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IV - Os mecanismos de defesa |As teorias psicanalíticas|

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DESCRIÇÃO
Criação do conceito de defesa em Freud; os mecanismos de defesa em Freud e seguidores; o
papel da defesa na formação do sintoma.
PROPÓSITO
Compreender o desenvolvimento dos conceitos e dos mecanismos de defesa, relacionando-os
à formação do sintoma, é fundamental para a prática clínica psicanalítica.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste conteúdo, tenha em mãos alguns dicionários de Psicanálise,
tais como:
Vocabulário de Psicanálise, de Laplanche e Pontalis, publicado pela editora Martins
Fontes.
Dicionário de Psicanálise, de Elizabeth Roudinesco e Michel Plon, publicado pela editora
Zahar.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o conceito de defesa identificando os diferentes mecanismos de defesa
MÓDULO 2
Relacionar os mecanismos de defesa à formação de sintomas
INTRODUÇÃO
Todos os seres humanos vivem um conjunto de pressões no seu cotidiano que se originam
tanto do mundo interno quanto do mundo exterior. Tais pressões podem trazer certos impasses
que causam angústia. A teoria psicanalítica entende que, na tentativa de resolução desses
conflitos, utilizamos mecanismos psíquicos inconscientes chamados de mecanismos de
defesa. Defender-se é uma tendência normal de todos os indivíduos. Entretanto, podemos
considerar que esses mecanismos podem ser bem-sucedidos ou não quanto a suprimir
sofrimento ou dor psíquica. Nesse sentido, os mecanismos de defesa podem trazer
adoecimento de acordo com sua rigidez, sua repetição e não flexibilidade, levando à criação de
sintomas.
Nos próximos módulos, vamos reconhecer e diferenciar os mecanismos de defesa e 
sua relação com a formação de sintomas. Tal estudo é fundamental para o 
conhecimento de como se encontra o funcionamento da psique, saudável ou 
patológica, colaborando para o trabalho na clínica psicanalítica.
MÓDULO 1
 Reconhecer o conceito de defesa identificando os diferentes mecanismos de defesa
A ORIGEM DO CONCEITO DE DEFESA
O desenvolvimento da teoria psicanalítica teve seu fundamento na prática clínica. Freud, ao
iniciar seu trabalho clínico, no final do século XIX, realizou uma mudança de perspectiva –
deixou de olhar o sintoma e passou a escutar o drama de cada paciente, como esse sintoma
se organizou. A partir desse ângulo, passou a buscar a organização e funcionamento do
psiquismo. Trabalhando com a histeria, suas primeiras experiências clínicas o colocaram de
frente com a questão do trauma. Na tentativa de compreensão do traumático, Freud se depara
com as origens do mecanismo defensivo.
 VOCÊ SABIA
A primeira vez que Freud fez uso do termo defesa foi no seu texto Neuropsicoses de Defesa,
de 1894. Estamos falando do início do desenvolvimento da teoria psicanalítica. Veremos
mudanças nessa conceituação com o passar de seus estudos e com as novas concepções
sobre o aparelho psíquico, mais precisamente a apresentação da segunda tópica, referente ao
surgimento das instâncias psíquicas Id, Ego e Superego.
Freud, no texto Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos (1893), estabelece uma
relação entre o traumático e o adoecimento psíquico. Essa relação é encontrada no processo
de “defesa”. E como Freud descreve tal situação? A existência de uma incompatibilidade na
vida mental, mais precisamente uma experiência de caráter aflitivo, de desprazer, em uma
contradição vivida entre uma ideia conflitante e o eu, produz o ato voluntário na direção do
esquecimento. Para tal, será necessária a “divisão da consciência”, resultado da tentativa de
livrar-se dessa lembrança tão aflitiva. Podemos perceber que, no final do século XIX, havia
uma ideia bem geral do conceito de recalcamento, que será melhor entendido posteriormente.
Esse recalque incidiria sobre a ideia ou lembrança e também sobre o afeto, expulsando-os da
consciência e fazendo surgir essa segunda consciência.
Prosseguindo nessas investigações e conclusões, veremos a ação do mecanismo de defesa
sofrendo importantes modificações. No texto, Neuropsicoses de Defesa, Freud (1975, p. 55)
descreveu:
(...) HOUVE UMA OCORRÊNCIA DE
INCOMPATIBILIDADE EM SUA VIDA REPRESENTATIVA
— ISTO É, ATÉ QUE SEU EU SE CONFRONTOU COM
UMA EXPERIÊNCIA, UMA REPRESENTAÇÃO OU UM
SENTIMENTO QUE SUSCITARAM UM AFETO TÃO
AFLITIVO QUE O SUJEITO DECIDIU ESQUECÊ-LO,
POIS NÃO CONFIAVA EM SUA CAPACIDADE DE
RESOLVER A CONTRADIÇÃO ENTRE A
REPRESENTAÇÃO INCOMPATÍVEL E SEU EU POR
MEIO DA ATIVIDADE DE PENSAMENTO. A TAREFA
QUE O EU SE IMPÕE, EM SUA ATITUDE DEFENSIVA,
DE TRATAR A REPRESENTAÇÃO INCOMPATÍVEL
COMO “NON-ARRIVÉ”, SIMPLESMENTE NÃO PODE
SER REALIZADA POR ELE. TANTO O TRAÇO
MNÊMICO COMO O AFETO LIGADO À
REPRESENTAÇÃO LÁ ESTÃO DE UMA VEZ POR
TODAS E NÃO PODEM SER ERRADICADOS.
Freud (1975, p. 55).
 ATENÇÃO
Fica claro o comportamento de sujeito no sentido de se proteger da dor psíquica, mas também
seu insucesso.
Continuando suas pesquisas, principalmente a partir de sua clínica, Freud passa a observar
que, para além da divisão da consciência, destinos múltiplos para o afeto rejeitado da
consciência seriam encontrados. No esforço de afastar a ideia irreconciliável, o afeto a ela
ligado toma caminhos diversos. Esse afeto, ou “soma de energia”, ou “soma de excitação
sexual” é deslocada para outra ideia, ou para partes somáticas. Esse destino dado à carga
afetiva será responsável pelo surgimento dos sintomas e das patologias.
Em 1896, no texto Novas observações sobre as psiconeuroses de defesa, Freud identifica os
mecanismos defensivos mais característicos da histeria, da neurose obsessiva e da psicose.
É preciso compreender que o movimento defensivo do sujeito é absolutamente normal.
Entretanto, por nem sempre ser bem-sucedido, poderemos encontrar repercussões no
funcionamento da mente significando adoecimento ou estados patológicos.
No final do século XIX, período chamado pré-psicanalítico, já encontramos o esboço de alguns
conceitos de mecanismos defensivos utilizados por um “eu” que luta contra os impulsos
internos, contra a pulsão que deseja se satisfazer. Vislumbramos o recalque e o deslocamento
que estudaremos aqui mais adiante.
A pergunta sobre o porquê esse “eu” coloca em jogo uma defesa contra a possibilidade de
alcançar uma satisfação pulsional ou obter prazer só seria mais bem respondida com o
aprofundamento teórico-clínico de conceitos elaborados nos anos e décadas seguintes. A
proposição de um modelo do aparelho psíquico em que existem sistemas com características e
funções diferenciadas demonstra a complexidade do funcionamento da psique. A ação
defensiva localiza-se na relação e no surgimento do conflito entre os diferentes sistemas.
Em um primeiro tempo, é descrita a conhecida primeira tópica: Inconsciente, Pré-consciente e
Consciente (1900); e posteriormente, a segunda tópica: Id, Ego e Superego (1923). Com a
caracterização da segunda tópica, uma nova perspectiva da personalidade, o Ego será
apresentado como a instância central e o responsável por inúmeras funções, incluindo a função
de defesa.
O Ego é a via de contato direto com os mundos exterior e interior, servindo de intermediário
entre esses dois “lugares” e buscando regulação e estabilidade psíquica.
O Id é o reservatório da energia pulsional, fonte dessa energia inesgotável que procura ser
descarregada, obter prazer e, enfim, ser apaziguada.
O Superego representa a função crítica e se constitui a partir da interiorização das exigências
e proibições parentais e da cultura.
 
