Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1º SIMULADO NACIONAL 2022 • R1 ACESSO DIRETO • QUESTÕES • RESPOSTAS • COMENTÁRIOS Se você está aqui, significa que já realizou nosso simulado nacional. Agora é a hora de consolidar seu conhecimento da melhor forma possível. O material que você tem em mãos foi estrategicamente confeccionado, com um método exclusivo no Brasil. Tudo feito por nossa equipe com 53 subespecialistas. O mesmo método que você tem aqui foi responsável por ocupar 61,38% das vagas em 19 especialidades da USP-SP. Aproveite a correção! Quando finalizar, conte para nós o que achou no instagram @grupomedcof. Estamos por lá diariamente, entregando os melhores conteúdos sobre aprovação na residência médica! Chegou a sua hora de alcançar grandes resultados. 4 | GABARITO 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO CLÍNICA MÉDICA QUESTÃO RESPOSTA 1 A 2 A 3 A 4 B 5 A 6 D 7 A 8 D 9 A 10 C GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA QUESTÃO RESPOSTA 11 C 12 D 13 D 14 A 15 B 16 D 17 C 18 A 19 D 20 A PEDIATRIA QUESTÃO RESPOSTA 21 A 22 D 23 B 24 B 25 D 26 A 27 A 28 A 29 D 30 A PREVENTIVA QUESTÃO RESPOSTA 31 A 32 A 33 D 34 B 35 A 36 B 37 B 38 D 39 E 40 D CIRURGIA QUESTÃO RESPOSTA 41 C 42 C 43 C 44 B 45 B 46 B 47 B 48 D 49 D 50 A CLÍNICA MÉDICA | 5 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 1 Paciente 27 anos, masculino, apresenta-se ao pronto- -socorro com lesões dolorosas, bolhosas de fundo aver- melhado localizadas em região abdominal. Entre as hi- póteses diagnósticas abaixo, a mais provável para este caso é: A) Herpes zoster. B) Varicela. C) Sarampo. D) Reação alérgica de contato. Resposta correta: Letra A Questão sobre lesões dermatológicas. O paciente apre- senta lesões DOLOROSAS + BOLHOSAS + FUN- DO ERITEMATOSO. Para deixar mais típico ele po- deria dizer que essas lesões formam uma linha, como se estivessem seguindo um trajeto nervoso. Esse é o típico aspecto das lesões de Herpes Zoster. - O que é o herpes zoster? É a doença causada por reativação do vírus varicela zoster que, na infância é responsável pela varicela (ou catapora). Esse vírus, após fazer a primo-infecção pode passar décadas latente, até o momento de reativação em uma queda de imunidade. - Quais são os sintomas? O aspecto característico são eritemas que evoluem com vesículas ou bolhas de conteúdo hialino que, ao rom- perem, deixam crostas. Muito importante dizer que a DOR é fundamental para pensarmos em Zoster. A dor acontece porque a infecção leva à lesão neuronal O lugar mais comum de aparecimento é na tran- sição toracoabdominal, correspondendo aos ner- vos intercostais. Essas lesões respeitam o trajeto do dermátomo acome- tido! Tanto que lesões espalhadas dizem CONTRA o diagnóstico de Zoster CLÍNICA MÉDICA - Há complicações? A mais comum, causada pela lesão neuronal em si, é a neuralgia por herpética. Pense que o nervo não apre- senta fácil regeneração e após a infecção ele fica como se fosse um fio desencapado. A dor pode persistir por meses. O tratamento dessa condição passa por modu- ladores como gabapentina ou pregabalina. Outras complicações são baseadas em acometimentos de nervos mais nobres do que um intercostal. Exem- plos: Sindrome de Ramsay-Hunt (se o Zoster agredir o nervo facial e auditivo, levando a paralisia facial, ver- tigem e lesões em ouvido externo) e acometimento de ramo oftálmico, levando a comprometimento ocular. - Tratamento É feito com Aciclovir 800mg 5x ao dia por 7 dias Feita essa revisão, vamos analisar as outras alternativas e ver como essas opções poderiam ser marcadas: Varicela É a forma primária do herpes zoster. Apesar de mais comum na infância, pode acontecer de abrir o quadro na vida adulta, porém as lesões são conhecidas por se- rem POLIMÓRFICAS E GENERALIZADAS!!! Ou seja, não veremos apenas bolhas eritematosas... vere- mos crostas, máculas, pápulas, vesículas... E em todas as partes do corpo! Sarampo Outra muito mais comum de acometer crianças. A le- são do sarampo é um exantema difuso, bem diferente do apresentado na questão. Além disso frequentemente vem associado de sintomas gripais. Reação alérgica de contato Vejam, pode até ser que, aqui, as lesões sejam mais pa- recidas, pois a reação alérgica de contato dá um eritema localizado, compatível com o local onde foi exposto o alérgeno. Porém o principal sintoma é prurido, além de raramente evoluir com bolhas. CLÍNICA MÉDICA 6 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas: A) CORRETA Lesões típicas! B) INCORRETA Varicela cursa com polimorfismo C) INCORRETA Sarampo cursa com sintomas gri- pais + exantema difuso D) INCORRETA Dermatite de contato cursa com prurido! Take-Home Message: - Lesões DOLOROSAS + BEM LOCALIZADAS + VESICULARES OU BOLHOSAS devem sempre nos remeter a Zoster. - É uma doença de reativação de uma varicela zoster já latente no corpo. - A principal complicação é a neuralgia pós-herpética. QUESTÃO 2 Paciente masculino 19 anos, procura o pronto-socorro com queixa de corrimento Uretral. Ao examinar este paciente observa-se lesão peniana ul- cerada, de fundo limpo e indolor. Entre as opções abai- xo, a melhor conduta é prescrever A) imediatamente penicilina benzatina 2.400.000 UI dose única. B) penicilina benzatina 2.400.000 UI em 0 e 7 dias. C) penicilina benzatina 1.200.000 UI em 0 e 7 dias. D) imediatamente penicilina benzatina 1.200.000 UI dose única Resposta correta: Letra A Úlcera genital de fundo limpo e indolor, não há outro diagnóstico a se pensar além de SÍFILIS. Então vamos aprofundar em alguns aspectos de dessa doença. Aspectos gerais 1. Causada pela bactéria espiroqueta Treponema palli- dum 2. É uma doença sexualmente transmissível com gran- de potencial de transmissão congênita. 3. É uma doença de fases sintomáticas seguidas de longas fases assintomáticas. 4. É classificada nas formas RECENTE (Primária, Secundária e Latente recente – que é definida por uma infecção com menos de 12 meses) ou TAR- DIA (Terciária e Latente tardia – definida como infecção depois de 12 meses) Formas clínicas - Sífilis primária: é a fase a ÚLCERA GENITAL ÚNI- CA, DE FUNDO LIMPO, BEM DELIMITADA. Guardem esse aspecto, pois é muito específico de Sífilis. Sem tratamento a lesão desaparece em 4 a 8 semanas sem deixar cicatriz. Pode haver discreta linfonodomegalia na região inguinal. - Sífilis secundária: são as lesões de pele que podem ser pápulas castanhas e eritematosas, placas mucosas e lesões pápulo-hipertróficas (condiloma plano). Linfonodomegalias generalizada pode estar presen- te. Essas lesões aparecem cerca de 2 meses depois do desaparecimento da lesão sifilítica primária e so- mem, também sem tratamento, após 1 mês. - Latente: é assintomática. Aqui o comportamento é majoritariamente indolente. Podem ficar décadas sem sair dessa fase (cerca de 60% dos casos). - Terciária: gomas (que são pontos granulomatosos que podem acometer pele, ossos ou até vísceras), com- prometimento de sistema cardiovascular (aneuris- ma de aorta, por exemplo) e do sistema nervoso central (Tabes dorsallis – síndrome de degenera- ção sensorial) Ta, mas e a neurossifilis? Muitos acham que a neuros- sifilis é sinônimo de sífilis terciária. Isso não é verdade. Todo sintoma neurológico decorrente de sífilis é clas- sificado com esse nome, portanto pode acontecer em virtualmente toda fase de evolução da doença. Claro que é mais comum na fase terciária (principalmente se o sintoma for a Tabes dorsallis). Mas o ensinamento é: se houverem sintomas neuro- lógicos, pensem em neurossífilis independemente da fase da doença CLÍNICA MÉDICA | 7 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Métodos diagnósticos • Testes não treponêmicos: o mais utilizado dispa- rado é o VDRL. Ele se positiva logo no início da segunda semana da sífilis primária. Quando se trata de um primodiagnostico, títulos superiores a 1:4 são sugestivos de infecção. Porém, atenção para: I. Títulos menoresque 1:16 podem indicar infecções muito recentes ou cicatriz sorológica! II. Ele demora a se negativar (mais de 9 meses) e pode manter a cicatriz sorológica indefinidamente III. Em caso de reinfecção, o dado descrito é aumento de 4x o valor prévio caso haja uma cicatriz sorológica. • Testes treponêmicos: são os primeiros a se positivar. Os dois mais usados são o FT-Abs e o teste rápido. Como diagnosticamos? Necessário fazer um teste não treponêmico + teste treponêmico! (VDRL + FTA Abs OU VDRL + Teste Rápido) Vejam os padrões de achados de ambos os testes (Es- tudem isso com carinho. As bancas adoram fazer esses jogos, muito parecidos com as sorologias de Hepatite B e Toxoplasmose!) VDRL POSITIVO + FTA Abs POSITIVO = Sífilis ativa ou tratada há pouco tempo VDRL POSITIVO + FTA Abs NEGATIVO = Falso positivo (lembre que como o teste treponêmico é espe- cífico, se o mesmo vier negativo, devemos pensar em outros diagnósticos, como Lúpus e Sindrome do Anti- corpo Antifosfolípide) VDRL NEGATIVO + FTA Abs POSITIVO = Sífilis precoce (lembre que o teste treponêmico positiva pri- meiro) OU tratada VDRL NEGATIVO + FTA Abs NEGATIVO = Diagnóstico descartado de sífilis ou ainda na jane- la imunológica! - Tratamento CLÍNICA MÉDICA 8 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Para finalizar, realizamos o controle com títulos de VDRL trimestrais no primeiro ano e, se manutenção de títulos positivos, semestral no segundo ano! Em caso de subida dos títulos de maneira consistente (aumento de 2 diluições) , pensamos em reinfecção, já que não há imunidade de longo prazo!! Vamos às alternativas A) CORRETA Dose correta. É claramente um caso de sífilis primária B) INCORRETA Não há mais a recomendação de 2 semanas! Ou é feita em 1 semana ou em 3. C) INCORRETA Aqui está tudo errado. Dose e nu- mero de semanas D) INCORRETA Essa é a dose em cada nádega! O total é de 2 400 000 UI Take-Home Message: • Sífilis é uma doença que possui pelo menos 4 clas- sificações características: Primaria, Secundária, Latente e