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1 SEMIOLOGIA DA PSICOPATOLOGIA 1 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................ 3 Divisões da semiologia ......................................................................... 6 Sintoma psicopatológico ................................................................... 7 Síndromes e entidades nosológicas ................................................. 8 Desenvolvimento patológico: determinantes genéticos e ambientais do comportamento .................................................................................... 10 História da Psicopatologia .................................................................. 13 Principais métodos de investigação................................................ 16 Diferentes abordagens na psicopatologia ....................................... 17 Definição de psicopatologia ............................................................... 19 Forma e conteúdo dos sintomas..................................................... 22 A ordenação dos fenômenos em psicopatologia ............................ 23 Psicopatologia Descritiva X Psicopatologia Dinâmica .................... 24 Psicopatologia médica versus Psicopatologia existencial .............. 25 Psicopatologia comportamental-cognitivista versus Psicopatologia psicanalítica .............................................................................................. 25 Psicopatologia categorial versus Psicopatologia dimensional ........ 26 Psicopatologia biológica versus Psicopatologia sociocultural ......... 27 Psicopatologia operacional-pragmática versus Psicopatologia fundamental .............................................................................................. 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 29 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Introdução A etimologia da expressão Psicopatologia é composta de três palavras gregas: psychê, que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; pathos, que resultou em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento", "assujeitamento", "patológico" e logos, que resultou em "lógica", "discurso", "narrativa", "conhecimento". Dessa forma, Psicopatologia pode ser compreendida como um discurso ou um saber (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico sobre o padecer psíquico. A psychê é alada; mas a direção que ela toma lhe é dada pelo pathos, pelas paixões. A Psicopatologia é uma ciência complexa, uma ciência natural, destinada à explicação causal dos fenômenos psíquicos mediante os recursos e teorias acerca dos nexos extra conscientes que determinam esses fenômenos; e é ciência do espírito, voltada para a descrição das vivências subjetivas, para a interpretação das suas expressões objetivas e para a compreensão de seus nexos internos e significativos. 4 A Psicopatologia deve considerar o individuo globalmente atentando sempre para os padrões de normalidade aonde o indivíduo a ser questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos sintomas. Considerar um sintoma isolado é fazer com que o objetivo principal de entendê-lo (compreender o indivíduo) seja esquecido. A semiologia geral é a ciência dos signos, postulada pelo linguista Ferdinand Saussure. Embora esteja intimamente relacionada à linguística, a semiologia geral transcende a comunicação verbal, visto que os gestos, atitudes, comportamentos não verbais, sinais matemáticos também são signos. Os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente, e os sintomas, isto é, as vivências subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas e narrativas, aquilo que o sujeito experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém. Todo signo é constituído por dois elementos: o significante que é o suporte material, o veículo do signo; e o significado, que é a aquilo que é designado e está ausente, o conteúdo do veículo. De acordo com o filósofo Charles Pierce, existem três tipos de signos: Ícone é um tipo de sinal no qual o elemento significante evoca imediatamente o significado, pois existe uma grande semelhança entre eles, como se o significante fosse uma “fotografia” do significado. Exemplo: O ícone de masculino ou feminino na porta do sanitário. Indicador ou índice a relação entre o significante e o significado é de contiguidade, ou seja, o significante é um índice, algo que aponta para o objeto significado. Exemplo: a pegada é indicador de que alguém pisou naquele local. Símbolo o elemento significante e o objeto ausente (significado) são distintos em aparência e sem relação de contiguidade. Não há qualquer ligação direta entre eles; trata-se de uma relação arbitrária estabelecida por convenção. 