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Terapia tradicional chinesa Apresentação As terapias tradicionais chinesas (TTC) são um conjunto de técnicas terapêuticas milenares que se baseiam nos conceitos da relação Yin-Yang, da circulação de energia entre os meridianos do corpo e da teoria dos cinco elementos para compreender os processos de adoecimento e realizar intervenções. Dentre as terapias, a mais difundida na cultura Ocidental é a acupuntura. Porém, você verá que as TTC vão muito além e englobam técnicas como moxabustão, tuiná, fitoterapia chinesa e outras. Nesta Unidade de Aprendizagem, portanto, você conhecerá o histórico das terapias tradicionais chinesas, as suas bases científicas e técnicas e os benefícios que podem trazer aos pacientes. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a historicidade e a atemporalidade das terapias orientais.• Explicar técnicas pertencentes à terapia tradicional chinesa.• Relacionar terapias específicas às necessidades terapêuticas do paciente.• Desafio O lian gong é uma dentre as diversas práticas das terapias tradicionais chinesas e sua origem deriva das artes marciais e práticas de respiração. Na atenção primária à saúde, em especial no SUS, é uma das práticas complementares mais difundidas. Consiste em exercícios corporais, divididos em 18 terapias, cujo foco é obter saúde física e mental; como seus benefícios, ressalta-se a melhora dos distúrbios cardiovasculares e dores crônicas em joelho, pescoço, e ombros, além da redução da ansiedade. Você é integrante da equipe de saúde da família de um centro de saúde do SUS. A unidade em que você trabalha tem um grupo de lian gong que funciona três vezes na semana, pela manhã. Você atendeu a senhora Francisca, de 67 anos, que tem queixas de dores articulares crônicas e ansiedade. Francisca já é adepta dos tratamentos convencionais, mas sem melhora completa das queixas referidas. Você ofereceu a ela o grupo de lian gong como terapia complementar, porém, mesmo tendo disponibilidade de horário, a senhora Francisca não está convencida dos benefícios da prática. Quais argumentos você utilizaria para conseguir a adesão de dona Francisca à prática? Infográfico As terapias tradicionais chinesas são técnicas milenares, criadas cerca de 5.000 anos atrás. Durante esse tempo, passaram por períodos de evolução, estagnação e proibição da sua prática. Com isso, várias técnicas diferentes foram desenvolvidas, aprimoradas e, posteriormente, trazidas e incorporadas ao cotidiano de cuidado ocidental. Neste Infográfico, você verá um resumo das principais TTC. Conteúdo do livro As terapias tradicionais chinesas, também conhecidas como medicina tradicional chinesa, consistem em um conjunto de técnicas milenares cujo objetivo é a promoção e a restauração da saúde dos indivíduos. Para a tradição chinesa, a ausência de saúde é muito menos uma desordem orgânica e muito mais um desequilíbrio energético. Acreditam em energias como o Qi e o Yin-Yang, que fluem nos organismos e, se desequilibradas, dão origem aos processos de adoecimento. O enfoque das terapias, portanto, é reestabelecer o equilíbrio energético e, assim, aliviar sintomas e manifestações de adoecimento. A introdução das terapias tradicionais chinesas nas práticas de saúde ocidentais aumentou o número de possibilidades de tratamento, tornando maior a autonomia e o protagonismo dos pacientes no processo de cuidado em saúde. No capítulo Terapia tradicional chinesa, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você verá as origens históricas das terapias tradicionais chinesas, o início da sua interação com o Ocidente e seus fundamentos, tipos de terapias e benefícios. Boa leitura. PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a historicidade e a atemporalidade das terapias orientais. > Explicar técnicas pertencentes à terapia tradicional chinesa. > Relacionar terapias específicas às necessidades terapêuticas do paciente. Introdução Terapias