Terciária. Caso em qualquer uma dessas fases houver o achado de sintomas neurológicos, classificamos como neurossífilis • O diagnóstico é feito baseado em um teste treponê- mico e um não treponêmico e a combinação dos resultados define não só o diagnóstico como a fase da doença. • O tratamento ou é feito com 2 400 000 em dose única para a forma recente ou em 2 400 000 1x por semana por 3 semanas na forma tardia. A neurossí- filis é tratada com Penicilina G Cristalina!!! • Se houver alergia, há a possibilidade de Doxicilina e Ceftriaxona. Apenas na neurossífilis não está indi- cada a Doxicilina. QUESTÃO 3 Homem, 76 anos, refere ""pele amarelada"", parestesia progressiva em membros inferiores e ardência na língua (Figura 1). Faz uso de metformina, para diabetes melli- tus tipo 2, e omeprazol para gastrite. Nega alteração do hábito intestinal e mantém ingesta alimentar sem restrições. Exames laboratoriais: hemograma: Hb: 8,8 g/dL, Ht: 26%, VCM: 112 fL (VN: 80-95 fL), leucó- citos: 3.200/uL, plaquetas: 124.000/uL (esfregaço na Figura 2); Contagem absoluta de reticulócitos: 23.000/ uL (VN: 25.000-105.000/uL); ferro sérico: 96 ug /dL (VN: 40-160 ug/dL); TIBC: 320 ug/dL (VN: 300-360 ug/dL); saturação da transferrina: 30%; ferritina: 118 ng/mL (VN: 6-159 ng/mL); LDH: 5.460 U/L (VN < 460 U/L); bilirrubinas totais: 1,8 mg/dL (VN 1,0 ) COOMBS direto negativo TSH 4,0 (VN 0,5 – 5,0) Qual o diagnóstico mais provável? A) Deficiência de vitamina B12 B) Deficiência de ferro C) Doença autoimune D) Hipotireoidismo Resposta correta: Letra A Comentário: É impossível esgotar anemias em um co- mentário. Vamos dar uma geral nos principais aspectos de investigação de anemia e depois entrar na anemia da questão. Com dois padrões de classificação já podemos catalo- gar a maioria das anemias, motivo pelo qual os dois se- guintes exames são os primeiros exames que usualmen- CLÍNICA MÉDICA | 9 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO te pedimos na investigação inicial: HEMOGRAMA e CONTAGEM DE RETICULÓCITOS Hemograma: Contagem de eritrócitos e de hemoglobina: usados para ver se realmente há uma anemia VCM: Volume corpuscular médio. Quando está abaixo de 80 temos as anemias MICROCÍTICAS. Quando se encontra entre 80 e 100, temos as anemias NORMO- CÍTICAS e quando se encontra acima de 100 temos as anemias MACROCÍTICAS. Com um pequeno de- talhe: quando esse valor se encontra acima de 110 há uma especificidade grande para anemia megaloblástica. HCM: Hemoglobina corpuscular média. Quando está abaixo de 28 temos as anemias HIPOCRÔMI- CAS. Quando está entre 28 e 32 temos as anemias NORMOCRÔMICAS. Acima de 32 temos as ane- mias HIPERCRÔMICAS. RDW: É o chamado índice de anisocitose. Ele é capaz de medir a diferença de tamanho nas hemácias. Contagem de reticulócitos Reticulócitos são hemácias jovens. A contagem de re- ticulócitos é uma medida usada para classificar a ane- mia em HIPERPROLIFERATIVA e HIPOPROLIFE- RATIVA. Qual a lógica? Se há algum tipo de prejuízo medular (ausência de matéria prima, destruição da medula óssea) não haverá altas taxas de reticulócitos, pois não haverá sua produção. Caso a gênese da anemia sejam perdas externas (sangramentos, hemólise) a me- dula prontamente responde com uma acelerada repo- sição de hemácias. Como essa produção acelerada não é capaz de amadurecer todas as células, a contagem de reticulócitos aumenta. Qual o valor de referência? 0,5% a 2,0% OU de 30 a 100 mil (há divergências). Muito cuidado com anemias profusas e porcentagens!!! Se há pouca massa eritroci- tária, a porcentagem de reticulócitos pode estar falsa- mente aumentada!! Para consertar isso, há uma fórmula que deve ser apli- cada. Chama IRC (Indíce de Reticulócitos Corrigido) que é calculado por Hb/15 x % de Reticulócitos >> Um valor normal é menor que 2% Feito isso, vamos aprofundar no caso clínico da ques- tão: Anemia Megaloblástica A causa de uma anemia megaloblástica é um defeito na formação do DNA. A conclusão disso é um atraso na divisão celular, criando células muito grandes. Como as duas principais causas são carências (de ácido fólico e de vitamina B12), não há aumento da produção de hemácias, portanto é o principal exemplo de anemia MACROCÍTICA e HIPOPROLIFERATIVA. Muito cuidado com um achado laboratorial comum de aparecer nas anemias megaloblásticas e que pode gerar dúvida: MARCADORES DE HEMÓLISE AUMEN- TADOS. Ora, se há um déficit de produção de DNA, a taxa de destruição das hemácias também aumenta, mas isso não a torna uma doença hemolítica! Existe um achado muito clássico em sangue periférico e que adora cair em prova: achado de neutrófilos hiper- segmentados (figura 2 da questão). As provas exploram as diferenças entre a deficiência de folato e a deficiência de vitamina B12. Essa tabela resu- me essas diferenças: CLÍNICA MÉDICA 10 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas: A) CORRETA Quadro clínico clássico, com altera- ções típicas B) INCORRETA Anemia ferropriva cursa com altera- ções NORMO/NORMO no início e HIPO/MI- CRO em quadros mais avançados. C) INCORRETA Não há elementos para pensar em autoimunidade. D) INCORRETA Hipotireioidismo causa anemia NORMO/NORMO Take-Home Message: Os dois primeiros exames que devemos solicitar para investigação de uma anemia são: hemograma e conta- gem de reticulócitos; Muito cuidado com a contagem de reticulócitos em termos de porcentagem! Calcular o IRC é de grande ajuda (Hb/15 x % de Reticulócitos); Achados que aumentam (e muito!) a suspeita de ane- mia megaloblástica: 1) NEUTRÓFILOS HIPERSEG- MENTADOS 2) VCM SUPERIOR A 110; Três diferenças que salvam vidas quando a questão co- bra deficiência de folato x deficiência de B12: (1) Deficiência de folato se instaura com meses, defi- ciência de B12 com anos (2) Deficiência de folato NÃO faz manifestações neu- rológicas, deficiência de B12 faz (3) Deficiência de folato NÃO aumentaácido metilma- lônico, deficiência de B12 sim. CLÍNICA MÉDICA | 11 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 4 Mulher, 25 anos, sem comorbidades, relata dispneia progressiva, atualmente classe funcional III da NYHA, associada a palpitações taquicárdicas aos esforços. Exa- me físico: FC = 85 bpm, PA = 112 x 70 mmHg, FR = 18 irpm, elevação do pulso venoso jugular na ins- piração, hepatomegalia com ascite moderada e edema 1+/4+ de membros inferiores. Radiografia de tórax (PA) e eletrocardiograma ao lado. Qual é a principal hipótese diagnóstica? A) Endomiocardiofibrose. B) Pericardite constritiva. C) Tamponamento cardíaco. D) Amiloidose cardíaca. Resposta correta: Letra B Comentário: Essa paciente jovem apresenta inúmeros sintomas que corroboram a presença de uma insuficiência cardíaca (classe funcional III de NYHA, elevação de pulso ve- noso jugular durante a inspiração – o chamado sinal de Kussmaul - , ascite, hepatomegalia...) Vamos relembrar os critérios de Framingham para diagnóstico de IC: CLÍNICA MÉDICA 12 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Mas de onde vem essa IC dela? Lembrem-se! As ima- gens da prova não estão lá à toa! Quais são as duas alte- rações mais visíveis? 1. Na radiografia há um halo hipotransparente circun- dando toda região do miocárdio, se assemelhando a uma calcificação 2. O eletrocardiograma está com uma diminuição di- fusa da amplitude! Ora, o problema então está no PERICÁRDIO. A do- ença do pericárdio que cursa com essas alterações é cha- mada de pericardite constritiva! Os sintomas clássicos de IC acontecem pela perda da complacência do pericárdio, que se calcifica (achado da radiografia). A perda da amplitude difusa do eletrocar- diograma se dá também pela calcificação, que trans- forma o pericárdio em um obstáculo à leitura do ECG (Analogamente a um “isolamento elétrico”). E essa elevação do pulso venoso jugular na inspiração? Lembre-se que o pulso venoso jugular é praticamente um reflexo do coração direito. Na inspiração há um aumento do retorno venoso para o coração. No entan- to como o miocárdio está preso ao redor do pericárdio calcificado, esse aumento de fluxo causado pela inspira- ção tem de ser redistribuído retrogradamente, elevando o pulso venoso. Esse é o SINAL DE KUSSMAUL A questão não trouxe esse dado, mas e se tivessem me- dido a PA da paciente durante uma inspiração? Segu- ramente haveria uma queda de mais de 10mmHg na PAS!! Isso é chamado pulso paradoxal. Devido a falta de complacência (ela é sempre a culpada nessa doen- ça!), o coração direito tem que resolver o excesso de sangue que chega principalmente durante a inspiração. Parte disso é resolvido no pulso venoso. A outra parte disso é feita deslocando o septo interventricular. O VE perde espaço, reduzindo sua ejeção e consequentemen- te derrubando a PA. Ta, mas o que causa uma pericardite constritiva? Na grande maioria das vezes é idiopática! Uma causa conhe- cida ainda de relevância em nosso meio é a tuberculose. O tratamento é voltado para SUPORTE caso o pacien- te não tenha manifestações crônicas de uma IC. Caso ele seja um paciente com IC crônica e tenha um status performance razoável, fazemos a pericardiectomia. O que podemos extrair das outras opções? Tanto a endomiocardiofibrose quanto a Amiloidose car- díaca são causas de IC de fração de ejeção preservada, secundária a uma cardiopatia restritiva (os depósitos amiloides e a fibrose tiram a complacência ventricular). Porém eu teria que ter mais elementos direcionados a uma análise de miocárdio (cintilografia demonstrando os depósitos amiloides ou uma RM evidenciando a fibrose) O tamponamento cardíaco seria uma opção mais váli- da se estivesse presente na questão a famosa TRÍADE DE BECK: 1. Abafamento de bulhas cardíacas 2. Hipotensão arterial 3. Turgência jugular Vejam: a pericardite constritiva complicada (por exem- plo por um derrame pericárdico) seguramente pode ge- rar um tamponamento cardíaco, porém a questão não direciona para esse lado!!! Vamos às alternativas: A) INCORRETA Há fibrose principalmente