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DA FENOMENOLOGIA À EXISTENCIAL

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0 
 
DA FENOMENOLOGIA À EXISTENCIAL: 
a visão da personalidade do ser 
 
 
1 A FUNDAMENTAÇÃO DA FENOMENOLOGIA EM HUSSERL 
 
A fenomenologia se constituiu através de um movimento filosófico cuja 
pretensão seria de conhecer os fenômenos da consciência a partir de si mesmos. O 
termo fenomenologia tem origem grega significando o estudo daquilo que se mostra. 
Ele foi cunhado com base em muitos filósofos e pensadores ao longo da história, cujas 
ideias foram se interpondo, complementando e se modificando até chegarmos na 
fenomenologia utilizada pela psicologia como uma forma de entendimento do ser. 
Através de um olhar histórico a fenomenologia como um método teve sua 
origem no início do século XX com o filósofo, matemático e lógico, Edmund Husserl 
(GIOVANETTI, 2017). Esse período era perpassado por duas respostas possíveis 
acerca das questões do conhecimento: uma ciência positivista totalmente 
fundamentada em fatos determinados, apresentando resultados observáveis que 
conduziram a invenções memoráveis e um progresso científico que deslumbrava a 
todos; de outro modo existia a filosofia com repostas mais desalinhadas onde cada 
filósofo pensava a seu modo, tornando-se quase impossível encontrar critérios 
objetivos que auxiliassem no entendimento do que era aceitável e do que não era 
confiável (HUSSERL, 1954/2004, 1920/2005). A consequência deste momento 
histórico gerava na população e nos pesquisadores um grande ceticismo, onde não 
haveria uma perspectiva de encontrar qualquer forma de verdade diante do caos. 
Husserl constatou que diante destas formas de ciência todas as suas 
conquistas sobre o funcionamento das coisas deixariam a desejar, uma vez que suas 
descobertas não permitiam uma resposta concreta que realmente agradasse as várias 
possibilidades existentes de se conhecer o ser humano. 
 Essa ciência deste momento se encontrava restringida em seus próprios 
métodos, ou seja, aqueles que podem ser imediatamente verificados de forma positiva 
e empírica. Se a necessidade era encontrar respostas sobre a realidade ou, até 
mesmo, o sentido de tudo, ficavam de fora do método definido pela ciência. Husserl 
1 
 
se viu diante dessa circunstância, impossibilitado de descobrir as coisas do mundo 
junto com todos os conceitos que as cercam. Um exemplo disso estaria no campo 
cientifico da medição da inteligência, onde Binet ao ser questionado a respeito do que 
seria a inteligência não soube responder, apenas afirmando que inteligência era o que 
os testes que criou mediam (GAUQUELIN et. al., 1980). 
Concordando com Merleau-Ponty (1951/1973), a ciência através de seus 
métodos permite apenas a concepção de muitas declarações sobre o que é real, 
entretanto não compreende o que seria verdadeiramente o real. Com o passar do 
tempo o sentido de realidade foi se extraviando, sendo deixado a parte por indagações 
maiores. Husserl fez menção dessa perspectiva sobre a perda de significados em sua 
escrita a respeito das crises na ciência da Europa (HUSSERL, 1954/2004). Seu 
interesse estava na exploração de um percurso que o conduzisse até o sentido 
esquecido, algo que fosse além da ciência utilizada no momento. Ele buscava 
explicações a cerca do que é comum na experiência, do que estava por trás da 
realidade apresentada pela ciência. Entretanto, não era possível fazê-lo em um 
laboratório, uma vez que se tratava de coisas que rodeiam o ser humano e todas as 
suas formas de produzir significados. 
O campo da filosofia começou a passar por alterações a fim de se adequar aos 
questionamentos que começaram a surgir diante da explicação do ser. Através de 
uma fala mais psicológica, Husserl poderia exemplificar sua problemática: caso o 
homem considerasse suas experiências, juntamente com tudo que nela está incurso, 
suspendendo o julgamento involuntário de sua realidade, ele poderia, então, alcançar 
resultados seguros em relação ao conhecimento e seu alcance. 
Por meio desse caminho poderia se afirmar fatos em torno da consciência, 
sendo possível acessar a verdade ofertando às pessoas uma maneira de banimento 
do ceticismo e apego em um suporte sólido para os questionamentos. Husserl intitulou 
esta nova possibilidade de filosofia como ciência rigorosa que a afastaria do caos 
inicial e começando, assim, a fenomenologia (HUISMAN, 2001). A abertura da filosofia 
e da ciência para um pensamento legítimo que sobrepujasse o relativismo constituiu 
um grupo de seguidores deste novo movimento em torno de Husserl. 
O caminho encontrado por Husserl considera a experiência em si, sem 
considerar os juízos de valor que a cercam. Ele denominava a esses juízos como 
atitudes naturais do ser, uma vez que não há uma parada para considerar a 
experiência em si. Quando o contrário é feito, exerce-se uma outra atitude: a não 
2 
 
