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MARC 02 – Pré -Natal Discutir o planejamento na assistência pré-natal (enfermagem/médico) ❖ A atenção pré-natal se constitui em um conjunto de ações que são simultaneamente preventivas, promotoras de saúde, diagnósticas e curativas, visando o bom desfecho da gestação para a mulher e seu(s) filho(s) ❖ O pré-natal deve começar assim que a mulher descobre que está grávida. No Brasil, a partir desse momento, o Ministério da Saúde recomenda que sejam realizadas no mínimo seis consultas (uma no primeiro trimestre da gravidez, duas no segundo e três no terceiro), Sendo ideal é que a primeira consulta aconteça no primeiro trimestre e que, até a 34ª semana, sejam realizadas consultas mensais. Entre a 34ª e 38ª semanas, o indicado seria uma consulta a cada duas semanas e, a partir da 38ª semana, consultas toda semana até o parto, que geralmente acontece na 40ª semana, mas pode durar até 42 semanas. ❖ A assistência pré-natal deve ser organizada para atender às reais necessidades da população de gestantes, mediante utilização dos conhecimentos técnico-científicos existentes e dos meios e recursos disponíveis mais adequados para cada caso. ❖ Como condições para uma assistência pré-natal efetiva, deve-se garantir: • Discussão permanente com a população da área, em especial com as mulheres, sobre a importância da assistência pré-natal na unidade de saúde e nas diversas ações comunitárias • Identificação precoce de todas as gestantes na comunidade e o pronto início do acompanhamento pré-natal, para que tal se dê ainda no 1° trimestre da gravidez, visando às intervenções oportunas em todo o período gestacional, sejam elas preventivas ou terapêuticas. Deve-se garantir a possibilidade de as mulheres realizarem o teste de gravidez na unidade de saúde sempre que necessário. • Acompanhamento periódico e contínuo de todas as mulheres grávidas, visando assegurar o seguimento da gestante durante toda a gestação, em intervalos preestabelecidos, acompanhando-a tanto na unidade de saúde como em seu domicílio, e por meio de reuniões comunitárias; • sistema eficiente de referência e contra-referência, objetivando garantir a continuidade da assistência pré-natal em todos os níveis de complexidade do sistema de saúde, para toda a clientela, conforme a exigência de cada caso. ❖ Para que tais práticas sejam desenvolvidas, faz-se necessário: • Recursos humanos que possam acompanhar a gestante segundo os princípios técnicos e filosóficos da assistência integral à saúde • Área física adequada para atendimento à gestante e familiares, no centro de saúde • Equipamento e instrumental mínimos • Apoio laboratorial para a unidade básica de saúde, garantindo a realização dos exames de rotina • Instrumentos de registro e processamento e análise dos dados disponíveis, visando permitir o acompanhamento sistematizado da evolução da gravidez, do parto e do puerpério, por meio da coleta e da análise dos dados obtidos em cada encontro: o Cartão da gestante - instrumento de registro. Deve conter os principais dados de acompanhamento da gestação (fica com a gestante) o Ficha perinatal - instrumento de coleta de dados para uso dos profissionais da unidade o Mapa de registro diário - instrumento de avaliação das ações de assistência pré-natal. Deve conter as informações mínimas necessárias de cada consulta prestada; • Medicamentos essenciais: antiácidos, sulfato ferroso com ácido fólico, supositório de glicerina, analgésicos, antibióticos, tratamento de corrimentos vaginais. • Avaliação permanente da assistência pré-natal, com vistas à identificação dos problemas de saúde da população-alvo, bem como o desempenho do serviço. Discutir acerca do diagnóstico clínico e laboratorial da gestação Diagnóstico Clínico ❖ Os sintomas da gravidez podem ser divididos em sinais de presunção, sinais de probabilidade e sinais de certeza: • SINAIS DE PRESUNÇÃO: o 4 semanas – Amenorréia: é o sinal mais precoce! o 5 semanas – Náuseas e Congestão Mamária o 6 semanas – Polaciúria o 8 semanas – A aréola primária se torna mais pigmentada e surgem os Tubérculos de Montgomery (projeções secundárias representadas por glândulas mamárias acessórias e glândulas sebáceas hipertrofiadas) o 16 semanas – Produção de colostro e surgimento da Rede de Haller (aumento