miocár- dica B) CORRETA C) INCORRETA Para pensar em tamponamento car- díaco, temos que lembrar da Tríade de Beck D) INCORRETA Doença de depósito que atinge principalmente o miocárdio e não o pericárdio Take-Home Message: - Para pensarmos em pericardite constritiva, lembre sempre de: Sinal de Kussmaul; Pulso paradoxal, sintomas de IC e redução de amplitude no ECG; - O tratamento é suportivo ou pericardiectomia em pa- cientes crônicos com boa performance; - Tamponamento cardíaco sempre pensar na tríade de Beck: Abafamento de bulhas cardíacas // Hipoten- são arterial // Turgência jugular. CLÍNICA MÉDICA | 13 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 5 Homem, 72 anos, tabagista. Refere dispneia progressi- va (atualmente a mínimos esforços) e tosse seca esporá- dica há 2 anos. Exame físico: BEG, corado, cianótico, com baqueteamento digital. FR: 28 ipm. Sat O 2 : 87% em ar ambiente. Qual ruído adventício mais provável na ausculta respiratória? A) Estertor em velcro. B) Grasnido. C) Estertor grosso. D) Ronco Resposta correta: Letra A Comentário: Homem, tabagista, dispneia progressiva... É DPOC!!!! Será? Muito cuidado e zelo na hora de resolver questões de prova... Vamos rever os principais aspectos clínicos de um DPOC e, ao terminar essa revisão, vocês vão me responder se essa questão é de DPOC. A Doença pulmonar obstrutiva crônica é um estado infla- matório prolongado que leva a uma obstrução irreversível e progressiva das vias aéreas. Essa lesão, a depender de qual parte do trato respiratório é acometido, pode levar a: A) Enfisema pulmonar, quando há destruição paren- quimatosa. É o modelo do DPOC B) Bronquite crônica, quando há acometimento dos brônquios. Importante lembrar que, se o paciente se apresentar apenas com Bronquite, ou seja, sem elemento parenquimatoso associado, não há pro- priamente obstrução! O GRANDE fator de risco é o tabagismo (tanto ativo quanto passivo.) O paciente se apresenta com dispneia progressiva aos esforços, redução do murmúrio vesicular, cianose de extremidades... E, ATENÇÃO: NÃO ESPERO EN- CONTRAR BAQUETEAMENTO DIGITAL!!! Isso mesmo, o DPOC não é uma doença típica de cursar com esse achado clínico. A radiografia de tórax apresenta achados de hiperinsu- flação pulmonar: aumento do diâmetro antero-poste- rior, retificação das hemicúpulas diafragmáticas, pul- mões hipertransparentes... Afinal há retenção de ar! Bom, estamos diante então de um paciente que já apresenta doença estabelecida (se encontra hipoxêmi- co, com dispneia), mas possui baqueteamento digital e uma radiografia NADA parecida com a hiperinsuflação pulmonar previamente descrita. Portanto não estamos diante de um paciente DPOCítico. Qual outra doença que se encaixa, então? A chamada Fibrose Pulmonar Idiopática, a mais comum das pneu- mopatias intersticiais! Não é dos temas mais comuns, mas por vezes faz suas aparições! Então vamos sintetizar • Quem desenvolve FPI? Homens tabagistas de meia idade • Qual o quadro clínico? Dispneia progressiva asso- ciada a baqueteamento digital. A ausculta pulmo- nar traz o típico ESTERTOR EM VELCRO. • Fisiopatologia? Há inicialmente um franco proces- so inflamatório que com o passar do tempo evolui para fibrose. • Achados de imagem? Na radiografia de tórax há um infiltrado mais presente no terço inferior. Na to- mografia, em fases precoces é comum o achado de vidro fosco e em fases tardias o faveolamento • Tratamento? Suportivo! Alguns estudos mostraram que a pirfenidona e o nintedanib são capazes de re- tardar o desenvolvimento de fibrose, se inicados em fase precoce CLÍNICA MÉDICA 14 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas: A) CORRETA Esse achado é muito sugestivo da FPI B) INCORRETA Grasnido é outro nome para sibilos inspiratórios. Não é um achado comum C) INCORRETA Mais relacionado a alterações de brônquiosD) INCORRETA Mais relacionada a problemas de vias aéras altas Take-Home Message: • Talvez o mais importante dessa questão é: suspeite de questões que apresentem muitos elementos que nos fazem duvidar do diagnóstico!!! • A FPI apresenta o mesmo padrão de sintomas e de epidemiologia do DPOC: Homens mais velhos ta- bagistas que desenvolvem dispneia progressiva • Três coisas para lembrar sempre de FPI: (1)Infiltra- do reticular com predomínio em base; (2) Estertor em velcro; (3) Baqueteamento digital. • Três coisas para pensar em DPOC: (1) Estigmas de DPOC: cianose de extremidades, aumendo do diâ- metro antero-posterior do tórax; (2) Radiografia de tórax com padrão de hiperinsuflação; (3) Ausência de baqueteamento digital. QUESTÃO 6 Acerca da miastenia grave, assinale a alternativa correta. A) É uma doença neurodegenerativa de neurônios moto- res que causa atrofia muscular e fraqueza progressiva. B) O envolvimento bulbar e cervical precoce é obser- vado em 85% dos pacientes, com a presença de fa- tigabilidade muscular repetitiva. C) O início é quase sempre simétrico, e os reflexos tendinosos profundos são perdidos à medida que a doença progride. D) Os achados típicos são ptose, diplopia e fraqueza muscular flutuante, indolor e sem perda sensorial. E) Sintomas cognitivos geralmente são os primeiros achados dos quais os pacientes se queixam. Resposta correta: Letra D Comentários: Questão direta ao ponto da FMABC, sobre miastenia gravis, que nos dá cinco alternativas, e temos que en- contrar qual é a verdadeira. Conforme vamos analisan- do opções, aproveitaremos para fazer breves revisões. Então, bora lá! A) INCORRETA. O quadro clínico clássico da mias- tenia gravis pode ser subdividido em: sintomas oculares (diplopia, oftalmoparesia, ptose), sintomas bulbares (disartria, disfagia, disfonia) e fraqueza muscular proximal generalizada. Estes sintomas costumam piorar ao longo do dia e após exercícios (fatigabilidade). Agora, atrofia muscular NÃO é um achado esperado para miastenia gravis, mas sim em outras doenças, como a Esclerose Lateral Amio- trófica (ELA), por exemplo. B) INCORRETA. Estima-se que em 50% dos pacien- tes os sintomas iniciais sejam oculares, sendo que apenas 10 a 20% deles permanecerão com a for- ma ocular, enquanto que 80 a 90% evoluirá para a “forma generalizada”, que inclui envolvimento da musculatura de inervação bulbar (levando à disfa- CLÍNICA MÉDICA | 15 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO gia, disfonia, dificuldade para mastigação), quanto fraqueza muscular dos membros. Apenas 15% dos pacientes começam o quadro com acometimen- to bulbar. C) INCORRETA. A fraqueza muscular proximal tende a ser simétrica, porém, a ptose, por exem- plo costuma ser assimétrica. Além disso, os reflexos tendinosos profundos NÃO costumam se alterar, ao contrário de outra doença que faz diagnóstico diferencial com miastenia gravis: a Síndrome de Eaton-Lambert. D) CORRETA. De fato, todos os sintomas mencio- nados são comuns de ocorrer na miastenia gravis, e ressaltamos que nesta doença NÃO há acometi- mento sensitivo. E) INCORRETA. Sintomas cognitivos NÃO são es- perados ao longo da evolução da miastenia gravis, visto que o substrato fisiopatológico desta doen- ça ocorre na JUNÇÃO NEUROMUSCULAR – nada a ver com córtex cerebral! Take-Home Message: A miastenia gravis adquirida é uma doença autoimune, e ocorre através do “ataque” de auto anticorpos contra receptores de acetilcolina, em torno de 80% dos ca- sos, e contra o receptor MuSK, em torno de 5% das vezes. Sua principal característica clínica é a fatigabi- lidade e flutuação dos sintomas ao longo do dia – o paciente acorda “bem”, e vai piorando ao longo do dia. O diagnóstico é feito através da eletroneuromiografia e da pesquisa desses auto anticorpos. Já o tratamento é realizado através de drogas sintomáticas (Piridostig- mina) e imunossupressoras (corticoides, azatioprina, micofenolato, imunoglobulina). QUESTÃO 7 Mulher, 39 anos, com história de fraqueza muscular, dispneia, dificuldade de deglutição e discreta ptose pal- pebral ao final do dia. TC de tórax: tumor em medias- tino ântero-superior. A hipótese a ser diagnóstica mais provável é: A) timoma. B) linfoma. C) teratoma. D) bócio tireoideano. Resposta correta: Letra A Comentários: Questão clássica da UFRJ, que cobrou um conceito fundamental em provas, galera! Uma ideia que precisa ser “automática” na cabeça de vocês: sempre que faze- mos o diagnóstico de miastenia gravis, devemos pes- quisar qual tumor? Para responder isso, e de uma forma que não fique apenas como “decoreba”, vamos fixar alguns conceitos importantes sobre a fisiopatologia da miastenia gravis: § Os anticorpos anti-receptores de acetilcolina são os “culpados” pela alteração patológica na junção neu- romuscular, sendo que a produção desses autoan- ticorpos depende de células T, com células T CD4 estimulando as células B para que elas os produzam. § O timo, por sua vez, pode apresentar hiperplasia em até 80% dos pacientes com miastenia gravis, e as evidências mostram que ele pode agir como uma “fonte” de produção dos autoanticorpos, e, portan- to, perpetua a doença! § Por isso que, em todo paciente entre 18 e 50 anos, com miastenia gravis forma generalizada, devemos planejar a timectomia de forma eletiva. § Por fim, até 20% dos pacientes com miastenia gra- vis podem apresentar um tumor no timo: o famo- so timoma. CLÍNICA MÉDICA 16 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Agora, com base nessas explicações que fizemos, vamos analisar qual é a alternativa correta: A) CORRETA. Aqui está o grande vínculo cere- bral e aprendizado desta questão: quando pen- sar em miastenia gravis, lembrar imediatamente de TIMOMA! B) INCORRETA. Linfoma não possui relação fisio- patológica com o surgimento de miastenia gravis. C) INCORRETA. Cuidado para não confundirem, galera! O tumor relacionado à miastenia gravis é o timoma, e não o teratoma. D) INCORRETA. Bócio tireoideano até pode fazer parte do diagnóstico diferencial de massa medias- tinal, mas, não tem qualquer relação com o surgi- mento de miastenia gravis. Take-Home