 Quadro 1. Aplicação do SAC Por meio dessa metodologia, as amortizações começam a ser pagas a partir do final do segundo ano, por conta do período de carência já predeterminado. Contudo, essa carência não interfere no pagamento dos juros, que já come- çam a ser pagos ao final do primeiro ano, não diminuindo o valor do saldo devedor. O cálculo dos juros é efetuado sobre o saldo devedor do período anterior. Assim, o saldo devedor diminui somente com a amortização da dívida (GIMENES, 2006). Veja alguns aspectos relevantes sobre o funcionamento do SAC: é uma opção sugerida para quem tem a possibilidade de quitar a dívida de forma antecipada; é caracterizado por uma amortização maior no início e um saldo devedor que cai mais rapidamente; demanda um capital maior para o início do financiamento. Em síntese, no método de amortização SAC, também conhecido como “método hamburguês”, as prestações ao longo do contrato ou empréstimo reúnem a composição das amortizações constantes mais os juros variáveis decrescentes (ASSAF NETO, 2016). Sistemas de amortização4 Um sistema de amortização pouco utilizado é o alemão. Ele consiste em liquidar uma dívida de modo que os juros sejam pagos antecipadamente com prestações iguais, exceto no primeiro pagamento, que corresponde aos juros cobrados no momento da operação financeira. Nesse sistema, é necessário conhecer o valor de cada pagamento e os valores das amortizações. Tabela Price O sistema Price, também conhecido como “sistema francês”, consiste no paga- mento de um empréstimo por meio de um conjunto de prestações sucessivas e constantes, de modo que a amortização do saldo devedor é realizada ao longo do contrato (HOJI, 2016). Ele é largamente utilizado no mercado fi nanceiro e de capitais brasileiro; é o sistema mais conhecido no País. A denominação deve-se ao matemático, filósofo e teólogo inglês Richard Price, que incorporou a teoria dos juros compostos às amortizações de em- préstimos. A principal característica desse sistema são as prestações cons- tantes ao longo do tempo. Para que isso ocorra, é necessário que as parcelas da amortização sejam menores no início e maiores no final. Além disso, as parcelas dos juros devem ser maiores no início e menores no final. Observe a Figura 2 para compreender melhor esse conceito. Figura 2. Composição das prestações no sistema Price. 5Sistemas de amortização Utilizando o mesmo exemplo do sistema de amortização anterior, deve-se calcular o valor de cada uma das prestações a partir do segundo ano, consi- derando que elas devem ser iguais entre si. Gimenes (2006) utiliza a equação do fluxo de caixa uniforme. Veja: Onde: VP (valor presente): 300.000 i (taxa de juros): 12% ao ano n (período de pagamento): 5 anos PMT (valor das prestações): ? Portanto, o valor de cada prestação, que é composta da amortização so- mada aos juros, deve ser o montante de R$ 83.222,92 a partir do segundo ano. O Quadro 2 apresenta de outra forma o método de cálculo do sistema Price. Final do ano Amortização (a) Juros SDp – 1 × 12% (b) Prestação (a) + (b) Saldo devedor (SD) Hoje 300.000,00 1 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 2 47.222,92 36.000,00 83.222,92 252.777,08 3 52.889,67 30.333,25 83.222,92 199.887,41 4 59.236,43 23.986,49 83.222,92 140.650,98 5 66.344,80 16.878,12 83.222,92 74.306,18 6 74.306,18 8.916,74 83.222,92 0,00 Total 300.000,00 152.114,60 452.114,60 Quadro 2. Aplicação do sistema Price Sistemas de amortização6 Nesse método, todas as prestações são iguais após o período de carência. Além disso, a amortização é calculada após o cálculo dos juros, sendo a diferença entre a prestação e os juros. A Figura 3 exemplifica o quanto a amortização e os juros compõem cada parcela de pagamento. Figura 3. Prestações — juros e amortizações. Perceba também que, por começar a amortizar com um valor menor no início, quem escolhe esse tipo de sistema acaba pagando mais juros do que