5 Por isto, o sentido e o valor de um símbolo dependem das relações que este mantém com os outros símbolos do sistema simbólico total, ou seja, da ausência ou presença de outros símbolos que expressam significados próximos ou antagônicos a ele. Exemplo: A cruz gamada ou suástica é um dos amuletos místicos mais antigos e universais, sendo utilizada por diversas culturas desde o Período Neolítico, mas passou a ser associada ao nazismo a partir da segunda guerra mundial. A semiologia médica diz respeito aos sintomas e sinais das doenças, permitindo aos profissionais de saúde: Identificar alterações físicas e mentais Ordenar os fenômenos observados Formular diagnósticos Empreender terapêuticas. A semiologia psicopatológica cuida especificamente do estudo dos sinais e sintomas produzidos pelos transtornos mentais. Os sintomas médicos e psicopatológicos têm uma dimensão dupla: são tanto um índice (indicador) como um símbolo. 6 O sintoma como índice aponta para uma disfunção que está em outro ponto do organismo ou do aparelho psíquico. Por exemplo: mãos geladas, tremores e aperto na garganta são indicadores de uma disfunção no sistema nervoso autônomo. Divisões da semiologia A semiologia (tanto a médica como a psicopatológica) pode ser dividida em duas grandes subáreas: semiotécnica e semiogênese. A semiotécnica refere-se a técnicas e procedimentos específicos de observação e coleta de sinais e sintomas, assim como à descrição de tais sintomas. No caso dos transtornos mentais, a semiotécnica concentra-se na entrevista direta com o paciente, seus familiares e demais pessoas com as quais convive. A coleta de sinais e sintomas requer a habilidade sutil em formular as perguntas mais adequadas para o estabelecimento de uma relação produtiva e a consequente identificação dos signos dos transtornos mentais. Aqui são fundamentais o “como” e o “quando” fazer as perguntas, assim como o modo de interpretar as respostas e a decorrente formulação de novas perguntas. Fundamental, sobretudo para a semiotécnica em psicopatologia, é a observação minuciosa, atenta e perspicaz do comportamento do paciente, do conteúdo de seu discurso e do seu modo de falar, da sua mímica, da postura, da vestimenta, da forma como reage e do seu estilo de relacionamento com o entrevistador, com outros pacientes e com seus familiares. A semiogênese, por sua vez, é o campo de investigação da origem, dos mecanismos, do significado e do valor diagnóstico e clínico dos sinais e sintomas. Finalmente, alguns autores utilizam o termo propedêutica médica ou psiquiátrica para designar a semiologia. Propedêutica, de modo geral, é termo empregado em várias áreas do saber para designar o ensino prévio, os conhecimentos preliminares necessários ao início de uma ciência ou filosofia. Prefiro o termo semiologia à propedêutica, mas reconheço que a semiologia psicopatológica (como propedêutica) pode ser concebida como uma ciência 7 preliminar, necessária a todo estudo psicopatológico e prática clínica psiquiátrica. Sintoma psicopatológico Os sintomas médicos e psicopatológicos têm, como signos, uma dimensão dupla. Eles são tanto um índice (indicador) como um símbolo. O sintoma como índice indica uma disfunção que está em outro ponto do organismo ou do aparelho psíquico; porém, aqui a relação do sintoma com a disfunção de base é, em certo sentido, de contiguidade. A febre pode corresponder a uma infecção que induz os leucócitos a liberarem certas citocinas que, por sua ação no hipotálamo, produzem o aumento da temperatura. Assim, o sintoma febre tem determinada relação de contiguidade com o processo infeccioso de base. Além de tal dimensão de indicador, os sintomas psicopatológicos, ao serem nomeados pelo paciente, por seu meio cultural ou pelo médico, passam a ser “símbolos linguísticos” no interior de uma linguagem. No momento em que recebe um nome, o sintoma adquire o status de símbolo, de signo linguístico arbitrário, que só pode ser compreendido dentro de um sistema simbólico dado, em determinado universo cultural. 8 Dessa forma, a angústia manifesta-se (e realiza-se) ao mesmo tempo como mãos geladas, tremores e aperto na garganta (que indicam, p. ex., uma disfunção no sistema nervoso autônomo), e, ao ser tal estado designado como nervosismo, neurose, ansiedade ou gastura, passa a receber certo significado simbólico e cultural (por isso, convencional e arbitrário), que só pode ser adequadamente compreendido e interpretado tendo-se como referência um universo cultural específico, um sistema de símbolos determinado. A semiologia psicopatológica, portanto, cuida especificamente do estudo dos sinais e sintomas produzidos pelos transtornos mentais, signos que sempre contêm essa dupla dimensão. Síndromes e entidades nosológicas Na prática clínica, os sinais e os sintomas não ocorrem de forma aleatória; surgem em certas associações, certos clusters mais ou menos frequentes. Definem-se, portanto, as síndromes como agrupamentos relativamente constantes e estáveis de determinados sinais e sintomas. Entretanto, ao se delimitar uma síndrome (como síndrome depressiva, demencial, paranoide, etc.), não se trata ainda da definição e da identificação de causas específicas e de uma natureza essencial do processo patológico. A síndrome é puramente uma