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Caderno - Direito Internacional Privado I

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Professor Marcos Vinícius Torres Pereira
Noturno – 2020.2
Direito Internacional Privado I
Aula 1 – 22/03
O Direito Internacional Privado traz muitos dos elementos do direito internacional e do direito privado, e trabalha com contratos, falências, divórcio, paternidade, herança e demais casos de direito privado que têm o elemento da extraterritorialidade. 
Cada país tem o seu sistema jurídico, e a independência do seu sistema legal, no entanto, os países não podem ter uma postura egoísta de usarem apenas a sua legislação, até porque em algumas situações é notório que uma legislação não é a mais relacionada a determinado caso, mas sim uma outra, e não é um problema para o legislador que um outro sistema jurídico seja utilizado. Isso está consignado no artigo 10º da LINDB, que indica que não há problema de aplicar a lei de um outro país no direito brasileiro, mas somente ocorre em situações excepcionais – seja ela judicial ou extrajudicial. 
Quais são esses casos? Costuma se analisar caso a caso, mas o artigo 7º da LINDB dá uma espécie de catálogo de situações em que se deixa de aplicar a lei brasileira para se aplicar a lei estrangeira. Um caso famoso é o testamento olografo da Gabriela Lage, que tinha uma parte da herança localizada no Brasil e uma parte no exterior, e a Gabriela Lage fez o testamento na Itália dispondo os bens que estavam no Brasil na modalidade de testamento olografo, ou seja, de próprio punho e sem testemunhas, que é muito comum na Europa e principalmente nos países do Common Law, mas o Código Civil de 1916 vedava qualquer tipo de testamento sem testemunhas, ou seja, esse testamento não teria problema de validade pela lei da Itália, mas teria pelo direito brasileiro. Atualmente já se aceita esse tipo de testamento, inclusive o testamento em língua estrangeira. Nesse caso, os beneficiários não eram herdeiros necessários, então ela dispôs a maioria dos bens para a Igreja, e no Código Civil anterior a ordem hereditária era mais extensa, de modo que alguns primos tentaram invalidar o testamento com base na lei brasileira. O STF (RE1657) confirmou a decisão que já havia sido dada pelo TJ de que um testamento, tal como em um contrato, tem uma parte intrínseca formal e uma parte extrínseca (número d e testemunhas, selos, carimbos, etc.) e o STF afirmou a regra de que “aplica-se a lei do local onde o ato foi celebrado com relação às formalidades do ato”. A maioria dos países prestigia essa regra no que diz respeito a atos jurídicos. Assim, o STF entendeu pela aplicação da lei italiana na parte que dispunha de testamento olografo. 
Existem diversas técnicas de se provar a legislação estrangeira: parecer de profissional habilitado do país do sistema jurídico (o profissional esclarece o conteúdo jurídico de determinado país), tradução de legislação estrangeira etc. Isso deixa claro que o DIPRI trabalha com esses casos em que há o elemento da extraterritorialidade. 
Artigo 7º da LINDB: Para o estatuto pessoal (situações ligadas à personalidade), aplica-se a lei de domicílio da pessoa. Por exemplo, uma japonesa de 20 anos domiciliada no Brasil vai ser plenamente capaz para celebrar contratos, mas se ela for domiciliada em Tóquio ela será considerada incapaz tendo em vista que a maioridade japonesa é somente aos 21 anos. 
A doutrina majoritária (seguidores da escola francesa) de direito internacional privado entende que ele engloba quatro tópicos principais (uma parte da doutrina minoritária entende que são na verdade cinco tópicos):
· Conflito de leis: Há sempre que se guiar por um critério de prevalência, ou seja, deve-se sempre determinar qual das legislações vai prevalecer no caso concreto/hipotético. Esse tópico do direito internacional trabalha com os critérios para determinar a lei aplicável ao caso, ou seja, é voltado especificamente ao entendimento dos critérios de aplicação da legislação. 
· Conflitos de jurisdições: É o mesmo tipo de raciocínio, mas para a matéria de jurisdição, ou seja, assim como se tem dúvidas de qual lei usar, tem-se também dúvidas de onde deve ser proposta a ação. Isso é mais complexo porque a jurisdição envolve soberania, e pode ocorrer de um país não reconhecer, não homologar a decisão estrangeira de um outro país. Pode acontecer de não ter um remédio para esse tipo de situação e a decisão não ser reconhecida em jurisdições diferentes. Essa é a área mais difícil do direito internacional, pois não há remédio no caso de não reconhecimento de decisões de outras jurisdições. 
· Nacionalidade: A ótica da nacionalidade é nova no direito internacional privado, pois analisa-se os critérios para aquisição, perda e reaquisição de nacionalidade, bem como os tratados que regem os tratados de dupla nacionalidade ou de pessoas sem nacionalidade nenhuma.
· Condição jurídica do estrangeiro: Nomenclatura que pode não ser a mais adequada, pois existem também os apátridas. A condição jurídica é o somatório dos direitos e deveres daqueles que não têm a nacionalidade brasileira, ou seja, aquele que não tem nacionalidade nenhuma ou que tem nacionalidade outra. Normalmente se estuda sobre três focos: (i) entrada, (ii) permanência e (iii) saída. 
Aula 2 – 24/03
Objeto do Direito Internacional Privado
O que estuda o DIPRI? Entende-se pela maioria da doutrina, que segue a escola francesa, como comportando quatro objetos principais (há uma parte minoritária da doutrina que considera somente os dois primeiros): 
· Conflitos de leis: É a ciência que estuda os critérios para determinar a lei aplicável, ou seja, para aqueles casos que possuem o elemento da estraneidade, é necessário verificar qual lei vai se aplicar. Para se resolver uma questão de conflito de leis, o juiz brasileiro deve se guiar pelo critério estabelecido no artigo 7º da LINDB, ou seja, se guiar pela lei do domicílio do indivíduo.
Esse conflito de leis leva em consideração as regras colisionais atemporais, ou seja, não se trabalha com o conflito de leis no tempo, mas tão somente levando em consideração o caráter espacial ou pessoal. Via de regra, o DIPRI vai trabalhar com o conflito de regras interespaciais que são de natureza internacional ou interna. Na maioria dos casos, envolvem países diferentes, onde se há uma dúvida sobre a legislação aplicável, mas em alguns países, para além dessa questão, o DIPRI envolve também conflitos internos do país (é o caso dos Estados Unidos, da Suíça, do Canadá, por exemplo, tendo em vista que cada Estado possui o seu próprio conjunto de regras, de modo que pode haver dúvida sobre qual a legislação estadual aplicável). 
Os conflitos interpessoais são os que levam em consideração a atribuição de um estatuto jurídico diferente considerando características ou atributos do indivíduo. São os casos de conflitos intercastais, interétnicos, intertribais etc. A África do Sul, por exemplo, tinha estatutos jurídicos diferentes levando em consideração a cor da pele – isso foi extinto com o Apartheid. 
Existem também os conflitos inter-religiosos, que levam em consideração a religião do indivíduo para definir o estatuto aplicável à ele. Em Israel, há um sistema jurídico que leva em consideração uma espécie de lista de algumas religiões oficialmente reconhecidas pelo Estado que vão reger o indivíduo não somente em relação às normas aplicáveis, mas também no que diz respeito à autoridade. 
· Conflitos de jurisdições: O conflito de jurisdições segue o mesmo caminho de um campo conflitual, ou seja, no conflito de jurisdições, através de critérios estabelecidos eu irei determinar o foro apropriado para julgar o caso. Os critérios normalmente encontram-se nos códigos processuais dos países, mas atualmente podemos também encontrar em tratados. 
· Nacionalidade: Na seara do direito internacional privado, abarca as regras sobe aquisição, perda e reaquisição de nacionalidade, inclusive conflitos positivos e negativos para se determinar a nacionalidade. Os conflitos positivos são aqueles em que se tem mais de uma nacionalidade, e os negativos aqueles em que o indivíduo não possui nenhuma nacionalidade. 
·Condição jurídica do estrangeiro: Essa nomenclatura sofre críticas por parte de alguns doutrinadores, até porque a condição jurídica do estrangeiro, de certa forma, vem em oposição ao estudo da nacionalidade na medida em que cada Estado sabe quem são os seus nacionais e, por exclusão, sabe também quem não são os seus nacionais, ou seja, aqueles que não são nacionais do Estado mas possuem a nacionalidade de um outro Estado estrangeiro e aqueles que são apátridas, ou seja, não possuem nenhuma nacionalidade. 
Essa condição jurídica é um somatório dos direitos e deveres, das prerrogativas e restrições que são outorgadas àqueles que não tem a nacionalidade do Estado, podendo ser das mais diversas categorias, desde vistos até restrições de trabalho.
Há, ainda, a possibilidade de considerar um quinto objeto do DIPRI: Os direitos adquiridos na dimensão internacional. Esse autor destaca que o DIPRI também estudaria os direitos adquiridos na dimensão internacional, ou seja, direitos que uma vez validamente adquiridos em determinada jurisdição devem ser respeitados em outras jurisdições por conta da teoria dos direitos adquiridos. Na prática, essa teoria encontra uma certa restrição, pois enquanto alguns direitos adquiridos não apresentam problemas para o seu reconhecimento em outras jurisdições, alguns serão problemáticos. 
Por exemplo, não há óbice ao respeito ao direito de propriedade. Por outro lado, há a problemática do casamento poligâmico, por exemplo, ainda que legalmente celebrado em alguns países islâmicos. Assim, esses direitos adquiridos em princípio são respeitados, desde que não entrem em choque com a ordem pública, que funciona como uma espécie de filtro que visa barrar aqueles direitos e conteúdos jurídicos que causam estranhamento e incomodo na jurisdição local. 