natural, a fenomenológica. Essa passagem de uma atitude natural para uma 
fenomenológica é chamada de redução, onde se coloca os juízos de valor “em 
parênteses” e ver as coisas em si mesmas. 
Uma importante expressão utilizada por Husserl é a de “voltar às coisas 
mesmas” (HUISMAN, 2001), compreendida como um modo de perceber a experiência 
a partir de uma atitude fenomenológica. Este retorno está ligado na atitude natural da 
introspecção, uma vez que o olhar para dentro de si permite a procura do que existe 
e é real na consciência. 
Na fenomenologia essa volta seria muito mais à consciência como ato do que 
à consciência como lugar. O que aparece, então, é a característica de 
autotranscendência da consciência: a intencionalidade. Toda consciência enquanto 
ato é sempre “de algo”. Não existe consciência pura sem intencionalidade nenhuma, 
assim como não existe conhecimento puro sem intencionalidade nenhuma. Não existe 
afeto puro sem remeter a nada. Perceber que uma pessoa está com raiva não é 
perceber tudo que se passa com ela. É necessário perceber também a que, ou a 
quem, essa raiva se dirige - ou seja, qual é o seu sentido. Para Rogers e Rosenberg 
(1977), a atitude empática leva a entrar em contato não somente com o sentimento 
puro, mas com seu significado. Isso equivale a dizer que a empatia capta o movimento 
intencional da experiência. 
Com a intencionalidade o mundo nos é restituído, pois percebemos através 
dela que ele se situava lá o tempo todo. A partir disso surge outro conceito 
fundamental na fenomenologia: o mundo vivido, quem em alemão seria lebenswelt, 
uma experiência pré-reflexiva do mundo original, aquele que era, e sempre foi, antes 
de efetuar qualquer tipo de caracterização sobre ele. O mundo vivido não é objetivo, 
ele se dá através da relação se mostrando como primeiro fenômeno e depois 
simboliza-se no pensamento. 
Nesse ponto de vista percebe-se que o caminho do pensamento 
fenomenológico teve seu início como um caminho psicológico e quando, mais adiante 
no tempo, Husserl desfez as confusões na utilização dos termos fenomenológicos 
indicou um método exclusivo de uma psicologia descritiva totalmente nova: a redução 
fenomenológica psicológica (HUSSERL, 1954/2004). 
 
1.2 A PERSONALIDADE NA FENOMENOLOGIA 
 
3 
 
 Segundo o enfoque fenomenológico a personalidade é uma reunião de 
aspectos básicos do existir humano, aspectos estes que são julgados e especificados 
conforme a percepção e compreensão do próprio ser através de suas vivências diárias 
(FORGHERI,1993). 
 
