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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Transporte Vesicular ................................................ 5 3. Vias Secretoras .........................................................15 4. Vias Endocíticas .......................................................22 5. Funcionamento dos Endossomos .....................27 6. Funcionamento dos Lisossomos .......................29 7. Revisão ........................................................................32 8. EXTRA: Vesículas Sinápticas ..............................34 Referências Bibliográficas ........................................36 3VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA 1. INTRODUÇÃO As membranas celulares são ca- madas seletivamente permeáveis e, como tal, são capazes de regular o transporte da maior parte das mo- léculas que permeiam entre o cito- plasma e o meio extracelular. Através da membrana plasmática, solutos e pequenas moléculas conseguem fa- cilmente ser transportados, uma vez que são difundidos de forma livre pela bicamada lipídica ou têm seu deslocamento facilitado por proteí- nas carreadoras. Contudo, para um transporte em larga quantidade e es- cala, esses mecanismos não são sufi- cientes. Por isso, a célula utiliza-se de seus compartimentos membranosos para formar pequenos sacos, que são as vesículas. O tráfego de vesículas representa uma das principais rotas de entrada (endocitose) e saída (exo- citose) de grandes volumes de mate- rial de uma célula. Normalmente, a rota do transpor- te vesicular secretor inicia-se pela produção de proteínas ou lipídios no Retículo Endoplasmático (RE) e, por meio do contínuo brotamento e fusão de vesículas, o destino final é o Apa- relho de Golgi (AG). Lá, muitas dessas moléculas sofrem diversos tipos de modificações em suas estruturas quí- micas, como a adição de carboidratos em suas cadeias (glicosilação) e a for- mação de pontes dissulfídicas (que estabilizam a estrutura proteica). Ain- da nessa organela, esses compostos são empacotados e podem ser dire- cionados aos lisossomos, à membra- na plasmática ou ao meio externo por meio das vesículas secretoras. Lisossomo Endossomo tardio Vesícula endocítica Endossomo primário Endossomo de reciclagem Envelope nuclear Retículo endoplasmático Vesícula Secretora Cisternas Aparelho de Golgi Membrana plasmática CITOSOL ESPAÇO EXTRACELULAR Figura 1. Vias de Transporte Celular Seta azul – vias de recuperação Seta vermelha – via secretora Seta verde – via endocítica Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecu- lar da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 4VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA MODELO DE MATURAÇÃO DAS CISTERNAS MODELO DE TRANSPORTE VESICULAR Agrupamento tubular de vesículaRE Proteínas de matriz TGNCGN Média cis trans Cisternas O aparelho de Golgi é uma estrutu- ra formada pela conjugação de sacos (vesículas) e membranas (cisternas) achatadas que se organizam de ma- neira empilhada entre si. Essa orga- nela normalmente está situada pró- ximo ao núcleo, apresenta tamanho variado e tem como principal função a formação de vesículas de transpor- te. O AG apresenta duas faces: uma cis, voltada para o Retículo Endoplas- mático, e uma trans, voltada para a membrana plasmática. As vesículas vindas do RE fusionam com a mem- brana da face cis do AG, enquanto as vesículas que saem do AG são formadas em sua face trans. Há uma grande discussão na comu- nidade científica quanto ao surgimen- to e à origem das cisternas do Golgi, mas ainda não há nada definido. Exis- tem, no entanto, duas teorias: • A do modelo de transporte ve- sicular, que afirma que o Golgi é formado pela recepção e junção de vesículas advindas do RE (ganha membrana pela face cis e cede pela face trans); e • A da transitoriedade das cister- nas de Golgi, como em uma ma- turação (o que era em algum mo- mento a face cis do Golgi, se torna a face cis do Golgi intermediário e depois vira a cisterna trans etc., como se fossem degraus de uma escada rolante). Há ainda uma terceira corrente cientí- fica que diz que o Golgi é um sistema transitório, em que as cisternas vão se transformando umas nas outras, mas também sofrem a influência do tráfego vesicular (além de contribuí- rem para o mesmo). Figura 2. Teorias do Surgimento do Aparelho de Golgi Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 5VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA CITOSOL PEROXISSOMOS MITOCÔNDRIAS GOLGI RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO PLASTÍDIOS NÚCLEO ENDOSSOMO TARDIO VESÍCULAS SECRETORAS LISOSSOMO ENDOSSOMO PRIMÁRIO EXTERIOR DA CÉLULA Existem duas rotas principais na via biossintética-secretora, a anteró- grada e a retrógrada. A anterógrada consiste na produção das proteínas no RE com posterior direcionamento da vesícula à membrana plasmática ou a algum endossomo, enquanto a retrógrada consiste no retorno das proteínas do Aparelho de Golgi ao Retículo Endoplasmático. A contramão da rota secretora é a via endocítica, que se caracteriza pela ingestão de material através de uma invaginação da membrana plasmática para o interior da célula, formando uma vesícula endocítica. Comumente, essa captação de mate- rial líquido (pinocitose) ou sólido (fago- citose), através dos endossomos, tem como destino os lisossomos, onde serão digeridos e terão seus subpro- dutos liberados para o citoplasma. HORA DA REVISÃO! A formação dos lisossomos requer uma série de etapas diferentes de amadureci- mento dos endossomos. De forma geral, o endossomo jovem recebe hidrolases ácidas (enzimas) vindas do Aparelho de Golgi (AG), o que leva ao seu amadureci- mento (forma o endolisossomo). Figura 3. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 2. TRANSPORTE VESICULAR Cada um dos compartimentos intra- celulares membranares delimitam um espaço interno (ou lúmen) que é to- pologicamente equivalente ao meio extracelular. Frequentemente, esses compartimentos e o meio externo comunicam-se entre si por meio do transporte vesicular. De dentro para 6VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA fora, existem as vias secretórias, as quais transportam moléculas do retí- culo endoplasmático, passando pelo aparelho de Golgi, até a membrana plasmática ou (por meio dos endos- somos) aos lisossomos. De fora para dentro, temos as vias endocíticas, nas quais fluidos ou macromoléculas são interiorizados por meio de vesí- culas derivadas da membrana plas- mática e, então, direcionados aos en- dossomos iniciais, tardios e, por fim, aos lisossomos. Fonte: Molécula carregada Membrana plasmática Envelope Nuclear Endossomo LisossomoRE Rugoso Vesícula Secretora Aparelho de Golgi Membrana nuclear interna Membrana nuclear externa Núcleo Figura 4. Equivalências Topológicas da Célula. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célu- la. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. SAIBA MAIS! De acordo com certas teorias da evolução, determinadas células procarióticas ancestrais te- riam sofrido uma invaginação da membrana plasmática em direção ao seu genoma celular, encobrindo-o de forma a circundá-lo (atual carioteca). A partir daí, o retículo endoplasmático teria se desenvolvido por uma evaginação da carioteca - um processo de dentro para fora, que teria dado origem às atuais organelas membranosas das nossas células. Geralmente, duas estruturas são ne- cessárias para a formação das vesí- culas: os receptores específicos de proteínas e as proteínas de recobri- mento (formadoras da capa proteica). As membranas não são capazes de formar vesículas sozinhas – uma pro- teína auxiliadora é necessária para distorcer a estrutura da membrana biológica de modo que promova a evaginação. 7VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SE LIGA! Normalmente, as vesículas que brotam das estruturas membrano- sasda célula apresentam uma capa pro- teica em sua face citosólica. Após esse brotamento, contudo, esse revestimento proteico é perdido, o que viabiliza a in- teração das vesículas com a membrana que irá se fusionar. Existem 3 tipos principais de proteí- nas de recobrimento: • Clatrina: participa da formação de vesículas na face trans contendo hidrolases ácidas para encaminha- mento a endossomos (via anteró- grada) e da formação de vesícula endocítica na MP. • COP I (overcoat protein I): partici- pa da via retrógrada (Golgi Cis → RE). • COP II (overcoat protein II): par- ticipa da via anterógrada secreto- ra (RE → Golgi Trans - Membrana Plasmática). Fonte: LEGENDA Clatrina COP I COP II Endossomo tardio Endossomo Primário Vesícula secretora Cisterna de Golgi Rede trans de Golgi Aparelho de Golgi ESPAÇO EXTRACELULAR CITOSOL Membrana Plasmática Figura 5. Atuação das Proteínas de Revestimento. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 8VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SAIBA MAIS! A clatrina apresenta formato característico nomeado pelos pesquisadores como “triskelion”. O triskelion é um símbolo cujo formato remete ao da clatrina. Cadeias pesadas Cadeias leves Golgi → Endossomo Tardio) quan- to na via endocítica, e seu processo de formação depende da montagem dessas moléculas em uma rede em forma de cesta na superfície citosóli- ca das membranas celulares. Figura 6. Triskelion. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. Dentre esses variados tipos de ca- pas proteicas, destacam-se aqueles constituídos pela proteína clatrina. As vesículas revestidas por clatrina podem ser formadas tanto na via secretória (no sentido Complexo de SAIBA MAIS! Essas vesículas são menores e mais densas do que as formadas por COP I ou COP II, e for- mam uma esfera semelhante a uma bola de golfe. 9VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA A captura das moléculas para o empacotamento, contudo, é realiza- do por uma uma classe de proteínas adaptadoras - no caso do revesti- mento por clatrina, as adaptadoras em questão são as chamadas “adap- tinas”. Essas proteínas selecionam os produtos a serem transportados através do aprisionamento dos re- ceptores específicos ao tipo da mo- lécula que deve ser empacotada. Desse modo, um conjunto específico de moléculas de carga são acumula- das no lúmen de cada vesícula. Após se ligarem a esses receptores, as adaptinas recrutam as clatrinas que, à medida que vão se agregando e formando ligações, vão deforman- do a membrana da organela. Quando o broto vesicular é forma- do (estrutura similar a uma vesícula, mas que permanece ligada à mem- brana lipídica pelo “pescoço”), entra a atuação de uma proteína chamada “dinamina”, que associa-se como um anel ao redor dessas fossas in- vaginadas e promove constrição. Quando as membranas de cada lado do “pescoço” lipídico ficam suficien- temente próximas, a vesícula é libe- rada no citosol pela propriedade de auto selagem das membranas biológicas. SE LIGA! Após o brotamento das vesí- culas estar completo, suas proteínas de revestimento são removidas, de modo que ela se torne capaz de se fusionar com a sua membrana-alvo. Fonte: Figura 7. Estrutura do Revestimento por Clatrina. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 10VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Membrana doadora Receptor de carga Proteína adaptadora Tríscele de Clatrina Membrana de vesícula revestida Proteína adaptadora Vesícula de transporte nua CITOSOL Proteínas de curvatura da membrana e de fissãoMoléculas-carga MONTAGEM DO REVESTIMENTO E SELEÇÃO DE CARGA FORMAÇÃO DO BROTO FORMAÇÃO DA VESÍCULA PERDA DO REVESTIMENTO Para que a capa de clatrina seja libe- rada da vesícula de forma a permitir que ela se funda com sua membrana alvo, um processo ativo (com gasto de energia) deve acontecer. Por isso, anteriormente à formação do broto vesicular, uma proteína Rho chamada ARF I - GDP é mantida no seu esta- do inativo ligado ao GDP. Ao formar o broto, o ARF tem o seu GDP trocado por GTP mediante ação da proteína fator GEF chamada ARF-GEF (não é uma fosforilação). Esse ARF-GTP, agora ativo, participa da formação do broto ao se conectar com um adap- tador para ajudar no processo. Após formação da vesícula, o mecanismo de desmonte da capa é a hidrólise do GTP ligada ao ARF I, que cede a energia para que a capa seja desmon- tada. Finalmente, com a remoção da capa, a membrana está pronta para ser entregue, faltando apenas fazer a vesícula ir para o destino correto. Hélice de dinamina e proteínas associadas Figura 8. Ação da Dinamina. Fonte: Alberts, B.; John- son, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. Figura 9. Revestimento por Clatrina. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 11VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Sar1-GDP inativa e insolúvel Hélice anfifílica Sar1-GTP ativa e ligada à membrana Sar1-GEF CITOSOL LÚMEN DO RE Membrana doadora (RE) Receptor de carga Carga Membrana do RE Sar1-GTP SEC23SEC24 GDP GDP GTP GTP GTP SE LIGA! as proteínas da classe GEF (guanine exchange factor) são res- ponsáveis por fazer a ativação de di- versas outras proteínas mediante troca da molécula de GDP (guanina difosfa- to) por uma molécula de GTP (guanina trifosfato). No esquema da COP II, outra proteína Rho atua na montagem da capa no lu- gar de ARF I - é a Sar-I-GDP, que se encontra solúvel no citoplasma. Em seu estado solúvel, a região anfipáti- ca em forma de hélice da proteína fica escondida dentro dela própria (glóbu- lo). Uma proteína fator GEF chama- da Sar-I-GEF troca o GDP por GTP modifica a estrutura tridimensional do glóbulo, que passa a expor a hélice an- fipática. A parte hidrofóbica da alfa hé- lice anfipática vai se inserir no interior da membrana, introduzindo a Sar-I- -GTP na bicamada lipídica. A partir daí, ela começa a recrutar as proteí- nas que compõem o revestimento do tipo COP - inicialmente a SEC23 e a SEC24. A SEC23 reconhece a estru- tura do Sar-I-GTP, que então recruta a SEC24 (o qual, por sua vez, reconhece o receptor de carga). SE LIGA! As proteínas SEC23 e SEC24 servem como adaptadores - apresen- tam ação semelhante à das adaptinas com a clatrina! Figura 10. Fase Inicial da Montagem por COP. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. Essas primeiras SEC vão cha- mar outras duas SEC (13 e 31), o que promove, por fim, a distorção da membrana para formar o broto vesicular por COP II. A vesícula final vai se destacar da organela também através da atuação da dinamina. 12VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Vesícula revestida por COP II SEC13/31 SEC23/24 Revestimento externo Revestimento interno membrana selecionadas Sar1-GTP Proteínas de Membrana doadora SE LIGA! Para desmonte do revesti- mento proteico da vesícula, novamente a capa de recobrimento deverá ser se- parada mediante processo com gasto de energia, o que ocorre mediante hidró- lise do SAR-I-GTP. A vesícula de transporte liberada de um compartimento membranoso é direcionada para o seu destino final, na maioria das vezes, por proteínas motoras do citoesqueleto. Antes de se fundir com a membrana-alvo e li- berar seu conteúdo, entretanto, essa vesícula precisa identificar e se fixar em seu alvo. Esse processo de reco- nhecimento depende de uma clas- se de proteínas chamadas de “pro- teínas RAB”. As proteínas RAB estão presen- tes na superfície da vesícula de Figura 11. Finalização da Capa de Revestimento por COP II. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. transporte e são prontamente iden- tificadas porproteínas de aprisio- namento situadas na face citosólica da membrana-alvo. Cada tipo de or- ganela e de vesícula possuem um conjunto próprio de RAB e, por isso, esse processo tem um elevado grau de especificidade. 13VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Membrana alvo Complexo trans-SNARE APRISIONAMENTO ANCORAGEM FUSÃO Rab-GDP Rab-GTP Efetor de Rab (Proteína de aprisionamento) t-SNARE CITOSOL Receptor de Carga Carga v-SNARE SAIBA MAIS! As RAB são um tipo de proteína Rho. Elas são incorporadas durante a formação do broto e, após o desmonte da capa proteica de revestimento, continuam ligadas à vesícula. Também apresentam sua forma inativa ligada ao GDP e, mediante ação da RAB-GEF, têm seu GDP trocado pelo GTP e ficam ativadas. É nesse estado que as RAB se associam às membranas. Um reconhecimento complementar é realizado por uma classe de proteínas transmembrana denominas de SNA- RE. Quando as proteínas de apri- sionamento firmemente retêm sua proteína RAB correspondente, as SNARE da vesícula (v-SNARE) inte- ragem com as SNARE da membra- na-alvo (t-SNARE) por meio de um forte entrelaçamento. Figura 12. Atuação das Proteínas RAB. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. A fusão entre as membranas, con- tudo, requer uma aproximação ainda maior para que os lipídios das bica- madas possam se misturar. As pró- prias SNARE apresentam um im- portante papel nesse mecanismo, através de seu enroscamento após a fase de ancoragem da vesícula trans- portadora. Com o enrolamento das v-SNARE e t-SNARE, há a geração de uma força que empurra as mo- léculas de água entre as vesículas 14VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA e permite a união entre as bicamadas lipídicas (auto selagem). Com isso, há a fusão entre a vesícula e seu v-SNARE t-SNARE H2O Folheto citosólicos FORMAÇÃO DA HASTE Folhetos não-citosólicos HEMIFUSÃO FUSÃO compartimento-alvo, o que, por fim, promove a liberação da carga trans- portada para o seu destino. Figura 13. Auto-selagem mediada pelas proteínas SNARE. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. A maioria das proteínas SNARE nas células já participou de múltiplas fusões de vesículas no transpor- te vesicular e, algumas vezes, estão presentes na bicamada lipídica das organelas membranosas como com- plexos estáveis com outras SNARE parceiras. Esses complexos devem ser desmontados antes que as SNARE possam mediar novas fu- sões, muitas vezes desnecessárias. É aí que entre a atuação de uma pro- teína crucial, chamada de NSF, que alterna-se entre as membranas e o citosol e catalisa o processo de desmonte (inativação) das SNARE. SE LIGA! A necessidade da reativação das SNAREs mediada por NSF pela desmontagem dos complexos de SNA- REs ajuda a evitar que as membranas se fundam indiscriminadamente. 15VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA CITOSOL Membrana Plasmática Exocitose SAIBA MAIS! A comunidade científica ainda não descobriu como a atividade da NSF é controlada de forma que as SNARE sejam ativadas com localidade e temporalidade corretas. Também não se sabe como as v-SNARE são seletivamente recuperadas e devolvidas ao seu compartimento de origem de forma a serem reutilizadas em novas vesículas transportadoras. 3. VIAS SECRETORAS O tráfego de vesículas não é limi- tado ao interior das células, mas se estende para além e a partir da membrana plasmática. Biomoléculas (proteínas, lipídios e carboidratos) es- tão frequentemente sendo distribuídas Ancoragem Fusão Dissociação de SNARE NSF Proteínas acessórias Complexo trans-SNARE v-SNARE t-SNARE ADPATP Pi+ Figura 14. Regulação da inativação das proteínas SNARE pela NSF. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biolo- gia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. entre as organelas membranosas até a superfície celular através do trans- porte vesicular. Essas vesículas, então, se fundem à membrana plasmática e liberam seu conteúdo para o am- biente extracelular, em um processo denominado de exocitose. Figura 15. Exocitose. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 16VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA O movimento de saída de material começa no retículo, que produz tan- to moléculas lipídicas (pelo retículo endoplasmático liso) quanto protei- cas (pelo retículo endoplasmático ru- goso). A maioria das proteínas que percorrem o RE (retículo endoplas- mático) sofre algum tipo de altera- ção química em seu trajeto, e dentre elas destacam-se: • Pontes dissulfídicas: Formadas como consequência da oxidação de pares de cadeias laterais de cisteínas. O objetivo delas é contri- buir na estabilização da estrutura de proteínas que podem lidar com modificações de pH e com enzimas catalíticas no exterior da célula. • Glicosilação: Processo caracteri- zado pela adição de oligossaca- rídeos na estrutura polipeptídica, originando as glicoproteínas. Tais sacarídeos possuem uma larga contribuição na proteção da prote- ína contra a degradação e na sua retenção no RE até seu processo de enovelamento, além de funcio- nar como um sinal para o empaco- tamento das proteínas em vesícu- las transportadoras. Se expostos na membrana plasmática, esses resíduos glicosilados formam uma camada celular de carboidratos, o que tem particular importância no processo de reconhecimento celular. A adição de um oligossacarídeo no RE é apenas o primeiro passo de uma série de modificações sofridas pela glicoproteína até que ela seja secre- tada ou aderida à membrana plasmá- tica. Esse processo apenas tem início no RE, mas continua no aparelho de Golgi. Cada subcompartimento do AG terá enzimas especializadas a determinado tipo de modificação - finalmente, a escolha do caminho das proteínas será baseada na con- dição final que essa glicosilação as- sume. Por exemplo, aquelas proteí- nas que são destinadas a irem para o sistema endossomo-lisossomo apresentam um determinante es- pacial que é reconhecido pela prote- ína responsável pela fosforilação das proteínas que vão para lá - é por isso que sua sexta manose é fosforilada (manose-6-fosfato). Posteriormen- te, na face trans do AG, essa ma- nose-6-fosfato será reconhecida por um receptor específico, o que promove a ligação da proteína com esse receptor e a aglomeração dos mesmos para formação da vesícula. SE LIGA! a manose-6-fosfato (M6P) é uma região do esqueleto de açúcar as- sociado às hidrolases ácidas, enzimas específicas das organelas lisossomais. 17VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SAIBA MAIS! A enzima que adiciona a M6P (N-acetilglicosamina fosfotransferase) apresenta um domínio que reconhece a estrutura tridimensional das hidrolases ácidas. Ela possui também o do- mínio catalítico de fosforilação, onde vai haver a junção da sexta manose da hidrolase ácida com o N-acetilglicosamino que contém o íon fosfato. O receptor de reconhecimento da sexta manose fosfatada é chamado de receptor de manose-6-fosfato, que irá ajudar a empacotar todas as hidrolases ácidas (proteases, lipases, nucleases, fosfatases, sulfatases, fosfolipases e glicosidases). Essa saída, contudo, é extrema- mente seletiva. As proteínas que não passaram por um adequado proces- samento são ativamente retidas no RE pela atuação das chaperonas. A interação das chaperonas com pro- teínas malformadas ou parcialmente montadas as mantém no RE até que passem pelos processos apropriados de formação ou, em última instância, sejam degradadas. Dessa forma, o RE consegue controlar finamente a qualidade das moléculas que exporta para o Aparelho de Golgi. Nem todas as proteínas produzidas no RE são destinadas à secreção, mas algumas funcionam dentro da própria organela. Tais moléculas de- pendem de um sinal de retenção, uma sequência de aminoácidos reconhe- cida por proteínas receptorasdo RE, para permanecerem nesse compar- timento membranoso. No entanto, a maior parte das proteínas possuem outros destinos, sendo empacota- das em vesículas que brotam do RE e se fusionam com o aparelho de Golgi. ADIÇÃO DE FOSFATO EXPOSIÇÃO DO SINAL DE M6P LIGAÇÃO AO RECEPTOR DE M6P TRANSPORTE PARA O ENDOSSOMO RECUPERAÇÃO DO RECEPTOR DISSOCIAÇÃO EM pH ÁCIDO REMOÇÃO DO FOSFATO Aparelho de Golgi Endossomo Primário Precursor de hidrolase lisossômica Precursor de hidrolase lisossômica Receptor de M6P Receptor de M6P em vesícula de brotamento Vesícula de transporteRevestimento de clatrina Manose A partir do RE Rede cis de Golgi Rede trans de Golgi ADPATP + Pi H+ Figura 16. Síntese e Transporte de Hidrolases Ácidas. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 18VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA A proteína e seus receptores pos- suem alta afinidade de se ligar no ambiente do RE (pH neutro) e uma baixa afinidade por permanecerem ligados no ambiente do AG, que apresenta pH baixo - dessa forma, o receptor libera a carga. A escala de pH determina a concentração de H+ no meio, e é justamente a presença des- sas cargas no ambiente que interfe- re na afinidade entre o receptor e a sua proteína-carga. A interferência dos íons ajuda ou dificulta a ligação entre eles, o que ajuda a organizar o transporte da proteína. SE LIGA! Em ambiente neutro (RE), o receptor está com alta afinidade para se ligar com a sua proteína, enquanto em ambiente ácido (AG) há o favorecimento da entrega da proteína que está sendo carregada. No entanto, mesmo com tamanha pre- cisão de todo esse mecanismo, às ve- zes acontece de proteínas próprias do Retículo Endoplasmático serem exportadas para o Aparelho de Golgi, onde não apresentam função alguma. Para resolver essa situação, Figura 17. Seleção das Proteínas para Transporte no RE. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecu- lar da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. Vesícula de transporte em formação Sar1-GTP Proteínas COPII de revestimento externo Proteínas COPII adaptadoras de revestimento interno Sinal de saída em receptor de carga Proteínas chaperonas ligadas a proteínas não enoveladas ou mal enoveladas CITOSOL LÚMEN DO RE Proteína residente no RE Sinal de saída em proteína carga solúvel 19VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA existe uma sequência de aminoáci- dos chamada de “sinal KDEL” que é adicionada nas proteínas reticulares. Esse sinal é reconhecido por recepto- res específicos localizados no Apare- lho de Golgi, os quais mobilizam uma via de retorno (retrógrada) a partir da face cis dessa organela. SE LIGA! Lembre-se que a formação de vesículas na via retrógrada se dá pelas proteínas de revestimento do tipo COP I. As proteínas malformadas são capa- zes de se ligar a receptores presentes na membrana do retículo endoplas- mático e, dessa forma, estimular um vasto programa de transcrição: a resposta de proteína desenovelada (UPR). Tal cascata induz reguladores de transcrição a adentrarem no núcleo e ativarem a expressão dos genes das chaperonas e de outros componentes do RE, de modo, inclusive, a aumen- tar o tamanho do RE se necessário. Dessa forma, são estimulados o eno- velamento e o processamento ade- quado dessas proteínas. SAIBA MAIS! Existem situações que esse controle de qualidade do RE pode não ser benéfico ao organismo. Um exemplo disso é observado em indivíduos com fibrose cística. Nessa comorbidade, uma mutação genética é capaz de produzir uma proteína de transporte da membrana plasmática de forma inapropriada. Contudo, apesar de haver uma pequena má formação, essa proteína ainda seria capaz de atuar como um canal se alcançasse a superfície celular. Diante disso, como consequência do nosso RE reter a proteína mutante e degradá-la antes que consiga ser externalizada, há drásticas sintomatologias. As moléculas de secreção advindas do RE pelas vesículas de transporte entram no aparelho de Golgi pela cis- terna cis e, então, são difundidas pela extensão da organela por meio de um processo sequencial de brotamen- to e fusão de vesículas até a cisterna trans, onde serão destinadas para: • Outro compartimento celu- lar: Por exemplo, os lisossomos, que recebem vesículas contendo hidrolases ácidas (enzimas que trabalham em um ambiente ácido para degradar compostos orgâni- cos para a célula). • O exterior da célula (exocitose): ◊ Por meio da via secretora constitutiva. ◊ Por meio da via secretora regulada. 20VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SE LIGA! Vale ressaltar que o Aparelho de Golgi não é uma organela que tem sua funcionalidade restrita ao trans- porte de vesículas, mas, durante a sua extensão, o conteúdo delas pode sofrer diversas modificações, como a finali- zação do processo de glicosilação, por exemplo. produtos de secreção dessa via são: a incorporação na membrana plasmá- tica (com função estrutural, de trans- porte ou de sinalização, por exemplo) e a liberação para a matriz extra- celular (sendo elementos de nutrição ou sinalização de outras células, por exemplo). Diante disso, a via consti- tutiva apresenta grande relevância Proteínas solúveis recém- sintetizadas para a secreção constitutiva CITOSOL Aparelho de Golgi Lipídeos de membrana plasmática recém-sintetizados Proteína de membrana plasmática recém-sintetizada Rede trans de Golgi Via de sinalização intracelular Vesícula secretora estocando proteínas de secreção Fusão de membrana regulada ESPAÇO EXTRACELULAR Membrana plasmática Sinal como um hormônio ou neurotransmissor VIA SECRETORA CONSTITUTIVA VIA SECRETORA REGULADA Em todos os tipos celulares eucarióti- cos, são realizadas vias constitutivas de secreção. Elas são caracterizadas por funcionarem de maneira contí- nua, logo, estabelecem uma corrente fixa de liberação de vesículas ricas em proteínas e lipídios para a superfície celular ou para o meio externo. Sen- do assim, os principais destinos dos Figura 18. Vias Secretoras Constitutiva e Regulada. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 21VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA para a renovação da quantidade e dos tipos lipídicos e proteicos da membrana plasmática, além de re- presentar uma via de excreção para os compostos que não mais são de interesse para a célula. SE LIGA! A rota constitutiva de exoci- tose é a via pela qual a membrana plas- mática se expande quando as células aumentam seu volume antes do proces- so de divisão celular. CONCEITO! Excreção é diferente de se- creção! Produtos excretados são os que devem ser eliminados por não serem de interesse do organismo, enquanto os se- cretados apresentam função fisiológica. Em contraste com a rota constituti- va, há vias reguladas de exocitose, que funcionam apenas em células que são especializadas na secreção de um produto em particular, como hormônios, muco ou enzimas diges- tivas. Uma característica fundamental da via regulada é que seus produ- tos de secreção são armazenados em vesículas até que um estímulo (a regulação) estimule a liberação desse material. Essas vesículas são originadas por brotamento a partir da cisterna trans do aparelho de Golgi e costumam formar aglomerações pró- xima à membrana plasmática. Nesse local, elas aguardam a chegada de um sinal que desencadeará respostas no interior da célula e estimulará a secre- ção de seu conteúdo no meio externo por meio de sua fusão com a mem- brana plasmática. Uma característica de destaque das proteínas nas vias secretórias reguladas é a capacidade de agre- gação sob certas condições iôni- cas (pH ácido e alta concentração de cálcio), o que as permite permanecer na rede trans do aparelho de Golgi. Em certo momento, esses agregados proteicos são empacotados em ve- sículas secretórias, destacam-se dacisterna trans e, próximo à membra- na plasmática, aguardam algum sinal para a sua secreção. As proteínas da via de secreção constitutiva, contu- do, não possuem essa propriedade de agregação, logo, são prontamente carregadas por vesículas até a mem- brana plasmática, onde são incorpo- radas ou secretadas. Quando uma vesícula secretora se une à membrana plasmática para liberar seu conteúdo, sua membra- na passa a fazer parte dela. Embo- ra esse processo devesse causar um enorme aumento da área de superfí- cie da membrana plasmática, ele não o faz. Isso ocorre porque porções da membrana são removidas de outras regiões de sua superfície por meio do processo de endocitose quase com a mesma taxa em que são adicionadas por exocitose. Desse modo, há certo equilíbrio quanto a adição e remoção de componentes da superfície celular, 22VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA o que torna muito improvável a ocor- rência de aumentos ou reduções ex- pressivas (e não programadas) de sua extensão. Tal remoção, então, promove o retorno de lipídios e pro- teínas da membrana das vesículas de volta ao aparelho de Golgi, onde po- derão ser novamente utilizadas para o empacotamento de novos produtos de secreção. 4. VIAS ENDOCÍTICAS A via endocítica é representada pela entrada de uma expressiva quan- tidade de material para o interior da célula. Esse tráfego, contudo, não é mediado por proteínas de trans- porte da membrana plasmática, uma vez que elas não têm capacidade de movimentar grandes volumes de par- tículas. Diante disso, a fim de captar extensas quantidades de material só- lido ou líquido em suspensão na ma- triz extracelular, as células mobilizam modificações em suas membranas plasmáticas, englobando esse ma- terial e formando grandes vesícu- las endocíticas em seu citoplasma. Vesícula endocítica Endossomo primário Endossomo de reciclagem Membrana plasmática CITOSOL ESPAÇO EXTRACELULAR Figura 19. Reciclagem de Membrana. Seta azul – vias de recuperação Seta vermelha – via secretora Seta verde – via endocítica Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. CITOSOL Endocitose Figura 20. Endocitose. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. Existem dois tipos principais de en- docitose: a fagocitose (captação de grandes partículas sólidas) e a pino- citose (ingestão de líquidos e solutos). 23VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Além disso, há um processo muito peculiar realizado pelas células que merece destaque: a autofagia, uma rota de obtenção de energia princi- palmente utilizada quando a célula se encontra em um ambiente desfavorá- vel no ponto de vista nutricional. Sen- do assim, a fim de produzir substrato orgânico e energético para o seu me- tabolismo, ela precisa consumir seus próprios componentes. CONCEITO! A Pinocitose é uma palavra derivada do grego e significa o “beber” da célula, isto é, designa o englobamen- to de partículas líquidas. A Fagocitose possui a mesma origem e remete ao “co- mer” da célula, ou seja, o englobamento de partículas sólidas. Fagocitose A fagocitose é a forma com a qual células ingerem grandes partículas, formando extensas vesículas em seu citoplasma denominadas de fagos- somos. Os fagossomos, então, são direcionados aos lisossomos, onde, após a fusão entre suas membranas, terão seus componentes digeridos e absorvidos. SE LIGA! Em organismos multicelulares, poucas são as células capazes de reali- zar a fagocitose em larga escala e quan- tidade. A maioria das células depende da atuação de enzimas extracelulares para clivar grandes partículas antes que sejam absorvidas pelas células. Um exemplo de células fagocitá- rias são os macrófagos, células do sistema imune que estão vastamen- te distribuídas pelos tecidos do corpo e têm como principal função a defesa contra infecções através da ingestão de microrganismos invasores. Para ser fagocitado por um macrófago (ou outro leucócito, como os neutrófilos), o material ou micro-organismo a ser in- gerido deve interagir com receptores de superfície da sua membrana plas- mática. Essa ligação, normalmente, estimula o macrófago a emitir proje- ções em sua membrana plasmática (os pseudópodes), que englobam as partículas de interesse e se fusionam em suas pontas de modo a formar uma vesícula de ingestão (o fagosso- mo). O fagossomo formado, por sua vez, destina-se aos lisossomos, onde seu conteúdo será digerido. SAIBA MAIS! Existem microorganismos que são capazes de corromper o bom funcionamento do sistema fagocitário. Um exemplo é a Mycobacterium tuberculosis, uma bactéria responsável por de- sencadear a tuberculose e que pode coibir a fusão entre a membrana do fagossomo e a do lisossomo. Desse modo, esse patógeno, ao invés de ser digerido, garante sua sobrevivência no meio intracelular. 24VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Uma função de especial relevância das células fagocitárias é a sua atua- ção na remoção e reciclagem de cé- lulas senescentes, defeituosas ou mortas dos mais diversos tecidos. Os próprios macrófagos também au- xiliam nessa função de “limpeza”, uma vez que fagocitam e degradam hemácias senescentes (que, muito provavelmente, já exauriram sua fun- cionalidade biológica). Pinocitose A pinocitose é o processo de inges- tão contínua de partículas líquidas (e de pequenas porções da super- fície celular) do meio externo para o meio intracelular. Tal processo é prin- cipalmente conduzido pela formação de vesículas revestidas de clatrina devido à invaginação da membrana plasmática, o que forma fossas que retém o líquido extracelular. Após o fechamento dessas fossas, as vesícu- las recém-formadas se destacam da membrana plasmática e prontamen- te perdem seu revestimento para se fundir com um endossomo. Desse modo, fluidos e seus solutos são in- ternalizados e podem ser aproveita- dos pelo metabolismo celular. SE LIGA! Tendo em vista que parte da membrana plasmática está constante- mente sendo endocitada pelo proces- so de endocitose, seria esperado que a sua área de superfície fosse reduzida. Contudo, essa entrada de substâncias e membrana é normalmente balancea- da pela secreção de vesículas durante as vias de exocitose. Por isso, a área de superfície e o volume celular perma- necem praticamente inalterados no decorrer das vias biossintética-secre- tora e endocítica. Endocitose Mediada por Receptores O processo de pinocitose funciona de maneira indiscriminada, isto é, as vesí- culas endocíticas apenas apreendem quaisquer moléculas que estejam em suspensão no líquido extracelular. Na maioria das células animais, no en- tanto, existe também uma eficiente rota de captação de macromolécu- las específicas, haja vista que tais partículas são capazes de interagir com receptores da superfície celu- lar e adentrar na célula na forma de complexos de receptor-macromolé- cula em vesículas revestidas de cla- trina. Tal processo é denominado de endocitose mediada por receptor e fornece à célula a propriedade de au- mentar a eficiência da internalização de partículas específicas sem, contu- do, ingerir grandes volumes de fluido extracelular, como ocorre na pinocito- se clássica. 25VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Um relevante exemplo de endo- citose mediada por receptor está nas vias de captação do coleste- rol das células animais. O colesterol é uma molécula indispensável para a manutenção da vida, uma vez que, dentre outras funções, é um impor- tante componente das membranas plasmáticas. Ele possui uma estrutura extremamente hidrofóbica (insolúvel), logo, para circular na corrente sanguí- nea, precisa estar associado às lipo- proteínas. As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são as principais responsáveis pelo tráfego do coles- terol entre seus locais de síntese até os tecidos periféricos, onde ele será liberado. O LDL, após interagircom recepto- res na superfície celular, é internali- zado na forma de complexo recep- tor-LDL por meio de uma endocitose mediada por receptor. No interior da célula, sua vesícula é direcionada aos endossomos, onde encontra um ambiente mais ácido que o seu meio de origem. Nesse ambiente ácido do endossomo, o LDL perde afinidade com o receptor e se dissocia. Após sua liberação, o receptor é reciclado de volta à membrana plasmática por meio de vesículas transportadoras enquanto o LDL será direcionado aos lisossomos. Nos lisossomos, ele será degradado pela ação de enzimas hi- drolíticas, liberando colesterol no ci- tosol. No citoplasma, esse colesterol pode possuir diversos destinos, mas, de modo geral, é utilizado para sinte- tizar produtos lipídicos que têm essa biomolécula como precursora (como hormônios esteroides) ou para com- por a membrana plasmática. LDL RETORNO DOS RECEPTORES DE LDL PARA A MEMBRANA PLASMÁTICA PERDA DO REVESTIMENTO FUSÃO Endossomo Primário Endossomo Tardio Endolisossomo Lisossomo Colesterol livre Hidrolases ácidas CITOSOL Figura 21. Endocitose de LDL. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 26VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SE LIGA! Os receptores de LDL são continuamente internalizados e recicla- dos, independentemente da interação com o LDL, uma vez que existem outros processos de mobilização de modifica- ções na membrana plasmática que po- dem levar esses receptores para o meio intracelular. SAIBA MAIS! Em indivíduos que apresentam mutações no receptor de LDL ou não expressam esse re- ceptor, a captação dessa lipoproteína e, por conseguinte, do colesterol fica comprometida. Diante disso, o colesterol se acumula no sangue, o que aumenta o risco desses indivíduos de desenvolverem aterosclerose (placas de gordura nas artérias). O nome dessa doença é Hipercolesterolemia Familiar (congênita). O receptor de transferrina segue uma via de reciclagem semelhante à do receptor de LDL, mas, ao contrário deste, o seu ligante também é recicla- do. Os receptores de transferrina da superfície celular entregam a trans- ferrina com o seu ferro ligado para os endossomos primários por meio da endocitose mediada por recepto- res. O baixo pH do endossomo induz a transferrina a liberar o seu ferro li- gado, mas a própria transferrina sem o ferro (chamada de apotransferrina) permanece ligada ao seu receptor. A transferrina é uma proteína solúvel que carrega o ferro no sangue. O complexo receptor-apotransferri- na entra nas extensões tubulares do endossomo primário e dali é recicla- do de volta à membrana plasmática. Quando a apotransferrina retorna ao pH neutro do líquido extrace- lular, ela se dissocia do receptor e fica livre para captar mais ferro e iniciar o ciclo novamente. Assim, a transferrina realiza um movimento de vaivém entre o líquido extracelular e os endossomos primários. 27VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SAIBA MAIS! Outros metabólitos essenciais para o organismo humano também se utilizam da endocito- se mediada por receptor para sua captação. O ferro e a vitamina B12 constituem grandes exemplos, uma vez que as células não são capazes de adquiri-los por mecanismo convencio- nais de transporte de membrana. Por outro lado, essa via de endocitose também pode ser aproveitada por certos micro-organismos patogênicos. O vírus Influenza e o vírus do HIV, por exemplo, têm sua entrada na célula mediada por esse tipo de processo. distribuir os componentes advin- dos das vias endocíticas. O ambien- te ácido do compartimento endossô- mico possui fundamental importância para essa função, haja vista que pro- move a dissociação entre os recepto- res e seus ligantes. De modo geral, os endossomos podem encaminhar os receptores: • De volta à membrana plasmáti- ca, retornando ao seu domínio de origem (reciclagem), como ocorre com os receptores do LDL. • Aos lisossomos, onde serão de- gradados e terão seus subprodu- tos reaproveitados pelo metabolis- mo celular • Para um domínio distinto da membrana plasmática, possuin- do a funcionalidade de transferir moléculas de um espaço para o outro, em um processo denomina- do de transcitose. 