A maioria da doutrina entende apenas os quatro primeiros objetos, tendo somente esse doutrinador a ideia de que há esse 5º objeto. 
Uma parte da doutrina se refere ao DIPRI como um sobre direito, ou seja, é um campo do direito que não soluciona diretamente um problema jurídico, mas conduz à sua solução. 
Classificação das Normas 
O DIPRI possui peculiaridades quando comparado com os demais campos do direito, e suas normas apresentam um caráter um pouco diferente das normas dos demais campos do direito, daí se falar em uma classificação das normas de DIPRI. 
Classificação das Normas quanto à fonte: Não traz grandes controvérsias, se subdivide em: 
· Normas de Fonte Doutrinária
· Normas de Fonte Legislativa
· Normas de Fonte Jurisprudencial
· Normas de Fonte Interna
· Normas de Fonte Internacional
Classificação das Normas quanto à Natureza:
· Normas Indiretas ou Conflituais: São as mais corriqueiras, e de certa forma é a norma de DIPRI por excelência, pois é ela que dá o caráter de sore-direito ao DIPRI. É aquela que não soluciona diretamente o conflito, mas indica o caminho, o critério, ou seja, é uma regra de conexão. Exemplos: 
· LINDB, artigo 7º, caput
· LINDB, artigo 10º, caput
· Convenção de Haia sobre a Lei Aplicável em Matéria de Acidentes Rodoviários de 1971/ art. 3º: “A lei aplicável é a lei interna do Estado sobre o território do qual o acidente ocorreu.”
· Normas Diretas ou Substanciais: São aquelas que têm um conteúdo material, elas não trazem um caminho para solucionar um conflito, mas trazem em si uma regra que prevê a concessão, extinção ou modificação de determinado direito. 
Exemplos: 
· LINDB, artigo 7º, parágrafo 5º 
· LINDB, artigo 11, parágrafos 2º e 3º 
· Convenção das Nações Unidas para a Venda Internacional de Bens, assinada em Viena em 11 de abril de 1980 / art. 53: “O comprador deve pagar o preço dos bens e receber os bens na forma determinada pelo contrato e por esta convenção.”
· Normas Qualificadoras ou Conceituais: São residuais e vão aparecer apenas ocasionalmente. Possuem o papel de conceituar, qualificar determinada questão ou instituto. Ela serve para elucidar, demonstrar como será a aplicação de determinado instituto. É por exemplo a norma que visa explicar o que será entendido como domicílio. 
Exemplos: 
· LINDB, artigo 7º, parágrafo 7º 
· Convenção Interamericana sobre o Domicílio de Pessoas Físicas no Direito Internacional Privado, aprovada na CIDIP de Montevidéu de 1979 / art. 2º: “O domicílio da pessoa física será determinado pelas circunstâncias discriminadas na seguinte ordem: 1. O local de sua residência habitual; 2. O local de seu principal lugar de negócios; 3. Na ausência dos dois fatores acima, o lugar de sua residência; 4. Na ausência de sua residência, o lugar onde a pessoa se encontrar.”
Classificação das Normas quanto à Estrutura: 
· Normas Bilaterais: São aquelas que permitem tanto a aplicação da lei nacional como de uma lei estrangeira. 
· LINDB, artigo 7º, caput
· Lei de Direito Internacional Privado Italiana de 1995, artigo 20: “A capacidade jurídica da pessoa física é regida por sua lei nacional”.
· Normas Unilaterais: Por outro lado, as normas unilaterais são aquelas em que o legislador estabeleceu que se aplica tão somente a norma do país. 
· LINDB, artigo 7º, parágrafo 1º
· LINDB, artigo 9º, parágrafo 1º
· LINDB, artigo 10º, parágrafo 1º 
· Código Napoleônico, artigo 3º, alínea 3ª: “As leis concernentes ao estado e à capacidade das pessoas regem os franceses, mesmo residentes em país estrangeiro”.
A norma de DIPRI, por vocação, é indireta quanto ao objeto e bilateral quanto à natureza.
Aula 3 – 29/03
Fontes do Direito Internacional Privado
Por conta da sua especificidade, as fontes do DIPRI assumem contornos especiais, e para que se possa falar sobre fontes, a primeira coisa que se deve pensar é nas fontes padrões: 
· Fonte Doutrinária: A doutrina do DIPRI vai abarcar autores nacionais e estrangeiros que se destacam no ensinamento da disciplina, mas no DIPRI essa doutrina especializada assume uma legitimidade, um contorno, porque ganha muito peso no DIPRI as publicações de entidades especializadas, que são entidades de âmbito internacional que não só gozam de muito respeito no cenário internacional, mas que têm o cuidado de acompanhar e contribuir para a evolução do DIPRI, de forma que se destacam pela publicação e circulação dessas ideias. 
Que entidades são essas? O Instituto de Direito Internacional Privado, que através de reuniões periódicas divulga resoluções sobre temas específicos de DIPRI. Essas resoluções são furto de trabalho de especialistas do instituto que elaboram uma resolução com normas, recomendações sobre o tema, que são usadas como base pelos Estados, organismos e blocos regionais no momento de elaborarem normas sobre o tema. A International Law Association, que visa divulgar pesquisas sobre DIPRI.
Além disso, a Conferência da Haia de Direito Internacional Privado contribui ao direito internacional como um todo, pois lá estão a Corte Internacional de Justiça, a Academia de Direito Internacional de Haia, a Conferência da Haia de DIPRI e a sede do Tribunal Penal Internacional. A Conferência reúne grandes especialistas de DIPRI que se debruçam sobre os principais temas ou problemas que aparecem no DIPRI, e através de discussões e relatórios chega-se à conclusão do que seriam os temas prioritários que precisam de regulamentação. Através dos relatórios, os especialistas partem para os projetos de convenção, ou seja, de uma norma, de um tratado internacional. Havendo um sucesso e apoio dos Estados, marca-se uma conferência internacional para aprovar uma versão final do texto jurídico daquele tema específico. 
O Instituto para a Uniformização do Direito – UniDroit, trabalha focado na uniformização do direito, ou seja, a tentativa de adoção de normas padrões, uniformes entre Estados. A ideia de uniformização do direito, apesar da resistência de alguns Estados, porque chegaram à conclusão de que em determinadas áreas seria muito difícil padronizar o direito tendo em vista que cada sistema jurídico tem as suas peculiaridades. Apesar disso, a uniformização do direito continua sendo feita para determinadas matérias, tais como comércio internacional – principalmenteo comércio marítimo e aéreo (é muito comum, na esfera da autonomia da vontade de grandes empresas, fechar-se um contrato padrão elaborado pelo UniDroit).
Câmara de Comércio Internacional, que além de trabalhar com o incentivo às regras de comércio internacional, se destaca também por um trabalho que é feito de tempos em tempos de normas e regras relativas à indenização e critérios de seguros relativos a contratos de transporte internacional. Esses International Commercial Terms (INCO Terms) são muito adotados para contratos de importação e exportação, por exemplo, por possibilitar a utilização de um contrato padrão com siglas que são padronizadas mundialmente. Além disso, cumpre também um papel muito grande no sistema de arbitragem internacional, pois enquanto órgão possui um sistema próprio de arbitragem que facilita a resolução de controvérsias em contratos internacionais. 
Além disso, temos também a Comissão Jurídica Interamericana (no âmbito da OEA), que faz um trabalho semelhante à da Conferencia da Haia, pois reúne juristas que, em sessões anuais, analisam questões jurídicas da Organização e emitem relatórios que servem de base para se levantar quais problemas de DIPRI, no âmbito da região, mereceriam propostas específicas de legislação. 
Há também a ONU, que no seu objetivo geral de cooperação internacional coopera com o Direito Internacional. 
· Fonte Legislativa: A fonte legislativa vai ser de fonte interna ou internacional, ou seja, temos as legislações internas dos Estados e as fontes internacionais, que são os Tratados Internacionais de Direito Privado. 
No âmbito do direito interno, podemos falar que no século 19 foi muito forte o movimento de codificação na Europa, especificamente na França. O Código francês adotou um modelo de DIPRI que é seguido por alguns países que é adotar dispositivos de DIPRI esparsos nos códigos na medida em que as matérias aparecem. Já na Itália, por exemplo, o Código Italiano de 1965 concentrava as normas de DIPRI em uma parte específica do Código dentro do próprio Código. O terceiro modelo é o modelo alemão, que serviu de modelo para o Código brasileiro de 16, ou seja, tinha uma lei de introdução. Esse foi o modelo adotado por nós em 1916 e replicado na posterioridade. 
Os tratados são bilaterais ou multilaterais (podem ser de âmbito regional – em âmbito de blocos econômicos, por exemplo, ou global). 
· Fonte Jurisprudencial: 
· Sentença Internacional: Quando se fala internacional, é uma sentença que provém de um Tribunal Internacional (Tribunal Penal Internacional, Corte Internacional de Justiça, CIDH, ou qualquer outro tribunal internacional). Essas sentenças não se confundem com sentenças estrangeiras. Aqui não há necessidade de homologação, tendo em vista que o Estado é envolvido e, portanto, já alcançado pela sentença, não havendo necessidade de validação interna para que a sentença produza seus efeitos no Estado brasileiro. Em muitos casos, até mesmo pela temática do caso, apesar de os tribunais internacionais tratarem mais de direito internacional público, há casos em que ele alcançará casos privados.
