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AULA 6 PROBLEMAS AMBIENTAIS – TENDÊNCIAS GLOBAIS Profª Aline Bisinella Ianoski 2 CONVERSA INICIAL No modelo de produção atual, o fluxo é linear, retiram-se os recursos da natureza, o material é produzido e descartado, e pouca ou nenhuma energia da matéria é reaproveitada. É necessário reavaliar o design dos produtos, garantindo que sejam menos impactantes ao meio ambiente, e rever os processos de produção, otimizando-os de maneira a eliminar desperdícios. Ações como esta serão as apostas do futuro. A comunidade exige das empresas posturas sustentáveis e as avalia pelos relatórios de sustentabilidade e selos ambientais conquistados. Após esta aula, você deverá ser capaz de compreender o desenvolvimento sustentável e reconhecer os relatórios de sustentabilidade, identificar as características de produção mais limpa, do design ecológico e da economia circular, e reconhecer as rotulagens e certificações ambientais. TEMA 1 – TENDÊNCIAS GLOBAIS A exploração de recursos naturais e a degradação ambiental impulsionaram a adoção de práticas ambientais pelas indústrias devido à pressão da comunidade e dos setores públicos e privados. Neste novo contexto, a sustentabilidade passa a ser um assunto indispensável, pois com ela é possível garantir a continuidade do negócio. 1.1 Desenvolvimento sustentável A Revolução Industrial, junto com o aperfeiçoamento das tecnologias de produção, possibilitou a fabricação de mercadorias em larga escala, o que culminou na retirada de grandes quantidades de matéria-prima da natureza, provenientes de fontes renováveis e não renováveis. Além disso, a intensa produção contribuiu aumentou a poluição ambiental, devido à geração elevada de poluentes sólidos, líquidos e gasosos. O alto poder de produção, atrelado à expansão do consumo, foi motivo de euforia para a economia dos países industrializados. Com foco na produção, as indústrias se tornaram cada vez mais produtivas, e desconheciam e/ou ignoravam os problemas ambientais relacionados ao negócio. Entre as décadas de 1950 e 1980, vários desastres ambientais sem precedentes ocorreram, e a população 3 começou a cobrar das empresas um posicionamento sobre estas situações. Entre os acidentes ambientais desta época, alguns merecem destaque: a contaminação por mercúrio nas águas da baía de Minamata, no Japão; a contaminação radioativa na Europa causada pela explosão da usina de Chernobyl, na extinta União Soviética, e o vazamento de petróleo no mar na região do Alasca, provocado pelo navio da Exxon Valdez. As três tragédias causaram graves problemas ambientais, provocando a morte de milhares de animais e um forte desequilíbrio ecológico. Essas tragédias levaram a sociedade a amadurecer sua consciência a respeito da relação homem-natureza, pois foram causadas por um padrão de vida incompatível com o processo de regeneração ambiental (Bellen, 2005). Esta reflexão teve início na década de 1970 e originou o conceito “desenvolvimento sustentável”, o qual preconiza que o desenvolvimento deve ocorrer de forma a garantir a continuidade do homem e seu meio externo. Para isso, sua base de sustentação, o meio ambiente, não pode ser destruída (Bellen, 2005). Com esse conceito, questiona-se como ajustar as atividades humanas e reduzir os aspectos ambientais, ou seja, como tornar a relação entre homem e meio ambiente sustentável. Para entender o contexto e resolver estes problemas, as organizações têm criado indicadores e ferramentas para mensurar o nível de sustentabilidade. A preocupação ambiental das empresas passou a ser de interesse de acionistas, fornecedores, clientes, governo e população em geral, contribuindo para estabelecer novas leis. Assim, além de mensurar seus resultados, as organizações têm divulgado para a sociedade estes números e as ações de melhoria tomadas em nível ambiental, social e econômico. Uma das principais ferramentas para divulgar estes resultados são os relatórios de sustentabilidade. 1.2 Relatórios de sustentabilidade Os primeiros relatórios de sustentabilidade tinham como objetivo mostrar os resultados ambientais das organizações, revelando os aspectos gerados pelas atividades e as atitudes tomadas para redução de danos à natureza. Gradativamente, começaram a ser incorporadas aos relatórios informações econômicas e sociais. Assim, hoje eles apresentam resultados da esfera social, econômica e ambiental (Borges et al., 2018). 