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1 Willinson Carvalho do Rosário REGÊNCIA CORAL E INSTRUMENTAL São Luís 2020 2 APRESENTAÇÃO Olá, cara(o) estudante, Na disciplina de iniciação à regência, vimos alguns aspectos iniciais para o desenvolvimento da regência, como um breve histórico, a postura do regente perante o grupo, os gestos básicos, porém importantes, e exercícios para a prática gestual e independência dos braços. Nesta disciplina de regência coral e instrumental vamos ver outros aspectos elementares, no entanto, significativos para o trabalho como professor de música. Assim, estudaremos características gerais da orquestra e do coral, novamente os gestos básicos para serem aperfeiçoados, aspectos gerais sobre o planejamento de um ensaio, as diferenças e particularidades entre coro e orquestra, findando a última parte com repertórios para treinamento. Será muito importante fazer esse treinamento com a utilização do metrônomo e regendo ainda com os dois braços, pois é necessário ter independência entre ambos. Para uma visualização melhor, você pode exercitar de frente para um espelho, analisando cada movimento gestual. No decorrer desse material, para a sua melhor compreensão, há a indicação de vídeos para complementar o assunto abordado. Bons estudos a todos! 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 – ORQUESTRA E CORAL.......................................................................... 4 1.1 Características da orquestra................................................................................ 4 1.2 Características do coral........................................................................................ 7 Resumo....................................................................................................................... 13 Referências................................................................................................................. 13 UNIDADE 2 – REGÊNCIA E PLANEJAMENTO.............................................................. 14 2.1 Considerações gerais sobre a técnica da regência.............................................. 14 2.2 Planejamento para os ensaios............................................................................. 22 Resumo....................................................................................................................... 23 Referências................................................................................................................. 23 UNIDADE 3 – MÚSICA VOCAL E INSTRUMENTAL...................................................... 24 3.1 Diferenças e particularidades na regência coral e instrumental........................ 24 Resumo....................................................................................................................... 26 Referências..................................................................................................................26 4 UNIDADE 1 – ORQUESTRA E CORAL Objetivos • Conhecer as características da orquestra; • Conhecer as características do coral; • Entender a disposição da orquestra e do coro. 1.1 Características da orquestra O que atualmente conhecemos como orquestra, no período antigo tinha uma outra conotação. Em grego (orkhestra) significava local para se dançar. E era nesse lugar na Grécia antiga que os espetáculos aconteciam, e ao ar livre, sendo conhecido como anfiteatro. A orquestra ficava em frente à área principal, onde o coro cantava e dançava, e os instrumentistas também ficavam nesse mesmo espaço. Na figura abaixo, o espaço em semicírculo é a orquestra. Figura 1 – Antigo Teatro Grego em Paphos Fonte: https://www.itinari.com/pt/paphos-archeological-theatre-an-unesco-s-diamond-j1lb Durante o século XVII na Itália, a orquestra (orchestra) era o local entre o palco e a plateia, onde os instrumentistas ficavam. Depois de alguns anos foi que se passou a chamar o grupo de músicos de orquestra e depois o conjunto de instrumentos que eles tocavam. Assim, “hoje em dia usamos a palavra orquestra 5 para indicar um conjunto razoavelmente grande de instrumentos que tocam juntos” (BENNETT, 1985, p. 9). No entanto, essa quantidade pode ser variável, dependendo da peça e combinações realizadas pelo compositor. Ao longo dos anos, a orquestra sofreu distintas modificações em sua formação e tamanho. Alterações nos instrumentos musicais e a criação de outros foram contribuições importantes. Alguns passaram a ficar mais fáceis para tocar, como os metais, por exemplo, outros passaram a ter novas possibilidades de notas e ainda variedade de timbres. Portanto, a orquestra foi sendo aperfeiçoada gradativamente. 