tradicionais chinesas (TTC) abrangem técnicas terapêuticas criadas na China há quase cinco milênios. Desde sua criação, passaram por períodos de grande valorização e desenvolvimento, e até mesmo por momentos de estag- nação e questionamento do seu valor. Durante quase toda sua história, foram mantidas exclusivamente em território chinês. Suas origens estão ligadas à filosofia chinesa e à forma como ela encara o corpo humano e sua definição. Para as TTC, menos importa a anatomia e mais a forma como a energia vital circula no organismo e como esse interage com o ambiente. Suas técnicas visam equilibrar energeticamente o organismo do indivíduo tratado e, assim, minimizar sintomas e manifestações. Neste capítulo, você vai conhecer a origem histórica das TTC. Também vai entender quais são as suas principais técnicas e como se deu sua inserção no Ocidente. Por fim, verá aplicações dessas terapias e seus benefícios para os pacientes. Terapia tradicional chinesa Tainá Nazareth da Silva Castro Origens e sua inserção na sociedade contemporânea As relações saúde–doença da forma como entendidas nas práticas de saúde ocidentais são apenas uma das formas de se enxergar o funcionamento do corpo humano e seus processos de adoecimento. Estudando as origens históricas das práticas de cuidado em saúde, percebemos as mais diversas formas de pensamento. Porém, com a globalização e fusão de saberes, pas- saram a integrar a medicina ocidental como conhecida atualmente. A Grécia, por exemplo, que é tida como o berço das práticas de saúde ocidentais, praticava no período anterior ao nascimento de Hipócrates (460 a.C.—377 a.C.) — conhecido como o pai da medicina moderna — ritos de cura baseados no poder de deuses e semideuses presentes em sua cultura. Na Itália, em contrapartida ao movimento de entender a saúde de forma racional, os processos de adoecimento eram tratados com base em saberes populares, religiosos e folclóricos. Ao avaliar as origens das terapias características de cada região e povo, é nítida a semelhança nas suas raízes mística, religiosa e popular (FRÓIO, 2006). No que diz respeito às TTC, é perceptível que se mantiveram como técnicas mais próximas do tradicional e com menor influência do saber ocidental. Dentre as terapias consideradas naturais e não medicamentosas, são as que possuem, até hoje, maior divulgação e cada vez mais respeito dentro das prá- ticas de saúde. Suas origens são muito antigas e, de acordo com os registros históricos, as técnicas sofreram pouca ou nenhuma influência das práticas ocidentais até meados do século XIX (CONTATORE; TESSER; BARROS, 2018). A história das TTC mescla-se à história política da própria China, atra- vessando períodos de menor expressão e até mesmo de proibição de suas práticas. Os governos chineses são conhecidos como dinastias, ou seja, momentos de dominação política exercida por uma família ou grupo. Cada dinastia trouxe uma forma diferente de entender as práticas terapêuticas tra- dicionais e a influência das práticas ocidentais sobre elas. O ano de 2838 a.c., durante o Reino Xia, é relatado como o de criação das TTC por Cheng Nong (FRÓIO, 2006). Passados milênios, até o ano de 1644, durante a Dinastia Manchú, as TTC se desenvolveram e incorporaram novas práticas e conhecimentos cada vez mais amplos sobre as ervas terapêuticas. A partir disso, as práticas de saúde ocidentais passaram a ser inseridas na China mais amplamente, levando a uma estagnação das terapias tradicionais em detrimento da apropriação Terapia tradicional chinesa2 dos saberes ocidentais. O exercício das terapias tradicionais chegou a ser proibido no ano de 1822, mas, por ser a China um país de grande extensão territorial, elas continuaram a ser praticadas, principalmente em áreas rurais e comunidades afastadas dos grandes centros. A partir daí, porém, as terapias tradicionais passaram a ser cada vez menos prestigiadas e até mesmovistas como ineficazes e enganadoras. Em 1929, durante a