no SAC. Veja alguns aspectos relevantes sobre o funcionamento do sistema Price: é caracterizado por uma amortização menor no início e por um saldo devedor que demora a cair; não é uma boa opção para quem tem a possibilidade de quitar a dívida de forma antecipada; demanda um capital menor para iniciar o financiamento. Em resumo, no sistema Price de amortização, as prestações são constantes ao longo do tempo. Tais prestações são compostas em parte por amortizações diferentes e crescentes e em parte por juros com valores diferentes e decres- centes ao longo do período (ASSAF NETO, 2016). 7Sistemas de amortização SAA No SAA, o principal da dívida só é amortizado ao final do período do contrato. Assim, ao longo do contrato, são quitados apenas os juros sobre o saldo devedor, que se mantém inalterado até o vencimento da dívida (HOJI, 2016). Nesse sistema, o principal é pago em apenas uma parcela, no final do período. Ou seja, a amortização é paga como um todo no final do contrato estipulado. Na Figura 4, veja uma representação do método de amortização. Figura 4. Composição das prestações no SAA. No Quadro 3, a seguir, veja a aplicação de um exemplo. Para esse caso, o período de carência é de 5 anos, e não de apenas 1 ano, como nos sistemas que você viu anteriormente. Sistemas de amortização8 Final do ano Amortização (a) Juros SDp – 1 × 12% (b) Prestação (a) + (b) Saldo devedor (SD) Hoje 300.000,00 1 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 2 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 3 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 4 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 5 0,00 36.000,00 36.000,00 300.000,00 6 300.000,00 36.000,00 336.000,00 0,00 Total 300.000,00 216.000,00 516.000,00 Quadro 3. Aplicação do SAA Na situação mostrada no Quadro 3, os juros pagos são os maiores dentre os três sistemas, pois a amortização ocorre apenas no final. Assim, correm juros sobre todo o saldo devedor ao longo de toda a vida do empréstimo. A seguir, veja alguns aspectos relevantes sobre o funcionamento do SAA: é caracterizado pela possibilidade de o devedor quitar a sua dívida quando quiser; permite o pagamento parcial da dívida, reduzindo o valor dos juros proporcionalmente; é indicado quando está previsto o recebimento de uma quantia futura suficiente para quitar a dívida. Esse tipo de sistema é muito utilizado na emissão de debêntures e títulos do governo com pagamentos intermediários (SILVA, 2012). Esses pagamentos intermediários recebem também o nome de “cupons”, que nada mais são do que os juros pagos sobre o saldo devedor. 9Sistemas de amortização No modelo americano de amortização, as prestações de quase todo o período envolvem o pagamento de juros fixos. Assim, a amortização do principal é paga somente no último período do empréstimo. Ou seja, durante quase todo o tempo do empréstimo, a prestação é quase toda composta pelos juros; apenas no último período essa composição se altera, pois inclui a amortização do valor principal (ASSAF NETO, 2016). A Caixa Econômica Federal possui uma política de financiamento da casa própria. Tal política é vinculada a um programa de incentivo e auxílio para a moradia criado pelo Governo Federal, o Sistema Financeiro de Habitação (SFH). No financiamento pelo SFH, é necessário definir: o valor e o prazo; se a taxa de juros será pré ou pós-fixada; a fórmula de cálculo da prestação. ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2016. CARVALHO, L. C. S.; ELIA, B. S.; DECOTELI, C. A. Matemática financeira aplicada. Rio de Janeiro: FGV, 2009. GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12c e Excel: uma abordagem descompli- cada. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. HOJI, M. Matemática financeira: didática, objetiva e prática. São Paulo: Atlas, 2016. SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Leituras recomendadas BREALEY, R.; MYERS, S.