Imagem: Shutterstock.com
Em acordo com Freud, sabemos que a origem do Ego parece referir-se a camadas superficiais
do Id que entram em contato com a realidade e, observando todas as funções exercidas pelo
Ego, identificamos partes consciente e inconsciente nele. De posse desse entendimento,
podemos afirmar que o processo de defesa é inconsciente.
Agora vamos circunscrever alguns aspectos do trabalho do Ego nessa função tão
essencial que é a defesa.
O EGO E A FUNÇÃO DE DEFESA
A tarefa defensiva do Ego é motivada devido a algumas fontes internas ou externas: o papeldo
mundo exterior, as forças superegoicas, incluindo a culpa, e a experiência de angústia.
Vejamos cada uma dessas fontes:
O PAPEL DO MUNDO EXTERIOR
O mundo exterior auxilia na produção das defesas na medida em que pode oferecer algum
estímulo que seria sentido como traumático ou que teria a capacidade de reconectar outro
estímulo anteriormente doloroso.
AS FORÇAS SUPEREGOICAS
Por meio de exigências e imposições, o Superego pressiona o Ego a respeito se “deve ou não”
se permitir satisfazer as solicitações do Id. Vale lembrar que o Superego é constituído pela
incorporação de valores, crenças e ideais herdados das figuras parentais e da cultura. Um
impulso interno, um desejo que se mostre diferente ou oposto a esses conteúdos, é sempre
acompanhado de culpa. Sem dúvida, essa culpa interfere fortemente no lidar egoico sobre o
desejo.
A EXPERIÊNCIA DE ANGÚSTIA
A angústia é experimentada desde os primórdios da vida de um bebê. Mesmo com um Ego
primitivo, o bebê exibe comportamentos defensivos com a intenção de afastar situações
consideradas traumáticas de dor e desprazer. Podemos dizer que a experiência de angústia é
a fonte básica que motiva o Ego a ativar seus mecanismos de defesa.
Alguns autores, como Fenichel (1981), classificam as defesas do Ego como exitosas ou
ineficazes.
Nas defesas consideradas exitosas, existe sucesso quanto a suprimir a ideia repulsiva e
efetivamente mantê-la afastada da consciência.

Já as defesas inoperantes são aquelas que precisam seguidamente repetir o movimento de
expulsão da ideia, com o objetivo que ela não ressurja no Ego. As defesas que levam ao
adoecimento pertencem a esse segundo grupo.
Antes de passarmos à descrição dos mecanismos de defesa, é importante dizer que, além de
Freud, o estudo sobre as defesas foi essencialmente aprofundado por sua filha, Anna Freud.
Ela se dedicou a analisar como o desenvolvimento infantil podia ser afetado pela forma como o
Ego lidava com os afetos dolorosos, com a ansiedade, e colocava em jogo os mecanismos
defensivos. Outros autores também contribuíram para a pesquisa e definição desses
mecanismos. Poderíamos mencionar Melanie Klein, Ferenczi, Lacan e Vaillant, este último é
um autor mais contemporâneo.
Vamos conhecer agora os principais mecanismos de defesa: o recalcamento, a clivagem, a
regressão, o deslocamento, a formação reativa, o isolamento, a anulação, a projeção, a
introjeção, a negação, a sublimação.
RECALQUE
O recalque é um dos mais importantes mecanismos descritos por Freud, sendo fundamental
para se entender a dinâmica do funcionamento mental. Durante o início do desenvolvimento
conceitual, foi empregado de maneira comparável ao de defesa, ou seja, usados de forma
quase equivalente. A partir de 1926, no texto Inibição, sintoma e angústia, Freud estabelece
uma diferenciação, tomando a defesa como uma forma geral de atuação do Ego, e o recalque
como uma ação mais específica.
O recalque consiste em um ato de eliminar do nível consciente, e manter no inconsciente, uma
representação psíquica (pensamento, ideia, imagens, lembranças) associada à pulsão, que
seria passível de provocar desprazer no aparelho psíquico, ou parte dele (alguma instância),
sendo, portanto, inaceitável a sua permanência na consciência. Devemos reparar que, para
além de afastar da consciência a representação, tal mecanismo pressupõe a necessidade de
continuar mantendo-a afastada. Deduz-se daí que aquilo que foi recalcado precisará de um
esforço contínuo, um “plus”, para manter tal representação apartada. Apesar de o
representante estar fora da consciência, ele não deixa de estar “vivo” e com energia psíquica.
Nesse sentido, precisará do que Freud chamou de contrainvestimento, uma energia para
manter esse conteúdo recalcado.
Um exemplo usado por Kusnetzoff (1982) tornará clara essa situação “(...) um homem que
deseja manter afundado na água um barril vazio deverá usar uma força constante e a
interrupção da mesma permitiria que o barril voltasse bruscamente à superfície”. Caso não haja
esse gasto permanente de energia pelo Ego, o representante psíquico buscará uma forma de
escapar e tenderá a retornar para a consciência. Esse fenômeno é chamado de retorno do
recalcado, uma ação que consiste no reaparecimento desses elementos recalcados. No
retorno do recalcado, os conteúdos reaparecem, mas agora distorcidos.
Retomando o conhecimento do processo de recalque, testemunhamos que as representações
expulsas passam a constituir um “grupo psíquico separado”. Seria inaugurado um núcleo
patogênico com capacidade de atrair uma série de outros representantes assemelhados ou
que se correlacionassem entre si – os chamados derivativos. Observamos então que o
mecanismo de recalque não se dá em uma única e efetiva vez. Freud distingue
basicamente dois momentos em relação ao processo de recalcamento:
RECALQUE ORIGINÁRIO OU PRIMÁRIO
RECALQUE SECUNDÁRIO
RECALQUE ORIGINÁRIO OU PRIMÁRIO
O recalque primário seria o primeiro tempo do recalque, ou aquele que inaugura o
impedimento de que a representação tenha acesso ao consciente. Logo, o recalque originário
se relaciona às origens do inconsciente.
RECALQUE SECUNDÁRIO
O recalque secundário refere-se à sucessão de derivativos associados à representação
primária. Em outras palavras, consiste na atração de uma série de outros conteúdos
representantes assemelhados ou que se correlacionam com o conteúdo recalcado original.
Um exemplo poderia dar a dimensão do que estamos descrevendo como recalque. Para que a
civilização pudesse existir, foi necessário que o ser humano recalcasse vários conteúdos
destrutivos e agressivos, privilegiando a construção e o amor. Vários outros exemplos podem
ser encontrados nos casos clínicos de Freud. Em um deles, o caso Lucy (1895), observa-se o
recalcamento do amor da mulher pelo seu patrão. A partir do momento que a ideia vem à tona
durante o processo analítico e é aceito pela mulher, Freud pergunta por que ela não tinha
contado antes e recebe a seguinte resposta: “eu não sabia disso, ou melhor, eu não queria
saber, queria tirar da minha cabeça, nunca mais pensar nisso”. Na verdade, ela sempre
soubera disso, mas queria “tirar da cabeça”. Se colocarmos a questão em termos de
instâncias, veremos aí a existência de uma ação do consciente na direção do inconsciente; o
Ego submetido ao Superego, não permitindo a satisfação desse impulso do Id.
E como diferenciar o recalque da repressão? A primeira diferença encontra-se pelo caráter
absolutamente consciente e sua direção para o pré-consciente por parte da Repressão, no
sentido de deslocar a representação do consciente para o pré-consciente; assim, a
representação tem maior facilidade de ser acessada por um esforço consciente de trazê-la de
volta. O recalcado, por outro lado, oferece uma resistência por meio do contrainvestimento que
o impede de vir à tona.
CLIVAGEM
A clivagem ou cisão pode ser descrita como um fenômeno de dividir-se internamente. Um
mecanismo muito particular em que é observada a coexistência, no interior do Ego, de
condutas psíquicas diferentes na relação com a realidade exterior, quando esta não tem
possibilidades de atender a uma exigência da pulsão. Importante perceber que encontramos
aqui uma luta entre o Ego e a realidade externa. Segundo Laplanche (1992), uma dessas
condutas leva em conta a realidade e a outra nega essa mesma realidade, colocando em seu
lugar uma criação do desejo. Essas duas atitudes permanecem existindo paralelamente sem
se influenciarem, ou seja, o psiquismo parece estar desconectado entre si.
Muito importante também assinalar que Freud, além de trabalhar a ideia da clivagem como
referida a processos patológicos (perversão, psicose), incluiu-a em uma perspectiva de
estruturação da psique em momentos primitivos do Ego. Melanie Klein é clara quanto a essa
ideia na elaboração do desenvolvimento do bebê quando da clivagem dos objetos e do Ego,
tão demonstrada na chamada posição esquizoparanoide. O termo esquizoparanoideé usado
por Klein para se referir a um estágio no desenvolvimento em que o bebê passa por relações
de objeto parciais e uma ansiedade persecutória sobre a sobrevivência do self. Nessa etapa, o
bebê não reconhece que aquela mãe que odeia em um momento e adora em outro trata-se da
mesma pessoa.
Para Klein, a clivagem é o mecanismo de defesa mais primitivo contra a angústia primordial. A
divisão inicial é fundamental para que, somente de forma gradativa, as experiências subjetivas
de prazer e desprazer, do bom e do mau, possam se integrar em Ego e objeto totais e plenos.
Servirá para que se consiga diferenciar e organizar a realidade, interna e externa, amparada na
ocorrência de experiências passadas boas e/ou más. O protótipo das relações vividas
posteriormente no mundo adulto estará referido a essa construção dos relacionamentos
primordiais e a possibilidades de integração das tendências boas e más do objeto. O
mecanismo de clivagem pode ser ativado na vida adulta normal e utilizado para colocar em
“suspensão” determinados conteúdos ansiogênicos e realizar outras ações necessárias.
 
