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Somáticos Profa. Ma. Luana Cristina Silva Santos Os transtornos de sintomas somáticos representam uma classe diagnóstica que tem como centralidade a presença de sintomas somáticos ou sintomas físicos, como dores, palpitações, entre outros. Esses sintomas são perturbadores para o indivíduo e se associam a pensamentos, sentimentos e comportamentos anormais. Esse quadro pode ser acompanhado inclusive pela ausência de uma explicação médica para esses sintomas, mas não necessariamente. Desse modo, a ênfase principal é na relação que é estabelecida pelo indivíduo com os sintomas em questão. Assim, o que se apresenta como principal característica de indivíduos com algum transtorno somático não diz respeito aos sintomas somáticos em si, mas a relação que o indivíduo estabelece com esses sintomas e a forma como o indivíduo interpreta a sua ocorrência. Com isso, temos a integração de aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais aos critérios diagnósticos, que compõem o transtorno, em conjunto com os sintomas somáticos propriamente ditos. É possível também a ocorrência de comorbidades. Transtornos de ansiedade e transtornos depressivos podem acompanhar os transtornos de sintomas somáticos. Nesses casos, os transtornos somáticos, quando em conjunto com transtornos de ansiedade e de depressão, acrescentam um maior nível de gravidade e de complexidade aos casos, resultando em maior sofrimento para o indivíduo, prejuízo em sua funcionalidade cotidiana e até mesmo dificuldade de adesão aos tratamentos tradicionais. Muitos fatores podem contribuir para o desenvolvimento de um transtorno de sintoma somático, veja a seguir: • Vulnerabilidade genética e biológica. • Experiências traumáticas precoces. • Aprendizagem (como a atenção obtida por causa da doença e ausência de reforço de expressões não somáticas de sofrimento). Até no DSM-IV o termo hipocondria era utilizado para se referir a pessoas com transtornos somáticos. Entretanto, esse termo deixou de ser utilizado no DSM-V por ser preconceituoso, estigmatizante e não considerar todos os aspectos do indivíduo. Assim, não é correto compreender que um indivíduo com transtornos somáticos “inventa” uma doença física, de forma manipulatória e relata sintomas que não existem (ou não têm uma base biológica), uma vez que essa descrição desconsidera a complexidade dos quadros. O início desse transtorno pode ocorrer após uma doença médica concomitante. Por exemplo, um indivíduo pode ter a sua funcionalidade reduzida devido a um transtorno de sintomas somáticos após a ocorrência de um infarto do miocárdio sem complicações, mesmo que o infarto em si não resulte em alguma incapacidade específica. Indivíduos com esse transtorno tendem a apresentar muitas preocupações em relação a doenças, avaliando sintomas corporais como demasiadamente ameaçadores, perigosos, nocivos ou problemáticos. É comum também que esses indivíduos pensem o pior da própria saúde e que as preocupações com a saúde e o medo de doenças assumam uma posição central na vida da pessoa. É recorrente também a procura frequente de serviços médicos que não resultam em uma diminuição da angústia sentida pela pessoa. Frequentemente, os sintomas somáticos não possuem uma explicação médica evidente, porém é importante ressaltar que o sofrimento do indivíduo é autêntico e não pode ser minimizado. O que ocorre é que, em alguns casos, o sofrimento não pode ser explicado em termos médicos Outras condições médicas. A presença de sintomas somáticos de etiologia incerta não é, em si, suficiente para justificar um diagnóstico de transtorno de sintomas somáticos. Transtorno de pânico. No transtorno de pânico, os sintomas somáticos e a ansiedade a respeito da saúde tendem a ocorrer em episódios agudos, enquanto no transtorno de sintomas somáticos sintomas de ansiedade e somáticos são mais persistentes. Transtorno de ansiedade generalizada. Indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada preocupam-se com múltiplos eventos, situações ou atividades, apenas uma das quais pode envolver a própria saúde. Transtornos depressivos. Transtornos depressivos são comumente acompanhados por sintomas somáticos. Entretanto, são diferenciados do transtorno de sintomas somáticos pela sintomatologia depressiva central de humor deprimido (disfórico) e anedonia. Transtorno de ansiedade de doença. Se o indivíduo tiver preocupações extensas a respeito da saúde, porém nenhum sintoma somático ou apenas sintomas somáticos mínimos, pode ser mais apropriado considerar o transtorno de ansiedade de doença. Transtorno conversivo (transtorno de sintomas neurológicos funcionais). No transtorno conversivo, o sintoma inicial é a perda de função (p. ex., de um membro), enquanto no transtorno de sintomas somáticos o foco é no sofrimento que os sintomas específicos causam. Transtorno delirante. No transtorno de sintomas somáticos, as crenças do indivíduo de que os sintomas somáticos podem refletir uma doença