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018. GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. ROSS, S. A. et al. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. Sistemas de amortização10 AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS Wellington Rodrigues Silva Souza Sistema de amortização constante com carência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar o sistema de amortização constante com financiamentos de longo prazo. Calcular as parcelas no sistema de amortização constante. Identificar o saldo devedor. Introdução Entender a lógica dos juros compostos aplicados a fluxos de caixa em parcelas é crucial tanto para a vida pessoal quanto para decisões estra- tégicas de endividamento de empresas. Neste capítulo, você vai ler sobre o sistema de amortização constante (SAC) na prática de empréstimos e financiamentos de longo prazo. Vai também estudar como calcular parcelas nesse sistema e como identificar o saldo devedor. O sistema de amortização constante aplicado a financiamentos de longo prazo No campo das fi nanças pessoais, por vezes há a necessidade de recorrer a um fi nanciamento de longo prazo para comprar bens de alto valor. É o caso do fi nanciamento de um veículo ou, em maior proporção em termos monetários, do fi nanciamento de um imóvel. No que diz respeito às fi nanças empresariais, há duas formas de fi nanciamento: pelo capital próprio, ou seja, injeção de recursos na empresa pelos seus acionistas, ou por meio do capital de terceiros, cenário no qual a empresa toma recursos em empréstimos e fi nanciamentos. Em geral, estes financiamentos são realizados dada uma indisponibilidade de caixa para a compra do bem à vista. No entanto, no âmbito empresarial, muitas vezes esse não é o motivo, o que pode ser facilmente verificado nos balanços patrimoniais divulgados pelas empresas de capital aberto (que ne- gociam ações em bolsas de valores). Veja os saldos de Caixa e equivalentes de caixa e Empréstimos e financiamentos divulgados pela Magazine Luiza em seu balanço patrimonial consolidado referente ao exercício social findo em 31/12/2018 (MAGAZINE LUIZA S.A., [2018], documento on-line). Saldo (milhares de R$) Caixa e equivalentes de caixa 548.553 Empréstimos e financiamentos (passivo circulante) 130.685 Empréstimos e financiamentos (passivo não circulante) 323.402 Total de empréstimos e financiamentos 454.087 Como você pode notar, o saldo de Caixa e equivalentes de caixa — que representa dinheiro em espécie, depósitos bancários e aplicações financeiras de alta liquidez — supera o saldo de Empréstimos e financiamentos. Isso significa que, mesmo dispondo de recursos financeiros imediatamente, a empresa usa capital de terceiros para financiar suas atividades. Uma análise mais aprofundada quanto à distribuição de saldos entre circulante e não cir- culante revela que a maior parte do montante devido pela empresa (R$ 323,4 milhões) é dívida de longo prazo, pois vencerá em mais de 12 meses (conceito de passivo não circulante). Sistema de amortização constante com carência2 Para consultar as demonstrações financeiras completas da Magazine Luiza ([2019]), acesse o link a seguir, selecione o período desejado e baixe o arquivo ITR/DFP. Procure na nota explicativa de empréstimos e financiamentos (nota 19 na demons- tração financeira de 31/12/2018) detalhes como taxas, datas de vencimento, mapa de movimentação e cronograma de vencimentos. Aproveite para analisar a nota explicativa de resultado financeiro (nota 27 na demonstração financeira de 31/12/2018), em que são apresentados os montantes de juros sobre empréstimos e rendimentos de aplicações financeiras no ano. https://qrgo.page.link/vd8Yd Por que, então, as empresas se endividam mesmo dispondo de recursos em caixa? Não existe uma resposta definitiva para essa pergunta, mas algumas razões são destacadas a seguir. A empresa não quer comprometer o seu capital de