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Catalogação na publicação: Júlia Angst Coelho – CRB 10/1712 B193g Ballou, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial / Ronald H. Ballou ; tradução Raul Rubenich. – 5. ed. – Porto Alegre : Bookman, 2006. 616 p. ; 28 cm. ISBN 978-85-363-0591-2 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Título. CDU 658.7 _Ballou-Ronald_00_Iniciais 4/14/08 12:44 PM Page ii INTRODUÇÃO Nas épocas mais antigas da História documentada da humanidade, as mercadorias mais necessárias não eram feitas perto dos lugares nos quais eram mais consumi- das, nem estavam disponíveis nas épocas de maior pro- cura. Alimentos e outras commodities eram espalhados pelas regiões mais distantes, sendo abundantes e acessí- veis apenas em determinadas ocasiões do ano. Os povos mais antigos consumiam os produtos em seus lugares de origem ou os levavam para algum local profundo ou armazenando-os para utilização posterior. Contudo, de- vido à inexistência de sistemas desenvolvidos de trans- porte e armazenamento, o movimento das mercadorias limitava-se àquilo que a pessoa conseguia fazer por suas próprias forças, e os bens perecíveis só podiam perma- necer guardados por prazos muito curtos. Todo esse li- mitado sistema de transporte-armazenamento normal- mente obrigava as pessoas a viver perto das fontes de produção e as limitava ao consumo de uma escassa ga- ma de mercadorias. Mesmo hoje, em algumas regiões do mundo, o con- sumo e a produção ocorrem em âmbitos geográficos ex- tremamente limitados. Exemplos impressionantes dessa situação espalham-se pelas nações em desenvolvimento da Ásia, América do Sul, África e Austrália, onde parte da população vive em aldeias pequenas, supostamente auto-suficientes, e a maioria das mercadorias que prefe- re é produzida ou adquirida na vizinhança imediata. Poucas são, ali, as mercadorias importadas de outras re- giões. Em decorrência, a produtividade e o padrão eco- nômico de vida são geralmente baixos. Nesse tipo de economia, um sistema logístico bem-desenvolvido e ba- rato certamente incentivaria um intercâmbio de merca- dorias com outras áreas produtoras do país, ou mesmo do mundo. À medida que os sistemas logísticos fossem aper- feiçoados, o consumo e a produção experimentariam uma separação geográfica. Algumas regiões se especia- lizariam nas commodities para cuja produção tivessem melhores condições. A produção excedente poderia ser então enviada, com vantagem econômica, a outras áreas produtoras (ou consumidoras), e os artigos necessários mas de escassa ou inexistente produção local seriam im- portados. Esse processo de intercâmbio segue o princí- pio da vantagem comparativa. O mesmo princípio, quando aplicado a mercados mundiais, ajuda a explicar o alto nível de comércio in- ternacional hoje existente. Sistemas logísticos eficazes dão ao comércio mundial condições de tirar proveito do fato de não serem as terras e as pessoas que nelas vivem uniformemente produtivas. A logística é a essência do comércio. Ela contribui decisivamente para melhorar o padrão econômico de vida geral. Quanto à empresa isolada operando numa econo- mia de alto nível, a gestão eficaz das atividades logísti- cas é vital. Os mercados são muitas vezes de âmbito na- cional ou internacional, mesmo que a produção se con- centre em pontos relativamente escassos. As atividades logísticas são a ponte que faz a ligação entre locais de produção e mercados separados por tempo e distâncias. A gestão eficaz dessas atividades é a preocupação prin- cipal do nosso livro. 1 C A P Í T U L O Logística Empresarial/Cadeia de Suprimentos – Uma Disciplina Vital Distribuição física é apenas uma maneira diferente de falar do “processo integral dos negócios” 1 — PETER DRUCKER, 1969 1 Peter F. Drucker, “Physical Distribution: The Frontier of Modern Manage- ment”, em Donald J. Bowersox, Bernard J. LaLonde, and Edward Smykay (eds.), Readings in Physical Distribution Management (New York: Macmil- lan, 1969), pág. 4. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 25 26 PARTE I • INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO Exemplo Suponha que consumidores nos Estados Unidos e na Coréia do Sul comprem gravadores de DVD e softwa- re de computador. No ano seguinte, um número seme- lhante de pessoas comprará um programa de processa- mento de textos e um aparelho de televisão. Devido às diferenças nos custos locais de mão-de-obra, tarifas, transporte e qualidade de produto, o preço real para os consumidores fica diferente, como mostrado na Tabe- la 1-1. Um sul-coreano e um norte-americano (neste caso, a economia de ambos os países) devem pagar a soma de US$ 1.450,00 para suprir suas necessidades. No entanto, se cada uma dessas economias nego- ciar com a outra aquelas mercadorias nas quais tem melhor custo, tanto os consumidores quanto as res- pectivas economias sairão ganhando. A Coréia do Sul tem mão-de-obra barata para a produção de gravado- res de DVD, enquanto que os Estados Unidos têm vantagem na produção de software de baixo custo e alta qualidade. Graças à disponibilidade de transporte barato e confiável, é evidente a vantagem econômica de especializar-se naquele produto que pode ser feito a menor custo e comprar o outro do país concorrente. Com transporte de custo razoável, a Coréia do Sul po- de vender DVDs nos EUA a um preço inferior ao do produto feito e transportado localmente. Da mesma forma, os EUA têm a vantagem de custo em design e produção relativa ao software e podem financiar tari- fas razoáveis de transporte para colocar na Coréia do Sul software a preços inferiores aos dos produtos lo- cais. O quadro econômico revisado dessa situação é apresentado na Tabela 1-2. Os consumidores nos dois países acabam economizando US$ 1.450,00 – 1.200,00 = US$ 250,00. Um transporte caro demais impediria que os dois países negociassem e concreti- zassem essas vantagens econômicas comparativas, pois acabaria tornando os preços locais dos importa- dos mais altos que os de quaisquer outros equivalen- tes nacionais. DEFINIÇÃO DE LOGÍSTICA EMPRESARIAL A logística empresarial é um campo relativamente novo do estudo da gestão integrada, das áreas tradicionais das finanças, marketing e produção. Como se viu anterior- mente, atividades logísticas foram durante muitos anos exercidas pelos indivíduos. As empresas também estive- ram permanentemente envolvidas em atividades de mo- vimentação-armazenagem (transporte-estoque). A novi- dade então deriva do conceito da gestão coordenada de atividades inter-relacionadas, em substituição à prática histórica de administrá-las separadamente, e do concei- to de que a logística agrega valor a produtos e serviços essenciais para a satisfação do consumidor e o aumento das vendas. Embora a gestão coordenada da logística seja uma prática relativamente recente, a idéia da gestão coordenada pode ser localizada nos idos de 1844. Nos ensinamentos de Jules Dupuit, um engenheiro francês, a idéia de intercambiar um custo por outro (custos de transporte por custos de armazenamento, por exemplo) TABELA 1-1 Preços ao consumidor para produtos exclusivamente nacionais Software de Gravador processamento Consumidor de DVD de textos Total Coréia do Sul US$ 250,00 US$ 500,00 US$ 750,00 Estados Unidos US$ 400,00 300,00 700,00 As economias US$ 1.450,00 TABELA 1-2 Os benefícios do intercâmbio comercial quando o transporte é barato Software de Gravador processamento Consumidor de DVD de textos Total Coréia do Sul US$ 250,00 US$ 350,00a US$ 600,00 Estados Unidos US$ 300,00b 300,00 600,00 As economias US$ 1.200,00 a Importado dos Estados Unidos. b Importado da Coréia do Sul. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 26 CAPÍTULO 1 • LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CADEIA DE SUPRIMENTOS – UMA DISCIPLINA VITAL 27 estava evidente na alternativa entre transporte por via terrestre ou aquática: O fato é que, sendo o transporte por terra mais rápi- do, mais confiável e menos sujeito a perdas ou danos, apresenta vantagens às quais os negociantes em geral atribuem considerável valor. Contudo, podeocorrer que uma diferença, para menos, de 0,87 franco indu- za o comerciante a utilizar a via aquática; ele conse- gue comprar armazéns e aumentar seu capital flu- tuante de maneira a contar com um abastecimento de mercadorias disponível e adequado para precaver-se contra os efeitos da lentidão e irregularidade da via aquática, e se, feitas as contas, a economia de 0,87 franco no transporte servir também para dar-lhe uma vantagem de poucos cêntimos que seja, ele optará pe- la nova rota... 2 O primeiro livro-texto a sugerir os benefícios da gestão logística coordenada foi publicado em 1961,3 o que em parte explica porque só agora se consolida uma definição generalizada da logística empresarial. Por is- so mesmo, vale a pena explorar algumas definições do escopo e conteúdo dessa matéria. Uma definição dicionarizada do termo logística é a que diz: O ramo da ciência militar que lida com a obtenção, manutenção e transporte de material, pessoal e insta- lações.4 Essa definição situa a logística num contexto mili- tar. Dadas as distinções entre os objetivos e atividades empresariais e militares, essa definição