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Joaquim Brasileiro Esta obra busca discutir como a gestão da cadeia de suprimentos vem se tornando uma das áreas mais importantes nas empresas, considerando a necessidade de redução de custos logísticos, a otimização na gestão dos processos e o aumento da qualidade dos serviços das várias áreas da cadeia logística. Construído com a preocupação fundamental de apresentar o conteúdo de uma forma didática, este livro baseia-se de modo consistente no arcabouço teórico e conceitual da área, buscando sempre a aplicabilidade do conteúdo no mundo empresarial. GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Joaquim Brasileiro GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIM ENTOS Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6503-5 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 0 3 5 Código Logístico 58717 Gestão da cadeia de suprimentos IESDE 2019 Joaquim Brasileiro © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: julia.m/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B83g Brasileiro, Joaquim Gestão da cadeia de suprimentos / Joaquim Brasileiro. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE Brasil, 2019. 128 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6503-5 1. Logística empresarial. 2. Canais de distribuição - Administração. 3. Distribuição de mercadorias. I. Título. 19-59835 CDD: 658.78 CDU: 658.78 Joaquim Brasileiro Mestre em Administração de Empresas pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV) do Rio de Janeiro. Pós-graduado em MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atuou como executivo por mais de 20 anos em empresas multinacionais nas áreas de logística e comércio exterior. Atualmente é sócio-diretor de uma companhia logística e professor em cursos de graduação e pós-graduação. Também é conselheiro da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do Conselho de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Associação Comercial do Paraná (Concex/ACP). Sumário Apresentação 7 1. Contextualizando a logística 9 1.1 Contexto histórico e evolução da logística 9 1.2 Integração da logística com outras áreas 14 2. Gestão de armazéns e centros de distribuição 25 2.1 Gestão de armazéns 25 2.2 Gestão de centros de distribuição 32 2.3 Os custos logísticos 37 2.4 Ferramentas de gestão 40 3. A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas 45 3.1 Gestão estratégica de produção 46 3.2 Gestão estratégica de compras 51 3.3 Gestão da recepção dos materiais e da expedição de produtos acabados 53 3.4 Gestão estratégica de vendas 55 3.5 Integração nos vários níveis da organização 58 4. Curva ABC para gestão de estoques e a logística enxuta 65 4.1 Principais características da curva ABC 65 4.2 Gestão de estoques 70 4.3 Logística enxuta 74 5. Indicadores de desempenho e sistemas de informação 85 5.1 Processos operacionais x financeiros 85 5.2 Indicadores de desempenho dos fornecedores 87 6. A logística internacional 97 6.1 Características e aplicabilidades dos modais de transportes internacionais 97 6.2 Provedores de logística global 106 6.3 Custos logísticos internacionais 109 7. A logística do futuro 113 7.1 Tendências da logística do futuro 113 7.2 A era da logística 4.0 116 Gabarito 123 Apresentação Esta obra busca discutir como a gestão da cadeia de suprimentos vem se tornando uma das áreas mais importantes nas empresas, considerando a necessidade de redução de custos logísticos, a otimização na gestão dos processos e o aumento da qualidade dos serviços das várias áreas da cadeia logística de suprimentos. Assim, no primeiro capítulo, é discutido o contexto histórico do surgimento da área de logística, que nasceu após a Segunda Guerra Mundial e se tornou necessária às atividades de qualquer empresa. No segundo capítulo, abordamos uma das grandes tendências atuais da área logística: a gestão de armazéns e centros de distribuição por meio do uso de processos logísticos inteligentes e ancorados na tecnologia da informação. Já o terceiro capítulo propõe uma visão sistêmica das áreas operacionais da empresa, buscando soluções que possam otimizar a gestão dos processos logísticos que interessam às demais áreas logísticas. No quarto capítulo, tratamos da importância do uso da ferramenta de gestão de estoques denominada curva ABC. Além disso, abordamos a logística enxuta, que visa à plena utilização dos recursos disponíveis, otimizando processos logísticos. O quinto capítulo apresenta a necessidade de criação e utilização dos indicadores de desempenho pelas empresas como uma forma de avaliação da performance dos fornecedores. 8 Gestão da cadeia de suprimentos No sexto capítulo, abordamos a logística internacional e os modais de transportes internacionais mais diversos. Por fim, no último capítulo, tratamos das tendências e dos cenários para a logística do futuro e como será essa “nova” logística. Assim, convidamos você para desfrutar deste livro, que foi construído tendo como preocupação fundamental apresentar o conteúdo de uma forma didática, baseando-se de modo consistente no arcabouço teórico e conceitual da área e buscando sempre a aplicabilidade do conteúdo no mundo empresarial. Bons estudos! 1 Contextualizando a logística Neste primeiro capítulo, faremos uma introdução conceitual e histórica contextualizando os principais pontos da logística como área organizacional, assim como seu relacionamento com outras áreas da empresa. Também estudaremos sua evolução ao longo do tempo até se consolidar como uma das mais importantes áreas do contexto empresarial do século XXI. Muitas vezes, sua gestão eficaz e competitiva proporciona a sobrevivência das empresas nesse mundo globalizado e complexo no qual as grandes, médias e pequenas companhias buscam diferenciais para satisfazer seus clientes e, consequentemente, conquistar maior participação de mercado. Nesse contexto, a área de logística é a grande impulsionadora de qualquer empresa. 1.1 Contexto histórico e evolução da logística Historicamente, a logística foi importante para o planejamento tático em diversas guerras devido às suas aplicabilidades, que obviamente não se faziam notar, em especial à época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), já que a área de logística naquele período não tinha o entendimento sistêmico de ser vital para as organizações, como compreendemos hoje. Nesses conflitos, o planejamento estratégico de operações logísticas já podia ser visto no uso de ferramentas para o ataque ao campo inimigo, ajudando também a definir como armazenar alimentos e medicamentos, de que maneira retirar os feridos 10 Gestão da cadeia de suprimentos e mortos dos campos de batalhas, em que momento recuar, orientando ainda à estratégia de perder a batalha para, depois, ganhar a guerra. Ou seja, a importância da área de logística como conhecemos na atualidade já estava presente no início do século XX. Se voltarmos mais no tempo, observaremos que Napoleão Bonaparte também utilizava essas mesmas aplicabilidades da área de logística analogamente à Primeira e à Segunda Guerras Mundiais. Segundo Ching (2010, p. 1): O conceito de logística, existente desde a década de 40, foi utilizado pelas Forças Armadas norte-americanas. Ele relacionava-se com todo o processo de aquisição e fornecimento de materiais durante a Segunda Guerra Mundial, e foi utilizado por militares americanos para atender a todos os objetivos de combate da época. A partir das guerras,os conceitos e as aplicabilidades da logística foram se aperfeiçoando ao longo do tempo, tornando-se uma fonte inesgotável de recursos para melhorias na gestão em qualquer tipo de companhia, desde uma empresa até uma organização não governamental (ONG). Ainda no contexto militar, as forças armadas norte-americanas tiveram um papel fundamental para a área de logística ao introduzirem o processo de aquisição e fornecimento de materiais durante a Segunda Guerra Mundial, especificamente. De acordo com Ching (2010, p. 3), “podemos entender a logística, na perspectiva da cadeia de suprimentos, como um conjunto de ações que começa pela caracterização das potenciais necessidades do mercado e dos produtos e serviços visando esse mercado”. Esse processo de aquisição e fornecimento é a espinha dorsal da gestão da cadeia logística de suprimentos das empresas do século XXI, nas quais a etapa de aquisição se refere às atividades das compras nacionais ou internacionais de matérias-primas, peças, insumos e de tudo aquilo que é necessário para o processo produtivo. Contextualizando a logística 11 De outro lado, a etapa de fornecimento é o processo de entrega dos produtos acabados da empresa. Ou seja, essas duas “pontas” primordiais da área de logística de suprimentos, o input e o output, além de tudo o que está entre elas, são classificadas como atividades da gestão da cadeia logística de suprimentos. Adiante, com o desenvolvimento deste livro, falaremos em detalhes sobre a importância dessas atividades logísticas na empresa. O aperfeiçoamento e a difusão da logística como uma área com “vida própria” nas empresas somente ocorreu a partir da década de 1960, graças a multinacionais norte-americanas, em especial às do segmento automotivo, como General Motors, Ford e Chrysler. Esse desenvolvimento não aconteceu por acaso, mas sim porque o processo produtivo de uma montadora é extremamente complexo, com milhares de itens e componentes adquiridos de diversos países para a produção de um automóvel. Dessa forma, a logística ganhou o mundo e as empresas de todos os segmentos econômicos, tornando-se uma área indispensável no planejamento estratégico de operações em busca de melhorias contínuas do processo produtivo e de reduções de custos logísticos, favorecendo de maneira significativa um aumento da margem de comercialização. Ou seja, no contexto empresarial, a logística pode e deve contribuir com o aumento da margem de comercialização ou de contribuição, conhecida no mundo dos negócios como margem de lucro bruto, representada por uma equação linear simples: PV = custos + MC Onde: • PV = preço de venda de um produto ou serviço. • Custos = custos de produção e despesas para a confecção de um determinado produto ou preparação de um serviço. • MC = margem de lucro bruto. input: primeiro item a adentrar no processo de transformação. output: produto depois de concluído o processo de transformação. 