definição descritiva de um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e sintomas. Denominam-se entidades nosológicas, doenças ou transtornos específicos os fenômenos mórbidos nos quais podem-se identificar (ou pelo menos presumir com certa consistência) certos fatores causais (etiologia), um curso relativamente homogêneo, estados terminais típicos, mecanismos psicológicos e psicopatológicos característicos, antecedentes genético- familiares algo específicos e respostas a tratamentos mais ou menos previsíveis. Em psicopatologia e psiquiatria, trabalha-se muito mais com síndromes do que com doenças ou transtornos específicos, embora muito esforço tenha sido (há mais de 200 anos!) empreendido no sentido de identificar entidades 9 nosológicas precisas. Cabe lembrar que o reconhecimento dessas entidades não tem apenas um interesse científico ou acadêmico (valor teórico); ele geralmente viabiliza ou facilita o desenvolvimento de procedimentos terapêuticos e preventivos mais eficazes (valor pragmático). Uma síndrome é conjunto de sinais e sintomas que podem aparecer em um sujeito em um determinado momento. Para Dalgalarrondo (2008, p. 304- 389), uma síndrome pode estar presente em vários transtornos diferentes, como a síndrome delirante-alucinatória (que apresenta como característica delírios e alucinações) que pode estar presente tanto na esquizofrenia como também no transtorno bipolar. Os sujeitos podem ter diferentes e diversas síndromes ao longo de sua vida. Uma pessoa portadora de esquizofrenia pode iniciar seu quadro com uma síndrome negativista, para algum tempo depois apresentar uma síndrome delirante-alucinatória. Nas doenças clínicas, temos a etiologia, os sinais e sintomas, a evolução, o prognóstico e a resposta dos pacientes aos tratamentos. Mas, nos transtornos mentais temos os sinais e sintomas, a evolução, o prognóstico e a resposta dos pacientes aos tratamentos, mas não inclui a etiologia, porque até ainda hoje não podemos precisar uma causa que justifique todos os sinais e sintomas que os pacientes apresentam. 10 Desenvolvimento patológico: determinantes genéticos e ambientais do comportamento O funcionamento psíquico baseia-se em uma complexa interação de elementos biológicos, psicológicos e sociais. Na psicopatologia e na medicina há vários critérios de normalidade e anormalidade. A adoção de um ou outro depende, entre outros motivos, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. Quando se avaliam o estado psicológico e o comportamento de uma pessoa, três fenômenos devem ser considerados: 1. Os tipos de comportamento ou estado emocional, caracterizados como normais ou anormais, variam enormemente com a idade. 2. O desenvolvimento psicológico não prossegue de modo uniforme: ocorre em estágios descontínuos, separados por períodos de mudanças bruscas ou de transição de um estágio para outro. 11 3. O terceiro diz respeito ao ambiente ou à cultura em que cada pessoa vive, com suas peculiaridades, tradições e costumes. A interação de fatores como a herança genética, condições ambientais e experiências ao longo da vida determina o que tem sido descrito como equação etiológica das disfunções psíquicas. Considera-se que aspectos genéticos, tais como inteligência e temperamento, marcam as diferenças principais entre as pessoas, enquanto fatores ambientais como cultura, classe social, família e grupos sociais tendem a tornar as pessoas parecidas. Contudo, apesar dos vários pesquisadores enfatizarem mais algumas variáveis em detrimento de outras, ocorre hoje um consenso quanto à multideterminação da personalidade. Cada pessoa vivencia a realidade e interage com o outro com base na sua história genética, nas aptidões e limitações herdadas, no seu processo de aprendizagem, nas trocas estabelecidas nos diversos grupos do qual fez parte ao longo da vida, nos valores e modelos compartilhados na cultura. E, diante da interação entre tantos determinantes, a tendência é que cada pessoa torne-se cada vez mais diferenciada ao longo da vida. Os fatores genéticos desempenham um papel importante na determinação da personalidade, particularmente em relação àquilo que é único no indivíduo. Os fatores genéticos são geralmente mais importantes em características como a inteligência e o temperamento, e menos importantes com relação a valores, ideias e crenças. O fato de que algumas diferenças surgem cedo, de que são duradouras e parecem ser relativamente dependentes da história de aprendizagem do indivíduo, sugere que essas diferenças se devem a características genéticas ou hereditárias. Em síntese, os genes desempenham o papel de nos tornar parecidos como humanos e diferentes como indivíduos. 