Era Guomindang, o governo fez uma tentativa de banir as terapias tradicionais, o que não obteve sucesso, devido aos protestos da população. Finalmente, em 1949, foi instituída a República Popular da China e, com ela, as TTC foram enfim reconhecidas e formalizadas. Os profissionais tradicionais foram estimulados a intercambiar saberes com o Ocidente, tornando as duas linhas de pensamento integradas e complementares (FRÓIO, 2016). A integração entre as terapias tradicionais e as práticas ocidentais levou a um rigor científico cada vez mais expressivo na documentação das antigas práticas chinesas. Em 1955, por exemplo, a acupuntura, a moxabustão e a fitoterapia chinesa foram reconhecidas como técnicas independentes e pertencentes ao universo amplo das TTC. O avanço da sistematização das prá- ticas tradicionais e seu estudo à luz das abordagens científicas da sociedade contemporânea trouxe, cada vez mais, uma aproximação dos profissionais de saúde ocidentais e gerou mais visibilidade e maior aplicação das práticas fora do território chinês. As terapias tradicionais atingiram, portanto, o patamar de ciência, sendo entendidas como uma forma diferente e complementar de enxergar o processo saúde–doença. Assim, atualmente, temos as TTC convivendo com as práticas de saúde ocidentais de forma harmônica. Ao mesmo tempo, os profissionais de saúde têm a liberdade de utilizar as duas abordagens de forma paralela. No Brasil, a inserção das TTC converge com o movimento da contracultura e da valorização de um novo estilo de vida em meados dos anos 1960 (CINTRA; PEREIRA, 2012). Já na década de 1980, com a mudança no modelo de atenção à saúde no país e o advento do Sistema Único de Saúde (SUS), as terapias tradicionais passaram a ser legitimadas e reconhecidas. Tal legitimação fez parte de um movimento maior de alteração na forma como se fazia saúde no país, dando espaço a um conceito ampliado, que entende saúde como algo muito além da ausência de doença. Porém, foi apenas por meio da Portaria Nº 971, de 3 de maio de 2006, que o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) e reconheceu, no âmbito do SUS, a oferta de terapias tradicionais. A portaria reconhece, dentre as TTC, a acupuntura e: Terapia tradicional chinesa 3 [...] práticas corporais (lian gong, chi gong, tui-na, tai chi chuan); práticas mentais (meditação); orientação alimentar; e o uso de plantas medicinais (fitoterapia tra- dicional chinesa), relacionadas à prevenção de agravos e de doenças, a promoção e à recuperação da saúde (BRASIL, 2006, documento on-line). As terapias tradicionais, portanto, estão disponíveis no SUS e como política pública de saúde, extrapolando a oferta por serviços privados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece as práticas tradicionais e sua importância. Em 2002, publicou um documento intitulado “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002–2005”, no qual são listadas as principais práticas reconhecidas. No documento, também são reforçadas as estratégias para valorização das técnicas tradicionais no sentido amplo, respeitando a pluralidade de saberes e práticas ao redor do mundo. As terapias tradicionais chinesas recebem destaque no documento pois possuem o reconhecimento das práticas manuais, de acupuntura, espirituais e corporais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002). Fundamentos e técnicas das TTC Para compreender as TTC, é necessário conhecer seus fundamentos. Dife- rentemente das práticas de saúde ocidentais, que se baseiam no estudo das patologias, as TTC possuem bases filosóficas e não tão ligadas à fisiologia organicista. Para os terapeutas tradicionais, o corpo humano é um grande fluxo de energia que flui em canais denominados meridianos. A saúde individual, por sua vez, está relacionada ao equilíbrio entre a dicotomia yin–yang, duas forças opostas, a dualidade presente no organismo e que precisa estar balanceada na relação dos indivíduos com a natureza. Os