12 Gestão da cadeia de suprimentos 1.1.1 A logística de suprimentos e a criação de vantagens competitivas Segundo Christopher (2011, p. 35), “em última análise, o sucesso ou o fracasso de qualquer empresa será determinado pelo nível de valor que ela oferece para o cliente em seus mercados escolhidos”. Nesse sentido, uma das maiores contribuições da gestão da cadeia logística de suprimentos é agregar valor aos seus clientes finais com reduções de custos, diminuição dos prazos de entrega, criação de soluções logísticas e busca de melhorias contínuas na gestão dos processos em toda a cadeia – ou seja, na geração de vantagens competitivas. Por isso, quando pensamos em uma relação entre empresa e cliente, inevitavelmente colocamos de um lado as áreas de compras e vendas, e, de maneira natural, a cadeia de suprimentos dessa empresa entra em ação, porque essa área reflete a operacionalidade, representada aqui por todo o conjunto de atividades operacionais logísticas. Para iniciarmos essa relação também operacional, há a necessidade imediata de começar o relacionamento entre as duas partes, por meio do mapeamento das necessidades dos clientes. A etapa inicial de mapeamento se traduz em entender previamente como funcionam os clientes da empresa com base em uma “fotografia” atual de toda a operação e o que eles gostariam de receber no conjunto de operações logísticas da parte do fornecedor, ou seja, um novo projeto ou design logístico que os atenda de modo eficaz. Uma das ferramentas de gestão estratégica que propicia a obtenção de informações relevantes na busca de agregação de valor aos clientes é o benchmarking, que na verdade é uma ferramenta originária do marketing e que atende perfeitamente a diversas áreas da organização. E na área logística, qual é a contribuição dessa ferramenta? O benchmarking é um processo de análise dos concorrentes do mesmo modelo de negócio ou área da empresa em Contextualizando a logística 13 que há possibilidade de adaptar as melhores práticas na gestão dos processos. Ou seja, é identificar o que os concorrentes estão fazendo de melhor na gestão da cadeia logística de suprimentos deles e que pode ser trazido para a empresa, adaptando as melhores práticas para a realidade dessa organização. A análise SWOT também é uma ferramenta muito importante para a organização como um todo, pois apresenta uma análise específica de cada área. Essa análise trabalha tanto o ambiente interno da organização quanto o externo. Veja na Figura 1 as forças e fraquezas de uma empresa: nelas, vemos o ambiente interno da organização, que representa as variáveis controláveis; do outro lado, vemos as ameaças e oportunidades que estão no ambiente externo, portanto são variáveis incontroláveis: Figura 1– Análise SWOT Strenghts – Forças Vantagens Capacidades Recursos Weaknesses – Fraquezas Desvantagens Vulnerabilidades Limitações Opportunities – Oportunidades Chances Desenvolvimentos Benefícios Threats – Ameaças Obstáculos Efeitos externos Riscos A ná lis e i nt er na A ná lis e e xt er na pr iz m a/ Sh ut te rs to ck No ambiente interno, estão as forças e fraquezas, com as variáveis controláveis que se localizam dentro da empresa; já no ambiente externo estão as oportunidades e ameaças do mercado. Com essa ferramenta, é possível e recomendável realizar uma análise com o enfoque na cadeia de suprimentos da empresa de 14 Gestão da cadeia de suprimentos maneira crítica e construtiva, com o objetivo principal de atender os clientes da empresa e gerar a satisfação deles. A SWOT ajuda a identificar, por exemplo, a falta de treinamento e capacitação dos colaboradores, que seria uma fraqueza; já uma força identificada pode ser a quantidade de recursos financeiros, ou seja, a área logística possui um bom orçamento anual (budget) e, dessa forma, pode treinar e capacitar os seus colaboradores. Vemos aqui que as variáveis são controláveis por parte da área logística porque dependem somente da empresa. Do outro lado, no ambiente externo, há necessidade de identificação do que é uma oportunidade. Por exemplo, exportar os produtos para a China representa um aumento nas receitas da empresa e nas atividades logísticas, além de uma quebra de dependência do mercado brasileiro, que atravessa uma recessão econômica; a ameaça pode estar em um concorrente que utiliza uma inovação, como uma tecnologia aplicada à logística de suprimentos que supera qualquer companhia do mercado. Nesse caso, a empresa deve buscar também uma inovação tecnológica do mesmo nível, pelo menos a fim de neutralizar a superioridade do concorrente e evitar perdas de clientes para ele. Portanto, o ambiente externo simboliza as variáveis incontroláveis, que não dependem da empresa e atingem a todos do mesmo segmento econômico. 1.2 Integração da logística com outras áreas Com o tempo, a área de logística foi evoluindo e agregando cada vez mais atividades operacionais que antes estavam separadas. Até então, não se atribuíao conceito e a característica fundamental da área de logística, que é ser integrada – ou, como chamamos no ambiente corporativo, supply chain management (SCM), traduzido como gestão da cadeia de suprimentos. Atualmente, o departamento de logística nas empresas é único e integra todas as atividades logísticas, como planejamento, programação e controle de produção Contextualizando a logística 15 (PPCP), compras, recepção de materiais, armazenagem, estoques e expedição do produto acabado. Devido a isso, a logística se transformou em uma das principais áreas organizacionais, e a integração das suas atividades operacionais ao longo do tempo foi e ainda é fundamental para o bom desempenho da empresa. A Figura 2, a seguir, evidencia a integração da cadeia logística de suprimentos, desde a aquisição de produtos e serviços junto aos fornecedores da empresa até a gestão do processo final, com o atendimento aos consumidores na entrega de produtos e serviços acabados. Figura 2 – A principal característica da área de logística: integração Fluxo financeiro e de produto Fluxo de informações Fornecedor Indústria Distribuição Varejo Consumidor Fonte: Elaborada pelo autor. Com a globalização, a área de logística conquistou importância em escala mundial no dia a dia de empresas pertencentes a vários segmentos econômicos, desde as prestadoras de serviços até as indústrias. No cenário complexo e turbulento atual, com inúmeras variáveis que afetam a vida das empresas, o planejamento estratégico de operações logísticas surge como uma das principais atividades da gestão da cadeia logística de suprimentos. É o início de todo o processo logístico na “ponta” das aquisições de matérias-primas, peças e insumos para suprir as diversas linhas de produção de uma indústria, que precisa conhecer os níveis de produção para os diversos itens que serão produzidos com base na informação 16 Gestão da cadeia de suprimentos essencial que vem da área de vendas, isto é, o volume de vendas para os próximos três, seis ou 12 meses. A informação sobre o volume de vendas, ou seja, a previsão da área de vendas de uma empresa, dá início às atividades de produção e logística, e os processos logísticos entram em ação a partir da área de suprimentos, de modo que vamos suprir as linhas produtivas com base no volume de vendas estabelecido, sem gerar excesso de estoque. Como sabemos, essa não é uma tarefa fácil, pois níveis excessivos de matérias-primas, peças e insumos em estoque podem acarretar capital financeiro (capital de giro) imobilizado, isto é, dinheiro paralisado, conhecido como o “oxigênio” das empresas, o qual poderia estar empregado em outras áreas, como em aplicações financeiras ou no pagamento de fornecedores. Por isso, informações que determinarão as atividades logísticas (como quantidade, variedade, qualidade, preços e prazos) são primordiais para atender ao volume de vendas estipulado e assumido pelo alto staff da empresa. Dessa forma, a logística, por ter uma ampla perspectiva sobre o conjunto de atividades operacionais integradas – que se inicia com a identificação de cenários e tendências dos respectivos produtos e serviços pela área de vendas –, deve obter aprovação da direção para iniciar as suas atividades operacionais, por intermédio do planejamento estratégico. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 194), “uma mudança significativa ocorreu como resultado da disponibilidade de informações durante a década de 90, o mundo do comércio sofreu o impacto irrevogável dos avanços da informática e da staff: termo inglês que significa “pessoal”, no sentido de equipe. Contextualizando a logística 17 internet”. Uma evolução importante da área de logística no mundo empresarial se deu a partir da década de 1990, em especial no Brasil – com pelo menos 10 anos de atraso em relação aos países mais industrializados do mundo globalizado, como EUA, Alemanha, Reino Unido, França e Japão. Nesse período, a logística deu um grande “salto” e se consolidou como uma das mais importantes áreas da organização, em que, via de regra do mundo globalizado, as gigantes multinacionais buscam produzir com competitividade global – os chamados produtos WCM, ou seja, aqueles de classe mundial. Temos como exemplo os produtos da Apple, fabricados na China, onde os fatores de competitividade mundial estão presentes para uma empresa desse porte, como baixos custos logísticos operacionais, de produção e de mão de obra e uma infraestrutura aeroportuária, portuária, de rodovias e ferrovias que fazem a diferença no total dos custos logísticos operacionais que impactam a competitividade da empresa e de seus produtos. A logística tem um papel inigualável nas atividades das organizações, e devemos separá-la em duas para melhor compreendermos suas tarefas e responsabilidades. De acordo com Ching (2010, p. 10), “A logística exerce a função de responder por toda a movimentação de materiais dentro do ambiente interno e externo da empresa e as suas atividades podem ser divididas”, conforme mostrado a seguir: 1. Atividades primárias: são aquelas essenciais para o cumprimento das funções logísticas. a. Transportes: os modais podem ser rodoviário, ferroviário, aéreo, aquaviário e marítimo. Têm importância fundamental na movimentação dos materiais adquiridos pela empresa, bem como representam o componente mais significativo do ponto de vista do custo total logístico. 18 Gestão da cadeia de suprimentos b. Gestão dos estoques: de maneira muito objetiva, significa dizer que o nível de estoques necessário para uma empresa é fundamental, ou seja, não pode ser nem menor do que o necessário, porque há riscos de paralisação da produção, nem maior (excesso), pois significa capital imobilizado ou dinheiro parado, e isso é crucial nos tempos de recessão que vivemos no Brasil atualmente. c. Processamento de pedidos: é um dos processos logísticos mais importantes, pois determina o tempo de entrega dos produtos e serviços junto aos fornecedores. A partir desse momento, é feita a estipulação dos prazos de entrega no âmbito da produção, em especial o PPCP (planejamento, programação e controle de produção). 2. Atividades secundárias: são aquelas que desempenham um papel de apoio às atividades primárias. c. Armazenagem: diz respeito à utilização de um espaço empresarial para estocar os produtos. d. Manuseio de materiais: refere-se a toda movimentação (entrada e saída) dos produtos no local de armazenagem. e. Embalagem: tem como objetivos centrais a proteção dos produtos e a redução dos custos logísticos. f. Programação de produtos: é de responsabilidade do PPCP. g. Manutenção da informação: utilização de sistema adequado que possa integrar todas as atividades logísticas, como planejamento de produção, compras e recepção dos materiais. Na Figura 3, a seguir, temos uma demonstração da gestão dos processos logísticos de acordo com a eficiência e a eficácia. Contextualizando a logística 19 Enquanto a eficiência refere-se aos meios para atingir determinados objetivos, a eficácia representa o resultado em si, ou seja, um fim. Figura 3 – Fluxo da gestão do processo entre eficiência x eficácia Entradas Saídas Objetivos Processo Eficácia Saídas: objetivos Eficiência Saídas Entradas Fonte: Elaborada pelo autor. Evidenciadas as diferenças entre a eficiência e a eficácia sob os aspectos da gestão dos processos logísticos, é importante frisar que, muitas vezes, criamos uma inadequada interpretação e aplicabilidade desses importantes conceitos. Cabe ressaltar que a eficiência é o meio que leva ao objetivo a ser alcançado, e eficácia é o resultado. 1.2.1 Logística e marketing Uma grande interface organizacional que identificamos na gestão da cadeia logística de suprimentos é, sem dúvida, a área de marketing. Ela tem uma afinidade muito grande com a área de logística porque, quando falamos de logística, no fundo estamos nos preocupando com o nível desatisfação dos nossos clientes, e essa preocupação se inicia com base no planejamento estratégico de operações logísticas, desde o processo de aquisição até o fornecimento, passando pelas demais atividades operacionais da gestão da cadeia logística de suprimentos. 20 Gestão da cadeia de suprimentos Chamamos atenção para as afinidades entre essas duas áreas, que possuem como objetivo central uma preocupação em comum: atender aos níveis de satisfação dos clientes, porque, via de regra, um produto final de má qualidade entregue ao cliente não se reflete internamente de maneira negativa na área de marketing ou de vendas, mas impacta a área de logística. Isso acontece porque, provavelmente, houve aquisição de matérias-primas, peças e insumos que não eram de boa qualidade – e, portanto, a área de compras, que é um elo importantíssimo na cadeia de suprimentos, deve reavaliar os fornecedores, criar alguns itens de controle ou até mesmo trocar os fornecedores por outros com maiores níveis de qualidade de seus produtos, que para nós seriam matérias-primas, peças e insumos. De maneira pragmática, os profissionais da área de logística devem ter uma visão sistêmica e abrangente da empresa, e não somente restrita à sua atuação. Isso significa trabalhar para além da logística, em sintonia também com a área de marketing. Nesse sentido, uma das ferramentas fundamentais de gestão é o Customer Relationship Management (CRM), utilizado em conjunto pelas duas áreas. O CRM permite identificar os níveis de satisfação e também de pretensões dos clientes da empresa com relação a prazo de entrega, qualidade do produto, quantidade entregue, nível de atendimento, pós-venda e outros indicadores importantes para que a área de logística possa dar feedbacks aos clientes internos, bem como trabalhar novos níveis de melhorias contínuas, com o objetivo fundamental de atender cada vez melhor. 1.2.2 Logística e tecnologias da informação A gestão da cadeia logística de suprimentos, com sua evolução ao longo do tempo, também foi necessitando cada vez mais da tecnologia da informação (TI) e dos respectivos aplicativos Contextualizando a logística 21 da área de logística em suas diversas atividades operacionais, passando por planejamento de produção, compras, recepção dos materiais, armazenagem, estoques, distribuição nas linhas de produção, expedição do produto acabado (estoque de produtos acabados) e entrega aos clientes. De acordo com Christopher (2011, p. 3), “A logística é em essência uma orientação e uma estrutura de planejamento que visam criar um único plano para o fluxo dos produtos”. Nesse contexto, os sistemas informacionais mais confiáveis são aqueles que possibilitam a integração de todas as subáreas da gestão da cadeia logística de suprimentos, porque permitem aos profissionais pertencentes a elas a visualização de todo o processo logístico e da fase atual em que se encontra o produto, a armazenagem, o transporte e outros. A visualização com as opções de consulta, inclusão, alteração e exclusão das informações relativas às áreas de responsabilidade proporciona um processo decisório assertivo, confiável e, ao mesmo tempo, célere. Esse processo tem como objetivo atender aos clientes – sejam internos, representados pelas áreas organizacionais que demandam a logística, ou externos, que são os clientes finais – buscando a maximização da gestão dos processos logísticos, a fim também de reduzir custos, algo extremamente importante para a melhoria da margem de lucro bruto da empresa, como vimos anteriormente. No entanto, vale a pena lembrar que a escolha de sistema integrado às atividades da cadeia logística de suprimentos tem um custo significativo de compra e implementação do software e de treinamento de todos os colaboradores envolvidos na área de logística da empresa. Dessa forma, a relação financeira custo-benefício deve ser analisada considerando o porte da companhia e o nível de complexidade das operações logísticas. 22 Gestão da cadeia de suprimentos Considerações finais Quando se trata de área de conhecimento, é importante sempre começar pela sua origem. Por isso, iniciamos este capítulo com uma contextualização histórica da área de logística, abordando sua evolução e as atividades em suas subáreas: planejamento de produção, compras, recepção de materiais, distribuição nas linhas de produção (PPCP), expedição de produtos acabados, transportes e atendimento aos clientes. E, por último, conseguimos entender como a área de logística de suprimentos cria valor aos seus clientes e como pode evoluir e buscar melhorias contínuas que criem vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Ao chegar ao contexto atual, é preciso conhecer duas áreas fundamentais em qualquer tipo de organização que possua interface e atividades muito próximas à área de gestão da cadeia logística de suprimentos: o marketing e a tecnologia da informação. O primeiro contribui para a logística por ser fonte do CRM, ferramenta importante em todas as etapas da cadeia de suprimentos. Entretanto, isso só se torna possível graças à área de TI, que atualmente fornece sistemas e aplicativos integrados com as atividades logísticas e todas suas subáreas envolvidas, possibilitando visualizar em tempo real produto, armazenagem, transporte, entre outros. Dessa forma, profissionais da área de logística conseguem tomar decisões assertivas, confiáveis e ágeis com o objetivo de atender aos seus clientes internos (como áreas organizacionais internacionais que demandam a logística) e, de maneira prioritária, atender e satisfazer às expectativas de seus clientes externos. Contextualizando a logística 23 Ampliando seus conhecimentos • CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada: supply chain. São Paulo: Atlas, 2010. O livro Gestão de estoques na cadeia de logística integrada é um importante material sobre, como também é conhecida, a supply chain management. Nele, há um conteúdo muito bem explicado a respeito das etapas envolvidas nesse processo, desde a escolha do fornecedor até as parcerias com intermediários, provedores de serviços e clientes. Para complementar o que estudamos até agora, leia o Capítulo 1 do livro de Ching, que trata das funções da cadeia logística de suprimentos e sua evolução histórica. • BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão logística da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2006. Os autores de Gestão logística da cadeia de suprimentos são respeitados professores e pesquisadores desse tema e fazem, nesse livro, uma revisão bastante completa da gestão logística e da cadeia de suprimentos, assuntos que, conforme vimos neste capítulo, têm ligação direta com o desempenho da empresa como um todo. Para complementar seus estudos, leia o Capítulo 1, intitulado “Cadeias de suprimentos do século XXI”, que apresenta informações importantes para qualquer empresa do mercado atual. • OPERAÇÃO Valquíria. Direção: Bryan Singer. Estados Unidos; Alemanha: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), 2008. 