1.1.1 Os Naipes da orquestra A orquestra está dividida por quatro naipes ou famílias de instrumentos: cordas, madeiras, metais e percussão. São dispostos no palco, conforme a figura abaixo. É importante destacar que nem todo palco terá esse formato de escada, facilitando a visualização de todos, mas a organização permanecerá a mesma. Figura 2 – Organização da orquestra no palco Fonte: BENNETT, 1985. Cada naipe possui entre si familiaridades. As cordas tem o som produzido quando se passa o arco ou os dedos nas cordas. A produção sonora das madeiras e dos metais acontece com o sopro do instrumentista. E a percussão tem o som produzido por meio da utilização de baquetas e ainda a mão do instrumentista. Vejamos agora quais são os instrumentos compostos para cada família. No naipe das cordas, temos: violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e harpa. Mas 6 existem orquestras que tem o piano fazendo parte dessa família, assim como um cravo, dependendo do repertório. O naipe das madeiras é composto por flautas, flautim, oboés, corne inglês, clarinetas, clarineta baixo, fagote e contrafagote. Na família dos metais, tem-se: trompas, trompetes, trombones e tubas. E no naipe da percussão, encontramos: tímpanos, bombo, caixa clara, pratos, triângulos, pandeiro, Glockenspiel, xilofone, celesta, carrilhão, castanholas, blocos de madeira, tantã, chicote, maracás, entre outros instrumentos, conforme a orquestra. Nesse aspecto, dependendo do propósito e tamanho da orquestra, é possível não ter todos esses instrumentos. Também há orquestras individuais de cada família, como orquestra de cordas, orquestra de madeiras, orquestra de metais e orquestra de percussão. Sugestão de vídeo Para compreender melhor sobre as famílias, veja o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?v=gzqp8ka64Oo. Sugestão de vídeos para compreender cada instrumento da orquestra. Veja nos links: https://www.youtube.com/watch?v=m9OV1wMOZO0&list=RDgzqp8ka64Oo&index=2 (Violino) https://www.youtube.com/watch?v=l8TpsUR0pw&list=RDgzqp8ka64Oo&index=7 (Violas) https://www.youtube.com/watch?v=30Zb_QRr_II&list=RDgzqp8ka64Oo&index=12 (Violoncelo) https://www.youtube.com/watch?v=dQJlnvOKBBc&list=RDgzqp8ka64Oo&index=16 (Contrabaixo) https://www.youtube.com/watch?v=s88KzR_s8cs (O Spalla) https://www.youtube.com/watch?v=ekHXNq7qNiQ&list=RDgzqp8ka64Oo&index=34 (Clarineta) https://www.youtube.com/watch?v=UUVOXQtP_Os&list=RDgzqp8ka64Oo&index=24 (Flauta) https://www.youtube.com/watch?v=I7bZH5KU36M&list=RDgzqp8ka64Oo&index=24 (Oboé) https://www.youtube.com/watch?v=GvNCmC__gbs&list=RDgzqp8ka64Oo&index=23 (Fagote) https://www.youtube.com/watch?v=gXu4t8YE2_E&list=RDgzqp8ka64Oo&index=25 (Trompete) https://www.youtube.com/watch?v=vEZ4STb0bSM&list=RDgzqp8ka64Oo&index=17 (Trompa) https://www.youtube.com/watch?v=aro5vCsdaBQ&list=RDgzqp8ka64Oo&index=9 (Trombone) https://www.youtube.com/watch?v=5ptF3CAPa_g&list=RDgzqp8ka64Oo&index=6 (Tuba) https://www.youtube.com/watch?v=PesVS8d6bCo&list=RDgzqp8ka64Oo&index=19 (Percussão) https://www.youtube.com/watch?v=gzqp8ka64Oohttps://www.youtube.com/watch?v=m9OV1wMOZO0&list=RDgzqp8ka64Oo&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=l8TpsUR0pw&list=RDgzqp8ka64Oo&index=7 https://www.youtube.com/watch?v=30Zb_QRr_II&list=RDgzqp8ka64Oo&index=12 https://www.youtube.com/watch?v=dQJlnvOKBBc&list=RDgzqp8ka64Oo&index=16 https://www.youtube.com/watch?v=s88KzR_s8cs https://www.youtube.com/watch?v=ekHXNq7qNiQ&list=RDgzqp8ka64Oo&index=34 https://www.youtube.com/watch?v=UUVOXQtP_Os&list=RDgzqp8ka64Oo&index=24 https://www.youtube.com/watch?v=I7bZH5KU36M&list=RDgzqp8ka64Oo&index=24 https://www.youtube.com/watch?v=GvNCmC__gbs&list=RDgzqp8ka64Oo&index=23 