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15/08/18 TRAUMA TORÁCICO 1. INTRODUÇÃO ❖ Epidemiologia: • Trauma é considera a maior causa de óbito em pacientes até a 4ª década de vida • Trauma torácico: estima-se que corresponde por 25% das mortes devido à politrauma nos EUA ❖ Morte em trauma: distribuição trimodal • 1º pico: segundos a minutos após o trauma – lesões muito graves. São evitadas pela prevenção do trauma. ▪ Ex: tiro na cabeça, ruptura de aorta, lesão cardíaca • 2º pico: horas depois – lesões não identificadas ou atraso no atendimento, agravando-se o quadro. São causas que poderiam ser evitadas com melhor acesso e capacitação das equipes ▪ Ex: hemotórax, hemorragia, lesão esplênica ou hepática • 3º pico: semanas depois. Pode ser evitado pela melhora das condições hospitalares ▪ Ex: infecções secundarias. ❖ Trauma torácico: situação grave, mas que na maioria das situações é de simples resolução • Menos de 10% dos traumatismos fechados de tórax e apenas 15-30% dos penetrantes exigem toracotomia para tratamento ❖ Atendimento sistematizado: ATLS ➔ “ABCDE” • Promoveu melhora nos resultados e prevenção de dano • Ação na “Golden Hour” 2. LESÕES TORÁCICAS QUE AMEAÇAM A VIDA A. OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA ❖ Necessita de rápido reconhecimento e tratamento. Avaliar: • Movimento do ar • Esforço respiratório • Presença de estridor, rouquidão • Exame de cavidade oral e nariz ❖ Tratamento: • Remoção de corpo estranho • Aspiração de secreções/sangue • Estabelecimento de via aérea definitiva (caso não tenha retomado após desobstrução) ▪ Intubação orotraqueal ▪ Acesso cirúrgico: cricotireoidostomia a. Punção: localização da cartilagem cricoide, em seguida introduz seringa com jelco 14 em 45° com a membrana cricotireoidea; ao aspirar o ar, retira-se a agulha e permanece o cateter b. Via aberta: incisão transversal na membrana cricotireoidea, divulsão com dedo ou com o cabo e passagem do tubo (<nº 7) Pneumologia | Mariana Gurgel 2 OBS: a crico, além de fornecer oxigênio de forma insatisfatória, possui duração máxima de 48 horas para evitar estenose/fibrose de cordas vocais e laringe ➔ deve substituir para traqueostomia B. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO ❖ Definição: pneumotórax não tratado, que acaba aumentando seu volume e gerando compressão das estruturas torácicas. • Ocorre por uma lesão pulmonar que possibilita o escape de ar para a cavidade pleural; pode ser provocado por fratura de costela, contusão torácica grave... ❖ Quadro clínico • Taquidispneia importante • Dor torácica • Sinais de choque (Hipotensão, taquicardia, sudorese, turgência jugular) • Exame físico: hipertimpanismo à percussão; ausência de MV à ausculta; desvio traqueal ❖ Tratamento: descompressão imediata • Toracocentese de alívio: realiza punção na linha axilar anterior, 5º espaço intercostal correspondente ▪ Edições antigas do ATLS: punção na Linha hemiclavicular, na altura do ângulo de Lui no lado correspondente • Drenagem torácica: tratamento definitivo (detalhado posteriormente) C. PNEUMOTÓRAX ABERTO ❖ Ferida torácica aspirativa grave caracterizada pela perda de parte da parede torácica permitindo uma ampla comunicação do espaço pleural com o meio externo • Se a abertura for superior a 2/3 do diâmetro da traqueia, as trocas gasosas são impossibilitadas → insuficiência respiratória e apneia ❖ Tratamento • Oclusão do ponto • Curativo de 3 pontos: funciona como uma válvula que permite a saída do ar na expiração, mas não permite a entrada na inspiração • IOT (pressão positiva): se estiver em insuficiência mesmo com as medidas já tomadas • Fechamento da ferida + drenagem torácica: tratamento definitivo D. LACERAÇÃO TRAQUEOBRÔNQUICA ❖ Definição: ruptura da traqueia ou brônquio principal