121 min. Para ver exemplos relacionados ao que estudamos neste capítulo inicial, assista a Operação Valquíria, estrelado por 24 Gestão da cadeia de suprimentos Tom Cruise. Esse filme relata o declínio de Adolf Hitler e uma conspiração interna dos seus oficiais para derrubá-lo, porque os políticos e os empresários alemães já estavam fartos da obsessão de Hitler pelo poder. Observe os elementos logísticos utilizados à época e procure contextualizar e identificar o avanço na logística que temos na atualidade. Atividades 1. Qual é a principal diferença entre a logística do início do século XX e a dos dias atuais? Explique. 2. Conceitue logística e descreva a importância de suas funções no processo produtivo de uma empresa. 3. Quais seriam as maiores contribuições da gestão da cadeia logística de suprimentos? Referências BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão logística da cadeia desuprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2006. CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada: supply chain. São Paulo: Atlas, 2010. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Cencage Learning, 2011. 2 Gestão de armazéns e centros de distribuição Neste capítulo, vamos tratar de duas subáreas centrais da gestão da cadeia logística de suprimentos: os armazéns e os centros de distribuição. É importante notar que iniciaremos com os conceitos e as aplicabilidades de armazéns e centros de distribuição, a fim de evitarmos algum tipo de confusão, já que tais subáreas logísticas, aparentemente, apresentam algumas semelhanças, porém, na verdade, possuem características e aplicabilidades de superfície. Isso significa que diferem em suas características e aplicabilidades, mas ambas são importantes para os diversos modelos de negócios do mundo empresarial. Também conheceremos os principais custos logísticos da gestão da cadeia logística de suprimentos e as principais ferramentas de gestão, bem como suas respectivas aplicabilidades, que otimizam a gestão dos processos operacionais, propiciam vantagens competitivas e redução de custos. 2.1 Gestão de armazéns O armazém é uma área física com um pé-direito alto para que haja melhor aproveitamento do espaço para guardar mercadorias e produtos, pois a verticalização, conseguida pela altura do pé-direito da laje desse espaço físico, possibilita a otimização ou a maximização da utilização desse espaço. De acordo com Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 317), “Os benefícios econômicos da armazenagem ocorrem quando os custos logísticos totais são reduzidos”. Geralmente, os armazéns são propriedades de empresas que possuem esses espaços Gestão da cadeia de suprimentos26 físicos e os ofertam no mercado para as indústrias. A armazenagem quase sempre é uma atividade terceirizada, pois não faz parte da atividade-fim das empresas, ou seja, não é o seu core business. Durante muito tempo, as empresas entendiam que as atividades de armazenagem eram um “mal necessário” e, nessa época, tinham seus próprios espaços ou armazéns em suas instalações, mas, por conta da globalização econômica, segundo Ching (2010, p. 10), “a partir da década de 80, o desenvolvimento da logística tornou-se revolucionário em virtude de fatores, como explosão da tecnologia da informação, alterações estruturais surgidas nos negócios e na economia dos países emergentes, formação dos blocos econômicos e no fenômeno da globalização”. Tal mudança ocorreu com uma intensidade maior nos anos 1990 e, ao mesmo tempo, com o surgimento da internet e de vários sistemas de informações, os quais, cada vez que se aperfeiçoam, geram maior necessidade de as empresas reavaliarem em seus negócios o que realmente fazia parte das suas atividades fim e meio. Consequentemente, a armazenagem dos seus produtos estava em atividade-meio e poderia ser terceirizada. De acordo com Ching (2010, p. 10), “no período pós 1990 a logística é entendida como a junção da administração de materiais com a distribuição física”. Dos anos 1990 até os dias atuais, as atividades terceirizadas que mais cresceram na área de logística de suprimentos são a armazenagem, a gestão dos processos operacionais de armazenagem e os sistemas informacionais aplicados e integrados entre a empresa terceirizada de armazéns (proprietária) e seus clientes. Essa integração via sistema é fundamental e está diretamente ligada à complexidade de operações da empresa (cliente), ao controle na recepção de materiais e produtos no armazém e na gestão de processos de armazenagem e, finalmente, à baixa desses materiais e produtos com a saída efetiva para o atendimento dos seus clientes (empresas). Esse processo requer um sistema integrado, porque core business: parte central de um negócio geralmente definido em função da estratégia da empresa para o mercado. Gestão de armazéns e centros de distribuição 27 os clientes precisam analisar várias informações para que possam tomar decisões acerca do PPCP (planejamento, programação, controle e produção), com o objetivo de que os níveis de estoques sejam suficientes para o atendimento das linhas de produção. Essas informações também acionam outra área na empresa, que é a de compras, interferindo na gestão de processos como cotação, escolha de fornecedores, definição dos prazos de entrega e acompanhamento da chegada dos materiais e produtos no armazém terceirizado. A gestão dos processos das áreas PPCP e compras são estratégicas para as empresas, visto que erros nas informações fornecidas pela empresa de armazéns (terceirizada) podem comprometer o fluxo das empresas (clientes). Além disso, muitas vezes, se houver erros involuntários nessas informações, como, menos estoques em relação às necessidades de produção, pode ocorrer algo muito desagradável para todos os elos da gestão da cadeia logística de suprimentos, que é a paralisação das linhas de produção, o que significa dizer um nível de estresse e pressão para todos os lados na empresa e na terceirizada dos armazéns. Como consequência, pode haver uma paralisação do faturamento junto aos clientes da empresa (clientes finais), pois não há determinado material para se completar o produto e vendê-lo ao cliente final. A falta de qualquer componente com a finalidade de completar um determinado produto acabado – pode ser desde um simples parafuso até um item mais sofisticado, como uma placa de circuito integrado – é suficiente para paralisar a linha de produção. Quando não há faturamento junto aos clientes finais, há uma diminuição no fluxo financeiro da empresa, ou seja, uma redução de receita no caixa. É uma triste constatação, mas normalmente as empresas não perdoam dois erros do mesmo colaborador, é como se fosse uma marca que não se pode apagar para ele, que passa a ser visto como aquele que um dia parou a produção. Gestão da cadeia de suprimentos28 A sincronização da gestão dos processos entre as empresas clientes e as empresas de armazéns (terceirizadas) é estratégica e muito importante, e o armazém surge como se fizesse parte dessa cadeia logística. Cabe ressaltar que na relação comercial e operacional entre cliente e fornecedor de serviços terceirizado deve haver um nível de confiabilidade e de qualidade em todas as etapas dos processos. Para que isso aconteça, as variáveis subjetivas (intangíveis) que permeiam tal relação, como comprometimento, transparência e proatividade, devem ser discutidas desde o primeiro dia da parceria com a empresa de armazéns, que atua como fornecedor de serviços terceirizados, para atingirmos o objetivo principal, que é evitar a paralisação das linhas de produção. 