4 Várias metodologias podem ser aplicadas para elaborar um relatório, e a mais aplicada é a GRI, proposta pela Global Reporting Initiative, instituição com sede na Holanda que busca disseminar uma metodologia global para elaborar este documento, para que as organizações possam expor seus resultados e compartilhá-los, mostrando de forma clara seus resultados em relação à sustentabilidade nas três esferas. A aceitação desta metodologia é tão grande que os termos “Relatório de Sustentabilidade” e “Relatório GRI” são frequentemente considerados sinônimos (BHpress, [s.d.]). Desde a Eco-92, a quantidade de relatórios de sustentabilidade produzidos pelas empresas tem aumentado. Em uma pesquisa da plataforma Reporting Exchange, capaz de mapear as tendências relacionadas ao número de relatórios ambientais, o Climate Disclosure Standards Board (CDSB) lançou em 2018 a publicação Insights from the Reporting Exchange: ESG Reporting Trends. A publicação, que analisou dados de até 2017, indicou que o número de relatórios de sustentabilidade aumentou em mais de 10 vezes desde a Eco-92 para as regiões avaliadas (Ásia-Pacífico, Europa, América do Norte e do Sul). Além do aumento na elaboração destes documentos, existe um crescimento com relação da apresentação de tópicos ambientais: 69% abordavam a temática, número expressivo se comparado ao quesito social, que estava em 49% dos relatórios (CDSB, 2018). TEMA 2 – PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L) Atividades produtivas causam problemas ambientais, pois retiram recursos da natureza e geram poluentes. Assim, é praticamente impossível uma empresa ser considerada “zero impacto” ou completamente sustentável. O que elas precisam fazer é desenvolver tecnologias capazes de otimizar seus processos, reduzindo os aspectos ambientais gerados pela atividade, consequentemente diminuindo os impactos ambientais e tornando a produção menos agressiva do ponto de vista ambiental. A preocupação com questões ambientais evoluiu muito nas últimas décadas, especialmente se analisarmos o histórico do gerenciamento ambiental, marcado por três períodos (Quadro 1). A primeira fase foi marcada pela disposição dos resíduos sem se preocupar com sua poluição, ou seja, os resíduos gerados por uma empresa eram lançados no meio ambiente sem o tratamento adequado. 5 Em um segundo momento, as empresas iniciaram a busca por alternativas capazes de tratar estes resíduos, pois sabiam que sua disposição no meio ambiente poderia causar contaminação. O terceiro momento é a prevenção da poluição, ou seja, em um processo produtivo, busca-se eliminar a fontes de geração do resíduo, e é sobre este princípio que a Produção mais Limpa (P+L) é fundamentada. Não haveria necessidade de se preocupar em como lidar com o resíduo, pois ele deixaria de existir devido à otimização dos processos produtivos. Quadro 1 – Evolução das questões ambientais DÉCADA 1950/1960 1970/1980 1990/atualmente DESTINO DOS RESÍDUOS Disposição Tratamento Prevenção CONTEXTO Diluição dos resíduos no ar e na água; Inexistência quase total de responsabilidade ambiental. Controle dos resíduos no final do tubo (end-of- pipe); Sistema de licenciamento ambiental. Integração total da responsabilidade na estrutura empresarial Atitude proativa: além do cumprimentodas normas, buscam- se tecnologias limpas. Fonte: adaptado de Senai-RS, 2003. A P+L é um conjunto de princípios e ferramentas que consistem na aplicação de estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, evitando o desperdício de resíduos – sólidos, líquidos ou gasosos. Em outras palavras, toda a forma de desperdício seria eliminada e, como consequência, a geração dos resíduos seria evitada, pois eles são resultado de processos ineficientes, e o consumo da matéria-prima seria reduzido. Enquanto a abordagem convencional identifica o resíduo e reflete sobre o que podemos fazer com ele, a abordagem P+L faz a seguinte análise: de onde ele vem? Como ele é gerado? Em que circunstâncias é gerado? Ou seja, enquanto a primeira abordagem dedica-se à solução