· Caso dos Decretos Franceses de Nacionalidade (1923)
· Caso das Usinas Alemãs na Silésia (1926)
· Caso dos Empréstimos Sérvios (1929)
· Caso Nottebohm (1955)
· Caso Ambatielos (1956)
· Caso Boll (1958)
· Caso Barcelona Traction, Light and Power Company (1970)
· Caso Elettronica Sicula S. P. A. (1989)
· Sentença Estrangeira: São sentenças prolatadas por jurisdições igualmente soberanas. Essas sentenças estrangeiras, quando precisam produzir efeitos no Brasil, são levadas ao STJ para que possa ser feita a homologação de sentença estrangeira. 
· Sentença Nacional: É sentença oriunda dos próprios tribunais nacionais do país. 
Levando-se em consideração a origem: 
· Fonte Interna: É a vontade no âmbito interno de um determinado Estado, ou seja, resulta da vontade das autoridades de um Estado.
· Fonte Internacional: Resulta de um acordo de vontades de sujeitos que têm legitimidade para, no âmbito internacional, determinarem um certo conteúdo jurídico. O exemplo mais claro são os tratados. 
Conflito de Fontes: 
· Tratado X Tratado
· Lei X Tratado
· Constituição X Tratado
Conflito de Fontes no Direito Brasileiro: Há critério de hierarquia, que é sedimentado longamente na nossa doutrina e jurisprudência. O Tratado tende a ter a hierarquia de Lei Ordinária, salvo se tratar de matéria tributária (nesse caso é considerado lei complementar). Além disso, têm status diferenciado os tratados de Direitos Humanos que forem aprovados de acordo com o quórum de aprovação de Emenda Constitucional (tese da supra legalidade). Além disso, pode se apelar também para um critério temporal, de modo que aquilo que é mais recente revoga o que é anterior. 
· Doutrina
· Jurisprudência
· CTN/Artigo 98
· CRFB/Artigo 5º, parágrafo 3º
Aula 4 – 31/03
Evolução Histórica
Apesar de o DIPRI só passar a ser reconhecido como ciência autônoma do direito no fim da idade média, existem institutos jurídicos que de longa data são utilizados no direito e que nos servem até hoje no âmbito do DIPRI. Quais são esses institutos? O asilo, a extradição, o uso de passaportes etc. 
Idade Antiga
· Quadro geral de segregação de “forasteiros”: Era muito comum na prática dos povos antigos, através das guerras, o povo vencedor submetia o povo vencido à escravidão, de modo que o povo escravizado não havia status jurídico reconhecido como cidadão local. Nesse sentido, havia a segregação, com prática comum da escravidão e a difusão de religião local. 
· Religião: A religião era um fator muito importante de inserção e integração do grupo legal, como um elemento não somente religioso, mas também cultural. Através da religião o indivíduo tinha legitimidade e era integrado ao grupo legal, de modo que os forasteiros eram obrigados a se converterem à religião local. Assim, não havia um quadro favorável a recepção e ao tratamento jurídico daqueles que vinham de fora e nem ao direito conflitual, ou seja, era um quadro jurídico que favorecia a aplicação do direito de um outro povo, isso era muito dificultado na época por conta desse alto nível de segregação. 
Civilização Grega
· Diferença entre as cidades-Estados e estratificação social: Havia uma grande variedade de regimes jurídicos entre as diferentes cidades-Estados, mas muito marcadas pela estratificação social, de forma que os forasteiros eram extremamente discriminados e não possuíam estatutos jurídicos favoráveis. 
· Autoridades especiais: Polemarca e Proxenos. Para alguns forasteiros em Atenas, em determinado período foram observados dois institutos que demonstravam certo grau de tolerância em relação a eles. Mais do que um caráter acolhedor em relação a esses indivíduos, esses dois institutos demonstram a segregação da época, tendo em vista que não era dado o mesmo tratamento jurídico e eles não tinham acesso à mesma jurisdição que os cidadãos atenienses tinham. 
· Polemarca: O Magistrado que resolveria os problemas relativos aos forasteiros.
· Proxenos: Espécie de advogado ou procurador que defenderia os interesses desses forasteiros. 
· Aplicação da lei forasteira? Não havia uma verdadeira aplicação do direito estrangeiro, mas tão somente o acolhimento de alguns institutos e o aproveitamento de institutos do direito grego, de modo que a proteção era muito limitada. 
Civilização Romana
· Coexistência de sistemas jurídicos: A civilização romana se caracteriza, na medida em que o direito romano vai evoluindo, pela constituição de três sistemas jurídicos que coexistiam no direito romano. Esse sistema não é considerado como um direito internacional privado porque na verdade eles eram sistemas que coexistiam, não havia comunicação entre eles, cada um deles consistia em conjuntos de regras que eram aplicadas de acordo com as partes envolvidas na relação.
· Ius Civile: É o mais tradicional e conhecido, baseado no Corpus Iure Civile. É a legislação romana destinada aos cidadãos romanos e que visava resguardar os direitos das classes mais favorecidas. Como era restritoaos cidadãos romanos, na medida em que o Império vai crescendo e o número de forasteiros aumenta, as autoridades romanas criam o Ius Peregrinus. 
· Ius Peregrinus: É a aplicação do direito de origem daqueles povos peregrinos. Era um direito de origem que na verdade copiava alguns institutos do direito romano, mas com maior grau de tolerância, porém sem estender o Ius Civile a eles. 
· Ius Gentium: Na medida em que os dois sistemas coexistem, surge a necessidade de um terceiro sistema, tendo em vista que as classes começam a ter um comércio jurídico maior, as duas “classes” começam a se relacionar e isso leva à necessidade de um terceiro sistema que pudesse regular as relações entre os cidadãos romanos e os forasteiros. O Ius Gentium é uma adaptação do Ius Civile voltado a regular as relações entre os cidadãos romanos e os forasteiros.
· Autoridades especiais: 
· Recuperatores 
· Praetor Peregrinus
· Tratamento não uniforme aos “forasteiros” no Império Romano: A civilização romana se destacou por dar um tratamento sui generis aos forasteiros, começando pelo fato de que não os colocavam na mesma categoria, os forasteiros tinham distinção de acordo com a sua origem geográfica e o status da área em que vinham, podendo ser tratados como peregrinos ou como latinis.
· peregrinos privilegiados
· peregrinos ordinários
· peregrinos dediditios: Vinham de áreas forasteiras, mas passavam a se submeter à civilização romana após tratados celebrados após conflitos que reconheciam um certo estatuto privilegiado a esses forasteiros. 
Idade Média
· Pessoalidade das leis dos bárbaros: “lar ace émigre, la loi suit”. Na transição do Império Romano para a Idade Média não havia um direito internacional propriamente dito, porque a queda do Império Romano vem com a implementação do sistema de dominação dos bárbaros, ponde não havia a imposição de uma legislação própria dos bárbaros, mas sim a permissão de que cada área dominada mantivesse o seu direito de origem. Isso ficou conhecido como pessoalidade das leis. “A raça emigra e a lei segue”. Isso foi importante para a história do direito pois foi o que possibilitou que o sistema romano-germânico mantivesse o legado do direito romano na medida que em várias dessas áreas dominadas o direito romano foi preservado e com a expansão do cristianismo e da Igreja esse direito romano foi preservado através da erudição das instituições religiosas que mantiveram o direito romano escrito. 
· Regime feudal e territorialidade das leis: Com o avançar da Idade Média, o feudalismo se instaura e leva a fragmentação e ao sistema de territorialidade das leis, ou seja, prevalecem os costumes e regras de cada feudo, de modo que esse sistema gera uma fragmentação que leva a uma ideia de territorialidade calcada na soberania. Paralelamente a essa contribuição do direito canônico, havia costumes locais que ganham força nesse processo de territorialidade das leis trazido pelo feudalismo. 
· Recrudescimento do comércio e Universidades: O sistema feudal só se rompe com o processo de recrudescimento do comércio, que foi de certa forma fomentado pelo surgimento e incremento das universidades em alguns centros da Europa, ou seja, não só o comércio ganha força, mas também o movimento de estudantes e das universidades, que força o surgimento de casos onde o elemento da estraneidade ganha força, ou seja, o comerciante de uma localidade vai comerciar com um comerciante de outra localidade através das feiras e cada uma dessas localidades possuía os seus próprios institutos, e é através disso que começam as indagações sobre a possibilidade de utilização de uma lei padrão que regeria as relações comerciais. Nesse mesmo sentido, a movimentação de estudantes que se mudavam para os centros universitários criou relações comerciais e familiares entre pessoas de diferentes localidades. 
Questionava-se sobre como deveriam ser resolvidas essas questões, se com o direito do local em que aconteciam os fatos ou com o direito de nascimento das pessoas. 
O DIPRI surge com a ideia de dar resposta à essas questões que até então eram inéditas e não resolvidas, ou seja, já ao final da Idade Média surgem os casos com elementos da estraneidade ou ligação com outro sistema jurídico.
Os glosadores estavam inseridos no contexto italiano de fins da Idade Média e início do renascimento na medida em que foram os precursores na resolução desses problemas que estavam acontecendo. As glosas eram espécies de comentários feitos à mão em cima dos próprios textos do direito romano e do direito canônico, onde eles, através da interpretação de comentários de textos antigos, tentavam dar soluções para as questões que surgiam. Dois glosadores se destacaram: 
· Aldricus: Entre diversos costumes, seguir aquele que fosse mais útil e mais adequado. Seria o princípio da proximidade, ou seja, aquilo que guardasse uma relação mais intima com o caso. 
· Balduini: Aplicação da lex fori para a forma do processo (ordinatorium litis) e da lex causae para regular a questão do “mérito” (decisorium litis). 