2.1.1 Operações no armazém A partir do momento em que é definido o parceiro da cadeia logística de suprimentos, que é a empresa terceirizada de armazenagem, inicia-se a gestão dos processos operacionais no armazém. A movimentação de materiais e produtos nesse local ocorre no fluxo operacional interligado com os seus clientes, considerando no primeiro momento uma grande interface entre a área organizacional do armazém (colaboradores responsáveis pela área) e a respectiva área de compras do cliente (empresa), com contato direto entre ambas. Toda gestão de processos se inicia com a área de compras, que atende às demandas internas da empresa, tanto com materiais e produtos ligados diretamente à produção quanto com os produtos improdutivos, isto é, aqueles que não estão diretamente ligados à produção (linhas de produção da empresa), como material de limpeza e outros. A área de compras é que dá o start na gestão dos processos, já que é responsável por cotações, escolhas dos fornecedores, acompanhamento dos prazos de entrega até o armazém (parceiro logístico), bem como pelo recebimento das informações via sistema integrado, o qual deve ser alimentado pelo pessoal do armazém Gestão de armazéns e centros de distribuição29 com data de entrada, quantidade, preço e condições dos materiais e produtos entregues pelos fornecedores a esse armazém. Como sabemos, não basta cumprir prazo de entrega negociado, quantidade correta e preço correto se o material está avariado, ou seja, sem condições de ser usado pelas linhas de produção da empresa. Se nesse momento os pilares logísticos não forem todos atendidos, a área de compras deverá entrar em contato com o respectivo fornecedor para a gestão do processo de devolução, solicitando a substituição do material ou produto avariado sem custos adicionais para a empresa, já que se trata de uma reposição. Por isso, a responsabilidade de compras se inicia com as demandas internas na empresa e tem como última fronteira de responsabilidade a confirmação pelo armazém acerca das condições dos materiais ou produtos entregues. Se os materiais ou produtos estiverem em boas condições de uso para as linhas de produção, a responsabilidade da área de compras cessa aqui. Outra etapa estratégica e importante para toda a gestão de processos operacionais entre a empresa e o armazém ocorre no pedido de materiais e produtos pela área de PPCP e também pela de vendas, a qual solicita produtos acabados demandados pelos seus clientes finais. Portanto, essas duas áreas da empresa requisitam o armazém para as suas linhas de produção (atendimento do processo produtivo da empresa) e para os seus clientes finais (mercado), respectivamente. A área de compras inicia a gestão dos processos (In), o PPCP executa as operações intermediárias (produção), e, quando o produto está pronto, o envia ao armazém. Por último, a área de vendas, com as demandas de seus clientes, aciona o armazém para a entrega dos produtos acabados. Algumas das mais importantes operações no armazém são: • Movimentação de materiais e ou produtos: envolve a gestão dos processos operacionais de consolidação, que geralmente são cargas agrupadas entre si com a mesma constituição do material. Gestão da cadeia de suprimentos30 • Desconsolidação: atividades de separação das cargas que chegam ao armazém inicialmente agrupadas. • Estocagem: gestão operacional de alocação dos materiais em seus respectivos espaços físicos predeterminados. • Movimentos de entrada de materiais e saída de produtos acabados. Em outras palavras, o início do processo logístico ocorre com a entrada de matérias-primas que abastecem as linhas produtivas da empresa, e a saída acontece de forma subsequente, com a entrega dos produtos acabados aos clientes. Os processos de entrada, saída e movimentação são elementos presentes em um armazém moderno e eficiente do ponto de vista da gestão dos processos logísticos operacionais, e o manuseio dos materiais e produtos deve seguir uma logística quando de suas entradas no armazém. Assim que eles chegam, devem ser direcionados para suas respectivas estantes ou gôndolas, como chamamos na área logística. O armazém é dividido em várias subáreas (espaços), previamente demarcadas com várias “ruas”, sob uma lógica de estocagem que geralmente se baseia na constituição dos materiais ou produtos. Dessa forma, denominamos os seus subespaços (subáreas) de A a Z, com nome de flores ou outros, os quais devem corresponder também ao sistema integrado que controla todo o fluxo operacional dentro do armazém. As entradas e saídas são sempre atualizadas no sistema integrado para evitar quaisquer problemas. Os materiais ou produtos podem ser estocados pela sua constituição mais significativa, como aço, plástico, madeira, eletrônicos, alimentos, parafusos, arruelas, material de limpeza e outros. Por exemplo, a rua A pode compreender os materiais relativos ao plástico, que devem ficar somente nessa rua; já os materiais da rua B, que são relativos ao aço, e assim sucessivamente. Os produtos acabados ficam em uma área somente para eles e podem seguir também a lógica de constituição mais significativa. Essa organização Gestão de armazéns e centros de distribuição 31 do armazém é muito semelhante à de uma biblioteca, guardadas as proporções entre esses dois sistemas de armazenagem. Isso porque na biblioteca os livros são estocados normalmente pelas áreas do conhecimento, por exemplo, os da área de negócios (administração, economia e ciências contábeis) ficam em uma estante diferente dos de áreas como letras, direito, biologia e outros, dispostos em espaços físicos que a biblioteca pode denominar de ruas, que devem estar previamente cadastradas no sistema da instituição para controle de entrada e saída de livros, o que representa a gestão da cadeia de suprimentos. Figura 1 – Exemplo de rua de um armazém jia nq in g di ao /S hu tt er st oc k A embalagem é também um componente estratégico na gestão de operações do armazém, pois tem como objetivo principal o aspecto protetivo dos materiais e produtos. Quando se trata dos materiais, a responsabilidade é do fornecedor e faz parte do processo de negociação entre o fornecedor e o departamento de compras da empresa, já que também é um componente de custo logístico. Já quando falamos dos produtos acabados estocados no armazém, a responsabilidade pela elaboração da embalagem é da empresa para atender aos seus clientes finais. Gestão da cadeia de suprimentos32 Como afirma Ching (2010, p. 11), “É por meio da combinação das atividades primárias com as atividades de suporte que a logística empresarial vai atender ao objetivo de proporcionar ao cliente produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades”. Dessa forma, as atividades relacionadas a embalagem podem ser primárias ou secundárias. As duas formas de embalagem possuem um caráter protetivo dos materiais ou produtos acabados para que não sofram avarias durante as movimentações logísticas. A diferença fundamental entre as duas é que a embalagem primária é simples e única, e a embalagem secundária reforça a primária. Podemos simular um exemplo prático: imagine que vamos até uma padaria (panificadora) e compramos alguns pães. O atendente os guarda dentro de um saco de papel, que simboliza uma embalagem primária, e coloca o saco de papel com os pães dentro de uma sacola plástica, que seria a embalagem secundária. A natureza dos materiais e produtos segue uma lógica de necessidade de embalagens primária e secundária dependendo também das movimentações desses materiais ou produtos. Uma operação importante para o melhor desempenho das operações do armazém é a unitização, um processo de agrupamento de materiais e produtos acabados a partir das suas respectivas embalagens, ou seja, agrupar materiais ou produtos com a mesma natureza de embalagem para que haja otimização e agilização da gestão do processo de movimentação desses itens dentro do armazém. 2.2 Gestão de centros de distribuição O conceito tradicional de centro de distribuição na gestão da cadeia logística de suprimentos está diretamente ligado à gestão dos processos de distribuição física de produtos acabados, ou seja, o conceito e a aplicabilidade do centro de distribuição não englobam Gestão de armazéns e centros de distribuição 33 em seus processos os materiais que, via de regra, atendem as linhas de produção. Assim, a diferença entre armazém e centro de distribuição é que este opera somente com os produtos acabados, recebidos de seus clientes empresariais, que serão ali estocados e, posteriormente, distribuídos aos clientes finais dos seus clientes, de acordo com a programação de vendas e entregas. Já o armazém, como vimos anteriormente, atua com os materiais recebidos dos fornecedores dos seus clientes e, ao mesmo tempo, também pode receber os produtos acabados para entregá-los ou distribui-los aos clientes finais dos seus clientes. É importante ressaltarmos que as fronteiras dos conceitos e das aplicabilidades dos dois subsistemas logísticos da gestão da cadeia logística de suprimentos são quase imperceptíveis, e a escolha desses subsistemas por parte das empresas guardauma relação direta com a sua complexidade de operação, o core business, o modelo de negócio, o tamanho da empresa e, finalmente, a relação custo x benefício. 2.2.1 Localização do centro de distribuição A escolha de um centro de distribuição (CD) é uma estratégia que impacta diretamente os custos logísticos das empresas, pois estas selecionam um determinado centro logístico como parceiro estratégico na gestão de distribuição dos seus produtos acabados com base em alguns fatores. De acordo com Ching (2010, p. 51), “Os clientes exigem cada vez mais, maiores níveis de serviço, isto inclui: entregas com maior frequência e consistentes, entregas no tempo programado, transações sem erro, além de disponibilidade de estoque”, os quais devem contemplar essencialmente os seguintes aspectos: • qualidade; • preço; Gestão da cadeia de suprimentos34 • relação custo x benefício; • sistema informacional integrado compatível com a empresa; • localização geográfica. Entre todos esses aspectos, que em grande parte também podemos considerar para a escolha de um armazém, o centro de distribuição possui um que é determinante na sua escolha: a localização geográfica. E a pergunta seria: por quê? Para reduzir custos logísticos, já que os custos de transportes correspondem a uma parte significativa do custo total logístico, que veremos nos capítulos subsequentes deste livro. Outros fatores que fazem parte dessa escolha estratégica são infraestrutura logística no entorno do centro de distribuição, como boas rodovias para o escoamento dos produtos acabados; proximidade aos portos e aeroportos, pois as empresas podem ter também operações de importação e exportação; e, por último, localização no maior mercado da empresa do ponto de vista de faturamento – geralmente São Paulo (capital) e as cidades próximas, no interior do estado, que possuem altos níveis de PIB (produto interno bruto) e renda per capita, boas rodovias e proximidades com o porto de Santos e os aeroportos, como Viracopos, em Campinas, e Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Despontam as cidades de Sorocaba e Campinas