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AULA 6 - CAMPO E OBJETO DA INTERAÇÃO DIALOGAL

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PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO
CAMPO E OBJETO DA INTERAÇÃO DIALOGAL
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Olá!
Algumas premissas devem nortear a atuação do profissional de Comunicação na sua relação com o outro. Destas
premissas é que se desenvolvem técnicas ou metodologias. Explicando melhor, é preciso que, antes do método,
que representa o “como chegar”, seja definido o objetivo ou meta, isto é, “onde” desejamos chegar.
O que veremos nesta aula são algumas destas premissas e técnicas que devem nortear a atuação do comunicador
profissional.
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1- Identificar as premissas norteadoras da comunicação profissional;
2- Reconhecer os principais obstáculos à interatividade;
3- Verificar o modo como se dá a atribuição de causalidade.
1 Campo e objeto da interação
Vimos, em nossa última aula, algumas das técnicas facilitadoras da comunicação profissional. Toda técnica, no
entanto, é uma ferramenta que nos propicia atingir objetivos.
Estes objetivos são na verdade os aspectos que nortearão nossas ações. Se considerarmos as ações norteadoras
de um comunicador, veremos que estas devem estar pautadas em premissas éticas e comportamentais sobre as
quais O profissional irá desenvolver sua prática.
Vejamos a seguir algumas dessas premissas:
• O comunicador é um profissional.
Esta premissa, que aparentemente é óbvia, na verdade implica em certas posturas que com bastante frequência
são negligenciadas.
Ser um profissional significa que a pessoa está ali trabalhando para obter um resultado. Ela não está se
divertindo, nem ampliando seu círculo social. Ela deve evitar, na medida do possível, que sua tristeza ou alegria,
suas vitórias ou derrotas interfiram de modo evidente em sua atuação.
Quanto mais neutro o profissional conseguir ser em relação à sua atuação, melhor. A neutralidade inibe
alterações de humor que podem vir a agir de modo negativo na relação profissional.
O receptor precisa confiar que o comunicador é estável, seja em termos de condutas, seja em termos de valores.
Profissionais que não inibem seus sentimentos pessoais ficam sujeitos a variações que intranquilizam e,
principalmente, constroem relações baseadas na insegurança.
• O comunicador não é Deus.
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• O comunicador não é Deus.
Embora alguns ajam como se fossem, e muitos pensem que eles são.
Nada há de humilhante em não ter uma informação de cabeça ou não conhecer um autor.
Os comunicadores que se constrangem nestas situações tendem a tentar “enrolar” sua audiência e, se
descobertos, têm sua imagem mais prejudicada do que se afirmarem explicitamente seu desconhecimento.
Estes objetivos nos conduzem a linhas mestras de atuação: neutralidade e acessibilidade.
Vejamos, portanto, as principais metodologias voltadas para cada um deles.
• Neutralidade
Implica na construção de um personagem que não pode ser distante o bastante de modo a ser inacessível, nem
íntimo demais de modo a estimular ou possibilitar transferências.
Assim como um ator “incorpora” uma personalidade ao entrar no palco, também o comunicador pode se
beneficiar deste artifício. Protege-o de variações emocionais e transmite ao seu “público” sempre a sensação de
estabilidade emocional.
Qualquer demonstração de afeto deslocado do contexto profissional, seja positivo ou negativo, deve ser avaliada
como um processo transferencial.
Ou seja, pessoas tendem a movimentos de sedução ou de agressão frente a situações de exposição e, se exibem
raiva ou interesse, não devem ser encarados como possuidores de sentimentos legítimos, mas como efetuando
seus processos transferenciais.
Assim, cada profissional pode resolver segundo cada situação específica: ignorar, conversar ou simplesmente
“cortar” a situação.
• Acessibilidade
Propicia uma identificação e neutraliza certos excessos de neutralidade. Funciona como um filtro que regula as
trocas afetivas sem pessoalizá-las.
Desta forma, a relação não se torna fria e impessoal, isto é, todos têm mais ou menos a sensação de possuírem
uma relação afetiva positiva com o comunicador. No entanto, estas trocas permanecem restritas aos contextos
profissionais.
A acessibilidade possibilita a formação do vínculo, visto que o comunicador não é sentido como uma entidade
fora da realidade, mas como alguém que possui atributos capazes de serem identificados com os de sua
audiência.