do problema sem questioná- 6 lo (técnica “fim de tubo”), com a P+L entendemos as causas da geração do resíduo e a possibilidade de eliminá-lo na fonte. As principais diferenças entre a abordagem convencional (“fim de tubo”) e a P+L constam no Quadro 2. Quadro 2 – Principais diferenças entre a abordagem convencional e a P+L TÉCNICAS FIM DE TUBO P+L Atividades reativas Atividades preventivas Resíduos, efluentes e emissões são controladas com equipamentos de tratamento Prevenção da geração de resíduos, efluentes e emissões na fonte. Procura-se evitar matérias- primas potencialmente tóxicas Proteção ambiental é um assunto para especialistas competentes Proteção ambiental é tarefa de todos A proteção ambiental atua depois do desenvolvimento dos processos e produtos A proteção ambiental atua como parte integrante do design do produto e da engenharia de processo Os problemas ambientais são resolvidos com base em um ponto de vista tecnológico Os problemas ambientais são resolvidos em todos os níveis e em todos os campos Não há preocupação com o uso eficiente de matérias-primas, água e energia Uso eficiente de matérias-primas, água e energia Devido às perdas do processo, eleva-se o custo operacional Devido à otimização do processo, o custo operacional é reduzido Fonte: Senai-RS, 2003. (Adaptado). O processo produtivo na ótica P+L elimina também os desperdícios relacionados à energia e água. Todos estes ganhos são ambientais e reduzem os aspectos e impactos ambientais da organização e, além disso, representam economia em termos financeiros para a organização. Para aplicar a P+L, deve-se fazer um fluxograma de todo o processo, identificando e quantificando as entradas e saídas. Após isso, deve-se analisar a saída do processo, buscando entender as causas e aplicar as ações prioritárias Nível 1, seguidas do Nível 2 e Nível 3, como mostra a Figura 1. 7 Figura 1 – Opções de P+L Fonte: Senai-RS, 2003. A aplicação da P+L é tendência nas organizações, pois: Elimina/reduz aspectos e impactos ambientais: elimina/reduz resíduos gerados durante o processo, sejam sólidos, líquidos ou gasosos; Previne a poluição: os processos ocorrem em circuito fechado, otimizando os recursos naturais (água, por exemplo) e evitando contaminações ao meio ambiente; Reduz o consumo energético: a otimização dos processos elimina os desperdícios de energia; Produtos ambientalmente adequados: os produtos gerados devem ser ambientalmente amigáveis, não devem ser tóxicos nem de difícil reciclagem, e sua concepção deve ser avaliada em uma perspectiva de ciclo de vida. Todas estas vantagens reduzem o custo de produção, pois eliminam as perdas de energia, água e matéria-prima, bem como os custos com o tratamento de resíduos. A P+L é uma ótica de produção ambientalmente amigável e com ganhos financeiros. 8 TEMA 3 – DESIGN ECOLÓGICO O design ecológico surgiu da união dos conceitos de design e ecologia. O termo foi oficializado no livro Design for the Real World: Human Ecology and Social Change, publicado em 1974 pelo designer Victor Papanek. O livro discute a função do design para o ser humano, ética e ecologicamente. Na época, os EUA passavam por uma crise do petróleo, e a preocupação com a preservação ambiental tornava-se mundial. O termo “design ecológico”, também conhecido como “design verde”, “eco friendly design”, “ecodesign” ou “design limpo”, consiste em um conjunto de práticas adotadas no desenvolvimento de produtos e projetos que consideram as questões ecológicas. Em contrapartida, os projetos tradicionais buscam apenas satisfazer as necessidades do cliente (Figuras 2 e 3) (Tiburtino-Silva; Maciel; Costa, 2018). Figura 2 – Desenvolvimento de produto pelo processo convencional Fonte: Giannetti; Almeida, 2006. 