5. FUNCIONAMENTO DOS ENDOSSOMOS Assim que o material extracelular é captado pelas células, ele é trans- ferido aos endossomos. Os endos- somos são compartimentos forma- dos pela união de vesículas e, assim que são formados, são classificados em endossomos iniciais, que gra- dualmente amadurecem e formam endossomos tardios conforme se fusionam com outras vesículas pree- xistentes no meio intracelular. O inte- rior do compartimento endossômico possui um pH ácido (na faixa de 5 a 6), característica que é mantida por bombas de prótons () dependentes de ATP presentes na membrana des- sas vesículas. Da mesma forma que a cisterna Trans do aparelho de Golgi funciona como uma estação de distribuição de vesículas para as vias de exocitose, os endossomos agem de modo a 28VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA As moléculas endocitadas, por sua vez, após a dissociação com o recep- tor, são destinadas aos lisossomos para a sua degradação juntamente com quaisquer outros componentes presentes no lúmen do endossomo. As duas formas principais de lidar com os receptores são por meio de degradação ou reciclagem. Um ter- ceiro tipo de controle de receptor é a transcitose, a exemplo da incorpo- ração dos anticorpos no leite durante a lactação. Os anticorpos maternos que vem da corrente sanguínea são capturados do domínio basolateral da glândula mamária e a secreção do leite é realizada pelo domínio apical. Esses receptores do domínio basola- teral formam vesículas, as quais pas- sam por um sistema de endossomo e finalmente chegam no domínio apical. Lá, os anticorpos são secretados no lúmen da glândula junto com as pro- teínas do leite para nutrição do bebê. LÍQUIDO EXTRACELULAR LÚMEN INTESTINAL Receptor Anticorpo ligado ao receptor Endossomo primário Degradação no endolisossomo Transcitose Vesícula de transporte Receptor Endossomo de reciclagem Vesícula de transporte Reciclagem Vesículas transportadoras Figura 22. Destino dos Receptores. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 29VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA 6. FUNCIONAMENTO DOS LISOSSOMOS Os lisossomos são sacos membra- nosos (vesículas) ricos em enzimas hidrolíticas, as quais são responsá- veis pela digestão controlada de materiais extracelulares endocitados e de organelas senescentes. Existem mais de 40 tipos diferen- tes de enzimas hidrolíticas nos li- sossomos, mas, de modo geral, elas são capazes de digerir proteínas, lipí- dios, ácidos nucleicos e carboidratos. O ph ótimo está na faixa de 5 (isto é, de melhor atuação dessas enzi- mas), condição que é mantida pelas bombas de prótons dos lisossomos. Assim, esses sacos membranosos possuem um pH cerca de 100 vezes mais ácido que o do citoplasma (que está em torno de 7,2). Essa caracte- rística é de grande importância, uma vez que as enzimas hidrolíticas de- pendem de um pH ácido para agir, o que protege o meio intracelular de sua ação discriminada na ocasião de algum vazamento. SE LIGA! Por serem dependentes de um meio ácido para operar, as enzimas hi- drolíticas dos lisossomos são comumen- te denominadas de hidrolases ácidas. Os lisossomos, contudo, não se redu- zem a um acervo único de enzimas, mas também são delimitados por uma membrana circundante singular. Essa membrana contém trans- portadores que tornam possível o transporte dos produtos finais da degradação das macromoléculas en- docitadas para o citosol. Além disso, também possui em sua extensão bombas de dirigidas por ATP, as quais bombeiam esses íons para o in- terior do compartimento lisossômico a fim de mantê-lo em um pH ácido. CITOSOL Bomba de H+ HIDROLASES ÁCIDAS Nucleases Proteases GlicosidasesLipases Fosfatases Sulfatases Fosfolipases pH~7,2 pH~5,0 ADPATP + Pi H+ Figura 23. Hidrolases Ácidas. Fonte: Alberts, B.; John- son, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 30VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA Fagocitose Endocitose Autofagia ENDOSSOMO TARDIO LISOSSOMO Macropinocitose Membrana plasmática Líquido extracelular Bactéria Endossomo primário Autofagossomo Mitocôndria Fagossomo SE LIGA! Uma outra característica de destaque da membrana dos lisossomos são as suas proteínas glicosiladas, que envolvem boa parte da superfície do lúmen e protegem outras proteínas in- crustadas na membrana de serem dige- ridas pelas proteases lisossômicas. As proteínas do lisossomo (seja as de função enzimática, seja as de fun- ção estrutural) são produzidas no RE e direcionadas até o aparelho de Golgi. Durante seu trajeto pelo RE e pela cisterna cis do aparelho de Golgi, as hidrolases ácidas têm um açú- car (a manose 6-fosfato) adiciona- do em sua extensão. Ao chegar na cisterna Trans do Golgi, o receptor da manose 6-fosfato a reconhece e, por conseguinte, distribui as hidrolases empacotadas em vesículas de trans- porte para os lisossomos ou para os endossomos tardios. A depender da sua origem, os mate- riais seguem vias diferentes em di- reção aos lisossomos. As partículas extracelulares sólidas, capturadas por fagocitose, são direcionadas aos lisossomos por fagossomos. Os flui- dos extracelulares e as macromolé- culas específicas, por sua vez, dire- cionam seu conteúdo primeiro para o endossomos, os quais são responsá- veis por se fusionar aos lisossomos. No entanto, ainda existe uma outra rota de suprimento de materiais para os lisossomos: a autofagia. Figura 24. Sistema Endossomo-Lisossomal Sistema Endossomo-Lisossomal. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 31VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SE LIGA! Os endossomos tardios já apresentam alguma carga de enzimas lisossomais, por isso, é ainda nesse compartimento que a digestão das ma- cromoléculas se inicia. Assim, à medida em que o endossomo sofre maturação em lisossomo, a digestão é apenas con- tinuada. Diante disso, é errôneo afirmar que a degradação do conteúdo endoci- tado só tem início nos lisossomos. SAIBA MAIS! Os melanossomos são lisossomos especializados que armazenam pigmentos que devem ser liberados por exocitose. Uma vez liberados, várias células, como as da pele e do cabelo, capturam esses pigmentos, que serão responsáveis pelas pigmentações características de cada região do corpo. Mutantes de camundongo que possuem melanossomos defeituosos frequentemente possuem cores pálidas ou incomuns de pelagem. Autofagia A autofagia é uma rota muito utiliza- da pelas células para degradar suas organelas senescentes a fim de re- novar o conteúdo intracelular, contu- do, também pode ser utilizada em situações extremas de privação de nutrientes, de modo que a célula precisa consumir seus próprios com- ponentes para obter energia. SE LIGA! Esse processo é frequente- mente observado em células hepáticas, por exemplo, nas quais lisossomos cos- tumam digerir mitocôndrias que já não mais funcionam da maneira ideal. A autofagia inicia com o englobamen- to da organela a ser digerida, forman- do uma membrana dupla e criando o autofagossomo. Essa vesícula re- cém-formada, então, se fusiona com o lisossomo, o qual degrada esse ma- terial e libera seus constituintes para serem reutilizados pelo metabolismo celular, inclusive, para a formação de uma nova organela. 32VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA SE LIGA! O mecanismo de autofagia é um processo conservado evolutivamen- te e que é realizado de maneira constitu- tiva (contínua), sendo de extrema impor- tância para uma fina regulação do bom funcionamento de todas as organelas celulares. 7. REVISÃO A via biossintética secretora tem início no RE, encaminha seus produ- tos ao Golgi e, por fim, por meio dessa organela, direciona vesículas secre- tórias à membrana plasmática, ao meio extracelular ou aos lisosso- mos. No RER há a síntese proteica e no REL há a síntese lipídica. Esse material produzido pelos retículos é enviado por vesículas até o Golgi. No Golgi, pode haver uma glicosilação desse material, que, na última cisterna dessa organela, são empacotados e direcionados para os lisossomos, para a via secretora constitutiva ou para a via secretora regulada. A contramão dessa rota é a via en- docítica, ou seja, o percurso de ma- terial do meio externo para o meio intracelular. Ela é representa pela in- gestão de matéria orgânica ou flui- do em grande quantidade, o que a torna incapaz de ser mediada por simples proteínas transportadoras da membrana plasmática. Entre as vias endocíticas, temos: • Fagocitose: Ingestão de grandes partículas sólidas • Pinocitose: Ingestão de fluidos • Endocitose mediada por recep- tor: Ingestão de macromoléculas específicas Citosol e organelas engolfados INDUÇÃO Autofagossomos Hidrolases ácidas Lisossomo NUCLEAÇÃO E EXTENSÃO FECHAMENTO FUSÃO COM LISOSSOMOS DIGESTÃO Figura 25. Mecanismo da Autofagia. Fonte: Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 7ª Ed., Artmed Editora, 2017. 33VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA FLUXOGRAMA – MAPA RESUMO Aparelho de Golgi (maturação dos produtos e endereçamento celular) Retículo Endoplasmático (produção) Sistema Endossomo - Lisossomal Vesículas Secretoras Endossomo Tardio Endossomo Primário Lisossomo Autofagia Organelas mal- funcionantes Exterior da Célula Excreção Secreção Incorporação na Membrana Pinocitose Fagocitose 34VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA 8. EXTRA: VESÍCULAS SINÁPTICAS As células nervosas (e algumas célu- las endócrinas) contêm dois tipos de vesículas secretoras: as de núcleos densos e outra classe especializada de vesículas minúsculas chamadas de “vesículas sinápticas”. Elas arma- zenam pequenas moléculas neuro- transmissoras como acetilcolina, glu- tamato, glicina e ácido - aminobutírico (GABA), que atuam como mediadoras de sinalização rápida entre o neurônio pré-sináptico e sua célula-alvo uma vez lançadas nas sinapses químicas. Quando a onda despolarizante do potencial de ação atinge o terminal axonal das células nervosas, canais de Ca2+ dependentes de voltagem se abrem e promovem o influxo des- se íon em direção ao citosol, fomen- tando a fusão das vesículas sináp- ticas com a membrana plasmática e a posterior liberação de seu conteúdo no espaço extracelular. SAIBA MAIS! Alguns neurônios disparam mais de mil vezes por segundo, liberando neurotransmissores a cada vez! 1) Potencial de ação atinge o terminal axonal e despolariza a membrana. 2) Canais de Cálcio controlados por voltagem se abrem e o Ca2+ entra na célula. 3) O influxo de cálcio estimula a fusão das vesículas com a membrana para liberação do neurotransmissor. 4) Neurotransmissores se ligam aos receptores da célula pós-sináptica, provocando despolarização. Chegada do Potencial de Ação Figura 26. Liberação de Neurotransmissores. Fonte: https://www.khanacademy.org/science/biology/human-biology/ neuron-nervous-system/a/the-synapse A velocidade da liberação dos neu- rotransmissores nas sinapses indi- ca que as proteínas que medeiam a reação de fusão das vesículas com a membrana plasmática não sofrem rearranjos complexos e de múltiplas 35VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA etapas. Em vez disso, após as vesí- culas terem se ancorado à membrana plasmática pré-sináptica, elas sofrem uma etapa de preparação, que as apronta para a rápida fusão. No estado de preparação, as SNARE estão parcialmente pareadas. Pro- teínas chamadas complexinas fixam os complexos SNARE nesse estado. O congelamento imposto por essas proteínas é liberado por outra proteína de vesícula sináptica, a sinaptotagmi- na, que contém domíniosde ligação ao Ca2+. Um aumento no Ca2+ ci- tosólico desencadeia a ligação de sinaptotagminas aos fosfolipídeos e às SNARE, deslocando as com- plexinas. À medida que as proteínas SNARE vão se torcendo e fechando, um “furo” feito pela fusão das mem- branas vesicular e plasmática se abre e os neurotransmissores podem, en- tão, ser liberados. Em uma sinapse tí- pica, apenas um pequeno número de vesículas ancoradas são preparadas para a exocitose. SE LIGA! O uso de somente um pe- queno número de vesículas a cada vez permite que cada sinapse dispare várias vezes em rápida sucessão. A cada dis- paro, novas vesículas sinápticas se an- coram e ficam preparadas para substi- tuir aquelas que se fundiram e liberaram seu conteúdo. Para que a terminação nervosa res- ponda rápida e repetidamente, as vesículas sinápticas precisam ser reabastecidas muito rápido depois que elas descarregam. Portanto, a maioria das vesículas sinápticas são geradas não a partir da membrana de Golgi no corpo da célula nervosa, mas pela reciclagem local da membrana plasmática pré-sináptica nas termi- nações nervosas. Similarmente, com- ponentes de membrana recém-sinte- tizados das vesículas sinápticas são inicialmente entregues à membrana plasmática pela via secretora consti- tutiva e então recuperados por endo- citose. Nesse caso, porém, em vez de se fusionarem com os endossomos, a maioria dessas vesículas endocí- ticas é imediatamente preenchida com neurotransmissores para se tornarem vesículas sinápticas e agili- zarem o processo. Os componentes de membrana de uma vesícula sináptica incluem trans- portadores especializados na cap- tação de neurotransmissores do citosol, onde as pequenas moléculas neurotransmissoras mediadoras da rápida sinalização sináptica são sin- tetizadas. Uma vez cheias de neuro- transmissores, as vesículas sinápticas podem ser utilizadas. 36VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTS, Bruce (et al.). Fundamentos da Biologia Celular. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Alberts, B.; Johnson, A. & Walter, P. Biologia Molecular da Célula. 5ª Ed., Artmed Editora, 2010. 37VIAS BIOSSINTÉTICA-SECRETORA E ENDOCÍTICA