física subjacente grave não são mantidas com intensidade delirante. Contudo, suas crenças a respeito dos sintomas somáticos podem ser mantidas fortemente. Transtorno dismórfico corporal. No transtorno de sintomas somáticos, a preocupação a respeito dos sintomas somáticos reflete o medo de uma doença subjacente, e não de um defeito na aparência. Transtorno obsessivo-compulsivo. No transtorno de sintomas somáticos, as ideias recorrentes a respeito de sintomas somáticos e doenças são menos intrusivas, e os indivíduos com esse transtorno não exibem os comportamentos repetitivos associados que buscam reduzir a ansiedade que ocorrem no transtorno obsessivo-compulsivo. Condições médicas que podem incluir ansiedade Doenças endócrinas (hipotireoidismo, hipoglicemia, hipercortisolismo) Distúrbios cardiovasculares (insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, arritimias). Doenças respiratórias (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, pneumonia). Doenças neurológicas (neoplasias, disfunção vestibular, encefalite, distúrbios convulsivos. Transtornos de adaptação. A ansiedade relacionada à saúde é uma resposta normal a uma doença grave, e não um transtorno mental. Essa ansiedade não patológica está claramente relacionada à condição médica, e sua duração é geralmente limitada. Transtorno de sintomas somáticos. O transtorno de sintomas somáticos é diagnosticado na presença de sintomas somáticos significativos. Por sua vez, indivíduos com transtorno de ansiedade de doença têm sintomas somáticos mínimos e estão primariamente preocupados com a ideia de estarem doentes. Transtornos de ansiedade. No transtorno de ansiedade generalizada, os indivíduos se preocupam com múltiplos eventos, situações ou atividades, sendo que apenas um deles pode envolver a saúde. Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados. Indivíduos com transtorno de ansiedade de doença podem ter pensamentos intrusivos de ter uma doença e também apresentar comportamentos compulsivos associados (p. ex., buscando apoio e tranquilização). Entretanto, no transtorno de ansiedade de doença, as preocupações geralmente se concentram em ter uma doença. Transtorno dismórfico corporal, as preocupações se limitam à aparência física da pessoa, que é vista como defeituosa ou imperfeita. Transtorno depressivo maior. Alguns indivíduos com um episódio depressivo maior ruminam acerca da saúde e preocupam-se excessivamente com doenças. Um diagnóstico distinto de transtorno de ansiedade de doença não é feito se essas preocupações ocorrerem somente durante episódios depressivos maiores. Transtornos psicóticos. Indivíduos com transtorno de ansiedade de doença não são delirantes e conseguem reconhecer a possibilidade de que a doença temida não esteja presente. Suas ideias não alcançam a rigidez e a intensidade vistas nos delírios somáticos que ocorrem nos transtornos psicóticos. Doença neurológica. O principal diagnóstico diferencial é uma doençaneurológica que possa explicar melhor os sintomas. Após uma avaliação neurológica completa, raramente será encontrada uma causa neurológica patológica inesperada durante o acompanhamento. Entretanto, pode ser preciso reavaliar o paciente caso os sintomas pareçam estar progredindo. O transtorno conversivo pode coexistir com doença neurológica. Transtorno de sintomas somáticos. O transtorno conversivo pode ser diagnosticado em conjunto com o transtorno de sintomas somáticos. Não se pode claramente demonstrar que a maioria dos sintomas somáticos encontrados nesse transtorno é incompatível com a fisiopatologia (p. ex., dor, fadiga), enquanto no transtorno conversivo tal incompatibilidade é necessária para o diagnóstico. Os pensamentos, sentimentos e comportamentos excessivos característicos do transtorno de sintomas somáticos costumam estar ausentes no transtorno conversivo. Transtorno factício e simulação. O diagnóstico de transtorno conversivo não requer o julgamento de que os sintomas não sejam produzidos intencionalmente (i.e., não simulados), pois a avaliação da intenção consciente não é confiável. Entretanto, evidências definitivas de fingimento (p. ex., evidência clara de que a perda funcional está presente durante o exame, mas não em casa) sugeririam um diagnóstico de transtorno factício, se o objetivo aparente do indivíduo for assumir um papel de doente, ou de simulação, caso o objetivo for obter um benefício como dinheiro. Transtornos dissociativos. Sintomas dissociativos são comuns em indivíduos com transtorno conversivo. Se tanto o transtorno conversivo quanto um transtorno dissociativo estiverem presentes, ambos os diagnósticos deverão ser feitos. Transtorno dismórfico corporal. Indivíduos com transtorno dismórfico corporal são excessivamente preocupados com defeitos que percebem em suas características físicas, mas não se queixam de sintomas de alteração de funcionamento sensorial ou motor na parte do corpo afetada. Transtornos depressivos. Nos transtornos depressivos, as pessoas podem relatar