12 Os determinantes ambientais abrangem influências que tornam muitos de nós semelhantes uns aos outros, assim como as experiências que nos tornam únicos. As experiências que os indivíduos têm como resultado de fazerem parte de uma mesma cultura são significativas entre os determinantes ambientais da personalidade, pois, apesar de frequentemente não termos consciência das influências culturais, a maioria dos membros de uma mesma cultura terão características de personalidade em comum. Poucos aspectos da personalidade de um indivíduo podem ser compreendidos sem referência a um grupo ao qual a pessoa pertença. Os fatores relacionados com a classe social determinam o status dos indivíduos, os papéis que eles desempenham, os deveres que lhes são atribuídos e os privilégios de que desfrutam. Assim como os fatores culturais, os fatores relacionados com a classe social influenciam a maneira como as pessoas definem situações e como respondem a elas. Um dos fatores ambientais mais importantes na determinação da personalidade é a influência da família. Cada padrão de comportamento parental afeta o desenvolvimento da personalidade da criança de pelo menos três maneiras importantes: 1. Através de seu comportamento, eles apresentam situações que produzem certos comportamentos nas crianças; 2. Eles servem como modelos de identificação; 13 3. Eles recompensam comportamentos de forma seletiva. Tais interações independem do fato dos pais compartilharem com a criança uma herança genética. Os estudos mais recentes têm demonstrado que as diferenças de personalidade entre irmãos não estão apenas nas diferenças constitutivas, mas também nas diferentes experiências que os irmãos têm como membros da mesma família e em experiências fora da família e que as experiências, a partir de ambientes não compartilhados (escola, amigos), têm maior influência sobre a personalidade do que os ambientes compartilhados (contexto familiar). História da Psicopatologia A psicopatologia percorreu um caminho extremamente difícil até se tornar uma ciência autônoma. Psicopatologia e Psicologia científica se iniciaram através de Wundt, Kraepelin e Pavlov, os quais começaram seus caminhos juntos nos mesmos laboratórios. Muito rápido, seguiram rumos diferentes. Não encontrando na Psicologia recursos descritivos e explicativos suficientes para o comportamento anormal, a psicopatologia foi buscá-los na Filosofia, na Retórica e na Literatura, tentando encontrar uma linguagem que a Psicologia não proporcionava. 14 Segundo Isaías Paim, não é fácil descobrir a origem do termo psicopatologia. É possível que o seu criador tenha sido Jeremy Bentham, filósofo inglês (Londres, 1748-1832), que, ao preparar uma lista das motivações humanas, reconheceu a necessidade da organização de uma psychological pathology (1817). Cheniaux (2002) refere que Esquirol e Griesinger, com seus trabalhos publicados, respectivamente na França (em 1837) e na Alemanha (em 1845), é que seriam considerados os criadores da psicopatologia. Para Hervé Beauchesne, a psicopatologia teria surgido no século XX, na França, no momento em que a psicologia, enquanto disciplina científica, começou a se separar da filosofia. “Com algumas raras exceções, os psicólogos de meu país (França) deixaram aos alemães as pesquisas psicofísicas, aos ingleses o estudo da psicologia Podemos definir de forma ampla a psicopatologia como a disciplina que se ocupa do sofrimento psíquico. Sims (2001) refere que a psicopatologia é “o estudo sistemático do comportamento, da cognição e da experiência anormais; o estudo dos produtos de uma mente com um transtorno mental. Isto inclui as psicopatologias explicativas, nas quais existem supostas explicações, de acordo com conceitos teóricos (p. ex., a partir de uma base psicodinâmica, comportamental ou existencial, e assim por diante), e a psicopatologia descritiva, que consiste da descrição e da categorização precisas de experiências anormais, como informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento”. Didaticamente podemos então dividir as psicopatologias em dois grupos: as psicopatologias explicativas, baseadas em modelos teóricos ou achados experimentais, que buscam esclarecimentos quanto à etiologia de uma enfermidade, e as psicopatologias descritivas, que, por sua vez, consistem na descrição e na categorização precisas das experiências patológicas, como informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento. O Webster’s New Internacional Dictionary define o termo como “o estudo científico das alterações mentais do ponto de vista psicológico”. Outras definições são: “Investigação sistemática de estados mentais mórbidos” e “o ramo da ciência que trata da morbidade e patologia da psique ou mente”. 