giro (caixa mantido para pagamentos normais do ciclo operacional da empresa) com gas- tos em projetos de expansão. Afinal, manter uma folga de caixa para necessidades financeiras é extremamente importante. Muitas vezes, o capital de terceiros é mais barato, já que tem taxas de juros baixas. Por isso, vale mais a pena para a empresa captar recursos com empréstimos e financiamentos para novos projetos de expansão (como a abertura de uma nova fábrica, por exemplo) do que usar o recurso disponível em caixa. Esse recurso disponível em caixa, quando aplicado, pode gerar rentabilidade (receita financeira) superior aos juros dos empréstimos e financiamentos obtidos (despesa financeira). Isso significa que a empresa paga os juros da dívida com a rentabilidade da aplicação financeira e ainda apura lucro na transação. Empresas que optam pelo regime de lucro real para apurar tributos sobre lucro tomam a dedutibilidade fiscal da despesa de juros para apurar o lucro tributável sobre o qual incidirão tributos. No Brasil, essa dedutibilidade é cerca de 34%. Isso significa que a despesa efetiva de juros sobre os financiamentos é 66%, uma vez que os outros 34% se transformam em economia de caixa no pagamento de tributos. 3Sistema de amortização constante com carência Em síntese, pessoas físicas optam por um financiamento de longo prazo normalmente por falta de recursos para comprar bens de alto valor. Da mesma forma, pessoas jurídicas (empresas ou outras entidades, como organizações não governamentais) podem também optar pelo endividamento para adquirir bens na falta de recursos imediatos. Porém, frequentemente há outras razões, que envolvem os benefícios que o endividamento pode oferecer à empresa, como as três razões listadas anteriormente. Mesmo que disponham de recursos imediatos, “[…] grandes e pequenas empresas tê m algo em comum: a neces- sidade de obter capital de longo prazo” (ROSS et al., 2015). Como os empréstimos são frequentes nas vidas tanto das pessoas físicas quanto das pessoas jurídicas, é importante saber como calculá-los. Um dos métodos de cálculo é o sistema de amortização constante (SAC). De acordo com Almeida (2016, p. 144), “[…] essa modalidade de pagamento também é conhe- cida como método hamburguês e possui vasta utilização em financiamentos imobiliários (SFH — sistema financeiro de habitação) e em financiamentos às empresas por parte de várias entidades governamentais”. Cálculo de financiamentos por meio do sistema de amortização constante Conforme Assaf Neto (2017, p. 235), “[…] o Sistema de Amortização Constante (SAC), como o próprio nome indica, tem como característica básica serem as amortizações do principal sempre iguais (ou constantes) em todo o prazo da operação”. Amortização, que também pode ser chamada de principal, refere-se à parte que é reduzida da dívida após o pagamento de cada parcela. É extremamente importante distinguir amortização e parcela (pagamento). Parcela é o valor que será pago nos prazos acordados do empréstimo e contempla a fatia que é efetiva redução de dívida e a fatia que corresponde aos juros pagos ao banco como remuneração pelo empréstimo efetuado. Amortização, por sua vez, refere-se apenas à parte do pagamento que resulta em efetiva redução de dívida. A fórmula para determinar o montante de amortização no SAC é a seguinte: Sistema de amortização constante com carência4 Na matemática financeira, o valor inicial de uma dívida (valor captado) ou o valor inicial de um investimento (valor aplicado) também pode ser referenciado como valor presente (VP). Se, por exemplo, uma empresa obteve um empréstimo de R$ 120.000 e vai pagá-lo em 12 parcelas, aplicando-se a fórmula da amortização, o valor da amortização mensal é R$ 10.000: Para determinar os juros de cada parcela, aplica-se a seguinte fórmula: juros = saldo devedor × taxa de juros (%) Dando continuidade ao exemplo anterior, o saldo devedor inicial corres- ponde