não engloba a essência da gestão da logística empresarial. Uma repre- sentação mais fiel desse campo pode ser aquela refleti- da na definição promulgada pelo Council of Logistics Management (CLM), uma organização de gestores lo- gísticos, educadores e profissionais da área criada em 1962 para incentivar o ensino nesse campo e incentivar o intercâmbio de idéias. Sua definição: Logística é o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo com o propósito de atender às exigências dos clientes.5 Trata-se de uma excelente definição, uma vez que abrange a noção de que o fluxo das mercadorias deve ser acompanhado desde o ponto em que existem como matérias-primas até aquele em são descartadas. A logís- tica também lida, além de bens materiais, com o fluxo de serviços, uma área com crescentes oportunidades de aperfeiçoamento. Essa definição sugere igualmente ser a logística um processo, o que significa que inclui todas as atividades importantes para a disponibilização de bens e serviços aos consumidores quando e onde estes quiserem adquiri-los. Contudo, a definição implica em que a logística é parte do processo da cadeia de supri- mentos, e não do processo inteiro. Assim, o que é o pro- cesso da cadeia de suprimentos, ou, como é mais conhe- cido, gerenciamento da cadeia de suprimentos? Gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS, ou SCM, do inglês supply chain management) é um termo surgido mais recentemente e que capta a essência da lo- gística integrada e inclusive a ultrapassa. O gerencia- mento da cadeia de suprimentos destaca as interações logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma empresa, e des- sas mesmas interações entre as empresas legalmente se- paradas no âmbito do canal de fluxo de produtos. Opor- tunidades para a melhoria dos custos ou serviços ao consumidores são concretizadas mediante coordenação e colaboração entre os integrantes desse canal nos pon- tos em que algumas atividades essenciais da cadeia de suprimentos podem não estar sob o controle direto dos especialistas em logística. Embora definições mais anti- gas, como distribuição física, gestão de materiais, logís- tica industrial, gestão de canais, e até mesmo rhocrema- tics – termos, todos, utilizados para descrever a logísti- ca – tenham promovido este amplo escopo da logística, foram escassas as tentativas de implementar logística além dos limites dos de cada empresa, ou até mesmo além de sua própria função logística interna. Hoje, po- rém, empresas de varejo estão obtendo sucesso no com- partilhamento de informação com os fornecedores, os quais, por sua vez, concordam em manter e gerenciar estoques nas estantes dos varejistas. Estoques no canal e faltas de produtos são menores. As fábricas que ope- ram em esquemas de produção just-in-time estabelecem relacionamentos com fornecedores com benefícios para ambas as partes através da redução dos estoques. Defi- nições da cadeia de suprimentos e da gestão de cadeia de suprimentos que refletem esse escopo mais amplo incluem: 2 Jules Dupuit, “On the Measurement of the Utility of Public Works”, reim- presso em International Economic Papers, nº 2, traduzido do francês para o inglês por R. H. Barback (Londres: Macmillan and Co., Ltd., 1952), pág. 100. 3 Edward W. Smykay, Donald J. Bowersox, and Frank H. Mossman, Physical Distribution Management: Logistic Problems of the Firm (New York: Mac- millan, 1961). 4 Webster’s New Encyclopedic Dictionary (New York: Black Dog & Leven- thal Publishers, 1993), pág. 590. 5 Das normas do Council of Logistics Management, no site www.clml.org. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 27 28 PARTE I • INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO A cadeia de suprimentos abrange todas as atividades relacionadas com o fluxo e transformação de merca- dorias desde o estágio da matéria-prima (extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de in- formação. Materiais e informações fluem tanto para baixo quanto para cima na cadeia de suprimentos. O gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) é a integração dessas atividades, mediante re- lacionamentos aperfeiçoados na cadeia de suprimen- tos, com o objetivo de conquistar uma vantagem competitiva sustentável.6 Depois de cuidadoso estudo das várias definições oferecidas a respeito, Mentzer et al. propõem a seguin- te definição mais ampla e abrangente: O gerenciamento da cadeia de suprimentos é defi- nido como a coordenação estratégica sistemática das tradicionais funções de negócios e das táticas ao longo dessas funções de negócios no âmbito de uma determinada empresa