15 Pelas definições apontadas podemos ver que permanece em nossos tempos, não obstante, uma certa confusão quanto ao objeto de estudo da psicopatologia: é a enfermidade mental ou a conduta anormal? É a conduta anormal ou a desadaptada?. Isto se deve às diferenças de enfoques existentes na área ainda que se saiba que a variedade de estabelecimentos de critérios não é característica peculiar da psicopatologia. Como aponta Pereira (2000), “há um problema teórico e ético que acompanha toda a história da psicopatologia: qual a relação do sujeito com o seu próprio sofrimento, com sua própria loucura? Seria ele vítima do acaso, do acidental, daquilo sobre o que ele não tem como interferir enquanto existente? Ou, ao contrário, seria o homem, de alguma forma, o paradoxal sujeito de seu próprio sofrimento?” Existem alguns fatos importantes que marcam a psicopatologia desde o final da Segunda Guerra Mundial até o momento atual: a) a relação da psicopatologia com a prática da psicologia clínica – isto contribuiu para a extensão da ideia de um contínuo entre o estudo do comportamento normal e patológico, ambos sendo regidos por leis idênticas. A psicologia experimental tem tido até o momento uma dificuldade enorme para gerar explicações e modelos que tenham aplicação nos problemas específicos da psicologia clínica e, desta maneira, pode-se falar de duas psicopatologias: 16 uma clínica, basicamente descritiva e fenomenológica, e outra experimental, basicamente especulativa e com pouca capacidade de explicação dos fenômenos clínicos; b) a fragmentação em modelos e escolas; c) o estabelecimento de nosologias e sistemas diagnósticos reconhecidos; d) a Segunda revolução terapêutica (transformação dos hospitais psiquiátricos, atenção comunitária, avanços da farmacologia); e) os aportes das neurociências, sem dúvida, muito importantes. Principais métodos de investigação A psicopatologia está relacionada a múltiplas abordagens e referências teóricas. Destacamos seus principais métodos de investigação: - Fenomenológica: apreende os dados imediatos da consciência tais como eles se apresentam; utiliza a compreensão empática. O fenomenólogo busca colocar-se no lugar do paciente, a fim de sentir como ele se sente, em sintonia e consonância com ele. Transcreve as vivências patológicas e descreve as condutas anormais do doente, indagando sempre a essência dos fenômenos apresentados. - Psicodinâmica: valoriza o papel do Ics buscando o significado do sintoma, e levando em conta os fenômenos da transferência. - Analítico-existencial: retira o foco da essência dos fenômenos para a existência dos pacientes em obediência aos preceitos da filosofia existencial (Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty) e também do método psicanalítico. Confere especial importância às formas de existências patológicas, às noções de tempo e espaço em nossa vida psíquica e aos modos de adoecer mentalmente. (Biswanger, Minkowski). - Neurociências: buscam aporte da psicofarmacologia para possibilitar- lhes melhor conhecimento bioquímico dos transtornos mentais. 17 Diferentes abordagens na psicopatologia Ainda que na tendência atual algo pareça estar mudando, até hoje são encontrados dois grupos claros na psicopatologia: aqueles que se interessam pela investigação básica dos processos psicopatológicos subjetivos e aqueles interessados na prática clínica, que procura evitar os modelos etiológicos e se interessa mais pelas técnicas e procedimentos diagnóstico a partir de uma posição próxima da fenomenologia. 18 De fato, cada disciplina que se ocupa do sofrimento psíquico produz modelos específicos de psicopatologia, coerentes no interior do referencial teórico em que se inscrevem e respondendo a certos problemas inerentes à clínica. Os diferentes enfoques ou abordagens atuais na psicopatologia, de acordo com Ionescu (1997), são: 1. Psicopatologia experimental: Pavlov utiliza pela primeira vez este termo em 1903. É a abordagem dedicada ao estudo do comportamento patológico experimental ou ao estudo experimental do comportamento patológico. 2. Psicopatologia behaviorista: os comportamentos anormais e normais são adquiridos e mantidos por mecanismos idênticos e segundo leis gerais de aprendizagem. Rejeita toda causa interna como causa última do comportamento e liga o aparecimento de todo comportamento ao ambiente do sujeito. Por esta razão, o clínico busca precisar as condições específicas ambientais que precedem, acompanham ou seguem os comportamentos estudados. Trata-se de uma análise destinada a precisar as variáveis ambientais que estão em relação com os comportamentos respectivos. 3. Psicopatologia cognitivista: visa explicar os transtornos mentais levando em conta os processos pelos quais uma pessoa adquire informações sobre ela e seu meio e as assimila para pautar seu comportamento. Assim, os determinantes principais do comportamento anormal são construtores cognitivos. A mente é entendida como um sistema de processamento de informação, o qual, como os computadores, recebe, seleciona, transforma, armazena e recupera dados. Os transtornos podem ser explicados a partir de um mau funcionamento de alguns componentes desse sistema. 