num raio de aproximadamente 100 km de São Paulo capital, onde está localizado o maior volume de vendas de grande parte das empresas brasileiras que buscam um centro de distribuição como parceiro estratégico prestador de serviços logísticos de entrega dos produtos acabados aos clientes finais. Gestão de armazéns e centros de distribuição 35 2.2.2 A gestão estratégica da distribuição física Conforme Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 318), “na busca de atender às necessidades do cliente, nenhuma atividade é mais importante do que outra, e nenhuma empresa pode ser autossuficiente”. Dessa forma, podemos afirmar que as atividades logísticas, assim como as da empresa, estão dispostas em três pilares: 1. estratégico; 2. tático; 3. operacional. O primeiro nível, que se localiza no topo da pirâmide da gestão da cadeia logística de suprimentos, corresponde ao planejamento estratégico da área logística da organização, alinhado aos seus objetivos. Nesse nível se encontram as ações relativas a escolha de fornecedores com alta qualidade e preços reduzidos, diminuição de custos logísticos de transportes, escolha de um CD como parceiro logístico na distribuição de produtos acabados e outras ações estratégicas que denominamos de gerenciais, pois os profissionais no nível estratégico são a alta administração na área logística. Esses enxergam e analisam a cadeia logística de suprimentos de forma sistêmica e seus respectivos impactos positivos no supply chain management (SCM) da organização. Já no segundo nível dessa pirâmide, que é o tático, a grande preocupação é com a otimização (maximização) dos recursos tecnológicos, financeiros e humanos que estão à disposição da gestão da cadeia logística de suprimentos. Assim, o tático deverá otimizar a gestão dos processos logísticos extraindo o máximo desses recursos. O último nível, que está na base da pirâmide, o operacional, preocupa-se com as tarefas diárias operacionais, como a roteirização que o CD deve seguir no dia a dia com as distribuições e entregas dos produtos acabados. A distribuição física segue uma lógica na estratégia de minimização de custos, que é a determinação Gestão da cadeia de suprimentos36 geográfica, percebendo onde estão localizados os clientes e as entregas predeterminadas aos dias da semana. Figura 2 – Sistema integrado entre o CD e a empresa que representa a gestão operacional logística com as suas respectivas etapas 1) A entrada de produtos e ou materiais 2) Recepção de materiais 3) Armazenagem 4) Expedição dos produtos (saída) K- N ic k/ Sh ut te rs to ck Retornando aos nossos exemplos de cidades no estado de São Paulo, o gerente e a sua equipe do nível operacional determinam que às segundas-feiras farão sempre as entregas dos produtos acabados na cidade de Sorocaba, e às terças-feiras, as entregas na cidade de Campinas; quartas-feiras, na cidade de São Paulo (capital), sem “misturar” os dias de entregas com retornos às cidades já atendidas, porque isso significa custos logísticos de transportes adicionais no custo logístico total. Obviamente existem erros humanos que podem impactar negativamente a estratégia, por exemplo: por esquecimento, determinado produto não foi entregue na segunda- feira. Os custos a mais no transporte devem ser reduzidos na Gestão de armazéns e centros de distribuição 37 cobrança mensal (faturamento) do CD sob a empresa (seu cliente), e o próprio CD deve arcar com essa responsabilidade. Nesse sentido, as informações atualizadas no sistema integrado entre o CD e a empresa (cliente) são fundamentais para uma análise dos custos logísticos envolvidos na gestão do centro de distribuição em um determinado período para uma tomada de decisão rápida e precisa, já que os sistemas informacionais integrados geralmente são on-line, o que significa dizer que as informações que constam neles são atualizadas praticamente em tempo real. Com isso, o risco de desabastecimento dos nossos clientes em eventuais falhas é mitigado, e, muitas vezes, se houver erros, eles são rapidamente corrigidos junto aos clientes finais, evitando insatisfação com o serviço. 2.3 Os custos logísticos Um dos pontos mais impactantes na gestão da cadeia logística de suprimentos são os custos logísticos e a sua correlação com o preço de venda dos produtos. Essa é uma das razões e missões da área logística de qualquer empresa e de seus respectivos profissionais, desde o nível operacional, passando pelo nível tático, até o nível estratégico. Todos os profissionais envolvidos devem estar comprometidos com a redução de custos logísticos e a busca de melhoria contínua da qualidade de seus fornecedores e parceiros, também focados em entregar para as empresas (seus clientes) materiais, produtos e serviços de alta qualidade com preços competitivos. Sem dúvida, reside aí um dos maiores desafios da gestão da cadeia logística de suprimentos, uma vez que se constitui no verdadeiro “coração” ou motor da empresa, já que a redução de custos logísticos representa quase sempre um aumento de margem de lucro bruto. Dessa forma, a redução dos custos logísticos da empresa é o objetivo principal da área logística, sem perder o foco no aumento contínuo da qualidade dos materiais, produtos e serviços entregues. Então, o nível de qualidade desejado pela empresa deve estar Gestão da cadeia de suprimentos38 atrelado a um preço reduzido, mas que seja o máximo permitido. Muitas vezes algumas empresas reduzem os custos logísticos de forma “radical” e afetam, obviamente, o nível de qualidade pretendido. Cabe aos profissionais da área logística observar sempre essa relação. De acordo com Ching (2010, p. 15): “Estão inclusos nestes custos todos os movimentos associados à busca dos materiais na recepção de materiais, no abastecimento das linhas produtivas, estoques, processamentode pedidos e transportes”. Dessa forma, os custos logísticos se dividem em: • armazenagem; • manutenção de estoques; • processamento de pedidos; • transportes. O custo de armazenagem está diretamente relacionado à gestão dos processos operacionais que ocorrem na unitização, na embalagem e na movimentação dos produtos no centro de distribuição. De acordo com cada empresa e com a complexidade das operações envolvidas na armazenagem, determinamos um custo ou percentual sobre o valor dos produtos por período, que pode ser semanal, quinzenal ou mensal, conforme o período em que aqueles produtos permanecem armazenados no CD. Já os custos de manutenção de estoques têm relação direta com a necessidade de manter estoques para o atendimento dos clientes observando as especificidades de cada um deles. Geralmente, o cálculo é uma média aritmética, que é a demanda anual de vendas por clientes dividida pelos 12 meses, ou seja, é uma média por cliente. Além disso, é necessária uma análise econômica do segmento da empresa por parte da área de vendas, que deve levar em consideração o cenário e as tendências do mercado em que a empresa atua. Com essa decisão, a área de logística procede com Gestão de armazéns e centros de distribuição 39 a manutenção dos estoques necessários para o abastecimento dos clientes finais da empresa. O custo com o processamento de pedidos leva em consideração o custo envolvido da área de vendas junto ao CD, que é um prestador de serviços logísticos e possui como atividade principal distribuir/ entregar produtos acabados. Por último, os transportes representam o principal custo no total de custos da gestão da cadeia logística de suprimentos (em muitos casos, chegam a 30%), porque envolvem o transporte rodoviário e as condições das rodovias, que geram ineficiências na infraestrutura logística do país, transferidas diretamente para as empresas que operam na logística. Infelizmente, a utilização do transporte rodoviário em um país continental como o Brasil não é a melhor opção, porque o modal ferroviário oferece custo de transporte significativamente reduzido, mas o modal rodoviário possui uma participação expressiva, de aproximadamente 63% de todos os produtos transportados no Brasil, o que sem dúvidas impacta negativamente o custo de transporte das empresas e reflete diretamente na composição e no aumento geral dos custos logísticos. O cross docking é uma área (espaço) externa do centro de distribuição com a finalidade de interligar as subáreas de recepção de produtos acabados da empresa (cliente) e expedição dos produtos acabados que já possuem destinos aos consumidores finais em suas respectivas distribuições e entregas. Na prática, o cross docking visa otimizar o fluxo de entrada e saída com a utilização de uma mesma transportadora ou um mesmo caminhão, o que gera um único frete rodoviário, reduzindo custos e maximizando (otimização) a gestão de processos operacionais do CD. Para que o sistema opere de maneira eficiente, deve haver uma perfeita sincronização entre as atividades realizadas entre as subáreas de recepção e expedição para que o todo também funcione de uma forma perfeita, que é o objetivo da gestão estratégica da logística de suprimentos. Gestão da cadeia de suprimentos40 2.4 Ferramentas de gestão O código de barras foi um dos primeiros sistemas informacionais que surgiram no século XX. Ele suporta as atividades logísticas nos dias atuais, porque as informações são extraídas a partir dele e transmitidas para um sistema que integra uma grande base de dados dessas atividades dentro do armazém ou do centro de distribuição. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 175), “o impacto da tecnologia sobre o desenvolvimento da logística e sobre a rápida expansão da colaboração na cadeia de suprimentos é significativo”. A tecnologia e seus aplicativos possibilitam que as empresas desenvolvam ou adquiram de empresas terceiras as ferramentas para a gestão dos processos operacionais logísticos. As ferramentas de gestão possuem como base os sistemas aplicativos específicos na administração operacional do armazém e do centro de distribuição, em sua grande maioria, parte de um sistema integrado entre as empresas que prestam serviços na gestão da cadeia logística de suprimentos, conectando essas empresas aos seus clientes (empresas), como já vimos anteriormente. Conforme Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 176): “Um sistema de informações abrangente dá início, monitora, dá assistência à tomada de decisões e efetua relatórios das atividades exigidas para concluir as operações e o planejamento logísticos”. Nesse contexto, o Enterprise Resource Planning (ERP), sigla em inglês que significa sistemas que integram todas as atividades da gestão da cadeia logística de suprimentos, é um tipo de sistema integrado que possibilita aos usuários analisar todas as informações ali contidas em tempo real e aos gestores das várias subáreas da gestão da cadeia logística de suprimentos tomar decisões de forma assertiva e ágil com o objetivo de atender cada vez melhor os clientes finais, buscando sempre a melhoria contínua para alcançar os níveis de satisfação dos clientes e, em um próximo objetivo, superá-los. Gestão de armazéns e centros de distribuição 41 O Electronic Data Interchange (EDI), que significa a troca ou a transmissão de dados automática entre duas ou mais organizações, opera de forma eficaz o sistema integrado ERP. Assim, o EDI é o meio que possibilita a conexão entre um armazém ou centro de distribuição (prestadores de serviços logísticos) e as empresas (seus clientes). Já o Warehouse Management System (WMS) é um sistema cujo objetivo é controlar os endereçamentos (ruas) de armazenagem dos materiais e produtos de acordo com os critérios previamente estabelecidos conforme a natureza dos materiais e dos produtos, o que define onde serão alocados nos espaços do armazém e do centro de distribuição. O envio dessas informações de localização pelo sistema WMS, que está integrado ao sistema ERP, ocorre no momento que os materiais e produtos são armazenados. Também o sistema Transportation Management System (TMS) é uma importante ferramenta de gestão que atende às transportadoras, em especial aos caminhões, na gestão de processo operacional dos carregamentos desses veículos, efetuando os cálculos das cargas a partir do espaço disponível neles. Por fim, o Global Position System (GPS) é uma ferramenta de gestão que tem como aplicabilidade o rastreamento dos caminhões e as suas respectivas posições nas rodovias do país. As informações são integradas ao sistema do tipo ERP. Considerações finais Neste capítulo aprendemos acerca da gestão de armazém e do centro de distribuição. Entendemos as suas diferenças sutis, mas importantes para o atendimento de diversos modelos de negócios empresariais, desde as empresas de pequeno e médio porte até as de grande porte, levando em conta suas operações e seus níveis de complexidade. Esse estudo deve considerar a existência de materiais diversos e produtos totalmente diferentes entre si, que se destinam a diferentes clientes que atuam nos mais distintos segmentos econômicos. Gestão da cadeia de suprimentos42 Também compreendemos a necessidade de um sistema integrado que permita às duas partes (fornecedor e cliente) interagirem em tempo real com base em informações confiáveis, que permitam aos gestores da cadeia logística de suprimentos a tomada de decisões assertivas e ágeis com o objetivo de atender e satisfazer seus clientes quanto a prazo, qualidade e preço. Vimos ainda quais são as principais ferramentas de gestão usadas para administrar armazéns e centros de distribuição. Ampliando seus conhecimentos • STONE, B. A loja de tudo. Jeff Bezos e a era da Amazon. 2. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019. O livro de Brad Stone é a biografia de Jeff Bezos, o fundador da Amazon. A obra apresenta um retrato detalhado da criação dessa empresae expõe a forma como são feitos os negócios na Amazon desde a sua criação, o que implicou em um profundo planejamento logístico, com seus erros e acertos. No início, a logística da Amazon era bem ineficiente, mas quando foi implementada a cadeia de suprimentos, a empresa tornou-se uma referência internacional. • CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Essa obra discute a gestão da cadeia de suprimentos, envolvendo todas as atividades, desde a escolha do fornecedor até a entrega do produto, procurando mostrar como se dá a integração entre todas as áreas da empresa. É uma leitura bastante relevante para quem quer aprofundar o conhecimento sobre gestão de estoques e operações logísticas, tema deste capítulo. Gestão de armazéns e centros de distribuição 43 Atividades 1. Quais são os principais custos logísticos? 2. Quais são os três níveis contemplados em um planejamento logístico? 3. Quais são as principais características de um armazém e de um centro de distribuição? Referências BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão logística de cadeias de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2006. CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Cencage Learning, 2011. 3 A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas Neste capítulo, abordaremos a integração e a visão sistêmica das áreas operacionais da gestão da cadeia logística de suprimentos e da área de vendas. Em seguida, trataremos da importância da integração dessas áreas sob os aspectos da gestão dos processos, bem como o alinhamento dos objetivos organizacionais comuns dessas áreas em prol da empresa. Nesse contexto, a visão sistêmica é primordial para que os profissionais de gestão da cadeia logística e de vendas possam enxergar os reflexos de suas ações por meio da gestão dos processos logísticos e de vendas, os quais, na maioria dos casos, apresentam um nível significativo de interdependência. Por outro lado, esses profissionais muitas vezes sofrem com eventuais reclamações refletidas pelos clientes externos da organização. Baseando-se nas insatisfações desses clientes, possivelmente relacionadas a prazo de entrega, embalagem e erros na gestão dos processos logísticos, a área de vendas acaba direcionando-as negativamente à área de gestão da cadeia logística de suprimentos, em um processo contínuo e vicioso. Quando esses “ruídos” ocorrem e estão diretamente ligados à área de logística, as ações corretivas na gestão dos processos logísticos devem ser realizadas com assertividade e agilidade. Ao percorrermos juntos os tópicos deste capítulo, aprenderemos os conceitos e as aplicabilidades dessa integração e a sua consequente visão sistêmica, necessários para o alcance dos objetivos daquelas áreas, em consonância com os objetivos da empresa. Esses objetivos, 46 Gestão da cadeia de suprimentos por sua vez, nos levam ao propósito primordial de qualquer entidade, qual seja, atingir o nível de satisfação dos clientes para obter sua retenção e uma relação comercial de maior perenidade possível. 3.1 Gestão estratégica de produção De acordo com Slack, Stuart e Johnston (2009), a maneira como as empresas produzem bens e serviços é tema da administração da produção. A área de produção de uma empresa que possui o core business na produção industrial se constitui em uma das mais importantes, porque nela se concentra todo o arcabouço de informações estratégicas de produção. Como sabemos, é uma área que tem seus processos de gestão específicos, desde o planejamento do layout da planta (fábrica) – de que forma estarão dispostas as mais diversas máquinas e equipamentos em suas respectivas linhas de produção –, seguindo um sequenciamento de produção com o objetivo de maximizar ou otimizá-la. De forma bastante pragmática, a produção de uma planta, representada aqui pelas suas diversas linhas de produção, atende a uma lógica fundamental: a extração do máximo de produtividade de suas máquinas e equipamentos e demais ferramentas tecnológicas em conjunto com os colaboradores dessas linhas de produção. Nesse aspecto, um dos mais importantes elos dessa corrente chamada de gestão da cadeia de suprimentos é o PPCP (planejamento, programação, controle e produção). Na Figura 1, evidenciamos a gestão do processo produtivo e a sua interface com a área de logística, com ênfase na gestão dos processos e dos recursos necessários para a transformação de materiais ou matérias-primas em produtos acabados. A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas 47 Figura 1 – Fluxos de produção • Materiais • Informações • Consumidores Recursos transformadores • Instalações • Pessoal Recursos transformadores Sistema produtivo Entradas Saídas Processo de transformação Bens e/ou serviços Fonte: Slack; Stuart; Johnston, 2009. Conforme Slack, Stuart e Johnston (2009, p. 390), “Toda gestão da cadeia de suprimento compartilha um mesmo objetivo central – satisfazer o consumidor final”. Assim, todas as atividades relacionadas às áreas operacionais, como produção, PPCP e compras, possuem objetivos comuns, que são a busca pela otimização da gestão dos processos e a eficácia para que o produto ou serviço atenda plenamente aos clientes da empresa. 3.1.1 As atividades do PPCP De acordo com Slack, Stuart e Johnston (2009), é preciso que os gerentes de operações superem sua tradicional visão interna para gerenciarem sua função de forma eficaz. Portanto, as atividades de preparação da área de planejamento, programação e controle da produção consistem em transformar todas as demandas de um determinado período, em termos de volumes de produção para os mais diversos produtos da empresa, em dados quantitativos. 