desarranjos nos organismos, ou seja, as manifestações sintomáticas, são na verdade desequilíbrios no fluxo dessas energias opostas. De acordo com Cintra e Pereira (2012), o yang é o aspecto da energia que representa a produção de calor, ou seja, o aumento de atividades e expansão; o yin, por sua vez, é a energia que produz o frio, o repouso, a escuridão. O objetivo das TTC, portanto, é equilibrar o fluxo das energias yin–yang e as relações do indivíduo com os cinco elementos da natureza para reestabelecer o equilíbrio orgânico. Mas, então, como são feitos os diagnósticos e indicações terapêuticas de acordo com as TTC? Na tradição chinesa, compreende-se por doença o desequilíbrio de energia que se manifesta como sinais e sintomas das síndromes energéticas. Terapia tradicional chinesa4 Os exames físicos para diagnóstico baseiam-se na avaliação da língua, unhas e dedos, cabelo e palpação do pulso. Além disso, são investigados os padrões de apetite, paladar, eliminações fisiológicas e até mesmo estado emocional, atividade sexual, hábitos alimentares e histórico sociocultural (CINTRA; PEREIRA, 2012). A partir da anamnese realizada e dos desconfortos relatados, os desarran- jos energéticos são mapeados com o elemento da natureza relacionado. Como exemplo, pode-se citar o metal, um dos cinco elementos da natureza, e que está diretamente relacionado, de acordo com a tradição chinesa, à pele, aos pulmões e aos intestinos. No Quadro 1, você pode ver um resumo dos cinco elementos e a quais órgãos, vísceras e sentimentos eles estão interligados. Quadro 1. As relações entre os cinco elementos da natureza e as manifes- tações orgânicas Madeira Fogo Terra Metal Água Sabor Ácido Amargo Doce Picante Salgado Cor Verde Vermelho Amarelo Branco Preto Energia celeste Vento Calor Umidade Secura Frio Evolução Nascimento Crescimento Transformação Declínio Estagnação/ morte Estações Primavera Verão Fim de verão Outono Inverno Órgãos Fígado Coração Baço Pulmão Rins Vísceras Vesícula biliar Intestino delgado Estômago Intestino grosso Bexiga Sentidos Olhos Língua Boca Nariz Orelhas Camada do corpo Tendões Vasos Músculos (carne) Pele e pelo Osso Sentimentos Raiva Alegria Reflexão Tristeza Medo Fonte: Adaptado de Souza ([201-). O objetivo de qualquer uma das TTC é reestabelecer o equilíbrio energético no organismo do indivíduo atendido. Para tal, é necessário conhecer, além dos Terapia tradicional chinesa 5 elementos e suas relações com o yin–yang, o fluxo existente no organismo e seus meridianos relacionados a cada manifestação de sintomas. Na Figura 1, são ilustrados os cinco elementos e seus movimentos. Figura 1. Os cinco movimentos energéticos. Fonte: Tabela Prática dos 5 Elementos (2011, documento on-line). Na Figura 2, estão ilustrados os meridianos, ou canais de energia do corpo humano. Tais canais são os condutores do fluxo yin–yang no organismo do indivíduo. Ao longo dos meridianos, existem pontos conhecidos como pon- tos de acupuntura. Esses pontos e sua estimulação consistem em uma das principais técnicas dentro das TTC. Terapia tradicional chinesa6 Figura 2. Meridianos, ou canais de energia. Fonte: Meridianos ([201-]). Porém, as TTC vão muito além da estimulação dos pontos de acu- puntura. Suas técnicas são divididas em corporais (lian gong e tai chi chuan), mentais (meditação, dietoterapia e fitoterapia chinesa), terapias manuais (tui-na) e terapias espirituais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002). Nos próximos tópicos, examinaremos mais a fundo as principais TTC aplicadas no Brasil. Lian gong O lian gong (pronúncia correta lian kun) é uma das terapias corporais dentre as TTC. Sua criação é mais recente, datando do ano de 1974, e é fruto da interseção entre a tradição chinesa e as práticas ocidentais modernas. Seu criador foi Zhuang Yuan Ming, médico ortopedista. Segundo Cordeiro (2015, p. 22), a técnicaconsiste em uma série de exercícios sistematizados a partir da junção entre “[...] movimentos