Imagem: Shutterstock.com
Para exemplificar tal situação, podemos citar as vezes em que colocamos de lado um
determinado problema durante o tempo necessário para assistir a uma aula ou realizar um
trabalho que precisa ser entregue. Nos casos de psicose, podemos exemplificar a criação de
um delírio ou substituição da realidade por um desejo. Nesse sentido, verificamos a produção
de uma nova realidade, mais satisfatória, entretanto nada factual. Para finalizar, importante
mencionar que Lacan nomeou esse processo de cisão como forclusão.
REGRESSÃO
A regressão, de modo mais geral, é um processo psíquico relacionado ao retorno em algum
ponto do desenvolvimento já ultrapassado. Seria um “retorno a formas anteriores do
desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da estruturação do comportamento”
(LAPLANCHE, 1992, p. 440)
Freud diferencia três tipos de regressão:
TÓPICA
Alternância e sucessão entre os sistemas psíquicos, processo responsável pelos sonhos.
TEMPORAL
Retorno a etapas transpostas, tais como fases libidinais ou identificações mais primárias em
termos evolutivos.
FORMAL
Retorno a modos de conduta menos complexos, estruturados ou diferenciados.
Na verdade, esses três tipos de regressão constituem um só, e em geral ocorrem juntos.
É possível pensar que todo sintoma se encontra associado a uma regressão, a um outro
momento do desenvolvimento em que o “eu” supõe ter obtido uma satisfação pulsional,
permanecendo assim agarrado a uma antiga forma de satisfação, desprezando o presente.
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Por exemplo, uma criança que já deixou de usar fraldas torna a fazer xixi na cama diante de
uma situação ameaçadora ou que lhe gera angústia, como o nascimento de um irmão que
ameaça a lhe tirar o amor de sua mãe.
DESLOCAMENTO
O deslocamento é um mecanismo de defesa reconhecidamente simples e o encontramos
como usual nos sonhos. Caracteriza-se pela “transposição” da energia psíquica vinculada a
uma representação incômoda para outra menos ou nada inoportuna, baseada em elementos
associativos com representações entre si. A independência entre os representantes psíquicos
da pulsão (afetivo e ideativo) é demonstrada nesse mecanismo.
Na análise dos sonhos ou no relato dos pacientes, encontramos vários exemplos de
deslocamento. O caso de fobia do Pequeno Hans (FREUD, 1909) deixa claro o deslocamento
do afeto proibido de ódio/medo do pai para medo de cavalos. Desse modo, durante esse
deslocamento, transferimos a importância de uma ideia para outra diferente.
O mecanismo do deslocamento está presente em inúmeros processos patológicos, mas é na
fobia que poderemos melhor visualizá-lo. O sujeito transfere (desloca) uma reação emocional a
um objeto ou pessoa para outro objeto ou pessoa.
 
Imagem: Shutterstock.com
Por exemplo, deslocamos o medo que sentimos pelo nosso pai para outro objeto, por exemplo
uma barata. Claro, isso não quer dizer que o medo de baratas significa ter medo do pai,
estamos apenas dando um exemplo. Cada caso precisa ser analisado cuidadosamente.
FORMAÇÃO REATIVA
A formação reativa trata-se de um modo de garantir um recalque já pactuado. Diz respeito a
uma oposição total à realização de um desejo inadmissível inconsciente por meio de uma
atitude ou de um investimento em um impulso oposto. O Ego produz o aparecimento de uma
disposição em direção totalmente oposta ao impulso para tentar proteger o sujeito de algum
perigo interno. Fenichel (1981) aponta a existência de formas intermediárias de reatividade.
Uma das configurações seria, por exemplo, a transformação de um ódio intenso em relação ao
namorado em um aparente carinho e cuidado extremo com ele, assegurando o recalque de seu
ódio. A transformação fica restrita a um aspecto ou um objeto.
Outra forma refere-se a uma total alteração da personalidade, como no caso de neurose
obsessiva, onde a bondade, a consideração e a justiça tornam-se características rígidas da
personalidade tentando garantir a ocultação da agressividade.
A FORMAÇÃO REATIVA E SUAS
PARTICULARIDADES
O especialista Luciano de Souza Dias apresentará algumas das clássicas configurações em
que a formação reativa pode aparecer e como esse mecanismo se relaciona com o recalque.
ISOLAMENTO
O isolamento é um mecanismo que se refere a isolar algum pensamento ou comportamento,
desligando-o de suas conexões e de seu sentido emocional. Realiza-se um bloqueio
impossibilitando qualquer tipo de contato com outros pensamentos relacionados ou até mesmo
experiências de vida. Conseguimos perceber essa tentativa de isolar um pensamento quando
no relato o sujeito faz interrupções no seu discurso, ou intervalos de tempo e espaço em suas
ações, quebrando o elo associativo das ideias e dos atos.
“(...) QUANDO O NEURÓTICO ISOLA UMA IMPRESSÃO
OU ATIVIDADE POR PAUSA, DÁ-NOS
SIMBOLICAMENTE A ENTENDER QUE NÃO
PERMITIRÁ QUE OS PENSAMENTOS QUE LHES DIZEM
RESPEITO ENTREM EM CONTATO ASSOCIATIVO COM
OUTROS”.
(LAPLANCHE, 1992, p. 259).
ANULAÇÃO
Se na formação reativa encontramos uma atitude oposta ao impulso primário recalcado, na
anulação existe dispêndio de energia para que pensamentos, discursos e até mesmo ações
pregressas e já realizadas não tenham acontecido. Freud entende que esse mecanismo parece
utilizar-se de aspectos mágicos, executando atos imaginários ou mesmo reais, contrários ao
anteriormente já executado, com o objetivo de, nesse segundo tempo, torná-los nulos.
Um paciente, todas as vezes que no seu discurso apresentava pensamentos ou relatos de
acontecimentos agressivos em relação ao seu pai, procurava rapidamente uma madeira para
bater nela, dizendo que não gostaria que nada disso ocorresse, aliviando sua ansiedade e
tentando neutralizar seus desejos quanto a seu pai. Ele agia assim como se, por meio desse
movimento, magicamente conseguisse anular seu pensamento.
 
Foto: Shutterstock.com
PROJEÇÃO
O mecanismo de projeção é considerado bastante primitivo e foi descrito por Freud pela
primeira vez em um caso de paranoia. Entretanto, sabemos que esse mecanismo se encontra
a todo instante no cotidiano de nossa vida, e não só em comportamentos patológicos.
No sentido psicanalítico do termo, entende-se como a atribuição a outrem, sujeito ou
objeto, peculiaridades ou características, sentimentos ou desejos, que se desconhece
em si mesmo ou que não sequer aceitar que possua.
Podemos afirmar que se dá uma operação de colocar para fora aquilo que recusamos em nós
mesmos – transposição do interno para o externo. Um alívio da tensão interna é encontrado
nesse mecanismo. Assim como diz uma famosa frase atribuída a Freud:
“Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.
 