Pneumologia | Mariana Gurgel 3 • Geralmente em trauma penetrante, provocando escape do ar para outros locais do corpo ❖ Quadro clínico: • Hemoptise • Enfisema subcutâneo • Pneumótorax refratários – fistula aérea / pneumomediastino • Dispneia ❖ Exames: são confirmatórios • Tc: avalia os sinais • Broncoscopia: avalia a laceração ❖ Tratamento: Cirurgia para correção da lesão E. HEMOTÓRAX MACIÇO ❖ Critérios: • Saída imediata de >1,5 L à drenagem • Perda de 1/3 da volemia à drenagem do hemitórax • Sangramento superior a 200 ml/h durante duas ou mais horas • Sangramento contínuo pelo dreno exigindo transfusões repetidas sem que haja outro foco de sangramento ❖ Tratamento: Laparotomia imediata • OBS: se não for hemotórax maciço, a drenagem de tórax poderá resolver F. TAMPONAMENTO CARDÍACO ❖ O acúmulo de liquido no pericárdio (tamponamento) gera dificuldade para batimento cardíaco, gerando quadro grave/choque • Mecanismo: Sangramento acumula no espaço pericárdico, comprimindo o miocárdio, diminuindo a contratilidade, gera a deficiência do ventrículo esquerdo, simulando uma ICC esquerda, provocando o choque hipovolêmico. ❖ Tríade de Beck: • Turgência jugular • Abafamento de bulhas • Hipotensão arterial ❖ Exames radiológicos • Ecocardiograma: exame bom e acessível ▪ OBS: FAST – acesso foca através de ultrassom no trauma • Raio x: baixa sensibilidade; não é útil em casos agudos • TC: permite boa visualização; útil em casos já estáveis ❖ Tratamento: • Pericardiocentese ▪ No paciente deitado, punciona com a seringa no ângulo de Sharpy em 45° com a pele e em direção ao mamilo esquerdo ▪ OBS: procedimento mais seguro se guiado pelo ecocardiograma • Drenagem pericárdica – janela pericárdica ou toracotomia OBS: Área perigosa de Ziedler ➔ trauma nessa área levanta suspeita de lesão grave com necessidade cirúrgica! Quadrilátero formado pelas linhas que passam por: Ângulo de Louis x Rebordo costal Linha axilar A x Linha paraesternal D G. LESÃO DE GRANDES VASOS ❖ Pode ser por ferimento na área de Ziedler ou desaceleração brusca provocando cisalhamento ❖ É uma causa frequente de morte súbita após o trauma e, quando o paciente sobrevive ao evento inicial, a recuperação passa a ser possível desde que a ruptura seja identificada e tratada precocemente ❖ Sinais e sintoma são frequentemente ausentes • Ex: tamponamento pela camada adventícia (dissecção) ❖ Investigar o mecanismo do trauma! ❖ Exames: • Raio X: alargamento do mediastino (principal sinal), desvio da traqueia (geralmente para a direita), apagamento da janela aortopulmonar, fratura de 1º e 2º arcos costais ou do esterno OBS: Mecanismo do trauma + Raio X = suspeita • Arteriografia: diagnóstico • angioTC: diagnóstico ❖ Tratamento: cirurgia vascular, endoprótese... OBS: TORACOTOMIA DE REANIMAÇÃO ❖ Toracotomia realizada na sala de emergência em pacientes vitima de lesão torácica penetrante em AESP (atividade elétrica sem pulso) ❖ Manobras terapêuticas: • Massagem cardíaca aberta • Drenagem do pericárdio • Controle direto da hemorragia intratorácica exsanguinante ▪ Feridas cardíacas ▪ Feridas no hilo pulmonar ▪ Feridas nos grandes vasos • Clampeamento da aorta descendente para reduzir perdas e aumentar perfusão cerebral e cardíaca ❖ Técnica operatória: • Antissepsia rápida • Acesso: toracotomia antero-lateral esquerda é a incisão padrão – borda do esterno até a linha axilar média (4º EI). OBS: não pode demorar mais que 1 a 2 min • Afastador de finoqueto • Toracotomia contralateral e esternotomia horizontal se necessário 3. LESÕES TORÁCICAS SEM AMEAÇA IMEDIATA À VIDA Devem ser suspeitadas, investigadas e tratadas em exame secundário; são potencialmente letais. A. PNEUMOTÓRAX ❖ Acúmulo do ar no espaço pleural, porém não gera efeitos hipertensivos ❖ Quadro clínico: (pode ser