da circulação venosa) o 20 semanas – Sinal de Hunter (surge a aréola secundária, que aumenta a pigmentação em volta do mamilo) • SINAIS DE PROBABILIDADE: o 6-12 semanas – Alterações do muco cervical: o aumento na concentração de progesterona, típico do início da gestação, reduz a quantidade de sódio presente no muco cervical, que perde o aspecto arboriforme quando cristalizado por desidratação. o 8 semanas – Sinal de Hégar (útero adquire consistência cística, elástico-pastosa, principalmente no istmo); Sinal de Piskacek (assimetria uterina: o útero se desenvolve mais no ponto de implantação); Sinal de Nobile- Budin (ocupação do fundo de saco vaginal, perceptível pelo toque bimanual); Sinal de Osiander (percepção dos batimentos do pulso vaginal nos fundos de saco); Sinal de Jacquemier ou de Chadwick (coloração violácea da mucosa da vulva); Sinal de Kluge (coloração violácea da mucosa da vagina) o 12 semanas – Aumento do volume uterino: o útero gravídico se torna palpável logo acima da sínfise púbica. o 16 semanas – Aumento do volume abdominal • SINAIS DE CERTEZA o 14 semanas – Sinal de Puzos (rechaço fetal intrauterino após impulsionar o feto com os dedos no fundo de saco anterior) o 18 semanas – Percepção e palpação dos movimentos ativos do feto e dos segmentos fetais pelo médico o 20 semanas – Ausculta dos batimentos cardiofetais através do estetoscópio de Pinard. A ausculta já é possível a partir de 10 semanas através do sonar Doppler, e é considerada o mais fidedigno dos sinais de gravidez. Diagnóstico Laboratorial ❖ Atualmente, é considerado o melhor método para o diagnóstico de gravidez incipiente. O diagnóstico laboratorial se baseia na detecção hormonal da gonadotrofina coriônica humana (hCG), no plasma ou na urina materna. ❖ A molécula do hCG (gonadotrofina coriônica humana) possui duas subunidades distintas: alfa e beta. A subunidade alfa é comum a vários hormônios, como LH, FSH e TSH, enquanto a subunidade beta é específica da gonadotrofina coriônica. Por isso, a dosagem laboratorial é feita a partir da subunidade beta, que além de possuir menor reação cruzada com o hormônio luteinizante, apresenta grande sensibilidade e é quantificável, permitindo uma estimativa da idade gestacional a partir dos resultados. ❖ Existem 3 tipos de testes para a identificação do hCG: imunológico, radioimunológicos (RIA), Enzima imunoensaio (ELISA). • Teste Imunológicos (urinários): o Aconselhável é que o atraso menstrual ultrapasse 10 a 14 dias, aumentando a sensibilidade dos exames. o Alguns fatores podem determinar resultados falso- positivos, como o uso de psicotrópicos, proteinúria e mulheres no climatério. o Resultados falso-negativos podem ocorrer em urinas de baixa densidade ou nas primeiras duas semanas de atraso menstrual. • Testes Radioimunológicos: o A grande limitação seria a reação cruzada com o LH hipofisário, o que é corrigido com a dosagem da subunidade beta, que permite o diagnóstico precoce, com 10 a 18 dias da concepção. o Os resultados são obtidos em aproximadamente 4 horas e a sensibilidade do teste é de 5mUI/mL, o que significa dizer que resultados acima desse valor são considerados positivos. • Teste ELISA: o Possui a mesma base teórica dos RIA, com a vantagem de apresentar um maior tempo de vida útil,por não conter radioisótopos de atividade limitada. o Níveis de beta-hCG acima de 1000mUI/mL asseguram a presença de gestação em 95% dos casos. DIAGÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO ❖ A ultrassonografia obstétrica pode ser realizada por via transabdominal ou transvaginal. Atualmente, a preferência é pela transvaginal, que permite uma melhor visualização das estruturas ovulares. ❖ Através da ultrassonografia transvaginal podemos identificar, de acordo com a idade gestacional, estruturas importantes: • 4 semanas – Saco Gestacional • 5 e 6 semanas – Vesícula vitelina • 6 e 7 semanas – Eco fetal com batimentos cardiofetais • 11 a 12 semanas – Cabeça fetal • 12 semanas – Placenta ❖ Também é possível estimar a idade gestacional por meio da avaliação ultrassonográfica, sendo a época mais precisa da 6ª até a 12ª semana de gravidez, na qual o parâmetro utilizado é o comprimento cabeça-nádega. ❖ A partir da 14ª semana, a acurácia da ultrassonografia para estimar a idade gestacional diminui progressivamente