1.2.1 O Ser-no-mundo 
 
O homem é substancialmente um ser-no-mundo, cuja fundamentação vem da 
experiência diária e momentânea na qual acontece sua vida. É uma estrutura 
fundamental o ser-no-mundo onde a partir e dentro dessa vivência cotidiana que o ser 
reproduz suas ações determinantes dos seus propósitos. É necessário um mundo 
afim de compreender o lugar em que se está e quem se é. 
O ser-no-mundo é uma estrutura total e original que não pose ser dissociada 
em elementos deparados. Porém pode ser retratada e idealizada sob vários aspectos 
constitutivos mantendo,mesmo assim, sua unicidade. “É desse modo que podemos 
considerar os vários aspectos do mundo e as diferentes maneiras do homem existi no 
mundo” (FORGHERI, 1993, p. 28). 
A expressão mundo é indicativa de um conjunto de relações significativas na 
qual a pessoa está inserida. Conforme Binswanger ainda que seja vivenciado como 
uma totalidade, é apresentado ao homem através de três conceitos concomitantes e 
distintos: o circundante, o humano e o próprio (1972, p. 126, apud FORGHERI, 1993, 
p.29). 
O mundo associado ao aspecto circundante constitui-se no relacionamento do 
ser com o meio. Engloba a totalidade do que se encontra perceptível nos eventos 
vivenciados pelo ser por meio da sua relação com o mundo. 
O mundo associado ao aspecto humano fala sobre o encontro e convivência 
do ser com os seus semelhantes. É fundamental para a existência do ser humano o 
relacionamento com outros de sua espécie desde o nascimento. O existir é 
originariamente ser-com o outro. Os seres humanos fazem parte da existência do 
homem, mas não são como os animais, coisas e instrumentos pois, que a ele se 
apresentam de outra forma. “São e estão no mundo em que vêm ao encontro, segundo 
o modo de ser-no-mundo […] O mundo é sempre um mundo compartilhado com os 
outros” (HEIDEGGER, 1995, pp. 169-170). 
4 
 
A diferença entre o mundo circundante e o mundo humano está no contexto do 
encontro com o semelhante e a sua relação de reciprocidade, onde ambos sofrem 
influências mutuas. O homem só pode saber quem é como ser humano, convivendo 
com meus semelhantes. 
O mundo associado as aspecto próprio vem caracterizado pela significação 
cujas experiências formulam para o ser e pela consciência de si e do mundo. A sua 
função especifica é o pensamento. O pensamento no mundo próprio é classificado de 
um jeito ampliado que engloba todas as funções mentais, tais como a linguagem, o 
entendimento, a reflexão, a imaginação, a memória, a intuição e o raciocínio. 
O ato de existir do homem precisa que se leve em consideração todos os três 
aspectos do mundo de forma coexistentes. Segundo Forgheri (1993) o mundo 
circundante propõe a adequação do ser ao ambiente, o mundo humano apresenta-se 
nas interrelações humanas e o mundo próprio tem como característica o pensamento 
e a transcendência da situação momentânea. 
 
1.2.2 As maneiras de existir 
 
 É através da vivência cotidiana diária que se encontra o modo primordial de 
existência. Ela é geral e tem por instinto um sentido e uma compreensão reflexiva do 
existir no mundo. Não é o mesmo que um conhecimento puramente racional com 
algumas emoções permeadas, a existência é uma experiência total dos seres e do 
meio em que vivem e convivem. 
 Existem três maneiras básicas de existir no mundo: a forma preocupada, a 
sintonizada que se revezam ao decorrer da vida e que podem necessitar, em algum 
momento, de uma reflexão e análise refletindo a terceira forma de existência de modo 
racional. 
 Quando ocorre um sentimento generalizado de preocupação, variando entre 
uma sensação de intranquilidade até a uma sensação profunda de angustia podendo 
dominar completamente a pessoa, encontra-se a maneira preocupada de existir. Esta 
forma pode ocorrer em momentos atuais da vida e em lembranças de algo que já 
aconteceu. 
Contraditoriamente, pode-se existir de uma maneira sintonizada onde há 
momentos de sintonia e tranquilidade, principalmente quando se está comprometido 
com algo ou alguém que geram satisfação. A manifestação mais profunda da maneira 
5 
 
sintonizada de existir consiste numa vivência de completa harmonia de nosso existir 
no mundo. 
As duas maneiras, sintonizada e preocupada, estão subordinadas à análise e 
reflexão da maneira racional de existir. O homem por ser um ser pensante tem a 
primordialidade de explorar suas vivências cotidianas imediatas para conceitualizar e 
estabelecer relações entre experiências vividas. A partir disso ele elabora um conjunto 
de conceitos que o permite explicar e significar as situações. 
A existência humana está fundamentada no fato de transcender a si mesma a 
todo momento a fim de encontrar algo para totalizar-se. Desta forma, é impossível que 
o ser se complete durante sua existência. Segundo a visão fenomenológica do ser a 
existência provoca o ser humano na progressão continua em direção ao futuro ainda 
que esteja em um local definido, pode compreender o seu próprio existir no mundo. 
 