https://www.youtube.com/watch?v=gXu4t8YE2_E&list=RDgzqp8ka64Oo&index=25 https://www.youtube.com/watch?v=vEZ4STb0bSM&list=RDgzqp8ka64Oo&index=17 https://www.youtube.com/watch?v=aro5vCsdaBQ&list=RDgzqp8ka64Oo&index=9 https://www.youtube.com/watch?v=5ptF3CAPa_g&list=RDgzqp8ka64Oo&index=6 https://www.youtube.com/watch?v=PesVS8d6bCo&list=RDgzqp8ka64Oo&index=19 7 Na figura abaixo, podemos observar a disposição dos naipes na orquestra, principalmente da família das cordas, que possuem primeiro e segundo violinos. Essa é uma configuração padrão, no entanto, existem outras maneiras de organização, conforme a orquestra e o maestro, por exemplo. Figura 3 – Disposição dos naipes na orquestra Fonte: BENNET (1985) 1.2 Características do coral A palavra choros (Kóros) já sofreu distintas modificações e significados ao longo dos anos (ZANDER, 2003). Em Italiano tem o nome coro; em francês, choeur; em inglês, choir; alemão é chor; Originalmente, choros veio dos antigos dramas gregos de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, que consistia em poesia, canto e dança. Depois de alguns anos, o cristianismo antigo estabeleceu outros sentidos, como o grupo da comunidade que canta, a parte semicircular junto com o altar, e ainda o lugar onde ficava o órgão. A partir deste, nasceu o termo choral, ou seja, aquele executado no coro. Inicialmente, o coral tinha um caráter mais solista, havendo alterações a partir da idade média. Uma delas foi a movimentação de duas vozes por quintas paralelas. Consequentemente, surgiram três e quatro vozes, principalmente com a Escola de 8 Notre Dame. E posteriormente fixou-se a estrutura a quatro vozes, como conhecemos atualmente. Nessa trajetória da música vocal, é importante destacar a utilização de instrumentos musicais, tais como vielas, flautas, saltérios, harpas, alaúdes, órgãos, sinos, entre outros. Esses instrumentos “davam um grande colorido à música, principalmente no período gótico” (ZANDER, 2003, p. 161). No entanto, um estilo de música intimamente relacionada com o texto, Música Riservata, passou a se difundir dando margem ao espírito de uma outra estrutura coral, voz à capella. Mas os instrumentos musicais ainda não tinham sido dispensados por completo. Esse período do coral à capella passou a ter uma importância significativa e características expressivas. Flexibilidade, colorido vocal, utilização de cromatismos e músicas descritivas, compacidade ou densidade sonora foram as principais. O número de participantes desse tipo de coral não era muito extenso, possuindo 12 baixos, 15 tenores, 13 contraltos, 16 meninos cantores, 5 ou 6 castrati e 30 músicos de orquestra. Para favorecer os instrumentistas, o número de cantores desse coral foi sendo reduzido. Um exemplo foi o coro de Hermann Finck (1556) contendo 14 homens, 7 meninos e 3 instrumentos de sopro, apenas. Por volta de 1600, o coro começou a ser visto com uma certa aversão, já que a prática do baixo contínuo passa a entrar em cena, dando-se preferência à música instrumental. Entretanto, esse quadro muda com o surgimento da ópera e os romanos passaram a dar grande valor aos coros. Nasce ainda o oratório, que passou a ser um gênero muito apreciado na época, juntamente com a Paixão e a Cantata. Nos anos de 1784, movidos por distintos festivais, os coros passaram a não ter mais a função litúrgica, afastando-se de suas origens. A prática coral tem agora um caráter de concerto. É o que pode se perceber em peças corais de Haydn, Mozart e Beethoven. Ainda nesse período do século XVIII, surgiram várias entidades para a disseminação do canto coral. Já no século XIX foi introduzido o ensino de canto coral nas escolas de Paris pelo pedagogo Guillaume Louis Wilhem. Foram criadas ainda associações masculinas de canto, conhecidas pelo nome Orphéons. Surgem os Festivais de Música e a prática coral passou a ter um caráter e compromisso social. 9 E no século XX, com distintos aprimoramentos musicais, tenta-se retornar às origens de cada estilo musical, mantendo-se o espírito da composição original. Grandes compositores sinfônicos não excluíram o coro totalmente de suas peças, como Debussy, Pfitzner, Reger, Mahler, Shöenberg, Busoni, Vaugham Williams, Strawinsky, Hindemith, Distler, Pepping, Orff, Kodaly, Petrassi, Flor Peeters, O. Messiaen, Luigi Nono, Britten, entre outros. 