exatamente ao valor captado (nenhuma amortização ainda foi feita). Considerando que a taxa de juros é 1,5% a.m. (ao mês), então o valor de juros no primeiro mês é R$ 1.800: juros = 120.000 × 1,5% = R$ 1.800 Compete ressaltar que a taxa de juros a ser aplicada sobre o saldo devedor deve estar na mesma grandeza do período das parcelas, isto é, se as parcelas são mensais, a taxa de juros também deve ser mensal. Os bancos costumam estabelecer taxas em grandeza anual, sendo necessário fazer a conversão. A princípio, pode-se imaginar que basta dividir a taxa anual por 12 meses. Entretanto, esse procedimento não é correto, em virtude dos conceitos de juros compostos. A conversão de taxas, se for o caso, deve ser efetuada de acordo com o conceito de taxas equivalentes (ALMEIDA, 2016). A fórmula de cálculo é a seguinte: 5Sistema de amortização constante com carência onde: iq = taxa que se quer descobrir; it = taxa que se tem; nq = período da taxa que se quer converter; nt = período da taxa que se tem. Por exemplo, se você tem como informação uma taxa de 15% a.a. (ao ano) e quer descobrir a equivalente a.m. (ao mês), então deve calcular: Veja que a taxa que se tem é 15% a.a. Para aplicação na fórmula, ela deve ser transformada em número decimal. Para isso, divide-se a taxa em percentual por 100 (15 ÷ 100 = 0,15). Na sequência, no expoente da equação, o numerador é o prazo para o qual se quer converter a taxa, e o denomi- nador é o período que se tem, que é o período correspondente a taxa que se tem. Como a taxa está em grandeza anual e queremos transformá-la em equivalente mensal, o período para o qual se quer converter a taxa é igual a 1 (correspondente a um mês) e o período que se tem é 1 ano, que, por sua vez, corresponde a 12 meses. O período que se quer e o período que se tem devem estar sempre na mesma grandeza equivalente em meses (p. ex., se a taxa que se tem é semestral e se quer convertê-la para taxa anual, então o período que se tem para a taxa semestral é de 6 meses, correspondente a um semestre, e o período da taxa que se quer para a taxa anual é de 12 meses, correspondente a um ano. O Quadro 1 apresenta uma síntese dos expoentes a serem utilizados para a conversão de taxas. Sistema de amortização constante com carência6 PA R A (p er ío do d a ta xa q ue s e qu er ) M en sa l Bi m es tr al Tr im es tr al Q ua dr im es tr al Se m es tr al A nu al DE (período da taxa que se tem) M en sa l — 2/ 1 3/ 1 4/ 1 6/ 1 12 /1 Bi m es tr al 1/ 2 — 3/ 2 4/ 2 6/ 2 12 /2 Tr im es tr al 1/ 3 2/ 3 — 4/ 3 6/ 3 12 /3 Q ua dr im es tr al 1/ 4 2/ 4 3/ 4 — 6/ 4 12 /4 Se m es tr al 1/ 6 2/ 6 3/ 6 4/ 6 — 12 /6 A nu al 1/ 12 2/ 12 3/ 12 4/ 12 6/ 12 — Q ua dr o 1. E xp oe nt es p ar a co nv er sã o de ta xa s 7Sistema de amortização constante com carência Como consequência dos conceitos de amortização e juros, a parcela (pagamento) será dada por: parcela = amortização + juros Dando continuidade ao exemplo, a primeira parcela a ser paga corresponde a R$ 11.800 e é obtida como segue: parcela = 10.000 + 1.800 = R$ 11.800 Por fim, o saldo devedor é obtido conforme fórmula a seguir: saldo devedor = valor captado − (amortização × número de parcelas já pagas) Ou ainda, por diferença entre o saldo devedor anterior (t − 1) e a amorti- zação no mês (t): saldo devedort = saldo devedort − 1 − amortizaçãot Seguindo o exemplo anterior, o saldo devedor ao final do primeiro mês é: saldo devedort = 120.000 − 10.000 = R$ 110.000 A demonstração completa do f luxo de parcelas (pagamentos), ju- ros, amortização e saldo devedor pode ser feita por meio de uma tabela. O Quadro 2 apresenta o exemplo abordado (isto é, captação de R$ 120.000, prazo de pagamento de 12 meses, taxa de juros de 1,5% a.m. e cálculo pelo SAC). Sistema de amortização constante com carência8 Mês Parcela (a) (b)t + (c)t Juros (b) (d) t − 1 × taxa % Amortização (c) Saldo devedor (d) (d) t − 1 − (c) t 0 — — — 120.000 