Message: Em todo paciente com diagnóstico de miastenia gra- vis, é fundamental solicitarmos um exame de imagem do tórax (tomografia computadorizada ou ressonância magnética), pois até 80% dos pacientes existe alteração tímica com hiperplasia, e em torno de 10 a 20% pode haver timoma. QUESTÃO 8 Homem, 61 anos, relata lesão na língua há 3 anos (figura), com dificuldade de alimentação e perda de peso. Etilista de 6 garrafas de cerveja por semana e nega tabagismo. Ao exame: BEG, corado. Linfonodo submandibular à esquerda de 0,5 cm, móvel e indolor. Cicatriz de aspecto apergaminhado no dorso do pé di- reito. Anatomopatológico da lesão da língua: epitélio com hiperplasia pseudoepiteliomatosa; infiltrado na submucosa denso e misto, rico em plasmócitos, com esboço de formação de granulomas. Não foram visuali- zados parasitas nas colorações especiais (GMS, Giemsa e Ziehl-Neelsen) e as culturas da lesão foram negativas. Qual é o diagnóstico mais provável? A) Carcinoma espinocelular. B) Paracoccidioidomicose. C) Doença de Behçet. D) Leishmaniose mucosa Resposta correta: Letra D CLÍNICA MÉDICA | 17 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO A questão cobra, em última análise, o diagnóstico di- ferencial de úlceras orais, constituídas principalmen- te pelo mnemômico PLECT, usado na dermatologia (Paracoccidioidomicose, Leishmaniose, Esporotricose, Carcinoma Espinocelular e Tuberculose). Vamos usar as quatro opções dadas e descrever suas principais ca- racterísticas, necessárias para a resolução da questão: • Carcinoma espinocelular: é um tumor de cabeça e pescoço e, como todos os outros de mesma classi- ficação, apresentam alta relação com etilismo e ta- bagismo. Sua evolução é rápida, sendo que numa evolução de 3 anos haveria grande possibilidade de acometimento metastático no mínimolinfonodal. Não é o que a questão apresenta, já que o linfonodo apresentado não tem aspecto metastático (é peque- no, único e móvel). Além disso o achado de biópsia sem aspectos de neoplasia (apenas hiperplasia) tam- bém diz CONTRA o diagnóstico de câncer. • Paracoccidioidomicose: sempre que uma questão quiser chamar atenção para uma paracoccidioido- micose, ela trará alguma de 3 informações quase in- dispensáveis: EXPOSIÇÃO RURAL, QUADRO PULMONAR ou ACHADO DE LEVEDURAS EM RODA DE LEME 1. 2. No centro da imagem um clássico paracoco • Doença de Behçet: essa talvez é a que mais fuja do escopo das outras úlceras orais, pois não costuma ter aspecto vegetante ou infiltrativo, mas ser seme- lhante a aftas! Alem disso essa doença vem acom- panhanda de ulceras genitais. Outro aspecto muito típico é serem dolorosas. • Leishmaniose tegumentar: causada pelo Leishmania braziliensis, as lesões cutâneas típicas de leishma- niose tem característica de serem ou de resolução espontânea (vejam que a questão cita outra lesão cicatricial) ou se cronificarem, ficando com aspecto ulcerovegetante. Bom, mas e a ausência de micro- organismos identificáveis? O Manual de Vigiância da Leishmaniose é muito claro: após 1 ano de lesão fica muito improvável encontrar o patógeno!!! Vamos às alternativas: A) INCORRETA Falta uma evolução clínica compa- tível B) INCORRETA Falta uma exposição ao meio rural, um microorganismo isolado e um quadro pulmo- nar C) INCORRETA Faltam úlceras genitais e o aspecto da úlcera não é compatível D) CORRETA Take-Home Message:: • Em questões como essa, tente excluir alternativas baseado em quadros clínicos não sugestivos • A Leishmaniose pode não ter protozoários isolados se mais de 1 ano de lesão • Paracoccidioidomicose sempre terá ou um microor- ganismo típico (levedura em roda de leme) ou um quadro pulmonar ou informações ocupacionais em meio rural • Behçet aparecerá com úlceras aftosas orais e genitais. CLÍNICA MÉDICA 18 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 9 Homem, 48 anos, teve infarto agudo do miocárdio há 3 anos, com reperfusão coronária tardia, e evoluiu com miocardiopatia isquêmica e sintomas clínicos de insuficiência cardíaca. Atualmente, encontra-se em tra- tamento clínico farmacológico otimizado para insufi- ciência cardíaca, mas persiste em classe funcional III da NYHA (New York Heart Association). Foi realizado ecocardiograma transtorácico que evidenciou: diâme- tro diastólico do VE = 74 mm; fração de ejeção do VE = 33%. O Holter de 24 horas evidencia: a presença de extrassístoles ventriculares frequentes polimórficas; cinco episódios de taquicardia ventricular não susten- tada com até 6 batimentos; um episódio de taquicardia ventricular sustentada com 1 minuto de duração. O eletrocardiograma de repouso está ilustrado a seguir (frequência cardíaca = 66 bpm). Assinale a alternativa que apresenta a conduta correta visando à redução de morbimortalidade desse paciente. A) Implante de cardiodesfibrilador e terapia de res- sincronização cardíaca. B) Implante de ressincronizador, mas não está indica- do o implante de cardiodesfibrilador. C) Implante de cardiodesfibrilador, mas a ressincroni- zação cardíaca não está indicada. D) Implante de marcapasso cardíaco multifocal, bicameral. E) Não há indicação de implante de dispositivos arti- ficiais, sendo a manutenção do tratamento clínico otimizado a primeira escolha. Resposta correta: Letra A Vamos relembrar que para todos os pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzi- da (FEVE < 40%), há indicação de drogas modifi- cadoras de doença em dose otimizada visando redu- zir MORTALIDADE: 1. Beta bloqueadores (carvedilol, succinato de meto- prolol, bisoprolol ou nebivolol) 2. IECA ou INRA (sacubitril/valsartana) 3. Espironolactona 4. iSGLT2 (dapa ou empagliflozina) independente do paciente ser ou não diabético - adição recente ao grupo (ainda com grau de recomendação Ib, menor do que os outros três acima) Também temos indicação das seguintes terapias im- plantáveis para pacientes que persistam com FEVE < 35% apesar de terapia medicamentosa otimizada, com grau de recomendação Ia: • Cardiodesfibrilador implantável (CDI) para sinto- máticos (CF II-IV) com FEVE < 35% de etiologia isquêmica (IIb para etiologias não isquêmicas) • Ressincronizador cardíaco se BRE ≥ 150 ms, rit- mo sinusal e FEVE < 35% (IIb para BRE ≥ 130 ms ou não-BRE ≥ 150 ms) Caso um paciente com IC tenha indicação de marca- passo por outro motivo (como BAV avançado), a reco- mendação é de que seja implantado um ressincroniza- dor, independente da classe funcional, morfologia ou duração do QRS. No caso em questão, temos um paciente com FEVE < 35% ainda sintomático, já com terapia farmacológica otimizada (deve estar no mínimo com IECA, beta bloq e espirono). Neste caso, devemos avaliar se o pacien- te é candidato a terapias implantáveis. IC isquêmica com FE < 35% apesar de medicação otimizada e ainda sintomática, não deixa dúvida: têm indicação de CDI. Precisamos avaliar o ECG para saber se também tem indicação de ressincronizador: temos ritmo sinusal, QRS ocupando 4 quadradinhos (4x0,04 ms = 160 ms) com morfologia de BRE, portanto também tem indi- cação de ressincronizador. CLÍNICA MÉDICA | 19 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Revendo as alternativas: A) Implante de cardiodesfibrilador e terapia de res- sincronização cardíaca. – CORRETA. FE < 35%, sintomático e de etiologia isquêmica indica CDI. FE < 35%, sintomático com BRE > 150 ms, indi- ca ressinc B) Implante de ressincronizador, mas não está indica- do o implante de cardiodesfibrilador. – INCOR- RETA - FE < 35% sintomática e de etiologia isque- mica, tem indicação de CDI C) Implante de cardiodesfibrilador, mas a ressincroni- zação cardíaca não está indicada. – INCORRETA - FEVE < 35% sintomática com ritmo sinusal e QRS ≥ 150 ms com morfologia de BRE é indicação de ressinc D) Implante de marcapasso cardíaco multifocal, bi- cameral. – INCORRETA, paciente não tem in- dicação de marcapasso (holter sem pausas ou BAV avançado) E) Não há indicação de implante de dispositivos arti- ficiais, sendo a manutenção do tratamento clínico otimizado a primeira escolha. – INCORRETA - paciente sintomático e mantendo FE < 35% apesar da terapia famarcológica otimizada, tem indicação de terapia implantável Take-Home Message: • Terapia quádrupla sempre: Beta bloqueadores + IECA ou INRA + espironolactona + iSGLT2; • Em sintomáticos com FE < 35% em ritmo si- nusal com BRE > 130 ms ou não-BRE > 150 ms: ressincronizador; • Em sintomáticos com FE < 35% de etiologia isquê- mica: CDI. QUESTÃO 10 Um paciente de 58 anos, hipertenso há 8 anos, apre- senta dificuldade para controle dos níveis pressóricos, apesar de fazer uso regular de enalapril 20 mg, hidro- clorotiazida 12,5 mg, amlodipina 5 mg. Ao exame: IMC = 23, PA = 165 x 105 mmHg, coração: 4ª bulha, ausência de sopros abdominais, presença de pulsos ra- diais e pediosos normais e simétricos, sem edemas. Os exames laboratoriais mostram: Hb 14g/dL, Ht 42%, glicemia de jejum 92 mg/dL, Ureia 52 mg/dL, crea- tinina 0,9 mg/dL, Na 138 mEq, K3,4 mEq. Seu ele- trocardiograma mostra sobrecarga ventricular esquerda com alterações difusas de repolarização ventricular. Na sequência de avaliação, qual exame é o mais útil? A) TC de abdômen. B) USG de vias urinárias. C) Ecocardiograma transtorácico. D) Microabuminuria de 12 horas. E) Clearence de creatinina Resposta correta: Letra C Vamos analisar as pistas que o enunciado nos dá: 1) HAS mal controlada há vários anos sugere lesão de órgão alvo. 2) Ausculta cardíaca com 4a bulha sugere redução da complacência do ventrículo (é produzida pela vi- bração resultante do impacto do sangue ejetado pela contração dos átrios ao final da diástole “ba- tendo” no sangue já acumulado em um ventrículo cheio e pouco complacente) 3) ECG com sobrecarga ventricular esquerda e alte- rações difusas de repolarização(possivelmente um padrão strain, com infra de ST e inversão de T). Juntando todos esses dados, o paciente provavel- mente apresenta uma hipertrofia de ventrículo es- querdo por sobrecarga pressórica crônica. O melhor exame para confirmar esse diagnóstico é o ecocardio- grama transtorácico. CLÍNICA MÉDICA 20 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos aproveitar para relembrar o rastreio de lesões de órgão alvo nos hipertensos: 1) Doença renal crônica: - RFG estimado pela creatinina sérica < 60 ml/min - Albuminúria de 24h ou relação albumina/creatinina em amostra isolada > 30 mg/g 2) Hipertrofia de ventrículo esquerdo - ECG com critérios de sobrecarga de VE: Sokolow- -Lyon (SV1 + RV5 ou V6) ≥ 35 mm; RaVL > 11 mm; Cornell (RaVL + SV3) ≥ 20 mm (M) ou 28 mm (H) - Ecocardio com índice de massa do ventrículo esquer- do aumentado (acima de 116 mg/m2 p/ homens ou 96g/m2 p/ mulheres). 