e os parâmetros empregados são o diâmetro biparietal e o comprimento do fêmur. Neste momento, o útero começa a sair da pelve e o transdutor vaginal fica distante do feto, tornando a ultrassonografia transabdominal superior. Conhecer o exame físico da grávida ❖ A consulta pré-natal, assim como uma consulta clínica, é composta de anamnese, exame físico e avaliação dos exames complementares. As consultas são divididas em primeira consulta e acompanhamento. ❖ A primeira consulta é o contato inicial da paciente gestante com seu obstetra, momento em que serão estabelecidas as relações de confiança e empatia, e tem como objetivos principais: • Definir a condição de saúde da mãe e do concepto • Estimar a idade gestacional • Iniciar o planejamento do acompanhamento pré-natal ❖ No exame físico, são indispensáveis os seguintes procedimentos: o Avaliação nutricional (peso e cálculo do IMC), o Medida da pressão arterial, o Palpação abdominal e percepção dinâmica, o Medida da altura uterina, o Ausculta dos batimentos cardiofetais, o Registro dos movimentos fetais, o Realização do teste de estímulo sonoro simplificado, o Verificação da presença de edema, o Exame ginecológico e coleta de material para colpocitologia oncótica, o Exame clínico das mamas e toque vaginal, de acordo com as necessidades de cada mulher e com a idade gestacional. ❖ Técnicas do Exame Físico: • Posicionamento: o No primeiro trimestre da gestação, a paciente pode ser examinada deitada. Nos trimestres posteriores, a paciente deve adotar a posição semissentada com os joelhos flexionados. Essa posição é mais confortável e reduz o peso do útero gravídico na aorta descendente e veia cava inferior. o A gestante não deve ficar em decúbito dorsal por longos períodos de tempo. A maior parte dos exames (exceto o exame ginecológico) deve ser realizada com a paciente sentada ou em decúbito lateral esquerdo. • Equipamentos do exame o Espéculo ginecológico e lubrificação: devido ao relaxamento da parede vaginal durante a gestação, um espéculo maior do que o habitual pode ser necessário para pacientes multíparas. o Materiais para coleta de amostras: devido ao aumento da vascularização das estruturas vaginal e cervical, a escova cervical pode causar hemorragia, o que interfere nas amostras de Papanicolau, de forma que o dispositivo de amostragem (“escova”) é preferível durante a gestação. o Fita métrica: uma fita de plástico ou papel é usada para avaliar o tamanho do útero após a 20ª semana de gestação. o Monitor da FCF com Doppler e gel: um “Doppler” é um dispositivo manual usado para avaliar a frequência cardíaca fetal (FCF) após 10 semanas de gestação, quando aplicado externamente ao abdome gravídico. Conhecer os medicamentos a serem prescritos na assistência pré-natal. ❖ Prescrever medicamentos padronizados para o programa de pré-natal (sulfato ferroso e ácido fólico); ❖ Oferta de medicamentos necessários (inclusive sulfato ferroso, para tratamento e profilaxia de anemia, e ácido fólico, com uso recomendado desde o período pré- concepcional e durante o primeiro trimestre de gestação para prevenção de defeitos no tubo neural); ❖ Deve-se prescrever suplementação de sulfato ferroso (40mg de ferro elementar/dia) e ácido fólico (5mg/dia) para profilaxia da anemia Discutir os exames complementares do pré-natal ❖ Para um bom acompanhamento pré-natal, é necessário que a equipe de saúde efetue os procedimentos técnicos de forma correta e uniforme durante a realização dos exames complementares, assim como quando da realização dos exames clínico e obstétrico ❖ Devem ser solicitados na primeira consulta os seguintes exames complementares: o Hemograma - repetir entre 28-30 semanas.; o Tipagem sanguínea e fator Rh; o Coombs indireto (se for Rh negativo) – avalia possibilidade de eritroblastose fetal (doença hemolítica causada pela incompatibilidade do sistema Rh do sangue materno e fetal. Ela se manifesta, quando há incompatibilidade sanguínea referente ao Rh entre mãe e feto, ou seja, quando o fator Rh da mãe é negativo e o do feto, positivo). o Glicemia de jejum - repetir entre 28- 30 semanas em gestantes sem fator de risco para diabetes e se o resultado da primeira glicemia for menor que 85 mg/dL.; o TOTG - para os casos triados com fator de risco para diabetes gestacional presente e/ou com