48 Gestão da cadeia de suprimentos Como exemplo, podemos ter uma determinada produção cujos volumes de produtos a serem produzidos seguem um planejamento mensal, trimestral, semestral ou até mesmo anual. Essas periodicidades que impactam as atividades de planejamento na gestão dos processos do PPCP estão ligadas diretamente às estratégias da direção de produção, considerando aqui que a área de PPCP é uma subárea ou um elo muito importante para os demais elos da gestão da cadeia logística de suprimentos. O PPCP estabelece em seu planejamento a programação e os controles das suas respectivas linhas de produção, relativos às matérias-primas, partes e peças que serão utilizadas em um determinado período para o suprimento dos processos produtivos. Os processos de gestão da subárea logística de PPCP estão diretamente associados à área de produção, e uma de suas maiores responsabilidades é afastar qualquer possibilidade de paralisação das linhas produtivas, realizando de forma eficaz o abastecimento com os pontos de ressuprimento necessários. Como sabemos, qualquer eventual paralisação de uma linha de produção implica também em paralisação da continuidade da produção, que pode impactar diretamente os prazos de entrega dos produtos já vendidos aos clientes finais. Dessa forma, se não há uma venda efetiva, não há o faturamento e, consequentemente, não há a receita dessa venda. A paralisação de uma linha produtiva é algo bastante complexo e atinge de forma negativa várias áreas estratégicas, impactando o fluxo de caixa da empresa. Outro impacto negativo que atinge toda a organização, imensurável e de caráter mais subjetivo, diz respeito à percepção que os clientes finais têm da imagem dela. Uma notícia ruim no mercado expõe de forma negativa a imagem da empresa e pode abrir espaço para que os concorrentes, eventualmente, conquistem os seus clientes em razão das falhas ocorridas na gestão de processos internos. A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas 49 3.1.2 A ferramenta de gestão do planejamento, programação, controle e produção (PPCP) SegundoBowersox, Closs e Cooper (2006, p. 171), “Quando as empresas introduziram a tecnologia de computadores de forma extensiva, para controlar e monitorar as operações e as finanças no início dos anos 70, a maior parte do desenvolvimento se deu de forma lenta”. Nesse contexto, surgiu, à época, uma das principais ferramentas de gestão do PPCP, um software chamado MRP Material Requirements Planning (MRP). Desenvolvido entre as décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, pela General Motors Company, o MRP continua com a sua concepção e aplicabilidade nos tempos atuais e atende às demandas na gestão dos processos do PPCP. Uma das principais atribuições ou aplicabilidades do MRP é proporcionar a quantificação de materiais necessários para a fabricação de produtos. Podemos exemplificar como um produto final a ser produzido, um automóvel que necessita de milhares de peças e matérias-primas para sua produção. Então, aplica- se o MRP, que vai decompor esse automóvel em todos os seus detalhes e, ao mesmo tempo, juntar as peças e matérias-primas por grupamento e similaridades – grupos de aços, plásticos e outros metais, por exemplo –, tudo o que é necessário para a produção em termos quantitativos. Também trará o item quantificado – no caso desse automóvel, a valoração das peças e matérias-primas pelos fornecedores cadastrados da empresa. O MRP permite ao PPCP elaborar o que se chama no jargão do mundo industrial uma “explosão” de tudo o que pode compor um determinado produto, com as quantidades em termos de produção e valores. Tais informações são estratégicas para o PPCP porque, como falávamos anteriormente, ele trabalha com um volume de produtos a serem fabricados por um período predeterminado, e basta dar um comando no MRP para a obtenção do total de materiais (matérias-primas e peças), gerado com base no volume de 50 Gestão da cadeia de suprimentos produção dos produtos, o que resulta nas necessidades de estoques ou compras. Assim, podemos inferir que as atividades desse elo da cadeia logística denominado PPCP desempenham um papel estratégico em toda a cadeia de produção da empresa. Convém ressaltar que o PPCP exerce uma função de fornecedor interno da produção como um todo na gestão dos processos de planejamento, programação e controle e, ao mesmo tempo, exerce o papel de cliente interno da área de compras, a qual, assim como o PPCP, é um relevante elo na corrente chamada logística. A Figura 2 ilustra como ocorre o fluxo operacional de produção, compras e logística, em especial a área de PPCP. Figura 2 – Gestão das informações Fluxo de informações e PCP Marketing Previsão de vendas Pedidos em carteira Engenharia Estrutura do produto Compras Pedidos de compras Fornecedores Estoques Clientes Ordens da fabricação Ordens de montagem Planejamento-mestre da produção Planejamento estratégico da produção Plano de produção Plano-mestre de produção Programação da produção Administração dos estoques Sequenciamento Emissão e liberação A com panham ento e controle de produção Roteiro de Fabricação Av al ia çã o de d es em pe nh o Fabricação e montagem Ordens de compras Fonte: Tubino, 2009. A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas 51 Tudo se inicia com a gestão dos processos produtivos em nível de planejamento para o abastecimento das linhas produtivas da empresa, realizada pelo PPCP, que depois envia uma requisição via sistema para a área de compras, a qual dá andamento ao processo de aquisição de materiais para o atendimento do PPCP e, consequentemente, da área de produção. 3.2 Gestão estratégica de compras A área de compras compreende um conjunto de atividades de gestão de processos com foco no atendimento das mais diversas áreas da empresa, em especial a de produção. Então, podemos afirmar que é um fornecedor interno que atende vários clientes internos, pois atua a partir da demanda dos clientes internos na gestão dos processos de compras produtivas, improdutivas e internacionais. O departamento de compras é de suma importância como elo dessa corrente logística, por ser uma área que tradicionalmente tem entre suas responsabilidades todo o abastecimento de materiais (matérias-primas, peças), com o objetivo de suprir toda a empresa pela aquisição dos materiais direta ou indiretamente ligados à produção. Geralmente, a área de compras é dividida em três subáreas: • compras produtivas; • compras improdutivas; • compras internacionais. Vejamos cada uma delas mais detalhadamente. 3.2.1 Compras produtivas As compras de matérias-primas (MP) e peças fazem parte da subárea de compras produtivas. Essa subdivisão é necessária inicialmente para atender toda a organização em nível de suprimentos, colocando nessa subárea colaboradores com as suas respectivas expertises em seus relacionamentos comerciais preestabelecidos 52 Gestão da cadeia de suprimentos com os fornecedores do mercado em que atuam. De outro lado, mas não menos importante, a subdivisão se faz necessária para atender aos procedimentos contábeis na apropriação dos custos de produção, no rateio e também na área fiscal da empresa, visto que a correta apropriação dos custos impacta diretamente na formação do produto acabado que será produzido. 3.2.2 Compras improdutivas As compras improdutivas também se constituem em uma subárea da área de compras e possuem como atividade fundamental a aquisição de materiais que não fazem parte diretamente do processo produtivo da empresa, geralmente alimentos, materiais de limpeza, de higiene, de escritório, por exemplo. Tal subdivisão também visa atender aos procedimentos contábeis e fiscais, bem como a realizar o rateio desses custos de compras para toda a empresa, com sua respectiva parcela de apropriação para a produção, com impactos menores na formação dos preços de vendas dos produtos. A subárea de compras improdutivas “carrega”, muitas vezes de forma cultural no mundo empresarial, um falso entendimento do termo improdutiva, que pode passar uma imagem errada acerca da importância das atividades e da gestão dos processos. 3.2.3 Compras internacionais Essa última subdivisão da área de compras é responsável pelas aquisições de material importado da empresa com os fornecedores globais e tem se transformado em uma importante subárea por atender à necessidade de materiais importados com melhores preços que os nacionais ou suprimentos que muitas vezes não são encontrados no Brasil. A gestão dos processos de compras internacionais demanda, além da capacidade de negociação, que é uma característica comum às três subáreas de compras, outras habilidades e competências para seus colaboradores, como domínio de idiomas, geralmente inglês e A visão sistêmica das áreas operacionais e de vendas 53 espanhol, e conhecimento em logística internacional, documentos de aplicabilidade internacional, logística aduaneira e legislação de comércio exterior. 3.3 Gestão da recepção dos materiais e da expedição de produtos acabados A armazenagem e a expedição são subáreas da logística que impactam diretamente na qualidade dos produtos e sua gestão precisa ser eficaz para ter bons resultados. 3.3.1 Recepção dos materiais A subárea logística de recepção de materiais é importante tanto na gestão dos processos dos materiais recepcionados quanto na gestão do fluxo de materiais no atendimento aos seus usuários internos (clientes internos), em especial o PPCP, porque essa área é a maior demandante, junto à recepção de materiais, de retirada de matérias-primas e peças que serão utilizadas em um determinado período. As retiradas geralmente são efetuadas por um sistema integrado por essas áreas, em que as respectivas baixas nos níveis de estoques de materiais ocorrem fisicamente, o que significa que os produtos são retirados da área de estoque após esta realizar a entrega para a área de PPCP. Aparentemente, é uma operação relativamente simples, mas fundamental do ponto de vista de
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