Os juristas da época tentaram estabelecer critérios para conseguir resolver esses conflitos, critérios, muitos deles, ainda hoje utilizados. Para falar desses critérios, é preciso falar das teorias estatutárias e suas escolas, ou seja, grupos de estudiosos que mantém ideias comuns e que vão constituir uma escola de pensamento. Essas escolas foram organizadas em três escolas principais: 
· Escola Italiana (Século XIV a XV): Foi considerada por muitos como a mais importante por ter dado início ao processo de criação das regras de conexão e da ciência conflitual. 
· Accursius: Trouxe um debate muito importante sobre o limite da aplicação da lei ao comentar um trecho da lei que tratava dos limites da jurisdição onde se debatia qual o limite da aplicação da jurisdição romana (entendia-se que só seria aplicada aos súditos do império e, portanto, os que não eram súditos não estavam sujeitos à aplicação da lei romana). Esse debate é importante para fixar os limites da jurisdição e da legislação dos Estados.
· Bartholus: É chamado por muitos como o pai do Direito Internacional Privado, sendo um importante jurista e professor de direito. Ele pega os ensinamentos dos glosadores e desenvolve em diversos critérios, trazendo a noção de estatuto pessoal e diferenciando de estatuto real (questões que estão ligadas à pessoa se diferenciam das questões relacionadas aos bens). Ele vai dizer que em razão dessa distinção, é necessário aplicar critérios e, portanto, legislação distintas para cada uma dessas questões, de modo que seria aplicável a lei local para as questões de bens e leis pessoais para questões ligadas ao indivíduo. Até hoje aplica-se essa distinção, pois até hoje os Estados distinguem as matérias entre pessoas e bens. 
Outra contribuição foi a distinção entre os estatutos odiosos e favoráveis, ou seja, entre as leis forasteiras, haviam aquelas legislações que seriam simpáticas ou favoráveis (aquelas que não eram estranhas ao ordenamento local e por isso não trariam problema na sua aplicação) e os estatutos odiosos (muito estranhos ao ordenamento local e por isso não deveriam ser aplicados). Isso é a base da teoria da ordem pública que está no artigo 17 da LINDB, que é a ideia de que quando o direito estrangeiro a ser aplicável agredir o sistema local, esse direito não deve ser aplicado; quando há ofensa à ordem pública, esse instituto não deve ser aplicado. Exemplo: poligamia. 
Estabeleceu também o critério da aplicação da lei do local de celebração do ato para matéria de formalidades. Isso é aplicado em diversos países, inclusive pelo Brasil em matéria de testamentos, por exemplo. 
· Escola Francesa (Século XVI): Destacam-se dois nomes principais. 
· Charles Dumoulin: É o pai da autonomia da vontade no direito internacional privado, pois se notabilizou ao emitir um parecer jurídico em que jovens esposos que se casaram na França e que eram de localidades diferentes em que se aplicavam regimes diferentes, ele analisou a questão patrimonial do casal no caso do silenciodas partes. Ele analisou que no silencio das partes haveria presunção de vontade implícita pela escolha da lei do local do domicílio conjugal, que coincidia com o local de celebração do casamento. Em razão da vontade implícita, aplicaria-se a lei do local do casamento. 
· Bertrand D’Argentré: Prestigiava as teorias territorialistas, onde ele reforçava a aplicação da legislação local em matéria de estatuto real e de estatuto misto, que eram questões que envolviam simultaneamente questões ligadas a bens e a pessoas (exemplo: matéria sucessória). Já para o estatuto pessoal, ele defendia a aplicação da lei do domicílio. 
· Escola Holandesa (Século XVII):
· Paulus e Johannes Voet: Traziam um territorialismo acentuado tendo em vista que se inspiravam em D’Argentré. Defendiam a aplicação da lei territorial não somente para aquilo que ele já falava, mas inclusive para bens móveis, o que era não só uma inovação, mas também uma posição extremada. 
· Ulrich Huber: Trazia a ideia do territorialismo, mas justificava com base na ideia de cortesia internacional, ou seja, ele parte da ideia de soberania dos Estados para dizer que quando um Estado deixa de aplicar a sua lei territorial ele faz isso com base em uma ideia de cortesia internacional. Quando os Estados reconhecem uma decisão estrangeira ou quando cumprem um conteúdo de uma carta rogatória, ele está agindo com cortesia e isso é atualmente visto mais como cooperação do que como cortesia propriamente dita. 
Moderna Doutrina do DIPRI
É uma doutrina que vai se destacar no século XIX com três grandes doutrinadores. 
· Joseph Story: Deu uma grande contribuição sobre dois aspectos: ao questionar os estatutos e a divisão entre estatuto pessoal e real, ele centrou sua obra nos assuntos por tipo, ou seja, procurava reforçar a especificidade de cada assunto e tentava propor soluções especificas para cada um desses assuntos; o segundo ponto era o retorno a tentativa de justificar a aplicação da cortesia mas sobre o viés dos direitos adquiridos, que eram muito comuns no âmbito do common law, tentando justificar que esse reconhecimento de direito estrangeiro devia ser justificada por uma ideia de direito adquirido, ou seja, quando fosse adquirido legitimamente perante um direito estrangeiro. 
· Karl Friedrich von Savigny: Se notabilizou pela sua teoria de comunidade de direito entre os povos, ou seja, de que haveria uma espécie de direito comum. Falava não só sobre a uniformidade do direito, mas também sobre o direito comparado. Sofreu críticas de que seria utópica, já que cada sistema jurídico trazia em si a cultura de determinado povo e isso era inconciliável com a ideia de direito uniforme e com a aplicação de um direito único a todos os povos. 
Prestigiou o critério do domicílio como critério para a lei aplicável. 
Em matéria de ordem pública, ao falar da teoria de comunidade de direito entre os povos, ele fala que certos institutos não poderiam ser aceitos por agredir a ordem jurídica local. Citou como exemplo o Brasil na segunda metade do século XIX e o instituto da escravidão, pois a propriedade dos escravos era tão absurda que não poderia ser aceita. 
· Pasquale Mancini: É o teórico da nacionalidade, pois desenvolve a sua doutrina no momento de reunificação da Itália. Defende a ideia de nacionalidade e a aplicação da lei da nacionalidade para inúmeras questões de direito privado. Em muitos países esse critério da nacionalidade é seguido, na própria Itália ele está presente assim como em muitos outros países. 
História do Direito Internacional Privado no Brasil 
· Pimenta Bueno: Muito importante no primeiro momento do império brasileiro em matéria de direito internacional privado. 
· Jurisprudência: Competência do Judiciário para os casos de Direito Internacional Privado
· Doutrina
· Jurisprudência
· Tratados Internacionais
· Ensino Jurídico
Aula 5 – 05/04
Regras de Conexão 	
As regras de conexão utilizadas pelo direito brasileiro estão nos artigos 7º a 11º da LINDB. 
Conceito: Normas estatuídas pelo DIPRI, que indicam o direito aplicável às diversas situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal (Jacob Dolinger). 
Na prática, seriam as regras que caracterizam o DIPRI como um sobre direito, e elas que vão indicar o caminho para resolver uma determinada questão jurídica, ou seja, as regras de conexão através de critérios que são classificados como elementos de conexão, que vão guiar a escolha da lei aplicável. Essa escolha da lei aplicável través das regras de conexão é um processo normalmente visto em 3 momentos pela doutrina. 
Determinação da lei aplicável através das regras de conexão: 
· Qualificação da questão jurídica: Identifica-se o tema, o problema jurídico sob análise. 
· Localização da sede jurídica da questão jurídica: Uma vez qualificada a questão jurídica, parte-se para a localização da sede jurídica dessa questão jurídica, que é identificar o critério que é utilizado para resolver essa questão. Em questões ligadas à pessoa, costuma se resolver pela lei da nacionalidade, do domicílio ou do local de residência do indivíduo, enquanto questões patrimoniais utilizam a lei do local em que o bem está situado. 
· Determinação do direito aplicável em face do caso concreto: Uma vez que se sabe do que se está falando e qual a sede da questão jurídica, parte-se para a determinação do direito que vai ser utilizado naquele caso. Exemplo: artigo 10 da LINDB diz que se utiliza a lei do último domicílio do falecido para sucessões. 
É importante observar a classificação doutrinaria de Haroldo Valladão, que distribui as regras de conexão em três categorias distintas: 
· Reais: Levam em consideração ou a situação da coisa, lugar do ato ou fato, lugar da origem ou nascimento ou, ainda, o lugar do domicílio ou da residência habitual. Elas se baseiam em elementos físicos, territoriais. 
· Situação da coisa
· Lugar do ato ou fato
· Lugar da origem ou nascimento
· Lugar do domicílio ou da residência habitual
· Pessoais: Estão ligadas a uma questão ou característica que liga o critério à pessoa. Levam em consideração a nacionalidade sanguínea, raça, tribo, ou seja, algum elemento de ligação que se herda por questão de origem ou questão familiar ou, ainda, a vontade expressa ou tácita, que decorre da manifestação de vontade do indivíduo.
· Nacionalidade via ius sanguinis, raça ou tribo
· Vontade expressa ou tácita
· Institucionais: Levam em consideração um instituto que na verdade comporta uma característica jurídica, e essas regras ou consideram o pavilhão ou matrícula do navio ou aeronave ou o foro, que é uma noção estritamente jurídica de local onde ocorre o fato. No DIPRI tem grande importância pois em várias questões aplica-se a lei do local onde a ação ocorre, sendo importante lembrar que em inúmeros casos aplica-se a lei do foro em substituição a lei estrangeira justamente porque a lei do foro no DIPRI tem caráter residual, ou seja, se por alguma razão eu não puder aplicar a lei estrangeira que seria aplicável no caso em questão, subsidiariamente pode essa questão ser resolvida pela lei do foro. 