3) Aterosclerose: - Índice tornozelo-braquial < 0,9. É calculado pela PAS do tornozelo dividida pela PAS braquial (é só lem- brar que no nome do índice “ITB”, tornozelo vem antes do braço), aferidos após 5-10 minutos em decúbito dorsal horizontal (a redução preferencial da PAS do tornozelo em relação ao braço sugere re- dução do fluxo por estenose hemodinamicamente significativa). - Velocidade de onda de pulso (VOP) carótido femoral > 10 m/s. É um marcador de risco cardiovascular e o padrão ouro para avaliar rigidez arterial. Vasos mais rígidos têm maior amplificação da pressão de pulso porque as ondas reverberam mais na parede do vaso, e portanto, adquirem maior velocidade. Revendo as alternativas: A) TC de abdômen. - INCORRETA, sem sopros ou assimetria de pulsos B) USG de vias urinárias. - INCORRETA, sem altera- ção de creatinina ou relato de microalbuminúria C) Ecocardiograma transtorácico. - CORRETA, con- firmará o diagnóstico de hipertrofia de ventrículo esquerdo sugerido pelo enunciado D) Microabuminuria de 12 horas. - INCORRETA, a coleta não é feita em 12h. Poderia ser uma opção caso fosse relação albumina/creatinina em amostra isolada de urina ou em urina de 24h E) Clearence de creatinina - INCORRETA, a taxa de filtração glomerular deve ser estimado a partir da creatinina sérica Take-Home Message: • Rastreio de LOA na HAS • DRC: Creatinina sérica e microalbuminúria (amos- tra isolada ou 24h) • HVE: ECG ou ecocardio • Aterosclerose: VOP > 10 m/s ou ITB < 0,9 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 21 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 11 F.S.T, 27 anos, 1G 08 semanas e 5 dias pela DUM (compatível com ultrassonografia), relata que hoje após se limpar percebeu pequena quantidade de sangramen- to vaginal. Vem ao pronto socorro extremamente preo- cupada com a possibilidade de estar tendo um aborta- mento; refere, ainda, ter tido relações sexuais com seu parceiro há 02 dias. Ao exame: Bom estado geral, cora- da e hidratada, FC 98bpm PA 96x64mmHg, abdome flácido e discretamente doloroso em hipogastro, BCF não audível com sonar doppler. Especular com ectopia de colo e pequena quantidade de sangramento cole- tado em fundo de saco vaginal, toque vaginal: útero compatível com 8 semanas, colo posterior, amolecido e impérvio. A respeito do caso em questão, é correto afirmar que: A) Paciente apresenta aborto retido, pois teve pequeno sangramento, BCF inaudível e colo impérvio. B) Paciente certamente apresenta sinusiorragia devido ectopia do colo uterino. C) Trata-se de ameaça de abortamento e a não aus- culta do BCF com sonar doppler não deve ser mo- tivo de preocupação no momento. D) Abortamento incompleto deve ser uma das princi- pais hipóteses diagnósticas E) Como o sangramento foi em pequena quantidade, não há necessidade de administração de imunoglo- bulina anti-D Resposta correta: Letra C Uma das causas mais comuns de sangramento na pri- meira metade da gestação é a ameaça de abortamento, nesses casos, em geral, o sangramento é de pequena a moderada quantidade e a dor, do tipo cólica, geralmen- te pouco expressiva. Ao exame físico, o orifício inter- no do colo encontra-se fechado, o volume uterino é compatível com a idade gestacional e não existem si- nais de infecção. Ainda, a ultrassonografia exibirá feto vivo. Alguma das causas desse tipo de sangramento são pequena área de descolamento ovular e ectopia de colo uterino. A conduta consiste em tranquilizar quanto à benig- nidade do quadro, recomendar repouso relativo, se possível. É imperativo sabermos a tipagem sanguínea com coombs indireto negativo para a administração de imunoglobulina anti-Rh às pacientes Rh negativo não sensibilizadas. Apesar de ser grandemente difundida, não há benefício na prescrição de progesterona para casos de ameaça de abortamento, pois os estudos não mostraram benefício na prevenção da recorrência ou evolução para outros tipos de abortamento. Vamos aos comentários A) INCORRETA: para caracterização do abortamen- to há necessidade de ultrassonografia para que se evidencie a presença de embrião/feto sem atividade cardíaca. Na questão isso não é exposto, fora que não se espera ouvir BCF com sonar antes das 10 semanas B) INCORRETA: apesar de ser uma das hipóteses diagnósticas, a questão não relata atividade sexual, fora que o sangramento pode ter sido oriundo de descolamento ovular. C) CORRETA: todo sangramento até 20-22 semanas é considerado como ameaça de abortamento até que se prove o contrário. D) INCORRETA: no abortamento incompleto o san- gramento seria mais volumoso e o útero seria me- nor que a idade gestacional E) INCORRETA: devemos sempre saber a tipagem sanguínea para considerar administração de imu- noglobulina anti-Rh, independente do volume de sangramento GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA22 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Take-Home Message: • Todo sangramento vaginal até 20-22 sem é conside- rado como ameaça de abortamento até que se prove o contrário • Tratamento da ameaça de abortamento é expectante • Progesterona não deve ser prescrita para casos de ameaça de abortamento • Toda paciente com ameaça de abortamento deve ter sua tipagem sanguínea testada para considerar imu- noglobulina anti-Rh. QUESTÃO 12 Assinale a correta acerca das modificações endocrinoló- gicas durante a gravidez. A) Diminuição da resistência periférica à insulínica com tendência à hipoglicemia pós-prandial B) Segunda metade da gravidez é caracterizada como fase anabólica devido aumento da secreção de insu- lina materna C) Primeira metade da gravidez é caracterizada como fase catabólica com aumento da resistência periféri- ca à insulina e hiperglicemia em jejum D) Alguns hormônios na gravidez, com destaque ao hormônio lactogênio placentário, favorecem transferência de glicose para o feto E) A transferência preferencial da glicose para o feto é um efeito patológico de algumas gestações de mães diabéticas Resposta correta: D Vamos às alternativas: A) INCORRETA: durante a gravidez há tendência à resistência insulínica que leva à hiperglicemia pós- -prandial, com intuito fisiológico de favorecer pas- sagem de glicose para o feto B) INCORRETA: a segunda metade da gravidez é fase catabólica com aumento da produção de hormô- nios contra-insulínicos (GH, CRH, progesterona e hormônio lactogênio placentário – hLP) C) INCORRETA: a primeira fase da gravidez é anabó- lica com tendência à hipoglicemia de jejum e basal D) CORRETA: hormônio lactogênio placentário é um hormônio contra-insulínico que está relacio- nado à resistência insulínica E) INCORRETA: a transferência preferencial de gli- cose para o feto é um evento fisiológico Durante a primeira metade da gestação ocorre um des- vio do equilíbrio dos carboidratos e lipídios favorecen- do armazenamento de gordura, glicogênese hepática e transferência de glicose para o feto. Tais alterações são observadas na fase anabólica, sendo desencadeadas pelo estrogênio e progesterona placentários; as repercussões observadas são redução deglicemia de jejum e da basal. A partir da segunda metade da gestação, dá-se início o período catabólico, com lipólise, neoglicogênese e re- sistência periférica à insulina a qual é secundária à pro- dução placentária de hormônios diabetogênicos (GH, CRH, progesterona e hormônio lactogênio placentário – hLP). Nessa fase há tendência à hiperglicemia pós- -prandial com consequente hiperinsulinemia. Take-Home Message: • Primeira metade da gravidez é fase anabólica com tendência à hipoglicemia de jejum. • Segunda metade da gravidez é fase catabólica com tendência à hiperglicemia pós-prandial. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 23 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 13 Gestante, G2PC1, 23 semanas de gestação, comparece ao pronto-atendimento com queixa de dor na perna esquerda, de início há três dias. Ao exame: perna ede- maciada e hiperemiada, com a circunferência da pan- turrilha esquerda apresentando-se 3 cm maior que a da direita. Assinale a alternativa ERRADA: A) A indicação de dosagem do dímero D para esse diagnóstico é controversa na gravidez, já que há au- mento fisiológico de cerca de 40% a cada trimestre B) Diante da suspeita clínica, a anticoagulação deve ser iniciada antes mesmo da confirmação diagnóstica C) O duplex scan é de baixo custo e de fácil repetição, com sensibilidade e especificidade altas para esse diagnóstico D) os warfarínicos são os medicamentos de eleição, sendo a primeira escolha na anticoagulação empí- rica nessa suspeita clínica Resposta correta: Letra D Comentários: A trombose venosa profunda (TVP) pode ser de di- fícil diagnóstico, já que seus sintomas são facilmente confundidos com outros normalmente encontrados na gestação. Os sintomas mais comuns são dor unilateral da perna e edema. Caso haja mais de 2 cm de diferença no diâmetro das panturrilhas, devemos prosseguir com investigação. Cabe lembrar que o Sinal de Homan (dor à dorsiflexão do pé) é inespecífico e pode ser encon- trado em até 50% das gestantes mesmo sem trombose venosa profunda associada. Se houver forte suspeita de TVP, iniciar a anticoagula- ção até que haja confirmação diagnóstica. O exame de escolha a ser solicitado é a ultrassonografia Doppler / duplex scan / ecodoppler vascular, cuja orientação encontra-se no quadro abaixo: O exame de referência para o diagnóstico de TVP é o flebograma, mas este é habitualmente substituído por exames menos invasivos como a tomografia com- putadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM). Porém, evitamos exposição à radiação na ges- tação e a ressonância tem baixa disponibilidade e ele- vado custo. Quando houver suspeita de TVP, as medidas diagnósti- cas e terapêuticas devem ser imediatas. Em caso de forte suspeita clínica, deve-se iniciar a anticoagulação imedia- tamente e só descontinuar se a suspeição não for confir- mada. Deve-se iniciar com doses terapêuticas de hepari- na de baixo peso molecular (HBPM) ou heparina não fracionada (HNF). Lembre-se de que as doses de HBPM devem ser ajustadas em casos de insuficiência renal. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA24 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas lembrando que o examinador de- seja a alternativa incorreta: A - INCORRETA - Não utilizamos o dímero-D na gestação por não haver valores de referência vali- dados para tal; além disso, ele pode se encontrar elevado na gestação, com aumento progressivo com o decorrer da gravidez. B) INCORRETA - Diante da suspeita clínica, não de- vemos atrasar a terapêutica, podendo a confirma- ção diagnóstica ser feita num segundo momento. C) INCORRETA - A avaliação por dopplervelocime- tria via ultrassom é acessível, bem como tem alta sensibilidade e especificidade neste diagnóstico. D) CORRETA - Os warfarínicos não são a primeira escolha. Utilizamos a heparina como primeira op- ção para anticoagulação na gestação nestes casos. Take-Home Message:: • Não devemos atrasar o início do tratamento dian- te da suspeição de tromboembolismo venoso na gestação. • O tratamento deve ser realizado com heparina. • Não há valores de referência do dímero-D validados para uso na gestação. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 25 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 14 Os distúrbios hipertensivos na gestação constituem causa de morte materna e morbimortalidade neonatal importantes no mundo. Sobre a fisiopatologia da pré- -eclâmpsia e os mecanismos conhecidos de lesão endo- telial, assinale a alternativa ERRADA: A) Placentação anormal, com invasão deficiente do interstício materno, mediada pela baixa produção de receptores de fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) é um mecanismo aceito B) A placentação deficiente, que leva à lesão endotelial dos vasos placentários, mediada pelo aumento de produção de substâncias antiangiogênicas, explica a fisiopatologia da pré eclâmpsia C) O aumento dos níveis circulantes de substâncias antiangiogênicas associado à desregulação do siste- ma renina angiotensina compromete a atividade do óxido nítrico, causando a lesão endotelial e pré-e- clâmpsia D) O estresse oxidativo, que consiste em um desequilí- brio entre substâncias pró oxidantes (radicais livres e outros) e antioxidantes, está ligado à lesão endo- telial e ao desenvolvimento da pré-eclâmpsia Resposta correta: Letra A Comentários: Os distúrbios hipertensivos na gestação estão intima- mente associados com conhecidos mecanismos de le- são endotelial. Há evidências que apoiam a hipótese do envolvimento do sistema imunológico materno na doença: proble- mas adaptativos imunológicos ao trofoblasto acar- retariam problemas na perfusão do trofoblasto, com hipóxia consequente. Essas seriam alterações iniciais, constituindo gatilho para uma série de fenômenos locais de hipóxia. O pro- cesso de reoxigenação seria capaz de amplificar certos efeitos locais, como a formação de espécies reativas de oxigênio, ativação do sistema inflamatório materno, aceleração de processos de apoptose celular que limi- tariam o estabelecimento da placentação normal, além de gerar desequilíbrio entre fatores pró-angiogênicos, como o VEGF e PLGF, e fatores solúveis antiangiogê- nicos, como o sFLT-1. Nestes casos, haveria predomí- nio dos fatores antiangiogênicos, resultando no con- junto em ativação generalizada do sistema inflamatório materno, disfunção endotelial universal e limitação na vascularização placentária. O espasmo arteriolar universal que decorre da ativação endotelial é produto de processo insidioso e progressi- vo que, ao final, provoca insuficiência de múltiplos ór- gãos. Além disso, há ainda caráter de imprevisibilidade e instabilidade clínica destes quadros. A ativação endotelial determina basicamente: 1. Vasoconstrição e consequente aumento da resistên- cia periférica; 2. Alterações na permeabilidade capilar (responsável pelo edema); 3. Ativação do sistema de coagulação. Os rins sofrem com padrões anatomopatológicos (glo- meruloendoteliose e esclerose focal), o que se traduz como proteinúria e comprometimento da filtra- ção glomerular. No fígado ocorre isquemia em intensidade variável, acarretando disfunção com elevação dos níveis de transaminases. O edema e/ou a hemorragia focais ou confluentes distendem sua cápsula, podendo resultar em ruptura hepática com hemorragia maciça. O vasoespasmo dificulta o fluxo uteroplacentário, com intensidade variável dependente do momento da instalação do processo e de lesão crônica preexistente. Quanto à coagulação, verifica-se ativação e consumo de plaquetas com consumo progressivo e instalação de coagulação disseminada. O cérebro pode ser afetado por isquemia, agravado por edema difuso, resultando em convulsão (eclâmp- sia) ou acidentes vasculares. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA26 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas: A) CORRETA - a grande questão nos distúrbios hipertensivos não é a baixa produção de recepto- res de fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), masdesequilíbrio na síntese de fatores angiogênicos com elevada síntese de fatores solú- veis antiangiogênicos, como o sFLT-1. B) INCORRETA - as doenças hipertensivas da gesta- ção são decorrentes de lesão endotelial placentária e esta é mediada pela alta produção de substân- cias antiangiogênicas. C) INCORRETA - há elevação dos níveis circulantes de substâncias antiangiogências, bem como ativa- ção do sistema renina angiotensina e elevação da formação de espécies reativas de oxigênio, o que provoca lesão endotelial na pré-eclâmpsia. D) INCORRETA - na pré-eclâmpsia há de fato es- tresse oxidativo devido ao desequilíbrio entre subs- tâncias pró oxidantes (radicais livres e outros) e an- tioxidantes, e esse desequilíbrio está ligado à lesão endotelial e ao desenvolvimento da pré-eclâmpsia. Take-Home Message:: Os distúrbios hipertensivos na gestação estão intima- mente associados com conhecidos mecanismos de le- são endotelial. São fundamentais neste processo a formação de espé- cies reativas de oxigênio, ativação do sistema inflama- tório materno, aceleração de processos de apoptose celular, bem como o desequilíbrio entre fatores pró- -angiogênicos, como o VEGF e PLGF, e fatores solú- veis antiangiogênicos, como o sFLT-1 (com predomí- nio dos últimos). QUESTÃO 15 Parturiente de 38 semanas, secundigesta com 1 cesária anterior, apresenta 2 contrações em 10 minutos, colo medianizado, bolsa rota há 2 horas e 5 cm de dilatação há 1 hora. A equipe decide introduzir ocitocina endo- venosa em dose baixa. Após uma hora, a paciente refere dor intensa, 5 contrações longas em 10 minutos, bati- mentos cardíacos fetais de 160 por minuto, dilatação de 7 cm e distensão da região segmentar do útero, que apresenta forma de ampulheta. Neste momento, está indicado interromper imediatamente a ocitocina A) e realizar cesária por rotura uterina instalada. B) pelo risco iminente de rotura uterina. C) e indicar analgesia de parto para corrigir a disto- cia funcional. D) e realizar cesária por desproporção cefalopélvica. Resposta correta: Letra B O quadro de rotura uterina causa extrusão parcial ou completa do feto do útero, com descolamento da pla- centa e hemorragia materna, levando à síndrome hipó- xico-isquêmica neonatal. Fatores de Risco • Rotura uterina prévia • Cicatriz uterina prévia: cesárea, miomectomia • Indução ao trabalho de parto: uso de prostaglandi- da e ocitocina • Curetagem uterina • Útero septado • Sobredistensão uterina: polidrâmnio, macrosso- mia, gestação múltipla Quadro Clínico: • Bradicardia fetal sustentada • Dor abdominal súbita: melhora da dor após rotura uterina • Instabilidade hemodinâmica GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 27 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO • Apresentação fetal não identificável pelo toque va- ginal • Sinal de Bandl: distensão do segmento uterino infe- rior • Sinal de Frommel: palpação do ligamento redondo, desviando o útero para frente. >> Os sinais de Bandl e Frommel em conjunto dão o aspecto de ampulheta ao útero. Vamos às alternativas: A) INCORRETA: na concretização da rotura uterina espera-se bradicardia fetal, instabilidade hemodinâ- mica e diminuição da atividade uterina B) CORRETA: paciente apresenta sinais de Bandl e Frommel os quais são sugestivos da iminência de rotura uterina, portanto, deve-se suspender medi- das que favoreçam a rotura, no caso, a ocitocina C) INCORRETA: paciente está na iminência de rotu- ra uterina, não apresenta distocia funcional D) INCORRETA: há indicação de cesárea, mas não há critério para desproporção céfalo-pélvica (já que não houve parada da dilatação nem da descida) Take-Home Message: • Principais fatores de risco para rotura uterina são antecedentes de rotura uterina e cicatriz uteri- na prévia. • Sinais de Brandl e Frommel são indicativos de imi- nência de rotura uterina e deixam abdome com as- pecto de ampulheta. QUESTÃO 16 Mulher de 35 anos de idade tenta engravidar há 12 me- ses. O casal foi investigado e constatou-se infertilidade por anovulação crônica. Ela encontra-se com sobrepeso e tem diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos. A conduta mais