Estes objetivos estão de fato intrinsecamente relacionados. A neutralidade retém a relação ao contexto
profissional e a acessibilidade, por sua vez, cria a identidade necessária ao empático.rapport
Rapport é o vínculo necessário a qualquer boa comunicação. Antes de iniciar qualquer emissão de mensagem é
preciso certificar-se que estabeleceu um positivo através da identificação dos sistemasrapport 
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representacionais. O que isto significa é que o comunicador e o ouvinte, são pessoas diferentes e, portanto,
funcionam sob dois sistemas representacionais distintos. Uma mensagem que para o comunicador tem certo
objetivo ou significação, pode ser captada pelo ouvinte de modo absolutamente diverso.
2 Obstáculos à interatividade
Quando não conseguimos estabelecer estas condições de identidade e receptividade, é natural que o processo
comunicativo sofra resistências a partir de obstáculos psicológicos e/ou comunicacionais.
Uma comunicação falha ou distorcida invariavelmente conduz a análises ou interpretações equivocadas ou
tendenciosas. É importante frisar que, ao contrário do que pode parecer em uma avaliação mais superficial,
grande parte dos equívocos comunicacionais não é originada por má-fé ou preconceitos, mas sim por uma
perspectiva produzida por uma percepção tendenciada.
Vamos explicar isso melhor. Dependendo do modo como me coloco frente a uma questão, minha observação
deste fato irá refletir o ângulo de meu posicionamento.
Da mesma forma, o modo como compreendo um fato dependerá também de uma série de aspectos que vão
desde os conceitos que tenho acerca dos objetos envolvidos no fato até o conhecimento que disponho para
analisá-lo.
Fundamentalmente, temos interferências dos fatores e modos como associamos as coisas entre si. Isto é, o modo
como estabelecemos relações de causa e efeito. Já falamos sobre esta relação na aula passada e vimos que ela é a
maior responsável pela forma como explicamos as coisas.
O que veremos a seguir é exatamente o processo pelo qual isso ocorre. O modo como as pessoas atribuem causas
a efeitos.
3 Atribuição de casualidade e distorção perceptiva
Atribuir causa representa posicionar os objetos envolvidos em uma relação em termos de causa e efeito. Isto é,
afirmar que é provocado por , ou que provoca .X P P X
Quando atribuímos causa e efeito, damos um sentido organizacional às ações ou eventos, o que irá se
transformar em nossa principal forma de organização psicológica, visto que através desta disposição somos
capazes de compreender a realidade como algo lógico e coerente.
O sentido decorrente da relação de causalidade chama-se de nexo causal e está calcado em um vetor imaginário
que diferencia a fonte causal de seu efeito. Ao fazê-lo, determina a (o caminho que a açãodireção da ação 
efetua: se de A para B ou de B para A). Vejamos um exemplo:
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Neste exemplo, P será a fonte causal da ação em função do nexo causal nos indicar que a direção da ação ocorreu
de João para Maria.
A construção destes nexos causais só é possível porque certas características do mundo e das pessoas são
estáveis.
O conceito de dar implica sempre em um mesmo tipo de ação, e o de objeto implica sempre em algo inanimado e,
portanto, sem condições de interferir na construção do nexo.
As características invariáveis da realidade, denominamos de propriedades disposicionais. São elas que nos
permitem perceber o mundo sempre de modo estável e organizado, o que, em termos técnicos, chamamos de
fazer as coordenações (que são as constâncias perceptivas da realidade).
As propriedades disposicionais (do objeto percebido) e as consequentes coordenações(efetuadas pelo
percebedor) constroem em nós (percebedores) uma imagem estável do objeto, o modo como nós o encaramos. A
esta imagem chamamos de .percepto
Desta maneira, o percepto que possuímos de um objeto influencia na construção do nexo causal de uma situação
na qual o objeto estiver envolvido.
Vamos ao exemplo:
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Se percebo (tenho um percepto de) José como violento e sei que Paulo brigou com José, provavelmente o sentido
que darei àquela situação será:
Ou seja, José deu início à briga através de agressão ou provocação.
Portanto, José será percebido como fonte causal da ação, em função de meu percepto dele, e não de uma
avaliação isenta sobre a situação.
Assim, o modo como atribuímos a causalidade de um efeito está relacionado aos perceptos envolvidos no evento.
Ocorre que, como vimos, isso pode facilmente tendenciar uma atribuição de causalidade e, portanto, induzir a
um erro de avaliação.
4 Reduzindo a interferência
Para reduzir a interferência, alguns cuidados podem e devem ser tomados.