1.2.1 Estrutura Coral A quantidade de cantores(as) dentro do coro é um fator que irá determinar qualitativamente a sonoridade e o timbre. Assim, o repertório a ser cantado precisa levar em consideração esse quantitativo. Portanto, um coro a capella, por exemplo, tem formação com aproximadamente 15 a 30 pessoas. Coros de câmara são compostos com 20 a 25 elementos, mas podem possuir até 30 pessoas, conforme o repertório. “Acima desse número, um coro já perde muito de seu caráter camerístico. O ideal para um agrupamento de câmara é um conjunto entre 15 e 20 cantores” (ZANDER, 2003, p. 166). Quando o coro tem poucas pessoas, é caracterizado pelo número de participantes. Nesse sentido, pode-se ter “quarteto, quinteto, sexteto, quarteto duplo, etc. [...] Um coro mesmo sendo grande, não deveria ter acima de 150 cantores” (ZANDER, 2003, p. 166). Conforme Zander (2003), conseguir uma sonoridade interessante com muitos membros no coro é uma tarefa bem mais difícil. Ele considera o número entre 60 e 80 bom para um coro grande, pois “quanto maior o corpo, mais pesado e a tendência será a de perder a transparência, mesmo com elementos de ótima qualidade” (ZANDER, 2003, p. 167). Ainda em relação a questões quantitativas, não é fácil encontrar certos tipos de vozes. O baixo profundo, que preenche e carrega o ambiente, não é muito comum de se ter, por exemplo. Nesse caso, coloca-se um barítono com tendências para o grave. Da mesma maneira acontece com as vozes contraltos. Estas geralmente são substituídas por meio sopranos que atingem certos graves, fazendo os preenchimentos necessários na medida do possível. Mesmo com essas 10 dificuldades, “é bom ter em cada naipe pelo menos uma ou duas pessoas com seus registros reais” (ZANDER, 2003, p. 167). 1.2.2 Disposição elementar do coro “As disposições do coro dependem de uma ordem lógica e devem orientar-se por uma organicidade na qual fica incluído não só o fator técnico da regência, como também o acústico e o humano” (ZANDER, 2003, p. 182). Assim, fica mais fácil o trabalho com o coral quando sabemos exatamente o posicionamento de cada naipe. Na idade média, o coro era posicionado em semicírculo ou em círculo ao redor da partitura. Observe na figura abaixo que os tenores e sopranos estão do lado esquerdo, e baixos e contraltos na direita. Já na outra imagem, sopranos e contraltos foram colocados na esquerda, e baixos e tenores à direita. Figura 4 – Posição do coro na Idade Média Fonte: Zander (2003) Para uma projeção sonora mais frontal e indo direto para o público, é mais interessante organizar o coral em semicírculo. Assim, “com essa disposição vai-se ao encotro do público, não o excluindo da relação artista-público, relação que sempre precisa ser mantida, e o coro também terá uma boa solução para ouvir-se organicamente” (ZANDER, 2003, p. 183). A figura abaixo representa essa divisão.11 Figura 5 – Organização coral em semicírculo Fonte: Zander (2003) Nessa disposição, pode-se dividir o coral em algumas possibilidades. Vejamos três exemplos, conforme a figura abaixo. Figura 6 – Possibilidades de organização coral em semicírculo Fonte: Zander (2003) Na primeira imagem, o coro está disposto por duas fileiras. Na primeira estão as vozes soprano (lado esquerdo) e contralto (lado direito). Na segunda fileira estão as vozes tenor (lado esquerdo) e baixo (lado direito). A imagem do meio mostra o coral em apenas uma fileira, organizado com soprano, ao lado desse naipe a voz contralto, em seguida os tenores e logo ao lado os baixos. Na terceira imagem tem- se uma variação da anterior, ficando a sequência: soprano, agora os tenores, depois os baixos e finaliza com os contraltos. É importante observar que o regente sempre está posicionado no meio, centralizado e de frente para o coro. Isso é muito importante, pois ele precisa ter uma visão geral e boa de todos os naipes. 