adaptados das artes marciais, do dao-in Terapia tradicional chinesa 7 (ginástica terapêutica chinesa), do tui-na (massagem terapêutica), do tu na gong (técnica de respiração)” e a prática clínica do ortopedista. No Brasil, o lian gong foi inserido em 1987 e regulamentado em 2006 como prática integrativa e complementar no SUS. A técnica é dividida em três partes com 18 exercícios, resultantes de com- binações feitas com os 54 exercícios descritos. Todos os exercícios utilizam os princípios de uma movimentação corporal com ritmo específico, com objetivo de promover alongamento e força nas articulações. Envolve movimentos contínuos, porém suaves. Tai chi chuan Foi originalmente criado como uma arte marcial. Após a percepção dos seus benefícios para o corpo, começou a ser adotado como atividade física. Se assemelha ao lian gong por seus exercícios serem de execução lenta. Po- rém, são muito mais vigorosos e, portanto, o tai chi chuan é considerada uma atividade física aeróbica de moderada intensidade. Baseia-se em uma combinação de exercícios físicos, técnicas de respiração e relaxamento e é, por isso, considerada uma das TTC (KASAI et al., 2010). Tui-na Essa é a técnica de massagem da TTC, que trabalha o corpo junto com a energia. Suas bases são o trabalho dos fluxos de energia vital (qi) ao longo dos meridianos energéticos. Utiliza o toque com variações de intensidade de moderado a vigoroso, podendo ter como instrumentos as mãos, cotovelos, antebraços e joelhos. A massagem tui-na é praticada no exterior do corpo, produzindo efeitos no seu interior, contribuindo para a desobstrução dos condutos, promovendo a circulação da energia e do sangue, que regula as funções dos órgãos internos e lubrifica os tendões e ossos, permite prevenir e tratar algumas patologias e melhorar o bem- -estar físico e psicológico da pessoa (IHA et al., 2019). Moxabustão e ventosaterapia A moxabustão é uma das formas de terapia por meio dos pontos de acupun- tura. Utiliza a queima de moxas, ou pequenos buquês, de artemísia e trata por meio do calor terapêutico. Pode ser utilizada isolada ou como técnica auxiliar da acupuntura. Terapia tradicional chinesa8 A ventosaterapia é outra forma de estimulação dos pontos de acupuntura. Sua técnica utiliza ventosas, ou seja, pequenas cúpulas de acrílico ou vidro que produzem sucção terapêutica e uma estimulação vigorosa dos pontos desejados. Em geral, é utilizada isolada ou acompanhada de outras técnicas de massoterapia (WEGNER, 2013). Fitoterapia chinesa A fitoterapia é a ciência que estuda terapias com ervas e plantas, seus princípios ativos e benefícios. Faz uso de várias técnicas para extração das substâncias, realizando combinações entre elas para chegar às inú- meras fórmulas terapêuticas. A técnica da fitoterapia não é exclusiva da tradição chinesa, mas faze parte de várias práticas tradicionais de cuidado em saúde. Atualmente, vários medicamentos fitoterápicos já possuem eficácia cienti- ficamente comprovada. É importante ressaltar que fitoterápicos também são medicamentos e, desse modo, não estão isentos de riscos. Por isso, devem ser utilizados sob a orientação de profissional capacitado. Benefícios das TTC Agora que você já conhece as principais TTC, deve estar se perguntando: como tais técnicas serão aplicáveis ao meu cotidiano como professional de saúde? Vamos conhecer, portanto, os benefícios de cada uma das técnicas para a saúde e a prevenção de doenças e como usá-las mesmo sem ser um especialista. Ao contrário do que muitos podem pensar, hoje já existem evidências científicas e estudos clínicos que comprovam os benefícios das terapias tra- dicionais para a saúde dos pacientes. A acupuntura e suas variantes, por sua popularidade mundial, são aquelas cujos benefícios potenciais aos pacientes são mais conhecidos e estudados. Isso, porém, não quer dizer que as outras terapias não tragam benefícios e contribuam para a promoção da saúde e prevenção de doenças à população