4. Psicopatologia biológica: a ênfase é colocada na influência das modificações morfológicas ou funcionais do sistema nervoso sobre a gênese dos transtornos mentais. A tese de que as afecções mentais possuem um substrato orgânico é antiga, e a obra de Kraepelin é considerada como o apogeu da psiquiatria organicista. A evolução posterior implica o aparecimento de duas correntes: a psicobiologia de Adolf Meyer (que considerava a patologia como uma patologia funcional da adaptação) e o organodinamismo de Henry Ey. Nesta abordagem os transtornos mentais são enfermidades cerebrais, que podem ser, 19 de acordo com Buss (1962), causadas por um agente externo (por exemplo, um vírus) que ataca o organismo (enfermidade infecciosa), um mau funcionamento de algum órgão (enfermidade sistêmica) ou trauma (enfermidade traumática). 5. Psicopatologia existencialista: procura ver o paciente tal como é realmente, descobri-lo enquanto ser humano, enquanto ser no mundo e não como uma simples projeção de nossas teorias sobre ele. Interessados pela decisão e vontade humana, os existencialistas insistem sobre o fato de que o ser humano pode influir na sua relação com o próprio destino. Coloca em questão a fronteira entre a normalidade e a patologia, fazendo-nos descobrir uma psicopatologia da média. 6. Psicopatologia fenomenológica: apresenta origens da filosofia alemã nas obras de Husserl e de Heidegger. Temos dois métodos: o primeiro que se pode qualificar de descritivo (Biswanger) e o de Karl Jaspers. Nesse caso, a psicopatologia ocupa-se, sobretudo, do que os doentes vivem, estuda seus estados de espíritos, visa a desvelar significações. 7. Psicopatologia psicanalítica: leva em conta os conceitos fundamentais da psicanálise, a saber, o inconsciente, a transferência, a pulsão e a repetição. 8. Psicopatologia social ou Psiquiatria social: estudo do papel dos fatores sociais na etiologia das manifestações psicopatológicas (ou a sociogênese destas) e as repercussões da doença mental sobre as relações do paciente com seu meio ambiente. Definição de psicopatologia 20 A psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É uma ciência autônoma que busca ser sistemático, elucidativo e desmistificante. Como conhecimento que visa ser científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori. O psicopatólogo não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Além disso, rejeita qualquer tipo de dogma, seja ele religioso, filosófico, psicológico ou biológico; o conhecimento que busca está permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações. O campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”). A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na tradição médica (na obra dos grandes clínicos e alienistas do passado), que propiciou, nos últimos 21 dois séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de doentes mentais. Em outra vertente, a psicopatologia nutre-se de uma tradição humanística (filosofia, literatura, artes, psicanálise) que sempre viu na “alienação mental”, no pathos do sofrimento mental extremo, uma possibilidade excepcionalmente rica de reconhecimento de dimensões humanas que, sem o fenômeno “doença mental”, permaneceriam desconhecidas. Apesar de se beneficiar das tradições neurológicas, psicológicas e filosóficas, a psicopatologia não se confunde com a neurologia das chamadas funções corticais superiores (não se resume, portanto, a uma ciência natural dos fenômenos relacionados às zonas associativas do cérebro lesado), nem à hipotética psicologia das funções mentais desviadas. A psicopatologia é, pois, uma ciência autônoma, e não um prolongamento da neurologia ou da psicologia. Karl Jaspers (1883-1969), um dos principais autores da psicopatologia, afirma que esta é uma ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, por sua vez, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta. Jaspers é muito claro em relação aos limites da psicopatologia: embora o objeto de estudo seja o homem na sua totalidade (“Nosso tema é o homem todo em sua enfermidade.” [Jaspers, 1913/1979), os limites da ciência psicopatológica consistem precisamente em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos. O domínio da psicopatologia, segundo ele, estende-se a “todo fenômeno psíquico que possa apreender-se em conceitos de significação constantes e com possibilidade de comunicação”. Assim, a psicopatologia, como ciência, exige um pensamento rigorosamente conceptual, que seja sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco. Na prática profissional, entretanto, participam ainda opiniões instintivas, uma intuição pessoal que nunca se pode comunicar. Dessa forma, a ciência psicopatológica é tida como uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas não a única. 22 Em todo indivíduo, oculta-se algo que não se pode conhecer, pois a ciência requer um pensamento conceitual sistemático, pensamento que cristaliza, torna evidente, mas também aprisiona o conhecimento. Quanto mais conceitualiza, afirma Jaspers, “quanto mais reconhece e caracteriza o típico, o que se acha de acordo com os princípios, tanto mais reconhece que, em todo indivíduo, se oculta algo que não pode conhecer”. Assim a psicopatologia sempre perde, obrigatoriamente, aspectos essenciais do homem, sobretudo nas dimensões existenciais, estéticas, éticas e metafísicas. Dito de outra forma, não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Sempre resta algo que transcende à psicopatologia e mesmo à ciência, permanecendo no domínio do mistério. Forma e conteúdo dos sintomas Em geral, quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva, etc.), e seu conteúdo, ou seja, aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). Este último é geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo cultural e da personalidade prévia ao adoecimento. De modo geral, os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. 