12 Um outro posicionamento simples e muito utilizado, é uma voz ao lado da outra quando a peça tem apenas duas vozes. A figura abaixo demonstra essa organização. Figura 7 – Disposição para duas vozes Fonte: Zander (2003) Ainda existem outras maneiras de dispor o coro, principalmente quando há coral duplo, triplo, e ainda a divisão para um dos naipes fazendo voz principal. Mas para o nosso estudo elementar, os exemplos mostrados são significativos. Também existe organização para peças feitas para coro e orquestra. Geralmente o coral fica posicionado atrás da orquestra. Veja a figura abaixo. Figura 8 – Organização para coro e orquestra Fonte: Zander (2003) 13 Sugestão de vídeo Para visualizar melhor essa divisão, veja o vídeo no link abaixo do Requiem de Mozart: https://www.youtube.com/watch?v=Dp2SJN4UiE4 Sugestão de vídeo para compreender melhor o papel do regente (Maestro): https://www.youtube.com/watch?v=hZEZao_7Pag Resumo Vimos nesta Unidade como se originou a orquestra. Na Grécia antiga correspondia ao espaço entre o palco principal e público. Ainda verificamos que a orquestra é dividida por famílias (naipes) de instrumentos e a localização de cada uma delas no palco. Também conhecemos uma breve linha do tempo do coral, o número de participantes num coro e algumas possibilidades de organização do grupo no palco. Referências BENNETT, ROY. Instrumentos da Orquestra. Tradução, Luís Carlos Csëko. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. ZANDER, Oscar. Regência Coral. 5. ed. Porto Alegre: Movimento, 2003. https://www.youtube.com/watch?v=Dp2SJN4UiE4 https://www.youtube.com/watch?v=hZEZao_7Pag 14 UNIDADE 2 – REGÊNCIA E PLANEJAMENTO Objetivos • Aprimorar as técnicas da regência; • Conhecer e desenvolver o planejamento de um ensaio; 2.1 Considerações gerais sobre a técnica da regência Nesse ponto do nosso estudo, vamos retomar as técnicas de regência vistas na disciplina de iniciação à regência. É muito importante que os movimentos da marcação sejam realizados corretamente, assim como os gestos iniciais, preventivos, os gestos para as dinâmicas e fermatas. O treinamento para cada gesto deve ser realizado com a utilização do metrônomo, pois o pulso precisa ser mantido e sentido. Estudar as marcações com os dois braços ainda será preciso, até que se tenha dominado a independência dos mesmos. É significativo destacar que reger vai muito mais além do que fazer os movimentos de marcações e manter o pulso, por exemplo. O regente deve deixar fluir tudo aquilo que uma peça tem a oferecer, deixando isso muito claro para a orquestra ou coral. A interpretação do regente nesse momento precisar fazer a diferença. Por isso estudar corretamente cada gesto proporcionará a você estudante interpretar uma peça com mais segurança. 2.1.2 Gesto inicial e preventivo O gesto inicial é aquele que o regente faz para o grupo coral e/ou orquestral ficarem atentos, pois a peça vai começar. Olhar para todos, verificando se há algum naipe disperso, também será muito importante. 15 Figura 9 – Gesto Inicial Fonte: Gallo et al (2006) Já o gesto preventivo (levare), é feito pelo regente para indicar que a peça vai iniciar naquele momento. Esse gesto também informa o andamento e a dinâmica. Em seguida, segue-se o primeiro tempo do primeiro compasso. Figura 10 – Gesto Preventivo (Levare) Fonte: elaborada pelo autor (2020) 16 2.1.3 Marcação dos compassos simples O braço utilizado para fazer os gestos das marcações é o direito. No entanto, estude com os dois para trabalhar a destreza. Abaixo segue-se as imagens dos compassos 2/4, 3/4 e 4/4. Figura 11 – Compasso simples 2/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) Figura 12 – Compasso simples 3/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 17 Figura 13 – Compasso simples 4/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 2.1.4 Marcação dos compassos compostos Os compassos compostos surgem de um compasso simples, quando estes são multiplicados pela fração 3/2. Assim, teremos as subdivisões binária, ternária e quaternária. Portanto, será relevante treinar cada compasso composto com o metrônomo soando em colcheias. Isso vai facilitar sentir cada uma dessas subdivisões. As marcações utilizadas para os compassos compostos serão as mesmas dos compassos simples, porém, há uma dilatação do tempo nos compostos. Então, o gestual feito no compasso composto 6/8 é o mesmo do 2/4, mas possuindo agora seis tempos e