glicemia de jejum inicial maior ou igual a 85mg/dL. o Teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR - repetir entre 28-30 semanas.; o Teste rápido diagnóstico anti-HIV; o Anti-HIV - repetir entre 28-30 semanas.; o Toxoplasmose IgM e IgG - repetir trimestralmente se for IgG não reagente.; o Sorologia para hepatite B (HbsAg); o Exame de urina e urocultura - para o diagnóstico de bacteriúria assintomática – repetir entre 28-30 semanas.; o Ultrassonografia obstétrica (não é obrigatório), com a função de verificar a idade gestacional; o Citopatológico de colo de útero (se necessário); o Exame da secreção vaginal (se houver indicação clínica); o Parasitológico de fezes (se houver indicação clínica); o Eletroforese de hemoglobina (se a gestante for negra, tiver antecedentes familiares de anemia falciforme ou apresentar história de anemia crônica). Discutir sobre sífilis Congênita ❖ Sífilis congênita é uma infecção de múltiplos sistemas, causada pelo Treponema pallidum e transmitida ao feto pela placenta. ❖ O risco total de o feto ser infectado pela placenta é de cerca de 60 a 80%, e a probabilidade aumenta na 2ª metade da gestação. ❖ sífilis materna não tratada, seja ela primária, seja ela secundária, é geralmente transmissível, porém, a forma terciária ou latente é transmissível apenas em cerca de 20% dos casos. ❖ Sífilis não tratada durante a gestação também está associada a risco significativo de natimortos e morte neonatal. ❖ Muitos pacientes são assintomáticos, e a doença pode permanecer clinicamente silenciosa durante toda a vida. ❖ Sífilis congênita precoce geralmente se manifesta durante os primeiros 3 meses de vida. As manifestações incluem erupções vesiculobolhosas características ou exantema macular com coloração cúprica nas palmas das mãos e nas solas dos pés, lesões papulares ao redor do nariz, da boca e das áreas das fraldas e, ainda, lesões petequiais. Linfadenopatia generalizada e hepatoesplenomegalia ocorrem com frequência. O lactente não ganha peso e apresenta secreção nasal mucopurulenta ou sanguinolenta causando fungação. Algumas crianças desenvolvem meningite, coroidite, hidrocefalia ou convulsões, e outras podem ainda ter retardo mental. Nos primeiros 8 meses de vida, surge osteocondrite (condroepifisite), especialmenteem ossos longos e arcos costais, podendo provocar pseudoparalisia dos membros com alterações ósseas radiológicas características. ❖ Sífilis congênita tardia geralmente se manifesta após o 2º ano de vida e causa úlcera gomosa, com tendência ao envolvimento de nariz, septo e palato duro, e lesões periostais provocam a chamada tíbia em lâmina de sabre e bossa nos ossos parietais e frontal. A neurossífilis geralmente é assintomática, porém pode ocasionar paresia juvenil e tabes. Pode ocorrer atrofia óptica, que, algumas vezes, leva a cegueira. A lesão ocular mais comum é a queratite intersticial e ocorre, com frequência, como resultado da cicatrização da córnea. A surdez sensorineural é geralmente progressiva e pode surgir em qualquer idade. Dentes incisivos de Hutchinson, molares “em amora”, fissuras periorais (rágades) e desenvolvimento anormal da maxila resultando na chamada face de “buldogue” são sequelas características, porém raras. Diagnóstico ❖ Sífilis congênita precoce: avaliação clínica; microscopia em câmara escura das lesões e placenta ou cordão umbilical; testes séricos da mãe e neonato; possivel análise do líquido cerebrospinal ❖ Sífilis congênita tardia: avaliação clínica, testes sorológicos da mãe e do recém-nascido Tratamento ❖ Gestantes • No início da sífilis, gestantes devem receber uma dose de penicilina G benzatina (2,4 milhões de unidades IM em uma única dose). • Nas fases tardias da sífilis ou da neurossífilis, para não grávidas, deve-se seguir esquema terapêutico apropriado ❖ Congênita Precoce • Recomendam penicilina G cristalina aquosa 50.000 unidades/kg IV a cada 12 h nos primeiros 7 dias de vida e, a seguir, a cada 8 h, até o total de 10 dias ou penicilina G procaína 50.000 unidades/kg IM uma vez ao dia durante 10 dias. Se ≥ 1 dia de tratamento é perdido, todo o curso deve ser repetido. ❖ Em 99% dos casos, o tratamento adequado durante a gestação cura a mãe e o feto. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/doen%C3%A7as-da-c%C3%B3rnea/ceratite-intersticial