adequada, dentre as abaixo, é A) inseminação artificial. B) ooforoplastia em cunha. C) fertilização in vitro. D) indução de ovulação com letrozol. Resposta correta: Letra D A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é respon- sável por cerca de 80% dos casos de infertilidade ano- vulatória. Não há na literatura evidências suficientes para a definição do tratamento ideal da infertilidade na SOP, mas repete-se que deve ser iniciado por mudanças no estilo de vida, e frequentemente envolve a indução farmacológica da ovulação, em alguns casos as técni- cas de reprodução assistida e, em casos selecionados, o drilling ovariano laparoscópico. O racional para a recomendação de mudanças do estilo de vida às mulheres obesas inférteis com SOP encon- tra-se na hipótese de que a perda de peso é capaz de melhorar perfis hormonais e aumentar as chances de ovulação. Sugere-se que a diminuição do peso em 5% a 7% pode restaurar a regularidade menstrual, melhorar a resposta a indutores de ovulação e restituir a fertilidade. Assumindo-se a anovulação como a causa da infertili- dade na SOP, a indução da ovulação para o coito pro- gramado é considerada como primeira linha de abor- GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA28 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO dagem. Para tanto, são comumente utilizadas drogas antiestrogênicas (clomifeno), inibidores da aromatase (letrozol) ou gonadotrofinas (FSH), podendo-se com- binar a eles, em casos selecionados, drogas adjuvantes (metformina, Inositol, vitamina D etc). A inseminação intrauterina não pode ser uma opção terapêutica secundária na SOP, quando a gravidez não é atingida pelo coito programado. A FIV é considerada a última linha de tratamento da infertilidade por SOP, formalmente indicada às mulheres que não engravida- ram com a indução de ovulação para coito programa- do (ou, eventualmente, para inseminação intrauterina) ou, obviamente, quando existem outras causas de in- fertilidade, como comprometimento tubário ou infer- tilidade masculina. O drilling ovariano laparoscópico é uma técnica onde se faz uma ooforoplastia em cunha, com objetivo de re- duzir a quantidade dos cistos ovarianos e isso favorece o retorno à ovulação, aumentando as taxas de gestação. Não é mais uma técnica de uso rotineiro e suas princi- pais indicações são para a resistência aos indutores de ovulação e quando não há acesso à monitoração dos ci- clos induzidos ou quando as alternativas conservadoras não resultaram em gravidez. Vamos às alternativas: A) INCORRETA: técnicas de reprodução assistida não são a primeira linha de tratamento para inferti- lidade por anovulação crônica da SOP. B) INCORRETA: a ooforoplastia em cunha é uma técnica de exceção; apresenta maior morbidade que as outras técnicas, além de diminuir vida útil do ovário, pela redução da massa oocitária C) INCORRETA: como já dito na letra A, não é pri- meira linha de tratamento D) CORRETA: o uso de indutores da ovulação, como o letrozol (inibidor da aromatase), é a primeira li- nha de tratamento para infertilidade pela anovu- lação da SOP Take-Home Message: • SOP é a principal causa de infertilidade por anovu- lação crônica. • Tratamento de primeira linha para infertilidade pela SOP é a indução da ovulação com utilizadas drogas antiestrogênicas (clomifeno), inibidores da aroma- tase (letrozol) ou gonadotrofinas (FSH). • Terapia de reprodução assistida, assim como oorofo- plastia em cunha, são técnicas de exceção, na refra- tariedade ao tratamento clínico. QUESTÃO 17 Mulher de 42 anos de idade refere nódulo de mama esquerda de 2 centímetros há 3 meses. Foi à UBS e o médico tentou fazer uma punção e não veio líquido. A conduta indicada a seguir, dentre as abaixo, é: A) indicar mamotomia para retirada do nódulo. B) realizar ultrassonografia de mamas. C) realizar mamografia bilateral. D) indicarquadrantectomia e radioterapia. Resposta correta: Letra C Diante de nódulo mamário, deve-se proceder uma in- vestigação complementar, a priori, com exame de ima- gem (USG/mamografia) ou partir direto para punção aspirativa com agulha fina (PAAF). Tais abordagens completam o chamado teste triplo (exame clínico, ima- genológico e cito/histológico). A core biopsy e a ma- motomia são ferramentas para diagnóstico histológico e estudo de imuno-histoquímico. Podem ser feitas se PAAF positiva ou em lesões (palpáveis ou não) suspei- tas de malignidade. A decisão por qual método inicial de investigação por imagem deve levar em consideração alguns aspectos, tais como: idade da paciente, qual risco individual des- ta paciente para o câncer de mama, história familiar de câncer de mama, disponibilidade do método etc. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 29 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO A mamografia é o exame padrão para rastreamento (diagnóstico precoce) do câncer de mama, sendo méto- do preferido em pacientes acima de 40 anos. Para além de rastreamento, essa ferramenta diagnóstica deve ser utilizada para investigação, ou seja, quando há nódulos palpáveis. Nos casos onde há diminuição da sensibi- lidade mamográfica (mamas densas e pequenas) e/ou impossibilidade da caracterização das alterações como benignas ou malignas (BI-RADS 0), recomenda-se a complementação com outro exame, geralmente ultras- sonografia mamária bilateral. Em alguns casos, a resso- nância magnética pode ajudar, também. A core biopsy (biópsia por agulha grossa) costuma ser preferida em tumores maiores, onde se retira apenas uma pequena porção do tumor para avaliação histoló- gica. A mamotomia é preferida em tumores pequenos ou não palpáveis, como nas microcalcificações; nesta técnica, a biópsia é guiada pela mamografia ou, ainda, pela ultrassonografia. Vamos às alternativas: A) INCORRETA: por se tratar de um nódulo palpá- vel, o tipo de biópsia preferido é o por agulha grossa B) INCORRETA: a mamografia é o exame inicial e de escolha para essa paciente (já é maior de 40 anos, mamas menos jovens e densas) C) CORRETA D) INCORRETA: a decisão pelo tipo de tratamen- to vai depender do diagnóstico histológico des- se nódulo. Take-Home Message: • Nódulo palpável deve ser investigado com exame de imagem e biópsia dirigida; • Biópsia de agulha grossa para tumores maiores; • Mamotomia para tumores menores; • USG de mamas pode ser útil para complementar mamografia ou para mamas jovens e densas. QUESTÃO 18 Paciente de 35 anos apresenta diagnóstico de câncer do colo do útero com estadiamento IB1 (International Fe- deration of Gynecology and Obstetrics − FIGO). Para investigação de acometimento linfonoidal, dentre as opções abaixo, a mais indicada para este caso é A) tomografia por emissão de pósitrons combinada com tomografia computadorizada. B) ressonância magnética nuclear da pelve. C) ultrassonografia transretal. D) tomografia computadorizada de abdômen e pelve. Resposta correta: Letra A O estadiamento do câncer cervical é eminentemente clínico (exame físico), entretanto, novos estudos corro- boram a utilização de exames complementares de ima- gem (USG, TC, RNM, PET-CT etc) para avaliação de extensão tumoral. A realização de exames de imagem tem como vantagem a possibilidade de identificar in- formações adicionais úteis para determinação de fatores prognósticos os quais podem guiar na escolha do me- lhor tratamento; A RNM é o melhor para avaliação de tumores primários maiores de 10mm. Já para detecção de metástases linfonodais, a tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) é mais acurada que a tomografia e ressonância, apresentando taxa de falso negativos entre 4-15% dos casos. Vamos às alternativas A) CORRETA: a PET-CT é o exame de escolha para avaliação de metástase linfonodal. B) INCORRETA: apesar de ser um excelente método de imagem, perde para a PET-CT na acurácia. C) INCORRETA: a ultrassonografia tem se mostrado como excelente recurso nas mãos de médicos expe- rientes, entretanto não é o método de escolha. D) INCORRETA: a TC sozinha não é o melhor méto- do para avaliação de acometimento linfonodal. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA30 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Take-Home Message: • Estadiamento do câncer de colo uterino é principal- mente clínico; • RNM é melhor exame para avaliação de tumores > 10mm; • PET-CT é o melhor exame para avaliação de aco- metimento linfonodal. QUESTÃO 19 Uma mulher de 22 anos de idade procura atendimento ginecológico de rotina na UBS. Refere, que às vezes, apresenta sangramento após relação sexual. Não tem parceiro fixo, é nuligesta e utiliza contraceptivo hormo- nal combinado. Tem ciclos menstruais regulares. No exame especular, observa-se secreção mucopurulenta no colo uterino, em pequena quantidade. A passagem da espátula no colo causa sangramento. Nesse caso, en- tre as seguintes opções terapêuticas, a mais indicada é A) penicilina benzatina 1.200.000 UI IM dose única. B) doxiciclina 500 mg VO dose única. C) ciprofloxacina 500 mg VO 1 vez por dia por 14 dias. D) ceftriaxona 500 mg IM dose única mais azitromi- cina 1 g VO dose única. Resposta correta: Letra D A cervicite é a inflamação da mucosa endocervical (epi- télio colunar do colo uterino), geralmente, de causa in- feciosa (gonocócicas e ou não gonocócicas). A maioria dos casos de cervicites é assintomática, sendo descober- ta apenas durante a investigação diagnóstica. Os principais agentes etiológicos são Chlamydia tra- chomatis e Neisseria gonorrhoeae, entretanto, outros agentes podem estar presentes, tais como: Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealiticum e infecção secundária (bactérias anaeróbias e Gram-negativas). A sintomatologia inclui corrimento vaginal amarelo- -esverdeado com odor, associado a hiperemia vaginal e cervical. O colo, especificamente, assume uma carac- terística típica da infecção que é um eritema em fram- boesa, ficando friável, o que favorece sangramento pós relação, por exemplo. Caso não haja suporte de laboratório (sem identificação do agente etiológico), é indicado o tratamento de cla- mídia e gonorreia com azitromicina 1g, via oral (VO), dose única, e ceftriaxona 500mg, intramuscular (IM), dose única. Na possibilidade de realização de bacte- rioscopia (Gram), com visualização de diplococos in- tracelulares Gram-negativos, deve-se tratar gonorreia e clamídia conforme descrito acima (ceftriaxona 500mg, IM, dose única, e azitromicina 1g, VO, dose única); a presença de diplococos intracelulares Gram-negativos indica infecção por gonococo, mas não exclui a possi- bilidade de infecção por clamídia. Na ausência desses achados, deve-se tratar apenas clamídia com azitromi- cina 1g, VO, dose única. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 31 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Vamos às alternativas: A) INCORRETA: penicilina benzatina é direcionada para sífilis e na dosagem de 2,4miUI IM B) INCORRETA: paciente apresenta cervicite e a doxiciclina seria útil para algumas úlceras genitais, como o linfogranuloma venéreo. C) INCORRETA: o tratamento com ciprofloxacino na cervicite é feito em dose única D) CORRETA Take-Home Message: • Corrimento cervical mucopurulento com colo em framboesa deve pensar em cervicite. • Agentes etiológicos principais da cervicite são Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae. • Tratamento da cervicite é feito com azitromicina 1g + ceftriaxone 500mg IM. QUESTÃO 20 Mulher de 47 anos de idade, hígida, procurou atendi- mento com queixa de aumento do volume menstrual há cerca de um ano. Refere usar cerca de 10 absorventes ao dia e, por vezes, ocorrem vazamentos. O intervalo menstrual é de 40 a 50 dias. Ao exame, encontra-se descorada ++/4+, normotensa, hidratada e afebril. O exame ginecológico mostra útero de tamanho e consis- tência normais, anexos palpáveis e normais. Sem san- gramento no momento do exame. Exames subsidiários mostram hemoglobina de 9,8 g/dL, coagulogramanor- mal, citologia cervicovaginal normal, ultrassonografia pélvica normal. Esse quadro sugere sangramento uteri- no anormal de causa A) ovulatória. B) iatrogênica. C) não classificada. D) adenomiose. Resposta correta: Letra A GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA32 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO Sangramento uterino disfuncional é uma denominação utilizada àqueles que não apresentam causa orgânica subjacente, podendo ele ser anovulatório (80-90% dos casos) ou ovulatório (10-20%). Desta forma, amenor- reia, meno/metrorragia e sangramento irregulares são comuns a essas pacientes. O tratamento inclui AINEs, anticoncepcionais combinados, progestagênios isola- dos, agonistas do GnRH; além de agentes antifibrino- líticos (ácido tranexâmico). Mais raramente, pode-se empregar a embolização de artérias uterinas e até his- terectomia. O tratamento hormonal combinado apre- senta excelente reposta, pois ajuda a regularizar o ciclo, bem como a titulação hormonal, devendo ser emprega- do, sempre que possível. Na perimenopausa as alterações hormonais tornam-se mais intensas, gerando um encurtamento ou alonga- mento dos ciclos, além daqueles considerados normais. A maior parte dos ciclos são anovulatórios, podendo gerar sangramentos irregulares. Essa irregularidade também está relacionada com o hiperestímulo estro- gênico (hipertrofia e hiperplasia) sem contraposição da progesterona e quando, finalmente, ocorre um ci- clo ovulatório a progesterona antagoniza esses efeitos e quando da menstruação o volume de sangramento tende a ser maior do que o esperado. Vamos às alternativas: A) CORRETA: paciente está na perimenopausa, provavelmente com ciclos anovulatórios, logo o endométrio passa muito tempo sendo estimulado e quando ela tem ciclo ovulatório, na menstrua- ção, há maior tecido endometrial a ser descamado (maior sangramento). B) INCORRETA: a questão não aborda nenhuma inter- venção médica para que se pense em causa iatrogênica C) INCORRETA: é diagnóstico de exclusão e, nesse caso, o mais provável é que seja por disfunção ovulatória D) INCORRETA: na adenomiose se espera aumento do volume global do útero associado a intensa dis- menorreia o que não foi explicitado na questão Take-Home Message: • As causas de sangramento uterino anormal podem ser estruturais ou não estruturais. • A principal causa de sangramento na perimeno- pausa é por disfunção ovulatória, levando a ci- clos anovulatórios. PEDIATRIA | 33 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO QUESTÃO 21 Analise as seguintes assertivas e assinale V, se verdadei- ras, ou F, se falsas, em relação às orientações de pueri- cultura abaixo. ( ) A Posição supina é recomendada para recém-nasci- do dormir ( ) O andador é recomendado somente para lactentes com atraso desenvolvimento motor ( ) A exposição frente às telas digitais deve ser desenco- rajada para crianças menores de dois anos de idade. ( )Recém-nascido deve ser conduzido em automó- vel assento tipo bebê-conforto no banco de trás ins- talado frente para o painel do veículo. ( ) As roupas do recém-nascido devem ser lavadas com água sabão neutro, evitando-se o uso de sabão em pó e amaciante A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: A) V-F-V-F-V. B) F-V-F-F-F. C) V-F-V-V-V. D) F-V-F-V-F Resposta correta: Letra A Temos aqui uma questão que aborda diversos pontos das orientações de puericultura: posicionamento para dor- mir, tempo de tela, uso de andadores, transporte em ve- ículos e uso de sabão em pó. Como são recomendações objetivas e que cada tópico tem sua particularidade, vou abordaremos cada uma delas separadamente e, em segui- da, determinaremos a veracidade das alternativas. Afirmativa I: A Posição supina é recomendada para recém-nascido dormir Em relação às orientações de berço seguro, a posi- ção recomendada para o recém-nascido dormir é a posição supina, pois não aumenta o risco de aspira- ção,já que a anatomia das vias aéras nessa posição os protege. Dormir em posição supina pe uma das re- comendações de prevenção de morte súbita do lac- tente, assim como: deitar em uma superfície firme, não deixar objetos macios e roupas de cama solta no berço, cessar tabagismo passivo, não cobrir a cabeça do bebê e colocar o berço próximo à cama dos pais. Portanto, afirmativa I é verdadeira. Afirmativa II: O andador é recomendado somente para lactentes com atraso desenvolvimento motor Os andadores não são recomendados para nenhuma criança. Além de aumentarem o risco de acidentes como traumatismo crânio-encefálico, queimaduras, in- toxicações e afogamentos, não possuem nenhuma evi- dência científica de que estimulam o desenvolvimento dos lactentes. Na realidade, podem até atrasar o desen- volvimento, já que a criança gastará menos energia para andar do que se estivesse sem apoio. Portanto, afirmativa II é falsa Afirmativa III: A exposição frente às telas digitais deve ser desencorajada para crianças menores de dois anos de idade. Até os dois anos de idade é recomendado que se evite a exposição das crianãs às telas, mesmo que passivamen- te, pois é um momento de desenvolvimento cerebral importante. Nessa fase são estabelecidos todos os cir- cuitos sensoriais, além da produção de neurotransmis- sores e conexões sinápticas. Sendo assim imprescindível a interação com os pais e o mundo ao redor. A exposi- ção prolongada às telas está relacionado com atraso de fala e de linguagem e com distúrbios do sono. Portanto, afirmativa III está correta. Afirmativa IV: Recém-nascido deve ser conduzido em automóvel assento tipo bebê-conforto no banco de trás instalado frente para o painel do veículo. As orientações atuais para transporte seguro são: -<1 ano: bebê conforto de costas para banco dianteiro - 1 a 4 anos: cadeirinha, de frente para banco dianteiro - 4 a 10 anos com altura<1,45m: assento elevador com cinto de segurança de 3 pontos PEDIATRIA PEDIATRIA34 | 1º SIMULADO NACIONAL 2022 - R1 ACESSO DIRETO ->10 anos ou altura>1,45m: cinto de segurança de 3 pontos no banco traseiro ou dianteiro -Para transporte em garupa de moto, idade mínima de 10 anos Portanto, como a afirmativa coloca o uso do bebê-con- forto voltado para frente do veículo, a afirmativa é falsa Retirado do Manual da SBP de 2019 “O pediatra e a segurança dos ocupantes de veículos automotores” Afirmativa V: As roupas do recém-nascido devem ser lavadas com água sabão neutro, evitando-se o uso de sabão em pó e amaciante A pele do recém-nascido é mais fina, frágil e sensível que a do adulto, já que possui uma camada córnea mais fina e está se adaptando das mudanças do meio intrau- terino para o extrauterino. Assim, deve-se ter cuidados especiais com uso de produtos químicos em contato com a sua pele. É recomendado uso de sabonetes e pro- dutos com com pH neutro, que é o pH da pele do recém nascido, além de evitar o uso de produtos perfu- mados e irritativos, com sabão em pó e amaciante. Portanto, a afirmativa é verdadeira. Assim, a sequência correta é: V-F-V-F-V, que corres- ponde a alternativa A Take-Home Message: • A posição recomendada para o lactente dormir, no in- tuito de prevenir a morte súbita, é a posição supina. • O andador não auxilia no desenvolvimento da crian- ça e pode aumentar o risco de acidentes domésticos. • Os bebês devem ser transportados em bebê conforto voltado para o painel. A partir do momento que tiverem idade e peso para cadeirinha, podem ser transportados voltados para o painel do carro. • Não é recomendado exposição às telas aos menores de 2 anos. • Pela imaturidade da pele do bebê, é recomendado o uso de produtos neutros. QUESTÃO 22 Mãe amamentando seu filho de quatro meses exclusi- vamente no peito retornou ao trabalho. Foi orientada a retirar e guardar o seu leite para ser oferecido a seu filho enquanto estiver fora de casa. Analise as seguintes orientações dadas à mãe: I. O leite retirado da mama pode ser conservado em geladeira por até 12 horas e no freezer
Compartilhar