assintomático) • Dispneia de intensidade variável • Dor torácica • Exame físico: hipertimpanismo e diminuição/ausência de MV ❖ Exames radiológicos • Rx: expandido e hipertransparente • TC: avaliar traumas associadosPneumologia | Mariana Gurgel 5 ❖ Tratamento: drenagem torácica fechada • Material: Luvas estéreis; gaze; solução anti-séptica; campos e aventais estéreis; lidocaína a 2%; agulhas calibres 10 x 4,5 mm, 30 x 8 mm e 30 x 10 mm; seringas de 10 e 20 ml; Dreno Tubular; Frasco de Drenagem; Caixa de Drenagem (bisturi, tesoura, pinças); esparadrapo. • Paciente em decúbito dorsal • Incisão no 5º espaço intercostal, linha axilar anterior/média; próximo da borda superior • Exploração digital • Inserir o dreno tubular multiperfurado (direção posterior e superior), realizar ponto de fixação e inserir o esparadrapo OBS: variações – válvula de Heimlich e cateter Pig-Tail. B. TÓRAX INSTÁVEL ❖ Também chamado tórax flácido ou retalho costal móvel ❖ Definição: ocorre com pelo menos 2 fraturas na mesma costela e em 2 costelas adjacentes, alterando a dinâmica respiratória ❖ Quadro clínico: • Dor torácica, graus variáveis de insuficiência respiratória • Ao exame físico: movimento paradoxal, pode haver enfisema subcutâneo ❖ Exames radiológicos: • Rx: fratura de costelas • TC: pode apontar lesões associadas ❖ Tratamento: • Analgesia/auxilio ventilatório • Fixação cirúrgica c próteses – casos selecionados C. HEMOTÓRAX: ❖ Acúmulo de sangue que não se engloba nos critérios de maciço (<1,5 L) ❖ Sangue proveniente da parede torácica ou pulmão ❖ Quadro clínico: • Sinais de derrame pleural - Murmúrio vesicular diminuído ou abolido; dispneia • Sinais de hipovolemia – palidez, taquicardia... • OBS: se muito pequeno pode ser assintomático ❖ Exames radiológicos: • Raio X: opacicidade em base do tórax • TC: lesões adicionais ❖ Tratamento: • drenagem torácica fechada ▪ retirada do dreno: quando <200ml e aspecto do liquido (claro), ausência de escape de ar; ”limpeza” no Rx • videotoracoscopia ou toracotomia: se necessária a retirada de coágulos acumulados D. CONTUSÃO PULMONAR ❖ Trauma fechado no pulmão que sangra e lesiona capilares, formando hematoma/contusão e se acumulando nos alvéolos pulmonares Pneumologia | Mariana Gurgel 6 • Funciona de maneira semelhante à pneumonia ou edema pulmonar – efeito do liquido nos alvéolos prejudica as trocas gasosas; apresentação radiológica semelhante ❖ Quadro clinico: • Dispneia progressiva • Insuficiência respiratória • Hipoxemia ❖ Exames radiológicos: • Rx: infiltrado alveolar • TC ❖ Tratamento • Suporte ventilatório • Analgesia OBS: O organismo absorve o hematoma E. CONTUSÃO CARDÍACA ❖ Trauma de alta energia na área do coração – contusão do miocárdio, ruptura de câmaras, dissecção e/ou trombose das coronárias, laceração valvar ❖ Quadro clínico: • Dor torácica • Hipotensão/tamponamento • Arritmias ❖ Diagnóstico: inspeção direta do miocárdio + mecanismo do trauma ❖ Exames: enzimas cardíacas, ECG, ecocardiograma (a depender da suspeita) ❖ Tratamento: especifico para cada situação F. HERNIA DIAFRAGMÁTICA ❖ Trauma no diafragma que gera uma abertura, permitindo herniação do conteúdo abdominal para o tórax. • Geralmente ocorre em trauma fechado (contusão abdominal), mais comum à esquerda • Pode ocorrer em ferimentos penetrantes: transfixar o diafragma e formar um orifício ❖ Diagnóstico: dispneia de gruas variáveis e RHA no tórax ❖ Exames: • Raio X: ▪ confunde-se com pneumotórax septado, hemotórax subpulmonar; a passagem de SNG pode esclarecer a dúvida ▪ oferecer contraste oral ▪ observar saída de liquido pelo dreno • TC: pode permitir melhor visualização ❖ Tratamento: correção da lesão diafragmática • Fase aguda: laparotomia abdominal • Fase crônica: toracotomia
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