Foto: Shutterstock.com
Muitos são os exemplos que são encontrados no dia a dia, tais como o ciúme excessivo onde
os desejos de infidelidade são conferidos ao cônjuge;ou quando em uma briga com o colega
do trabalho você afirma que ele está com raiva por perceber sua competência, sendo que ele
acabou de ser promovido.
Não podemos deixar de lembrar que os mecanismos de projeção e os de introjeção são
atuantes desde o início da vida psíquica em bebês. Melanie Klein estudou os dois e os
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associou à ansiedade primitiva do bebê e aos primórdios da diferenciação entre eu e não eu.
Na tentativa de lidar com as ansiedades e frustrações, o bebê expulsa para o mundo exterior
aspectos maus, inaceitáveis, capazes de causar algum desprazer e dor. Através de sucessivas
operações de projeção e introjeção, o bebê irá construindo seu mundo interior.
INTROJEÇÃO
Foi Ferenczi quem propôs o conceito introjeção em analogia ao de projeção. Freud,
posteriormente, o contrapõe à projeção. Refere-se à apropriação, por parte de um sujeito, de
qualidades ou traços de um outro ou objeto exterior. A introjeção tem similitude com o conceito
de incorporação e, no que diz respeito às crianças, é o método mais natural para desenvolver
seu Ego incipiente. Colocar para dentro (eu) cada vez mais partes do mundo exterior,
enriquecendo-o.
 
Foto: Shutterstock.com
O processo de identificação se concretiza paralelamente ao de introjeção, ou seja, ao introjetar-
se, também se identifica, tornando parte do mundo interno. O desenvolvimento do Ego e do
Superego possui estreita correlação com os mecanismos de introjeção e projeção. O Ego
torna-se mais rico por meio do colocar para dentro aspectos do mundo exterior. O Superego é
constituído pelos aspectos provenientes tanto das interdições parentais quanto da cultura. De
um modo mais amplo, podemos afirmar que a personalidade se constitui por meio de
sucessivas identificações, introjeções e projeções.
NEGAÇÃO
A negação é um dos mecanismos visivelmente associados ao recalque. Ao mesmo tempo em
que há uma admissão de um desejo, pensamento ou sentimento incompatível, deparamo-nos
com uma negação de que lhe pertença (LAPLANCHE, 1992). Assim dizemos “você pode
imaginar agora que deveria estar sentindo medo pelo que me aconteceu, mas não era
exatamente isso que iria mencionar”, ou “não, jamais pensei nisso” como típicos exemplos de
uma negação.
Freud, em alguns artigos, cita exemplos, especialmente em A Negação (1975, p. 11), onde faz
a seguinte afirmação: “(...) e o ‘não’ é seu sinal característico, um certificado de origem, algo
como made in Germany”. Cada vez que enfaticamente negamos algo, apontamos que é aí que
se encontra a verdade, na afirmação desse conteúdo. É característica da infância a negação
de circunstâncias desagradáveis e a busca da satisfação pela fantasia. Mas quando a vida
adulta avança, e com ela o juízo de realidade, a capacidade de julgamento e percepção
interna, esse mecanismo vai reduzindo.
 
Foto: Shutterstock.com
Em alguns casos, Freud apontou o que podemos traduzir como recusa. Esse é um mecanismo
de defesa que se diferencia da negação. Trata-se de negar ou recusar a realidade da
percepção da representação ou do conteúdo. Tal mecanismo é encontrado especialmente nas
perversões e nas psicoses. Encontra-se associado à castração, mais propriamente à recusa e
ao reconhecimento da percepção da falta do pênis (por relação a existência do mesmo em
outro sujeito), e de não aceitação da diferença anatômica dos sexos. Tal operação de rejeição
radical é uma defesa primária pela necessidade de afastamento de uma realidade insuportável
– a falta. Nesse caso, o sujeito ao recusar acredita que aquilo que é recusado é falso. Em
algumas traduções de Freud, encontramos o termo denegação, fazendo referência ao sujeito
que desmente o fato, não reconhecendo o mesmo como verdade.
SUBLIMAÇÃO
A sublimação é reconhecidamente o mecanismo de defesa mais bem-sucedido. Apesar de ser
um conceito extremamente relevante, não foi tratado como tal, sendo, portanto, menos
investigado do que poderíamos imaginar. Encontra-se espalhado em toda a obra, mas sem
uma organização e elaboração sintética. Sua primeira conceituação aparece em 1905, nos
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, e traz como traço a dessexualização. Portanto,
falar em sublimação para a Psicanálise é apresentar um conjunto de condutas humanas que,
apoiadas na energia pulsional (sexual), não se referem à sexualidade, possuindo outros
objetivos.
O que é preciso entender é a ação de dessexualizar a pulsão e utilizar tal energia como força
propulsora de movimento criativo. Vale aqui trazer como Freud, em 1908, expõe o conceito:
A PULSÃO SEXUAL PÕE À DISPOSIÇÃO DO
TRABALHO CULTURAL QUANTIDADES DE FORÇA
EXTRAORDINARIAMENTE GRANDES (...) CHAMA-SE A
ESTA CAPACIDADE DE TROCAR A META SEXUAL
ORIGINÁRIA POR OUTRA META (...) A CAPACIDADE
DE SUBLIMAÇÃO.
(FREUD apud LAPLANCHE, 1992, p. 495).
Algumas características se encontram vinculadas à noção de sublimação: a dessexualização; a
estreita relação com o âmbito da cultura; e a preservação quanto à intensidade do sexual na
experiência humana.
A disposição assexual da sublimação foi a primeira marca de afastamento do aspecto sexual
da pulsão, em uma “deflexão da sexualidade”. A relação com a cultura aponta a possibilidade
de formas alternativas de satisfação da pulsão, tais como a construção da cultura. A
preservação e a proteção quanto à força do sexual, ao desejo de manifestar e satisfazer as
excitações sexuais, se dariam pelo desvio da pulsão, tornando-nos capazes de construções
culturais ou, como descrito no “Caso Dora”, alcançar objetivos mais elevados e valorizados.
Encontramos Freud, em toda a sua obra, descrevendo o criar artístico e a atividade intelectual
e científica como modelos de processos sublimatórios.
CASO DORA
Dora foi uma paciente de Freud que começou a apresentar sintomas neuróticos aos 8
anos de idade. Esse caso foi de grande importância para ilustrar conceitos centrais na
teoria psicanalítica, como o conceito de transferência, a interpretação dos sonhos e
outros.
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Acabamos de descrever importantes mecanismos de defesa. Conforme pudemos entender,
eles são colocados em ação pelo Ego para lidar com um conflito vivido pelo sujeito. Se as
defesas não conseguirem ser efetivas no bloqueio da ansiedade gerada por esses impulsos
provenientes do Id, haverá a criação de sintomas.
VEM QUE EU TE EXPLICO
As primeiras ideias sobre defesa de Freud
As primeiras ideias sobre defesa de Freud
Explicação do Recalque
Explicação do Recalque
Explicando a clivagem
Explicando a clivagem
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. LEIA AS AFIRMATIVAS ABAIXO: 
 
( ) OS MECANISMOS DE DEFESA SÃO PROCESSOS QUE SE
ESTABELECEM E SE DESENVOLVEM EM CADA INDIVÍDUO PARA
RESOLVER TANTO OS CONFLITOS INTRAPSÍQUICOS QUANTO
AQUELES QUE SURGEM ENTRE O ORGANISMO E O MEIO AMBIENTE. 
 
( ) OS MECANISMOS DE DEFESA NÃO SÃO ENCONTRADOS EM
PESSOAS SAUDÁVEIS. 
 
( ) SÃO MECANISMOS ESSENCIALMENTE DEPENDENTES DA FUNÇÃO
DA MEMÓRIA. 
 