9 Figura 3 – Desenvolvimento de produto com conceito de design ecológico Fonte: Giannetti; Almeida, 2006. Muitos produtos e processos atualmente não são criados com um conceito sustentável, contribuindo para a escassez de recursos naturais e causando impactos ambientais. Assim, desenvolver produtos com design ambientalmente ecológico pode ser a solução para estes problemas, garantindo também competitividade para as empresas que adotam a sistemática. Pazmino (2007) sugere algumas diretrizes para alcançar os processos de ecodesign: Reduzir a utilização de recursos naturais e de energia; Usar materiais não exauríveis (esgotáveis); Usar materiais não prejudiciais (danosos e perigosos); Usar materiais reciclados, recicláveis e renováveis; Codificar os materiais para facilitar sua identificação; Pouca geração de resíduos; Redução da variabilidade dos produtos; Reduzir o consumo de energia; Utilizar tecnologias apropriadas e limpas; Reduzir peso e/ou volume; Assegurar a estrutura modular do produto; Aumentar a confiabilidade e durabilidade; 10 Eliminar embalagens ou projetar embalagens recicláveis (ou reutilizáveis); Facilitar manutenção e reparos; Manter os componentes mediante reposições ou refil; Desmaterializar os produtos (desmontagem para a logística reversa). TEMA 4 – ECONOMIA CIRCULAR A economia circular é um conceito estratégico pautado na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, substituindo a ideia de “fim de vida” dos materiais, imposta pelo atual sistema de economia linear, por um processo cíclico. Este modelo tenta reproduzir a inteligência cíclica da natureza, na qual nada se perde, tudo se aproveita. Os resíduos orgânicos, por exemplo, são decompostos por processos naturais, permitindo a reciclagem de nutrientes – oposto ao que acontece em nosso sistema de produção, cujos resíduos gerados não são reaproveitados. O atual sistema de produção é linear, ou seja, os recursos são retirados da natureza, transformados em produtos e, depois de utilizados, são descartados, gerando acúmulo de resíduos e extração excessiva de recursos. Os produtos que param de funcionar são substituídos rapidamente por novos, e os antigos são descartados sem que os recursos contidos neles sejam reaproveitados. Dessa forma, ignoramos recursos ainda disponíveis e colocamos em risco o meio ambiente, já que estes resíduos degradam a natureza. Na abordagem da economia circular, os produtos seriam projetados para desmontagem e regeneração e, assim, em vez de um produto ser descartado, ele seria encaminhado para empresas responsáveis por desmontá-los e reaproveitar as peças em novos produtos. Neste ponto, praticamente se encerraria a ideia de resíduo, pois quase tudo seria continuamente utilizado em um novo processo (Figura 4). 11 Figura 4 – Fluxo na economia circular Fonte: petovarga/Shutterstock. A economia circular é uma tendência, visto que os recursos naturais não renováveis estão se esgotando, o que torna o reaproveitamento de resíduos uma possível solução para a problemática. No Brasil,a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, estabelecendo inclusive a logística reversa, na qual quem produziu deve ter condições de receber o produto novamente após o uso do cliente. Este modelo de negócio protegerá as empresas contra a escassez dos recursos, criando inovações na forma de consumir, descartar e produzi-los. 12 TEMA 5 – ROTULAGEM E CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL Rótulos ou selos ambientais são certificados que demonstram os avanços ambientais dos produtos e processos de uma organização. Existem vários tipos de selo, alguns concedidos por órgãos externos, e outros, autodeclarados. Ambos são bem vistos por acionistas, fornecedores e a comunidade em geral, pois revelam a adoção de práticas ambientalmente amigáveis. 5.1 Rotulagem ambiental A rotulagem ambiental é praticada em vários países. Um dos principais objetivos é que, com o produto identificado com selo ambiental, o consumidor desenvolva uma consciência no momento da compra. Além de ser um mecanismo de informação, é um instrumento de marketing utilizado pelas empresas. A rotulagem ambiental é normatizada no Brasil pela Associação Brasileira de Norma Técnicas (ABNT). Existem três tipos rotulagem ambiental, conforme o Quadro 3. Quadro 3 – Comparação dos três tipos de rotulagem ambiental Tipo I ISO 14024 Tipo II ISO 14021 Tipo III ISO 14025 Sistema de premiação aprova/reprova Declaração na forma de texto* e/ou logo Informação quantificada Licença concedida por terceira parte para uso do rótulo (normalmente um logo) Melhorias devem ser quantificáveis Pode ser apresentado de diversas formas, como texto, gráfico ou ilustração Voluntário Voluntário Voluntário Critérios múltiplos, baseados em impactos