· Pavilhão ou matrícula de navio ou aeronave
· Foro
Regras de Conexão em espécie
Esse primeiro grupo é normalmente utilizado para o estatuto pessoal, ou seja, questões ligadas à pessoa. Elas são usadas por alguns países como critério para determinar o chamado estatuto pessoal, ou seja, questões como nome, capacidade, estado e direito de família. 
· Lex Patriae: É muito utilizado por países da Europa, e atribui o estatuto pessoal a regência pela lei de nacionalidade do indivíduo.
· Lex Domicilii: É aquela que estabelece que a lei do domicílio do indivíduo vai reger o seu estatuto pessoal. É utilizado no Brasil. 
· Lex Residentiae: É uma espécie de critério próximo ao anterior, já que muitos países não se guiam no seu direito interno pelo critério de domicílio, mas dão preferência ao instituto da residência, mais especificamente à residência habitual. Apesar de a residência habitual ser uma prática muito próxima do domicílio, não são exatamente a mesma coisa. Aquié importante entender que devido a soberania, cada país utiliza o critério que lhe parecer mais apropriado. 
Paralelamente aos três critérios anteriores, existem outras regras de conexão que são normalmente utilizadas em matéria obrigacional. A primeira coisa a se observar em matéria obrigacional é a diferença entre obrigação contratual e extra contratual. 
· Lex Loci Actus: Quando se fala em lei do lugar do ato, normalmente se refere a obrigações no geral, obrigações indistintamente, com a ideia do local de constituição da obrigação. 
· Lex Loci Contractus: Mais especificamente, quando essa obrigação for contratual, vamos falar de lei do lugar do contrato.
· Lex Loci Solutionis: É a lei do local de solução, do cumprimento da obrigação. Se a lei de local do contrato traz a ideia de regência da obrigação contratual pela lei do local de conclusão do contrato, a lei do local de solução leva em consideração o local de cumprimento da obrigação. 
· Lex Voluntatis: É muito usada em matéria contratual, e corresponde a lei da vontade, ou seja, seria a lei resultante da autonomia da vontade, que é quando as partes envolvidas na obrigação escolhem uma determinada lei para reger aquela questão jurídica. A autonomia da vontade encontra restrições e limites, não sendo sempre e nem para qualquer matéria que as partes vão poder escolher livremente a lei aplicável. 
· “The proper law of contract”:
· Locus Regit Actum: É o local que rege o ato, e é utilizado para os atos jurídicos em geral, inclusive contratos, e está se referindo a parte extrínseca, as formalidades do contrato, ou seja, é o critério que determina que para as formalidades dos atos, aplica-se a lei do local do ato. Todos os demais critérios acima aplicam-se para a parte intrínseca do contrato. 
Em matéria de obrigação extracontratual, vamos trabalhar com outros critérios. São eles: 
· Lex Loci Celebrationis: É um critério usado normalmente para as formalidades do casamento, tendo em vista que o casamento é um instituto que goza de muito prestígio no DIPRI e, por isso, há forma específica de regra de conexão em matéria de casamento. É a aplicação da lei do local da celebração da cerimonia para reger as formalidades, o rito, justamente para se verificar a validade ou não daquela cerimônia. 
· Lex Loci Delicti: É a aplicação da lei do local de cometimento do delito. É usada a lei do local onde o ato ilícito ocorre para reger essa obrigação de indenizar, que é extracontratual. Exemplo: acidentes, pequenos danos causados a determinados indivíduos, acidentes de transporte, levam em consideração o local em que o ato ocorreu. 
· Lex Damni: Alguns países seguem o critério de que em situações excepcionais se prioriza não o local em que o ato ilícito ocorreu, mas sim o local de produção de resultado, o local do dano. Exemplo: acidentes de transporte em que se prioriza não o local onde o acidente ocorreu, mas o local do dano que liga as vítimas pessoalmente àquele acidente. 
· Lex Rei Sitae: É a regra de conexão clássica em matéria de bens, principalmente imóveis, que vai dizer que se leva em consideração a lei do local onde o bem está situado. 
· Mobilia Sequuntur Personam: Alguns países também utilizam a regra acima para bens móveis, apesar da insegurança causada tendo em vista que os bens móveis poderiam se prestar a fraudes, ou seja, alterada a localização do bem se altera também a lei a ser aplicada a eles. Por isso, em matéria de bens móveis, a maioria dos países utiliza a regra de que os móveis seguem a pessoa. Isso está ligado a lei pessoal, tendo em vista que quer dizer que os bens móveis devem seguir a pessoa, e assim os bens móveis devem ajustar-se ao critério da lei pessoal, a lei que vai variar de acordo com o sistema jurídico do pais (critério do domicílio, nacionalidade ou residência). 
Três regras mais específicas: 
· Lex Monetae: Está em desuso, mas traz como critério a regência de uma determinada obrigação pela lei do país em cuja moeda a obrigação é expressa. Isso é usado em situações que envolvem títulos, ou seja, a regência das obrigações constantes no título será pelo local da moeda do título. 
· Lex Loci Executionis: Não se confunde com a lei de cumprimento da obrigação. Seria a lei do local do cumprimento forçado, a lei do local da execução da obrigação, ou seja, traz a ideia de cumprimento a força da obrigação. 
· Lex Fori: É a lei do foro, a lei do local onde a ação corre. Os países recorrem à lei do foro subsidiariamente, pois se por algum motivo eu não puder aplicar a lei estrangeira que seria aplicável ao caso, aplica-se então a lei local. 
Como último ponto das regras de conexão, é importante falar do princípio da proteção, ou seja, da aplicação da lei mais favorável. Esse princípio vai ter mais relevância no DIPRI quando em situações eu deixo de aplicar a lei que seria, em princípio, aplicável ao caso, para usar uma outra legislação justamente mais favorável à solução do caso. Isso acontece em situações especificas, como por exemplo: 
· Favor Infans: Aplica-se a lei da criança em questões de direito de família, deixando de aplicar a lei do local de residência, domicílio ou nacionalidade do pai para utilizar a lei do menor justamente para favorecer aquela parte que se presume vulnerável. 
· Favor Negotii: Quando em um determinado negócio, contrato ou ato jurídico de cunho empresarial aplica-se legislação mais favorável para considerar aquele negócio jurídico válido e não prejudicar direitos de terceiros. 
· Favor Matrimonii: É a aplicação da lei mais favorável para evitar invalidades de um determinado casamento, muitas vezes para proteger os filhos de um casamento que seria considerado inválido, deixando de usar a lei padrão para usar uma lei pessoal e conseguir considerar um casamento válido para proteger interesses de partes vulneráveis. 
· Favor Laesi: É a aplicação da lei mais favorável ao lesado, à vítima em matéria de obrigação extracontratual.
· Favor Laboris: Em matéria de contratos internacionais ou relações internacionais de trabalho aplica-se a lei do trabalhador para favorecer a parte que se presume mais vulnerável naquela relação jurídica. 
Aula 6 – 07/04
Estatuto Pessoal: Artigo 7º da LINDB 
As normas de conflitos de leis presentes na LINDB a partir do artigo 7º guiam a interpretação brasileira. Para falar de LINDB, é importante começar pelo seu histórico e origem: o direito brasileiro adotou o modelo alemão no tocante à organização das normas de DIPRI, sendo adotado o modelo de um código de direito civil e uma legislação fora do código mas que o acompanha onde estão inseridas as normas de DIPRI, estando discriminadas as diversas normas de conflitos de leis focadas, em um primeiro momento, na interpretação do DIPRI, mas indo além. 
Quando o CC de 1916 foi feito, veio logo em seguida uma lei destinada a guiar a interpretação do nosso direito, que era a lei de interpretação de 1917 onde estavam elencadas as principais normas relativas ao DIPRI, sobretudo na área de conflito de leis. Na LINDB, se usa a referência à nossa legislação de 1942, o que é correto, tendo em vista que a nossa legislação atual provém do ano de 1942, que foi o ano em que vigorava, em matéria de direito civil, o código de 1916 que perdurou por quase 100 anos, sendo modificado apenas em 2002. Isso se deve à entrada do Brasil na 2ª guerra mundial, porque o código civil de 1917, no seu artigo 8º, adotava um critério diferente da legislação atual para o estatuto pessoal, de forma que se aplicava a lei da nacionalidade do indivíduo, diferentemente do que é feito hoje, onde se adota a lei de domicilio. Isso foi bom porque esse critério antigo já era muito criticado por países vizinhos, muito por conta dos movimentos migratórios da época. 
O que realmente foi fundamental para a mudança de critério foi a entra na 2GM do lado dos aliados, ou seja, contra as potencias do eixo (Itália, Japão e Alemanha), o que causou um problema jurídico: como aplicar a legislação estrangeira de países inimigos a processos que corriam no Brasil? A ideia de mudança de critériofoi principalmente evitar essa situação, pois aplicava-se muito a lei italiana e alemã a processos que ocorriam em solo brasileiro. 
O artigo 7º da LINDB é o mais importante em matéria de conflitos de leis na nossa legislação, por trazer o critério do estatuto pessoal, critério esse que regula as chamadas questões atinentes à pessoa. A forma geral está no caput, que diz o seguinte: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”. É importante lembrar que ela é uma norma bilateral indireta, que apenas indica qual a legislação aplicável ao caso concreto. 