e ao longo dos negócios no âmbito da cadeia de suprimentos, com o objeti- vo de aperfeiçoar o desempenho a longo prazo das empresas isoladamente e da cadeia de suprimentos como um todo.7 O modelo de gerenciamento de cadeia de suprimen- tos na Figura 1-1, visto como uma fonte de informa- ções, mostra o escopo desta definição. É importante destacar que a gerenciamento da cadeia de suprimentos trata da coordenação do fluxo de produtos ao longo de funções e de empresas para produzir vantagem compe- titiva e lucratividade para cada uma das companhias na cadeia de suprimentos e para o conjunto dos integrantes dessa mesma cadeia. É muito difícil, em termos práticos, separar a gestão da logística empresarial do gerenciamento da cadeia de suprimentos. Ocorre que, em um número muito grande de aspectos, as duas têm missão idêntica: Colocar os produtos ou serviços certos no lugar cer- to, no momento certo, e nas condições desejadas, dando ao mesmo tempo a melhor contribuição possí- vel para a empresa. 6 Robert B. Handfield and Ernest L. Nichols Jr., Introduction to Supply Chain Management (Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 1999), pág. 2. 7 John T. Mentzer, William DeWitt, James S. Keebler, Soonhong Min, Nancy W. Nix, Carlo D. Smith, and Zach G. Zacharia, “Defining Supply Chain Ma- nagement”, Journal of Business Logistics, Vol. 22, nº 2 (2001), págs. 1-25. FIGURA 1-1 Um modelo do gerenciamento da cadeia de suprimentos. Fonte: Mentzer et al., “Defining Supply Chain Management”, Journal of Business Logistics, Vol. 22, n.º 2 (2001), pág. 19. Reproduzido com autorização do Council of Logistics Management. A cadeia de suprimentos O ambiente global Coordenação intercorporações (intercâmbio funcional, fornecedores terceirizados, gestão de relacionamentos, estruturas de cadeia de suprimentos) Coordenação interfuncional (confiança, compromisso, risco, dependência, comportamentos) Marketing Vendas Pesquisa e desenvolvimento Previsão Produção Compras Logística Sistemas de informação Finanças Serviços ao cliente Fornecedor do fornecedor Fornecedor Firma focal Cliente do cliente Cliente Fluxos da cadeia de suprimentos Produtos Serviços InformaçãoRecursos financeiros Demanda Previsões Satisfação do cliente/ valor/ lucratividade/ vantagem competitiva _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 28 CAPÍTULO 1 • LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CADEIA DE SUPRIMENTOS – UMA DISCIPLINA VITAL 29 Há quem considere ser o gerenciamento da cadeia de suprimentos apenas um sinônimo de gestão integrada da logística empresarial e que o escopo geral da gestão da cadeia de suprimentos vem sendo valorizado nos últi- mos anos. Há também quem considere a logística um ra- mo secundário do GCS, no qual este leva em considera- ção questões adicionais que vão além do fluxo da produ- ção. Por exemplo, o GCS pode lidar com a precificação dos produtos e a qualidade da produção. Embora o GCS patrocine uma visão do canal de suprimentos com o es- copo mais amplo, a realidade é que as empresas não chegam a pôr este ideal em prática. Fawcett e Magan constataram que as empresas que realmente põem em prática a integração da cadeia de suprimentos limitam seu escopo para um elo acima e um elo abaixo no fluxo da cadeia.8 Seu foco parece preocupar-se com a criação de processos ininterruptos no âmbito de suas empresas e aplicar novas tecnologias de informação para melho- rar a qualidade da informação e a velocidade do seu in- tercâmbio entre os membros do canal. O limite entre os termos logística e gerenciamento da cadeia de supri- mentos é indistinto. Para os propósitos deste texto, ges- tão integrada da logística empresarial e GCS serão men- cionados com sentido semelhante. O foco estará em ge- rir os fluxos de produtos e serviços da maneira mais efi- caz e eficiente, qualquer que seja o título descritivo de sua prática. Isso inclui a integração e coordenação com outros integrantes do canal e provedores de serviços pa- ra aperfeiçoar, sempre que possível, o desempenho da cadeia de suprimentos. A CADEIA DE SUPRIMENTOS A Logística/Cadeia de Suprimentos é um conjunto de ati- vidades funcionais (transportes, controle de estoques, etc.) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual matérias-primas vão sendo convertidas em pro- dutos acabados, aos quais se agrega valor ao consumidor. Uma vez que as fontes de matérias-primas, fábricas e pontos de venda em geral não têm a mesma localização e o canal representa uma seqüência de etapas de produção, as atividades logísticas podem ser repetidas várias vezes até um produto chegar ao mercado. Então, as atividades logísticas se repetem à medida que produtos usados são transformados a montante no canal logístico. Uma única firma, em geral, não tem condições de controlar integralmente seu canal de fluxo de produtos da fonte da matéria-prima até os pontos de consumo, mesmo sendo esta uma oportunidade emergente. Para finalidades práticas, a logística empresarial tem, em ca- da firma, um escopo mais reduzido. Normalmente, es- pera-se um nível máximo de controle gerencial sobre os canais físicos imediatos de suprimento e distribuição, como se mostra na Figura 1-2. O canal físico de supri- mento diz respeito à lacuna em tempo e espaço entre as fontes materiais imediatas de uma empresa e seus pon- tos de processamento. De maneira semelhante, o canal físico de distribuição se refere à lacuna de tempo e es- paço entre os pontos de processamento da empresa e seus clientes. Devido às semelhanças de atividades en- tre os dois canais, o suprimento físico (mais usualmen- te chamado de Gerenciamento de Materiais) e a Distri- buição Física compreendem aquelas atividades que são integradas na Logística Empresarial. A gestão da logís- tica empresarial passou a ser em geral chamada de ge- renciamento da cadeia de suprimentos.9 São também usados termos como redes de valor, corrente de valor e logística enxuta a fim de descrever escopo e objetivo si- milares. A evolução da gerência do fluxo de produtos para o GCS é registrada na Figura 1-3. Embora seja fácil pensar em logística como sendo simplesmente o gerenciamento do fluxo dos produtos dos pontos de aquisição das matérias-primas até o con- sumidor final, para muitas empresas existe também um canal logístico reverso que precisa ser igualmente ad- ministrado. A vida de um produto, do ponto de vista da logística, não se encerra com a entrega ao consumidor. Produtos tornam-se obsoletos, danificados ou inoperan- tes e são devolvidos aos seus pontos de origem para conserto ou descarte. Material de embalagem pode ser devolvido à origem devido a imposições da legislação ambiental ou porque sua reutilização faz sentido em ter- mos econômicos. O canal logístico reverso pode usar o canal logístico normal no todo ou em parte, ou, então, exigir um projeto em separado. A cadeia de suprimentos se encerra com o descarte final de um produto. O canal reverso precisa ser considerado como parte do escopo do planejamento e controle logísticos. 8 Stanley E. Fawcett and Gregory M. Magan, “The Rhetoric and Reality of Supply Chain Integration”, International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Vol. 32, n.º 5 (2002), págs. 339-361. 9 Alguns promotores da gestão da cadeia de suprimentos incluem a precifi- cação em seu escopo. A gestão da logística empresarial raramente chega a tanto. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 29 30 PARTE I • INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO FIGURA 1-3 A evolução da logística para cadeia de suprimentos. Fonte: John Yuva, “Collaborative Logistics: Building a United Network”, Inside Supply Management, Vol. 13, n.º 5 (May/2002)), pág. 50 (modificada). Fragmentação de atividades até 1960 Integração de atividades – 1960/2000 2000 + Previsão de demanda Compras Planejamento de necessidades Planejamento da produção Estoque de fabricação Armazenagem Manuseio de materiais Embalagem Estoque de produtos acabados Planejamento da distribuição Processamento de pedidos Transporte Serviços ao consumidor Planejamento estratégico Serviços de informação Marketing/vendas Financeiro Compras/ gerenciamento de materiais Logística Distribuição física Gerenciamento da cadeia de suprimentos FIGURA 1-2 A cadeia de suprimentos imediata da empresa. Transporte Armazenagem Transporte Clientela Fábrica Transporte Armazenamento Transporte Vendedores/plantas/portos Fluxos de informação _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 30 CAPÍTULO 1 • LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CADEIA DE SUPRIMENTOS – UMA DISCIPLINA VITAL 41 do Vietnã. Além disso, a aplicação de inúmeros bons conceitos logísticos fazia-se evidente. Por exemplo, o serviço aos clientes: Nossa convicção era de que, se cuidássemos bem das nossas tropas, os objetivos seriam concretizados, por maiores que fossem os obstáculos. Os soldados são os nossos clientes. Isso em nada difere do foco determi- nado, concentrado nos clientes que tantos empresários bem-sucedidos também têm. Com os soldados, toma- se conta deles não apenas providenciando para que te- nham refrigerantes gelados, burgers e boas refeições: é preciso garantir-lhes munição na linha de frente, para que