subdivisão binária. Podemos conferir: 123 – 456 ou 1ee – 2ee. Observe a imagem abaixo. Figura 14 – Compasso 6/8 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 18 O gestual do compasso composto 9/8 é o mesmo do 3/4, com nove tempos e subdivisão ternária. A conferência fica: 123 – 456 – 789 ou 1ee – 2ee – 3ee. Veja a imagem abaixo. Figura 15 – Compasso 9/8 Fonte: elaborada pelo autor (2020) E o gestual do compasso composto 12/8 é igual ao do 4/4, possuindo doze tempos e subdivisão quaternária. Conferindo, fica: 123 – 456 – 789 – 10 11 12 ou 1ee – 2ee – 3ee – qua-tro. Analise a imagem abaixo. Figura 16 – Compasso 12/8 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 19 2.1.5 Compassos alternados Compassos alternados são uniões de dois ou mais compassos em execução um após o outro, ou seja, alternadamente. Iremos utilizar uma marcação uniforme para cada compasso alternado, pensando nele como se fosse único, conforme visto na apostila de iniciação à regência. Mas antes de vermos os alternados, olharemos o compasso composto 6/4 (surge do 2/2), porque os movimentos são semelhantes aos dos compassos alternados. Figura 17 – Compasso composto 6/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) O compasso alternado 5/4 é a soma dos compassos 2/4 e 3/4 ou o inverso. Verifique a imagem abaixo que mostra a marcação com os dois braços. Figura 18 – Compasso 5/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 20 Agora o compasso 7/4 é a soma dos compassos 4/4 e ¾, ou o contrário. Observe a imagem abaixo que mostra a marcação com os dois braços. Figura 19 – Compasso 7/4 Fonte: elaborada pelo autor (2020) 2.1.6 Gestual para a indicação da entrada Podemos fazer a indicação para os cantores e músicos de duas maneiras bem simples: a primeira é com a palma da mão para cima, e a segunda é com os dedos indicador e polegar juntos, as pontas se tocando no momento da preparação da indicação, separando-se na finalização. 2.1.7 Gestual para a indicação do corte Figura 20 – Gesto de corte Fonte: elaborada pelo autor (2020) 21 2.1.8 Gestual para a indicação das dinâmicas Figura 21 – Indicação de dinâmicas p, mp, mf e f. Fonte: elaborada peloautor (2020) É importante lembrar que esses são gestos onde existem amplitudes diferentes, variando de um regente para o outro. No exemplo acima, está no compasso 3/4, mas pode ser realizado em qualquer que seja. 2.1.9 O crescendo e decrescendo Os gestos para essas dinâmicas podem ser afastando-se os dois braços ao mesmo tempo e com as palmas das mãos para baixo (crescendo) ascendentemente. Para o decrescendo o gestual será o inverso, vindo descendentemente. Uma outra opção é fazendo a marcação com o braço direito, enquanto o esquerdo se afasta ascendentemente (crescendo) e retornando descendentemente (decrescendo). 22 2.1.10 O gesto da fermata Figura 22 – Gesto para a fermata Fonte: Gallo et al (2006) Vale lembrar que a fermata prolonga o som ou silêncio, dilatando o tempo onde ela estiver localizada. Entretanto, pode haver variações de um regente para o outro em relação ao prolongamento temporal. 2.2 Planejamento para os ensaios Para esse momento dos ensaios, é importante analisar a música previamente, principalmente os pontos mais complicados. No caso de um coro onde os cantores não sabem ler partitura, por exemplo, o regente deve passar as vozes cantando ou utilizando um instrumento. Também é importante observar a letra, o ritmo, os saltos melódicos e a afinação do coro. Numa orquestra, esses pontos também serão significativos, retirando-se apenas a parte textual. Durante cada ensaio, o regente pode separar os naipes, passando a peça por partes, especificamente as que merecem maior atenção. Assim, havendo um ponto em especial que os naipes de cordas da orquestra precisam executar com mais clareza e precisão, o regente pode passar esse trecho somente com esse naipe. Da mesma maneira ocorrerá com o coro, ensaiando um ponto importante com os tenores, por exemplo. No entanto, não é interessante fazer isso conduzindo a uma exaustão do grupo, pois tornará o momento de ensaio enfadonho. Outra questão durante os ensaios é deixar muito claro para o coro ou orquestra as expressões do regente, pois a