em geral. Dentre as técnicas terapêuticas já estudadas neste capítulo, daremos ênfase a duas delas: lian gong e tui-na. A escolha dessas técnicas para enfatizar os benefícios se dá devido ao fato de sua execução não requerer equipamentos ou técnicas mais avançadas. Além disso, podem ser executadas em pessoas de diversas faixas etárias e praticamente sem restrições. Terapia tradicional chinesa 9 Lian gong — aplicações e benefícios Como já examinamos o conceito técnico de lian gong, veremos agora quais benefícios a terapia pode trazer para quem a pratica. Cada uma das três partes do lian gong é focada em trabalhar um conjunto de músculos e articulações. Seus exercícios são leves, ritmados, suaves e contínuos. O lian gong anterior é a primeira parte (Figura 3), com 18 exercícios focados em trabalhar “[...] dores no pescoço, ombros, costas, região lombar, glúteos e membros inferiores” (CORDEIRO, 2015, p. 23). Figura 3. Ilustração da primeira parte de exercícios do lian gong. Fonte: Mendes (2013, documento on-line). Terapia tradicional chinesa10 A segunda parte, chamada de lian gong posterior (Figura 4), é focada na prevenção de dores articulares, tendinites e disfunções orgânicas internas. Figura 4. Ilustração da segunda parte de exercícios do lian gong. Fonte: Mendes (2013, documento on-line). A terceira parte, por sua vez, é chamada de lian gong continuação (Figura 5). Seus exercícios são focados nos benefícios para o sistema respiratório e cardiovascular. Terapia tradicional chinesa 11 Figura 1. Ilustração dos exercícios da terceira parte do lian gong. Fonte: Mendes (2013, documento on-line). Juntas, as três partes trazem benefícios para todo o corpo. Por envolver exercícios de baixa intensidade e impacto e por não exigir vestimentas ou equipamentos elaborados, o lian gong configura-se uma atividade terapêutica com nenhuma ou quase nenhuma contraindicação. Tui-na — aplicações e benefícios Na seção anterior já conhecemos as bases teóricas do tui-na, a massagem terapêutica integrante da tradição chinesa. Seus movimentos vigorosos e aplicados em pontos-chave dos meridianos trazem benefícios para o corpo Terapia tradicional chinesa12 físico e energético. Mediante a estimulação dos pontos, obtêm-se resultados como a diminuição de dores crônicas — a exemplo da fibromialgia — e melhoria da insônia e da ansiedade. Como você pode ver, os benefícios das TTC são amplos e muitas vezes comprovados com rigor científico. Sendo assim, é importante conhecer as terapias, onde são ofertadas e quais pacientes se beneficiariam delas, para que, durante sua prática professional, você possa diversificar as opções terapêuticas e aumentar a autonomia dos pacientes na escolha de alterna- tivas. Hoje, com a intensa democratização de acesso a informações, cada vez mais os pacientes procuram por opções complementares de tratamento que tenham como enfoque a saúde e o bem-estar em seus termos globais. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS, 2006. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2006/prt0971_03_05_2006.html. Acesso em: 9 dez. 2020. CINTRA, M. E.; PEREIRA, P. P. Percepções de Corpo Identificadas entre Pacientes e Profissionais de Medicina Tradicional Chinesa do Centro de Saúde Escola do Butantã. Saúde Soc., v. 21, n. 1, p. 193-205, 2012. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/ sausoc/2012.v21n1/193-205. Acesso em: 9 dez. 2020. CONTATORE, O. A.; TESSER, C. D.; BARROS, N. F. Medicina chinesa/ acupuntura: apon- tamentos históricos sobre a colonização de um saber. 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Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/1837/1/liliana%20 ramalho%20froio.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020. IHA, M. A. H. et al. Efeitos da Massagem Tuiná da Dor e Qualidade de Vida em Pacientes com Fibromialgia. In: EPCC - ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA, 11., 2019. Anais [..]