saibam, quando chegar a hora do combate, que têm tudo o que é indispensável para se dar bem.26 Na prática, isso se traduziu em que, quando os arti- lheiros dos tanques preferiam canhões de 120 mm, em vez dos de 105 mm, os canhões foram trocados. E que quando se chegou à conclusão de que os carros de com- bate teriam melhor camuflagem em tom marrom, em lugar da tradicional camuflagem verde, foram repinta- dos ao ritmo de sete mil tanques por mês. Ambiente O aumento da população mundial e o desenvolvimento econômico dele resultante acentuaram nossa conscien- tização quanto à importância das questões ambientais. E nestas – seja em reciclagem, embalagem de mate- riais, transporte de materiais perigosos, reforma de pro- dutos para venda complementar – sempre há profissio- nais de logística envolvidos. Afinal de contas, os Esta- dos Unidos produzem, sozinhos, mais de 160 milhões de toneladas anuais de resíduos, o suficiente para lotar um comboio de caminhões de lixo de 10 toneladas equivalente à metade da distância entre a Terra e a Lua.27 Em muitas oportunidades,o planejamento da lo- gística num cenário ambiental não é diferente daquele necessário nos setores de manufatura e/ou serviços. Contudo, existem alguns casos em que surgem compli- cações adicionais, como as regulamentações impostas pelos governos, que tornam a logística para um produ- to mais cara ao ampliar o canal de distribuição. Exemplo Na Alemanha, o governo obriga os varejistas a reco- lher as caixas de cereais nos pontos de venda. Nor- malmente, os consumidores pagam pelo produto, abrem a caixa e despejam o conteúdo em sacolas que trazem de casa, devolvendo as embalagens em com- partimentos de coleta. O vendedor fica responsável pela recuperação dos materiais utilizados, sua reem- balagem e reutilização, ou pelo descarte dentro das normas estabelecidas.28 LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CS NA EMPRESA É tradicional que muitas empresas se organizem em tor- no de funções de produção e marketing. Marketing é basicamente a venda de alguma coisa, e produção, a fa- bricação. Embora poucos empresários estejam dispos- tos a concordar em definir suas organizações de manei- ra assim tão simples, a verdade é que a maioria das companhias privilegia essas funções e ao mesmo tempo trata outras atividades – como tráfego, aquisições, con- tabilidade e engenharia – como áreas de suporte. Essa atitude é até certo ponto justificável, porque se a empre- sa não conseguir produzir e vender, o resto não terá sig- nificado algum. Contudo, seguir cegamente este mode- lo padronizado pode ser perigoso para muitas empresas pelo fato de não reconhecer a importância das ativida- des que devem necessariamente ocorrer entre pontos e tempos de produção ou compra e os pontos e tempos de demanda. São elas as atividades logísticas, que têm con- siderável influência sobre a eficiência e eficácia tanto da produção quanto da comercialização. Exemplo A General Motors (GM) aposta em que a sofisticação dos serviços aos clientes possa reabilitar as vendas dos Cadillacs, aqueles carrões que foram sendo deixa- dos de lado à medida que os compradores optavam por outras marcas norte-americanas e pelos importa- dos. O Cadillac perde oportunidade de venda nos ca- sos em que os clientes se assustam com os grandes prazos de entrega. Há pesquisas comprovando uma perda entre 10 e 11% das vendas potenciais pelo fato de os carros não poderem ser entregues com mais presteza. Um programa de produção e distribuição foi tes- tado na Flórida, um dos melhores mercados para o Cadillac. Cerca de 1.500 Cadillacs foram enviados a um centro regional de distribuição situado em Orlan- do, a partir do qual poderiam ser reenviados para dis- tribuidores em todo o estado em no máximo 24 horas. 26 Ibid. 27 E. J. Muller, “The Greening of Logistics”, Distribution (January 1991), pág. 32. 28 “European Logistics Changes Sharply”, American Shipper (May 1993), pág. 66. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 41 42 PARTE I • INTRODUÇÃO E PLANEJAMENTO Em algumas áreas da Florida, muitos compradores se conformam em esperar até dois dias por automóveis equipados com acessórios. Reforçando esse esforço de vendas, a fábrica de Cadillacs da GM em Detroit aumentou a produção de Cadillacs feitos “sob medi- da”, reduzindo ao mesmo tempo o prazo de entrega. Cadillacs sob medida passaram a chegar aos distribui- dores em cerca de três semanas, uma substancial me- lhoria em relação ao prazo anterior, que variava de oi- to a 12 semanas. Através desse programa, a GM pre- tendia reduzir os estoques dos pontos de venda dos Cadillacs em até 50%.29 Teóricos e práticos tanto do marketing quanto da produção não ignoram a importância da logística. Na verdade, cada uma dessas áreas entende estar a logísti- ca no âmbito do seu escopo de ação. Por exemplo, a de- finição da gestão de marketing, a seguir, inclui a distri- buição física: O marketing (gerenciamento) é o processo de plane- jamento e execução da concepção, precificação, pro- moção e distribuição de idéias, bens e serviços a fim de criar intercâmbio com grupos-alvo que satisfaçam objetivos individuais e organizacionais.30 A preocupação do marketing é situar seus produtos ou serviços em canais de distribuição convenientes de forma a facilitar o processo de troca. O conceito de ad- ministração de produção/operações em geral inclui ati- vidades logísticas. Por exemplo, “a gerência de opera- ções é responsável pela produção e entrega de bens ma- teriais e serviços”.31 A divisão de produção/operações, por outro lado, normalmente irá se concentrar mais nas atividades diretamente relacionadas à manufatura e seu objetivo principal, que é o de produzir pelo menor cus- to unitário possível. Vendo-se, no entanto, as atividades de fluxo do produto como um processo a ser coordena- do, os aspectos do fluxo dos produtos no âmbito do marketing, da produção e da logística são administrados coletivamente a fim de serem concretizados os objetivos dos serviços ao clientes. A diferença em objetivos operacionais (maximizar as receitas e minimizar os custos) para as operações de marketing e produção pode levar a uma fragmentação do interesse e responsabilidade pelas atividades logísti- cas, e também a uma ausência de coordenação entre as atividades logísticas no seu todo. Isto, por sua vez, pode levar a reduzir os níveis de serviços ao cliente ou a ele- var os custos logísticos totais até níveis maiores que o necessário. A logística empresarial representa uma re- definição, seja por estruturas organizacionais formais ou conceitualmente na visão dos administradores, das atividades de movimentar/estocar pode ter sido parcial- mente controlada pelo marketing e parcialmente por operações/produção. Se as atividades logísticas forem vistas como uma área independente de ação gerencial, as relações entre elas e as atividades do marketing e produção/operações seriam como mostradas na Figura 1.7. O marketing se- ria responsável principalmente pela pesquisa de merca- do, promoção, gestão da força de vendas e pelo mix do produto, que cria valor de posse do produto. Produ- ção/operações se preocuparia com a criação do produto ou serviço, que cria valor de forma no produto. Suas responsabilidades chaves seriam controle de qualidade, planejamento e programação da produção, projeto da função, planejamento de capacidade, manutenção, e mensuração e padrões de trabalho. A logística cuidaria daquelas atividades (definidas de antemão) que dão a um produto ou serviço valor de tempo e lugar. Essa se- paração de atividades da empresa em três concentra- ções, em lugar de duas, nem sempre é necessária ou aconselhável para que se atinja a coordenação pretendi- da das atividades logísticas. O marketing e a produ- ção/operações, quando concebidos e coordenados na maneira mais ampla, podem concretizar um trabalho eficaz na administração das atividades logísticas sem a criação de uma entidade adicional na organização. Mes- mo se uma área funcional independente for criada na empresa para a logística a fim de concretizar um contro- le eficaz das suas atividades logísticas imediatas, os profissionais do setor precisarão encarar sua responsa- bilidade como sendo a de coordenar o conjunto do pro- cesso da cadeia de suprimentos, em vez de serem sim- plesmente administradores locais das atividades logísti- cas. Agir em sentido contrário pode fazer com que se- jam perdidas oportunidades substanciais de reduzir os custos e melhorar a logística dos serviços aos clientes. A Figura 1-7 mostra igualmente atividades que es- tão na interface do marketing e logística e produ- ção/operações com logística no âmbito da empresa. Ati- vidade de interface é aquela que não se tem como admi- nistrar efetivamente em uma área funcional. A interface é criada pela separação arbitrária das atividades da em- presa em um número limitado de áreas funcionais. A gestão das atividades de interface por uma única função pode conduzir a um desempenho não desejado pela em- 29 Wall Street Journal, August 16, 1994, A5. 30 Definição aprovada pela American Marketing Association e comentada por Philip Kotler em MarketingManagement: Planning, Analysis, Implementa- tion, and Control, 10ª ed. (Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 2000), pág. 13. 