não clareza deixará o grupo indeciso. O que for exigido precisa estar exato para todos do grupo, caso contrário, pode haver 23 interpretações distintas entre os naipes. Tudo isso deve ficar ainda mais notório quando for um grupo composto por amadores, onde ninguém lê o que está escrito na partitura, assim, o trabalho do regente precisa ser cuidadoso. Para o ensaio fluir sem muitas interrupções, o regente pode já deixar marcados os pontos que merecem maior atenção na música, fazendo anotações breves na partitura. Não deixará o regente perdido e isso mostrará qualidade ao grupo e o nível do ensaio será melhor. Em relação aos efeitos sonoros, caberá ao regente gerenciar os momentos de maior ou menor expressividades. Nas partes de dinâmicas fortes para um coro, é preciso tomar cuidado para o canto não ser gritado, estridente e agressivo. Todas as dinâmicas devem ser utilizadas ponderadamente, respeitando-se o que está escrito na partitura e a ideia do compositor. Entretanto, pode ocorrer variações de um regente para o outro. Sugestão de vídeo Sugestão de vídeo para compreender sobre o ensaio orquestral: https://www.youtube.com/watch?v=6VOpgsMvsWg Sugestão de vídeo para compreender sobre o ensaio coral: https://www.youtube.com/watch?v=hLRkX6bCy6A (Parte sobre ensaio em 7:54) Resumo Retomamos nesta Unidade os gestos elementares da regência, sendo eles: inicial, preventivo, marcação dos compassos simples, compostos e alternados, indicação de entrada, de corte, dinâmicas e fermatas. Faça o treinamento de cada um deles com a utilização do metrônomo, para que você possa desenvolver precisão. Ainda vimos o quanto é relevante fazer a organização para a realização dos ensaios. E esse planejamento será útil para grupos amadores e profissionais. Referências GALLO, José Antônio. El director de coro: manual para la dirección de coros vocacionales. 1. ed. Buenos Aires: Melos de Ricordi Americana, 2006. ZANDER, Oscar. Regência Coral. 5. ed. Porto Alegre: Movimento, 2003. https://www.youtube.com/watch?v=6VOpgsMvsWg https://www.youtube.com/watch?v=hLRkX6bCy6A 24 UNIDADE 3 – MÚSICA VOCAL E INSTRUMENTAL Objetivos • Conhecer as diferenças e particularidades de reger um coral; • Conhecer as diferenças e particularidades de reger uma orquestra; • Compreender a utilização da batuta. 3.1 Diferenças e particularidades na regência coral e instrumental O coral e orquestra são práticas musicais em conjunto. No entanto possuem aspectos diferentes, sendo importante o regente conhecer um e o outro. Num coro, a prática do grupo é utilizando a voz. Em uma orquestra o agrupamento é maior e com instrumentos diferentes: metais e madeira (sopros), cordas e percussões. Cada um com sonoridades distintas e técnicas para execução diferentes. Normalmente, os corais são formados por pessoas que não estudam música, não leem partitura, não praticam técnicas de canto, entre outros. Nesse ponto, a comunicação do regente com esse tipo de coral terá alterações, e é muito importante deixar claro cada gesto. E a batuta geralmente não é utilizada pelo regente. Ponto que já se difere da orquestra, porque se faz o uso da batuta, e por vários motivos: ela funciona como um prolongamento do nosso braço e dedos, com a qual podemos marcar os compassos de maneira clara para os músicos da orquestra, e ainda favorece exatidão nas partes rítmicas (ZANDER, 2003). Como as orquestras normalmente tem um número significativo de membros, é preciso que aqueles mais distantes do regente consigam ver os seus movimentos. Sem a batuta, isso se tornaria conflitante. Sugestão de vídeo Sugestão de vídeo para compreender a utilização da batuta: https://www.youtube.com/watch?v=Swvy0cC8tbQ https://www.youtube.com/watch?v=Swvy0cC8tbQ 25 Outro ponto a se considerar, é a permanência do regente no grupo. “O coro tem seu regente constante, ao qual os cantores estão intimamente ligados pela exigência do trabalho [...]