do ciclo de vida do produto Normalmente baseia-se em critério único, mas pode ser de múltiplos critérios Critérios múltiplos, baseados em estudo de avaliação do ciclo de vida do produto Conjunto de critérios e avaliação do produto determinados por terceira parte Autodeclaração, sem envolvimento de terceira parte Conjunto de dados ambientais quantitativos determinados por terceira parte, mas que devem ser submetidos a uma revisão crítica Exemplos: Blue Angel – Alemanha Nordic Swan – Países Nórdicos The Flower – União Europeia Exemplo: “Feito com X% de material reciclado” Exemplo: Folheto da Volvo para o automóvel S80 *Declarações indefinidas devem ser evitadas, por exemplo, “amigo do meio ambiente”, “sustentável” etc. Fonte: ABNT, 2016. 13 Tipo I – Rótulos ambientais certificados: estes rótulos possuem diretrizes estabelecidas pela NBR ISO 14024:04. São concedidos e controlados por uma terceira parte, como órgãos governamentais e instituições reconhecidas. Esta norma define os critérios para desenvolver programas de rotulagem ambiental, incluindo categorias, critérios ambientais e características funcionais dos produtos, além da avaliação da conformidade e a concessão do rótulo. Um exemplo de rótulo deste tipo no Brasil é o Rótulo Ecológico ABNT, lançado em 2008. É um selo generalista, concedido a produtos que seguem diretrizes internacionais de sustentabilidade estabelecidas pela Global Ecolabelling Network (GEN). Para tanto, leva em consideração o ciclo de vida dos produtos, objetivando a redução dos impactos ambientais negativos. Outro exemplo de rótulo, utilizado em vários países, certifica o produto com menor impacto ambiental da categoria. Para conquistar este rótulo, é feita uma comparação entre produtos da mesma categoria. Baseando-se em um conjunto de critérios e avaliação do ciclo de vida, o produto com menor impacto ambiental pode receber o selo. Apenas alguns países o adotam. Tipo II – autodeclarações ambientais: são autodeclarações ambientais ou reinvindicações espontâneas emitidas pelos próprios fabricantes sem a avaliação de terceiros e sem critérios preestabelecidos (Moura, 2013). As diretrizes desta rotulagem são estabelecidas pela NBR ISO 14021:17. Esta rotulagem é uma ferramenta de comunicação entre o fabricante e o consumidor, e tem como objetivo aumentar o interesse do consumidor por produtos ambientalmente amigáveis. A norma especifica os requisitos para as autodeclarações, incluindo textos, símbolos e gráficos com informações pertinentes ao produto. 14 Figura 5 – Exemplo de autodeclaração ambiental Fonte: SKOLARI123/Shutterstock. Nem todos os símbolos e textos de uma embalagem podem ser considerados rótulos ambientais. Em algumas embalagens, é utilizada a simbologia técnica de identificação de materiais (Figura 6), cuja função é identificar a composição do produto/embalagem, fortalecendo a cadeia de reciclagem, não sendo considerada um rótulo ambiental. Figura 6 – Simbologia técnica Fonte: Lena Pronne/Shutterstock. Tipo III – Declaração ambiental de produto: possui diretrizes previstas pela norma NBR ISO 14025:15. Esta rotulagem é verificada por terceiros e inclui informações quantitativas oriundas da análise do ciclo de vida do produto, a qual é feita com bancos de dados para avaliá-lo em todas as etapas, mensurando de forma exata os impactos ambientais gerados (Moura, 2013). Seu objetivo é proporcionar informações detalhadas do produto ao cliente. 15 5.2 Principais selos ambientais Existe uma variedade de selos ambientais, e muitos deles são específicos para determinados ramos de atividade. A adesão a um selo ambiental, além de poder ser utilizado como marketing, pode ser um requisito avaliado na seleção de fornecedores e prestadores de serviço. Assim, cresce o número de selos ambientais disponíveis e empresas interessadas em sua obtenção. 