. Maringá, PR: UniCesumar, 2019. Disponível em: http://rdu.unicesumar. edu.br/handle/123456789/3513. Acesso em: 9 dez. 2020. KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento cognitivo leve. einstein., v. 8, n. 1, pt. 1, p. 40-45, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/eins/v8n1/pt_1679-4508-eins-8-1-0040.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020. Terapia tradicional chinesa 13 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002–2005. Genebra: OMS, 2002. 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Terapia tradicional chinesa14 Dica do professor Apesar de terem sido criadas há quase cinco mil anos, a inserção das terapias tradicionais no Ocidente é muito mais recente que isso. Apenas em meados do século XIX, as técnicas começaram a ser aplicadas por profissionais de saúde ocidentais. Porém, sua sistematização e entendimento como ciência data de ainda mais tarde, na primeira metade do século XX. E no Brasil? Como se deu essa inserção? Qual técnica chegou primeiro no país e como é a aceitação das mesmas pelos profissionais de saúde e pacientes? Na Dica do Professor, você verá um panorama da inserção das TTC no Brasil e seu alcance no país nos dias atuais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/c104c703a2d4a98158f2aef993e3c6fb Exercícios 1) As terapias tradicionais chinesas surgiram cerca de 5000 anos atrás. Apesar do que se pensa, sua aproximação com o Ocidente demorou vários séculos para se solidificar. As terapias tradicionais chinesas precisaram ser validadas pelas escolas de saúde ocidental da China para que, assim, fossem validadas em todo o Ocidente. A entrada das terapias tradicionais chinesas nas práticas de saúde no Brasil se deu: A) no início dos anos 1900. B) no período pós-Segunda Guerra Mundial. C) na década de 1960, com o movimento da contracultura. D) na segunda metade do século XIX. E) na década de 1980, com a regulamentação do SUS. 2) As terapias tradicionais chinesas se baseiam nos conceitos de fluxos de energia e equilíbrio entre indivíduos e os cinco elementos da natureza. Quanto à energia, é central a ideia do Yin-Yang. Quanto ao Yin-Yang, é correto afirmar: A) Representa a dualidade energética que flui nos meridianos dos organismos. B) O Yin é a energia que representa o animal, o repouso e a escuridão. C) O Yang é a energia que representa o vegetal, o calor e a expansão. D) O desequilíbrio entre as duas energias nada traz de prejuízo ao organismo. E) O Yin é a energia que representa o mal, enquanto o Yang representa o bem. 3) O Ministério da Saúde, pela portaria no 971, de 03 de maio de 2006, instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Nela, é reforçada a importância das terapias tradicionais e as ações necessárias para aumentar o acesso da população brasileira às mesmas. As alternativas a seguir são a respeito do que a portaria traz sobre as terapias tradicionais chinesas; assinale aquela que está correta. A) Reconhece a acupuntura como prática recomendada pela OMS e que deve ser praticada apenas por médicos. B) Não reconhece as práticas corporais (lian gong, chi gong, tui-na, tai-chi-chuan) como integrantes das terapias tradicionais chinesas. C) Não cita a fitoterapia tradicional chinesa como terapia integrante das terapias tradicionais chinesas. D) Reconhece a eficácia da acupuntura em patologias como odontalgias pós-operatórias, náuseas e vômitos pós-quimioterapia. E) Não cita a dietoterapia chinesa (orientações alimentares) como terapia reconhecida. 