 
EM RELAÇÃO AOS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO, IDENTIFIQUE AS
AFIRMATIVAS COMO VERDADEIRA (V) OU FALSA (F) E, EM SEGUIDA,
ASSINALE ABAIXO A OPÇÃO CORRETA.
A) V, V, F
B) F, F, V
C) V, F, F
D) F, V, F
E) V, F, V
2. (IFAL, 2011, CONC. PÚBLICO PSICÓLOGO) COM BASE EM FREUD E
NOS MECANISMOS DE DEFESA, AVALIE A SEGUINTE AFIRMAÇÃO: “UM
PROFESSOR QUE SOFREU PUNIÇÃO DE SEU SUPERIOR (DIRETOR,
COORDENADOR) PODE DESCARREGAR INCONSCIENTEMENTE TAL
TENSÃO EM UM ALUNO QUE LHE PEDE INFORMAÇÕES. UM
PROFESSOR QUE CHEGA ESTRESSADO DO TRÂNSITO PODE
MALTRATAR UM FUNCIONÁRIO DA LIMPEZA QUE VARRE O
CORREDOR”. COM BASE NESSA AFIRMAÇÃO, ASSINALE O
MECANISMO DE DEFESA CORRESPONDENTE.
A) Repressão
B) Idealização
C) Projeção
D) Deslocamento
E) Compensação
GABARITO
1. Leia as afirmativas abaixo: 
 
( ) Os mecanismos de defesa são processos que se estabelecem e se desenvolvem em
cada indivíduo para resolver tanto os conflitos intrapsíquicos quanto aqueles que
surgem entre o organismo e o meio ambiente. 
 
( ) Os mecanismos de defesa não são encontrados empessoas saudáveis. 
 
( ) São mecanismos essencialmente dependentes da função da memória. 
 
 
Em relação aos mecanismos de defesa do Ego, identifique as afirmativas como
verdadeira (V) ou falsa (F) e, em seguida, assinale abaixo a opção correta.
A alternativa "C " está correta.
 
Os mecanismos de defesa foram definidos por Freud como uma luta inconsciente empreendida
pelo Ego contra representações e afetos insuportáveis e dolorosos ao indivíduo, que se
originam tanto do interior quanto da realidade. O objetivo principal é evitar o conflito psíquico,
tensões e perigos. Nesse sentido, a utilização de mecanismos de defesa é frequente entre os
indivíduos, e a utilização por si só não denota patologia.
2. (IFAL, 2011, Conc. Público Psicólogo) Com base em Freud e nos mecanismos de
defesa, avalie a seguinte afirmação: “Um professor que sofreu punição de seu superior
(diretor, coordenador) pode descarregar inconscientemente tal tensão em um aluno que
lhe pede informações. Um professor que chega estressado do trânsito pode maltratar
um funcionário da limpeza que varre o corredor”. Com base nessa afirmação, assinale o
mecanismo de defesa correspondente.
A alternativa "D " está correta.
 
Na Física, deslocamento é definido como a variação na posição do objeto. Implica que um
objeto se moveu ou foi deslocado. Para a Psicanálise, podemos mencionar que o mecanismo
de deslocamento se refere a uma movimentação defensiva. Portanto, encontra-se associado a
outros mecanismos de defesa. O processo de deslocamento efetua-se quando há a
transferência de ações, ideias, ou afetos para outro objeto. Geralmente, essa transposição
acontece por uma questão de economia para o aparelho psíquico, no sentido de ser menos
custoso emocional e energeticamente. A troca de representações ou o deslocamento ocorre
por meio de uma cadeia associativa, por proximidade ou semelhança. Os outros mecanismos
mencionados nas demais alternativas não correspondem ao objetivo e consignam
mencionados na comanda da questão.
MÓDULO 2
 Relacionar os mecanismos de defesa à formação de sintomas
CONCEITO DE SINTOMA E SUA
ASSOCIAÇÃO COM O CONFLITO PSÍQUICO
Antes de iniciar a temática da formação do sintoma, é necessário estabelecer a diferença
desse conceito em Psiquiatria e Psicanálise. Seguindo a investigação da clínica orgânica em
Medicina, a Psiquiatria se utilizaria da descrição de um conjunto de sinais e sintomas para, a
partir da definição diagnóstica, realizar a medicação e tentativa de eliminação dos referidos
sintomas.
 ATENÇÃO
O doente, em sua subjetividade, parece não ser alvo do olhar e atenção. A doença, enquanto
uma coleção de fenômenos, sintomas, são os procurados, reunidos e classificados em grandes
manuais. A Psicanálise traz um deslocamento nessa percepção.
Conforme mencionado, Freud passa a entender o sintoma de suas pacientes como referido às
suas histórias, às experiências vividas, cheias de sentido absolutamente particular. Essas
histórias e o sentido delas só poderiam ser alcançados pela escuta do discurso realizado sobre
o sintoma. Discurso esse que só faz sentido pela relação com quem o produziu.
Foi nessa escuta atenta que Freud encontrou o sintoma associado ao conflito psíquico.
Historicamente, desde o final do século XIX, Freud procurava as origens dos sintomas
daqueles que chegavam até ele reclamando de sofrimentos. Realizou investigações sobre a
histeria e a neurose obsessiva, chamadas de psiconeuroses, buscando a formação dos
sintomas.
Em uma de suas publicações iniciais, apresenta a ideia de que as histéricas sofreriam de
reminiscências, lembranças de situações traumáticas que retornavam em forma de dores
corporais. Essas situações se ligavam a conteúdos de vergonha e baixa autoestima, impulsos
sexuais inadmissíveis, tanto no âmbito pessoal quanto no julgamento social. Encontra-se aí o
conflito psíquico!
 
Foto: Anton_Ivanov/Shutterstock.com
Com base nisso, os representantes da pulsão, ideativo e afetivo, eram desligados entre si.
O ideativo era afastado da consciência, em uma tentativa de esquecimento.

O afetivo era transformado em sintoma corporal em formas diversas, tais como paralisias,
mutismo, cegueira.
Nessa descrição, Freud menciona dois movimentos, recalque e conversão, como
estruturadores do sintoma histérico, e a existência de um sentido que remete a algo de que
os pacientes não querem saber nem falar, o componente sexual.
Exemplos de casos clínicos podem nos dar a dimensão do que se apresenta:
 