. As orquestras, além de seu regente titular, passam por muitos outros” (ZANDER, 2003, p. 237). Assim, com essa troca de regente, é preciso trabalhar com um gestual e expressões gerais para não confundir os instrumentistas da orquestra. Quando um regente coral é chamado para trabalhar com uma orquestra, ele precisa levar em consideração alguns pontos: Um regente especializado em coro, quando trabalha com uma orquestra, deve procurar reger segundo os princípios a que os músicos estão acostumados. Não adianta fazer grandes e bonitas modelagens com as mãos, porque a maioria não o entenderá, enquanto outros nem o notarão, pois estarão ocupados em ler suas partes (ZANDER, 2003, p. 238) Todos esses gestos e certas modelagens realizadas pelo regente coral estão mais direcionadas para a condução da nossa voz, pois a tensão, a sonoridade, a emissão e o timbre são diferentes dos instrumentos de orquestra. Dessa forma, “no coro, o regente pode e deve moldar e modelar a música com seu grupo. Na orquestra, porém, deve ser só objetivo” (ZANDER, 2003, p. 238). E o contrário pode acontecer. Um regente de orquestra irá reger um grupo coral. A regência não terá as particularidades de movimentação que uma voz exige, proporcionando ao coro não cantar muito bem, não ter sonoridade boa e problemas durante a emissão sonora vocal (ZANDER, 2003, p. 238). Nessa direção, é necessário saber que cada grupo coral e orquestral são conjuntos diferentes e tem suas características particulares, necessitando levar em consideração esses pontos durante o trabalho. Sugestão de vídeo Sugestão de vídeo: para compreender melhor o assunto tratado nessa unidade, veja o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?v=58S-ZtuOW34 https://www.youtube.com/watch?v=58S-ZtuOW34 26 ResumoNesta Unidade conhecemos as diferenças e particularidades entre a regência coral e instrumental. Uma, o regente trabalha com o instrumento natural de cada pessoa, sua voz. Mas numa orquestra se tem distintos instrumentos musicais, com timbres e técnicas diferentes. Referências ZANDER, Oscar. Regência Coral. 5 ed. Porto Alegre: Movimento, 2003. 27 UNIDADE 4 – PRÁTICA DE REGÊNCIA Objetivos • Desenvolver os gestos regenciais com repertório coral; • Desenvolver os gestos regenciais com repertório orquestral. Esta Unidade contém sugestões de repertório para coro e orquestra. Será importante fazer o treinamento imaginando o posicionamento das vozes e a disposição da orquestra num palco, conforme apresentado na Unidade I. Isso para que você faça as indicações corretamente, direcionando-se para o grupo vocal ou instrumental. 28 Figura 23 – Música Serená Fonte: Drummond (2009) 29 Figura 24 – Música Quadrilha Brasileira Fonte: Lobos (1941) 30 Figura 25 – Música Trio em ré Trio em Ré Alceu Camargo (1974) 31 Fonte: http://www.sesc.com.br/portal/site/SescPartituras/home/inicio 32 Figura 26 – Vamos Cantar 33 Fonte: www.sesc.com.br/sescpartituras 34 Resumo Nesta última Unidade, vimos sugestões de quatro repertórios: dois para coro e dois para instrumentos. As três primeiras músicas foram simples e sem dinâmicas. Já a última, contém distintas dinâmicas ao longo dos compassos. Assim, faça os treinamentos fazendo corretamente cada gesto e mantendo a pulsação indicada no início de cada peça. Referências DRUMMOND, Elvira. Cantigas do nosso povo: para coro a duas vozes. Fortaleza: Miranda Publicações, 2009. LOBOS, Heitor Villa. Guia Prático: estudo folclórico musical. v. 1. Irmãos Vitale, 1941. Arranjos e peças para iniciantes. Disponível em: http://www.sesc.com.br/portal/ site/sescpartituras/resultado/resultado_busca?part=(%255Bcolecoes%255D%253D %2522arranjos%2520e%2520pe%25C3%25A7as%2520para%2520iniciantes%2522 )&instrumentos=. Acesso em: 01 ago. 2020. http://www.sesc.com.br/portal/site/sescpartituras/resultado/resultado_busca?part=(%255Bcolecoes%255D%253D%2522arranjos%2520e%2520pe%25C3%25A7as%2520para%2520iniciantes%2522)&instrumentos= http://www.sesc.com.br/portal/site/sescpartituras/resultado/resultado_busca?part=(%255Bcolecoes%255D%253D%2522arranjos%2520e%2520pe%25C3%25A7as%2520para%2520iniciantes%2522)&instrumentos= http://www.sesc.com.br/portal/site/sescpartituras/resultado/resultado_busca?part=(%255Bcolecoes%255D%253D%2522arranjos%2520e%2520pe%25C3%25A7as%2520para%2520iniciantes%2522)&instrumentos= http://www.sesc.com.br/portal/site/sescpartituras/resultado/resultado_busca?part=(%255Bcolecoes%255D%253D%2522arranjos%2520e%2520pe%25C3%25A7as%2520para%2520iniciantes%2522)&instrumentos=