5.2.1 LEED A Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) é uma certificação ambiental internacional conferida a edificações. No Brasil ela é gerenciada pelo Green Building Council Brasil (GBC) e, para obter esse selo, as construções são avaliadas de acordo com os seguintes critérios: Espaço sustentável: alternativas para reduzir impactos ambientais em centros urbanos, como a formação de ilhas de calor, acúmulo de água etc.; Eficiência do uso de água: alternativas que reduzam o consumo de água, promovam seu tratamento e reúso; Energia e atmosfera: alternativas que aumentem a eficiência energética na construção; Materiais e recursos: avaliar materiais utilizados na construção que devem ser de baixo impacto; Qualidade ambiental interna: avaliar alternativas que propiciem o conforto térmico e a utilização de materiais com baixo teor de emissão de compostos orgânicos voláteis; Inovação e processos: avaliar a presença de outras tecnologias ambientais não elencadas nas outras categorias; Créditos de prioridade regional: incentivar créditos definidos como prioridade regional no Brasil. A quantidade de pontos classifica a categoria “construção”, devendo-se obter minimamente 40 pontos para receber o certificado. Caso a pontuação ultrapasse 110 pontos, a empresa atinge o nível máximo de classificação (platina). 16 5.2.2 GHG Protocol O GHG Protocol foi desenvolvido pelo World Resources Institute (WRI) e pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). É uma ferramenta que permite às empresas contabilizar a emissão dos gases do efeito estufa (GEE) e estabelecer medidas para reduzi-la, contribuindo para diminuir seus impactos nas mudanças climáticas. Existem três escopos com esse método, e apenas o terceiro é opcional. Escopo 1: emissões diretas da empresa. Deve-se contabilizar o consumo de todos os materiais utilizados na produção que contribuem para gerar GEE. Por exemplo, pode-se registrar o consumo de gases refrigerantes, combustíveis como etanol, gasolina, GLP, querosene etc.; Escopo 2: emissões indiretas causadas peloconsumo de energia elétrica. Neste escopo, avalia-se o consumo de energia da organização e a fonte, por exemplo: empresas que utilizam energias renováveis geram menos GEE que as empresas que compram energia de fontes não renováveis; Escopo 3: todas as outras emissões indiretas de GEE, sejam elas relacionadas aos materiais e insumos comprados pela organização (upstream) ou relacionadas aos bens e serviços vendidos (downstream). A cada ano, as emissões totais são quantificadas dentro de cada um dos escopos, contabilizando-se a geração total de GEE na ferramenta do GHG Protocol. A quantidade de gases gerada pode ser compensada com a compra de créditos de carbono. Desta forma, as empresas identificam suas gerações, trabalham em projetos de redução, e as emissões que não podem ser eliminadas são compensadas. Ao publicar no GHG Protocol, três categorias de selo podem ser atribuídas aos inventários de GEE: Ouro: inventário de GEE é verificado por organismo de verificação acreditado pelo Inmetro; Prata: inventário de GEE completo, incluindo todas as fontes de escopo 1 e 2 e escopo 3 opcional; Bronze: publicar um inventário de GEE parcial, que não inclua necessariamente todas as fontes de escopo 1, 2 e 3. 17 5.2.3 FSC O selo Forest Stewardship Council (FSC) certifica a madeira produzida de forma sustentável, desde o manejo até o fim da cadeia produtiva. Costuma ser encontrado em papel, móveis e embalagens. 5.2.4 Procel No Brasil, o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) é o mais famoso entre os selos ambientais. Ele surgiu para incentivar o uso eficiente de energia elétrica, combatendo seu desperdício no Brasil e garantindo, por meio de critérios do Inmetro, que o equipamento tenha categoria A de eficiência energética, ou seja: gasta menos energia elétrica e, por isso, é mais sustentável. 5.2.5 AQUA-HQE O AQUA-HQE é uma certificação internacional da construção sustentável desenvolvida com base na certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale) e aplicada no Brasil exclusivamente pela Fundação Vanzolini. A certificação avalia a qualidade ambiental de edifícios em 14 categorias de preocupação ambiental (Portal Vanzolini, 2014). 18 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Artigo: panorama atual de rotulagem ambiental no contexto das construções sustentáveis. 2016. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/noticias/4917-artigo-panorama-atual-de-rotulagem- ambiental-no-contexto-das-construcoes-sustentaveis>. Acesso em: 21 ago. 2019. _____. Rótulo ecológico. 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