4) A massagem é uma das técnicas terapêuticas mais populares, seja como forma de relaxamento, tratamento ou, até mesmo, em questões estéticas. O tuiná é a técnica de massagem das terapias tradicionais chinesas. Sobre o tuiná, assinale a alternativa correta: A) O tuiná é uma massagem que consiste em um conjunto de técnicas manipulativas suaves e leves, fazendo uso apenas das mãos para sua execução. Seus movimentos são praticados no exterior do corpo e produzem efeitos e benefícios também em seu interior. B) O tuiná é uma massagem que consiste em um conjunto de técnicas manipulativas vigorosas, fazendo uso apenas das mãos para sua execução. Seus movimentos são praticados no exterior do corpo e produzem efeitos e benefícios também em seu interior. C) O tuiná é uma massagem que consiste em um conjunto de técnicas manipulativas vigorosas, podendo fazer uso das mãos, antebraços, joelhos, cotovelos e punhos para sua execução. Seus benefícios se restringem ao exterior do corpo, onde os movimentos são praticados. D) O tuiná é uma massagem que consiste em um conjunto de técnicas manipulativas vigorosas, podendo fazer uso das mãos, antebraços, joelhos, cotovelos e punhos para sua execução. Seus movimentos são praticados no exterior do corpo e produzem benefícios também em seu interior. E) O tuiná é um conjunto detécnicas manipulativas suaves e leves, podendo fazer uso das mãos, antebraços, joelhos, cotovelos e punhos para sua execução. Seus movimentos são praticados no exterior do corpo e produzem benefícios também em seu interior. 5) Dentre as terapias tradicionais chinesas, existem aquelas classificadas como terapias corporais; o lian gong é uma delas. Assinale a alternativa correta a respeito do lian gong. A) O lian gong foi criado por um médico ortopedista e se baseia, entre outras técnicas, nas posturas de yoga para a criação dos seus movimentos. B) O lian gong consiste em 8 terapias formadas a partir da combinação dos 54 movimentos que compõem a técnica. C) Os movimentos do lian gong foram criados a partir da combinação entre movimentos das artes maciais, do dao in, do tui-na e do tu na gong. D) Ao contrário das outras terapias tradicionais, que têm origem milenar, o lian gong foi criado no ano de 1974, por um médico geriatra. E) Os movimentos do lian gong são contínuos, intensos e ritmados, promovendo o alongamento e a força das articulações e membros. Na prática As terapias tradicionais chinesas têm, cada vez mais, indicações precisas e com respaldo em literatura científica. Isso faz com que as mesmas estejam mais presentes nos serviços de saúde e mais profissionais estejam habilitados a exercê-las. No Brasil, várias delas são reconhecidas e ofertadas pelo Sistema Único de Saúde aos usuários. Ao falar em terapias tradicionais, porém, pode surgir a dúvida de como abordar o paciente, indicar terapias e acompanhar a efetividade das mesmas. Por não serem, ainda, terapias completamente difundidas no nosso país, é possível encontrar resistência por parte dos pacientes ao indicar uma delas. Em contrapartida, você pode receber pacientes informados e cientes da oferta das TTC nos serviços de saúde. Nesse caso, você, como profissional, deve estar sempre bem informado a respeito delas para ajudar seu paciente a conduzir da melhor forma o processo terapêutico individual. Neste Na Prática, você verá um exemplo de condução e abordagem para um paciente que procura o ambulatório de práticas integrativas e complementares. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Posicionamento da Justiça sobre o exercício da acupuntura por enfermeiros Este texto fala sobre o exercício profissional das terapias tradicionais chinesas por enfermeiros. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Documentário sobre acupuntura Reinventando a vida é um documentário sobre o uso da acupuntura por mulheres em tratamento para o câncer de mama. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Uso da moxabustão e acupuntura em gestantes com apresentação pélvica: revisão integrativa Artigo sobre o uso da moxabustão e acupuntura em gestantes com feto em apresentação pélvica. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. http://www.cofen.gov.br/justica-nega-embargo-e-reafirma-legalidade-de-resolucao-sobre-acupuntura_68335.html https://www.youtube.com/embed/jEclFv-tMXA http://docs.bvsalud.org/biblioref/2017/10/859849/45534-194259-1-pb.pdf
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