 
2 A PERSONALIDADE NA PERSPECTIVA EXISTENCIAL 
 
Não raro ouvimos dizer, pelo senso comum principalmente, que um indivíduo 
apresentando um comportamento evasivo, distante, pessimista e de apreço pela 
solidão, representa certamente um quadro de depressão, e que a depressão seria um 
problema de crise existencial. Sabemos que atravessar momentos da vida em que 
questionamos nossa própria existência não é algo tão bizarro, considerando que 
vivemos um período de extrema exacerbação de estímulos e com tantas atividades 
diárias que muitas vezes sequer conseguimos cumprir todos os compromissos da 
semana. É então inevitável que a fadiga se apresente como resposta orgânica e 
psíquica, levando-nos a interrogar sobre qual seria nosso “papel” no mundo, nosso 
propósito para além de apenas gastar energia produzindo e consumindo dos mais 
diversos produtos, ou nos envolvendo em atividades que parecem muito mais nos 
distrair da reflexão e introspecção necessária ao nosso autoconhecimento, para 
conceder espaço ao mundo exterior, com sua promessa de satisfação pelo consumo 
ou status. Nesse sentido, dizer do “existencial”, de modo popular, significa realizar 
uma associação com algo ruim, pessimista, e até mesmo bastante pejorativo. Dizer 
popularmente que um indivíduo está passando por uma crise existencial é quase o 
mesmo que dizer que ele estaria sofrendo por sua própria escolha, por sua fragilidade 
6 
 
diante da vida, por fraqueza da sua vontade, e que a “crise existencial” seria apenas 
uma maneira de chamar a atenção das pessoas à sua volta. O “existencial” se tornou, 
de certo modo, um sinônimo para dizer de um movimento não-legítimo de sofrimento. 
Mas em detrimento do conceito popular atribuído à abordagem existencialista, 
essa corrente de pensamento possui bases bastante sólidas e coerentes, que nos 
remetem a grandes autores consagrados por suas obras a respeito do tema, 
principalmente em sua contribuição na psicologia. Em um movimento que se 
estabeleceu como uma forma de reação antagônica à ênfase do mundo impessoal, 
as raízes da teoria existencial da personalidade são encontradas na filosofia 
existencial, que toma o ser humano, considerando sua subjetividade, sentimentos, 
pensamentos, decisões e atos como principal referência. 
Podemos dizer que Soren Kierkegaard (1813 – 1855) foi quem desenvolveu a 
primeira filosofia existencial, além de ser considerada também a mais completa. O 
trabalho de Kierkegaard foi uma reação contra uma filosofia que buscou trazer uma 
visão do universo com base em uma perspectiva de um externo absoluto, no qual o 
homem seria apenas um participante passivo. Neste sentido, para Kierkegaard, a 
subjetividade deveria ser o foco principal. Considerando a experiência interna como a 
verdadeira realidade, ele desenvolveu um retrato de tais fenômenos subjetivos 
humanos como tomada de decisão, responsabilidade, culpa, ansiedade e alienação. 
Para Kierkegaard a vida de alguém é uma série de tomada de decisões, e toda vez 
que uma pessoa toma uma decisão em relação a algo de seu futuro, ela experimenta 
a ansiedade. Mas ao contrário do que outras abordagens dizem acerca dos prejuízos 
da ansiedade para o indivíduo, a abordagem existencialista pressupõe que ao 
aprofundar na ansiedade, o sujeito encontra um caminho de crescimento e 
desenvolvimento, cujo objetivo final é a individualidade. Sendo assim, para os 
existencialistas, se abster da ansiedade é estagnar e acumular continuamente umaculpa que terminará por ser tornar desespero. Kierkegaard definiu a personalidade 
como algo que condessasse a possibilidade e a necessidade. 
Existem outros autores que abordaram a perspectiva do existencialismo em 
suas obras, como William James (1842 – 1910), Karl Jaspers (1883 – 1969) e Paul 
Tillich (1886 – 1965), que defendiam uma abordagem da vida tal como se fosse um 
tipo de luta, onde haveria um caos natural, cheia de ameaças, na qual caberia ao 
sujeito tomar consciência de seu desafio e enfrenta-lo. Outro autor importante, Martin 
Heidegger 1889 – 1976) trouxe uma análise filosófica da existência humana, na qual 
7 
 