Foto: Shutterstock.com
Caso Elizabeth
O famoso “Caso Elizabeth”, descrito em 1895, fala de uma jovem atendida por Freud com
dores e paralisias nas pernas. Após um longo passeio no campo ao lado de seu cunhado, veio
à sua mente que ele seria um excelente marido. Um tempo depois, sua irmã, que já se
encontrava adoecida na época do passeio, não resiste à moléstia e vem a falecer. No momento
da morte, ela tem o pensamento de que o cunhado agora estaria livre para ser seu marido. Tal
consideração foi imediatamente repudiada e arrastada para fora de sua consciência. Em
seguida, os sintomas de paralisia e dor aparecem e não produzem nenhum sentido a Elizabeth.
Ela parece não saber a que isso se encontra relacionado, nem como apareceu. Não tem o que
dizer ou evita dizê-lo.
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Foto: Shutterstock.com
Caso Maria
Um outro exemplo, mais atual, pode ser apresentado. Maria, 30 anos, vem à consulta com
queixas de falta de ar, dores de cabeça e tonturas. Não consegue manter relacionamentos
duradouros e sempre se sente humilhada pelos namorados, tendo crises de falta de ar quando
é deixada por eles. Ao ser solicitada que fale sobre sua história familiar, relata que sua mãe era
um pouco distante, mas seu pai era amoroso. Ele viajava muito a trabalho, e ela o esperava na
janela de casa, ficando muito ansiosa quando ele demorava a retornar. Quando ele aparecia,
estava cansado e somente tinha olhos para sua mãe. Nesses momentos, ela desejava que a
mãe desaparecesse ou que algo acontecesse com seu pai. A paciente parecia não perceber
nenhuma conexão entre seus sintomas e sua experiência infantil. Não percebe a repercussão
de sua experiência na sua atualidade das relações.
Durante o atendimento das pacientes histéricas, Freud reconhece uma afirmativa sempre
presente no discurso dessas mulheres: uma experiência de sedução sexual sofrida por elas
fruto de fantasia, mais precisamente de um desejo de serem seduzidas e amadas pela figura
parental.
A partir dessa descoberta, novos caminhos foram seguidos pela Psicanálise.
Ainda dando continuidade ao estudo dos sintomas, percebemos o estabelecimento de
diferenças quanto à neurose obsessiva e a histeria no artigo As Psiconeuroses de defesa, de
Freud (1894).
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O mecanismo defensivo, apesar de se iniciar com o recalcamento, passa a um segundo tempo
diferente. Distintamente da conversão, observa-se que é o afeto, associado à ideia
incompatível de caráter sexual, que irá ligar-se a outras representações ideativas que se
impõem à consciência e assim se tornarão obsessivas.
A força do afeto é transposta para uma nova ideia. O inconciliável foi apartado da consciência,
mas o afeto, experimentado pelo “eu”, associa-se a alguma representação conveniente para
servir de suplente, criando assim uma desconfiança e incompreensão quanto ao sentimento.
 ATENÇÃO
É comum que os principais sentimentos experimentados se relacionem à culpa e a
autoacusações por motivos claramente inconsistentes, que encobrem a real razão. Parece não
fazer sentido, mas é assim que deve ser, só assim pode ser.
Todo esse processo acontece no campo mental, psíquico, não adentrando no corpo, como no
caso da histeria. O caso do Homem dos Ratos (1909), no qual Freud descreve um quadro de
neurose obsessiva, revela várias substituições de ideias insuportáveis, sintomas e rituais
realizados no esforço de impedir o contato com a ideia recalcada.
 EXEMPLO
Na atualidade, encontramosmuitos traços, correlatos dos mecanismos defensivos, nos casos
de transtornos obsessivos, tais como necessidade de organização e perfeição,
comportamentos controladores, excesso de razão em detrimento do afeto e outros.
MECANISMOS DE DEFESA NAS PSICOSES
Continuando suas investigações, Freud elabora uma primeira compreensão (1894) sobre a
etiologia das psicoses. A partir de alguns atendimentos, ele percebe que, no caso das
psicoses, um mecanismo de defesa muito mais poderoso e severo entra em ação. Presente o
repúdio a uma ideia incompatível, separando-a do afeto, mas ocorrendo de forma tão violenta,
que ambos são expulsos totalmente do eu que, agora, passa a viver como se aquela ideia
jamais tivesse acessado a consciência.
Desse modo o “eu” se desliga tanto do que era incompatível como também da realidade.
Assim se procede o afastamento da realidade, que acaba trazendo uma série de repercussões,
tais como delírios e alucinações, tentativas de remendar e restabelecer a realidade. Nesses
momentos iniciais, Freud ainda irá se utilizar do mecanismo de recalque, tal como nas
neuroses. Posteriormente, ele atribuirá a esse mecanismo o sentido de recusa ou rejeição.
 EXEMPLO
O estudo clínico do famoso “Caso Schreber” (1911) é uma das grandes contribuições no
campo da psicose. O Caso Schreber representa uma análise de grande importância nos
estudos de Freud que foi realizado partindo da leitura das memórias escritas em 1903 por
Daniel Paul Schreber. Schreber nasceu em Leipzig, Alemanha, em 25 de julho de 1842. Jurista
importante da época e escritor, relatou a sua condição mental descrevendo um quadro
complexo com delírios místicos e estupor alucinatório.
Em outros trabalhos posteriores (1924), Freud apontará diferenças fundamentais entre a
psicose e a neurose. Aqui, nos importa mencionar que o conflito essencial para a psicose se
dará entre o Ego e a realidade, em um movimento brusco e defensivo de fugir à realidade
externa, de recusar como a realidade se apresenta. Em um desses textos, Perda da realidade
na neurose e na psicose (1924), Freud (1975, p. 196) afirma que
“A NEUROSE NÃO REPUDIA A REALIDADE, APENAS
A IGNORA; A PSICOSE A REPUDIA E TENTA
SUBSTITUI-LA.”
Freud (1975, p. 196).
 ATENÇÃO
Sempre temos o conflito e uma ação defensiva, mas, às vezes, de forma mais radical na
psicose.
Frente à pulsão sexual demandando satisfação, mas sendo inaceitável a exigência desse tipo,
uma ação inconsciente de defesa se revela para evitar o sofrimento. Esse material, que foi
excluído da consciência pelos processos psíquicos de censura e defesa, pode não ser
lembrado, mas não está perdido, permanecendo no inconsciente.
Nessa perspectiva é importante entender que, apesar de retirado da consciência, o impulso
ainda possui um quantum de energia suficiente para buscar se manifestar, reaparecer. Assim
as defesas podem não ser capazes de evitar que os impulsos, que se encontram inconscientes
pela ação da defesa, tentem abrir caminho de volta ao consciente.
Como satisfazer a pulsão e ao mesmo tempo impedir que algo inadmissível se
“concretize”?
A RUPTURA COM A REALIDADE NA
PSICOSE
O especialista Luciano de Souza Dias apresentará as diferenças fundamentais entre a psicose
e a neurose segundo Freud, ilustrando, brevemente, com exemplos como o caso Schreber.
O SINTOMA E OS MECANISMOS DE
DEFESA
É normal fazer uso das defesas. O que seria de nós se não nos defendêssemos? Como
afirmava Freud, “é impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de
fuga”. Mas teremos custos.
Na resolução de um conflito, temos a presença de uma luta incessante, muitas negociações e,
muitas das vezes, aparece o sintoma como produção do inconsciente. Assim, será do fracasso
da defesa que surgirão os sintomas. Também encontramos as formações substitutivas,
equivalente aos sintomas, descritas por Freud como formações sintomáticas que proporcionam
prazer a partir da substituição do desejado inconsciente através de algum tipo de proximidade
com ele.
 
Imagem: Shutterstock.com
Por tanto, podemos traduzir o sintoma como um disfarce do desejo para alcançar alguma
satisfação. Trata-se de um evento elaborado pela operação de distorção do desejo. Dessa
forma, os processos inconscientes só conseguem acessar o consciente pela via dos
derivativos, similares ao que foi expulso do inconsciente.
Temos aqui dois conceitos muito importantes para a teoria psicanalítica que,
relacionados ao que estamos apresentando, precisam de explanação agora.
RETORNO DO RECALCADO
O primeiro deles é o retorno do recalcado, que se caracteriza por ser um processo em que
conteúdos recalcados, porém não destruídos no inconsciente, forçam passagem para o
consciente para ressurgir e tentarem obter satisfação. É claro que precisam de novos caminhos
e inclusive outras feições. Esses componentes inconscientes são capazes de se desfigurar
infinitamente sempre com o objetivo de se depararem com uma possibilidade de satisfação
possível no consciente – por meio de sintomas.
FORMAÇÃO DE COMPROMISSO
Outro conceito estreitamente vinculado ao retorno do recalcado é o de formação de
compromisso. Segundo Laplanche (1992), é a fisionomia que o recalcado assume para
conseguir ser aceito no consciente, enquanto se faz sintoma ou qualquer outra produção do
inconsciente (um sonho, por exemplo).
Fundamental perceber que, na formação de compromisso, encontram-se negociadas tanto as
exigências defensivas quanto o desejo inconsciente que demanda ser satisfeito. Podemos
observar ambos sendo atendidos. Existe um prazer associado a esse sintoma, mas, ao
mesmo tempo, há um mal-estar, um incômodo, por trazer sofrimento, já que não era
exatamente esse o desejo que deveria ser atendido, o que é oferecido pelo sintoma.
 EXEMPLO
Vamos nos utilizar agora de um exemplo baseado no proposto por Freud. Imaginemos que
uma grande festa será realizada em uma mansão. Um homem sabe da festa e, apesar de não
receber o convite, deseja ir ao evento. Ao chegar lá, consegue entrar, mas inicia uma
discussão com outra pessoa e é convidado a se retirar pelo segurança, que o encaminha até o
lado de fora da mansão. Inconformado, já que a festa tinha tudo para ser boa, ele resolve
tentar voltar. Troca de roupa e, chegando com outro convidado, consegue se infiltrar. Mas em
breve, no meio da dança, novo impasse se dá quando o chefe de segurança reconhece a
semelhança e torna a removê-lo do local, não sem gritaria.
A partir desse exemplo, conseguimos visualizar o sintoma, como uma formação substitutiva,
tentando enganar o Ego, retornando disfarçado. Ainda que tendo algum prazer, acaba
causando confusão e desprazer/mal-estar.
Na formação do sintoma, duas forças encontram-se presentes: a exigência de satisfação da
pulsão e a exigência da censura ao elemento inconsciente inadmissível.
JÁ SABEMOS QUE OS SINTOMAS NEURÓTICOS SÃO
RESULTADO DE UM CONFLITO, E QUE ESTE SURGE
EM VIRTUDE DE UM NOVO MÉTODO DE SATISFAZER
A LIBIDO. AS DUAS FORÇAS QUE ENTRAM EM LUTA
ENCONTRAM-SE NOVAMENTE NO SINTOMA E SE
RECONCILIAM, POR ASSIM DIZER, POR MEIO DO
ACORDO REPRESENTADO PELO SINTOMA
FORMADO. É POR ESSA RAZÃO, TAMBÉM, QUE O
SINTOMA É TÃO RESISTENTE: É APOIADO POR
AMBAS AS PARTES EM LUTA.
(FREUD, 1975, p. 420).
A FALHA DO PROCESSO DEFENSIVO E O
ADOECIMENTO
O sintoma tentará considerar esses dois lados do conflito psíquico, atendendo tanto ao Ego
quanto ao Id, em uma mescla de contenção e prazer. Mas a tentativa de conciliação acaba por
não dar certo já que o prazer experimentado é vivido com certo estranhamento pelo sujeito.
Esse não era o prazer reivindicado.
O sintoma é apresentado como algo que incomoda e do qual queremos nos livrar. Sinal de que
algo não vai bem, mas do qual é difícil se desgarrar. Ao menos é a garantia de algum prazer.
Percebemos durante o trabalho clínico o quanto é difícil para o paciente se livrar de um sintoma
que ele mesmo afirma lhe causar desprazer. Assim, é muito difícil conseguir realizar mudançasem sua conduta. A esse fenômeno é dado o nome de resistência.
Tal como o provérbio português “se não tem tu, vai com tu mesmo”. Mas, como se
conformar?
Adoecendo?
Na falha do processo defensivo, vemos surgir o curso do adoecimento.