O primeiro deles refere-se a diferenciarmos as atribuições de causalidade em:
Pessoais, quando há intenção do agente em produzir o efeito;
Como no exemplo da imagem, onde duas pessoas propositalmente colocam fogo no mato.
Impessoais, quando o efeito é decorrente do ambiente e/ou sem intenção do agente. Como no exemplo da
imagem, onde o dono do balão sabia do risco mas não tinha a intenção de causar um incêndio.
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5 Atribuições pessoais
Dentre as atribuições pessoais, ainda podemos produzir subdivisões que correspondem aos níveis nos quais o
percebedor infere a responsabilidade do agente sobre o efeito.
Vejamos os principais:
• Associação: 
considerado o nível mais primitivo de atribuição de causalidade. Nele, o sujeito é considerado
responsável por um efeito que, de qualquer modo, seja a ele relacionado pelo observador. Por mais
espúria que seja esta relação, como por exemplo, a proximidade.
Ex.: Antônio é considerado responsável por um barulho que veio de sua direção.
• Engajamento: 
Engajamento: o sujeito é considerado causa de qualquer evento produzido por uma ação pessoal sua,
independentemente da existência de intenção para o efeito.
Ex.: Sérgio é considerado responsável pelo fato de ter acordado um bebê ao ligar para a casa de um
amigo.
• Previsibilidade:
Previsibilidade: o sujeito é considerado causa de um evento ao qual, apesar de estar engajado, isto é,
sem intenção, possuía as condições necessárias para prever o efeito e, portanto, preveni-lo.
Ex.: uma criança que é responsabilizada por quebrar uma jarra ao jogar bola na sala.
• Intencionalidade:
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Intencionalidade: nível considerado como de atribuição de causalidade pessoal plena. O sujeito tem a
intenção consciente de produzir um dado efeito e se utiliza do conjunto de seus atributos disponíveis
para tal.
Ex.: Jorge é considerado responsável por ter perseguido, capturado, dominado e matado um gato.
Não parece difícil perceber que grande parte destes aspectos citados ocorre em função da lógica discursiva que
estabelecemos. Assim, vamos passar ao processo pelo qual estabelecemos esta lógica interna do discurso.
6 A lógica do discurso
Em nossas relações com os estímulos físicos e sociais que nos cercam, procuramos alcançar um estado de
equilíbrio entre os dados da realidade.
Estado este que nos conduza a uma lógica organizacional pela qual nos referenciamos.
Em outras palavras, as pessoas buscam, de uma forma ou de outra, adequar-se. Seja aos outros, seja às situações,
seja aos eventos aos quais se vêm expostas. Desta adequação depende inclusive nosso próprio equilíbrio
psicológico, visto que esta organização lógica da realidade é que dá sentido às coisas.
• Elementos entrosados
Vejamos, por exemplo, afirmativas nas quais os elementos se entrosam:
Pedro discorda de seu opositor político.
Os padres acreditam na existência de Deus.
Podemos notar nessas sentenças que há uma lógica de organização do pensamento que nos possibilita dar
sentido às frases. Este sentido só é possível pela relação que fazemos entre os diferentes elementos agrupados.
• Elementos não entrosados
Vejamos agora frases nas quais os elementos não se entrosam:
Arnaldo sempre vota no candidato do partido ao qual se opõe.
Claudio e Henrique são amigos muito ligados. Não concordam em absolutamente nada.
Nessas sentenças, verificamos que a relação entre os elementos não nos possibilita um sentido lógico de análise
da situação. Ou seja, eles não têm lógica.
7 Lógica pessoal
Lógica é um sistema de ordenação do mundo. As pessoas estabelecem uma lógica pessoal para harmonizar suas
vivências, e o modo pelo qual fazem isso depende de sua capacidade de discernir de forma mais ou menos
complexa as representações sociais.
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Na criança, em que esse discernimento é imaturo, a associação de conceitos se dá também de modo primitivo:
“pessoa bonita é boa”, “pessoa feia é má”.
No adulto, em que já existem representações mais complexas, os paradoxos cognitivos são mais bem
administrados, como por exemplo: “Posso respeitar algo do qual não gosto ou não concordo”.
Mesmo no adulto, entretanto, por um fenômeno de “homogeneidade emocional”, é muito mais coerente para a
pessoa gostar do que respeita e vice-versa.
8 Consistência cognitiva
É o processo pelo qual as pessoas administram os paradoxos para que estes não sejam sentidos de modo ilógico.