seria percebido muito mais do poderia ser interpretado a nível psicológico. Heidegger 
enfatizou o aspecto da singularidade dos indivíduos com seu conceito de Jemeinigkeit, 
cuja tradução foi adotada como: “cada um com o que lhe é único, próprio”, além de 
Dasein, que para ele era a habilidade de alcançar altos níveis de consciência e 
singularidade por meio de uma reflexão sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o 
mundo natural. Jean-Paul Sartre (1905-1981) enfatizou alguns temas tanto 
psicológicos como filosóficos. Sartre chegou a criticar psicologia de Freud no sentido 
de que para este, a pessoa seria como um objeto da manipulação do terapeuta, e ao 
mesmo tempo, seria dominado for forças inconscientes. A visão existencial de Sartre, 
são os objetivos subjetivos da pessoa é que determinam seu comportamento. Sartre 
definiu esses objetivos subjetivos como “projeto fundamental” ou propósito global de 
vida, e seriam através desse projeto fundamental que que a pessoa guiaria suas 
escolhas e criaria sentido e consciência do que ela é, mas também do que ela não é. 
Esse processo de desenvolvimento seria contínuo e permanente. Ao contrário da 
perspectiva de Freud sobre a possibilidade de justifica a falha ao atribuir 
responsabilidade pelas forças inconscientes, Sartre enfatiza a responsabilidade do 
indivíduo em dar direção e sentido na sua vida. 
Os filósofos mencionados acima produziram as raízes para a psicologia 
existencial contemporânea. Mas também tivemos outros que foram menos relevantes, 
mas deram sua contribuição para o pensamento existencialista: Friedrich Nietzsche 
(1884 – 1900): deu ênfase à questão subjetiva, mas destacou a irracionalidade. Martin 
Buber (1878 – 1965): enfatizou a intimidade interpessoal e comprometimento. Gabriel 
Marcel (1889 – 1973): abordou a concepção teísta em sua obra. Albert Camus (1913 
– 1960): trouxe a ideia, considerada extremamente pessimista, de que era absurdo 
tentar conferir sentido em um mundo que não possui sentido. Edmund Husserl (1859 
– 1938): que legou ao existencialismo a metodologia da fenomenologia. Miguel 
Unamuno (1864 – 1936) e Nikolai Berdyaev (1874 – 1948): que adaptaram as 
doutrinas existenciais a seus próprios contextos culturais na Espanha e Rússia. 
Embora todo o percurso dos autores citados anteriormente seja importante, 
talvez a pessoa mais influente no crescimento da psicologia existencial seja Ludwig 
Binswanger (1881 – 1966). Formado em medicina pela universidade de Zurich, foi 
colega de classe de Carl Jung, e se tornou psiquiatra, sendo orientado por Eugen 
Bleuler. Binswanger buscou ultrapassar os conceitos filosóficos do existencialismo 
visando uma teoria da personalidade na qual poderia conceituar as diferenças 
8 
 