No texto Conferências Introdutórias (1916/1917), Freud expõe uma série de argumentos
importantes sobre a formação do sintoma, tendo como resultado o adoecimento ou, mais
precisamente, a estruturação da enfermidade mental.
Na conferência O Sentido dos Sintomas, Freud apresenta algumas considerações que vão ao
encontro do que esboçamos acima: o sintoma se mostra como a manifestação distorcida de
um elemento recalcado e inconsciente. Assim, o sintoma tem um sentido passível de ser
desvendado, que se encontra baseado nas experiências vividas pelo paciente. Desse modo, o
sintoma mantém conexão estreita com a vida sexual, ou seja, refere-se a como se deu o
desenvolvimento da sexualidade daquele indivíduo em particular.


Mais adiante, em uma outra conferência, Os Caminhos da Formação dos Sintomas, Freud
reafirma que os sintomas neuróticos são resultado de um conflito e da tentativa de uma
possibilidade de satisfação da pulsão, mesmo que um tanto desvantajosa. E, continuando
suas colocações, apresenta o conceito de fixação, o qual é muito importante para
entendermos os caminhos feitos por um sintoma.
FIXAÇÃO E REGRESSÃO
Fixação e regressão são processos interdependentes. Ao longo da infância, toda criança vai
experimentando prazeres, desprazeres e traumas durante o desenvolvimento da sua
sexualidade. Essas fases serão superadas, mas jamais plenamente abandonadas ou perdidas,
tornando-se sinais ou pistas passíveis de identificação ou polos de atração.
 VOCÊ SABIA
Em momentos posteriores, diante de uma frustração, quando a realidade não concede a
satisfação pretendida, a libido, energia da pulsão sexual, buscará se religar a essas fixações
(sinais) localizadas no curso de seu desenvolvimento.
A fixação trata-se de um fenômeno relativo à tendência de reconectar a libido a formas
anteriores de modos de satisfação, a tipos arcaicos de objeto ou de relação (LAPLANCHE,
1992), típicos das experiências infantis. Zimerman (2001, p. 150) aponta que
OS PONTOS DE FIXAÇÃO SE FORMARIAM COM MAIS
FACILIDADE A PARTIR DE UMA EXAGERADA
GRATIFICAÇÃO OU FRUSTRAÇÃO DE DETERMINADA
NECESSIDADE OU DE UMA ZONA ERÓGENA E,
CONFORME O PREDOMÍNIO DE UMA DAS FORMAS, A
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA TERÁ CARACTERÍSTICAS
ESPECÍFICAS.
Zimerman (2001, p. 150).
Já a regressão será o movimento de retornar até as “pistas” deixadas onde a libido possa
obter satisfação. Encontramos regressão e fixação se sucedendo no viver o mundo. Desse
modo, podemos evidenciar a presença do passado no presente em um movimento contínuo.
 