O que consta na ideia de estatuto pessoal? Ainda que não exaustivo, o dispositivo tenta dar uma ideia do que seriam essas questões atinentes à pessoa, sendo listados quatro tópicos: 
· A personalidade: A ideia de personalidade e como avaliar a personalidade jurídica do indivíduo, ou seja, a partir de qual momento o indivíduo goza de proteção jurídica e titularidade de direitos, e até que momento isso vai se dar com o fim da personalidade, que na verdade acaba marcando também o fim da vida do indivíduo. Quando se fala em começo da personalidade, o que se quer descobrir é se aquela personalidade jurídica começa com o nascimento com vida, com a concepção, ou se seria com o nascimento com vida resguardando-se os direitos do nascituro, de modo que é a lei do domicílio que dirá isso. Na prática, esse domicílio acaba sendo ligado ao domicílio da mãe, e é através desse local que vamos saber em que momento se inicia a personalidade. 
É essa mesma lei do domicílio que vai determinar como a existência jurídica do indivíduo finda, seja por ausência ou por morte real. Cabe lembrar que diferentemente de algumas legislações, que na verdade são muito poucas, o Brasil não adota a chamada morte civil (é quando em determinadas situações, em razão de uma conduta especifica considerada grave, o indivíduo, em razão da sanção, além de cumprir pena de ordem privada também deixa de existir civilmente; na prática o que acontecia era que no próprio teor da sentença já vinha declarada a extinção da personalidade jurídica do indivíduo, abria-se sucessão do seu patrimônio e, se ele fosse casado, o cônjuge tornava-se viúvo). 
· O nome: Assim como para o começo e fim da personalidade, aplica-se a lei do domicílio para o nome, não somente o nome que é atribuído no momento do nascimento, mas também as modificações de nome que o indivíduo pode sofrer no decorrer da vida. A lei do domicílio vai determinar o nome e as questões de nome de família, sendo a lei do domicílio a que vai determinar se só será usado o nome de família do pai, ou o uso de ambos, as exigências relacionadas à ordem do nome etc. Isso vai valer também para a alteração de nome no momento do divórcio, aplicando-se a lei do domicílio no momento da mudança de nome. 
· A capacidade: É a lei do domicílio do indivíduo que vai determinar as regras da sua capacidade, ou seja, para saber o momento em que o indivíduo terá capacidade, eu terei que analisar a lei do domicílio do indivíduo naquele momento para saber se ele tem a capacidade civil já adquirida, ou seja, vou analisar o que indica a lei do domicílio quanto à maioridade e eventuais circunstâncias que antecipam a maioridade ou que a restrinjam. Não importa a nacionalidade do indivíduo, mas sim a lei do domicílio dele para determinar a capacidade.
· Os direitos de família: Cabe aqui uma observação: a nossa LINDB, diferente de outras legislações estrangeiras, ela não se preocupou em detalhar determinados assuntos específicos de direito de família, ela fez com alguns poucos tópicos nos parágrafos do artigo 7º, de modo que para a maioria dos assuntos de família não há indicação específica. O nosso legislador foi econômico, ele deu uma fórmula geral, que de certo modo gera um incomodo na doutrina e na jurisprudência, que acabaram por resolver o tema. Assim, é necessário mais de uma pessoa para que se tenha uma questão de direito de família; tendo mais de uma pessoa envolvida, é possível que elas tenham domicílios distintos, gerando uma dúvida de qual lei domiciliar aplicar. 
Na lacuna da nossa LINDB, a doutrina e a jurisprudência têm tentado suprir essa lacuna através de um trabalho interpretativo recorrendo-se a princípios aplicáveis do DIPRI. Um princípio muito usado nesse tipo de questão é o princípio da proteção, de modo que o critério aplicável quando existem legislações diversas é o de prevalência da proteção, verifica-se qual a parte mais vulnerável naquela relação e aplica-se a lei domiciliar dele.
Nos diferentes critérios de solução de conflitos de leis da LINDB, o que se pode dizer é que existem muitas lacunas e muita coisa foi construída através do trabalho da doutrina e da jurisprudência. Apesar das inúmeras lacunas da legislação, não houve até hoje um projeto de lei com força para mudar essa legislação que é muito antiga e, por muitas vezes, vista como muito atrasada quando comparada com a de muitos países. Isso dificulta um comércio jurídico geral e prejudica também a área comercial, já que influencia questões de comércio e investimentos. 
Após falarmos da LINDB de maneira geral, é importante analisar as regras especificas do artigo 7º da LINDB que tratam do Estatuto Pessoal. 
O parágrafo 1º diz que: Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. A redação desse dispositivo de 1942 estava em sintonia com o CC da época, que aplicava a nomenclatura de impedimento dirimentes. Esse parágrafo 1º se destina a uma questão específica da área de direito de família, que é a cerimônia e a celebração do casamento, e verificar se ele é válido ou não no tocante à sua celebração. O legislador foi, de certa forma, econômico ao utilizar uma norma unilateral, preocupando-se apenas com o casamento ocorrido no Brasil. A regra de conexão aqui é a de lei do local de celebração do ato. Como o aplicador de direito no Brasil poderia avaliar um casamento existente no exterior no tocante à sua celebração? Ele pega essa norma que é unilateral e faz a bilateralização, ou seja, uma aplicação por analogia: se para o casamento no Brasil eu aplico a lei brasileira, o casamento celebrado em qualquer local terá aplicável a lei local. Esse dispositivo é utilizado para a cerimônia, a celebração, sendo analisadas se as exigências de rito foram seguidas, principalmente ao número e qualidade das testemunhas para validade do ato jurídico. 
O parágrafo 2º trata ainda da temática de casamento, mas o foco do dispositivo é o chamado casamento de consular, ao dizer que o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades consulares ou diplomáticas de ambos os nubentes. Aqui é necessário falar do instituto do casamento consular, que é chamado assim porque na esfera do direito diplomático, eu tenho as missões diplomáticas e as repartições consulares, e a celebração de casamento é um assunto de interesse particular dos nacionais de determinada soberania estrangeira, são elas (repartições consulares) que tratam deste tipo de assunto, enquanto as missões diplomáticas tratam dos interesses de estado, ou seja, temas que são ligados aos países. 
Sabendo que esse casamento consular pode ser feito tanto por repartição consular como por missão diplomática, por que é possibilitado o casamento perante essas representações estrangeiras do estado de origem dos nubentes? A ideia vem da prática dos países europeus que tinham, por interesses próprios de seus nacionais, um contingente grande de seus nacionais em nações estrangeiras que eram consideradas exóticas e com regimes jurídicos distintos, e por essa razão não seria conveniente que seus nacionais que estavam nessas nações tivessem que se casar sob a égide de uma legislação considerada estranha. Assim, foi criada a possibilidade de os nacionais de determinada nação se casarem sob a sua legislação através da sua representação nacional em território estrangeiro. Oque se quer, nesse caso, é se sujeitar à legislação do seu próprio país de origem. Há algumas restrições a esses casamentos consulares, que em algumas situações terão que respeitar algumas prescrições do território em que estão, ou seja, terão que respeitar algumas restrições locais e, dependendo da legislação local, o casamento só vai poder ser feito se ambos tiverem a mesma nacionalidade ou se pelo menos um deles tiver essa nacionalidade. 
No caso do Brasil, as missões estrangeiras aqui localizadas podem celebrar esses casamentos, mas desde que ambos os nubentes tenham essa nacionalidade, porque quando o Brasil liberou esse casamento consular ele colocou essa exigência. Já o casamento consular dos brasileiros no exterior está no código civil na parte de casamento.
Os parágrafos 3º e 4º seguem essa mesma lógica. O 3º trata da invalidade do matrimonio e o 4º de regime matrimonial. A ideia destes dois dispositivos é que se na época da celebração do casamento os nubentes tinham domicílio diverso, o que vai valer é o primeiro domicílio conjugal. Há a regra geral da lei do domicílio no caput, mas nesses dois parágrafos há uma espécie de especificação ou derivação do critério geral da lei de domicílio tendo em vista a falta do domicílio, aplicando-se o critério subsidiário do domicílio conjugal. 
O parágrafo 5º fala: “O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro”. Esse dispositivo foi uma inovação da LINDB na época e continuou sendo durante muito tempo, e o objetivo aqui é permitir que o estrangeiro que está se integrando ao Brasil com a naturalização, ele pode também aderir à sua cultura jurídica, trazendo a faculdade de o estrangeiro quando do momento da naturalização mudar o regime padrão para o regime brasileiro. Isso é feito por apostilamento, ou seja, há um documento que vai ser juntado ao certificado de naturalização (documento equivalente à certidão de nascimento). 
Parágrafo 6º tem uma redação extensa e é considerado de certa forma obsoleto, de modo que hoje em diz faz-se uma interpretação conforme a Constituição. Ele fala de divórcio, e hoje o interpretamos à luz da EC 66, que facilitou o processo de divórcio no Brasil. Assim, atualmente, quando chegam processos de divórcio realizados no estrangeiro, homologa-se o divórcio no Brasil à luz da EC 66, sem mais exigir prazo específico para isso, e no caso de divórcio feito aqui temos a regra geral do artigo 7º que manda aplicar a lei do domicílio; se o divórcio é feito no Brasil é porque há um domicílio aqui, de modo que se aplica a lei brasileira. Além disso, a lógica prende também o último domicílio conjugal, pois se há divorcio há ruptura da família, sendo pertinente a aplicação do último domicílio conjugal em matéria de divórcio. 