individuais e a psicopatologia. Ele tinha a convicção de que os conceitos existenciais 
poderiam ser utilizados na identificação e na cura de doenças mentais. O autor 
também foi um crítico de Freud, rejeitando a crença em forças biológicas imutáveis, 
como pulsão e forças imutáveis sociais. Uma das maiores contribuições de 
Binswanger é atribuída à sua discussão do existencial a priori ou a estrutura 
fundamental do sentido, a qual se refere à habilidade humana, não aprendida e 
universal, de perceber sentidos específicos no mundo dos eventos e de transcender 
a qualquer situação concreta com base nos sentidos atribuídos. Para o autor, a 
singularidade individual associada ao existencial é como uma matriz para se 
reconhecer sentidos, a qual quando imposta à realidade, permite que um estilo distinto 
e uma direção de vida do indivíduo possa surgir. Ou seja, o individual orienta suas 
escolhas e lhe confere uma forma particular de ser e agir. Para Binswanger, “a 
estrutura do homem é ser definido como sendo nenhum outro que não os seus 
possíveis modos de ser” (1973, p. 20-21). Ele enfatiza a construção da personalidade 
e da vida individual através de investimento ativo nos eventos com sentido e tomando 
decisões as quase guiam a ação. Esse modo de abordar a estrutura da personalidade 
como a execução de um modo possível de ser, que seria próprio de cada um, um 
modo singular como de qualquer outro modo não pudesse ser, parece se assemelhar 
bastante com a perspectiva de Jung a respeito do seu conceito de individuação, no 
qual ele afirma que o processo de individuação seria algo como o indivíduo tornar-se 
si mesmo, em todo sua potencialidade, como se fosse a germinação de algo que ele 
trouxe latente, e que se desenvolveu ao longo de sua vida, talvez poderíamos dizer, 
tal como Binswanger em sua teoria, que para Jung, a individuação seria um processo 
que culminaria em um indivíduo que tornou-se aquilo que nenhum outro modo poderia 
ser. 
As discussões mais recentes a respeito do pensamento existencialista são 
fortemente influenciadas por Binswanger e pelos demais filósofos, e desses últimos 
cabe salientar a relevância de considerar o propósito principal da vida humana, seu 
sentido, e a crença de que a pessoa cria seu próprio sentido através da tomada de 
decisões e ações na procura das possibilidades. E, em se tratando de psicoterapia, é 
inevitável considerar o “como” e o “por quê” do indivíduo falhar em realizar seu 
principal propósito. Desses autores mais recentes, Rollo May se destaca entre os 
críticos, e talvez isso se deva a sua posição de considerar a importância da natureza 
interdisciplinar do existencialismo. Vale considerar ainda a contribuição de Viktor 
9 
 
Frankl, cuja experiência dramática em um campo de concentração na segunda guerra 
mundial, foi o ponto de partida para sua tentativa de explicar a sua experiência, 
encontrando no existencialismo a abordagem a qual lhe serviria adequadamente. Ele 
observou que aqueles prisioneiros que não sobreviviam tinham apenas um sentido 
convencional de sustentação e não conseguiam criar seu próprio sentido individual, 
que seria o a ênfase da psicologia existencial. Neste sentido, ele desenvolveu uma 
técnica de tratamento chamada de Logoterapia, em que o indivíduo é encorajado a 
evocar aquilo que seja mais significativo para ele diante de um mundo indiferente e 
sem sentido. 
A abordagem existencialista elabora 16 assertivas acerca dos aspectos 
universais e inerentes da humanidade: 
1 – Personalidade é primariamente construída pela atribuição de sentido. 
2 – As pessoas são caracterizadas pela simbolização, imaginação e julgamento. 
3 – As pessoas são caracterizadas pela sua participação em sociedade. 
4 – As pessoas participam do ambiente físico e biológico. 
5 – O tempo é um contexto necessário para a construção da personalidade. 
6 – A vida é melhor compreendida como uma série de decisões. 
7 – Personalidade é uma síntese de facticidade e possibilidade. 
8 – A pessoa está sempre diante de uma escolha no futuro, o que provoca ansiedade, 
e uma escolha no passado, o que provoca culpa. 
9 – A coragem facilita a escolha do futuro para alguém. 
10 – Desenvolvimento é a interação dos componentes psicológicos, sociais e 
biológico-físicos da existência. 
11 – O desenvolvimento ideal é facilitado pelo encorajamento da individualidade. 
12 – Os limites estimulam o desenvolvimento. 
13 – A riqueza da experiência estimula o desenvolvimento positivo. 
14 – A personalidade que tem um desenvolvimento idealtorna-se autodeterminada. 
15 – Falhas por estimular o desenvolvimento autodeterminado. 
16 – O desenvolvimento autodeterminado passa por três tipos de orientação: a 
estética, a idealista e a autêntica. 
A teoria da personalidade descreve duas personalidades básicas: 
• Pessoa autêntica: é o centro da visão existencialista sobre a natureza humana. 
Ela é inclinada a demonstrar suas necessidades psicológicas ou as funções de 
simbolização, imaginação e julgamento, e permite que essas influenciem suas 
10 
 