1 11.800 1.800 10.000 110.000 2 11.650 1.650 10.000 100.000 3 11.500 1.500 10.000 90.000 4 11.350 1.350 10.000 80.000 5 11.200 1.200 10.000 70.000 6 11.050 1.050 10.000 60.000 7 10.900 900 10.000 50.000 8 10.750 750 10.000 40.000 9 10.600 600 10.000 30.000 10 10.450 450 10.000 20.000 11 10.300 300 10.000 10.000 12 10.150 150 10.000 — Total 131.700 11.700 120.000 — Legenda: t = mês atual t-1 = mês anterior Quadro 2. Tabela para demonstração do fluxo de parcelas, juros, amortização e saldo devedor 9Sistema de amortização constante com carência Veja que, mensalmente, a amortização (c) é constante, os juros (b) são cal- culados aplicando-se a taxa de juros sobre o saldo devedor do período anterior (d)t −1, a parcela corresponde à soma dos juros do mês (b)t e da amortização do mês (c)t, e o saldo devedor do mês (d)t é obtido subtraindo-se o valor da amortização do mês (c)t do saldo devedor anterior (d)t −1. Sistema de amortização constante com carência Suponha que os gestores de determinada empresa tenham observado um crescimento na demanda pelos produtos que comercializa, mas é incapaz de atendê-la apenas com a capacidade produtiva atual. Então, os gestores decidem abrir uma nova fábrica para produzir e suprir a demanda adicional. No entanto, a empresa não dispõe de recursos sufi cientes para realizar esse investimento. Os gestores decidiram recorrer a um empréstimo bancário para viabilizar o projeto. Ao montar o plano fi nanceiro, identifi caram que pode haver falta de caixa, considerando-se apenas as vendas atuais, para começarem a pagar as parcelas ao banco logo após o primeiro mês da captação dos recursos. E agora? Qual é a saída para a empresa? Existem modalidades de empréstimos e financiamentos em que o credor concede um prazo extra para o devedor começar a pagar as parcelas (ou parte delas, se a carência for parcial). Esse prazo corresponde ao que chamamos de prazo de carência ou período de carência. Existem dois tipos de carência mais usuais: a que prevê pagamentos apenas dos juros no período, chamada de carência parcial, que se refere apenas à parte do pagamento relacionada à amortização, e a que não prevê o pagamento de juros nem amortização no período, a carência total (ASSAF NETO, 2017). Carência parcial Na modalidade de carência parcial, há carência apenas para a amortização, isto é, os juros apurados no período de carência devem ser pagos neste período. Consideremos o exemplo anterior (captação de R$ 120.000 para pagamento em 12 parcelas mensais a uma taxa de 1,5% a.m.), porém com 3 meses de carência de amortização (carência parcial), devendo a empresa liquidar neste período apenas os juros mensais. Neste cenário, o fl uxo de pagamentos será o seguinte (Quadro 3): Sistema de amortização constante com carência10 Mês Parcela (a) (b)t + (c)t Juros (b) (d)t − 1 × taxa % Amortização (c) Saldo devedor (d) (d)t − 1 − (c)t 0 — — — 120.000 1 1.800 1.800 — 120.000 2 1.800 1.800 — 120.000 3 1.800 1.800 — 120.000 4 11.800 1.800 10.000 110.000 5 11.650 1.650 10.000 100.000 6 11.500 1.500 10.000 90.000 7 11.350 1.350 10.000 80.000 8 11.200 1.200 10.000 70.000 9 11.050 1.050 10.000 60.000 10 10.900 900 10.000 50.000 11 10.750 750 10.000 40.000 12 10.600 600 10.000 30.000 13 10.450 450 10.000 20.000 14 10.300 300 10.000 10.000 15 10.150 150 10.000 — Total 137.100 17.100 120.000 — Legenda: t = mês atual t − 1 = mês anterior Quadro 3. SAC com parcela parcial 11Sistema de amortização constante com carência Note que os juros são normalmente apurados sobre o saldo devedor. No entanto, como não há amortização em razão da carência para a amortização, somente os juros são pagos. Nos três primeiros meses, portanto, o saldo devedor vai ser exatamente o mesmo, uma vez que o pagamento de juros não o reduz. O saldo devedor corresponde, então, apenas à remuneração que se dá ao banco pelo empréstimo. A partir do quarto mês, o fluxo segue normalmente, considerando