23 A ordenação dos fenômenos em psicopatologia O estudo da doença mental, como o de qualquer outro objeto, inicia pela observação cuidadosa de suas manifestações. A observação articula-se dialeticamente com a ordenação dos fenômenos. Isso significa que, para observar, também é preciso produzir, definir, classificar, interpretar e ordenar o observado em determinada perspectiva, seguindo certa lógica. Assim, desde Aristóteles, o problema da classificação está intimamente ligado ao da definição e do conhecimento de modo geral. Segundo ele, definir é indicar o gênero próximo e a diferença específica. Isso quer dizer que definir é, por um lado, afirmar a que o fenômeno definido se assemelha, do que é aparentado, com o que deve ser agrupado e, por outro, identificar do que ele se diferencia, a que é estranho ou oposto. Portanto, na linha aristotélica, o problema da classificação é a questão da unidade e da variedade dos fatos e dos conhecimentos que sobre eles são produzidos. Classicamente, distinguem-se três tipos de fenômenos humanos para a psicopatologia: 24 1. Fenômenos semelhantes em todas as pessoas. De modo geral, todo homem sente fome, sede ou sono. Aqui se inclui o medo de um animal perigoso, a ansiedade perante uma prova difícil, o desejo por uma pessoa amada, etc. Embora haja uma qualidade pessoal própria para cada ser humano, essas experiências são basicamente semelhantes para todos. 2. Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes. São fenômenos que o homem comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes aos que o doente mental vivencia. Assim, todo homem comum pode sentir tristeza; mas a alteração profunda, avassaladora, que um paciente com depressão psicótica experimenta é apenas parcialmente semelhante à tristeza normal. A depressão grave, por exemplo, com ideias de ruína, lentificação psicomotora, apatia, etc., introduz algo qualitativamente novo na experiência humana. 3. Fenômenos qualitativamente novos, diferentes. São praticamente próprios apenas a certas doenças e estados mentais. Aqui incluem-se fenômenos psicóticos, como alucinações, delírios, turvação da consciência, alteração da cognição nas demências, entre outros. Psicopatologia Descritiva X Psicopatologia Dinâmica Psiquiatria Descritiva interessa-se pela forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas, aquilo que caracteriza a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico. Psiquiatria Dinâmica o enfoque recai sobre o conteúdo da vivência, os movimentos internos de afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos. Para a descritiva interessa fundamentalmente a forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas, àquilo que caracteriza a vivência patológica 25 como sintoma mais ou menos típico. Para a dinâmica interessa o conteúdo da vivência, os movimentos internos dos afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos. A boa prática em saúde mental implica uma combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do doente e sua doença. Psicopatologia médica versus Psicopatologia existencial A perspectiva médico-naturalista trabalha com uma noção de homem centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal. Assim, o adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro, uma desregulação, uma disfunção de alguma parte do “aparelho biológico”. Já na existencial, o doente é visto principalmente como “existência singular”, como ser lançado a um mundo que é apenas natural e biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e humano. O ser é construído pela experiência particular de cada sujeito, na sua relação com outros sujeitos, na abertura para a construção de cada destino pessoal. A doença mental não é vista tanto como disfunção biológica ou psicológica, mas, sobretudo, como um modo particular de existência, uma forma trágica de ser no mundo, de construir um destino, um modo particularmente doloroso de ser com os outros. Psicopatologia comportamental-cognitivista versus Psicopatologia psicanalítica No enfoque comportamental, o homem é visto como um conjunto de comportamentos observáveis, verificáveis, regulados por estímulos específicos e gerais, bem como por certas leis e determinantes do aprendizado. Associada a essa visão, a perspectiva cognitivista centra atenção sobre as representações 26 cognitivistas conscientes de cada indivíduo. As representações conscientes seriam vistas como essenciais ao funcionamento mental, normal e patológico. Os sintomas