31 John O. McClain and L. Joseph Thomas, Operations Management: Produc- tion of Goods and Services, 2ª ed. (Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 1985), pág. 14. _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 42 CAPÍTULO 1 • LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CADEIA DE SUPRIMENTOS – UMA DISCIPLINA VITAL 43 presa devido à subordinação de seus objetivos maiores a metas funcionais individuais – um risco potencial re- sultante da formatação da estrutura organizacional por departamentos que é tão comum nas empresas atuais. A fim de concretizar a coordenação interfuncional, é in- dispensável que se estabeleça algum grau de sistema de mensuração e de incentivos à cooperação entre as fun- ções participantes. Isso é igualmente verdade no caso da coordenação interorganizacional necessária para admi- nistrar os fluxos dos produtos ao longo dos limites da empresa. É porém importante destacar que estabelecer um terceiro grupo funcional não deixa de ter as suas des- vantagens. Existem hoje duas interfaces funcionais, em lugar daquela única que havia anteriormente entre o marketing e produção/operações. Alguns dos mais difí- ceis problemas administrativos surgem em função dos conflitos interfuncionais que ocorrem quando se tenta gerenciar as atividades de interface. Parte deste conflito potencial pode ser dissipada mediante a criação de um novo esquema organizacional em que produção/opera- ções e logística são integrados num grupo maior, cha- mado cadeia de suprimentos. Exatamente quando os gerentes estão começando a entender os benefícios do gerenciamento logístico inter- funcional, começa-se a incentivar do gerenciamento in- terorganizacional Os proponentes do gerenciamento da cadeia de suprimentos que examinam a área mais am- plamente do que têm feito alguns profissionais da logís- tica promovem acaloradamente a necessidade de cola- boração entre os membros do canal de suprimentos si- tuados fora do controle imediato do profissional da lo- gística da empresa, isto é, entre empresas legalmente in- dependentes. A colaboração entre os integrantes do ca- nal ligados por intermédio das relações comprador-ven- dedor é essencial para concretizar os benefícios de cus- to-serviço que não conseguem ser realizados pelos ge- rentes dotados de visão estritamente interna de suas res- ponsabilidades. Os gerentes da cadeia de suprimentos entendem-se detentores de responsabilidade pelo con- junto do canal de suprimentos com o escopo ilustrado na Figura 1-8. Administrar neste cenário de abrangência bem mais ampla é o novo desafio com que depara o pro- fissional de logística contemporâneo. OBJETIVOS DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL/CS Como parte dos objetivos mais gerais da companhia, a lo- gística empresarial procura atingir metas de processos de cadeia de suprimentos que venham a conduzir a organi- zação para os objetivos globais. Especificamente, o pro- pósito é desenvolver um mix de atividades logísticas do qual venha a resultar o máximo retorno possível do inves- timento no menor prazo. Essa meta tem duas dimensões: 1) o impacto do projeto do sistema logístico em termos de contribuição de rendimentos; 2) o custo operacional e as necessidades de capital desse projeto. De preferência, o especialista logístico deveria co- nhecer antecipadamente qual seria a receita adicional gerada por meio do incremento de melhorias na quali- dade dos serviços ao cliente. Não há, porém, maneira de prever essa receita com razoável exatidão. O nível do serviço ao cliente é estabelecido num valor alvo, nor- malmente algo suportável para os clientes, pelas vendas FIGURA 1-7 As interfaces da logística/CS com o marketing e a produção. Produção/operações Exemplos de atividades: • Controle de qualidade • Cronograma detalhado da produção • Manutenção dos equipamentos • Planejamento de capacidade • Mensuração e padrões de atividades Atividades de interface: • Cronograma do produto • Localização da fábrica • Aquisição Amostra de atividades logísticas: • Transporte • Estoque • Processamento de pedidos • Manipulação de materiais Atividades de interface: • Serviços padronizados ao cliente • Precificação • Embalagem • Localização do varejo Marketing exemplos de atividades: • Promoção • Pesquisa de mercado • Mix de produtos • Gestão do pessoal de vendas Interface produção logística Interface marketing/ logística _Ballou/Ronald_01 21.09.06 14:55 Page 43 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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