o pagamento de juros e a fatia que se refere à amortização do saldo devedor. Carência total Na modalidade de carência total, há carência tanto de amortização quanto de pagamento de juros, isto é, os juros apurados no período de carência elevam o saldo devedor. Considerando os dados do mesmo exemplo (captação de R$ 120.000, para pagamento em 12 parcelas mensais, a uma taxa de 1,5% a.m.), mas com carência total de 3 meses, a tabela pelo SAC fi ca a seguinte (Quadro 4): Mês Parcela (a) No período de carência = 0 No período pós-carência: (b)t + (c)t Juros (b) (d)t − 1 × taxa % Amortização (c) Saldo devedor (d) No período de carência: (d)t − 1 + (b)t No período pós-carência: (d)t − 1 − (c)t 0 — — — 120.000,00 1 — 1.800,00 — 121.800,00 2 — 1.827,00 — 123.627,00 3 — 1.854,41 — 125.481,41 4 12.339,00 1.882,22 10.456,78 115.024,63 5 12.182,15 1.725,37 10.456,78 104.567,85 6 12.025,30 1.568,52 10.456,78 94.111,07 7 11.868,45 1.411,67 10.456,78 83.654,29 Quadro 4. SAC com carência total (Continua) Sistema de amortização constante com carência12 Os juros foram normalmente calculados sobre o saldo devedor. Entre- tanto, como não houve pagamento no período, o saldo devedor aumentou ao longo do período de carência, uma vez que os juros apurados e não pagos são incorporados a esse saldo. A amortização, que seria normalmente calculada dividindo-se o valor captado pela quantidade de parcelas, com a carência total passa a ser calculada da seguinte forma: Mês Parcela (a) No período de carência = 0 No período pós-carência: (b)t + (c)t Juros (b) (d)t − 1 × taxa % Amortização (c) Saldo devedor (d) No período de carência: (d)t − 1 + (b)t No período pós-carência: (d)t − 1 − (c)t 8 11.711,59 1.254,81 10.456,78 73.197,51 9 11.554,74 1.097,96 10.456,78 62.740,73 10 11.397,89 941,11 10.456,78 52.283,95 11 11.241,04 784,26 10.456,78 41.827,17 12 11.084,19 627,41 10.456,78 31.370,39 13 10.927,34 470,56 10.456,78 20.913,61 14 10.770,48 313,70 10.456,78 10.456,83 15 10.613,68 156,85 10.456,83(*) — Total 137.715,85 17.715,85 125.481,41 — Legenda: t = mês atual t − 1 = mês anterior (*) A amortização do último mês foi ajustada em R$ 0,05 em razão da dízima periódica no valor da amortização. Quadro 4. SAC com carência total (Continuação) 13Sistema de amortização constante com carência Por isso, neste exemplo, o valor da amortização mensal é R$ 10.456,78: Neste caso, os juros ficam maiores que os juros que teríamos no cenário sem carência ou com carência parcial, afinal o saldo devedor aumentou ao longo dos meses de carência porque os pagamentos não ocorreram. Ao se captar um empréstimo ou financiamento, em especial de longo prazo, há que se observar todas as condições contratuais, como taxa de juros, prazo, método de amortização aplicável, além do tipo de fluxos de pagamentos: sem carência, com carência parcial ou com carência total. Dessa forma, é possível tomar uma decisão de endividamento de forma consciente, inclusive avaliando a real necessidade de se postergar pagamentos por meio da carência, afinal, a escolha pela carência, seja parcial seja total, resulta em maior montante de juros e pagamentos totais. ALMEIDA, J. T. S. de. Matemática financeira. Rio de Janeiro: LTC, 2016. ASSAF NETO, A. Matemática financeira: edição universitária. São Paulo: Atlas, 2017. MAGAZINE LUIZA. Central de resultados. Magazine Luiza, [s. l.], [2019]. Disponível em: https://ri.magazineluiza.com.br/ListResultados/Central-de-Resultados?=0WX0bwP76 pYcZvx+vXUnvg%3D%3D. Acesso em: 5 out. 2019. MAGAZINE LUIZA S.A. Demonstrações contábeis 31 de dezembro de 2018 e 2017. [S. l.: s. n.], [2018]. Disponível em: https://ri.magazineluiza.com.br/ListResultados/Download. aspx?Arquivo=+mZzBAqqWt/00RFJl56+hg==. Acesso em: 5 out. 2019. ROSS, S. A. et al. Administração financeira: versão brasileira de corporate finance. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Sistema de amortização constante com carência14