resultam de comportamentos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e reforçadas pela experiência sociofamiliar. Na visão psicanalítica, o homem é visto como ser “determinado”, dominado por forças, desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise dá grande importância aos afetos que, segundo ela, dominam o psiquismo; o homem racional, autocontrolado, senhor de si e de seus desejos é, para ela, uma enorme ilusão. Na visão psicanalítica, os sintomas e as síndromes mentais são considerados formas de expressão de conflitos, predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser realizados, de temores a que o indivíduo não tem acesso. O sintoma é aceito, nesse caso, como uma “formação de compromisso”, certo arranjo entre o desejo inconsciente, as normas e as permissões culturais e as possibilidades reais de satisfação desse desejo. A resultante desse emaranhado de forças, dessa “trama conflitiva” inconsciente é o que identificamos como sintoma psicopatológico. Psicopatologia categorial versus Psicopatologia dimensional As entidades nosológicas ou transtornos mentais específicos podem ser compreendidos como entidades completamente individualizáveis, com contornos e fronteiras bem demarcados. As categorias diagnósticas seriam “espécies únicas”, tal qual espécies biológicas, cuja identificação precisa seria uma das tarefas da psicopatologia. Em contraposição a essa visão “categorial”, a visão “dimensional” em psicopatologia seria hipoteticamente mais adequada à realidade clínica. Haveria, então, dimensões como, por exemplo, o espectro esquizofrênico, que incluiria desde formas muito graves, tipo “demência precoce” (com grave deterioração da personalidade, embotamento afetivo, muitos sintomas residuais), formas menos deteriorantes de esquizofrenia, formas com sintomas afetivos, chegando até o polo de transtornos afetivos, incluindo formas com sintomas psicóticos até formas puras de depressão e mania. 27 Psicopatologia biológica versus Psicopatologia sociocultural A psicopatologia biológica enfatiza os aspectos cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos das doenças e sintomas mentais. A base de todo transtorno mental são alterações de mecanismos neurais e de determinadas áreas e circuitos cerebrais. Doenças mentais são (de fato) doenças cerebrais. Em contraposição, a perspectiva sociocultural pretende estudar os transtornos mentais como comportamentos desviantes que surgem a partir de determinados fatores socioculturais, como a discriminação, a pobreza, a migração, o estresse ocupacional, a desmoralização sociofamiliar e outros. Os sintomas e síndromes devem ser estudados, segundo tal perspectiva, no seu contexto eminentemente sociocultural, simbólico e histórico. É nesse contexto de normas, valores e símbolos culturalmente construídos que os sintomas recebem seu significado e, portanto, poderiam ser precisamente estudados e tratados. Mais que isso, a cultura, nessa perspectiva, é elemento fundamental na própria determinação do que é normal ou patológico na constituição dos transtornos e nos repertórios terapêuticos disponíveis em cada sociedade. Psicopatologia operacional-pragmática versus Psicopatologia fundamental Na visão operacional-pragmática, as definições básicas dos transtornos mentais e dos sintomas são formuladas e tomadas de modo arbitrário, em função de sua utilidade pragmática, clínica ou para pesquisa. Não se questiona a natureza da doença ou do sintoma ou os fundamentos filosóficos ou antropológicos de determinada definição. É o modelo adotado pelas modernas classificações de transtornos mentais: o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4ª edição (DSM-IV), da Associação Americana de 28 Psiquiatria e a Classificação Internacional de Doenças, versão número 10 (CID- 10), da OMS. O projeto de psicopatologia fundamental, proposto pelo psicanalista francês Pierre Fedida, objetiva centrar a atenção da pesquisa psicopatológica sobre os fundamentos de cada conceito psicopatológico. Além disso, tal psicopatologia enfatiza a noção de doença mental enquanto pathos, que significa sofrimento, paixão e passividade. O pathos é um sofrimento/paixão, que ao ser narrado a um interlocutor, em determinadas condições, pode ser transformado em experiência e enriquecimento. Ficará a cargo do profissional, ao avaliar seu cliente, estabelecer critérios e os momentos corretos de escolha da melhor escola psicopatológica. A maioria das psicopatologias tem início com os distúrbios mais clássicos de nossa manutenção vital, o sono. É comum encontrar como queixa principal esta observação do paciente ou parceiro (a), família, amigos e outros. 29 REFERÊNCIAS BEAUCHESNE, H. História da psicopatologia. São Paulo: Martins Fontes, 1989. BOROSSA, Julia. Conceitos da psicanálise: histeria. Rio de Janeiro: Viver, 2005. BRASIL. Política nacional de redução de danos. Brasília: Ministério de Saúde, 2017. Disponível em: <https://goo.gl/kyEcez>. 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