uma sensação de peso generalizada nos membros, enquanto a fraqueza do transtorno conversivo é mais focal e proeminente. Transtorno de pânico. Sintomas neurológicos episódicos (p. ex., tremores e parestesias) podem ocorrer tanto no transtorno conversivo quanto em ataques de pânico. Nos ataques de pânico, os sintomas neurológicos costumam ser transitórios e agudamente episódicos com sintomas cardiorrespiratórios característicos. Transtorno mental devido a outra condição médica. Uma associação temporal entre sintomas de um transtorno mental e os de uma condição médica também é característica de um transtorno devido a outra condição médica, mas a causalidade presumida encontra-se na direção oposta. Transtornos de adaptação. Sintomas psicológicos ou comportamentais anormais que se desenvolvem em resposta a uma condição médica são mais corretamente codificados como um transtorno de adaptação (uma resposta psicológica clinicamente significativa a um estressor identificável). Transtorno de sintomas somáticos. O transtorno de sintomas somáticos é caracterizado por uma combinação de sintomas somáticos perturbadores e pensamentos, sentimentos e comportamentos excessivos ou mal-adaptativos em resposta a esses sintomas ou a preocupações associadas à saúde. O indivíduo pode ou não ter uma condição médica diagnosticável. Por sua vez, em fatores psicológicos que afetam outras condições médicas, os fatores psicológicos afetam adversamente uma condição médica; os pensamentos, sentimentos e comportamentos do indivíduo não são necessariamente excessivos. A diferença é mais de ênfase do que uma distinção bem definida. Em fatores psicológicos que afetam outras condições médicas, a ênfase é na exacerbação da condição médica (p. ex., um indivíduo cuja angina é desencadeada sempre que fica ansioso). No transtorno de sintomas somáticos, a ênfase está nos pensamentos, sentimentos e comportamentos mal-adaptativos (p. ex., um indivíduo com angina que se preocupa constantemente com a ideia de ter um infarto do miocárdio, mede a pressão arterial várias vezes ao dia e restringe suas atividades). Transtorno de ansiedade de doença. O transtorno de ansiedade de doença é caracterizado por elevada ansiedade de doença que causa sofrimento e/ou perturba a vida cotidiana com mínimos sintomas somáticos. O foco de interesse clínico é a preocupação do indivíduo a respeito de ter uma doença; na maioria dos casos, nenhuma doença grave está presente. Em fatores psicológicos que afetam outras condições médicas, a ansiedade pode ser um fator psicológico relevante afetando uma condição médica, mas o interesse clínico são os efeitos adversos sobre a condição médica. Cuidadores que mentem a respeito de lesões que tenham provocado em dependentes por abuso unicamente para se protegerem da responsabilidade não são diagnosticados com transtorno factício imposto a outro porque a proteção da responsabilidade é uma recompensa externa. Cuidadores que, após observação, análise de prontuários médicos e/ou entrevistas com outras pessoas, se descubra que mentem mais extensivamente do que o necessário como autoproteção imediata são diagnosticados com transtorno factício imposto a outro. Transtorno de sintomas somáticos. No transtorno de sintomas somáticos, pode haver busca excessiva por atenção e tratamento em função de preocupações médicas percebidas, mas não há evidência de que o indivíduo esteja dando informações falsas ou se comportando de maneira fraudulenta. Simulação. Simulação é diferenciada de transtorno factício pelo relato intencional de sintomas para ganho pessoal (p. ex., dinheiro, licença do trabalho). Por sua vez, o diagnóstico de transtorno factício requer a ausência de recompensas óbvias. Transtorno conversivo (transtorno de sintomas neurológicos funcionais). O transtorno conversivo é caracterizado por sintomas neurológicos incompatíveis com a fisiopatologia neurológica. O transtorno factício com sintomas neurológicos é distinguido do transtorno conversivo por evidência de falsificação fraudulenta dos sintomas. Transtorno da personalidade borderline. A automutilação deliberada na ausência de intenção suicida também pode ocorrer em outros transtornos mentais, como no transtorno da personalidade borderline. O transtorno factício requer que a indução da lesão ocorra em associação a fraude. Condição médica ou transtorno mental não associados a falsificação intencional de sintomas. A apresentação de sinais e sintomas de doença sem conformidade com uma condição médica ou um transtorno mental identificável aumenta a probabilidade da presença de um transtorno factício. Entretanto, o diagnóstico de transtorno factício não exclui a presença de uma condição médica verdadeira ou um transtorno mental, já que doenças comórbidas com frequência ocorrem no indivíduo em conjunto com transtorno factício. Por exemplo, pessoas que podem manipular níveis sanguíneos de glicose para produzir sintomas podem também ter diabetes.
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