Os parágrafos 7º e 8º trazem um conteúdo específico. O parágrafo 7º é hoje considerado obsoleto por várias razões, tendo em vista que já tinha um problema com a nossa CF tendo em vista a isonomia marital, e hoje, após toda a reforma que houve em termos de capacidade para dar tratamento mais autônomo às pessoas, isso fica bastante questionável. Em situações, por exemplo, de mãe que está sozinha com um recém-nascido, obviamente o que se aplica à mãe aplica-se também à criança que está sob sua guarda. Apesar disso, ele é obsoleto, mas se por alguma razão eu tiver que considerar como lei domiciliar a de uma pessoa que não gere propriamente a sua vida e não tenha ainda capacidade, dependendo da lei estrangeira, na verdade o que esse parágrafo 7º o que se quer dizer é que eu vou aplicar para essa pessoa o domicilio de quem a representa. 
O parágrafo 8º tem uma aplicação prática, pois é voltado aos chamados sem domicílio. Ele diz que quando a pessoa não tiver domicílio, vai se considerar domiciliada no local de sua residência ou no local onde se encontre. Aqui ainda se aplica a lei do domicílio, mas na falta deste aplica-se uma lei qualificadora de critério subsidiário, ou seja, na falta do domicílio primeiro aplica-se o local de residência, mas se a pessoa não tiver residência vai se recorrer ao local onde a pessoa se encontrar. 
Aula 7 – 12/04
Bens e Obrigações: Artigo 8º e 9º da LINDB
O artigo 8º da LINDB trata do chamado estatuto real, ou seja, as questões relativas a bens. Na verdade, esse artigo 8º traz uma peculiaridade, pois além da lei aplicável ele traz também a qualificação, tanto que o caput diz que “para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. 
Em termos de regra de conexão, a regra de conexão presente no caput do artigo é a lei da situação da coisa, e na verdade essa lei da situação da coisa vai ser aplicada para duas questões: para qualificar os bens e regular as relações à eles concernentes, isso quer dizer que vai dizer a lei aplicável. Mas qualificar os bens está na seara da qualificação em DIPRI, que seria a identificação, a especificação, conceituação da coisa, querendo dizer se os bens são móveis ou imóveis, fungíveis ou infungíveis, ou no caso de navio ou aeronave, se ele apesar de ser móvel vai ser considerado como imóvel por conta de seu valor patrimonial e para fins de garantia. Cada país soberanamente decide não somente como vai tratar os bens na sua legislação, mas como vai regular as questões de registro, de propriedade e de classificação dentro do seu sistema jurídico. 
Na nossa legislação, qualificar os bens é o primeiro passo, isto porque é preciso saber se se trata de bem móvel ou imóvel, e apesar de em um primeiro momento essa noção parecer óbvia, na verdade não é, porque varia de legislação para legislação. Bens como casas e aparamento tendem, no direito comparado, a serem considerados imóveis, da mesma forma que veículos seriam considerados sempre móveis, alguns outros bens não têm essa classificação de forma tão clara. Um exemplo é uma quantia de dinheiro depositada em banco, que para a maioria das legislações seria um bem móvel, para a legislação inglesa ele é imóvel. Assim, através do caput da LINDB, vamos qualificar os bens não pelo nosso direito brasileiro e noção jurídica, mas sim pela legislação do país onde o bem está situado. 
No caput não há nenhuma especificação em relação ao caráter dos bens, mas o que acontece é que a doutrina e a jurisprudência do DIPRI vão esclarecer a aplicação da LINDB, de modo que apesar de não haver nenhuma especificação expressa, quando se analisa o parágrafo 1º desse artigo 8º, a doutrina e a jurisprudência consagraram o entendimento de que a regra da lei da situação da coisa presente no artigo 8º além de servir para qualificar todos os bens no DIPRI brasileiro, vai se aplicar como lei aplicável aos bens imóveis e aos móveis fixos, porque os chamados móveis não fixos do parágrafo 1º serão regidos não pela lei da situação da coisa, mas sim pela lei em que for domiciliado o proprietário, ou seja, a regra de conexão seria a de que a regra aplicável ao bem segue a lei aplicável ao proprietário (lembrar que o artigo 7º fala que é aplicável à pessoa é a lei do domicílio, então aqui vai caber como lei aplicável ao proprietário). 
O caput vai ser usado para os bens imóveis, o que corrobora uma tradição de aplicação da lei da situação do bem para os imóveis até pela aderência do bem imóvel ao território, e é aplicável também aos bens móveis fixos, que são bens que apesar do caráter de ser um bem móvel, raramente se desloca ou não se desloca com frequência, são as mobílias, os quadros que a pessoa tem na sua residência. O parágrafo 1º trata de bens móveis não fixos que a pessoa consegue carregar consigo, conseguem se movimentar mais facilmente. 
Há uma regra específica para o penhor que hoje pode parecer não muito útil, mas tinha utilidade quando criada. Na época da criação, em 1942, o penhor era uma garantia real muitoutilizada em contratos, e o legislador colocou uma norma específica para o penhor porque ele, até pela sua peculiaridade, ele é uma garantia que uma vez dada o bem passa à posse do credor, não continuando na posse do devedor salvo em casos específicos, e por esse perfil do instituto do penhor, o legislador estipulou a regra do parágrafo 2º, que diz que: “O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada”. Aa regra de conexão aqui é de que a regra aplicável ao bem segue a lei aplicável ao possuidor do bem, e não ao proprietário.
A nossa legislação de direito marítimo e aeronáutico tem o entendimento de que os navios e aeronaves terão como lei aplicável a lei do pavilhão que o navio arvora ou que o avião leva em sua fuselagem. Esse é um critério internacional muito utilizado porque se leva em consideração o país de matrícula, de registro do bem (lembrando que existe um sistema internacional de registros tanto para navios quanto para aeronaves). 
O artigo 9º da LINDB trata das obrigações. Inicialmente é importante dizer que esse artigo, ao tratar de obrigações refere-se tanto às obrigações contratuais quanto extracontratuais, e diferente de alguns outros dispositivos da LINDB, o artigo 9º traz especificamente a lei aplicável à qualificação, ou seja, da mesma forma que o artigo 8º, caput traz a lei de situação da coisa não somente como lei aplicável mas também como lei que vai reger a qualificação, no artigo 9º nós temos a lei do local de constituição como lei aplicável e também como lei que será utilizada para qualificação das obrigações. O caput diz o seguinte: “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituir”. Para determinar se a obrigação é contratual ou extracontratual, ou, ainda, se é obrigação de dar, fazer ou não fazer, é a lei do local de constituição da obrigação que vai trazer essa qualificação, e isso se faz pelos critérios habituais. 
O artigo 9º, assim como o 8º, não traz questões pormenorizadas no texto do artigo, na verdade, vamos ter que analisar a interpretação de partes do artigo para desvendar como funciona a questão das obrigações no DIPRI brasileiro. Ao se falar em país em que se constitui as obrigações, ele não fala expressamente de obrigação contratual ou extracontratual, mas ao confrontar com o parágrafo 2º, percebe-se que há uma distinção, já que o parágrafo 2º diz que “a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”, sendo óbvio que está tratando de obrigações contratuais, daí o entendimento da doutrina e jurisprudência que o caput do artigo 9º vai tratar de obrigações extracontratuais e contratuais, mas no caso da última somente das entre presentes, ou seja, quando o contrato é celebrado ao vivo, presencialmente, enquanto o parágrafo 2º fala da hipótese de contratos celebrados à distância, caso em que a lei aplicável será aquela de local de residência do proponente. O legislador entendeu que o critério da residência era melhor do que do domicílio por considerar que a residência era mais determinável do que o domicílio. 
Este parágrafo 2º lembra o artigo 435 do CC/2002, mas não se confunde com este, que dentro do livro de obrigações está falando do local de constituição do contrato, enquanto o parágrafo 2º do artigo 9º está falando em matéria de DIPRI e conflito de leis no espaço, trazendo uma regra de lei aplicável em contratos realizados entre ausentes. 
Assim, são três situações distintas: 
· Obrigações extracontratuais: As obrigações caracterizadas pelo ato ilícito que geram o dever de indenizar. Para essas obrigações extracontratuais eu aplico a lei do local em que se constituírem, havendo a especificação da regra de conexão de aplicação da lei do local onde o delito foi cometido (delito como ideia de ilícito do direito privado). 
· Obrigações contratuais entre presentes: São uma modalidade de obrigação contratual que se inserem no artigo 9º com a ideia de local de constituição como local de celebração do contrato. Assim, aplica-se a lei do local em que o contrato foi feito para reger as obrigações contratuais entre presentes. 
· Obrigações contratuais entre ausentes: São os contratos à distância que seguem a regra do parágrafo 2º de aplicação da lei do local de residência do proponente, tendo em vista que por ser um contrato à distância, a obrigação contratual é firmada não pela mera emissão da proposta, mas pela presunção de que uma vez enviada a proposta esta é analisada pelo aceitante e respondida por ele, é no momento em que o proponente toma ciência da aceitação por parte do aceitante que o contrato vai estar concluído, e por isso a escolha da lei do local de residência do proponente para reger as obrigações desse tipo de contrato. 
Esse critério de lei do local da constituição vai se aplicar também para a qualificação das obrigações. 
O parágrafo 1º possui duas partes com conteúdos e objetivos distintos. Diz ele que: “Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. 
A primeira parte é um dispositivo específico, uma norma unilateral (o legislador condicionou uma determinada situação para aplicação da lei brasileira), de modo a exigir forma especial se determinada obrigação for ser executada e produza efeitos no Brasil. 