experiências biológicas e sociais. A pessoa autêntica aceita melhor seu 
passado e seu presente, sua orientação básica é em direção ao futuro e às 
suas incertezas. 
• Pessoa inautêntica: inibe a expressão das necessidades genuinamente 
humanas. Se sente subjugada às regras sociais pré-determinadas e à 
incorporação das necessidades biológicas. Sua conduta tende, muitas vezes, 
a exploração de outras pessoas, assumir atitude materialista, ser insegura e ter 
sentimentos que indiquem uma autodesvalorização. A psicoterapia 
existencialista analisa a questão de como uma pessoa pode se modificar de 
um modo de ser inautêntico para um modo de ser autêntico. 
 
 
3 CONCLUSÃO 
 
Em um sentido geral, a psicologia existencial-fenomenológica percebe o 
homem disposto na tríplice dimensão: biológica, social e psicológica, cuja tarefa 
primordial é a procura e o estabelecimento de um sentido para sua própria vida, um 
sentido para sua existência. É possível observar a harmonia dessas duas correntes: 
existencialismo e fenomenologia, no sentido de que enquanto o pensamento 
existencialista busca promover a construção de um sentido para a vida que sustente 
o indivíduo em sua jornada, a fenomenologia traz um método que corrobora 
estreitamente nesse processo, uma vez que encarar a vida sob a perspectiva daquilo 
que se apresenta enquanto realidade, enquanto fenômeno, irá contribuir de forma 
efetiva no modo como os indivíduos se colocam diante dos reveses da vida. Por mais 
que a psicologia venha se consagrando enquanto ciência, e em muitos aspectos tenha 
resguardado suas atividades com o rigor metodológico que a cientificidade exige, por 
exemplo nas questões relativas à testagem psicológica, a perspectiva existencial-
fenomenológica se destoa, sem perder sua credibilidade, trazendo a experiência 
individual, singular e subjetiva ao destaque que a psicologia lhe reserva, e sobre o 
qual tenha possibilitado que esta lograsse êxito no reconhecimento social de sua 
capacidade de falar daquilo que nenhuma outra ciência havia conseguido. Ou seja, 
em um momento histórico cujos índices de suicídio parecem só aumentar, e no qual 
a velocidade das experiências pessoais e interpessoais parecem não comportar uma 
11 
 
reflexão sobre nossa existência, a perspectiva existencial-fenomenológica se 
apresenta como uma proposta muito interessante para que seja evocado todo e 
qualquer sentido que abarque as inconstâncias da experiência humana. 
 
 
REFERENCIAS 
 
BINSWANGER, L. Artículos y Conferencias Escogidas. Madrid: Gredos, 1973. 
 
FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia fenomenológica: fundamentos, método 
e pesquisas. São Paulo: Cengage Learning, 1993. 
 
GAUQUELIN, M. et. al. Dicionário de psicologia. Lisboa: Verbo, 1980. 
 
GIOVANETTI, José Paulo. Psicoterapia fenomenológica-existencial: 
fundamentos filosófico-antropológicos. Via vérita: Rio de Janeiro, 2017. 
 
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1995. 
 
HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
 
HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas: sexta investigação. São Paulo: Nova 
Cultural, 2005. (Originalmente publicado em 1920). 
 
HUSSERL, Edmund. La crise des sciences européennes et la phénoménologie 
transcendentale. Paris: Gallimard, 2004. (Originalmente publicado em 1954). 
 
MERLEAU-PONTY, Maurice. La structure du comportement. Paris: Presses 
Universitaires de France, 1972. (Originalmente publicado em 1942). 
 
ROGERS, Carl R.; ROSENBERG, Rachel L. A pessoa como centro. São Paulo: 
Edusp, 1977.

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