Sua função é, portanto, buscar a harmonia entre as diversas cognições que compõem uma vivência.
Assim, por exemplo, como administramos o paradoxo de respeitar algo com o qual não concordamos?
“Não concordo com seu ponto de vista, mas o respeito porque sei ser democrático”.
Como agradar uma pessoa da qual não gostamos?
“Não gosto dele, mas sei ser educado”.
Como vemos, portanto, a consistência cognitiva depende da capacidade de produzir uma argumentação
conceitual lógica que administre os paradoxos entre os elementos cognitivos que se relacionam entre si.
Em outras palavras, a harmonia entre os elementos depende do tipo de relação que fazemos entre eles.
Formas pelas quais estabelecemos relações entre as cognições
São duas as formas pelas quais estabelecemos relações entre nossas cognições. São divididas em relações 
 e relações .relevantes irrelevantes
Saber, por exemplo, que o carro A é melhor que o carro B é irrelevante se não pretendo comprar um carro ou
não tenho maior interesse sobre este aspecto.
Se, no entanto, sei disso na hora de comprar um carro, estas cognições se transformarão em relevantes.
A consistência se dará se comprar o carro A. Se não tiver dinheiro suficiente para comprar o carro melhor e
acabar por comprar B, sabendo que o outro é melhor, me sentirei em (incoerente com o que sei,dissonância
com a lógica).
9 Dissonância Cognitiva
A dissonância cognitiva, oposta à consistência, será representada pela não coerência, pela não harmonia entre os
elementos. Ela ocorre quando:
1) As cognições são relevantes entre si;
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2) Quando a negação de um elemento leva necessariamente ao outro.
Por exemplo: X e Y são dissonantes se a não opção por X obriga a opção por Y.
A dissonância necessita ser eliminada para que se restabeleça a consistência.
Se isso não ocorrer e a dissonância se sustentar, produzirá frustração, arrependimento e desequilíbrio.
Ex.: “Escolhi a pior alternativa, a que menos me satisfaria”.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• o conceito de motivação;
• estímulos à comunicação.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• identificou as premissas norteadoras da comunicação profissional;
• entendeu os principais obstáculos à interatividade;
• aprendeu os conceitos de consistência e dissonância cognitiva;
• analisou o modo pelo qual as pessoas atribuem causas a eventos.
Referências
ASHWORTH, P. D. . New York: Wiley and Sons, 1979.Social interaction and consciousness
BANDLER, R. Rio de Janeiro: LTC, 1977.A estrutura da magia. 
COLETA, J. A. D. .Rio de Janeiro: FGV, 1982.Atribuição de causalidade
Saiba mais
Leia o capítulo 2:
Imprensa e educação ambiental: um estudo sobre a contribuição do jornal, de Maria Cristina
Vinãs Gomes da Silva, no livro , de Beatriz DornellesMídia, imprensa e novas tecnologias
(org.), da EDIPUCRS. Disponível . Acesso em 5 mar. 2013.aqui
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https://books.google.com.br/books?id=6Oh4XaY_3sAC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r#v=onepage&q&f=false
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HEIDER, F. . São Paulo: Universidade de São Paulo, 1970.Psicologia das relações interpessoais
Holland, R. . Rio de Janeiro: Zahar, 1979.Eu e o contexto cocial
LUCAS, Luciane. . São Paulo: Summus, 2002.Desafios contemporâneos em Comunicação
MELO, J. Marques de. . São Paulo: Vozes, 2008.O campo da Comunicação no Brasil
PIGNATARI, Decio. . Cotia: Ateliê Editorial, 2002.Informação, linguagem e comunicação
RODRIGUES, A.; ASSMAR, Eveline M. L. Influência social, atribuição de causalidade e julgamentos de
. NIEPED/UFRGS. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(1), pp. 191-201. Disponível responsabilidade e justiça
. Acesso em 5 mar. 2013.aqui
https://www.scielo.br/pdf/prc/v16n1/16811.pdf
	Olá!
	1 Campo e objeto da interação
	2 Obstáculos à interatividade
	3 Atribuição de casualidade e distorção perceptiva
	4 Reduzindo a interferência
	5 Atribuições pessoais
	Associação:
	Engajamento:
	Previsibilidade:
	Intencionalidade:
	6 A lógica do discurso
	7 Lógica pessoal
	8 Consistência cognitiva
	9 Dissonância Cognitiva
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO
	Referências

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