A última parte (verde) trata da chamada parte extrínseca do ato, ou seja, as formalidades, e sabe-se que pelo direito comparado os atos formais contém, em razão da solenidade, uma parte intrínseca que é o teor do ato em si, e uma parte extrínseca que são formalidades que servem para provar a autenticidade, a legitimidade do ato. O nosso legislador entende que deve ser aplicada a regra de aplicar a lei do local de celebração do ato para reger as suas formalidades, é a regra de conexão que vincula as formalidades do ato ao local onde ele é feito, já que a forma está muito ligada à rotina do local escolhido. 
Apesar de não haver nada no artigo 9º, um ponto importante em matéria de obrigações é a questão da autonomia da vontade, ou seja, a possibilidade de as partes escolherem a lei aplicável. A autonomia da vontade no DIPRI envolve na verdade três esferas: 
· Eleição da lei aplicável: As partes podem escolher não a lei do local de celebração do ato, mas uma outra lei por muitas vezes, em determinadas áreas, há legislações mais favoráveis. As partes escolhem a legislação que parece mais apropriada. Mas há limites, nem sempre isso é possível, e no caso do direito brasileiro a nossa legislação nada prevê à respeito desse assunto, havendo quem defenda a possibilidade de escolha e quem diga que essa possibilidade não existe entendendo que o legislador ao silenciar sobre o assunto preferiu não prestigiar a autonomia da vontade. Grande parte da doutrina (com a qual o professor concorda) entende que o exercício da autonomia da vontade para se determinar a lei aplicável é possível em certas condições, tendo em vista que se a lei do local em que foi assinado o ato permite a escolha de outra lei, não haveria problema, valendo também o contrário. 
· Eleição do foro.
· Recurso à arbitragem internacional: Como o Brasil segue o chamado critério geográfico, a arbitragem com efeitos internacionais é aquela feita fora do território brasileiro, a sentença é prolatada fora do território brasileiro. 
Aula 8 – 14/04
Sucessões e Pessoas Jurídicas: Artigos 10º e 11º da LINDB
Art.  10º:  A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
O caput do artigo 10 vai estabelecer que o Brasil, em sintonia com o critério utilizado para o estatuto pessoal, aplica em matéria de sucessões a lei de domicílio, ou seja, na verdade se utiliza a lei do último domicílio do falecido antes da abertura da sucessão. O nosso legislador reconhece a sucessão por morte ou por ausência.
O Brasil adota o critériode unidade sucessória, ou seja, aplica-se à totalidade da sucessão esta mesma lei, que é a lei do último domicílio do falecido ou do desaparecido, mas há uma exceção por força do parágrafo 2º e uma situação especial pelo parágrafo 1º, mas diferentemente de alguns sistemas jurídicos, o Brasil consagra na unidade sucessória a aplicação de uma mesma lei a todas as questões relativas à sucessão, e isso quer dizer que a lei do último domicílio rege: (i) a ordem da vocação hereditária; (ii) a divisão das quotas hereditárias – qual proporção da herança cabe aos herdeiros/legatários; (iii) questões de renúncia e aceitação de herança. 
Todas as questões relativas à sucessão serão regidas pela lei de último domicílio, não importando se ele é estrangeiro e nem se os bens são móveis ou imóveis. Diferentemente de alguns sistemas (principalmente da common law), o Brasil adotada a unidade sucessória, pois há países que fazem a chamada divisão entre bens móveis e imóveis, normalmente utilizando para os bens imóveis a chamada sucessão imóvel pela lei do local do bem e para os bens móveis a aplicação da lei pessoal do falecido. No Brasil o que se faz é aplicar a mesma lei do último domicílio para a totalidade da sucessão. 
O parágrafo 1º tem uma regra de exceção, saindo da aplicação da lei estrangeira em uma lei específica, conforme o seguinte: “A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”. Há uma regra geral, mas quando esse último domicílio levar à aplicação da lei estrangeira, eu a aplico, salvo se a lei brasileira for mais benéfica aos envolvidos. Essa é uma criação do direito francês, ou seja, ao contrastar a lei nacional com a lei estrangeira eu priorizo a lei nacional em benefício dos nacionais beneficiados em determinada sucessão. Isso está amparado pelo inciso XXI do artigo 5º da CF/88, ou seja, o Brasil alçou à nível de direito fundamental essa regra de proteção aos brasileiros beneficiados em sucessão ao dizer que “a sucessão de bens de estrangeiros situados no país e será regulada pela lei brasileira em benefício de cônjuge ou de filhos brasileiros sempre que não lhes seja mais favorável a lei nacional do de cujus”. Se não houver brasileiro beneficiado na sucessão, não há que se falar nesse benefício. 
O Brasil é competente para aplicar a lei brasileira ou estrangeira conforme as regras do artigo 10º à sucessões envolvendo bens situados no Brasil por força do artigo 23, II do CPC, pois via de regra, até por interesse econômico e tributário, normalmente os países avocam para si a jurisdição em matéria sucessória, e tanto assim o é que o artigo 23 avoca essa competência para os tribunais brasileiros como competência exclusiva (indelegável), e mesmo havendo há alguns anos no Brasil a competência dos cartórios para as sucessões extrajudiciais, essa competência exclusiva não se descaracteriza tendo em vista que a competência engloba ambos. Assim, se o Brasil é competente para as sucessões envolvendo bens aqui, se o falecido deixar bens no estrangeiro, o juiz brasileiro não vai ter, por uma questão de jurisdição, como dispor sobre essa sucessão, e o que ocorre é a pluralidade sucessória, onde serão abertos inventários diferentes segundo as jurisdições onde o falecido deixou bens (um inventário no Brasil para os bens brasileiros e inventários no exterior para os bens que estejam no exterior). 
O parágrafo 2º diz que: “A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder”. Não basta ser indicado como herdeiro ou legatário, a pessoa beneficiada com essa condição deve cumprir determinadas condições para receber a herança, e para se avaliar uma questão de deserdação ou indignidade, deve se observar não a lei do último domicílio do falecido, mas sim a lei do domicílio do herdeiro e do legatário. Ainda que muito criticada, ela se justifica por se entender que é no domicílio do próprio herdeiro ou legatário que ele irá gozar e usufruir dos bens recebidos pela herança, daí a ideia de se regular a capacidade pela lei do domicílio de quem recebe. 
Mesmo se aplicando a lei do último domicílio do falecido, o direito Brasileiro não admite os chamados pactos sucessórios muito comuns em legislações estrangeiras onde se prevê que através de um documento formal anterior à sucessão (feito em vida pelo futuro de cujus e normalmente envolvendo os herdeiros necessários e alguns terceiros) que dispõe sobre regras relativas à sucessões, normalmente são autorizações para se dispor sobre o que seria a legítima, ou seja, acordos de vontade que liberariam o de cujus de respeitar a legítima. Alguns países respeitam esses acordos de vontade, mas o Brasil, até por trazer a obrigatoriedade dos herdeiros necessários, não reconhece esses pactos sucessórios. 
Outra observação importante é que o fideicomisso, quando utilizado na sucessão testamentária, comportará uma regra específica tendo em vista que como envolve direito patrimonial, não estará regido pela regra geral do artigo 10, mas sim pelo caput do artigo 8º por envolver direito patrimonial. 
Além disso, sendo o testamento um ato jurídico formal, nós teremos uma parte intrínseca e uma extrínseca, onde as formalidades serão regidas pela lei do país em que se constituir. Já a parte extrínseca, ou seja, o conteúdo, será regido pela regra geral aplicável em matéria sucessória que está no caput do artigo 10 e, excepcionalmente, no parágrafo 1º e inciso XXI do artigo 5º da CF/88. 
Apesar de haver vários tratados internacionais versando matérias sucessórias, o Brasil não se vinculou a nenhuma das convenções da Haia que tratam desse tema, razão pela qual aplicamos o artigo 10 quando se tratar de sucessão.
O artigo 11 da LINDB rege as pessoas jurídicas, e normalmente no DIPRI trabalha-se com três critérios tanto para lei aplicável às pessoas jurídicas como para a nacionalidade das pessoas jurídicas, são eles: 
· Critério da constituição ou incorporação: Leva em consideração o local onde se constitui, o local de incorporação da pessoa jurídica 
· Critério da sede: Leva em consideração o local onde está situada a sede da pessoa jurídica. Há uma divergência já que alguns países se prendem à sede estatutária, ou seja, a sede oficial da pessoa jurídica, enquanto outros levam em consideração não a sede que está formalmente indicada no documento, mas sim o local da sede efetiva, ou seja, o local da sede administrativa ou financeira. Normalmente o local da sede previsto nos estatutos corresponde, na prática, ao coração da companhia, mas em algumas situações isso não acontece, de modo que certos autores defendem que deve ser considerada a sede efetiva onde se tomam as principais decisões daquela pessoa jurídica.
· Critério do capital: Leva em consideração um reflexo, que seria a nacionalidade que predomina no capital social da companhia, isso é usado em algumas legislações mas está atualmente em desuso, tendo em vista que foi mais utilizado em momento de guerra para identificar empresas que tinham capital social predominantemente inimigo. Esse critério é indicado como critério de reflexo porque na verdade se recorre, de forma indireta, à nacionalidade dos sócios, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas que contribuíram para o capital social de determinada pessoa jurídica. 
O Brasil adota o critério da constituição ou incorporação, e tanto assim o é que o artigo 11º diz o seguinte: “As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem”. Ou seja, o caput do artigo 11 consagra o critério da incorporação ou constituição. É importante lembrar que esse critério vai servir para indicar a lei aplicável às pessoas jurídicas e, subsidiariamente, também é levado em consideração quando se quer identificar a nacionalidade de uma pessoa jurídica. 
O parágrafo 1º, em sintonia com o que dispõe o caput, diz que: “Não poderão,

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