Foto: Shutterstock.com
Exemplos do cotidiano podem nos clarificar essa relação entre a fixação e a regressão. Diante
de uma chamada de atenção do chefe no trabalho, uma pessoa tende a reagir da mesma
maneira que fazia com seu pai quando se sentia rejeitada por ele.
Retomando a questão do sintoma, para o surgimento deste, podemos mencionar a existência
de um impedimento da satisfação de uma pulsão no cotidiano do indivíduo. Esse impedimento
gera frustração, seguida por um processo de regressão às organizações anteriores da libido
sexual infantil que jamais foram plenamente abandonadas – esses são os chamados pontos
de fixação no desenvolvimento sexual.
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FATORES CONSTITUCIONAIS E
AMBIENTAIS
Caminhando um pouco mais, vale apresentar o que Freud entende como fatores responsáveis
pela etiologia das doenças. A formação de sintomas dependerá de fatores múltiplos:
CONSTITUCIONAIS
Aspectos inatos
AMBIENTAIS
Acaso
Para melhor explicar, mostraremos a seguir “série complementar”, descrita em seu texto O
Caminho da Formação dos Sintomas,(1975):
 Série complementar de fatores associados a formação de sintomas segundo Freud.
 COMENTÁRIO
A constituição sexual é tudo aquilo que já trazemos em nós, o que nos compõe quando
viemos à vida.
A experiência infantil refere-se ao vivido na infância, ao que foi adquirido nesse período na
relação com o mundo.
A conjugação dessa constituição com a experiência infantil acarretará uma predisposição
(disposição) que interagirá com experiências de frustração vivida pelo adulto na atualidade.
Essa combinação definirá, em algum nível, o destino do sujeito quanto à sua vida amorosa,
suas satisfações pulsionais, fixações, sintomas, enfim, a totalidade da sua vida.
Um esquema talvez possa trazer luz ao que vimos expondo até agora:
Resumo dos fatores constitucionais e ambientais dos sintomas:
Conflitos internos e sofrimento psíquico
Experiências infantis e os processos de fixação e regressão
Frustração
A Falha nos Mecanismos defensivos
Impossibilidade de satisfação da pulsão sexual/libido
Demandas e conflitos externos
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Esse esquema pode dar uma dimensão a respeito das origens dos sintomas e do que está
implicado no que Freud chamou de “escolha da neurose”. Os sintomas são substitutos das
frustrações e revelam os caminhos realizados ou “escolhidos” para obtenção de uma
pseudossatisfação mesclada de sofrimento.
Segundo Bergeret (2008), a estrutura da personalidade implica em determinados componentes
psíquicos essenciais:
Mecanismos de defesa
Grau de evolução da libido
Pontos de fixação da libido
Grau de desenvolvimento do Ego
Um modo seletivo de relação de objeto
OS MECANISMOS DE DEFESA NOS
TRANSTORNOS PSÍQUICOS
Os transtornos psíquicos apresentam um conjunto de mecanismos de defesa que se associam
à exibição de sintomas. Passaremos a enumerar alguns desses mecanismos que se
apresentam como mais característicos, mas não exclusivos, de determinadas patologias.
RECALQUE
O recalque é o mecanismo fundamental da estruturação da neurose. Logo, estará sempre
presente.
PSICOSE
No caso da psicose, podemos verificar a cisão e recusa da realidade.
NEUROSE
Na neurose, podemos observar que a histeria se utiliza de mecanismos de deslocamento,
isolamento.
NEUROSE OBSESSIVA
Já no caso da neurose obsessiva, encontram-se de forma muito efetiva os mecanismos de
deslocamento, isolamento, anulação e formação reativa.
Diríamos que, diante do conflito, a defesa age separando os representantes ideativos do afeto,
tornando-os inconscientes. Porém, é onde a libido encontra-se fixada que definirá os caminhos
da formação do sintoma e, assim, o quadro psicopatológico.
Repare na importância do entendimento dos mecanismos de defesa e também do
conhecimento da história do sintoma, contada pelo sujeito, pois nesse sentido poderemos
realizar um melhor trabalho clínico.
VOCÊ DEVE ESTAR SE PERGUNTANDO: TODAS
AS VEZES EM QUE TIVERMOS UM CONFLITO
OU FICARMOS FRUSTRADOS
DESENVOLVEREMOS SINTOMAS E,
CONSEQUENTEMENTE, UMA DOENÇA?
RESPOSTA
RESPOSTA
Na verdade, não. Se o Ego conseguir entrar em acordo com a pulsão para que um novo
objeto, mais acessível e propiciado pela realidade, seja aceito como possibilidade de
prazer, não teremos um impasse e, nesse sentido, não veremos um adoecimento.
Freud (1916/1917) aponta que muitas pessoas têm a capacidade de tolerar carências mais do
que outras. Além disso os impulsos parecem ter um tipo de “elasticidade” capaz de assumir o
lugar de outro e inclusive viabilizar satisfação a partir de outro objeto.
 ATENÇÃO
Repare que aquilo que desenvolve a doença refere-se à exclusividade no que diz respeito à
satisfação. A flexibilidade nos padrões de satisfação da libido será fundamental para o não
adoecimento.
Talvez possibilitar a flexibilização seja uma das tarefas fundamentais de todo processo
analítico.
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VEM QUE EU TE EXPLICO
O mecanismo defensivo na neurose obsessiva
O mecanismo defensivo na neurose obsessiva
O sintoma como produto do inconsciente e as formações substitutivas
O sintoma como produto do inconsciente e as formações substitutivas
Fatoresconstitucionais e ambientais responsáveis pela etiologia das doenças
Fatores constitucionais e ambientais responsáveis pela etiologia das doenças
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (IFAL, 2011, CONC. PÚBLICO PSICÓLOGO) DE ACORDO COM A
TEORIA PSICANALÍTICA, O FATO DE UMA PESSOA NÃO PROGREDIR
NORMALMENTE DE UMA FASE PARA OUTRA, PERMANECENDO MUITO
ENVOLVIDA EM UMA FASE PARTICULAR, CARACTERIZA O FENÔMENO
DE
A) sublimação.
B) regressão.
C) obsessão.
D) mecanismo de defesa.
E) fixação.
2. NA PRÁTICA DA PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA, OS SINTOMAS
PODEM SER ENTENDIDOS COMO ATOS, MUITAS VEZES INDESEJADOS,
QUE CAUSAM DESPRAZER E SOFRIMENTO. NA VERDADE, SABEMOS
QUE TAMBÉM GERAM ALGUM PRAZER. SEGUNDO ESSA PERSPECTIVA,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) Todo sintoma é uma formação de compromisso.
B) O sintoma é gerado por uma frustração, o que ocasionará um processo de luto.
C) O sintoma é o que se mostra não havendo nada mais a entender sobre ele.
D) Por ser doloroso, o sintoma tenderá a ser prontamente abandonado pelo paciente com
ajuda médica.
E) O retorno do recalcado impede que se forme o sintoma, pois ele permite o aparecimento de
novos afetos.
GABARITO
1. (IFAL, 2011, Conc. Público Psicólogo) De acordo com a teoria psicanalítica, o fato de
uma pessoa não progredir normalmente de uma fase para outra, permanecendo muito
envolvida em uma fase particular, caracteriza o fenômeno de
A alternativa "E " está correta.
 
A teoria psicanalítica apresenta o desenvolvimento psicossexual da criança a partir de
diferentes fases erógenas – oral, anal, fálica, latência e genital. Desde o início do
desenvolvimento, a libido irá, sucessivamente, investir em cada uma dessas zonas e progredir
no desenvolvimento sem interrupção. Durante esse desenvolvimento, a criança experimentará
um conjunto de satisfações, angústias, desprazeres. Algumas dessas vivências não serão
totalmente superadas e deixarão vestígios chamados pontos de fixação. Diante de uma
frustração no futuro, durante a experiência adulta, observaremos um retorno da libido a esses
pontos de fixação. Os outros mecanismos mencionados nas demais alternativas não
correspondem ao objetivo e consigna mencionados na comanda da questão.
2. Na prática da psicoterapia psicanalítica, os sintomas podem ser entendidos como
atos, muitas vezes indesejados, que causam desprazer e sofrimento. Na verdade,
sabemos que também geram algum prazer. Segundo essa perspectiva, assinale a
alternativa correta.
A alternativa "A " está correta.
 
Diante de frustrações e conflitos, o mecanismo de defesa do recalque é um dos mais utilizados.
A representação psíquica é excluída para o inconsciente, dando ao afeto algum destino. Freud
insistia na força dos conteúdos inconscientes no sentido de retornar à consciência para
alcançarem satisfação. Nessa insistência dos conteúdos inconscientes – o retorno do
recalcado -, a forma encontrada é a de um disfarce, de uma camuflagem. Só será possível
essa reentrada pela formação de compromisso. O conceito alude ao compromisso entre a
defesa e o representante pulsional bloqueado que obtém prazer disfarçado. As outras
condições mencionadas nas demais alternativas não correspondem ao objetivo e consigna
mencionados na comanda da questão.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos a ideia de defesa como algo fundamental ao viver humano. Diante da vivência
de conflitos e da impossibilidade de satisfação da pulsão, ou dos desejos correlatos a ela,
observamos que o Ego coloca em jogo um conjunto de mecanismos de defesa, que são
processos inconscientes.
O objetivo principal dos mecanismos de defesa é lidar com os conflitos internos e
externos, vividos no cotidiano como ameaçadores.
Discorremos sobre os principais mecanismos de defesa expostos principalmente por Freud e
Anna Freud, tais como recalque, regressão, clivagem, deslocamento, anulação isolamento,
formação reativa, negação, projeção e introjeção.
Após a descrição desses mecanismos, estabelecemos sua relação com a criação dos sintomas
na história da Psicanálise. Estabelecemos como fatores fundamentais para a etiologia dos
sintomas: o conflito, a frustação e os processos de fixação e regressão. De acordo com esses
fatores, apontamos os diferentes processos de adoecimento mental e seus mais característicos
mecanismos defensivos.
Para finalizar, refletimos sobre a importância do reconhecimento dos processos defensivos e
da escuta dos sintomas como referência para a execução do trabalho analítico.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BERGERET, J. A Personalidade Normal e Patológica. Porto Alegre: Artmed, 2008.
FENICHEL, O. Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo: Atheneu, 1981.
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FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
KLEIN, M (Organiz.). Os progressos da psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1986
KUSNETZOFF, J. C. Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,
1992.
LATTANZIO, F. Por que criamos? Reflexões psicanalíticas sobre a gênese da arte, Mosaico.
Estudos em Psicologia, v. 3, n. 1, 2008.
MCWILLIAMS, N. Diagnóstico Psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 2014.
MEZAN, R. A trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1982.
NEVES, T. I.; LOPES, A. M.; MORAES, T. C. B. Reintroduzindo o sintoma: a psicanálise
como obstáculo à cientificização do tratamento psíquico. Revista de Psicologia UERJ, Rio de
Janeiro, 2013.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
ZIMERMAN, D. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001.
EXPLORE+
Para aprofundar os seus conhecimentos no assunto estudado:
Leia o artigo Casos Clínicos retratados no cinema: estudo de processos defensivos, de
Tales Vilela Santeiro, Leylane Franco Leal Barboza e Ludimila Faria Souza, publicado na
Revista Brasileira de Psicoterapia, volume 18, número 2, em 2016.
Acesse o canal do YouTube “Falando nIsso”, de Christian Dunker.
Assista ao vídeo Caso Homem dos Ratos Freud, encontrado no canal SOBRAPSICO, no
YouTube.
CONTEUDISTA
Teresinha Maria Nicolini da Fonseca Anciães

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